Open-access Plantas transgênicas: o futuro da agricultura sustentável

Transgenic plants: the future of sustainable agriculture

Resumos

Aumentam as evidências sobre as vantagens das plantas transgênicas até agora liberadas. Novos produtos apresentam ainda mais vantagens de produtividade, redução de impacto ambiental e riqueza em vitaminas etc. O grande segredo do método de transgênese é viabilizar uma seleção rigorosa em todas as fases do laboratório e dos testes de campo. Não é possível atingir risco zero, mas já podemos confiar mais nas plantas transgênicas do que nas "orgânicas".

organismos geneticamente modificados; plantas transgênicas; produtividade agrícola; impacto ambiental


There has been a daily increase of evidence of the advantages of the transgenic plants which have been licensed so far. Every new product offers greater advantages as regards productivity, reduction of environmental impact, vitamin value and so on. The secret of the transgenic method lies in the fact that it enables strict selection in every phase in the laboratory and during field tests. Though it is still not possible to be risk-free, we can certainly trust transgenics better than plants classified as "organic".

genetically modified organisms; transgenic plants; crop productivity; environmental impact


Plantas transgênicas: o futuro da agricultura sustentável

Transgenic plants: the future of sustainable agriculture

Antônio Rodrigues Cordeiro

Departamento de Genética

Instituto de Biologia

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Caixa Postal 68011

21944-790 Rio de Janeiro — RJ Brasil

arcord@acd.ufrj.br; arcorde@ibm.net

CORDEIRO, A. R.: ‘Plantas transgênicas: o futuro da agricultura sustentável’. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, vol. VII(2), 499-502, jul. out. 2000.

Aumentam as evidências sobre as vantagens das plantas transgênicas até agora liberadas. Novos produtos apresentam ainda mais vantagens de produtividade, redução de impacto ambiental e riqueza em vitaminas etc. O grande segredo do método de transgênese é viabilizar uma seleção rigorosa em todas as fases do laboratório e dos testes de campo. Não é possível atingir risco zero, mas já podemos confiar mais nas plantas transgênicas do que nas "orgânicas".

PALAVRAS-CHAVE: organismos geneticamente modificados, plantas transgênicas, produtividade agrícola, impacto ambiental.

CORDEIRO, A. R.: ‘Transgenic plants: the future of sustainable agriculture’. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, vol. VII(2), 499-502, July-Oct. 2000.

There has been a daily increase of evidence of the advantages of the transgenic plants which have been licensed so far. Every new product offers greater advantages as regards productivity, reduction of environmental impact, vitamin value and so on. The secret of the transgenic method lies in the fact that it enables strict selection in every phase in the laboratory and during field tests. Though it is still not possible to be risk-free, we can certainly trust transgenics better than plants classified as "organic".

KEYWORDS: genetically modified organisms, transgenic plants, crop productivity, environmental impact.

1 Não basta simplesmente integrar um gene no genoma de outro organismo. É preciso testar esse gene para ver se ele funciona. Para um gene funcionar, ele depende de um promotor. Ao promotor, liga-se um conjunto de proteínas que permite a ativação da RNA polimerase.* Uma vez ativada, esta enzima inicia a transcrição do gene.

A produção agropecuária sustentável é proporcional ao grau de aplicação dos conhecimentos científicos que nela se faz. É truísmo dizer que a eficiência e a segurança dessa indústria são diretamente proporcionais ao desenvolvimento da biotecnologia, que depende dos conhecimentos científicos nela aplicados. Entretanto, a maior parte da querela sobre os produtos da biotecnologia, decorrentes da moderna genética molecular, exibe uma estranha posição dos conservacionistas, preocupados com possíveis riscos que até agora têm sido superados pela própria tecnologia.

A humanidade evolui por meio do conhecimento científico. Mas esse conhecimento é muito mal distribuído, e as distâncias aumentam velozmente entre a elite da inteligência, que gera o progresso da ciência, e toda a longa escala decrescente, até as tribos primitivas selvagens. O problema surge quando os detentores desse conhecimento perdem a confiança dos cidadãos, manobrados por grupos de interesses. Atrasa-se o progresso científico e tecnológico nas regiões afetadas por essa subversão de funções sociais. A história mostra que alguns países estacionam e regridem; outros avançam, sempre na frente.

Todas as plantas cultivadas são geneticamente modificadas. Há mais de dez mil anos os agricultores iniciaram um lento processo de melhoramento pela seleção de sementes das melhores plantas e de seus cruzamentos espontâneos, enquanto domesticavam e também alteravam características de muitos animais. Plantas e animais domésticos atuais dificilmente sobrevivem na natureza.

Com a redescoberta das leis da herança biológica em 1900, a partir dos trabalhos do abade Gregor Mendel (1822-84), foi possível planejar e executar cruzamentos controlados, seguidos de seleção calculada. Com a aplicação desses conhecimentos, o progresso do melhoramento genético e a produtividade agropecuária aumentaram dezenas de vezes mais no século XX que nos milhares de anos anteriores.

Com maior disponibilidade de alimentos e avanços na saúde pública, a população humana aumentou rapidamente. Entretanto, o atraso educacional e tecnológico de algumas populações densas levou à baixa produção de bens e alimentos. Para salvar da inanição milhões de pessoas nessas regiões, boas sementes, fertilizantes e agrotóxicos foram utilizados em escala crescente, na chamada revolução verde, cuja contribuição, porém, já é insuficiente.

Para aumentar a produção agropecuária, reduzindo-se o uso de adubos químicos e agrotóxicos, é necessário equipar plantas e animais domésticos com defesas genéticas contra patógenos e pragas. Na década de 1970, a engenharia genética iniciou a transferência controlada de genes para vegetais, a produção de vacinas transgênicas e outras proteínas terapêuticas.

Como espécie dominante, a população humana tende a ocupar todo o espaço vital, podendo excluir os demais seres, exceto os que decidir preservar. Entretanto, qualquer espécie vegetal, animal ou de microrganismos pode ser preciosa doadora de genes, previamente escolhidos, para a espécie receptora. Quando se obtém a integração do gene, com um promotor,* em uma planta ou um animal, realiza-se uma série de rigorosos testes para verificar se o gene incorporado no DNA do organismo transgênico está sendo transcrito em seu RNA e se a proteína correspondente está sendo sintetizada. Determina-se em que tecidos ou órgãos está sendo ativado o transgene, de acordo com o controle exercido pelo sistema genético regulador. O promotor
Agradeço a Marco Antônio F. da Costa, da Fundação Oswaldo Cruz, por colaborar na elaboração do texto. Vantagens das plantas transgênicas

1) Toda variabilidade genética dos organismos da Terra fica à nossa disposição, para transferência de genes. Portanto, não haverá exaustão da variabilidade genética para o melhoramento de vegetais e animais domésticos.

2) Em uma "construção", usa-se um promotor para fazer o gene funcionar de maneira programada no tecido ou órgão, com a intensidade e no tempo de desenvolvimento do organismo escolhido. Também é possível usar promotores que superativem o gene com o aumento da salinidade, do frio, do calor ou da luminosidade ambiente.

3) Obtêm-se plantas resistentes a insetos, pragas, herbicidas, metais tóxicos do solo, fungos e amadurecimento precoce. Além disso, elas apresentam teor protéico maior e proteínas mais completas, óleos mais saudáveis, arroz com carotenos, cenouras com vitamina C etc.

4) O "princípio da precaução" — que recomenda cuidados para evitar a degradação ambiental — é exercido antes do lançamento dos cultivares transgênicos, que até o momento não apresentaram nenhum inconveniente. As plantas transgênicas, com suas defesas genéticas, possibilitam aumentar a produtividade, com efetiva redução no uso de agrotóxicos e nos custos de produção, tornando-se assim adequadas para evitar a degradação ambiental.

Desvantagens das plantas transgênicas

1) Poucos laboratórios têm os equipamentos e reagentes dispendiosos e, principalmente, os pesquisadores capazes de obter organismos transgênicos com toda segurança requerida pela Lei de Biossegurança, fiscalizada pela CTNBio.

2) Após a obtenção da planta transgênica, segue-se a fase mais longa e dispendiosa, que demora cinco ou mais anos. Milhões de reais são necessários para selecionar e desenvolver o produto, atividades que geralmente ficam a cargo de empresas de biotecnologia, incipientes no Brasil, o que poderá nos tornar mais dependentes das grandes empresas que detêm patentes de processos e produtos biotecnológicos.

3) Apesar de as plantas transgênicas serem cultivadas em mais de quarenta milhões de hectares e consumidas por milhões de pessoas há mais de cinco anos, sem inconvenientes, organizações leigas conservacionistas, de caráter não-governamental, que deveriam apoiar a nova tecnologia, estranhamente não reconhecem essas vantagens e conseguem assustar os consumidores de vários países, submetidos a propagandas movidas a milhões de dólares.

4) Os alimentos ‘orgânicos’, isentos de agrotóxicos e cultivados de forma primitiva, parecem ideais. Entretanto, sua produção, não passando de 1% do necessário para a população mundial, é mais cara e demanda muito trabalho e espaço. Os custos aumentam exponencialmente quando se ampliam as áreas com essas culturas. Os adubos orgânicos usados na cultura de verduras podem conter bactérias como a Salmonela e a E. coli 715 H7, potencialmente capazes de fazer vítimas, quando a desinfecção dos vegetais não for rigorosa.

Portanto, a maior desvantagem das plantas transgênicas é que o povo acredita facilmente em propaganda contra algo novo, que dependa de conhecimentos científicos que ele não domina. É mais fácil continuar a usar alimentos conhecidos. Somente as populações mais instruídas, que têm confiança nos novos produtos resultantes da biotecnologia, se manterão à frente do progresso científico e tecnológico. A miséria, a fome e as doenças flagelam mais os povos menos instruídos.

RECOMENDAÇÕES PARA LEITURA

Referências bibliográficas

  • Zanittini, Maria H. B. e Pasquali, Jeancarlo (1999) Transgęnese: uma nova ferramenta para o melhoramento genético vegetal. Porto Alegre, Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 20p.
  • Brasileiro, Ana Cristina de Miranda e Carneiro,Vera Tavares de Campos (orgs.) (1998) Manual de transformaçăo genética de plantas. Brasília, Empresa Brasileira Pesquisas Agrárias/Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnológicos (Embrapa/Cenargen).
  • 1
    de cada gene é uma porta "fechada a sete chaves", sendo cada chave um sítio pelo qual somente o sistema de controle transcricional pode ativar os genes normalmente inativados pela capa de cromatina.
    As plantas que apresentam o resultado desejado são multiplicadas em laboratório depois de muitos testes e controles, passando em seguida para aclimatação em câmaras de cultura, casas de vegetação e, finalmente, canteiros experimentais isolados, nos quais são selecionadas em competição com os cultivares originais. Antes do lançamento da planta transgênica, como produto, são feitos testes de campo em grande escala para verificar se o cultivar apresenta vantagem em relação ao original. Os transgênicos são liberados sob condições, ficando em observação permanente. Essa é a longa fase em que se exerce a mais cuidadosa precaução, até hoje, para lançar um novo cultivar. Ninguém tem interesse em lançar um novo cultivar — transgênico ou não — que não seja superior aos anteriores.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Out 2000
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