Open-access Epistemologia feminista e filosofia da ciência: uma entrevista com Helen Longino

Feminist Epistemology and Philosophy of Science: An Interview with Helen Longino

Resumo

A entrevista aborda a trajetória da Helen E. Longino, professora da Universidade Stanford. Nesta entrevista, Longino reflete sobre o seu percurso, assim como os desafios que precisou enfrentar a fim de expandir as fronteiras da filosofia da ciência ao desenvolver o seu trabalho pioneiro relacionando feminismo, epistemologia, gênero e ciência que tem sido tão influente ao mudar a nossa visão da filosofia da ciência. Longino doutorou-se na tradição da filosofia analítica na Universidade Johns Hopkins em 1973. Portanto, a sua rigorosa crítica feminista à visão recebida da filosofia da ciência ortodoxa se desenvolveu em paralelo à amálgama entre Estudos de Ciências, Feminismo e Estudos das Mulheres na década de 1980. A entrevista a seguir ilustra a importância dessa sua trajetória para o desenvolvimento dos estudos de ciências feministas.

Epistemologia feminista; Helen Longino; Gênero e ciência

Abstract

This interview discusses the trajectory of Helen E. Longino, Professor at Stanford University. In the interview, Longino reflects on her path, as well as the challenges she had to face, to push the boundaries of the philosophy of science in developing her pioneering work on feminism, epistemology, gender, and science that has been so influential in shaping our views of the philosophy of science. Longino graduated from Johns Hopkins with a PhD within the tradition of analytic philosophy in 1973. Therefore, her rigorous critique of the received view of theories in the philosophy of science developed around the same time of the convergence of Science Studies, Feminism and Women Studies in the 1980s.

Feminist epistemology; Helen Longino; Gender and science

A trajetória de Helen Longino no contexto da interseção entre estudos de gênero e estudos de ciências

A distinta professora da Stanford University e filósofa das ciências feminista Helen E. Longino nos concedeu esta entrevista no dia 21 de março de 2018 no Café La Bohème, no centro de São Francisco, Califórnia, EUA. O ensejo para o nosso primeiro contato com a autora ocorreu por ocasião de um número especial de estudos feministas de ciência e tecnologia do periódico Scientiae Studia: Revista Latino-Americana de Filosofia e História da Ciência, v. 15, n. 1, de 2017, em que havia sido publicada uma entrevista inédita de Longino.

No referido número, dois dos autores do presente artigo contribuíram com um modesto artigo sobre o conceito de feminilidade na história da psicanálise (a saber, Rocha, G. R. & Rocha, L. F. S., 2017). Chamou-nos a atenção de imediato, a partir daquela publicação inédita sobre o trabalho de Longino no contexto brasileiro, que o nome da importante filósofa feminista, cujo trabalho já acompanhávamos com admiração, estava pouco representado no Brasil e na América Latina, o que nos estimulou a propor a realização desta entrevista.

De fato, essa primeira entrevista publicada na Scientiae Studia sobre o trabalho de Longino aconteceu por ocasião de uma rara oportunidade de duas conferências que a filósofa feminista proferiu no Instituto de Estudos Avançados da USP, organizadas pelo Grupo de Pesquisa em Filosofia, História e Sociologia da Ciência e Tecnologia, em 22 e 23 de outubro de 2015.

Não obstante, os livros, escritos e artigos de Longino, a despeito de serem amplamente citados no contexto latino-americano, não contam com traduções em português ou espanhol, exceção encontrada em um epílogo de Longino em uma publicação espanhola, a saber, Cuerpos Y Diferencias, editada por Eulalia Péres Sedeño, filósofa feminista especialista em estudos feministas em ciência e tecnologia do Consejo Superior de Investigaciones Científicas em Madrid, e Rebeca Ibáñez Matín, pesquisadora espanhola também especialista em estudos de ciências.

À experiência de estarmos no mesmo número especial de estudos feministas de ciência e tecnologia do periódico Scientiae Studia, somou-se a facilidade de nos encontrar com Longino, uma vez que, nessa época, um dos autores se encontrava como pesquisador visitante na Universidade da Califórnia em Berkeley, tendo facilidade de se encontrar com Longino, que também reside na região da Baía de São Francisco. O contato se deu via endereço eletrônico institucional, e o Café La Bohème no centro de São Francisco foi uma sugestão de Longino para a realização desta entrevista. O Café La Bohème pode ser, por vezes, bastante ruidoso, devido aos sons dos clientes e das próprias máquinas de moer e fazer café. Todavia, uma vez que estávamos em um espaço mais reservado, e tendo o gravador próximo de Longino, o áudio ficou perfeito, a despeito do ruído ao fundo.

Professora no Departamento de Filosofia da Universidade Stanford, Longino nasceu em 1944 em Jacksonville, Flórida, EUA [filha de James Charles Junior e Helen I. (O'Brien) L.]. Graduou-se em literatura, em 1966, pela Barnard College, faculdade privada de artes liberais para mulheres, localizada na cidade de Nova Iorque, EUA, direcionando-se, posteriormente, já na pós-graduação, para a área de filosofia da ciência.

Tendo concluído o mestrado em filosofia na University of Sussex, próxima a Brighton, Reino Unido, em 1967, Longino defendeu dissertação sobre a teoria semântica da verdade de Tarski e doutorado em filosofia na Johns Hopkins University, em Baltimore, Maryland, EUA, em 1973, sob a orientação de Peter Achinstein. Defendeu tese sobre inferência e descoberta científica e iniciou a sua docência na University of California, San Diego, La Jolla, EUA (onde lecionou de 1971 a 1975 como professora assistente).

Posteriormente, Longino trabalhou em inúmeras universidades nos EUA antes de se estabelecer definidamente na Universidade Stanford em 2005, incluindo a Mills College, em Oakland, Califórnia, de 1975 a 1990, a Rice University, em Houston, Texas, de 1990 a 1995, e a University of Minnesota, de 1995 a 2005, onde, além de trabalhar no Centro de Filosofia da Ciência, trabalhou também no programa de Estudos das Mulheres.

Longino também assumiu, ao longo de sua profícua carreira, inúmeras posições de professora visitante em instituições fora dos EUA, como na Universidade de Oslo, na Noruega, em 1991; na London School of Economics, na Inglaterra, em 1998; além de diversas instituições na Índia, em 2000 (Calcutá e Nova Deli), e em Viena, Áustria, em 2002 (no Instituto para Filosofia da Ciência da Universidade de Viena).

O seu primeiro livro, Science as Social Knowledge: Values and Objectivity in Scientific Inquiry, de 1990, foi seguido pelas obras premiadas, The Fate of Knowledge, de 2001, que recebeu o prêmio Robert K. Merton de melhor livro em ciência, conhecimento e tecnologia da American Sociological Association, e Studying Human Behavior, de 2013, que ganhou o prêmio de melhor livro em filosofia feminista de 2014 da Women’s Caucus of the Philosophy of Science Association.

Tendo sido eleita para a American Academy of Arts and Sciences em 2016, e tendo assumido a presidência da Philosophy of Science Association entre 2011 e 2014, Longino também coeditou inúmeros livros, como Gender and Scientific Authority, coeditado com Barbara Laslett, Sally G. Kohlstedt e Evelyn Hammponds, e Readings in Feminism and Science, coeditado com Evelyn Fox Keller, ambas as obras de 1996.

O trabalho de Longino deve ser entendido no contexto de sua época e do período que se estende desde sua formação (na década de 1960 e início da década de 70) até o período de sua intensa produção acadêmica (em especial nas última três décadas, mas a começar pela década de 1980, que marca o início dos estudos de ciências feministas). O Segundo Sexo [Le Deuxième Sexe], de Simone de Beauvoir (1908-1986), de 1949, foi uma obra seminal. Todavia, é no período das décadas de 1960 e 70 (período de formação de Longino em filosofia) que o feminismo acadêmico emerge com toda força por meio de obras, também pioneiras, como A Mística Feminina [The Feminine Mystique], de Betty Friedan (1921-2006), de 1963, Política Sexual [Sexual Politics], de Kate Millet (1934-2017) e The Dialectic of Sex: The Case for Feminist Revolution, de Shulamith Firestone (1945-2012), ambas obras de 1970, e Woman’s Estate, de Juliet Mitchell (nascida em 1940), de 1971.

É também na década de 1970 que nascem os principais periódicos interdisciplinares pioneiros em estudos feministas, estudos das mulheres e estudos de gênero. Em 1972, foram fundados três desses periódicos seminais, a saber, Women’s Studies e Feminist Studies, específicos para artigos acadêmicos, e Women’s Studies Newsletter, que surge para servir como um fórum para o movimento de Estudos das Mulheres [Women’s Studies]. Em 1975, nasce também o periódico Signs: A Journal of Women, Culture, and Society, no qual Sandra Harding serviu como editora de 1985 a 1993, e cujo número especial de 1978, intitulado “Women, Science, and Society”, teve, como a filósofa nos explicou nesta entrevista, uma influência duradora no pensamento de Longino. Ademais, em 1979, o importante periódico britânico, Feminist Review, também é criado com o intuito de amalgamar a teoria acadêmica à prática e ao ativismo político.

Longino integra, portanto, esse contexto frutífero em que se desenvolve a amálgama entre Estudos de Ciências, Feminismo e Estudos das Mulheres na década de 1980. É importante destacar, nesse sentido, as obras precursoras de Alison Jaggar, Feminist Politics and Human Nature, de 1983, cujo capítulo 11 é dedicado à epistemologia e a questões metodológicas, de Evelyn Fox Keller, Reflections on Gender and Science, de 1985, de Sandra Harding, The Science Question in Feminism, de 1986, de Londa Schiebinger, The Mind Has No Sex?: Women in the Origins of Modern Science, e o estudo pioneiro de Donna Haraway, Primate Visions: Gender, Race, and Nature in the World of Modern Science, ambas obras de 1989. Em 1983, Sandra Harding e Merril Hintikka também editaram Discovering Reality: Feminist Perspective on Epistemology, Metaphysics, and Philosophy of Science.

Filósofas feministas, como a professora Longino, ao inaugurarem essa incursão e inserção dos estudos das mulheres, do feminismo e dos estudos de gêneros nos estudos de ciências, questionaram as atribuições assimétricas de credibilidade científica, de autoridade cognitiva e de expertise, questionaram a própria concepção de “sujeito conhecedor”, supostamente neutro e independente de valores, concepção, porém, tacitamente enviesada e atravessada por uma visão androcêntrica de conhecimento. É questionada também a pretensão de uma história universal do conhecimento científico e filosófico cuja suposta neutralidade política, de gênero e cultural, através de um hipotético sujeito conhecedor, neutro, a-histórico e universal, na verdade, mascara a invisibilidade das mulheres e a misoginia dos saberes científicos e filosóficos. Assim, questiona-se desde categorias como lógica, método, pesquisa, verdade, neutralidade e racionalidade científica, evidência, objetividade e empirismo, consideradas como propriamente epistemológicas, até a própria institucionalização do conhecimento científico-filosófico.

Longino é exemplar nesse tipo de amálgama entre epistemologia (propriamente) e sociologia do conhecimento científico e tecnológico, uma sociologia do conhecimento submetida ao escrutínio, à análise e à crítica dos estudos das mulheres, da teoria feminista e dos estudos de gêneros.

Torna-se claro, portanto, que os modelos formais e abstratos de conhecimento, a suposta “visão a partir de lugar nenhum” (expressão que se refere à obra homônima de Thomas Nagel de 1986) escondem, ao contrário do que almejam, uma “objetividade fraca”, em contraste àquilo advogado por Sandra Harding como uma “objetividade forte”, pautada pela diversidade de perspectivas. Assim, não caberia a imputação de relativismo, muitas vezes atribuída às epistemólogas feministas, historiadoras, sociólogas e filósofas das ciências, uma vez que se almeja o avanço, e não o retrocesso, dos ideais de objetividade e cientificidade, sendo esse um tema caro, trabalhado de maneira minuciosa, a toda obra de Longino. É nesse sentido que os conceitos normativos da epistemologia e das teorias do conhecimento tradicionais são reexaminados nas obras pioneiras das feministas Genevieve Lloyd, The Man of Reason: “Male” and “Female” in Western Philosophy, de 1984, a obra seminal acima citada de Evelyn Fox Keller, de 1985, e The Flight to Objectivity: Essays on Cartesianism and Culture, de 1987, de Susan Bordo.

Se Lloyd, Keller e Bordo mostram com riqueza de detalhes como os conceitos e as dicotomias mente/corpo, razão/emoção, abstrato/concreto, objetivo/subjetivo, alinham-se com a dicotomia conceitual-simbólica masculino/feminino, na qual o masculino tem sempre o caráter ideal regulador e normativo em contraste com a concepção estereotipada da feminilidade (sendo essas análises de natureza mais histórica e sociológica), Longino, por sua vez, a partir de instrumentos propriamente epistemológicos, herdeira que é da filosofia analítica de tradição anglo-saxã (desde o seu mestrado em filosofia na Universidade de Sussex, no Reino Unido, até o seu doutorado em filosofia na Universidade Johns Hopkins, nos EUA), estende essas críticas de natureza mais histórica e sociológica às minúcias da filosofia da ciência de tradição analítica, sendo esse um mérito amplamente reconhecido pelas demais feministas trabalhando em Estudos de Ciências. A entrevista com a qual nos deparamos a seguir nos apresenta essa fascinante história através da vida e da obra de Helen E. Longino.

Entrevistador(a) (E): Dra. Longino, obrigado por nos conceder esta entrevista. Eu gostaria de começar, se me permite, com algumas perguntas sobre a sua própria história. Eu sei que você nasceu em 1944, mas não sei nada sobre a sua família. Quem eram seus pais? O que eles faziam?

Helen Longino (HL): O meu pai era oficial da marinha. E toda a sua carreira foi na Marinha dos EUA. Ele lutou nas operações do Pacífico na Segunda Guerra Mundial. Eu nasci durante um intervalo. Fui concebida durante a Guerra. E ele estava por perto quando eu nasci. Minha mãe era filha de imigrantes irlandeses. Ela era extremamente inteligente, muito capaz. Quando ela se formou no colegial, ela era uma estudante com alta pontuação no estado de Nova Iorque. E ela tinha suas próprias ambições como atriz e no jornalismo, o que ela deixou de lado quando se casou com meu pai. E assim ela devotou a sua vida para ser esposa de um oficial da marinha. Isso se traduziu em fazer muitos serviços sociais e coisas do gênero. Ela gostava disso. Essa foi a vida dela. Ela também esteve muito envolvida nos estudos do meu pai, enquanto ele cursava o doutorado e coisas assim.

E: E você tem irmãos ou irmãs?

HL: Eu tinha três, mas agora apenas dois. Todos mais jovens.

E: E você teve alguma influência de professores na escola, ou talvez outras pessoas, cuja influência tenha sido forte, levando você à literatura inglesa ou a outros campos que você buscou mais tarde, como a filosofia?

HL: Não. Ao ingressar na universidade, eu tinha muitas ideias diferentes sobre o que eu estudaria, tendo, ao fim e ao cabo, escolhido literatura inglesa, pois, assim pensei, a literatura me permitia pensar em tantas outras coisas do meu interesse. Posteriormente, eu percebi que somente a filosofia, realmente, me permitiria pensar, seja lá o que eu quisesse pensar, de uma forma mais disciplinada do que qualquer outra disciplina. Nesse período, houve um professor de filosofia que me influenciou muito e me ajudou a descobrir o que era a filosofia.

E: E como você decidiu se formar em literatura inglesa na Barnard College?

HL: Eu pensava que eu queria ser escritora. E eu estava realmente interessada em estudar literatura comparada, francesa, italiana e inglesa, e fiz muito trabalho sobre poesia renascentista nessas línguas. No entanto, na verdade, a minha intenção era cursar o mestrado em Sussex [na Universidade de Sussex] em Literatura Comparada. Porém, eu decidi, por volta do verão, depois de concluída a graduação, que o que eu realmente queria fazer era filosofia. Assim, eu mudei do programa de literatura comparada para filosofia em Sussex [na Inglaterra].

E: E por que a Inglaterra?

HL: Eu queria sair dos EUA.

E: Você gostaria de dizer alguma coisa sobre isso?

HL: A minha vida pessoal estava um pouco confusa nessa época e eu também estava muito aborrecida com o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã. E, assim, comecei a pensar nessa possibilidade de simplesmente deixar os EUA para sempre.

E: E como você decidiu que queria cursar o doutorado sob a supervisão de Peter Achinstein na Universidade Johns Hopkins?

HL: Eu me candidatei à Universidade Johns Hopkins por causa de um artigo que ele e o seu colega, Stephen Barker, escreveram, [“On the New Riddle of Induction”], sobre o paradoxo de “grue” [em português, “verzul”]1 e significado. Eu achei o argumento do artigo muito inteligente (inclusive eu reli esse trabalho recentemente). Eu não me lembro, exatamente, o que eu vi nele na época. Todavia, na época, achei que era realmente importante. Assim, eu pensei: eu gostaria de estudar com esses caras! Então foi por isso que eu me candidatei à Johns Hopkins e fui aceita. Quando então cheguei na Johns Hopkins, eu descobri que, na verdade, eu me interessava por lógica e filosofia da linguagem, mas descobri que Barker era um filósofo da matemática, e que Achinstein era um filósofo da ciência. Assim, se eu quisesse estudar com eles, era isso o que eu deveria estudar. E, assim, eu estudei.

E: E você cursou tanto o seu mestrado quanto o seu doutorado em filosofia da ciência durante um período, entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, quando houve essa explosão de desafios à chamada “visão recebida da filosofia da ciência”, a saber, os primeiros trabalhos de Thomas Kuhn, Stephen Toulmin, Paul Feyerabend, o holismo semântico de Quine e Neurath, Donald Davidson, dentre outros. Qual foi o impacto desses trabalhos iniciais em Estudos de Ciências em seu próprio trabalho como mestranda e doutoranda em filosofia da ciência?

HL: Eu acho que teve muito pouco impacto no meu trabalho no programa de mestrado [em Sussex], que se centrava estritamente em lógica e epistemologia. Eu adquiri uma boa base para o meu estudo posterior em filosofia, o que era bom. No entanto, certamente, o meu primeiro livro, [Science as Social Knowledge: Values and Objectivity in Scientific Inquiry, de 1990], foi um esforço para, entre outras coisas, fornecer uma alternativa à “visão recebida da filosofia da ciência” e ao tipo de crítica holística de [Thomas] Kuhn e [Paul] Feyerabend. Eu escrevi sobre as opiniões desses autores, sobre o que eu considerava problemático ou insatisfatório e, na sequência, desenvolvi a minha própria alternativa, que, depois, tentei aplicar a esses estudos de casos particulares.

E: Então você começou a lê-los ainda no doutorado?

HL: Sim. Porém, não os sociólogos, o que aconteceu muito mais tarde.

E: Assim, não se pode dizer que você pretendeu dialogar aquilo que você tinha aprendido como filósofa da ciência com essa nova literatura que surgiria durante os anos 1970 em Estudos de Ciências?

HL: A nova literatura que aparecera, na sociologia do conhecimento científico, eu apenas tomei conhecimento depois do meu primeiro livro, Science as Social Knowledge. A outra literatura a que me refiro nesse livro era, na verdade, mais de política da ciência. Eu me refiro a trabalhos de pensadores como [Jürgen] Habermas, das estudiosas feministas, [Michel] Foucault, etc. São os autores de maior influência para mim naquela época, mais do que aqueles da sociologia do conhecimento científico. Nem sequer pensei no trabalho dos sociólogos nessa época, não até depois da publicação do livro de 1990 [Science as Social Knowledge].

E: E sobre o seu ativismo inicial e envolvimento com o feminismo da segunda onda e o movimento feminista nos anos 70? Como é que isso moldou, ao longo do tempo, a sua compreensão da ciência? E como é que você se apercebeu das ligações entre Estudos de Ciências e Feminismo?

HL: Eu me envolvi, efetivamente, no ativismo feminista durante o meu primeiro emprego na UC San Diego [Universidade da Califórnia em San Diego]. Foi quando eu me envolvi com o movimento de libertação das mulheres. E esse grupo iniciou um curso em Estudos das Mulheres. Foi assim que os Estudos das Mulheres chegaram à maioria das universidades, ou, ao menos, a muitas universidades, por meio de cursos demandados por estudantes. As estudantes exigiam que os grupos feministas fossem capazes de produzir tais cursos. Assim, as estudantes me pediram isso, uma vez que eu estava envolvida no movimento. Nós estávamos lutando contra a Guerra [do Vietnã] em San Diego, sendo que a UC San Diego era uma espécie de centro que produzia esse tipo de coisas militares que acabavam indo para o Vietnã, o Camboja, etc. Assim, nós exercíamos o nosso ativismo no próprio campus da UC San Diego. E parte desse ativismo foi estabelecido nesse curso, quando, então, me perguntaram se eu proferiria uma palestra sobre Ciência nesse curso. E eu disse que sim. Eu aceitei e, assim, vi-me obrigada a fazer alguma pesquisa sobre o assunto.

E: Então havia essa demanda para você?

HL: Sim. Eu fui levada a perceber a ligação entre Estudos de Ciências e Feminismo ao ter de preparar uma palestra. Eu percebi, assim, que as coisas em que eu pensava, enquanto filósofa, nessa época, realmente tinham algo a dizer a respeito da relação entre estudos feministas e estudos de ciências. Eu achava, e ainda penso assim, que eu tenho uma concepção que não havia ainda desenvolvido completamente. Ainda havia muito que eu não havia desenvolvido nos anos 1970, mas eu pensava que eu tinha uma forma de pensar sobre as ciências que permitia às feministas dizerem o que precisava ser dito [sobre a ciência], invocando o contexto e o background intelectual como parte importante na atribuição probatória dos dados [empíricos]. De modo que possamos falar sobre as formas como a ciência é moldada pelos valores sociais, sem, contudo, implicar que isso seja, necessariamente, má ciência, mas, tão somente, uma característica fundamental da ciência, a qual está sujeita, devido à sua dependência de contextos e backgrounds, à influência dos valores do contexto social.

E: Certo. E de volta a San Diego, você já conhecia, por volta dessa época, algumas dessas feministas que mais tarde se tornariam proeminentes no campo? Como a Evelyn Fox Keller?

HL: Não enquanto eu estava em San Diego. Eu não conheci a Evelyn [Fox Keller], por exemplo, até eu começar a ensinar na Mills College [em Oakland, Califórnia]. Eu a conheci em meados dos anos 1980. A Sandra Harding, provavelmente, eu conheci no final dos anos 1980. Nos anos 1970, na verdade, eu estava lendo trabalhos de feministas como Ruth Bleier (1923-1988) e Ruth Hubbard (1924-2016), a bióloga que estava na época desafiando as formas de se pensar a respeito das diferenças de gênero e sexo em biologia2. Em 1978, o que é depois de eu já ter saído de San Diego – eu já estava, na época, na Área da Baía de São Francisco, na Mills College, o periódico Signs: Journal of Women in Culture and Society publicou um número muito influente para as estudiosas em estudos feministas, um número especial sobre mulheres na ciência e gênero e ciência. Tinham artigos assinados por Donna Haraway, por exemplo, e Adrienne L. Zihlman e Nancy Tanner, que estavam a escrever juntas uma série de artigos sobre evolução humana e antropologia física3. As novidades trazidas por esses artigos foram realmente importantes para mim. Eu estava realmente atenta às críticas levantadas pelas biólogas e antropólogas feministas e às abordagens alternativas que elas estavam desenvolvendo.

E: Se na UC San Diego você teve a primeira experiência de ensino de Estudos das Mulheres, como se deram as posições seguintes que você ocupou, como na UC Berkeley e na Stanford?

HL: A minha indicação para a Universidade da Califórnia em Berkeley aconteceu por volta dessa época em que eu estava na Mills College, já tinha começado a publicar alguns artigos em periódicos e a proferir palestras localmente, envolvendo-me no ativismo feminista da região e em círculos intelectuais-acadêmicos feministas. Assim, a indicação em Berkeley aconteceu porque me pediram para que eu me candidatasse a essa certa bolsa da Fundação Nacional da Ciência [National Science Foundation – NSF], uma bolsa interdisciplinar oferecida pela Universidade da Califórnia em Berkeley para mulheres, mulheres nas disciplinas que eram apoiadas pela NSF, incluindo filosofia da ciência, assim como as disciplinas filosóficas tradicionais. Portanto, o programa de Estudos das Mulheres, ou Estudos de Gênero, da UC Berkeley, pediu-me para que eu me candidatasse. A ideia era que eu ensinasse alguns cursos lá e talvez também tivesse algum tempo para pesquisa. Então foi assim que aconteceu. Já a nomeação em Stanford aconteceu porque fui convidada a lecionar o curso de Gênero e Ciência na Universidade Stanford. Foi por apenas um período letivo.

E: Qual público você tinha em mente quando escreveu Science as Social Knowledge? O livro foi escrito para introduzir a filosofia da ciência às feministas ou para introduzir o feminismo aos filósofos da ciência? E também em que público você acha que o livro teve maior impacto?

HL: Na verdade, eu penso que esse livro teve o mesmo impacto para ambos os públicos e continuo a ver referências a Science as Social Knowledge (de 1990) nos trabalhos atuais de filosofia da ciência. As pessoas, em muitos aspectos, entendem o livro como um trabalho de filosofia. O livro não tinha a intenção de ser apenas sobre feminismo, mas sim de introduzir essa forma social especial de se pensar a respeito do conhecimento científico, direcionada a ambas as comunidades de filósofos das ciências e de cientistas. De fato, muitos cientistas também se mostraram interessados nas ideias ali expostas. Eu pensava que era realmente uma forma de se pensar sobre a Ciência, incluindo as práticas científicas e o conteúdo do conhecimento científico, de modo que as feministas pudessem realmente usar essa forma de pensar para os tipos de críticas que queriam fazer da Ciência. Pode-se criticar a Ciência sem abandonar a Ciência.

E: Em The Fate of Knowledge (de 2001), você critica a dicotomia frequentemente encontrada entre, por um lado, os filósofos da ciência, por outro, os praticantes dos estudos sociais da ciência; os primeiros, muitas vezes, assumindo que a ciência é racional, mas não social, e os últimos, muitas vezes, assumindo o contrário, que a ciência é social, mas não racional. Como você resumiria o seu argumento, no livro, de que a ciência pode ser tanto social quanto produzir racionalmente formas de conhecimento legítimo?

HL: Uma parte do argumento é dizer que o termo “social” pode significar duas coisas diferentes. O termo “social” pode significar compartilhado ou pode significar interativo. Eu penso que os debates entre os filósofos e os sociólogos tendem a se concentrar na concepção de “social” como compartilhado. Desse modo, o que está na base de seus argumentos é essa concepção de que “social” é apenas aquilo que é compartilhado. O meu ponto é que esse não é o único significado de “social”. O termo “social” também pode significar interativo e, nesse sentido, penso que o “social” é algo constitutivo do conhecimento, especialmente do conhecimento científico. Se você olhar para as formas como a comunidade científica, efetivamente, trabalha, assim como se você pensar na estrutura lógica da ciência, em todo caso, a produção científica requer algum tipo de interação física – de modo a se estabilizarem os pressupostos de fundo, de modo a se evitarem arbitrariedades, e assim por diante. Portanto, se pensarmos o “social” como interativo, então é o “social”, ou melhor, são as práticas de acordo com certas normas, algo constitutivo da racionalidade e da sociabilidade da ciência, que conferem legitimidade ao que se diz ser conhecimento científico.

E: Você passou algum tempo de sua carreira como professora visitante em várias instituições fora dos Estados Unidos, em países como Noruega, Inglaterra, Áustria e Índia. Você acha que essas diferentes culturas receberam seu trabalho sobre epistemologia feminista de maneira diferente? Ou você acha que temas de pesquisa similares, como a epistemologia feminista, são realizados diferentemente de forma substancial ou relevante nessas diferentes culturas?

HL: Eu acho que o meu trabalho tem sido recebido de forma diferente no contexto europeu e em outros contextos fora dos Estados Unidos em relação aos Estados Unidos. De todo modo, eu tentei escrever de uma forma que se conecta à audiência americana. Eu tentei escrever de maneira que os filósofos analíticos, por exemplo, possam apreciar o que estou tentando dizer, argumentar, analisar e assim por diante. E eu acho que isso tem funcionado, porque os filósofos analíticos entendem o poder disso. De todo modo, eu realmente acho que a diferença cultural é importante. Eu penso que a Índia é um exemplo realmente interessante. Eu percebo que alguns cientistas na Índia têm estado muito interessados no trabalho que eu desenvolvo, assim como os educadores científicos. Eu fui convidada duas vezes a uma conferência realizada pelo Homi Bhabha Centre for Science Education, em Mumbai, focado em educação científica. Portanto, eu acho que há interesse por parte dos indianos. Há um caso estranho por causa deste BJP (Bharatiya Janata Party) [“Partido do Povo Indiano”], que tem feito afirmações idiotas em torno desse debate sobre pesquisas com células-tronco. Portanto, é uma grande confusão, mas há muitas pessoas realmente muito responsáveis e inteligentes lá que estão horrorizadas com o BJP. Os indianos têm suas próprias batalhas e estão, realmente, em uma batalha neste exato momento. Veremos o que acontece. Eu voltarei em dezembro. Portanto, de fato, culturas diferentes recebem o meu trabalho de maneira diferente.

E: Você mencionou em seu artigo, “Feminist Epistemology as a Local Epistemology”, de 1997, cinco “virtudes teóricas” (ou normas) trazidas por pesquisadoras feministas, a saber, novidade, heterogeneidade ontológica, complexidade ou mutualidade de interação, aplicabilidade às necessidades humanas e descentralização do poder ou empoderamento universal. Você acha que desde então as feministas se depararam com mais algumas dessas “virtudes teóricas”?

HL: A respeito da primeira questão, talvez. É possível [que novas virtudes teóricas foram trabalhadas pelas feministas], mas não sei. Alison Wylie, por exemplo, deu uma espécie de virada em um trabalho recente. Ela deu uma virada para as ciências sociais – portanto, repensando [essas “virtudes teóricas”] para as ciências sociais em um trabalho. Deste modo, ela pode ter acrescentado algo. É um capítulo de livro para um compêndio em pesquisas feministas4. Portanto, eu preciso ainda trabalhar mais nessas ideias. Preciso encontrar uma maneira de ordená-las e, inclusive, estive pensando em reuni-las em um volume de ensaios que falem dessas coisas que ainda não estão em meus livros.

E: Ao que parece, o que chama a atenção no seu artigo é o fato de que você, realmente, estabelece essas normas (ou “virtudes teóricas”), e não apenas afirma, por exemplo, que quanto mais diversidade tivermos, mais objetividade teremos, como o faz Sandra Harding. Você, por outro lado, parece querer ir além desta afirmação geral, propondo, realmente, essas virtudes ou normas, que, na verdade, são as virtudes responsáveis por aumentar a objetividade. Será que isso faz sentido para você?

HL: Sim, eu acho que faz sentido. Eu escrevi uma série de artigos sobre isso, que são muito parecidos entre si, e, em um artigo final dessa série, eu tento articular o que eu quero dizer, exatamente, nessa série5. A posição que adoto é que tanto as normas convencionais quanto as normas alternativas, que penso como uma família de princípios heurísticos, fazem parte do mesmo conjunto de princípios que será invocado, adequadamente, a depender dos objetivos de um determinado programa de pesquisa, do contexto da pesquisa, e assim por diante. Portanto, na minha visão sobre a objetividade – que envolve interações rotineiras, não apenas diversidade, mas uma interação – posso ver uma interação entre grupos de pesquisa que prezam, por exemplo, o valor da simplicidade e outras que prezam, por exemplo, o valor da heterogeneidade, ambos grupos pensando sobre o mesmo fenômeno, trazendo diferentes hipóteses, uma vez que eles pensaram sobre a base empírica de maneiras diferentes. Se, por um lado, naquele grupo que valoriza a simplicidade, os pesquisadores procuram nos dados empíricos por uniformidade, por médias estatísticas, e assim por diante, por outro lado, naquele grupo que valoriza a heterogeneidade, os pesquisadores estão mais interessados na variedade dos dados empíricos e no que essa variedade pode nos informar sobre o fenômeno. No entanto, esses dois grupos podem interagir entre si, guiados por alguma, se houver, concepção comum a respeito do porquê eles querem investigar esse determinado domínio. Assim, eles podem lançar luzes sobre algo que possa funcionar para os seus propósitos. A minha concepção sobre essas coisas é que os resultados são sempre provisórios, a depender da capacidade desses resultados em manter estável uma concepção comum entre os grupos envolvidos a respeito do que queremos saber nessa investigação.

E: Em que você está trabalhado atualmente?

HL: Eu estou trabalhando em um artigo que esclarece a diferença entre epistemologia social individualista de epistemologia social propriamente6. Na filosofia nos EUA nos últimos 15 anos, tem havido um interesse em epistemologia social que se expressa no interesse em tópicos como testemunho e discordância [entre pares]. Alvin Goldman foi em parte responsável por isso7. Há uma grande parte dessa literatura que trata da questão sobre como os indivíduos devem ajustar as suas crenças à luz de suas experiências sociais, como no caso de receber um testemunho ou de se deparar com uma discordância [entre os seus pares]. É essa a chamada epistemologia social individual. É focada no estudo da relação do indivíduo com o seu mundo social. O livro de Alvin Goldman, Knowledge in a Social World, é um exemplo. A minha própria visão, por outro lado, sempre foi focada nas formas por meio das quais o próprio conhecimento é socialmente constituído por meio da interação crítica entre os indivíduos envolvidos. A partir desse meu ponto de vista, nós acabamos pensando a respeito desses tópicos, como testemunho e discordância [entre pares], de maneiras muito diferentes. É nesse artigo que eu estou trabalhando atualmente.

E: Qual seria o seu conselho para alguém interessado em começar a estudar e fazer pesquisas na intersecção entre estas duas disciplinas: análise feminista da ciência e da epistemologia tradicional e estudos de ciência e tecnologia?

HL: Eu aconselharia à pessoa interessada em Estudos de Ciências a se concentrar na Ciência, de modo a não basear suas pesquisas somente na filosofia, mas, realmente, fazer algum trabalho de estudo de caso em ciências, para que essa pessoa tenha alguma ligação no terreno empírico com um programa de pesquisa efetivo. E com relação à interseção com o feminismo, é claro, a pessoa interessada precisa saber algo sobre o feminismo, a análise feminista da ciência, e assim por diante. Porém, às vezes, eu me preocupo ao perceber como a filosofia feminista da ciência, a metafísica feminista, a epistemologia feminista, e assim por diante, tornaram-se mais bem estabelecidas dentro dos seus próprios mundos, não sendo absorvidas, necessariamente, num mundo intelectual maior ou numa comunidade filosófica mais ampla. Além disso, uma outra sugestão: eu penso que jovens pesquisadores poderão contribuir ao focarem em algumas áreas de pesquisa pouco exploradas, como a agricultura. É uma área que, claramente, clama por análise, uma área tão ligada a questões que estão em foco na crise atual, questões sobre como nos abastecer de alimentos, questões sobre formas de agricultura, o agronegócio e o capitalismo, os movimentos anticapitalistas, e assim por diante. Há muitas subáreas, realmente, dentro da agricultura para se pensar. Há muito trabalho analítico a ser realizado, por exemplo, nas ciências ambientais. Há debates dentro das ciências ambientais sobre os modelos mais adequados de produção. Há muitos trabalhos em andamento nas ciências climáticas também – a maior parte deles sendo, necessariamente, influenciada pelo feminismo. Os filósofos estão começando a trabalhar nessa área e eu acho que há muito trabalho que tem que ser feito nas ciências climáticas. Por isso, eu gostaria de incentivar os jovens a pensar nessas áreas que ainda não foram exploradas, desenvolvendo familiaridade com uma área de pesquisa que se sintam confortáveis. Portanto, basta procurar por oportunidades para trazer para essas novas áreas as ferramentas analíticas filosóficas e feministas.

E: Muitíssimo obrigado por essa entrevista.

Referências bibliográficas

  • AYMORÉ, Débora; KOIDE, Kelly; FERREIRA, Mariana Toledo. Activism, Feminism and Philosophy of Science Interview with Helen Longino. Scientiae Studia, v. 15, n. 1, São Paulo, 2017, pp.145-162.
  • BARKER, Stephen Francis; ACHINSTEIN, Peter. On the New Riddle of Induction. The Philosophical Review, v. 69, n. 4, Oct., 1960, pp.511-522.
  • BEAUVOIR, Simone de. Le Deuxième Sexe: Les Faits et Les Mythes. Paris, Gallimard, 1949.
  • BIRD, Alexander. The Social Sense of “Scientific Knowledge”. Philosophical Perspectives, 24, 2010, pp.23-56.
  • BLEIER, Ruth. Feminist Approaches to Science. Oxford, Pergamon Press, 1986.
  • BLEIER, Ruth. Science and Gender: A Critique of Biology and its Theories on Women. Oxford, Pergamon Press, 1984.
  • BORDO, Susan. The Flight to Objectivity: Essays on Cartesianism and Culture. New York, State University of New York Press, 1987.
  • FIRESTONE, Shulamith. The Dialectic of Sex: The Case for Feminist Revolution. New York, William Morrow and Company, 1970.
  • FRIEDAN, Betty. The Feminine Mystique. New York, W.W. Norton & Company, 1963.
  • GOLDMAN, Alvin I. Knowledge in a Social World. Oxford, Clarendon Press, 1999.
  • GOODMAN, Nelson. Fact, Fiction, and Forecast. Cambridge, Harvard University Press, 1955.
  • HARAWAY, Donna. Primate Visions: Gender, Race, and Nature in the World of Modern Science. New York, Routledge, 1989.
  • HARAWAY, Donna. Animal Sociology and a Natural Economy of the Body Politic. Part I: A Political Physiology of Dominance. Signs: Journal of Women in Culture and Society, v. 4, n. 1, 1978, pp.21-36.
  • HARAWAY, Donna. Animal Sociology and a Natural Economy of the Body Politic. Part II: The Past Is the Contested Zone: Human Nature and Theories of Production and Reproduction in Primate Behavior Studies. Signs: Journal of Women in Culture and Society, v. 4, n. 1, 1978, pp.37-60.
  • HARDING, Sandra, HINTIKKA, Merril Bristow (ed.). Discovering Reality: Feminist Perspective on Epistemology, Metaphysics, and Philosophy of Science. Dordrecht, D. Reidel, 1983.
  • HARDING, Sandra. The Science Question in Feminism. Ithaca. NY, Cornell University Press, 1986.
  • HUBBARD, Ruth. Politics of Women’s Biology. New Brunswick, Rutgers University Press, 1990.
  • JAGGAR, Alisson Mary. Feminist Politics and Human Nature. Maryland, Roman and Littlefield, 1983.
  • KELLER, Evelyn F.; LONGINO, Helen E. (ed.). Feminism and Science (Oxford Readings in Feminism). Oxford, Oxford University Press, 1996.
  • KELLER, Evelyn Fox. Reflections on Gender and Science. New Haven, Yale University Press, 1985.
  • LASLETT, Barbara et al. (ed.). Gender and Scientific Authority. Chicago, The University of Chicago Press, 1996.
  • LLOYD, Genevieve. The Man of Reason: “Male” and “Female” in Western Philosophy. Minneapolis, University of Minnesota Press, 1984.
  • LONGINO, Helen E. Studying Human Behavior. Chicago, The University of Chicago Press, 2013.
  • LONGINO, Helen E. The Fate of Knowledge. Princeton, Princeton University Press, 2001.
  • LONGINO, Helen E. Cognitive and Non-Cognitive Values in Science: Rethinking the Dichotomy. In NELSON, L H.; NELSON, J. (ed.), Feminism, Science, and the Philosophy of Science. London, Kluwer Academic Publishers, 1996.
  • LONGINO, Helen E. In Search of Feminist Epistemology. The Monist, 77, n. 4, 1994, pp.472-85.
  • LONGINO, Helen E. Science as Social Knowledge: Values and Objectivity in Scientific Inquiry. Princeton, Princeton University Press, 1990.
  • LONGINO, Helen E.; LENNON, Kathleen. Feminist as a Local Epistemology. Proceedings of the Aristotelian Society, Supplementary Volumes, v. 71, 1997, pp.19-54.
  • MILLET, Kate. Sexual Politics. New York, Doubleday & Company, 1970.
  • MITCHELL, Juliet. Womans’s Estate. Harmondsworth, Penguin Books, 1971.
  • NAGEL, Thomas. The View from Nowhere. New York, Oxford University Press, 1986.
  • NANCY, Tanner; ZIHLMAN, Adrienne. Women in in Evolution. Part I: Innovation and Selection in Human Origins. Signs: Journal of Women in Culture and Society, v. 1, n. 3, 1976, pp.585-608.
  • ROCHA, Gustavo Rodrigues; ROCHA, Luana Fonseca da Silva. Uma história social do conceito de feminilidade na psicanálise de 1910 a 1930. Scientiae Studia, v. 15, n. 1, São Paulo, 2017, pp.121-144.
  • SCHIEBINGER, Londa. The Mind Has No Sex?: Women in the Origins of Modern Science. Cambridge, MA, Harvard University Press, 1989.
  • SEDEÑO, Eulalia Pérez; MARTIN, Rebeca Ibáñez. (ed.) Cuerpos y Diferencias. Madrid, Plaza y Valdés, 2012.
  • WYLIE, Alison. Feminist Philosophy of Social Science. In: GARRY, Ann Garry et al. (ed.), Routledge Companion to Feminist Philosophy. New York, Taylor & Francis Group, 2017, pp.328-340.
  • ZIHLMAN, Adrienne. Women in in Evolution. Part II: Subsistence and Social Organization among Early Hominids. Signs: Journal of Women in Culture and Society, v. 4, n. 1, 1978, pp.4-20.
  • 1
    Helen Longino se refere ao artigo de Stephen Francis Barker (1927-2019) e Peter Achinstein (1935-), colegas de departamento na época na Universidade Johns Hopkins, intitulado “On the New Riddle of Induction”, publicado em 1960, em The Philosophical Review, no qual os autores trabalham o assim chamado “novo enigma (ou problema) da indução”, introduzido pelo filósofo Nelson Goodman (1906-1998), em sua obra “Fato, Ficção e Previsão”, de 1955. Nesse trabalho, Goodman introduz os termos “grue” – mistura de “green” (verde) com “blue” (azul), algo que poderia ser traduzido como “verzul” – e “bleen” – mistura de “blue” (azul) com “green” (verde), algo que poderia ser traduzido como “azerde”. O problema proposto por Goodman nesse trabalho é tratado no referido artigo de Peter Achinstein e Stephen Barker. É a esse problema que se refere o “paradoxo de ‘grue’”, que Longino menciona na entrevista.
  • 2
    Ruth Bleier (1923-1988), neurofisiologista norte-americana, foi uma das feministas pioneiras em explorar viesses de gênero na biologia, tendo publicado Science and Gender: A Critique of Biology and its Theories on Women, em 1984, e Feminist Approaches to Science, em 1986. Ruth Hubbard (1924-2016) foi a primeira professora mulher a conseguir uma posição em biologia na Harvard University. Tendo publicado, em 1990, The Politics of Women’s Biology, e editado vários livros sobre gênero e ciência, Hubbard foi pioneira nas críticas à visão androcêntrica nos estudos de biologia da mulher.
  • 3
    Helen Longino se refere à edição do volume 4, número 1, de outono de 1978, do periódico Signs: Journal of Women in Culture and Society, intitulado “Women, Science, and Society”, editado por Suzanna Danuta Walters. Adrienne L. Zihlman publicou, nesse fascículo, o artigo “Women in Evolution. Part II: Subsistence and Social Organization among Early Hominids”, o qual, embora seja a única autora, foi precedido por outro artigo de 1976, “Women in Evolution. Part I: Innovation and Selection in Human Origins”, este em co-autoria com Nancy Tanner. Donna Haraway assina dois artigos nessa edição especial da Signs de 1978, a saber, “Animal Sociology and a Natural Economy of the Body Politic”, partes 1 e 2.
  • 4
    Helen Longino se refere a The Routledge Companion to Feminist Philosophy, editado por Ann Garry, Serene J. Khader e Alison Stone, publicado em 2017, em que Alison Wylie tem um capítulo intitulado “Feminist Philosophy of Social Science”. Alison Wylie é uma filósofa da arqueologia, na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, especialista em feminismo nas ciências sociais.
  • 5
    A série de artigos a que Helen Longino se refere inclui, entre outros, “In Search of Feminist Epistemology”, publicado em The Monist, em 1994, e “Cognitive and Non-Cognitive Values in Science: Rethinking the Dichotomy”, publicado em Feminism, Science, and the Philosophy of Science, trabalho editado por L. H. Nelson e J. Nelson, em 1996.
  • 6
    Helen Longino se refere a uma distinção realizada pelo filósofo Alexander Bird em um artigo de 2010 intitulado “The Social Sense of ‘Scientific Knowledge’”, publicado na Philosophical Perspectives, em que Bird traça a distinção entre o que ele chama de “Individualist Social Epistemology” (ISE) e o que ele chama de “Social Social Epistemology” (SSE).
  • 7
    Alvin Goldman é um epistemólogo e professor norte-americano, trabalhando no departamento de filosofia da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, conhecido pela publicação de Knowledge in a Social World, de 1999, tendo sido editor do periódico Episteme: A Journal of Social Epistemology, periódico fundado em 2004 que tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento da área de epistemologia social.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    Out 2022

Histórico

  • Recebido
    03 Set 2021
  • Aceito
    01 Fev 2022
location_on
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Núcleo de Estudos de Gênero - PAGU Rua: Cora Coralina, 100., Cidade Universitária Zeferino Vaz, CEP: 13083-869, Telefone: (55 19) 3521-7873 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: cadpagu@unicamp.br
rss_feed Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS
Acessibilidade / Reportar erro