Open-access Kolonie und Heimat Imagens da África e economia visual à época dos impérios coloniais

Kolonie und Heimat Images of Africa and the Visual Economy at the Time of Colonial Empires

Resumo

Os estudos de cultura visual têm inovado as metodologias para abordar as imagens da África à época dos impérios coloniais. A iconografia colonial em diferentes suportes materiais vem sendo fonte visual e objeto de muitas investigações, publicações e exposições, notadamente em países como Alemanha, Bélgica, França, Inglaterra e Portugal. Na história visual do colonialismo, as imagens da África têm sido também objetos de novos estudos, mas ainda são raros aqueles que abordam as imagens da imprensa ilustrada como mercadorias de uma economia visual e como produtos para o olhar inspetor do público leitor. A partir da revista alemã Kolonie und Heimat in Wort und Bild [ Colônia e pátria em palavra e imagem ], órgão da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft [Liga Feminina da Sociedade Colonial Alemã], busca-se demonstrar como as imagens da África integraram uma economia visual à época dos impérios coloniais. A partir da análise do circuito social das imagens, os resultados do estudo proposto indicam o surgimento de uma nova economia visual à época da reprodutibilidade técnica da imagem, a mercantilização de fotografias de paisagens e gentes africanas e uma forma de vigilância ótica através da imprensa ilustrada colonial.

Palavras-chave  Economia visual; fotografia; império colonial alemão

Abstract

Visual culture studies have innovated the methodologies to approach the images of Africa during the era of colonial empires. The colonial iconography, found in different material supports, has served as a visual source and subject of many investigations, publications, and exhibitions, particularly in countries such as Germany, Belgium, France, England, and Portugal. In the visual history of colonialism, the images of Africa have also been the focus of new studies. However, examinations of images in the illustrated press as commodities within a certain visual economy and as products for the scrutinizing gaze of the reading public are still scarce. Through an analysis of the German magazine Kolonie und Heimat in Wort und Bild [ Colony and Homeland in Word and Image ], which was an organ of the Frauenbund der Deutschen Kolonial­gesellschaft [Women’s League of the German Colonial Society], we aim to demonstrate how the images of Africa formed part of a certain visual economy during colonial times. By considering the social circuit of these images, the findings of this study point to the emergence of a new visual economy in the age of mechanical reproduction of images, to the commodification of photographs depicting African landscapes and people, and to a form of visual surveillance through the colonial illustrated press.

Keywords  Visual economy; photography; German colonial empire

Ideologia colonial, fotografia e economia visual

Ideologia colonial e economia visual são irmãs siamesas na revista alemã Kolonie und Heimat in Wort und Bild [ Colônia e Pátria em Palavra e Imagem ]. Esse periódico era o órgão de imprensa da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft [Liga Feminina da Sociedade Colonial Alemã]. Com sede em Berlim, essa organização de mulheres contava com 25 seções em outras cidades do império alemão no ano de 1909 (Repussard, 2014 ). A revista Kolonie und Heimat circulava não apenas pela Alemanha, mas também pelos territórios sob domínio colonial alemão, desde o Togo, na África ocidental, até Samoa, nos mares do sul.

No seu livro sobre a ideologia colonial e o imaginário mítico na Alemanha do II Reich, Catherine Repussard ( 2014 ) mostrou como, entre 1909 e 1914, a revista Kolonie und Heimat propalou o retorno a uma Alemanha idealizada dentro do espaço colonial, reinventando o ultramar num projeto reformador da própria sociedade alemã do II Reich. Em seu trabalho sobre as origens ideológicas do imperialismo do III Reich, Woodruff Smith ( 1986 ) identificou um modelo de colonização para diferentes regiões do globo, que remetia a experiências alemãs anteriores, notadamente no Sudoeste Africano. Para o autor, esse modelo defendia um tipo de sociedade alemã tradicional, idealizada a partir da figura da família patriarcal do meio rural anterior ao processo de industrialização e urbanização. Essa família alemã seria a matriz da germanidade [ Deutschtum ].

Na revista Kolonie und Heimat , a germanidade nas colônias foi tema de vários artigos, que destacaram a importância do papel das mulheres para a sua reprodução, notadamente na transmissão da língua materna e no cotidiano doméstico. Nesse sentido, a ênfase à mulher como portadora da cultura alemã [ Kulturträgerin ] naturalizava o trabalho doméstico feminino e enaltecia a família patriarcal (Todzi, 2008 ; Walgenbach, 2005 ). Os artigos sobre a germanidade foram ilustrados com fotografias de atividades laborais, tanto femininas quanto masculinas, nas quais um modelo familiar alemão se expressava na reprodução de um mundo rural em vias de desaparição na Alemanha. 1

No campo literário, o escritor Karl May relacionou a família patriarcal e pequeno-burguesa com uma narrativa de aventuras que era para o seu público leitor quase uma leitura de si. Seus romances, que ensejam a ideia do “bom civilizador”, contrastam com alemães como Carl Peters, que aplicaram métodos terroristas para transformar “tribos em fábricas” (Brepohl, 2010 , p. 168). Já o escritor vitoriano Henry Rider Haggard logrou a invenção do patriarcado imperial branco (McClintock, 2010 ; Silva, 2020 ). Na África austral, holandeses, alemães e ingleses reproduziram um patriarcado rural que, por sua vez, estava em desaparição na Europa no início do século XX:

a figura do pater familias era mais fortemente abraçada nas colônias no exato momento em que desaparecia da metrópole europeia. A colônia tornou-se a última oportunidade de restaurar a autoridade política da paternidade, e não é, portanto, surpreendente que se encontrem suas expressões mais intensas na administração colonial, o próprio lugar que a ameaçava. Tampouco é surpreendente que a reinvenção do patriarca nas colônias tenha assumido uma forma patológica

(McClintock, 2010 , p. 352).

Como apontou a intelectual feminista e marxista Silvia Federici ( 2017 , p. 195-196), ao negar um salário ao trabalho doméstico das mulheres, o capital ainda o naturalizou. Ao mesmo tempo, um sentido religioso foi atribuído à mulher mãe e dona de casa. Para a Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft, a mulher alemã tinha um papel incontornável e crucial no projeto pangermanista de colonização. Para evitar a “degeneração da raça alemã” nos trópicos, era fundamental reproduzir os valores da família patriarcal e, sobretudo, as suas condições biológicas e culturais. É justamente nessa intersecção entre ideologia e imaginário colonial que a revista Kolonie und Heimat desenvolveu a sua linha editorial.

As fotografias que foram publicadas no periódico demonstram a reinvenção da família germânica nos trópicos. Elas mostram, igualmente, como os colonos alemães tentaram em vão controlar o trabalho das africanas. Para Anne McClintock ( 2010 , p. 371), a raiz do problema do “trabalho indígena” [ Eingeborenen-Frage ] estava no papel das mulheres africanas na produção. Inclusive, as críticas racistas ao “negro indolente” [ der faule Neger ] estavam relacionadas à poligamia e ao trabalho doméstico feminino como uma forma análoga à escravidão.

Muitas das milhares de fotografias do acervo da Deutsche Kolonial­gesellschaft foram publicadas na revista Kolonie und Heimat . A importante contribuição de Repussard ( 2014 ) para o debate historiográfico sobre periodismo e colonialismo alemão deu ênfase aos textos, em detrimento das imagens, da revista da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft. O título Kolonie und Heimat in Wort und Bild indica, porém, a importância da dimensão visual para um periódico de propaganda colonial. Sem discutir o valor epistemológico da “mitodologia” [ mythodologie ] proposta pela germanista da Universidade de Estrasburgo para o estudo da ideologia colonial a partir dos textos da revista, procuramos a seguir abordar a relação das imagens da revista com a economia visual da sociedade disciplinar do II Reich. Trata-se de uma abordagem para o estudo do circuito social das imagens da revista da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft que leva em conta os laços entre o periodismo ilustrado e o panoptismo à época dos impérios coloniais. Torna-se promissora, assim, a análise de evidências fotográficas em torno do controle do trabalho doméstico feminino em interface com alguns aportes na historiografia sobre a subalternidade, a intimidade e as relações de gênero em situação colonial (McClintock, 2010 ; Stoler, 2010 ; Walgenbach, 2005 ; Wildenthal, 2001 ).

Com o advento da fotografia durante o século XIX, tem-se um novo meio de conhecimento do mundo que o torna cada vez mais “familiar” (Kossoy, 2020 , p. 30). Para o público leitor de revistas ilustradas do início do século XX, o postulado da verdade iconográfica determinava em grande parte o significado das imagens. Ao publicar imagens de paisagens coloniais e de corpos em situação colonial, a revista Kolonie und Heimat reproduzia um regime de visualidade 2 no qual a África e os africanos eram vistos como entidades moldáveis pelo colonialismo. A visualidade padrão dessa revista alemã revelava a lógica panóptica de uma biopolítica colonial. Nesse sentido, as imagens das colônias integravam uma economia visual que era também um desdobramento da economia colonial.

Em termos gerais, a economia colonial é definida pelo conjunto de atividades desenvolvidas nas colônias visando à produção, à distribuição e ao consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência dos grupos envolvidos, mas sobretudo à qualidade de vida nas metrópoles. A monocultura da plantation já foi muito estudada, e o açúcar, o tabaco e o café foram mercadorias emblemáticas de um sistema no qual a colônia se caracterizava como retaguarda econômica da metrópole desde os primórdios do mercantilismo.

Entre o final do século XIX e o início do século XX, a chamada “partilha da África” permitiu aos impérios coloniais incrementarem a sua industrialização e expandirem seus mercados. A economia colonial não se limitou às atividades de exploração dos recursos naturais do continente africano ou de fornecimento de matérias-primas às metrópoles. Houve, igualmente, a produção de novas mercadorias ou novos produtos coloniais derivados de um processo industrial e de aperfeiçoamento tecnológico. Entre outros, destacamos a produção de imagens fotográficas da África.

Em obras sobre a ideologia colonial através das imagens de reclames publicitários, Joachim Zeller ( 2008 ) e David Ciarlo ( 2011 ) analisaram algumas imagens alusivas a mercadorias durante o colonialismo alemão. Nesses trabalhos, porém, as representações visuais de produtos africanos como o cacau ou o café não foram tratadas como mercadorias de uma economia visual. Ambos os historiadores privilegiaram a ideologia colonial e o racismo nas imagens de mercadorias. Acontece que a conquista da África pelos impérios coloniais fomentou uma verdadeira “busca por imagens” [ scramble for images ] (Reynolds, 2015 ) . Muitas dessas imagens são elas próprias mercadorias numa economia visual que tem por esteio o colonialismo.

No último quartel do século XIX, a imprensa periódica ilustrada reproduziu e divulgou inúmeras imagens da África. Assim como o jornal O Occidente , de Lisboa, outros periódicos metropolitanos investiram em novas técnicas de reprodução de imagens, que muito contribuíram para a construção do imaginário dos impérios coloniais. No caso português, o periodismo ilustrado promoveu um “império de papel” por meio de imagens (Martins, 2012 ). Ainda em termos iconográficos, as representações da dominação colonial podem ser vistas, igualmente, na imprensa periódica ilustrada de outros impérios. Na época, a imprensa alemã era uma das mais avançadas nas técnicas tipográficas e de ilustração. De 1885 a 1915, o periodismo ilustrado contribuiu para o imaginário popular de um império alemão ultramarino.

Entre outras revistas ilustradas alemãs, Kolonie und Heimat apresentava um discurso e uma narrativa visual de propaganda colonial. Após a Grande Guerra (1914-1918), a revista adotou um novo nome, mas a ideia colonial persiste, malgrado o fim do império colonial alemão. 3 A partir de fotografias reproduzidas na revista, de algumas matérias sobre a arte fotográfica e de anúncios de fotógrafos profissionais ou amadores, de aparelhos e material fotográfico, alguns aspectos do circuito social das imagens da África serão apresentados, com o fito de mostrar como as fotografias eram transformadas em mercadorias e, ao mesmo tempo, em produtos do panoptismo de uma economia visual própria a uma sociedade disciplinar.

Produção, circulação e consumo de imagens da África

Em 1907, a Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft publica o primeiro número da revista quinzenal Kolonie und Heimat in Wort und Bild . A partir de 1910, a revista passa a ser semanal. Seu objetivo principal era cultivar a germanidade [ Deutschtum ] dentro e fora do vasto império alemão. Para a propaganda colonial, a fotografia foi de um auxílio ímpar na construção de uma narrativa visual da germanidade em terras distantes.

Os números da revista apresentavam uma média de 21 ilustrações entre 1909 e 1910, e de 24 nos anos seguintes (Repussard, 2014 , p. 76). Imagens de igrejas, escolas, estações férreas, prédios administrativos e pequenos núcleos urbanos com suas casas comerciais, ruas e praças públicas representavam a paisagem colonial da nova “Germânia tropical”. Porém, a produção fotográfica dessas imagens dependia não apenas de meios técnicos, ou seja, de aparelhos, mas também de gente para os operar.

Na primeira década do século XX, as pequenas cidades nas colônias alemãs já tinham estúdios fotográficos e fotógrafos profissionais. Ao mesmo tempo, tinha-se um aperfeiçoamento técnico notável, e novos aparelhos fotográficos surgiram no mercado. A máquina portátil se tornava mais leve e com preços mais acessíveis, o que permitia o amadorismo fotográfico. Entre as pessoas que liam a revista da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft, havia quem gostava também de fotografar. Para esse público leitor, a revista promovia a produção, a circulação e a divulgação de fotografias sobre a “germanidade no exterior”. Além de pagar pelas fotografias publicadas, a revista ainda estimulava o envio pela remessa de um presente grátis.

Figura 1
. Anúncios de material fotográfico na revista Kolonie und Heimat

Ao contar com o auxílio do seu público leitor para ilustrar as suas páginas, a revista fomentou a produção e o consumo de imagens da África. O periódico ilustrado Kolonie und Heimat integrava uma economia visual emergente, que pode ser definida pelo conjunto de atividades desenvolvidas no campo da produção, da distribuição e do consumo de imagens na sociedade industrial à época dos impérios coloniais. A Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft percebera com acuidade que o mundo podia ser representado pela sua imagem fotográfica, pois ele se tornara “portátil e ilustrado”

(Kossoy, 2020 , p. 31).

As fotografias da África foram mercadorias de um mercado editorial em expansão, no qual as imagens das colônias circulavam em diversos suportes materiais, como livros, periódicos ilustrados e cartões postais. Se a reprodução técnica da imagem de objetos de arte podia fazê-los perder a sua aura, como apontou Walter Benjamin ( 1987 ), a fotografia manteve o fetiche da mercadoria quando ela própria se tornou uma mercadoria num mercado em expansão no início do século XX.

Os reclames publicitários de aparelhos e de material fotográfico ( Figura 1 ) visavam também o público leitor, consumidor da revista Kolonie und Heimat . Empresas alemãs de Berlim, Dresden e Leipzig se destacaram entre os anunciantes da revista. Entre 1909 e 1911, a ICA foi uma das principais anunciantes de aparelhos fotográficos da revista, inclusive com destaque para máquinas adaptadas aos trópicos para fotografar “a fauna e a flora das nossas colônias”. Um outro aparelho da ICA era apresentado como aquele que produz “documento para informar e para entreter”, sendo ainda o mais indicado “para viagem e para qualquer clima”. A ICA era a maior fábrica de aparelhos fotográficos da Europa, e a sua câmera “Tropica” era considerada a mais apropriada para os “países quentes” [ für die heissen Länder ]. 4 Outra firma de Dresden era a de Emil Wünsche, cujo aparelho Minimal Nr. 615 era, ao mesmo tempo, “leve” [ leicht ], “sólido” [ solid ] e com formato “elegante” [ elegant ]. Alguns modelos de aparelhos Ernemann eram indicados para “gente especializada e amadores experientes” [ Fachleuten und erfahrenen Amateuren ]. 5

Outras marcas alemãs concorriam com os aparelhos das firmas de Dresden, como a hamburguesa Leonar, que destacava em seu anúncio ter recebido medalha de ouro na exposição de Dresden em 1909, ou a berlinense Hemera. Por seu turno, anúncios da Kodak apresentavam o seu filme para 12 clichês, a nova tecnologia que dispensava a câmara escura, e ainda sugeriam que fotografar com Kodak era tão fácil que mesmo crianças podiam obter facilmente belos resultados e, inclusive, revelar as fotografias com luz natural. 6 Entre os anunciantes de artigos e materiais para fotografia, destacava-se a firma berlinense AGFA. Diferentes produtos para revelação dos filmes eram indicados como os melhores para exportação. Assim como os produtos da AGFA, outros materiais e aparelhos fotográficos visavam um público consumidor nos trópicos. A crescente demanda nas colônias era atendida por novos aparelhos e produtos da florescente indústria alemã.

Apesar da grande oferta alemã de aparelhos e produtos para fotografia, a marca Kodak predominava no mercado. A concorrência estimulava a inovação, e a Kodak oferecia um procedimento novo para revelação fotográfica de filmes em rolo. Em 1910, a invenção de um método de revelação com luz natural causava sensação. O cubo revelador para filmes em rolo era apresentado como a “maneira mais limpa de revelar”, tornando “supérflua a câmara escura”. A publicidade da Kodak foi constante na revista Kolonie und Heimat . Seus aparelhos portáteis eram apresentados por meio de frases de efeito como “Uma Kodak descreve de forma mais convincente do que palavras!” ou “Com Kodak é simples e fácil”. Na imprensa ilustrada alemã, havia anúncios da Kodak até mesmo em jornais satíricos e humorísticos. Para um grupo de privilegiados veranistas, a Kodak enfatizava a narrativa visual que as fotografias podiam oferecer: “As fotos devem contar toda a história de suas férias. […] Não perca as férias desta vez. Leve uma Kodak com você”. 7

Figura 2
. Anúncio da Kodak

Além de anúncios de aparelhos e produtos fotográficos, a revista Kolonie und Heimat tinha uma coluna para intercâmbio de cartas, selos e cartões postais entre os assinantes. Havia uma demanda por troca de cartões postais da Alemanha e das colônias. 8 Alguns anunciavam também a venda de fotografias (13 x 18) de paisagens por 1,50 marco a unidade, ou cartões postais por 0,50. 9 Outros reclames para contato eram publicados, como a nota sobre um registro cinematográfico de uma caçada de leões. No número 6 do quarto ano da revista, foi informado que o fotógrafo Schüssler havia filmado uma caçada e que ele estaria em Berlim. Como o seu endereço não tinha sido informado, pedia-se, através de uma nota na revista, para o fotógrafo entrar em contato, porque muitas personalidades estariam interessadas pelos seus filmes. 10

O colecionismo de selos ou cartões postais e o interesse pelas imagens de paisagens e gentes exóticas eram satisfeitos de várias formas. Além da oferta de produtos por fotógrafos profissionais e amadores, o mercado editorial publicava cada vez mais livros ilustrados sobre os espaços coloniais. A revista da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft organizou seis volumes ilustrados de Eine Reise durch die Deutschen Kolonien [ Uma viagem através das colônias alemãs ], sendo os quatro primeiros sobre as colônias na África e publicados entre 1910 e 1912. 11 Esses quatro volumes eram os seguintes: primeiro, sobre a África Oriental Alemã (atuais Tanzânia, Ruanda e Burundi), com 2 mapas e 169 ilustrações, sendo 23 de página inteira; segundo, sobre os Camarões, com 2 mapas e 209 ilustrações, sendo 14 de página inteira; terceiro, sobre o Togo, com 2 mapas e 155 ilustrações, sendo 6 de página inteira; e, quarto, sobre o Sudoeste da África Alemã (atual Namíbia), com 2 mapas e 212 ilustrações, sendo 13 de página inteira.

O livro ilustrado em seis volumes e os números da revista Kolonie und Heimat contêm muitas imagens que, no plano de uma narrativa visual do colonialismo, correspondem ao imaginário mítico sobre o qual Catherine Repussard ( 2014 ) destacou os seguintes componentes: a nostalgia das origens, o desafio civilizatório em termos de uma disputa entre o bem e o mal, e o devir de uma Grande Alemanha tão propalado pelo discurso pangermanista. Nesse sentido, as imagens de África que a Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft divulgou através das páginas do seu órgão independente de imprensa ou dos quatro primeiros volumes do seu livro ilustrado apresentam um continente em transformação pela ação colonial.

Essas imagens da África, porém, contêm ambiguidades. Os seus aspectos selvagens representavam obstáculos naturais, assim como as doenças tropicais e a adversidade do clima tropical para os europeus. A domesticação da natureza pela civilização fazia parte da ideia de progresso que também pautava o discurso colonial. Assente nos avanços técnicos e científicos da sociedade industrial, a expansão colonial foi considerada por alguns pangermanistas como um imperativo do crescimento populacional da Alemanha, na medida em que uma população “excedente” só poderia ser absorvida pela colonização de novos territórios (Smith, 1986 , p. 90).

Nas fotografias reproduzidas na revista Kolonie und Heimat , a África é dada a ver como um mundo em transformação. Sua natureza domesticada aparece em imagens de uma nova paisagem cultural [ kulturelle Landschaft ]. Essa fase pioneira da colonização é revelada por marcadores da germanidade que dissimulam as diferenças de classe social e apresentam as comunidades alemãs como partes de uma Grande Alemanha. A colônia é como um semióforo, cujas imagens ligam o visível ao invisível no imaginário mítico dos alemães. Atualiza-se a nostalgia das origens quando o público leitor da revista vê imagens de um núcleo colonial onde o elemento alemão representa um Siegfried das florestas. 12

Se a paisagem colonial predomina na iconografia da revista, a natureza selvagem é vista como um mundo em vias de desaparecer. Não raro, animais selvagens e mesmo alguns grupos humanos são apresentados através de fotografias publicadas na revista como elementos residuais de uma África de outros tempos. A discussão sobre o futuro de certos grupos humanos, como os então chamados hotentotes e bosquímanos, era tema da imprensa colonial alemã. 13 Também foi tema de debates na imprensa sul-africana. 14

Algumas colaboradoras da revista da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft publicaram artigos ilustrados com suas próprias fotografias. Outras produziram livros sobre a sua experiência colonial. Essas obras eram também ilustradas com fotografias feitas pelas autoras durante suas viagens ou estadas nas colônias alemãs na África e/ou em colônias estrangeiras vizinhas.

Em seu primeiro livro, Clara Brockmann ( 1912 ) deu uma série de conselhos às mulheres que viajavam para a então África do Sudoeste Alemã. Entre outros, a autora destacou a fotografia como lazer: “A câmera fotográfica, cada vez mais popular, também gera muita alegria e entretenimento” 15 (Brockmann, 1912 , p. 155).

Como forma de lazer nas colônias, a fotografia reifica a alteridade africana. No entanto, algumas africanas já “negociavam” a sua imagem, como registou o médico alemão Karl Wilhelm Schinke ( 2009 ) durante a sua passagem pela costa da Serra Leoa em 1905 (Correa, 2016 ). Fotografar “tipos africanos” parece ter sido uma forma de lazer como foi também fotografar a paisagem africana. Por detrás da câmera fotográfica, o olhar podia cumprir com uma multiplicidade de ações (capturar, transformar, disciplinar, revelar, fixar, etc.) sobre o objeto fotografado. 16

Panoptismo e colonialismo na revista Kolonie und Heimat

A Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft era dirigida por uma elite feminina. 17 Em 1909, a maioria das 25 mulheres representantes de cada seção era casada com oficiais militares, magistrados, médicos e membros da nobreza alemã. Se as suas representantes provinham da aristocracia ou da alta burguesia alemãs, a maioria das mulheres enviadas para as colônias, no entanto, tinha uma origem social variada, isso é, pequeno-burguesa, camponesa e mesmo proletária (Brepohl, 2016 ).

Na revista Kolonie und Heimat , era informado periodicamente o número de mulheres alemãs nos espaços coloniais, destacando a sua missão como portadora da civilização [ Kulturträgerin ]. A partir da ideologia da conservação da germanidade [ Deutschtum ], as mulheres se tornaram figuras centrais no discurso do imperialismo alemão, sobretudo pelo papel atribuído a elas no ambiente doméstico e familiar. Além de fotógrafas amadoras, muitas mulheres alemãs se deixaram fotografar no espaço público e no privado, e muitas dessas imagens não ficaram apenas no álbum de família. Várias delas circularam em correspondências e outras tantas foram publicadas na revista. Observa-se a predominância de uma representatividade feminina de acordo com uma expectativa de gênero que definia as atividades que uma mulher alemã deveria ocupar na organização e na manutenção do lar e da família (Krachenski, 2022 , p. 99).

Assim como os seus maridos, as mulheres fotografavam a África a partir do regime visual em voga. Além de uma “visualidade guilhermina”, que formatava um certo olhar europeu sobre o exótico, pode-se abordar as imagens da revista ilustrada sob a perspectiva do paradigma do panóptico. Assim como Terry Smith ( 1998 ) propôs uma interpretação inspirada na microfísica do poder de Michel Foucault para tratar dos regimes visuais de colonização, pode-se tomar as imagens de Kolonie und Heimat a partir do olhar de inspeção (disciplinar) do seu público leitor e sua relação com uma economia visual. Na leitura de Foucault ( 2009 ), o panóptico se configura como um dispositivo do poder disciplinar que atua sobre o indivíduo e o coage pelo jogo da vigilância constante, fundamentada, em grande medida, pelo olhar disciplinador. A visualidade entendida através da leitura foucaultiana nos permite, portanto, compreender que ela se configura como uma “racionalidade, uma estratégia e uma prática normativa que organiza toda a economia do que há para ser visto, de como vê-lo e de quem pode ver” (Beccari, 2020 , p. 287) – vale dizer, o panóptico como paradigma constitui também uma ordenação visual do poder.

Em 1911, duas matérias sob o título Praktische Winke für Tropenfotografie [ Conselhos práticos para fotografia tropical ] foram publicadas nas edições de número 25 e 30 da revista ilustrada da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft. Em ambas as matérias de duas páginas, o autor, Dr. R. Lohmeyer, deu conselhos sobre aparelhos e materiais fotográficos mais aptos para zonas tropicais, inclusive para quem tivesse interesse em montar uma câmara escura. Ainda deu dicas para superar as dificuldades para fotografar, conservar o material fotográfico, revelar as placas, etc. As matérias foram ilustradas com 13 fotografias de amadores e alguns desenhos de Fritz Nansen. 18

Ao publicar conselhos práticos de fotografia e incitar o seu público leitor a fotografar, a revista Kolonie und Heimat procurava dar a ver o empreendimento colonial no ultramar. Os pedidos da revista para enviar fotografias da “germanidade no estrangeiro” traduzem o seu intento de divulgar uma narrativa visual da colonização alemã por meio de imagens feitas pelos próprios protagonistas. A seleção das fotografias para a reprodução das imagens nas páginas da revista indica, porém, um controle prévio. Embora os critérios de escolha sejam desconhecidos, as fotografias publicadas por fotógrafos profissionais ou amadores propiciam aos leitores um olhar inquisitivo sobre a colonização alemã. Dito de outra maneira, o público leitor atua como inspetor, tornando-se um grupo de vigilância do colonialismo. A revista ilustrada, dessa forma, é um meio panóptico, através do qual os indivíduos nos espaços coloniais mostram o seu mundo, submetendo-o ao público leitor inspetor. Cabe lembrar que o princípio da inspeção é o fundamento do panóptico e, por conseguinte, da sociedade disciplinar e da sua economia visual.

A vigilância identificada na economia visual requeria um controle em termos de biopolítica. Contudo, vozes dissonantes ecoavam no Reichstag alemão em relação ao império colonial desde 1885. Na revista ilustrada da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft, as imagens sobre a nova vida dos colonos alemães nos territórios do ultramar não somente assumem uma função de propaganda, mas produzem uma “segunda realidade” que revela um suposto controle sobre gentes e paisagens exóticas. Nesse sentido, a função panóptica da economia visual do colonialismo alemão está inserida em um contexto transnacional das sociedades disciplinares na Europa da virada do século XIX ao XX.

O esforço da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft em mostrar a colonização alemã por meio de imagens não significa que o panoptismo de sua revista ilustrada correspondia à visualidade da sociedade colonial como uma sociedade disciplinar. Cabe aqui não confundir o desejo com a realidade. Dito de outra maneira, a realidade colonial era muito diferente da Germânia tropical idealizada nas palavras e nas imagens de Kolonie und Heimat .

Alemanha nos trópicos

Em termos de interpretação iconológica das fotografias publicadas na revista Kolonie und Heimat , as imagens fotográficas eram fontes de recordação ou lembrança do seu público leitor, pois os assinantes da revista tinham familiares em terras ultramarinas ou tiveram as suas próprias experiências africanas. Além de um insubstituível meio de informação, esses “fragmentos interrompidos da vida” eram símbolos de afeto (Kossoy, 2020 , p. 115). Havia ainda um sentido político dessas imagens coloniais à época do pangermanismo.

Figura 3
. Uma festa em “bosque saxão”

A revista ilustrada publicou milhares de fotografias das colônias alemãs na África, do enclave alemão de Tsingtao na China e de outras possessões nas ilhas dos mares do sul, como também de comunidades alemãs desde o México até o Chile. 19 De forma geral, as imagens mostravam o exótico, que deixaria de ser estranho pela ação colonial nos trópicos. Essa ação, por sua vez, era dada a ver pelas imagens foto­gráficas, que supostamente eram um meio fidedigno de conhecer o mundo. 20 Tornava-se o ultramar familiar aos olhos dos leitores de Kolonie und Heimat , que identificavam, em paisagens selvagens ou agrestes, a família, a escola, a igreja e as associações alemãs. A toponímia também germanizava os espaços coloniais, como o “bosque saxão” em Dar-es-Salam, nominado pela legenda que acompanha a fotografia de um grupo de homens e mulheres alemães na África Oriental Alemã ( Figura 3 ).

A imagem da família patriarcal alemã, por sua vez, foi valorizada na revista da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft, na medida em que a germanidade dependia da possibilidade endógena de sua reprodução nos trópicos. Várias foram as fotografias de celebração da germanidade em família, como num passeio de uma associação masculina de canto em Windhuk (atual capital da Namíbia), como retratado nas figuras abaixo.

Figura 4
. Celebração da germanidade

Figura 5
. Germanidade e família

A mesma fotografia da associação masculina de canto em Windhuk foi reproduzida no periódico ilustrado 10 meses depois. Na edição natalina de 25 de dezembro de 1910, nota-se que o enquadramento permite ver um homem deitado em posição decúbito ventral. A fotografia publicada em fevereiro de 1910 foi retocada na parte inferior à esquerda. Apesar das diferentes legendas, ambas publicações destacam a saída em grupo: “saída familiar” [ Familienausflug ] na edição de fevereiro e “saída da associação” [ Vereinsausflug ] na de dezembro. A fotografia mostra homens em trajes civis e militares, sendo que muitos deles aparecem acompanhados de suas esposas e crianças. A paisagem humana dessa “nova Alemanha” nos trópicos tem uma mensagem visual forte para as pessoas leitoras de Kolonie und Heimat . A revista ilustrada criava, dessa forma, uma narrativa visual na qual as fotografias mostravam de forma “objetiva” que a família alemã se multiplicava nas colônias e que as gerações futuras teriam aquelas terras como a sua própria Heimat [pátria]. As fotografias de crianças alemãs ilustram essa nova geração que levaria adiante a germanidade nos trópicos. 21 Como afirmado anteriormente, para a Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft, a presença feminina era fundamental para manter o germanismo nos trópicos. Pode-se ler nas páginas de Kolonie und Heimat que “somente através de condições domésticas ordenadas e de uma vida familiar genuinamente alemã dos nossos colonos, as colônias se tornarão também internamente alemãs”. 22 Para preparar as mulheres para cumprir com sua missão “civilizatória”, teve destaque a Kolonialfrauenschule [Escola Colonial de Mulheres] em Witzenhausen. Fundada em 1908, a escola funcionava como um internato para moças que recebiam uma formação prática para as atividades domésticas, sobretudo em meio rural.

Figura 6
. No estábulo para ordenha

As representações visuais das mulheres alemãs com suas roupas de trabalho a ordenhar vacas em Witzenhausen ( Figura 6 ) e daquelas vestidas com trajes de domingo numa saída campestre com as suas famílias nas cercanias de Windhuk ( Figura 4 e Figura 5 ) são complementares na ideologia colonial. Elas indicam que o deslocamento espacial da metrópole para as colônias pode redundar numa mobilidade social. Por outro lado, nota-se a importância do trabalho doméstico feminino para o êxito do projeto colonial ultramarino do império alemão. A ensaísta italiana Silvia Federici ( 2017 ) tratou da clausura doméstica das mulheres como uma forma de acumulação primitiva do capital, uma vez que suas atividades laborais não eram assalariadas. Muitas jovens alemãs receberam uma formação na Kolonialfrauenschule de Witzenhausen para ir trabalhar nas colônias. Nem todas, porém, recebiam salários pelos seus trabalhos. Somente aquelas que guardavam o celibato podiam obter algum emprego como governanta ou abrir seu próprio negócio. Geralmente, elas se casavam nas colônias e passavam a exercer atividades domésticas sem remuneração de seus maridos alemães. Algumas já emigravam com promessas de casamento obtidas através de correspondência após respostas de anúncios publicados na rubrica Correspondência e intercâmbio da revista Kolonie und Heimat . Para a passagem marítima e para o enxoval, a noiva contava com os auxílios da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft. O mercado matrimonial nas colônias alemãs dependeu, em certa medida, das revistas ilustradas e dos jornais da imprensa colonial, bem como das fotografias de pretendentes que seguiam juntamente com as cartas, demonstrando a diversidade da economia visual à época dos impérios.

A família africana sob a vigilância colonial

Na África austral, a poligamia dos africanos aparecia aos olhos de missionários e funcionários da administração colonial como um obstáculo para a economia colonial, pois ela dificultava o recrutamento do trabalho masculino africano, porquanto as mulheres africanas e sua prole trabalhavam para os seus maridos. Estes últimos estariam, assim, com a sua subsistência protegida pelo patriarcado africano e pelo seu corolário, a poligamia. Nas colônias alemãs na África, mesmo as formas de trabalho compulsório e análogas à escravidão não lograram a desestruturação do patriarcado africano. Cabe lembrar que a intervenção colonial alemã durou aproximadamente três décadas, ou seja, da Conferência de Berlim até a Primeira Guerra Mundial. Dessa maneira, o propalado processo de “aculturação” não poderia surtir efeitos em termos intergeracionais, muito embora a revista ilustrada da Frauenbund der Deutschen Kolonial­gesellschaft tenha mostrado em suas páginas imagens da “nova” família africana também sob a perspectiva da vigilância colonial.

Uma fotografia publicada na revista ilustrada em 1914 representa um jovem casal com a filha ( Figura 7 ). Sob o título Aus der schwarzen Frauenwelt Kameruns [ Do mundo das mulheres negras de Camarões ], a matéria foi inteiramente baseada nas informações do livro Auf der Savanne [ Na Savana ], de Marie Pauline Thorbecke ( 1914 ) . Em duas páginas, o texto anônimo foi ilustrado com oito fotografias feitas pela autora quando ela participou de uma expedição científica na África. A fotografia de um jovem casal com a filha, cuja legenda foi “Tikar-Familie” [“Família Tikar”], intriga porque ela circulou em outros suportes materiais. Além de ilustração do livro Auf der Savanne e da matéria especial na Kolonie und Heimat , essa fotografia foi também reproduzida no artigo intitulado Bubandjidda , de autoria do professor Siegfried Passarge, na coletânea Die Deutschen Kolonien in Wort und Bild [ As colônias alemãs em palavra e imagem ], organizada por Hans Zache em 1926.

No artigo de Passarge ( 2006 , p. 283), a ilustração tem uma outra legenda: “Junger Tikar-Edelmann mit Frau und Tochter” [“Jovem nobre Tikar com mulher e filha”]. O autor do artigo informou que se tratava de um jovem nobre. Sua condição social não foi uma suposição. Provavelmente, essa informação foi obtida junto à fotógrafa e também colaboradora da mesma coletânea, com um artigo intitulado Die Schwarze Frau in Kamerun [ A mulher negra nos Camarões ] (Thorbecke, 2006 ) . A mesma fotografia serviu ainda de modelo para um desenho da autora que ilustra uma das páginas de seu livro Auf der Savanne . Comparando a fotografia com o desenho, nota-se que Marie Pauline Thorbecke fez algumas alterações.

Figura 7
. “Jovem nobre Tikar com mulher e filha” (esquerda) e “Mulher Tikar com criança”(direita)

O cesto que a mulher carrega às costas não aparece no desenho, assim como o seu penteado também foi alterado. Essas modificações ocorriam quando desenhistas ou gravuristas ilustravam livros ou periódicos com base em fotografias. Para ficar em um exemplo, uma fotografia de cariz etnográfico, publicada num dos quatro volumes de África Occidental: Álbum Photografico e Descriptivo , editados entre 1885 e 1888, de J. A. Cunha de Moraes, representa-se uma “preta pilando milho”. Essa fotografia foi a fonte inspiradora para um dos artistas gravadores da revista O Occidente , Diogo Netto, ilustrar uma matéria sobre a expedição portuguesa ao Muatiânvua. Na estampa, tem-se a legenda “mulher lunda, pilando”. De acordo com Leonor Martins ( 2012 , p. 56), entre a fotografia de J. A. Cunha de Moraes e a estampa de Diogo Netto há diferenças significativas. Nota-se que o uso de fotografias pela imprensa ilustrada periódica dependia das inovações técnicas que, do simples desenho às fotogravuras, davam ao ilustrador mais ou menos possibilidades de alterar a “realidade” africana.

Assim como os desenhos e as estampas, a fotografia se inscreve num circuito social de imagens. Isso significa dizer que o produtor de clichês faz parte de um circuito por onde transitam valores e formas de percepções. Marie Pauline Thorbecke ( 1914 ) afirmou que a mulher trabalhava como um animal de carga nas sociedades africanas. Sentença semelhante foi elaborada por Theodore Roosevelt ( 1910 , p. 281) durante o seu safári em África: “nós vimos as mulheres Kikuyu no trabalho com suas enxadas; entre os Kikuyuys, assim como entre outros selvagens, a mulher é a serva e a besta de carga”. 23

Se Roosevelt fez somente uma constatação, Marie Pauline Thorbecke ( 1914 , p. 103; p. 107; 2006 , p. 301) procurou uma correspondência entre a condição feminina e o estágio cultural do seu grupo étnico. Se ela buscava relativizar certos juízos em torno dos chamados selvagens, tentou, igualmente, construir uma grelha de interpretação para as diferenças étnicas entre os grupos Wutu, Kitar, Haussá e outros. Para Thorbecke, a condição feminina poderia ser um barômetro para medir e, por conseguinte, classificar o grau civilizatório dos grupos étnicos na África sob domínio colonial alemão. Se, por um lado, condenou o mercado matrimonial no qual as mulheres tinham um valor de troca, ela viu com bons olhos a proteção social às viúvas e a eventuais mulheres que – na ausência de um marido – ficavam sob a guarda de um outro parente homem, como o irmão do marido ou mesmo um filho mais velho. Via também com humor o juízo de valor dos africanos para quem a opção de homens brancos em não casar – tendo condições para tal – era uma grande estultícia. Diferente parecia o seu entendimento da recalcitrância dos africanos em relação à eventual vida solteira de uma mulher. Segundo ela, a condição solteira de uma mulher era inconcebível para os africanos.

A mirada de Marie Pauline Thorbecke ( 1914 , 2006 ) sobre a alteridade feminina era reificadora. Desse modo, a mulher Tikar foi para ela quase um tipo ideal, pois, segundo a viajante, não era um animal de carga como eram as mulheres em outros lugares. Atento para a condição das mulheres africanas, o olhar da autora se inscreve em certo feminismo sem, contudo, ultrapassar algumas barreiras ideológicas do colonialismo. Curioso, no entanto, o fato de ela retirar de sua narrativa visual as mulheres brancas (mesmo que tenha feito um comentário sobre elas e tenha publicado o livro para fomentar a migração para a colônia). Imagens de mulheres negras “assimiladas” também não apareceram no corpus iconográfico do seu livro, embora a imprensa ilustrada, ao menos na Alemanha, tenha veiculado essas imagens desde a primeira década do século XX.

Tratava-se de uma novidade em termos de imagem de mulheres africanas na imprensa periódica ilustrada: a representação de jovens ou mulheres “semicivilizadas”, cujos gestos, roupas, postura corporal ou expressão fisionômica eram percebidos pelos leitores como sinais de um processo de aculturação ou assimilação. Geralmente, eram jovens ou mulheres que tinham uma convivência com missionários e/ou famílias de colonos e que se deixavam fotografar no próprio ambiente doméstico.

A partir da análise de fotografias publicadas na revista Kolonie und Heimat , pode-se inferir também que a narrativa visual fez do trabalho masculino o mecanismo de passagem do suposto estado de natureza para o estado de civilização. A família patriarcal e colonial tinha empregados domésticos, homens e mulheres, para diversas tarefas. Algumas fotografias do cotidiano familiar revelam um habitus colonial marcado pela pretensão de uma vida aristocrática nas selvas africanas. Por outro lado, as fotografias de africanos “assimilados” não apenas indicavam o suposto sucesso da colonização, como também antecipavam um futuro seguro à medida que o desejo se realizava.

Figura 9
. Casal de “assimilados”

A Figura 9 é uma evidência fotográfica cuja fidedignidade precisa ser questionada, em especial no que tange ao eventual “comissionamento”. Em primeiro lugar, deve-se atentar para o testemunho visual de aparências em relação à prova da fotografia. Como a fidedignidade do conteúdo de uma fotografia, pelo menos como reprodução icônica da realidade visível, pode ser comprovada através da comparação com outras fotografias do mesmo período, cabe indagar sobre os propósitos de determinados clichês (Kossoy, 2014, p. 119). Em segundo, com o desenvolvimento técnico das máquinas portáteis no decorrer da primeira década do século XX, houve maior possibilidade de fazer clichês mais espontâneos. Por fim, uma fotografia pode ter diferentes usos, e cada nova legenda pode mesmo lhe atribuir novos significados. Sabe-se que algumas fotografias foram publicadas mais de uma vez na revista Kolonie und Heimat e com diferentes legendas, conforme apontamos a partir do exemplo das Figura 4 e Figura 5 . Por isso, a data da publicação da imagem, geralmente, não corresponde ao ano da fotografia. Na fotografia do casal acima, provavelmente, houve uma “negociação” entre o fotógrafo e os sujeitos fotografados. Dificilmente o comissionamento teria vindo do casal; as pessoas retratadas não seriam clientes do fotógrafo. Com base em outras fotografias da mesma época, sabe-se que era comum os alemães fotografarem essas pessoas com suas famílias e diante de suas moradias. Vestir-se para posar para uma fotografia pode ter sido uma iniciativa pessoal. No entanto, um clichê foi feito durante a preparação para posar para uma fotografia possivelmente negociada. Talvez, essa fotografia não fosse o resultado final comissionado ou negociado. De todo modo, ela foi, posteriormente, publicada com um comentário humorístico em torno da legenda em alemão “Männe, hak’ mir mal die Taille zu!” [“homem, aperte-me a cintura!”]. 24

A imagem do casal recebeu um significado através da legenda. Trata-se, mais uma vez, de uma “ficção documental” (Kossoy, 2020 , p. 136). Diante do pontok , 25 um homem já vestido e a fumar o seu cachimbo ajuda a esposa a abotoar o vestido. Ambos parecem estar quase prontos para ir à igreja. Na página seguinte da revista, uma nota dá mais informações sobre a fotografia. O “cavalheiro com vestimenta europeizada e com cachimbo na boca é Papa Joseph, o único fiel capitão herero que restou”. 26 Ele ajuda a fechar os botões do vestido da “Madame”. Como é domingo e Papa Joseph e sua esposa são bons cristãos, ambos se apressam para não perder à missa, informa a nota.

Revela-se o desejo colonial nessa imagem de um casal de “assimilados”, para quem a poligamia e o patriarcado africano parecem ser coisas do passado. A imagem sugere uma idealização do “bom africano” e da “boa africana”. A ficção documental não está na aparência de ambos, mas na legenda, “Um idílio do sudoeste”, 27 que expressa a ideologia que determina o conteúdo da representação e a recepção da imagem pelos leitores.

Uma outra fotografia foi publicada na revista sob a legenda “Idyll aus Südwest”. Desta vez, o nome da fotógrafa foi informado. Trata-se de Maria Karow, que viveu entre 1905 e 1909 na colônia da África do sudoeste alemã, atuou junto à Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft e foi colaboradora ativa da revista Kolonie und Heimat. 28 Maria Karow ( 1909 ) tratou ainda da condição feminina na colônia alemã em sua autobiografia. Em outras imagens fotográficas publicadas na revista, nota-se uma composição exagerada, demasiadamente artificial, na qual a fidedignidade do seu conteúdo foi penhorada pelo próprio fotógrafo, uma vez que a operação fotográfica foi manipulada para a obtenção da imagem final. 29

Nesse circuito social das imagens de uma África alemã “colonizada”, o sujeito colonizado aparece ora como “assimilado”, figura coadjuvante do projeto colonial em andamento, ora como “selvagem”, elemento exótico, figura residual de um mundo fadado a desaparecer diante do avanço da colonização. Da mesma forma, a imagem da família colonial associava-se em grande medida à imagem da mulher colonizada. Observamos como as categorias de raça e gênero se entrecruzam na produção dessa economia visual: o olhar de Marie Pauline Thorbecke ( 1914 , 2006 ) sobre as mulheres africanas expressa a posição ambígua das mulheres brancas à época dos impérios, de uma só vez privilegiadas e restringidas (McClintock, 2010 ), mas, de qualquer forma, observadoras atentas das suas realidades. A revista da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft, na sua intensa produção visual, organizava o visível a partir da racialização e da sexualização dos agentes coloniais e dos sujeitos colonizados.

Considerações finais

A revista ilustrada da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft era um periódico panóptico na medida em que a visualidade da domesticação da natureza africana (paisagem colonial), de suas gentes em situação colonial (corpos colonizados) e da edificação da germanidade sob os auspícios femininos (mulher alemã como Kulturträgerin ) dava a ver ao seu público leitor o que se passava nos territórios ultramarinos sob domínio colonial. A relação entre saber e poder revelada pelas imagens não apenas informava, mas também pautava a narrativa visual da revista, na medida em que a economia visual encerrada em suas páginas propunha uma verdadeira organização do olhar. A revista Kolonie und Heimat dava a ver uma realidade colonial para o seu público leitor, cuja fidedignidade foi comprometida pela ideologia da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft.

O prazer da leitura sobre terras e gentes exóticas tinha interface com o prazer da descoberta do mundo à época dos impérios coloniais. As imagens são, ao mesmo tempo, fonte de informação e emoção (Kossoy, 2020 , p. 172). Nas páginas de Kolonie und Heimat , fotografias da colonização alemã em África apresentavam uma “segunda realidade” por meio da “civilização da imagem” (Kossoy, 2020 , p. 150). As imagens coloniais eram vistas a partir de um código do imaginário alemão e podiam suscitar a nostalgia das origens. Afinal, o imperialismo alemão seria um modelo político em prol da germanidade que, por sua vez, parecia depender da cultura tradicional dos colonos alemães. Ao mesmo tempo, as imagens da revista tinham um forte apelo ideológico, na medida em que permitiam amalgamar a representação do mundo colonizado com aquela do mundo africano (Repussard, 2014 , p. 76).

Sobre a representação iconográfica do mundo africano como algo residual e que por uma espécie de força centrípeta do colonialismo seria inevitavelmente puxado para o centro, cabe ressaltar que essa construção imaginária, expressa na narrativa visual dessa “segunda realidade” produzida pela revista ilustrada Kolonie und Heimat , acaba por revelar mais sobre quem fotografava do que sobre quem era fotografado.

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  • ZELLER, Joachim. Bilderschule der Herrenmenschen: Koloniale Reklamesammelbilder. Berlim: Ch. Links, 2008.
  • 1
    VOM DEUTSCHTUM im Ausland. Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 14, 27 mar. 1910, p. 6.
  • 2
    De acordo com Martin Jay ( 1996 ), a noção de “regime de visualidade” (trad. livre dos autores: “visual regime”) se refere ao conjunto dos modos de ver e ser visto entrelaçado às práticas discursivas e aos diferentes dispositivos de poder. Nesse sentido, o problema da visualidade não está associado apenas aos aparelhos da visão e aos artefatos visuais, mas à elaboração de um padrão estético que está sempre vinculado à esfera do poder – seja em sua dimensão econômica, política, cultural ou simbólica (Foster, 1988 ).
  • 3
    O novo título era Ausland und Heimat: Unabhängige Zeitschrift für Auslandskunde, Auswanderung, Auslandsdeutschtum und Kolonialpolitik [ Ultramar e pátria: Revista independente de estudos estrangeiros, emigração, germanidade no ultramar e política colonial ] (Repussard, 2014 , p. 72).
  • 4
    Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 21, 3 jul. 1910, p. 10.
  • 5
    Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 2, 10 out. 1909, p. 14; Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 8, 2 jan. 1910, p. 10; Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, n. 30, 16 abr. 1911, p. 12; Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, n. 36, 28 mai. 1911, p. 14.
  • 6
    Nos anúncios de Leonar e Hemera, constam as localidades de Wandsbek e Steglitz, respectivamente no perímetro urbano de Hamburgo e Berlim.
  • 7
    Die Muskete , Viena, 6 ago. 1914. Trad. livre dos autores: “Bilder sollen Ihre ganze Urlaubsgeschichte erzählen. […] Vergeuden Sie diesmal Ihre Ferien nicht. Nehmen Sie einen Kodak mit”. Para outras publicidades da Kodak e demais aparelhos fotográficos, cf. Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 17, 8 maio 1910, p. 11; Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 19, 5 jun. 1910, p. 13; Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, n. 33, 7 maio 1911, p. 10.
  • 8
    Ver, por exemplo: Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 1, 1 out. 1909, p. 4; Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 15, 10 abr. 1910, p. 20.
  • 9
    PHOTO-SAMMLER! Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, n. 24, 5 mar. 1911, p. 13.
  • 10
    KINEMATOGRAPHISCHE Aufnahme einer Löwenjagd. Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, n. 15, 1 jan. 1911, p. 15.
  • 11
    O quinto volume foi sobre as colônias dos mares do sul; e o sexto, sobre Tsingtao, um enclave alemão na China.
  • 12
    Siegfried é um herói lendário da mitologia nórdica que Richard Wagner (1813-1883) recriou em sua ópera homônima e que integra a tetralogia de óperas épicas do compositor alemão.
  • 13
    Ver, por exemplo: Bildung von Eingeborenen-Reservaten. Deutsch-Südwestafrikanische Zeitung , Swakopmund, 18 out. 1903, p. 1; Eingeborenen-Unhruhen in Süden. Swakopmunder Zeitung , Swakopmund, 20 mar. 1922, p. 1.
  • 14
    Em 1936, por exemplo, construiu-se um “zoológico humano” não somente para expor os bosquímanos aos olhares curiosos do público, mas também para “preservá-los”, já que se entendia que tal grupo era uma espécie em extinção e que remetia aos primórdios da humanidade (Shepherd, 2015 , p. 82).
  • 15
    Trad. livre dos autores: “Auch die sich immer mehr einbürgernde photographische Camera schafft viel Freude und Unterhaltung”.
  • 16
    Para uma análise do “olhar colonial”, ver Krachenski ( 2022 ).
  • 17
    Uma fotografia da “hora do chá” no Hotel Adlon de Berlim com mulheres da Frauenbund der Deutschen Kolonialgesellschaft foi publicada na revista ilustrada da entidade ( Kolonie und Heimat , Berlim, ano. 4, n. 5, 23 out. 1910, p. 8).
  • 18
    LOHMEYER, R.. Praktische Winke für Tropenfotografie. Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, n. 25, 12 mar. 1911, p. 2-3; ano 4, n. 30, 16 abr. 1911, p. 2-3.
  • 19
    Ver, por exemplo, os números especiais de Kolonie und Heimat de 1919 (ano 12): n. 41 (Argentina), n. 43 (Brasil), n. 45 (México), n. 47 (Chile), n. 49 (Peru) e n. 51 (Colômbia).
  • 20
    Durante o século XIX e o início do XX, a fotografia era entendida como a imitação mais perfeita da realidade, ou seja, conferia-se às imagens fotográficas uma capacidade mimética do real justamente pela natureza técnica e extremamente mecânica do processo, entendido como livre de distorções subjetivas de quem o produz. Dessa forma, a fotografia ganhou o estatuto de um artefato objetivo, sem interferências humanas e como possibilidade de documentação do real (Dubois, 2015 ).
  • 21
    Ver, por exemplo, a fotografia de dezenas de crianças alemãs com o governador von Rechenberg em Dar-es-Salam (Tanzânia) na edição n. 27 ( Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, 26 mar. 1911, p. 9), do jardim de infância de Keetmanshoop (Namíbia) na edição n. 46 ( Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, 6 ago. 1911, p. 8) ou das crianças no estabelecimento infantil da Baía de Lüderitz em fevereiro de 1912 na edição n. 33 ( Kolonie und Heimat , Berlim, ano 5, 5 maio 1912, p. 8).
  • 22
    DIE KOLONIALFRAUENSCHULE in Witzenhausen. Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, n. 25, 28 ago. 1910, p. 6. Trad. livre dos autores: “Nur durch geordnete häusliche Verhältnisse und echt deutsches Familienleben unserer Ansiedler werden die Kolonien auch innerlich deutsch werden”.
  • 23
    Trad. livre dos autores: “we saw the Kikuyu women at work with their native hoes; for among the Kikuyuys, as among other savages, the woman is the drudge and beast of burden”.
  • 24
    Kolonie und Heimat , Berlim, ano 5, n. 45, 28 jul. 1912, p. 14. A grafia em alemão dessa frase no imperativo indica um falar incorreto que, por outro lado, expressa o preconceito racial sobre o modo de falar dos “assimilados”.
  • 25
    Pontok era a denominação para a forma de moradia dos então chamados hotentotes na literatura colonial.
  • 26
    Kolonie und Heimat , Berlim, ano 5, n. 45, 28 jul. 1912, p. 14. Trad. livre dos autores: “Der ganz europäisch gekleidete Gentleman mit dem Pfeifchen im Munde ist Papa Joseph, der einzige true gebliebene Herero-Kapitän”.
  • 27
    Kolonie und Heimat , Berlim, ano 5, n. 45, 28 jul. 1912, p. 13. Trad. livre dos autores: “Ein Idyll aus Südwest”. O suposto idílio refere-se à nova vida sob domínio colonial alemão.
  • 28
    Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, n. 37, 4 jun. 1911, p. 8.
  • 29
    Ver, por exemplo, as capas dos números 10 ( Kolonie und Heimat , Berlim, ano 3, 2 jan. 1910) e 13 ( Kolonie und Heimat , Berlim, ano 4, 18 dez. 1910). Sobre a interpretação e a manipulação de fotografia e suas informações fragmentárias, ver Kossoy ( 2020 , p. 120-130).

Editado por

  • Editor responsável:
    Alexandre Almeida Marcussi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    28 Fev 2023
  • Aceito
    02 Jun 2023
  • Revisado
    09 Jun 2023
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Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antônio Carlos, 6627 , Pampulha, Cidade Universitária, Caixa Postal 253 - CEP 31270-901, Tel./Fax: (55 31) 3409-5045, Belo Horizonte - MG, Brasil - Belo Horizonte - MG - Brazil
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