Resumo:
A Diocese de Astorga, localizada no noroeste da Península Ibérica, foi estabelecida ainda no século III. A despeito da chegada dos suevos, da conquista visigoda, e, posteriormente, da presença muçulmana, este episcopado sobreviveu. Restaurada em meados do século IX, manteve, desde então, uma sucessão regular de bispos. Este artigo se detém no estudo de um desses prelados, Ordonho, que governou essa diocese no século XI. Ele é lembrado em sua Sé como santo no dia 23 de fevereiro. O objetivo central deste artigo é discutir o reconhecimento social deste prelado asturicense como digno de veneração. Parto da hipótese de que no medievo foi constituída uma memória de santidade no âmbito literário para Ordonho, a partir de um evento que contribuiu para a legitimação da monarquia castelhano-leonesa, e que circulou por séculos. Somente a partir do século XVIII, devido a um novo evento, o seu culto público começou a ser promovido pelo episcopado de Astorga.
Palavras-chave: Santidade; Memória; Poder
Abstract:
The Diocese of Astorga, located in the northwest of the Iberian Peninsula, was established in the 3rd century. Despite the arrival of the Suevians, the conquest by the Visigoths and, later on, the muslim presence, this episcopate survived. Restored in the mid-9th century, it maintained a regular succession of bishops. The present article focuses on the study of one of those bishops, Ordoño, who was in charge of this diocese in the 11th century. He is remembered in his See as a saint on February 23rd. The central objective of thise present article is to discuss the social recognition of this Astorgan prelate as worthy of veneration. I start from the hypothesis that in the Middle Ages a memory of sanctity was constituted in the literary sphere for Ordoño, from an event that contributed to the legitimation of the Castilian-Leonese monarchy, and which circulated for centuries. It is only in the 18th century, due to a new event, that his public cult begun to be promoted by the episcopate of Astorga.
Keywords: Holiness; Memory; Power
INTRODUÇÃO
Segundo a tradição, as origens da diocese de Astorga, localizada no noroeste da Península Ibérica,1 estariam vinculadas à própria pregação de São Tiago na região (Domínguez, 2018, p. 7). Contudo, o documento mais antigo preservado sobre este bispado data do século III: uma carta de Cipriano de Cartago enviada à comunidade em 254.2
A despeito dos problemas que marcaram o fim do Império Romano do Ocidente como entidade política centralizadora, a diocese manteve-se sob domínio suevo e, posteriormente, visigodo, como atestam as atas de diversos concílios.3 Após a chegada dos muçulmanos, ocorreu um período de desagregação do episcopado.4 Entretanto, já em meados do século IX, após a cidade de Astorga ser conquistada e repovoada, a Sé foi restaurada, exibindo, a partir de 841, segundo The Catholic Encyclopedia (“Enciclopédia católica”, publicada originalmente em 1907),5 uma sucessão regular de bispos.6 Um desses prelados, Ordonho,7 é o foco de minhas reflexões neste artigo.
No verbete “Ordoño”,8 de autoria de Prieto, publicado na obra de referência Diccionário de Historia Eclesiástica de España (1973, v. 3, p. 1.831), é informado que o referido bispo, apesar de não figurar no Martirológio Romano, é celebrado como santo em 23 de fevereiro.9 O objetivo central deste artigo é justamente discutir o reconhecimento social da santidade deste prelado asturicense.
Fundamentando minhas reflexões, parto de alguns pressupostos: o reconhecimento social da santidade é um fenômeno histórico, que não depende unicamente da trajetória daquele que foi considerado digno de veneração; a eleição de um dado personagem, visando à promoção de sua memória de santidade e suscitando a sua veneração pelos fiéis, vincula-se às relações de poder.10
Parto de uma hipótese inicial para a compreensão da atribuição de santidade a Ordonho de Astorga: sua memória como santo foi constituída no âmbito literário a partir de um evento que contribuiu para a legitimação da monarquia castelhano-leonesa, e, desta forma, circulou por séculos. Somente a partir do século XVIII, devido a um novo evento, o seu culto público começou a ser promovido pelo episcopado de Astorga.
As ideias aqui expostas estão relacionadas a pesquisas desenvolvidas com financiamento do CNPq e da Faperj, e têm como objetivo contribuir para a compreensão do fenômeno do reconhecimento social da santidade em perspectiva historiográfica.
QUEM FOI ORDONHO?
Em minha pesquisa bibliográfica, encontrei poucos trabalhos que se ocuparam da trajetória de Ordonho. Esta escassez pode ser compreendida por dois elementos principais. Primeiro, porque a maioria dos documentos do arquivo episcopal de Astorga foi destruída por exércitos ingleses que ocuparam a cidade em 1814. Desta forma, os materiais disponíveis provêm de transcrições dispersas feitas anteriormente, como as de Flórez,11 ou de cópias tardias.12 Em segundo, porque a identificação de Ordonho nos textos medievais é uma tarefa complexa, pois este nome era muito comum no período.
Localizei referências a Ordonho em obras de cunho memorialista, como em Fundaciones de los monastérios del glorioso Padre San Benito, de Sandoval, de 1601, a coleção “España Sagrada”, de Flórez, de 1762, Nuevo lucífero para la diócesis de Astorga, de Vázquez, de 1902, e Episcopologio asturicense, de Lopez, de 1906. Estes textos, além de transcrever documentos, elaboram narrativas sobre a trajetória de Ordonho, propondo algumas discussões.
No século passado, Prieto, que foi fundador e diretor do Centro de Estudios Astorganos Marcelo Macías, ao estudar sobre a diocese asturicense, deteve-se na trajetória de Ordonho. Ele é o autor do verbete já citado, e dedica páginas ao prelado em seu livro El obispado de Astorga en el siglo XI, publicado em 1977. Domínguez afirma que este é “el estudio más completo sobre el obispo Ordoño” (2015, p. 139, nota 21). Assim, é a obra mais referenciada por todos os que abordam aspectos da trajetória do prelado astorgano.13
A partir das reflexões dos autores e de alguns dos documentos disponíveis, elaborei uma breve biografia de Ordonho, que passo a apresentar.
Não há consenso sobre a data e local de seu nascimento. Escalona indica que “por conjeturas le hacen algunos natural del Vierzo, o tierra de Astorgas” (1782, p. 66). Também nada é conhecido sobre a sua família. Contudo, como chegou a bispo, certamente provinha de uma família nobre.
Os autores vinculados à Ordem Beneditina, a partir de Sandoval (1601, p. 86), defendem que Ordonho foi monge em Sahagún14 e, posteriormente, passou a residir em Santa Marta de Tera.15 Prieto (1973, V. 3, p. 1831)discorda e aponta que o bispo foi notário real na corte do Reino de Leão, então governado pela rainha Sancha e o seu esposo, o rei Fernando I de Castela.16 De fato, em dois diplomas publicados por Flórez (1762, p. 460 e 464), datados de 1046 e 1048, cerca de 15 anos antes do provável início de seu episcopado, figura um Ordonius diaconus atuando como notário. Ambos os diplomas se relacionam aos soberanos, o que permite concluir que havia um Ordonho vinculado à corte, mas como afirmar que ele é o mesmo que seria escolhido como bispo de Astorga alguns anos depois? E por que Ordonho não poderia ter sido monge, ordenado e notário?
Nada sabemos também sobre a sua educação. Se atuou como notário, era letrado. É provável que tenha estudado em alguma escola monástica, como Sahagún, ou episcopal, em Astorga, ou em alguma diocese próxima, como Leão.
Outro tema de debate é a data do início do governo episcopal de Ordonho; os autores se dividem entre adotar o ano de 1061 ou 1062. Até mesmo Pietro (1973, v. 3, p. 1831) oscilou entre essas datas, pois, no verbete mencionado, indica que Ordonho foi “elevado a la dignidad episcopal” em 4 de fevereiro de 1062, mas na publicação de 1977 propõe setembro de 1061 como momento da eleição do epíscopo (id., 1977, p. 258-259).
Como era comum à época, Ordonho, bispo de uma das mais antigas dioceses do reino de Castela-Leão, participava da corte acompanhando os soberanos em diversas situações, como na campanha militar contra a cidade de Mérida. Por mandato real, foi um dos responsáveis pelo traslado das relíquias de Isidoro de Sevilha para Leão, em 1063, tema que será abordado a seguir.
Quanto à data de sua morte, Prieto (ibid., p. 272-273) afirma que faleceu em 1066, quando Afonso VI já havia ascendido ao trono de Leão. Entretanto, diversos autores, fundamentando-se na inscrição de sua lápide, apontam para o ano de 1065.17 O bispo foi sepultado na Igreja de Santa Marta de Astorga, uma das mais antigas da cidade (Fuertes; Encinas, 2001, p. 31).
No governo episcopal do sucessor de Ordonho, Pedro Nuñez, uma catedral, em estilo românico, foi consagrada (Dominguez, 2018, p. 39). Segundo Ruiz Hernando (1990, p. 87-88), este evento vincula-se ao crescimento da cidade no século XI, impulsionado pelas peregrinações a Santiago de Compostela. Como era usual no período, a formalização do culto público ocorria com a elevação ao altar das relíquias daquele considerado santo. Entretanto, isto não foi feito em relação a Ordonho, que tampouco foi sepultado no novo templo.
Silva (2014, p. 79-80), baseando-se em Prieto, defende em sua tese doutoral que o culto a Ordonho começou a se desenvolver logo após a sua morte. As evidências seriam as menções ao seu nome nas doações feitas à Igreja de Astorga ou ao cenóbio de Sahagún, a composição do epitáfio e a presença de luz ao lado de seu sepulcro.18 Santamaría, professor titular da Universidade Autônoma de Barcelona, discorda desta perspectiva. Em um artigo publicado em 2004, “Paraliturgia, ajuar hagiográfico y lugares de enterramiento en torno a los obispos santos de Galicia y de León entre los siglos IX y XI” (Santamaría, 2004), analisa os objetos e espaços vinculados ao culto aos bispos que atuaram em Galiza e Leão nos séculos IX-XI e que foram considerados pela tradição como santos, sublinhando as particularidades de cada caso. Para o autor, o conjunto de bispos galegos dos séculos IX-XI considerado santo pode ser subdividido em três: os que foram venerados logo após a morte; aqueles cujo culto só floresceu a partir do século XII, e os que “no tuvieron una memoria destacada”(ibid., p. 48-50). Para o pesquisador, Ordonho de Astorga encontra-se neste último grupo, pois não recebeu um “culto singular” (ibid., p. 50).
Ou seja, ainda que não tenha sido objeto de estudos específicos, o culto a Ordonho de Astorga não é um tema totalmente inédito. E, dentre as poucas reflexões relacionadas ao tema, há duas perspectivas bem distintas: aqueles que defendem que Ordonho foi venerado desde o medievo, e os que negam esta devoção.
Proponho uma perspectiva intermediária: durante o medievo foi constituída uma memória de santidade para Ordonho de Astorga que, entretanto, circulou somente no campo literário e não chegou a suscitar um culto público, que só começou a ser fomentado no século XVIII. A seguir, desenvolvo minha argumentação.
ORDONHO NOS TESTEMUNHOS MEDIEVAIS
Os testemunhos medievais sobre Ordonho de Astorga preservados podem ser subdivididos em três grupos. No primeiro encontram-se os materiais textuais, diplomas e crônicas; no segundo, um monumento epigráfico; e, no terceiro, objetos encontrados no túmulo do epíscopo.
Pesquisei trabalhos que, com abordagens diversas, analisassem tais testemunhos. Encontrei artigos19 sobre os textos,20 mas não foram identificados estudos sobre os restos materiais relacionados ao santo (anel e relíquia).21 Como não tive acesso aos objetos nem a investigações específicas sobre eles, só farei considerações sobre os textos. Desta forma, as fontes medievais analisadas, datadas entre os séculos XI e XIII, foram: um diploma; a “La Translatio S. Isidori Legionem anno 1063” (Iglesias, 2011), também intitulada como “Acta translationis corporis sancti Isidori”; Historia Silense (Urbel; Ruiz-Zorrilla, 1959; Coco, 1921; Gómez-Moreno, 1921), ou Crônica Silense; “Historia traslationis sancti Isidori”( Sola, 1997); “La Translatio s. Isidori en el Chronicon mundi de Lucas de Tuy” (Falque, 1998); a Historia de rebus Hispaniae sive historia gothica (Valverde, 1987); Primera crónica general: estoria de España que mandó componer Alfonso el Sabio y se continuaba bajo Sancho IV en 1289 (Pidal, 1906); e o texto gravado no monumento epigráfico (Lobo, 2011).
O que esses textos medievais informam sobre o bispo Ordonho e seu culto?
Do conjunto de diplomas preservados nos quais há menção a um bispo Ordonho de Astorga, destaco um, datado do dia 23 de dezembro de 1063. Segundo Domínguez (2015, p. 135-136), que estudou esse documento, o diploma original se perdeu, e o que temos hoje é uma cópia elaborada posteriormente.22 Para a autora, trata-se de um privilégio, que “es una confección nueva que copia el dispositivo original y se amplía con un dispositivo facticio cargado de cláusulas exhortativas y con una redacción ampulosa” (ibid., p. 138). Ou seja, ainda que transmitido em uma cópia tardia, este documento remete a outro contemporâneo ao evento.
Este diploma registra a doação do Mosteiro de Santa Marta de Tera e do castelo de Noceda ao bispo e à catedral asturicense pelo rei e a rainha. O ato é explicado no texto: Ordonho, ao receber a ordem do monarca, partiu de Mérida para Sevilha, junto com o bispo Alvito, para trazer “o santíssimo e glorioso corpo do beato doutor nosso santo bispo Isidoro, confessor de Cristo, que nós, por suas mãos, e de outros prelados, fizemos conduzir à cidade de Leão, à Igreja de São João”.23
Tal documento indica que o Ordonho que era bispo de Astorga em 1063 foi o mesmo que participou da embaixada que foi a Sevilha e de lá trouxe as relíquias de Isidoro. Como o ponto de partida desta expedição, segundo o diploma, foi Mérida,24 é provável que o prelado estivesse acompanhando Fernando I nessa campanha. Por fim, a recompensa que lhe foi concedida pelo casal real - o Mosteiro de Santa Marta de Tera, com suas terras e habitantes, e a região de Noceda, na qual havia um castelo, incluindo também os moradores locais - poucos dias após o seu retorno realça a importância do traslado para a monarquia castelhana-leonesa, evento que teve repercussões não só religiosas, como também políticas.
Mas por que Ordonho de Astorga foi um dos escolhidos para esta missão? Como sugere González (2017, p. 233), nesta conjuntura, as principais autoridades eclesiásticas do reino eram o abade de Sahagún e os bispos de Leão e Astorga, devido à antiguidade de suas fundações e tradições. A tarefa de encontrar e trasladar relíquias, como será discutido a seguir, foi entregue, portanto, às autoridades eclesiásticas reconhecidas como as de maior envergadura na corte de Fernando I e Sancha.
Para Álvarez da Silva (2014), as expressões “patri et pontifici nostro domino Ordoneo” (Flórez, 1762, p. 464) e “pater sanctissime Ordoni praesul” (ibid., p. 465), presentes nesse diploma, “permiten apreciar la categoría de santidad que, poco a poco, iba rodeando la figura de Ordoño y que se desarrollaría tras su muerte” (Silva, 2014, p. 80). Não concordo com a interpretação da pesquisadora. Seguindo Clavero, que sublinha que estas invocações foram incluídas no momento em que o texto foi reescrito, aponto que foram inseridas para realçar a figura do bispo Ordonho e, por extensão, da diocese de Astorga, que passou a ser detentora das doações.
Passo à apresentação dos textos narrativos, começando com “La Translatio S. Isidori Legionem anno 1063” (Iglesias, 2011), por ter se configurado, na minha perspectiva, como um marco fundador da memória relacionada ao epíscopo. Esta obra foi redigida em Leão, na segunda metade do século XI,25 e dividida em oito leituras para uso litúrgico. Este é o primeiro texto a relatar a inventĭo, ou seja, a descoberta das relíquias do bispo visigodo Isidoro na cidade de Sevilha e sua translātĭo para Leão, eventos ocorridos em 1063, dos quais Ordonho foi um dos participantes, como assinalado anteriormente.
Segundo a narração, diante do avanço militar dos exércitos castelhano-leoneses em terras sob domínio muçulmano,26 Fernando I fez uma negociação com o rei de Sevilha, Abenhabete, acordando o resgate das relíquias de santa Justa, mártir do início do século IV, que estariam nesta cidade, em troca de uma trégua.27 Para levar a cabo esta tarefa, o rei escolheu três pessoas:28 Alvito, bispo de Leão, Ordonho, bispo de Astorga, e o conde Múnio. Eles seguiram para Sevilha acompanhados de uma tropa.
Ainda segundo o relato, ao chegarem, os muçulmanos informaram que não iriam ajudar na localização das relíquias. Assim, o grupo enviado pelo rei castelhano-leonês começou a orar, pedindo a direção divina. Após três dias, Alvito teve três sonhos, nos quais Isidoro apareceu para o prelado e o convenceu a levar as suas relíquias para Leão, ao invés das de santa Justa. No último sonho, Isidoro, além de revelar o lugar onde se encontravam as suas relíquias, profetizou a morte de Alvito, o que logo se cumpriu. As relíquias foram então resgatadas e, junto com o corpo do bispo recém-falecido, levadas para Leão e depositadas na Igreja de São João Batista, posteriormente dedicada a Isidoro de Leão.
Os grandes personagens deste relato são, além do próprio Isidoro, Fernando I e Alvito. Desta forma, as menções a Ordonho são pontuais. No texto, ele é citado somente duas vezes. A primeira, na leitura II:
[...] o rei Fernando convocou o venerável bispo da cidade de Leão, Alvito, e o honorável varão Ordonho, bispo de Astorga, e, além desses, o conde Múnio com uma pequena tropa de soldados, e os enviou a Hispalis para trazer dali o corpo da citada virgem.29
E a segunda, na leitura VI: “[...] o bispo de Astorga Ordonho e todo o exército, tomando os restos de São Isidoro e o corpo do prelado leonês Alvito, se apressaram para regressar ante ao rei Fernando”.30
Ordonho ganha destaque nesta narrativa, portanto, porque compôs o grupo escolhido por Fernando I para resgatar as relíquias e, com a morte de Alvito, tornou-se o único responsável eclesiástico desta empreitada.
Para Martínez (2011, p. 112), a política seguida pelo monarca castelhano-leonês tinha como metas a fundamentação jurídica da expansão do reino, o fortalecimento da fé cristã, e a multiplicação ordenada das dioceses. Desta forma, os bispos ocuparam um papel fundamental no governo de Fernando I, estando presentes na corte, atuando como conselheiros reais, participando das campanhas militares e da reorganização dos episcopados. O episódio do resgate das relíquias de Isidoro pode ser considerado, portanto, como um passo importante desta política, pois dava visibilidade aos avanços cristãos nos territórios muçulmanos, legitimava a fé cristã, e enaltecia o papel dos prelados. A inventĭo e a translātĭo das relíquias do sevilhano propiciaram não só uma vinculação do governo de Fernando I e Sancha ao passado visigótico, como simbolizaram as aspirações de unidade territorial, religiosa e de hegemonia política buscada pela monarquia para os contemporâneos ao evento. Assim, concordo com a opinião de Martínez, que o qualifica como o “fato político-ideológico mais transcendente do reinado” (ibid., p. 113, 150n).
O relato presente na Translatio s. Isidori Legionem anno 1063 foi retomado, com poucas variações, em diversos outros textos redigidos nos séculos XII e XIII.
A primeira obra conhecida a incorporar o relato foi a Historia Silense, escrita entre 1110-1130, em Leão, provavelmente por um monge proveniente de Silos.31 Ela segue a Translatio s. Isidori Legionem anno 1063, mas, como é uma crônica, dá destaque às conquistas de Fernando I, apresentando mais detalhes sobre as campanhas militares do monarca na Bética e na Lusitânia. Tais eventos funcionam como uma introdução para a narração do traslado propriamente dito, e indicam que a decisão do rei por solicitar as relíquias ao mouro provém de uma consulta ao conselho:
Após isso, o rei Fernando, ordenadas as coisas em relação às fronteiras, quando chegou a primeira oportunidade de tempo, reuniu um novo exército, saiu com postura hostil para as províncias de Bética e Lusitânia; e, despovoados os campos dos bárbaros e queimadas muitas fazendas, foi ao encontro dele o próprio rei de Sevilha, Abenhabete, com grandes presentes, e pediu-lhe, por amizade e honra do reino, que não perseguisse a ele ou a seu reino. Mas o rei Fernando, como de costume, compadecido das angústias humanas, enquanto se inclina às súplicas do velho bárbaro, manda trazer dos quartéis de inverno a todos os homens bons, para com o seu conselho dispor sobre qual conclusão impor às súplicas do rei dos mouros. Mas quando os consultou, por decreto do conselho, recebe os presentes e manda que seja entregue o corpo da mártir bem-aventurada Justa [...].32
As menções a Ordonho na Historia Silense são iguais às presentes na Translatio s. Isidori Legionem anno 1063: são pontuais e, como em sua fonte, figuram em dois momentos da narrativa. O mesmo relato, sem variação, encontra-se na Crónica Najerense, escrita entre 1160 e 1200, provavelmente em Santa Maria de Nájera.
A Historia Silense é, junto com a Translatio s. Isidori Legionem anno 1063, fonte de outra obra, a Historia translationis sancti Isidori,33 que apresenta a narração mais longa sobre o episódio, combinando os dois textos citados. Foi provavelmente composta no então mosteiro de São Isidoro de Leão, antiga Igreja de São João Batista, entre 1170-1235.
Segundo Iglesias, essa obra tem uma estrutura semelhante à da Translatio s. Isidori Legionem anno 1063, mas acrescenta um maior número de dados, sobretudo em relação à história da Hispânia, em particular sobre o reinado de Fernando I, e sobre a Igreja-Mosteiro de São Isidoro, dividida em 4 capítulos ou partes. Na primeira, encontra-se o prólogo, a apresentação do santo e da história hispânica desde a invasão muçulmana até o tempo de Fernando I; nas partes dois e três é relatado o traslado das relíquias de Isidoro de Sevilha a Leão, e, por fim, na quarta parte, a morte de Fernando I e os milagres ocorridos após a trasladação das relíquias (Iglesias, 2005, p. 211-212). Quanto às referências a Ordonho, mantêm-se as mesmas.
Esse relato também figura em duas obras de Lucas de Tui, que foi cônego de São Isidoro de Leão e, posteriormente, bispo tudense. Miracula s. Isidori,34 datada entre anos 1221/4 e 1239/42, e o Chronicon mundi, escrito por volta de 1238. A primeira cita a trasladação, sem descrevê-la em detalhes, mas relata diversos milagres ocorridos nas décadas seguintes ao evento. Nela não há nenhuma menção a Ordonho. Quanto à segunda, “comienza con una crónica universal [...] a la que siguen las llamadas crónicas menores de Isidoro (Historia Wandalorum, Historia Sueuorum y la Historia Gotorum) que constituyen el libro II”, tendo, portanto, inspiração isidoriana (Falque, 1998, p. 215). Talvez por este motivo nela esteja incluído o relato do traslado das relíquias do hispalense.
Em comparação com os textos anteriores sobre a trasladação, a narrativa do Chronicon mundi é a mais breve. Nela figura um aspecto novo, que mesmo não se relacionando diretamente a Ordonho, é válido citar: o relato atribui à rainha Sancha, esposa de Fernando I, a ideia de transformar Leão na cidade de sepultamento da família real. Ela deveria, portanto, ser honrada com relíquias de vários santos, justificando, assim, o traslado das relíquias de Isidoro:
Ao sugerir isto, a rainha Sancha lhe dizia: “Destaca-se esta cidade pela nobreza do lugar, aprazível por suas terras, saudável por seu ar, bem irrigada por seus rios, fecunda por seus prados e hortas, deliciosa por seus montes e fontes, frondosa por suas árvores, e muito adequada para ser morada de homens religiosos. (Apud Falque, 1998, p. 239)35
Como explicar este acréscimo? Podemos apontar algumas possibilidades: justificar o local onde as relíquias de Isidoro foram depositadas por meio do realce às belezas naturais da cidade de Leão, ou, como o Chronicon mundi foi dedicado a uma rainha, Berenguela, para salientar o papel dessas mulheres na história castelhano-leonesa. Independente da motivação, é importante destacar a perpetuação da memória do traslado das relíquias de Isidoro, na qual Ordonho continua a ser listado entre aqueles que receberam a missão de resgatar as relíquias - os já citados Alvito de Leão e o conde Múnio, além de Fernando e Gonçalo, nobres palacianos - sem maior destaque (ibid., p. 241).
O relato também figura na Historia de rebus Hispaniae sive historia gothica, de autoria do arcebispo toledano Rodrigo Jimenez de Rada (Cf. Valverde, 1987). Ela foi finalizada, segundo indica a própria obra, em 1243. Está dividida em nove livros, que narram desde a história de Noé e seus filhos até o segundo casamento do rei Fernando III. A missão de resgatar as relíquias dada a Alvito e Ordonho figura no livro VI, capítulo 12, de forma breve.
Historia de rebus Hispaniae sive historia gothica, em um relato bem sintético, também ressalta os sucessos militares de Fernando I na Bética e na Lusitânia, e a iniciativa da rainha Sancha de transformar a então denominada Igreja de São João Batista em um mausoléu da família real, como nas outras narrativas. Mas não menciona os sonhos de Alvito nem seu falecimento. Estas omissões podem resultar da brevidade do relato. Mas também há variações, pois não é informado que o projeto inicial do grupo enviado a Sevilha era resgatar as relíquias de santa Justa, mas registra que “alguns afirmam que o corpo da beata Justa foi trasladado com o do beato Isidoro”.36 A narração é arrematada com uma polêmica, pois é indicado que as relíquias de Isidoro foram levadas para Toledo, cidade do autor da crônica,37 o que não poderia ter acontecido, pois essa cidade só foi conquistada em 1085. A seleção e organização de tais tópicos certamente não foi gratuita, e buscava enaltecer o reino castelhano-leonês e, em particular, a cidade de Toledo, por meio da associação com as relíquias dos santos.
No que concerne a Ordonho, também é incluído um aspecto novo. Ao realçar que o traslado das relíquias de Isidoro fora efetuado pelos bispos Alvito de Leão e Ordonho de Astorga, acrescenta que eles “brilhavam por muitos milagres”.38 Ou seja, é introduzida a ideia de que Alvito e Ordonho já tinham fama de santidade no momento de redação da obra, meados do século XIII, assegurada pela realização de milagres.
Outro texto que narra o traslado é a Primera crónica general: estoria de España que mandó componer Alfonso el Sabio y se continuaba bajo Sancho IV en 1289,39 composta a mando do rei Afonso X, entre 1270 a 1284, em castelhano, por uma equipe, a partir de fontes diversas (Fernández-Ordóñez, 1999, p. 105). Nesta versão, não é feita menção à busca pelas relíquias de santa Justa em Sevilha, e é informado logo no início do relato que o rei Fernando enviou o grupo “por el cuerpo de sant Esidro” (Pidal, 1906, p. 490).40 Além disso, nesta versão, o rei sevilhano é o que abre a fossa onde se encontravam os ossos de Isidoro, dos quais exalou um odor “tan sabroso a manera de balsamo que a todos los que y estavan presto mucho et dio grand salut et los paro a todos muy alegres” (ibid.). Nesta obra também não há registro da morte de Alvito (ibid., , p. 491). Ele e Ordonho são nominados uma única vez, e qualificados como “omnes de grand santidade et de grand sabencia”, mas não lhes são atribuídos milagres, como na Historia de rebus Hispaniae sive historia gothica (ibid., p. 490). No restante da narrativa, eles são identificados como “los obispos” (ou seja, sem individualizá-los), e como tal, suas ações são descritas.
Neste texto, portanto, os bispos perdem o protagonismo para as relíquias de São Isidoro, que já operam milagres no momento em que foram encontradas, e para a própria monarquia, pois o capítulo finaliza destacando que o traslado foi uma das “sanctas obras del rey don Fernando” (ibid., p. 491).
Por fim, apresento o último documento medieval a ser analisado: o texto gravado no monumento epigráfico.41 Trata-se de uma lápide de mármore que cobria o sepulcro de Ordonho. Segundo Lobo (2011, p. 180), ela encontra-se atualmente no Museo de los Caminos, situado na cidade de Astorga. Nela está gravado um elogio fúnebre, que é uma adaptação do poema composto pelo bispo visigodo Eugênio de Toledo em homenagem a João de Saragoça, o carmen XXI. Este dado é mais um aspecto que aponta para o valor concedido às tradições hispano-visigodas em Castela e Leão na segunda metade do século XI.
Para Soriano (2006, p. 25-26), provavelmente o texto gravado na pedra foi elaborado em 1080, a partir de um manuscrito do carmen XXI pertencente à Catedral de Leão no século XI, que é conhecido atualmente como “Fragmento 8”. É possível que o autor dos versos dedicados a Ordonho sequer tenha conhecido o bispo e foi contratado, seja pela diocese de Astorga ou pela corte real, para compor o texto da lápide:
Seca tuas lágrimas, te rogo, ó leitor, e cessem os suspiros: neste sepulcro não jaz ninguém por quem se deva chorar mais tempo. Descansa aqui, arrebatado, um sacerdote feliz e afortunado ao qual a Madre fiel levou contente aos céus. Seu nome era Ordonho: era um bispo que se destacava por sua elevada doutrina e brilhava por sua pureza; era de coração piedoso, de rosto sereno, de espírito benigno, sabiamente humilde e humildemente sábio: sua fama de competente em todas as disciplinas era tão grande que até doutores de Roma devem inclinar-se ante sua inteligência; a ninguém ofendeu nem por palavra nem por obra; era bondosamente piedoso e piedosamente bondoso; não acumulou nenhum tipo de riqueza; antes, foi sempre bem pródigo em dar aos necessitados. Em poucas palavras: se manteve de tal maneira limpo de corpo, que de coração e de alma via a Deus. Após passar sua vida como bispo durante quase três anos e dezenove dias, morreu à hora terça do dia 1 de março do ano 1065. Que sua alma descanse em paz, amém. (Lobo, 2011, p. 180-181)42
Para Díaz (1958, p. 121) “el autor del epitafio de Ordoño conoce bien el latín y maneja con soltura el hexámetro”. O filólogo comparou esse texto ao poema de Eugênio, e concluiu que os versos 3, 4, 6, 7 e 12 são idênticos. Os 14 restantes foram omitidos, provavelmente por seu caráter pessoal. Os demais receberam algumas pequenas variações.
O epitáfio de Ordonho apresenta uma postura de aceitação perante o falecimento do bispo pautada na crença de que ele foi elevado aos céus. A certeza desta vitória perante a morte dá-se pelas próprias virtudes do prelado, que são enumeradas: ele era puro, piedoso, benigno, sábio, humilde, inteligente, conhecedor das doutrinas etc. Vale destacar que, apesar de sua vida exemplar, na lápide não há referências à sua intercessão pelos fiéis ou à eventuais milagres operados por ele. Ou seja, ainda que o elogio destaque as qualidades cristãs de Ordonho, não inclui indicações de que ele foi considerado um santo ou de que recebeu culto no período que se seguiu à sua morte.
Após a análise dos documentos textuais medievais que mencionam Ordonho, ainda que todos realcem suas virtudes e sua vida exemplar, identifico um único texto que apresenta uma referência que pode ser relacionada à constituição de uma memória de santidade de Ordonho: a obra Historia de rebus Hispaniae sive historia gothica, que chega a lhe atribuir milagres. Salvo o texto da lápide, todos os demais vinculam o seu nome ao resgate das relíquias de Isidoro, sem indicar a existência de alguma veneração especial ao prelado.
A MEMÓRIA DE ORDONHO APÓS O MEDIEVO
Novas menções a Ordonho e ao seu culto datam de cerca de três séculos depois, na obra Viage de Ambrosio de Morales por orden del rey D. Phelippe II...,( Flórez, 1765) de autoria de Ambrosio de Morales, um cronista real que realizou, em 1572, uma viagem por Leão, Galiza e Astúrias para reunir materiais para a elaboração de uma história por ordem de Filipe II. Dentre os seus registros, encontra-se:
[...] en otra pequeña tienen el Cuerpo del Obispo de alli Santo Ordoño, que juntamente con Santo Alvito fue à Sevilla por el Cuerpo de S. Isidoro, por mandado del Rey D. Fernando el primero. No rezan alli43 de Santo Ordoño, mas veneranle por Santo. En otras Iglesias del Reyno rezan de él. (Ibid., p. 177)
A notícia de Morales retoma a relação entre Ordonho e o traslado das relíquias de Isidoro, e permite afirmar que, nas décadas finais do século XVI, o seu sepulcro era conhecido em Astorga, ainda que não fosse considerado um santo intercessor. A referência de que em outras igrejas do reino “rezam dele” não é corroborada por outros testemunhos, e pode ter sido adicionada somente por razões retóricas.
O Santoral asturicense (del siglo XVI), transcrito e editado por Vazquez em 1904, corrobora a informação de Ambrósio de Morales. Neste calendário, a memória de Ordonho não foi incluída, mas encontramos registradas as festas a Santa Marta (p. 61), Santo Toríbio (p. 79), São Genádio (p. 111) e São Dictino (p. 119).
Santa Marta, segundo a tradição, era oriunda da cidade, mas descendente de soldados que haviam sido cristianizados no Norte da África e que se estabeleceram na Astorga romana. Ela teria sido martirizada sob o imperador Décio, no século III. Há notícias de veneração a essa mártir na diocese de Astorga desde o século X (Dominguez, 2015, p. 130-131). São Toríbio foi um bispo de Astorga do século V que lutou contra a heresia. O seu culto também está documentado na região desde o século X (Ángel, 2009. p. 21). São Genádio foi o restaurador do Mosteiro Ruphianense fundado por Fructuoso de Braga, do qual foi abade, e bispo de Astorga. O primeiro documento que o nomeia santo data de 1081, mas seu culto só foi oficializado em Roma em 1635 (Tejera, 2003, p. 20). Por fim, São Dictino, que teria rejeitado o priscilianismo44 no século V e esteve relacionado ao monacato local. Sua vida encontra-se registrada no breviário de Astorga desde o século XIII, e ele foi escolhido como patrono do convento dominicano estabelecido na cidade no século XV(García-Castellón, 2003, p. 26-27).
Em 1601, Sandoval, em sua obra sobre os mosteiros beneditinos, informa que Ordonho é tido e venerado por santo em Astorga. Para fundamentar sua afirmativa, cita o texto do diploma pelo qual os soberanos fazem doações ao bispo e à diocese de Astorga e a sua lápide (Sandoval, 1601, p. 68). Ainda complementa a informação destacando que o prelado foi sepultado na entrada da igreja de Santa Marta, não nos lugares mais eminentes (ibid., p. 69). A mesma informação é registrada na Crónica general de la Orden de San Benito, Patriarca de Religiosos, de Yepes (1617, p. 200).
Dávila (1618, p. 242), ao tratar da cidade de Astorga, retoma as informações presentes na lápide e nas “historias de España”. E após fazer um resumo do relato da trasladação de relíquias, seguindo as crônicas anteriores, afirma que Ordonho é tido como santo em sua igreja e bispado (ibid., p. 245).
Alguns anos depois, provavelmente a partir de Sandoval ou Yepes, Menard (1629, p. 17) inclui Ordonho em seu martirológio beneditino, com festa fixada em 23 de fevereiro.
Ezpéleta (1634, p. 43) declara que segue a Dávila para apresentar Ordonho. Neste sentido, também registra que o bispo acompanhou Alvito no resgate das relíquias de Isidoro, menciona o seu sepulcro, destaca que ele teve uma santa e inculpável vida, o que justifica com o seu epitáfio, e informa que era venerado pelos fiéis .
Essas informações sobre Ordonho foram repetidas por outros autores, como Flórez, em 1762, e Escalona, em 1782, entretanto, com menor ênfase na existência de um culto. Flórez (1762, p. 350), por exemplo, limita-se a declarar, no capítulo que se dedica a apresentar os santos da Diocese de Astorga, que se costuma dar tratamento de santo ao bispo Ordonho. Já Escalona (1782, p. 67) não menciona explicitamente um culto, e só afirma que “su santa vida, y grandes virtudes se expresan muy bien en el epitáfio de su sepulcro”.
Os autores dos séculos XVI, XVII e XVIII, ao mencionar Ordonho de Astorga e seu culto, mantêm, com poucas variações, as informações presentes no epitáfio do seu túmulo, no texto do diploma real de 1063, nos relatos de trasladação das relíquias de Isidoro de Sevilha para Leão, e na informação de Ambrósio de Morales. Essa uniformidade pode ter resultado do fato de que os eruditos eclesiásticos usaram sempre as mesmas fontes ou simplesmente repetiram o que encontraram nas obras que lhes foram anteriores. Desta forma, a memória de santidade de Ordonho foi preservada, e circulou somente nos livros. Se outros testemunhos de veneração ao prelado, como inquéritos, hagiografias ou hinos, existiram, foram ignorados por tais autores e se perderam.
Esta memória de santidade de Ordonho limitada à circulação literária pode relacionar-se ao fato de que, na reconstrução da catedral asturicense, realizada entre o século XV e o início do XVIII, ele sequer tenha sido representado. Lá figuram os santos bispos Toríbio, Dictino, Genádio e Efrém.45 Este último era considerado, no século XVII, o primeiro bispo de Astorga (Garcia, 2013, p. 14). E apesar de Ordonho figurar no martirológio de Menard, ele não chegou a ser incluído no romano, porque o seu culto não recebeu nenhuma forma de autorização papal.
Ou seja, sepultado em Santa Marta no século XI, a memória de Ordonho como um homem singular em santidade foi mantida pelos autores, que realçaram suas virtudes, tal como registrado em seu epitáfio, e, sobretudo, o seu papel no resgate das relíquias de Isidoro. Porém, como é possível concluir pelo vazio documental, não foram realizados esforços para promover, nem após a sua morte, nem nos séculos seguintes, um culto público ao bispo.
Somente em 1740 este panorama muda. Neste ano, quando eram realizadas reformas na Igreja de Santa Marta, um sepulcro foi descoberto. Neste momento, o então bispo de Astorga, Pedro de Cáceres, faz uma descrição do túmulo e o que nele fora encontrado:
[…] se halló una lápida de pizarra que cubría el sepulcro de piedra; la que levantada, se halló que dicho sepulcro es todo de una pieza hechura de un arca, y parece mármol aunque sin pulir; y dentro estavan los huesos y piernas y muslos unidos por las rodillas y los dedos de los pies ya desunidos; y de los muslos arriba ya estava todo deshecho. Hallóse también un báculo de madera; y á la mitad dél comido ó podrido; un anillo de oro, que aun se mantenía el hueso del dedo dentro dél; pesa una onza; con una piedrecita que no se save si es fina; en ella está esculpida una cara de hombre […]. (Apud Fidel Fita, 1902, p. 526-527).
O prelado também registra a sua suspeita de que o referido sepulcro era de Ordonho, pois, além dos versos da lápide:
[…] no ha muchos años que havía lámpara encendida sobre el sepulcro, de que se acuerdan muchas personas, y la voz común de que es San Ordoño que fue obispo de esta Santa Iglesia y antes monge de Sahagún, que en la Religión de San Benito se reza dél, con otras noticias que refiere Gil González de haver traído el cuerpo de S. Isidoro á León de orden del Rey D. Fernando I de Castilla v León. (Ibid., p. 526-527).
A partir deste achado, foram feitas investigações com várias autoridades eclesiásticas, como o abade de Sahagún, José Velázquez, e o monge beneditino e estudioso Martin Sarmiento, com o objetivo verificar se em algum momento houve um reconhecimento oficial da santidade de Ordonho. A conclusão a que se chegou foi à de que o prelado nunca fora reconhecido como santo, seja na instância episcopal ou na papal.46
A recordação de que havia uma lâmpada acesa sobre o sepulcro, mencionada pelo bispo Pedro de Cáceres, em minha opinião tampouco é uma evidência significativa de que teria havido algum culto público, mesmo que não oficial, a Ordonho. Há que sublinhar, porém, que, a partir deste momento, houve uma preocupação em consolidar a memória de santidade relacionada ao bispo medieval. Neste sentido, suas relíquias foram colocadas em um relicário, e já no século XX buscou-se autorização papal para o culto do santo, o que não se efetivou (Silva, 2014, p. 80).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
À luz do material coletado e apresentado, o que é possível afirmar sobre a memória de santidade e culto a Ordonho? Ordonho foi um bispo que governou a diocese de Astorga, uma das mais antigas do noroeste ibérico, aproximadamente entre 1061-2 e 1065-6. Sua escolha como prelado de um dos bispados mais importantes do reino permite supor que ele era próximo do casal real.
Como prelado, participou da corte, atuou como conselheiro real, acompanhou o monarca nas guerras de expansão, e, certamente, partilhava de suas ideias para a organização e governo do reino. Essa inserção social do bispo e as tradições vinculadas à sua diocese podem explicar a sua escolha para participar da missão de “deportar”47 as relíquias de Isidoro. Pelo sucesso desta empreitada, sua memória foi perpetuada por meio dos textos narrativos que relatam o episódio.
Ordonho faleceu por volta de 1065-6, e foi sepultado na Igreja de Santa Marta. Como sua lápide sublinha, ao morrer foi homenageado por suas virtudes cristãs. Contudo, ainda que uma nova catedral românica tenha sido consagrada no episcopado de seu sucessor, ele não foi alçado ao altar, e seu túmulo não foi transferido para o templo. Certamente continuou a ser recordado como um dos bispos mais ilustres da diocese, devido ao seu sucesso na trasladação das relíquias de Isidoro, até cair no esquecimento.
Seu culto não prosperou dos séculos XI ao XIII, momento de reorganização das dioceses hispanas e de disputas sobre a jurisdição de igrejas, e no qual o culto aos santos tinha diversas funções, como atrair peregrinos, e fundamentar a antiguidade do bispado frente aos demais nas disputas pela jurisdição de mosteiros, templos e territórios. O que pode explicar este desinteresse por fomentar o culto a Ordonho é a presença de pelo menos quatro santos vinculados à história da diocese de Astorga, com cultos singulares e já estabelecidos naquela conjuntura: Santa Marta, a virgem mártir local, e os bispos santos Toríbio, Dictino e Genádio, que lutaram contra a heresia e/ou promoveram o monasticismo na região.48
Mas Ordonho não foi totalmente esquecido nos anos após a sua morte; afinal, fora um dos responsáveis pelo traslado das relíquias de Isidoro. Como evidenciam as narrativas medievais apresentadas, havia uma íntima relação entre santidade e política no reino castelhano-leonês no século XI. Assim, as relíquias de Isidoro não foram consideradas valiosas só por motivos devocionais, mas como instrumentos para legitimar a dinastia real, justificar as guerras de expansão, e fundamentar gastos para edificação e enriquecimento das igrejas e mosteiros. Ordonho, um entre outros tantos bispos do período, adquiriu fama para a posteridade por sua participação no resgate das relíquias do sevilhano.
Esta fama ganhou, no Historia de rebus Hispaniae sive historia gothica, um acréscimo: Ordonho havia feito milagres. Esta é a única referência encontrada que pode ser considerada como uma possível memória de santidade associada ao prelado asturicense no medievo. Ainda que tenha sido uma menção tardia e pontual, registrada cerca de 180 anos após a sua morte, acrescentou à fama já adquirida pelo prelado pelo traslado das relíquias de Isidoro a caracterização de santo. Assim, constituiu-se uma memória de santidade literária, que não redundou em um culto. Esta referência influenciou os textos dos séculos XVI, XVII e XVIII referenciados, que também vinculam Ordonho ao resgate das relíquias de Isidoro, citam o seu epitáfio, e mencionam que o prelado asturicense era venerado, como que repetindo um topos literário.
Ordonho não foi objeto de culto em Astorga por parte dos fiéis até a descoberta de seu túmulo, no início do XVIII, quando passou a ser alvo de interesse episcopal. Por isso ele não foi representado na catedral reformada entre os séculos XV e XVIII. O bispo Pedro de Cáceres, ao encontrar o seu túmulo, iniciou uma pesquisa sobre sua eventual canonização, e suas relíquias só foram colocadas em um relicário tardiamente.
Em Astorga, desde o medievo, já existiam cultos a santos singulares. Além disso, a fama recebida por Ordonho ainda no século XI não o vinculava à história específica da sua diocese, mas à do reino castelhano-leonês em geral, e, em particular, à da Igreja de São Isidoro de Leão. Não era, portanto, singular, posto que estava associada a outros santos, como Isidoro, Alvito e Justa. Desta forma, a memória de santidade de Ordonho só ganhou impulso em Astorga tardiamente, após a descoberta do seu túmulo. E como é possível constatar com a publicação em 2018 da história da diocese de Astorga, continua a ser perpetuada (Tato, 2018, p. 708).
No estudo sobre Ordonho e seu culto, podemos perceber como a construção de memórias de santidade são fenômenos complexos que não podem ser compreendidos unicamente à luz da trajetória daquele que foi considerado alvo de veneração. Interesses diversos realçaram ou relegaram ao esquecimento a figura do bispo asturicense. Conhecido por sua participação no resgate das relíquias de Isidoro de Sevilha, tal feito ganhou diferentes sentidos no decorrer da história. Ainda que o texto de Rada tenha sublinhado a existência de um culto e até mencionado milagres, este culto só foi organizado, de fato, a partir do século XVIII.49
Referências Bibliográficas
- ABELLÁN, Francisco P. Díez de Velasco. Prisciliano, ¿Santo o Diablo? In: VENTURA, Francisco José Salvador et al. (Ed.). Autoridad y autoridades de la iglesia antigua: Homenaje al profesor José Fernández Ubiña. Granada: Editorial Universidad de Granada, 2017. p. 223-238.
- AMARAL, Paulo; FRAILE, Eduardo González; GIL, Javier Pérez (coord.). El sueño de Gunzo Sahagún y Cluny: historia y restauración arquitectónica. Salamanca: Junta de Castilla y León, 2010.
- ÁNGEL, Lorenzo Martínez. Santo Toribio de Astorga en el declive del Imperio Romano. Estudios humanísticos Historia, Leão, n. 8, p. 9-24, 2009.
- BELTRÁN, Cristina Borreguero (coord.) El padre Flórez, tres siglos después. In: CONGRESO INTERNACIONAL “EL PADRE FLÓREZ, TRES SIGLOS DESPUÉS”. 2002, Burgos. Actas…Burgos: Diputación Provincial de Burgos, 2006.
- CANDEIRA, Alfonso Sánchez. Castilla y León en el siglo XI Estudio del reinado de Fernando I. Madri: Real Academia de la Historia, 1999.
- CARRASCO, Juan. La sede de Astorga en la Época Medieval (Siglos VIII-XV). In: SÁNCHEZ HERRERO, José (coord.). Historia de las diócesis españolas Madri: Biblioteca de Autores Cristianos, 2018. V. 21: Astorga y Zamora, p. 25-132.
- CARRASCO, Juan. Los espacios políticos de la Península Ibérica a mediados del siglo XI. In: SEMANA DE ESTUDIOS MEDIEVALES, 15. 2004, Tricio y San Millán de la Cogolla. Actas...Logroño: Instituto de Estudios Riojanos, 2005. p. 93-118.
- CARRASCO, Juan. Orígenes y desarrollo durante la época romana y los reinos germánicos (Siglos I-VII). In: SÁNCHEZ HERRERO, José(coord.). Historia de las diócesis españolas Madri: Biblioteca de Autores Cristianos , 2018. V. 21: Astorga y Zamora, p. 5-24.
- CARRASCO, Juan; LOPEZ, Encarnación Martin(ed.). Colección documental de la Catedral de Astorga Leão: CEISI-Archivo Histórico Diocesano, 1999-2000. V. I: (646-1126); v. II: (1126-1299).
- CIPRIANO DE CARTAGO. Cartas Madri: Gredos, 1998.
- COCO, Francisco Santos (ed.). Historia Silense Madri: Centro de Estudios históricos, 1921.
- DÁVILA, Gil González. Theatro eclesiastico de las ciudades e iglesias catedrales de España: vidas de sus obispos y cosas memorables de sus obispados. Madri: Imprenta de Antonia Ramirez, 1618.
- DELGADO, Ángel Panizo. Santa Marta de Tera: signos lapidarios e inscripciones epigráficas en su iglesia. Brigecio: Revista de Estudios de Benavente y sus Tierras, Benavente, n. 20, p. 161-187, 2010.
- DÍAZ, Manuel C. Díaz y. Anecdota Wisigothica Salamanca: Universidad de Salamanca, 1958. V.1: Estudios y ediciones de textos literarios menores de época visigoda.
-
DIÓCESIS DE ARTOGA. Espiscopologio/Obispos de Artoga. Diócesis de Artoga, s.n.t. Disponível em: Disponível em: http://www.diocesisastorga.es/la-diocesis/episcopologio
Acesso em: 13 de fevereiro de 2018.
» http://www.diocesisastorga.es/la-diocesis/episcopologio - DOMÍNGUEZ, Gregoria Cavero. Fernando I y el Obispo Ordoño de Astorga. In: LAHOZ, Lucia; HERNANDEZ, Manuel Perez (org.). Lienzos del recuerdo: estudios en homenaje a Jose Maria Martinez Frias. Salamanca: Universidad de Salamanca, 2015. p. 135-143.
- ESCALONA, Joseph Pérez Romualdo. Historia del Real Monasterio de Sahagún Madri: D. Joachin Ibarra, 1782.
- EZPÉLETA, Pedro Aingo de. Fundacion de la Santa y Cathedral Iglesia de la Ciudad de Astorga Madri: por Andres de Parra, 1634.
- FALQUE, Emma. La Translatio s. Isidori en el Chronicon mundi de Lucas de Tuy. In: LINEHAN, Peter (ed.). Life, Law and Letters: Historical Studies in Honour of Antonio García y García, Roma: Libr. Ateneo Salesiano,1998. p. 213-219.
- FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, Inés. El taller historiográfico alfonsí: la “Estoria de España” y la “General estoria” en el marco de las obras promovidas por Alfonso el Sabio. In: RODRÍGUEZ, Ana Domínguez; MARTÍNEZ, Jesús Montoya (coord.). Scriptorium alfonsí, de los libros de astrología a las “Cantigas de Santa María”. Madri: Editorial Complutense, 1999. p 105-126.
- FIDEL FITA. Hagiografia. El Sepulcro de San Ordoño. Boletín de la Real Academia de la Historia, Madri, t. 41, p. 526-528, 1902.
- FLÓREZ, E. (ed.). Viage de Ambrosio de Morales por orden del rey D. Phelippe II a los Reynos de León, y Galicia, y Principado de Asturias para reconocer las reliquias de Santos, sepulcros reales, y libros manuscritos de las Cathedrales, y Monasterios / dale a luz con notas, con la vida del autor, y con su retrato, El Rmo. P. Mro. Fr. Henrique Flórez, del Orden del Gran Padre S. Augustín Madri: Editorial Antonio Marín, 1765.
- FLÓREZ, E. España sagrada, theatro geographico-historico de la Iglesia de España: origen, divisiones y limites de todas sus provincias, antiguedad, traslaciones y estado antiguo y presente de sus sillas en todos los dominios de España y Portugal, con varias disertaciones criticas. 56v. Madri: en la oficina de Pedro Marin, 1762. V. 16: De la santa iglesia de Astorga en su estado antiguo y presente.
- FUERTES, María Ángeles Sevillano; ENCINAS, Júlio M. Vidal. Arqueología del entorno de la Catedral de Astorga: La primitiva Iglesia de Santa Marta como testimonio e la configuración de un área sacra. In: SIMPOSIO SOBRE LA CATEDRAL DE ASTORGA. 2000, Astorga. Actas… Astorga: Centro de Estudios Astorganos Marcelo Matías, 2001. p. 25-47.
- GARCÍA, Miguel Ángel González. La catedral. Espacio para la memoria de los obispos de Astorga. Revista de los Amigos de la Catedral de Astorga, Astorga, n. 19, p. 12-19, 2013.
- GARCÍA-CASTELLÓN, Manuel GARCÍA-CASTELLÓN, Manuel. San Dictino de Astorga (ca. 350?- 430?). Argutorio, Astorga, n. 22, p. 26-27, 2003.
- GIL, Javier Pérez; BADIOLA, Juan José Sánchez. La regulación de la vida monástica y secular en el abadengo de Sahagún: de las consuetudines cluniacenses a las constituciones sinodales de fray Gregorio de Quintanilla. In: GIL, Javier Pérez; AMARAL, Paulo; FRAILE, Eduardo González (coord.). El sueño de Gunzo Sahagún y Cluny: historia y restauración arquitectónica. Salamanca: Junta de Castilla y León , 2010. p. 9-96.
- GÓMEZ-MORENO, M. Introducción a la “Historia Silense”, con versión castellana de la misma y de la “Crónica de Sampiro”. Madri: Est. Tipográfico Sucesores de Rivadeneyra, 1921.
- GONZÁLEZ, A. VIÑAYO. San Martín de León y su apologética antijudía Madri/Barcelona, 1948.
- GONZÁLEZ, J. M. Martínez(ed.). Lucas de Tuy Milagros de San Isidoro. Leão: Universidad de León, 1992.
- GONZÁLEZ, Raúl González. Élites urbanas y relaciones de poder en Oviedo, León y Astorga durante la Edad Media (siglos IX-XIII), 2017. Tese (Doutorado em História) - Programa de Doctorado en Historia, Universidad de Oviedo, Oviedo. 2017.
- GUTIÉRREZ, Julián. Breve memoria acerca del origen, conservación y límites del obispado de Astorga Astorga: Imp. de Gullón e hijo, 1869.
- HERNANDO, José Antonio Ruiz. La catedral en la ciudad medieval. In: CONGRESO MEDIEVALISMO Y NEOMEDIEVALISMO EN LA ARQUITECTURA ESPAÑOLA, 1. Ávila, 1987. Actas…Salamanca: Universidad de Salamanca, 1990. p. 81-114.
- IGLESIAS, José Carlos Martín. El corpus hagiográfico latino en torno a la figura de Isidoro de Sevilla en la Hispania tardoantigua y medieval (ss. VII-XIII). Veleia, Vitoria-Gasteiz, n. 22, p. 187-228, 2005.
- IGLESIAS, José Carlos Martín. La translatio S. Isidori Legionem anno 1063 (BHL 4488). Introducción, estudio y edición crítica. Exemplaria Classica: Revista de Filología Clásica, Huelva, n. 15, p. 225-253, 2011.
- LOBO, Vicente García. El difunto reivindicado a través de las inscripciones. In: JORNADAS CIENTÍFICAS SOBRE DOCUMENTACIÓN: LA MUERTE Y SUS TESTIMONIOS ESCRITOS, 9. 2011, Madri. Actas... Madri: Departamento de Ciencias y Técnicas Historiográficas de la Universidad Complutense, 2011. p. 171-198.
- LOPEZ, Pedro Rodríguez. Episcopologio asturicense 4 t. Astorga: Imprenta y Librería de Porfirio López, 1906. T. 2.
- MARTÍNEZ, Carlos de Ayala. Fernando I y la sacralización de la Reconquista. Anales de la Universidad de Alicante, Alicante, n. 17, p. 67-115, 2011.
- MENARD, Hugone. Martyrologium sanctorum ordinis divi benediciti Paris: Ioannem Germont & Ioannem Billaine, 1629.
- PIDAL, Ramón Menéndez(ed.). Primera crónica general: estoria de España que mandó componer Alfonso el Sabio y se continuaba bajo Sancho IV en 1289 Madri: Bailly-Baillière e hijos editores, 1906.
- PRIETO, Antonio Quintana. Astorga, Diócesis de. In: VAQUERO, Q. A.; MARTÍNEZ, T. M.; GATELL, J. V. Diccionario de historia ecclesiástica de España 5 v. Madri: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1972. V. 1, p. 148-151.
- PRIETO, Antonio Quintana. El obispado de Astorga en el siglo XI Astorga: Gráficas Cornejo, 1977.
- PRIETO, Antonio Quintana. Ordoño. In: VAQUERO, Q. A.; MARTÍNEZ, T. M.; GATELL, J. V. Diccionario de historia ecclesiástica de España 5v. Madri: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1973. V. 3, p. 1831.
- RADA, Rodrigo Jiménez de. Historia de los hechos de España Madri: Alianza Editorial, 1989.
- SANDOVAL, Prudencio. Primera parte de las fundaciones de los monasterios del gloriozo Padre San Benito Madri: Luis Sanches Empretor, 1601.
- SANTAMARÍA, Eduardo Carrero. Paraliturgia, ajuar hagiográfico y lugares de enterramiento en torno a los obispos santos de Galicia y de León entre los siglos IX y XI. Porta da Aira: Revista de Historia del Arte Orensano, Orense, n. 10, p. 8-54, 2004.
- SILVA, Noemi Álvarez da. El trabajo del marfil en la España del siglo XI 2014. Tese (Doutorado em História da Arte) - Departamento de Patrimonio Artístico y Documental, Universidad de León, Leão. 2014.
- SILVA, Noemi Álvarez da; SOLA, J. A. Estévez. Historia translationis sancti Isidori (BHL 4491). In: SILVA, Noemi Álvarez da; BREA, L. Charlo; HERRERO, R. Carande. Chronica hispana saeculi XII Turnhout: Brepols, 1997. p. 119-179.
- SORIANO, I. V. Carmina epigraphico more. El códice de Azagra (Madrid BN ms. 10029) y la práctica del género literário epigráfico. In: MARTÍNEZ, C. F.; PALLARÉS, J. G. (ed.). Temptanda Viast Nuevos estudios sobre la poesía epigráfica latina. Cerdanyola del Vallès: SPUAB, 2006. p. 1-29 (CD).
- TATO, Isidoro García. Apéndice. In: SÁNCHEZ HERRERO, José (coord.). Historia de las diócesis españolas Madri: Biblioteca de Autores Cristianos, 2018. V. 21: Astorga y Zamora. p. 675-720.
- TEJERA, Artemio Manuel Martínez. San Genadio: cenobita, obispo de Astorga y anacoreta (¿865-936?). Argutorio, Astorga, n. 11, p. 20-22, 2003.
-
THE CATHOLIC ENCYCLOPEDIA. New Advent, s.n.t. Disponível em: Disponível em: http://www.newadvent.org/cathen/
Acesso em: 1º de fevereiro de 2018.
» http://www.newadvent.org/cathen/ - URBEL, Justo Pérez de; RUIZ-ZORRILLA, Atilano González (ed.). Historia Silense Madri: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1959.
- VALVERDE, Juan Fernández. (ed.) Roderici Ximenii de Rada Opera omnia Turnhout: Brepols, 1987. Pars I: Historia de rebus Hispaniae sive Historia gothica (Corpus Christianorum.Continuatio Medievalis, 72).
- VÁZQUEZ, Antonio Berjón y (ed.). Santoral Asturicense (del siglo XVI). Astorga: N. Fidalgo, 1904.
- VÁZQUEZ, Antonio Berjón y. Nuevo Lucífero para la diócesis de Astorga Astorga: N. Fidalgo, 1902.
- YEPES, Antônio de. Crónica general de la Orden de San Benito, Patriarca de Religiosos. Valladolid: Francisco Fernández de Córdoua, 1617. T. 6.
-
1
Os limites da diocese de Astorga sofreram variações no decorrer dos séculos. Cf. Prieto (1972, p. 148-149) e Domínguez (2018, p. 10-14; 31-34).
-
2
Trata-se da carta número 67 do epistolário de Cipriano de Cartago, dirigida aos fiéis de “Legio VII Gemina, Asturica Augusta et Emerita” (Cipriano de Cartago, 1998, p. 322-331). Além dessa carta, há outros testemunhos relacionados à presença do Cristianismo em Astorga desde o século III, como tradições vinculadas aos martírios das santas Centola, Helena e Marta, e vestígios arqueológicos (Domínguez, 2018, p. 10). Deste último grupo, ver em especial o sarcófago procedente da Catedral de Astorga, datado de início do século IV (Disponível em: http://www.man.es/man/coleccion/catalogo-cronologico/edad-media/sarcofago-astorga. Acesso em: 19/05/2018).
-
3
Como as atas do II e III Concílios de Braga e as dos III, IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV e XVI de Toledo (ibid., p. 14-15).
-
4
Dominguez (2018), no volume dedicado a Astorga na Historia de las diócesis españolas, apresenta uma síntese dos debates sobre a continuidade ou descontinuidade deste episcopado com a chegada dos muçulmanos. Enquanto López Alsina defende que “la red eclesiástica no despareció con la invasión islámica” (ibid., p. 29), Demetrio Mansilla, Augusto Quitana e Carlos Ayala apontam para uma interrupção da sucessão episcopal, que só foi retomada com o bispo Indisclo a partir de meados do século IX. Concordo com esse segundo grupo.
-
5
Foi consultada a edição on line, disponível em http://www.newadvent.org/cathen/02018d.htm. Acesso em: 10 de fevereiro de 2018. Para Dominguez (id., p. 34), o início do episcopado de Indisclo ocorreu por volta de 853.
-
6
Segundo o episcopológio da diocese asturicense, houve alguns breves períodos nos quais a Sé esteve vacante: em 1029-1030 e entre 1177-1190 (Cf. http://www.diocesisastorga.es/la-diocesis/episcopologio. Acesso em: 13 de fevereiro de 2018).
-
7
Optei pelo uso da grafia aportuguesada dos nomes próprios citados no texto.
-
8
Por se tratar do título do verbete, mantive aqui a grafia do nome em espanhol.
-
9
No volume dedicado a Astorga na Historia de las diócesis españolas, no item “Santos y Beatos” do Apêndice, Ordonho é listado entre os santos do bispado (Tato, 2018, p. 708).
-
10
Sem dúvida, diversos aspectos da organização social também podem relacionar-se ao culto aos santos, mas o meu enfoque prioriza os interesses institucionais e a construção de significações. Compreendo como significação a construção de uma narrativa que dá sentido, fundamenta e legitima os diferentes fenômenos sociais. Esta perspectiva não nega a materialidade da organização social constituída, mas realça que a sua apreensão e compreensão é sempre mediada pelos sentidos expressos pelas linguagens. Os significados, entretanto, não antecedem a organização social, mas se constituem no social, no decorrer da história, nas práticas, nas relações entre as pessoas, no estabelecimento de instituições etc.
-
11
Flórez foi um religioso agostiniano que viveu no século XVIII e foi responsável por iniciar a coleção “España Sagrada”, que narra a história das dioceses hispanas desde sua fundação, acrescida da transcrição de documentos. Sobre o tema, ver Beltrán (2006).
-
12
Esses manuscritos encontram-se digitalizados e disponíveis em http://bdh.bne.es/bnesearch/detalle/bdh0000096043. Acesso em 13 de fevereiro de 2018. A partir destes materiais, Dominguez e Lopes elaboraram a Colección documental de la Catedral de Astorga, publicada em dois volumes em 1999-2000.
-
13
Na obra publicada em 2018 sobre a diocese de Astorga, já mencionada, há dois capítulos de autoria de Domínguez dedicados ao episcopado asturicense na antiguidade e medievo. Nesses textos só há referências pontuais ao bispo Ordonho (p. 85-6).
-
14
Há muitas discussões relacionadas à história deste cenóbio, mas provavelmente já estava fundado em fins do século IX ou no início do X (Gil; Badiola, 2010, p. 10-14).
-
15
Mosteiro localizado na atual província de Zamora. Há um documento datado de 979 que atesta a existência desse cenóbio ao menos desde o século X (Delgado, 2010, p. 166).
-
16
Fernando I era filho de Sancho III, o Maior, que reuniu sob sua direção os então reinos Asturo-leonês, Pamplona, Aragão e o Condado de Castela. Ele recebeu como herança o condado castelhano, enquanto seus irmãos passaram a dirigir as outras áreas que estiveram sob o domínio de seu pai. Com a morte de seu cunhado, Bermundo III, rei de Leão, por estar casado com a herdeira do trono, Sancha, ocupou o trono deste reino em 1038, passando a ser intitulado na documentação como rei de Leão e Castela. Segundo Carrasco, Fernando I “ejercería el poder durante su vida, pero sería la reina la que reinaria bajo su tutela, como si fuese menor de edad” (2005, p. 111-112).
-
17
Esta inscrição, reproduzida por diversos autores, afirma: “In episcopatu degens vitam fere annos tres, et dies decem et octo, obiit prima feria, hora tertia, era centessima tertia post miilessima die séptimo Kalendas martii, anima eius requiescit in pace” (Vázquez, 1902, p. 287). Tradução livre da autora: “Após passar sua vida como bispo durante quase três anos e dezenove dias, morreu à hora terça do dia 1 de março do ano 1065. Que sua alma descanse em paz, amém.” Contudo, segundo Prieto (1977, p. 272-273), Ordonho figura em um diploma de 1066. Esta divergência pode ser explicada pela hipótese de que o epitáfio colocado na lápide foi composto alguns anos após a morte de Ordonho (Soriano, 2006, p. 25-26), o que pode ter gerado alguma confusão de datas.
-
18
A autora denomina a igreja onde foi sepultado Ordonho como Santa Marta de Tera. Contudo, trata-se de uma confusão entre o templo localizado na cidade de Astorga e o do Mosteiro dedicado a Mártir, localizado em Zamora, conforme assinalado na nota 19.
-
19
Todas as obras encontradas estão listadas na bibliografia.
-
20
Os trabalhos localizados sobre o monumento epigráfico se concentram na análise da inscrição, não nos aspectos materiais da lápide.
-
21
Quando da descoberta do sepulcro de Ordonho em 1740, foram achados, segundo o relato do então bispo de Astorga, Pedro de Cáceres, um anel e um báculo de madeira, já parcialmente apodrecido. Segundo informações disponibilizadas no site da Igreja de Santa Marta, as relíquias de Ordonho foram colocadas no relicário catedralício, e o anel encontrado no sepulcro foi exposto no Museu da Catedral. Cf. http://www.santamartaastorga.com/documents/45.html. Acesso em: 11 de fevereiro de 2018. A informação sobre o anel também é apresentada por Dominguez (2018, p. 84) e Tato (2018, p. 708). Entretanto, no site do Museu da Catedral de Astorga, na listagem dos objetos expostos, não há menção específica a este anel. Cf. http://www.catedralastorga.com/historia/museo-catedralicio/ Acesso em: 11 de fevereiro de 2018.
-
22
Este documento foi publicado por Flórez, 1762, p. 464-467.
-
23
Tradução Livre da autora. Texto em latim: “Sanctissimum et gloriosum corpus Beati Doctoris nostri Sancti Isidori Archiepiscopi Confessoris Christi, quem nos per manus tuas, aliorumque Praesulum, fecimus recondere in Civitate Legionense in Ecclesia Sancti Joannis” (Flórez, 1762, p. 464-467).
-
24
Segundo Domínguez (2015, p. 137), “esta versión del diploma contradice, al menos en parte, al autor de la Crónica Silense, que señala que la embajada salió de León; y aquí realmente se deduce que salió de Mérida. La polémica generada por esta diferencia todavía no ha encontrado una respuesta definitiva”.
-
25
A datação desta obra ainda é debatida. Para alguns, a elaboração é anterior à morte de Fernando I, ou seja, entre 1064 e 1065; para outros, é mais tardia. Contudo, como foi fonte da Historia Silense, os autores concordam que sua redação não pode ser posterior aos anos 1110-1120. Sobre esse debate, bem como sobre as questões relacionadas ao processo de produção e transmissão desta obra, ver ibid., p. 225-227.
-
26
Como destaca Carrasco (2005, p. 113), Fernando I dedicou-se a aproveitar a “decadência” do Al-Andalus que, neste momento, estava fragmentado em pequenos reinos denominados taifas. Para uma reconstrução espacial da expansão militar castelhano-leonesa no reinado de Fernando I, ver Candeira (1999).
-
27
Sobre a relação entre a atividade militar e o culto aos santos no governo de Fernando I, ver Martínez (2011).
-
28
Essa escolha não é justificada no texto.
-
29
Tradução livre da autora. Texto latino: “[...] conuocauit rex Fredinandus uenerabilem Aluitum, Legionensis urbis episcopum, et reuerendum uirum Ordonium, Astoricensem episcopum, simulque Munionem comitem cum manu militum et eos ad deferendum supradicte uirginis corpus Hyspalim misit” (Iglesias, 2011, p. 248).
-
30
Tradução livre da autora. Texto latino: “[...] Asturicensis autem episcopus Ordonius et omnis exercitus, accepta gleba beati Ysidori et corpore presulis Legionensis Aluiti, ad regem Fredinandum festinabant repedare” (ibid., p. 251).
-
31
Essa obra foi estudada e publicada por Coco, Gómez-Moreno, e Urbel e Ruiz-Zorrilla.
-
32
Tradução livre da autora. Texto latino: “Ceterum Fredinandus rex ordinatis per confinia rebus, cum primum opportunitas temporis advenit, congregato rursus exercitu, in Beticam et Lusitaniam provincias hostiliter profectus est; depopulatisque barbarorum agris acplerisque villis incensis, eidem Benahabet Yspalensis rex cum magnis muneribus occurrit, eumque per amicitiam perqué decus regni obsecrat, ne ipsum regnumque suum persequi velit. Fredinandus vero rex ex more humanas miseratus angustias, dum precibus grandevi barbari flectitur, omnes idoneos viros ex hibernis accersiri iubet, quorum consilio disponat quem finem supplicationibus regis Maurorum imponat, At ubi consultum erat ex consilii decreto, et munera recipit et corpus martiris beate luste [...]” (Coco, 1921, p. 80-81).
-
33
Sola (1997).
-
34
Só fragmentos dessa obra foram editados. Entre outras edições, destaco as de González, de 1948, e a versão em romance, preparada por Juan de Robles no século XVI e publicada por González, em 1992. Só tivemos acesso à edição em romance.
-
35
Tradução livre da autora. Texto latino: “Hec suggerente regina Sancia dicebat ei: “Pollet hec ciuitas situs nobilitate, eo quod sit iocunda terris, salubris aere, fluminibus irrigua, pratis et ortis fecunda, montibus et fontibus delitiosa, arboribus nemorosa atque religiosorum uirorum habitationi aptissima”.
-
36
Tradução livre da autora. Texto latino: “Aliqui dicunt corpus beate Iuste cum corpore beati Isidori tunc translatum est” (ibid., livro VI, cap. 12, p. 21).
-
37
O texto também registra que o príncipe Pedro Fernández havia trasladado as relíquias de Justa e Rufina para um mosteiro real situado em Burgos.
-
38
Tradução livre da autora. Texto latino: “multis miraculis coruscantibus” (ibid., livro VI, cap. 12,p. 18).
-
39
Utilizei a edição de Pidal (1906).
-
40
Neste artigo, optou-se pela transcrição das citações conforme elas aparecem nos originais consultados, sem adequá-las às reformas ortográficas ocorridas na língua espanhola
-
41
O texto que se encontra gravado na lápide do sepulcro de Ordonho foi publicado por vários autores. A mais recente publicação encontrada, que apresenta o texto em latim e sua tradução em espanhol, encontra-se no artigo de Lobo (2011).
-
42
Tradução livre da autora. Segue o texto latino: “+ Tolle, precor, lacrimas, cessent suspiria, lector: non iacet in tumulo res lacrimanda diu. Hic raptus recubat felici sorte sacerdos quem letum Celis alma fidelis intulit Ordonius cui nomen erat sed episcopus alta doctrina pollens virginitate nitens, corde pius, vultu placidus, et mente benignus, prudenter simplex simpliciter sapiens: omnibus in studiis tantum celebratus habetur, cedat ut ingenio Roma docta suo; non aliquem verbo, non tactu lesit inico, bonitate pius, cum pietate bonus, non quum multiplices auri congessit acerbos, sed dando miseris largus ubique fuit. Ut breviter dicam: tenuit sic corpore mundum, ut corde atque animo cerneret ille Deum. In episcopatu degens vitam ferme annis tribus et dies decem novem, obiit ora tertia era centesima tertia post millesima, ipsas kalendas marcias. Anima eius requiescat in pace, amen”.
-
43
Encontrei a expressão “rezar de santo” em vários textos dos séculos XVII e XVIII com o sentido de rezar o Ofício Divino na celebração de um santo reconhecido pela Igreja Romana.
-
44
Movimento iniciado no século IV a partir das ideias de Prisciliano, condenado pela igreja hispana como herético. Sobre o tema, ver Abellán (2017).
-
45
Para Garcia (2013, p. 14), a inclusão de Efrém na fachada da catedral se deu por influência do livro de Ezpéleta, que defendia que ele fora discípulo de São Tiago.
-
46
Os documentos relacionados a essa investigação foram publicados por Vázquez.
-
47
Este é o termo latino que figura no diploma pelo qual o casal real doa a Ordonho o Mosteiro de Santa Marta de Tera e as terras de Noceda. Deportare, no latim, pode significar transportar, reconduzir, exilar.
-
48
Sigo, aqui, ainda que introduzindo algumas diferenças, a proposta de Santamaría (2004, p. 50-51).
-
49
Evidências do culto a Ordonho após 1740 são o folheto “Gozos en honor de San Ordoño, Obispo de Astorga y Confesor“, de 1887 (disponível em: http://bdh-rd.bne.es/viewer.vm?id=0000154108&page=1. Acesso: em 11 de fevereiro de 2017); a inclusão de Ordonho identificado como santo em calendários, como o organizado por Miguel Salvá e Pedro Sainz de Baranda (disponível em: https://books.google.es/books?id=ibbeTrw-vKkC&pg=PA294#v=onepage&q&f =false. Acesso em: 11 de fevereiro de 2017); o traslado de seus restos mortais para o Palácio Episcopal de Astorga em 1903; a tentativa episcopal de obter reconhecimento papal para o culto ao prelado; e a referência ao prelado como santo no episcopológio publicado no site da diocese de Astorga, tal como em relação a São Dictino, Santo Toríbio, São Genádio, São Fortis, São Pedro Cristiano (Disponível em: http://www.diocesisastorga.es/la-diocesis/episcopologio. Acesso em: 13 de fevereiro de 2018), para citar alguns exemplos.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Jul 2019 -
Data do Fascículo
May-Aug 2019
Histórico
-
Recebido
17 Fev 2018 -
Aceito
22 Maio 2018