Resumo:
O artigo analisa o processo de apropriação simbólica de Augusto dos Anjos pela cidade de Leopoldina (MG), onde passou seus últimos cinco meses de vida. Durante os mais de cem anos desde sua morte, uma série de ações tem reiterado o reconhecimento do poeta como patrimônio municipal. Busca-se compreender tal fenômeno a partir da trajetória de Augusto dos Anjos, do seu nascimento, no Engenho Pau-d’Arco, na Paraíba, em 1884, à sua morte, em Leopoldina, em 1914 e do lugar ocupado pela cidade no cenário sociocultural, político e econômico mineiro, entre o final do século XIX e meados do século XX, e que conferiu ao município o epíteto de Atenas Mineira. A pesquisa se valeu de fontes bibliográficas e documentais, o que permitiu compreender os principais marcos da imortalização do poeta empreendidos em Leopoldina, e as ações que buscaram estabelecer uma memória vinculante entre o ele e a cidade.
Palavras-chave: Augusto dos Anjos (1884-1914); Imortalização; Patrimônio cultural
Abstract:
This article analyzes the process of symbolic appropriation of Augusto dos Anjos by the city of Leopoldina (state of Minas Gerais), where he spent his last five months of life. Over the hundred years since his death, a series of actions have reiterated the poet’s recognition as a municipal heritage. We seek to understand this phenomenon from Augusto dos Anjos’ trajectory, from his birth (in Engenho Pau-d’Arco, Paraíba, 1884) to his death (in Leopoldina, 1914) and the city’s place in the socio-cultural, political and economic scenario in Minas Gerais, from the end of the 19th century to the middle of the 20th century, which earned the municipality the epithet of Atenas Mineira. The research made use of bibliographical and documentary sources, which allowed us to understand the main milestones in the immortalization of the poet undertaken in Leopoldina, and the actions that sought to establish a binding memory between him and the city.
Keywords: Augusto dos Anjos (1884-1914); Immortalization; Cultural heritage
Introdução
O poeta Augusto dos Anjos passou seus últimos cinco meses de vida, em 1914, em Leopoldina, cidade situada na Zona da Mata, no estado de Minas Gerais. Apesar de sua estada breve, a apropriação simbólica do poeta vem sendo continuamente reiterada durante os mais de cem anos passados desde sua morte, em um processo surpreendente de invenção de Augusto dos Anjos como patrimônio municipal. Como na análise clássica de Hobsbawn e Ranger (1997), sobre a tradição inventada, práticas rituais e simbólicas, tacitamente aceitas e secundadas no tempo, selam os vínculos de Leopoldina com o poeta, nascido na Paraíba. A criação do Grêmio Lítero-artístico Augusto dos Anjos pelos alunos do Ginásio Leopoldinense, em 1925, a comemoração do centenário de seu nascimento em 1984 ou a abertura do Museu Espaço dos Anjos, em 2012, são algumas iniciativas que lograram forjar um passado da cidade, imbricado ao do personagem de Augusto dos Anjos.
É certo que a literatura e seus escritores figuram como pilares de identidades nacionais. Mas também se inscrevem na memória coletiva de cidades onde os literatos nasceram ou atuaram, nutrindo identidades e imaginários urbanos. São as cidades o local, por excelência, de memorização desses personagens e de suas obras, e é nelas que se estabelecem os artifícios que os perpetuam. Por todo o mundo observa-se peregrinação aos túmulos ou aos museus-casa que preservam remanescentes da vida e obra de escritores, os quais, por vez, emprestam elementos determinantes e estáveis aos processos de construção de identificação das cidades. Alguns exemplos, no Brasil, dentre muitos, são ilustrativos: Museu Casa de Cora Coralina, na cidade de Goiás; Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre; Casa de José de Alencar, em Fortaleza; Fundação Casa de Jorge Amado, em Salvador; Museu Casa Guimarães Rosa, em Cordisburgo (MG); Museu Casa Alphonsus de Guimaraens, em Mariana (MG); Casa de Carlos Drummond de Andrade, em Itabira (MG); Casa Mário de Andrade, em São Paulo.
O caso de Augusto dos Anjos em Leopoldina afigura-se singular uma vez que, como já dito, não se trata de sua cidade de nascimento, lugar onde produziu sua obra ou onde residiu por mais tempo. Seria possível identificar os marcos urbanos associados ao poeta em locais honoríficos, nos termos analisados por Assmann (2011)? Estaríamos diante exatamente de uma experiência de descontinuidade no tempo, em que uma tradição, tendo sido interrompida pela destruição ou esquecimento, recorre, como lembra a autora em diálogo com a noção de lugares de memória de Nora (1993), a medium de recordação para se restabelecer. Não há indícios de que Augusto dos Anjos, em vida, tenha estabelecido vínculos sólidos com Leopoldina. Compreender esse fenômeno implica, portanto, considerar uma cadeia de fatores e circunstâncias que favoreceram a invenção dessa tradição. Retornemos a Hobsbawn e Ranger, quando reconhecem que as tradições se inventam por meio da invariabilidade, da repetição de práticas formalizadas, que induzem valores, correspondendo a:
um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado (Hobsbawn, Ranger, 1997, p. 9).
O artigo tem o propósito de analisar justamente esse processo que forjou os laços entre a cidade e o poeta, em uma construção patrimonial bem sucedida. Para isso parte de três perspectivas analíticas que são complementares: o contexto histórico-cultural da cidade na primeira metade do século XX, propício à apropriação de Augusto dos Anjos como referência da identidade local, as circunstâncias de vida do poeta que o levam a Leopoldina e as iniciativas que, ao longo do tempo, vêm atualizando continuamente o significado de Augusto dos Anjos para a cidade. A pesquisa bibliográfica e em fontes arquivísticas permitiu, entre outros aspectos, compreender as articulações entre a trajetória de vida de Augusto dos Anjos, os principais marcos de sua imortalização em Leopoldina e o debate em relação à preservação do acervo do poeta.
A Atenas Mineira
Com a expansão da cafeicultura do Vale do Paraíba, no Rio de Janeiro, para a Zona da Mata mineira, na segunda metade do século XIX, Leopoldina constituiu-se em um dos centros produtores mais prósperos de Minas Gerais. De acordo com Relatório da Secretaria do Interior, publicado em 24 de junho de 1899 pelo Diário de Minas, periódico de Belo Horizonte, Leopoldina ocupava o terceiro lugar no quadro comparativo das rendas das municipalidades do estado, ficando abaixo somente da capital, Belo Horizonte, e de Juiz de Fora, cidade também localizada na Zona da Mata mineira. Comentando os dados do relatório, o periódico Gazeta de Leopoldina publicou:
A importância do lugar assinalado ao nosso município é evidente e ele a mantém, graças ao civismo e ao adiantamento da sua laboriosa população: - na parte financeira, com recursos tais que nos colocam em terceiro lugar entre todas as municipalidades do estado, na parte política concorremos dignamente com outros municípios do estado em influência reconhecida e temos o orgulho de assinalar que daqui, deste recanto, têm saído poderosas mentalidades que têm ido honrar as tradições da terra mineira em todos os ramos da vida pública, tanto na alta política como na alta administração (Gazeta de Leopoldina apudBotelho, 1963, p. 108).
Nas primeiras décadas do século XX, diante de sinais de decadência inevitável da cafeicultura, a elite leopoldinense articulou dotar o município de uma ampla rede de ensino. A estratégia buscava assegurar prestígio intelectual e político para a cidade, de modo a compensar a perda do seu poder econômico. Tais esforços convergiram, por conseguinte, para renovar a imagem de uma cidade celeiro de “poderosas mentalidades”, atuantes na vida pública. A rede de ensino passava a ser o elemento-chave da imagem de prosperidade e de progresso da cidade, assegurando, de outra parte, a reprodução de valores e status quo da oligarquia local. Leopoldina, portanto, “abrigava o sonho das elites que enviavam para lá seus filhos, que formados nas escolas particulares, encontravam seu lugar dentro da seleta intelectualidade brasileira” (Nogueira, 2011, p. 58).
Segundo Nogueira (2011), entre 1896 e 1914, foram fundadas aproximadamente 12 escolas particulares em Leopoldina, razão pela qual recebeu a denominação de “Atenas Mineira”. O número de estabelecimentos criados, em um curto espaço de tempo, é considerável se levarmos em conta a população da cidade que, de acordo com o censo de 1872, era em torno de 41.886 habitantes.1 Dentre estas escolas, destaca-se, como fundamental para esta construção narrativa, o Ginásio Leopoldinense.
Fundado em 3 de junho de 1906, pelos irmãos José Monteiro Ribeiro Junqueira e Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira, o Ginásio Leopoldinense era saudado como um dos mais importantes estabelecimentos de ensino, não só do estado, como também do país. Por meio do Decreto n. 1.942 de 6 de setembro de 1906, sua Escola Normal foi oficialmente comparada às Escolas Normais do Estado de Minas Gerais, e por meio do Decreto n. 7.193 de 26 de novembro de 1908, foram concedidos ao Ginásio Leopoldinense, pelo Governo Federal, os privilégios e as garantias de que gozava o Ginásio Nacional do Rio de Janeiro (Centenário…, 1954; Botelho, 1967). Oferecia o ensino primário e secundário e atendia a ambos os sexos. Não era apenas uma instituição dedicada à formação dos filhos das oligarquias. Também formava mão de obra especializada por meio de cursos técnicos, como o ensino agrícola, curso básico de comércio e escola técnica de contabilidade.
A partir de 1918, passou a manter as Escolas Superiores de Farmácia e de Odontologia reconhecidas pelo Governo Federal. Segundo o parecer do Conselho Superior do Ensino, as Escolas Superiores do Ginásio Leopoldinense preencheram os requisitos necessários e foram equiparadas ao congênere federal em 21 de março de 1918 (Centenário…, 1954; Botelho, 1967). Era, portanto, responsável pela formação daqueles “que assumiriam cargos de destaque dentro da comunidade, assim como jovens para cursarem as raras faculdades brasileiras e universidades estrangeiras existentes no período” (Nogueira, 2011, p. 92). Além de professores de renome, alunos oriundos das elites de todas as regiões do país vinham a Leopoldina em busca de formação em educação secundária e superior (Botelho, 1963).
Uma parcela considerável de estudantes do Ginásio Leopoldinense destacou-se, ao assumir altos e importantes cargos, como postula o editorial da revista belo-horizontina Acaiaca em 1954: “O futuro de Leopoldina dependerá do Gymnasio Leopoldinense, de onde certamente sairão as porvindouras gerações que terão de dirigir os seus destinos, de elevar a intelectualidade dêste município, do Estado e da Pátria” (Centenário…, 1954, p. 38).
Pelo Ginásio Leopoldinense passaram Xenofonte Mercadante, jurista e deputado estadual; Humberto Mauro, um dos maiores cineastas brasileiros; Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo Correia Rocha, um dos mais importantes escritores portugueses do século XX; Milton Soares Campos, governador de Minas Gerais, deputado federal, senador e ministro da Justiça; Amintas de Barros, vereador, deputado estadual e prefeito de Belo Horizonte; João Lyra Filho, ministro do Tribunal de Contas do Estado da Guanabara; Benedito Rubens Renó Guedes, vereador, deputado estadual e prefeito de Leopoldina; Márcio Barroso Domingues, secretário de Segurança Pública de Minas Gerais; Omar Peres, político mineiro. Dentre os professores do ciclo de ouro do desenvolvimento cultural de Leopoldina destacam-se: José Botelho Reis, João Trentino Ziller, Gustavo Monteiro de Castro, Júlio Ferreira Caboclo e Carlos Coimbra da Luz, que chegou à presidência interinamente em 1955 (Nogueira, 2011; Almeida, 2002).
Além de seu papel emblemático na construção da imagem de Leopoldina como formadora de uma elite intelectual e política, o que foi corroborado pela força simbólica de seu prédio de arquitetura monumental, o Ginásio impactou também a vida cotidiana da cidade.
Leopoldina nunca recebeu, em um espaço tão breve de tempo, um fluxo populacional tão grande, quanto aquele que vinha de distritos e outras cidades da Mata para lá estudar, apesar de o número de escolas particulares ter sido muito representativo no final do século XIX. Houve um estímulo econômico significativo, como o que ocorre em cidades que possuem cursos universitários (Nogueira, 2011, p. 91).
Na década de 1920, a imagem de “Atenas Mineira” estava consolidada, graças à sua rede de ensino, mas também a de outras iniciativas culturais, tendo à frente o Teatro Alencar, e mesmo a atividade de imprensa. Leopoldina foi, à época, a única cidade da Zona da Mata mineira, além de Juiz de Fora, a contar com um jornal diário (Augusto dos Anjos…, 1984). No entanto, a centralidade do Ginásio acabou por eclipsar os outros estabelecimentos de ensino da cidade. Tanto que, a partir do final da década de 1910, houve uma significativa desaceleração da expansão do ensino particular em Leopoldina. Sua hegemonia era tal que “muitas escolas particulares se especializaram em preparar alunos para a admissão no Ginásio” (Nogueira, 2011, p. 111).
A fase de ouro do Ginásio Leopoldinense perdurou até o final da década de 1920, quando se encerrou a Escola Superior de Farmácia.2 Em 1946, o Ginásio foi adquirido pelo Bispado e, alguns anos mais tarde, em 1955, pelo governo do estado de Minas Gerais, tornando-se Escola Estadual Professor Botelho Reis (Almeida, 2002). Todavia, até a década de 1960, quando começou a perder gradualmente seu prestígio político e econômico, Leopoldina manteve-se em evidência (Almeida, 2002).
Contou para isso o fato de o Ginásio continuar figurando como “referência regional ainda por muitas décadas. O símbolo resistia enquanto preenchia um espaço dentro do imaginário regional” (Nogueira, 2011, p. 112). Também foi decisiva a atuação do leopoldinense Clóvis Salgado, um dos últimos políticos a projetarem a cidade nacionalmente. Nomeado em 1956 ministro da Educação e Cultura no governo de Juscelino Kubitschek, Clóvis Salgado articulou a implantação em Leopoldina de dois projetos pilotos: a inovadora “Escola Parque” e o “Centro de Treinamento de Professores Rurais”, o que fortaleceu a projeção de Leopoldina no cenário nacional (Almeida, 2002).
A título de curiosidade, atestam a notabilidade duradoura de Leopoldina as visitas que recebeu de presidentes da República: Getúlio Vargas, em 1939, Eurico Gaspar Dutra, em 1946, e Café Filho, em 1955. Carlos Luz, presidente da República interino em 1955, embora não fosse leopoldinense, era casado com Graciema, da família Monteiro Junqueira, de grande influência local, e atuou na cidade como delegado de polícia e como professor do Ginásio (Almeida, 2002).
É nesse percurso de construção e manutenção de seu prestígio econômico, político e cultural que se pode compreender a apropriação que Leopoldina faz de Augusto dos Anjos. O poeta, por sua vez, mudou-se para a cidade quando justamente estava em processo a produção da simbologia da “Atenas Mineira”, cuja força possivelmente serviu-lhe de atrativo e que iria nutrir por décadas o imaginário sobre a cidade.
Augusto dos Anjos: do Pau-d’Arco à Atenas Mineira
Filho da Paraíba, Augusto dos Anjos veio buscar, em Leopoldina, sua vida e sua morte (Adum, 1954).
Augusto dos Anjos nasceu no dia 20 de abril de 1884, sob o regime rural escravocrata e patriarcal, em um engenho de açúcar, Pau-d’Arco, na Paraíba. Era filho de Alexandre Rodrigues dos Anjos e de Córdula Carvalho Rodrigues dos Anjos, em uma família de oito filhos, seis homens e duas mulheres. Bem nascido, viveu uma infância abastada. Pelo lado materno, descendia de antigos senhores de terras, os Fernandes de Carvalho, proprietários de engenhos na Várzea da Paraíba. Já o seu pai, pernambucano contemporâneo de Tobias Barreto na Faculdade de Direito do Recife, possuía ideias abolicionistas e republicanas, além de vasta erudição (Augusto dos Anjos…, 1984; Melo Filho, Pontes, 1994; Barbosa, 1983).
Na virada do século, a família de Augusto dos Anjos passou a enfrentar a decadência que atingiu os latifundiários do Nordeste brasileiro (Melo Filho, Pontes, 1994). Com o advento da República, o refluxo da economia açucareira e a chegada da usina e do trem de ferro, a exportação do açúcar nordestino ficou monopolizada por firmas estrangeiras. Nesse contexto, em 1892, a família de Augusto dos Anjos se viu obrigada a hipotecar os dois engenhos de sua propriedade, o Engenho Pau-d’Arco e o Engenho Coité, ambos ainda movidos a água. Com a baixa do preço do açúcar no mercado internacional, a família teve que vender o Engenho Coité no mesmo ano: “Restava-lhe o Pau-d’Arco, assim mesmo em situação precaríssima, já empenhado, produzindo sem cobrir as despesas cada vez mais avultadas” (Barbosa, 1983, p. 52). A par da ruína financeira, o pai de Augusto dos Anjos adoeceu, vindo a falecer em 1905. O mundo que Augusto dos Anjos conhecia estava a ruir.
Augusto dos Anjos iniciou seus estudos de humanidades no Liceu Paraibano em 1900 e, em 1907, bacharelou-se em direito pela Faculdade do Recife. Um ano depois, foi nomeado professor interino de literatura do Liceu Paraibano. A partir desse ano, Augusto dos Anjos também se dedicou a aulas particulares, conforme anúncios publicados nos jornais paraibanos. Casou-se no dia 4 de julho de 1910, com Esther Fialho, mesmo ano em que se afastou do Liceu Paraibano em consequência de desentendimentos com o até então amigo, governador do estado, João Machado3 (Augusto dos Anjos…, 1984; Barbosa, 1983, Melo Filho, Pontes, 1994).
Desgostoso, Augusto dos Anjos mudou-se para o Rio de Janeiro, prometendo nunca mais pôr os pés na Paraíba. Naquele mesmo ano, 1910, sua família conheceu o ápice da sua decadência, com a alienação do Engenho Pau-d’Arco, onde Augusto dos Anjos havia nascido e vivido até seus 24 anos de idade (Barbosa, 1983; Nêumanne, 1984).
No Rio de Janeiro, Augusto dos Anjos e Esther enfrentaram dificuldades de toda ordem, inclusive a perda do primogênito, natimorto, em 1911. Com um rendimento insuficiente para as despesas, em quase três anos que viveram naquela cidade, residiram em aproximadamente dez casas em distintos bairros. Contudo, Augusto dos Anjos foi nomeado professor interino da Escola Normal e do Internato do Colégio Pedro II (Augusto dos Anjos…, 1984; Melo Filho, Pontes, 1994). O poeta também conseguiu uma vaga de professor substituto do Ginásio Nacional. Ainda assim, continuou anunciando suas aulas particulares em jornais do Rio de Janeiro (Barbosa, 1983).
Foi durante sua estada no Rio de Janeiro que lançou sua única obra, intitulada Eu, em 6 de junho de 1912, em edição particular, custeada pelo irmão Odilon, já que nenhum editor quisera publicar o livro. Augusto dos Anjos já havia publicado seus primeiros poemas no jornal paraibano O Comércio, em 1901 (Augusto dos Anjos…, 1984; Barbosa, 1983). Não era, portanto, desconhecido em sua terra natal, onde sua poesia despertava curiosidade entre colegas da faculdade.
É provável que nem Augusto dos Anjos nem o seu irmão tenham obtido qualquer vantagem financeira com a publicação do Eu, em razão da pequena tiragem e da profusa distribuição de exemplares feita pelo poeta, de acordo com Magalhães (1984). Entusiasmado, Augusto dos Anjos encaminhou a obra para jornalistas, críticos e escritores. Enviou exemplares também para a mãe, a irmã e o irmão mais novo, como menciona em carta de 13 de junho de 1912: “Remeto-lhe hoje pelo correio, bem como a Iaiá e Alexandre, meu livro de versos. O Eu tem escandalizado o superficialíssimo meio intelectual daqui. Em breve enviar-lhe-ei os jornais, onde vêm as críticas sobre o aludido livro” (Anjos, 1912 apud Magalhães, 1984, p. 89).
De fato, o livro de poesias “fez barulho logo à chegada”, como afirmou Oscar Lopes, no jornal O Paíz apenas três dias depois de seu lançamento (Lopes apudBarros, 1984). Em outro artigo, publicado dez dias após o aparecimento de Eu, é possível inferir que já se formavam em torno do poeta duas correntes de críticos: “uns repelindo-lhe os versos, ‘fulminando-os impiedosamente’; outros tecendo-lhe ‘exagerados louvores’, proclamando-o ‘artista incomparável, extraordinário, único, original e perfeito’” (Barros, 1984, p. 17). Mas, na avaliação de Nêumanne (1984), Eu provocou mais escândalo do que ganhou notoriedade. Augusto dos Anjos, em princípio, não se afligiu com as restrições com que fora recebido, como fica claro na carta que escreveu à sua mãe em 23 de janeiro de 1913:
Enviei-lhe pelo correio, há alguns dias, um exemplar do Eu. Agora lhe remeto as primeiras críticas aparecidas aqui sobre o aludido livro e das quais depreenderá Vmcê. o sucesso obtido por seu humilde autor. Mandar-lhe-ei em breve as outras apreciações que quase diariamente estão surgindo nos jornais desta cidade (Anjos apudMagalhães, 1984, p. 91).
Apesar de desdenhar em um primeiro momento das críticas desfavoráveis, o poeta tornou-se descrente e vencido, quando se deu conta de que Eu não havia despertado o interesse que previra.
Incompreendido, foi desprezado por um vasto segmento da intelectualidade brasileira, que não entendia o gosto macabro dos seus temas ou o linguajar pretensioso das suas estrofes, tidas como pseudocientíficas e mais apropriadas a um livro de medicina legal. Doía-lhe muito essa indiferença, explicada na época pelo fato de sua poesia bater de frente com os padrões vigorantes (Melo Filho, Pontes, 1994, p. 15).
Abatido com a repercussão do seu livro e enfrentando situação financeira instável, Augusto dos Anjos entrou em permanente estado de depressão (Barbosa, 1983). O testemunho de Elói Pontes retrata a imagem do poeta: “com o Eu embaixo do braço, sem despertar os interesses que previra de longe e sem que as suas aptidões claras e seguras lhe abrissem as portas de um ganha-pão ajustado às preferências de seu engenho” (Pontes apud Barbosa, 1983, p. 61).
Sua poesia e sua aparência física foram duramente julgadas. Uma e outra convergiam para uma imagem desolada, melancólica e insólita. Augusto dos Anjos era identificado como “histérico, neurastênico, desequilibrado. Na Paraíba o chamavam de ‘Doutor Tristeza’” (Barbosa, 1983, p. 54). “Fisicamente, era débil e fraco, alto e franzino, braços longos e pendentes, olheiras pronunciadas, olhos grandes e meio parados, passos indecisos, andar desarrumado e hesitante, moreno pálido com um bigodinho fino” (Melo Filho, Pontes, 1994, p. 18). Quanto aos poemas de Eu, de acordo com Barbosa (1983), não poderiam ser declamados nos salões, uma vez que poderiam provocar engulhos, risos e vaias. O poeta era inclassificável e o máximo que poderia obter eram adjetivos pouco recomendáveis, como estapafúrdio, aberrante, desequilibrado. Enfim, um caso patológico.
Desiludido, sem a estabilidade e o reconhecimento que fora buscar no Rio de Janeiro, Augusto dos Anjos se mudou com a família para Leopoldina (MG), no dia 22 de junho de 1914 (Augusto dos Anjos…, 1984; Nêumanne, 1984). Seu concunhado, Rômulo de Magalhães Pacheco, por meio de sua proximidade com o líder político local, José Monteiro Ribeiro Junqueira, conseguira sua nomeação para o cargo de diretor do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, primeiro grupo escolar, fundado em 1908, na cidade (Barbosa, 1983; Almeida, 2002), na esteira da construção da narrativa da “Atenas Mineira”. Além do cargo, o poeta continuou divulgando suas aulas particulares nos jornais leopoldinenses.
Sua nomeação para o cargo pelo governo do estado não foi de todo assentida. O editorial do jornal O Novo Movimento manifestou indignação com o fato de um residente do Rio de Janeiro assumir a direção do Grupo Escolar: “não podemos calar ante a clamorosa injustiça do governo, preferindo para nomeação um cidadão inteiramente alheio ao magistério mineiro” (O Novo Movimento apudNogueira, 2011, p. 51). Em defesa do poeta e como forma de prestar contas aos críticos de sua nomeação, a Gazeta Leopoldinense, coincidentemente fundada por José Monteiro Ribeiro Junqueira, que o indicara ao cargo, noticiava, pouco tempo depois, as melhorias pelas quais a escola passava sob a direção de Augusto dos Anjos (Botelho, 1963).
Augusto dos Anjos com as professoras do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira em Leopoldina em 1914
O tempo de Augusto dos Anjos em Leopoldina foi muito curto, precisamente cinco meses. Em 12 de novembro de 1914 o poeta faleceu, aos 30 anos, em razão de uma pneumonia, contraída por ocasião de um enterro que acompanhou debaixo de chuva, e que em aproximadamente 12 dias lhe corroeu os pulmões (Melo Filho, Pontes, 1994; Augusto dos Anjos…, 1984; Barbosa, 1983). Seu sepultamento aconteceu no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Leopoldina. A Gazeta de Leopoldina publicou um artigo de pesar (Augusto dos Anjos…, 1984), mas houve pouca repercussão de sua morte na imprensa do Rio de Janeiro (Barbosa, 1983). Sua família, esposa e seus dois filhos, Guilherme e Glória, nascidos no Rio de Janeiro, permaneceram residindo na cidade.
Ainda que breve, a estadia em Leopoldina, diferentemente das experiências na Paraíba e no Rio de Janeiro, parece ter sido um tempo de estabilidade para Augusto dos Anjos, como registrado em cartas a um amigo e à sua mãe. À mãe, Augusto dos Anjos não poupou elogios à Leopoldina: “é algo estupendo, maravilhoso, o próprio Nirvana” (Augusto dos Anjos…, 1984; Barbosa, 1983). Ao amigo, escreveu em 20 de setembro de 1914:
Apesar da monotonia desta cidade, tenho passado bem aqui, não somente sob o ponto de vista da saúde, como também sob o da chamada vida material, quero dizer, em condições melhores das que as que me infelicitavam dantes, obrigando-me ao Deus-dará das misericórdias alheias (Anjos apudLopes, 1984, p. 86).
A imortalização de Augusto dos Anjos
Dias depois de sua morte, o escritor e dramaturgo paraibano, Órris Soares, e o poeta mineiro, Heitor Lima caminhavam pela Avenida Central quando se encontraram com Olavo Bilac, que notou a tristeza dos dois amigos, que acabavam de receber a notícia.
- E quem é esse Augusto dos Anjos? - perguntou Bilac.
Diante do espanto de seus interlocutores, Bilac insistiu:
- Grande poeta? Não o conheço. Nunca ouvi falar nesse nome. Sabem alguma coisa dele?
Heitor Lima recitou o soneto “Versos a um coveiro”. Bilac ouviu pacientemente, sem interrompê-lo. E, depois que o amigo terminou o último verso, sentenciou com um sorriso de superioridade:
- Era esse o poeta? Ah, então, fez bem em morrer. Não se perdeu grande coisa (Barbosa, 1983, p. 68).
Augusto dos Anjos permaneceu ignorado ainda por um tempo, e a reação de Bilac é indicativa da recepção à sua poesia. Por iniciativa de seu amigo de juventude, Órris Soares, em 1920, a Imprensa Oficial da Paraíba publicou a segunda edição do Eu. A reedição pouco colaborou para divulgar sua poesia, embora Augusto dos Anjos tenha sido “descoberto” por modernistas, mas com menções pontuais4 (Barbosa, 1983; Augusto dos Anjos…, 1984).
Nesse cenário quando ainda sua poesia permanecia desconhecida, em 1925, foi fundado o Grêmio Lítero-artístico Augusto dos Anjos pelos alunos do Ginásio Leopoldinense, sob orientação do professor amazonense Júlio Ferreira Caboclo (Augusto dos Anjos…, 1984). Em entrevista concedida em 1984, por ocasião das comemorações, em Leopoldina, do centenário de nascimento de Augusto dos Anjos, o senhor Erymá Carneiro, que em 1925 fora um dos jovens estudantes fundadores do Grêmio, relata:
O Grêmio Lítero-artístico Augusto dos Anjos, de Leopoldina, foi a primeira positiva manifestação em honra do poeta do EU, que se transferira para Leopoldina, tendo morrido pouco depois, mas deixando em nossa cidade a marca de seu cérebro ciclópico, de sua poesia grandiosa. […]. Foi um movimento de jovens de 14 a 17 anos, estimulados pelo professor Júlio Ferreira Caboclo, um poeta amazonense, que viera para Leopoldina, aonde lecionava no Ginásio Leopoldinense, e que mais tarde acabou se casando com D. Ester, a viúva do poeta do EU (Augusto dos Anjos…, 1984, p. 11).
Lembra Erymá Carneiro que os estudantes tiveram o apoio de intelectuais locais, além da atuação decisiva do professor Júlio Ferreira Caboclo, e reitera o pioneirismo do Grêmio leopoldinense no reconhecimento de Augusto dos Anjos como um grande poeta.
A iniciativa dos moços de Leopoldina, há 60 anos passados, constitui a primeira manifestação pública acerca da poética do EU, pois fomos nós, os moços de 14 a 17 anos de então, sob a inspiração e direção do Professor Júlio Ferreira Caboclo, os primeiros a gritar, publicamente, a grandiosidade de sua poesia, até então quase desconhecida. […]. Foram “os meninos de Leopoldina” que levaram a efeito a primeira grande manifestação em honra de Augusto dos Anjos, dando partida para uma série de outras manifestações, inclusive no estado natal do poeta, pois fomos nós que demos partida à descoberta de um poeta que até então não havia recebido as homenagens que seu grande talento e sua estranha e maravilhosa poesia merecia (Augusto dos Anjos…, 1984, p. 11).
Surpreendentemente, a terceira edição do Eu, publicada em 1928 pela Livraria Castilho, do Rio de Janeiro, por iniciativa do próprio editor, foi um extraordinário sucesso editorial: 5.500 exemplares foram vendidos em menos de dois meses (Barbosa, 1983). A partir de então, sua obra seria continuamente reeditada.
De acordo com Rubert (2007), sua poesia enigmática é ainda hoje difícil de ser classificada, oscilando entre Simbolismo, Parnasianismo, Romantismo, Cientificismo, Modernismo e até Surrealismo. Para Lúcia Helena (1984), Augusto dos Anjos não apenas sintetiza a confluência de estilos da poesia brasileira que o antecedeu, como também antecipa a modernidade que o poeta não viria a conhecer. Ainda segundo a autora, Augusto dos Anjos existe “como uma aguda e dilemática consciência atenta às veredas do moderno” (Lúcia Helena, 1984, p. 18).
A recepção negativa inicial pela crítica no início do século XX, segundo Nazareth (2018), se deve, sobretudo, ao uso de vocábulos oriundos da ciência. Em seu estudo crítico, Augusto dos Anjos ou Vida e morte nordestina, Ferreira Gullar afirma que, como nenhum outro poeta brasileiro, Augusto dos Anjos não se rendeu aos recursos literários usuais e dessa forma aproximou sua poesia da vida concreta, vivida, sem qualquer preocupação em disfarçar seus aspectos reais com delicadezas. Para Gullar, o caráter realista da obra, o uso de um vocabulário feito de forma marcantemente moderna e o vislumbre intuitivo da situação social de então conferem à obra Eu “o caráter inovador de sua poesia oculto pela força mesma que a manteve viva até hoje. Noutras palavras: não foi a crítica que descobriu Augusto; foi Augusto que descobriu a crítica” (Gullar, 1994, p. 86).
Segundo Reis (2019), desde os anos de 1960, e sobretudo por ocasião das comemorações ao centenário de Augusto dos Anjos nos anos 1980, sucessivas edições e estudos críticos sobre o poeta marcam uma mudança significativa na recepção de sua obra. Antonio Arnoni Prado, Alexei Bueno, Afrânio Coutinho, Sônia Brayner, Otto Maria Carpeaux, Antônio Houaiss, Ferreira Gullar, M. Cavalcanti Proença, Francisco de Assis Barbosa, Gilberto Freyre, Anatol Rosenfeld lhe dedicaram estudos, notas, prefácios e posfácios. Nesse processo de valorização de sua poesia, é preciso mencionar também o interesse que o poeta passou a despertar no meio universitário, tornando-se objeto de estudos e pesquisas literárias.
Contudo, mesmo com o esforço intelectual, a poesia de Augusto dos Anjos continua sendo um desafio crítico. O sucesso editorial de Eu em 1928 é um fenômeno de difícil compreensão, até considerando que, apenas posteriormente foi acompanhado pelo sucesso de crítica (Portella, 1994).
M. Cavalcanti Proença foi um dos primeiros a postular, segundo Barbosa (1983), que o segredo do sucesso editorial de Eu residia na musicalidade dos versos. Acompanha-o outros críticos como Virginius da Gama e Melo e José Oiticica, reportados por Nêumanne (1984). Para Oiticica: “Seu verso era um martelo com que ele batia no próprio crânio, tirando sons estranhos, de um tom igual e percutido” (Oiticica apud Nêumanne, 1984, p. 55). Em outra vertente, Francisco de Assis Barbosa e José Américo de Almeida, segundo Nêumanne (1984) creditam o sucesso da obra Eu ao caráter de protesto contido em seus versos: “um grito em vez de um choro, bom para se declamar nas crises de espírito” (Almeida apud Nêumanne, 1984, p. 55).
Mas antes mesmo dessa recepção favorável tardia do poeta pelo público e pelo meio literário, Leopoldina inaugurou um processo de seu reconhecimento, com a criação, como vimos, do Grêmio Lítero-artístico, em 1925. Outras iniciativas se seguiram, como parte de um processo de reconhecimento e de apropriação do poeta pela cidade, no qual se institucionalizou a memória da presença de Augusto dos Anjos em Leopoldina, conferindo-lhe o sentido de uma tradição continuamente construída.
Reverenciando sua memória, no dia 27 de junho de 1953, foi criado por decreto do presidente Juscelino Kubitschek o Grupo Escolar Augusto dos Anjos, em Leopoldina. No cinquentenário de sua morte, em 1964, mediante subscrição pública, foi inaugurado o seu túmulo em Leopoldina, por meio da iniciativa do então secretário do Conselho Nacional de Cultura, Paschoal Carlos Magno. Sobre seu túmulo, encontra-se uma escultura de mármore, inspirada na mitologia grega, representando Calíope, a musa da poesia épica e da eloquência (Botelho, 1967).
A Paraíba tentou, por diversas vezes, remover os restos mortais do poeta. Após disputas entre Leopoldina e o governo da Paraíba, em 15 de setembro de 1977, os filhos de Augusto dos Anjos, Guilherme e Glória, registraram no Cartório do 15º Ofício do Rio de Janeiro documento proibindo a trasladação de seus restos mortais de Leopoldina para o seu estado natal. O documento torna público ser propósito irrevogável o não consentimento para que sejam trasladados do cemitério de Leopoldina os restos mortais do poeta (Augusto dos Anjos…, 1984; Almeida, 2002).
Quando questionado se haveria alguma relação entre a decisão da família e os desentendimentos entre Augusto dos Anjos e o governador da Paraíba, João Machado, Guilherme dos Anjos, em entrevista de 1984, afirmou que nenhum fato da vida passada influiu nos ânimos dos descendentes diretos do poeta, de forma que determinasse tal medida. Para o filho de Augusto dos Anjos, a única explicação diz respeito à “gratidão indestrutível dos filhos e da viúva do poeta em relação a Leopoldina, onde o poeta foi espetacularmente acolhido durante sua vida e após a sua morte; esse acolhimento continuou no apoio a viúva e seus filhos”5 (Augusto dos Anjos…, 1984, p. 25).
Em 21 de abril de 1983, foi inaugurado, na casa em que residiu o poeta em Leopoldina, o Espaço dos Anjos, por iniciativa do artista plástico leopoldinense Luiz Raphael Domingues Rosa, que ali mantinha seu ateliê, curso de desenho e pintura, além de um museu sobre a história da cidade que incluía o legado de Augusto dos Anjos. Um ano depois, em 1984, foi comemorado, em Leopoldina, o centenário de nascimento do poeta, com solenidades e homenagens diante de seu túmulo, realização de um ciclo de palestras e estudos sobre Augusto dos Anjos e descerramento de uma placa comemorativa do centenário que contou com o apoio da Secretaria de Cultura de Minas Gerais (Augusto dos Anjos…, 1984).
Com a morte de Luiz Raphael em 2007, o Espaço dos Anjos tornou-se Museu Espaço dos Anjos, inaugurado em 2012, pela Prefeitura de Leopoldina, que passou a se encarregar do acervo do poeta que havia sido reunido pelo artista plástico. Desde 1990 é realizada anualmente, em Leopoldina, a Semana Cultural Augusto dos Anjos, e, desde 1992, a cidade promove também anualmente o Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos. Em 2014, foi celebrado, em Leopoldina, por meio de várias solenidades e homenagens, o centenário da morte de Augusto dos Anjos.
Todas essas iniciativas podem ser analisadas como um esforço de apropriação pela cidade de Augusto dos Anjos. O Grêmio, as celebrações, o túmulo e o museu constituem lugares de memória, no sentido consagrado por Nora (1993), e como tais forjam a interiorização e a transmissão do legado do poeta, transformando-o em patrimônio local. A apropriação, como analisa Batista (2018), torna um objeto do mundo - material ou simbólico - próximo de si. O mesmo processo no qual o objeto é tomado, moldado e ajustado a si, também enseja a construção do sujeito, numa relação dialética: “o sujeito, face ao objeto, desenvolve habilidades para construir suas representações do mundo, e por meio dessas construções simbólicas, o objeto adquire significados que expressam e produzem a subjetividade do sujeito” (Batista, 2018, p. 229). A apropriação implica, portanto, processos ativos de construção de identificações e de relações de pertencimento.
Parece inequívoco para uma cidade que se identifica como a “Atenas Mineira” tomar para si a simbologia de um poeta morto e enterrado em seu solo. Se Leopoldina não foi o lugar de nascimento ou de atuação de Augusto dos Anjos, as cartas que envia ao amigo e à mãe sugerem que, apesar de sua breve residência, foi o lugar de sua eleição. Em Leopoldina o poeta buscou, como nota Hamil Adum (1954), uma vida mais digna e onde também encontrou sua morte. Sua passagem pela cidade foi o bastante para que a “Atenas Mineira” materializasse, em repetidas ações, os marcos de imortalização do poeta, estabelecendo e simbolizando “a coesão social ou as condições de admissão de um grupo ou de comunidades reais ou artificiais” (Hobsbawn, Ranger, 1997, p. 17). A apropriação de Augusto dos Anjos permitiu que o passado de Leopoldina fosse associado ao universo intelectual e literário representado pelo personagem, tornando-se um dos elementos-chaves na construção e manutenção do imaginário urbano da “Atenas Mineira”. E como toda tradição inventada utiliza história não apenas como legitimadora das ações, mas também como cimento da coesão grupal (Hobsbawn, Ranger, 1997), é possível afirmar que Augusto dos Anjos em Leopoldina constitui um dos pontos memoriais de convergência de valores partilhados pela comunidade local.
Considerações finais
A ida de Augusto dos Anjos para Leopoldina não foi um mero acaso. O principal responsável pela nomeação do poeta, o político local José Monteiro Ribeiro Junqueira,6 era o maior interessado na construção da narrativa da “Atenas Mineira”, já que ele era o fundador do Ginásio Leopoldinense e o patrono do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira. Ter um poeta como diretor do Grupo Escolar, certamente, contribuiria para a construção dessa narrativa. Por mais que Augusto dos Anjos não tivesse encontrado no Rio de Janeiro o reconhecimento que esperava, o fato de ser “doutor”, de ter lançado um livro que gerou comentários, e de conseguir fazer circular suas poesias em jornais, credenciou-o como personagem que aglutinava valores emblemáticos à narrativa urbana. Afinal, “de maneira geral, na virada do século, as letras representavam importantes bens simbólicos” (Abreu, 1996, p. 137).
Se o imaginário da “Atenas Mineira” foi decisivo para o acolhimento em vida de Augusto dos Anjos, também o foi para a recepção póstuma de sua poesia. Exatamente por se projetar como centro intelectual e cultural, a poesia de Augusto dos Anjos pôde encontrar terreno fértil, em Leopoldina, para germinar. Inegavelmente, “a cidade considerou-o logo uma das glórias do seu patrimônio intelectual” (Botelho, 1963, p. 73). O que merece ser analisado é se a formação de um público leitor de Augusto dos Anjos, em Leopoldina, sobretudo por meio do Grêmio, exerceu algum impacto no processo de reconhecimento de Augusto dos Anjos, no meio literário. O fenômeno editorial do livro Eu, no Rio de Janeiro, em 1928, teria sido, pelo menos em parte, resultado de sua recepção em Leopoldina?
Não há evidências que possam provar, mas é possível algumas inferências, e, como afirma Dosse, “a imaginação é explicitamente requerida para compensar as insuficiências documentais e o resgate impossível do passado” (Dosse, 2009, p. 69). Havia uma intensa circularidade dos alunos do Ginásio Leopoldinense, tanto de estudantes que vinham a Leopoldina de diversas regiões do país quanto daqueles egressos que seguiam para universidades do Rio de Janeiro.
Segundo Nogueira (2011), dos alunos que frequentaram o curso preparatório no Ginásio Leopoldinense, até 1913, a maioria seguiu para a faculdade: dos 62 formandos, 59 ingressaram no ensino superior. De acordo com o Livro estatístico do Ginásio Leopoldinense, que cobre o período que vai de 1906 a 1922, dos alunos que na instituição estudaram, o total de 394 completaram, entre 1909 e 1922, todos os preparatórios para matrícula nos cursos superiores de medicina, direito, engenharia, agronomia, veterinária, farmácia, odontologia e cursos militares.
Em virtude do Decreto n. 11.895, de 14 de janeiro de 1916, que concedia bancas examinadoras de preparatórios aos colégios particulares que satisfizessem determinadas condições, o Ginásio Leopoldinense obteve do Conselho Superior do Ensino bancas anuais, entre 1916 e 1922, para seus alunos do curso secundário, como consta no seu Livro estatístico, que registra dados do período de 1906-1922. As bancas examinadoras possibilitavam aos alunos do Ginásio Leopoldinense prestarem, no próprio estabelecimento, todos os seus preparatórios, válidos para matrículas em qualquer instituição de ensino superior do país.
Os dados mostram uma alta taxa de aprovação dos alunos do Ginásio Leopoldinense, como podemos observar no Quadro 1.
Resumo dos resultados dos exames de preparatórios prestados perante as bancas examinadoras concedidas pelo Conselho Superior do Ensino (1916-1922)
Como podemos observar, não era pouco significativo o contingente de alunos preparados no Ginásio Leopoldinense para a entrada na universidade, e a proximidade de Leopoldina com o Rio de Janeiro tornava suas universidades um destino natural. Clóvis Salgado, em entrevista realizada em 1976, em que explica o motivo pelo qual realizou seus estudos de medicina no Rio de Janeiro, nos dá um testemunho desse trânsito de estudantes leopoldinenses na então capital do país:
Naquele tempo, Belo Horizonte era de acesso difícil para quem morava, como eu, na Zona da Mata. O Rio era muito mais perto, o Rio ficava a 200 km de Leopoldina. Agora que é relativamente fácil, mas naquele tempo era difícil. Então, a escolha do Rio era natural. E, por outro lado, a escola do Rio era considerada a melhor de todas, naquele tempo. De modo que havia uma atração natural por ela (Salgado, 2007, p. 29).
Conforme atesta Botelho, no início dos anos de 1960, em qualquer estado do país, ainda eram encontrados, em plena atividade, médicos, advogados, professores, banqueiros, cientistas, industriais, ou seja, homens que triunfaram na vida e que iniciaram seus estudos no tradicional Ginásio Leopoldinense (Botelho, 1963). Alguns anos depois, o mesmo autor relatava o recebimento de um cartão enviado para ele por um ex-aluno do Ginásio Leopoldinense, o paraibano João Lyra Filho, à época ministro do Tribunal de Contas do Estado da Guanabara, membro da Academia Carioca de Letras, presidente da Confederação Nacional de Desportos e que fora reitor da Universidade do Estado da Guanabara. Importa mencionar o fato porque, no cartão, João Lyra Filho faz menção a Augusto dos Anjos: “Já lhe ia cobrar uma satisfação relativa ao registro da idade que tinha Augusto dos Anjos ao morrer; mas a correção me veio em tempo” (Lyra Filho, 1963 apud Botelho, 1967, p. 120).
Como João Lyra Filho, quantos outros egressos da rede de ensino de Leopoldina, integrantes ou não do Grêmio, se tornaram leitores e posteriormente divulgadores da obra de Augusto dos Anjos, no meio universitário e em outros círculos intelectuais? Não seria de todo equivocado considerar que a “Atenas Mineira”, com seu Ginásio e o seu Grêmio Literário, possa ter irradiado Augusto dos Anjos para além de suas fronteiras. Ao se compreender o lugar de Leopoldina no cenário sociocultural, político e econômico de Minas Gerais, no início do século XX, parece razoável identificar o papel seminal da cidade no reconhecimento da poesia de Augusto dos Anjos. Algo comumente ignorado ou não considerado pela historiografia do poeta.
Fica uma questão importante para futuras pesquisas, que é compreender em que medida a apropriação de Augusto dos Anjos ultrapassa os círculos das elites política, econômica e cultural leopoldinenses. As outras iniciativas que se somaram à criação do Grêmio - visitas ao túmulo do poeta, comemorações de seu nascimento e morte, e, sobretudo, a criação de um espaço museal na casa onde residiu em Leopoldina - ao celebrarem a memória do poeta, com força vinculativa ao ambiente local, ampliaram socialmente a apropriação de sua poesia?
Foulon e Preti lembram que os museus-casa de personagens ilustres mantêm relações identitárias com o ambiente onde se encontram e tendem a reivindicar para si o valor da autenticidade: “antes, e para além de toda a retórica nacionalista [...] frequentemente as casas de ilustres tornam-se a bandeira de ‘pequenas pátrias’ em luta pela defesa de suas razões particulares contra aquelas da nação” (Foulon, Preti, 2019, s.p., tradução livre). Embora não estejamos diante de um quadro antagônico em relação à nação, é certo que a produção da imagem da “Atenas Mineira”, do ponto de vista identitário, confere distinção e desenha a “pequena pátria” leopoldinense.
Também como nos processos identitários das nações, a literatura vem se mostrando um alicerce simbólico importante no âmbito das “pequenas pátrias”. O número de casas-museu de escritores espalhados por cidades em todo mundo é uma prova disso. Para além da eficácia, muitas vezes turística, das conexões entre cidades e seus escritores, haveria convergência entre a consagração e popularização de escritores e suas obras nessas iniciativas? Qual o alcance efetivo, do ponto de vista social, das performances que, entre a consagração e popularização, operam discursos e práticas de preservação da memória de Augusto dos Anjos e de sua obra, ainda hoje insólita?7
Referências
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» http://journals.openedition.org/culturemusees/6572
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1
Deste total, 15.253 eram africanos e seus descendentes escravizados. Este número coloca Leopoldina entre as cidades com o maior número de escravizados em toda a Zona da Mata mineira (Nogueira, 2011).
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2
A Escola Superior de Odontologia foi extinta em 1921 e a de Farmácia em 1929 (Centenário…, 1954).
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3
Augusto dos Anjos planejava viajar ao Rio de Janeiro, onde se ocuparia da publicação de seu livro de poesias e tentaria um emprego público. Pleiteou ao governador um afastamento do Liceu, com a manutenção das garantias do cargo, caso precisasse retornar se não fosse bem sucedido em seu projeto literário. Como era funcionário interino, teve seu pedido indeferido, razão pela qual se desentendeu com o governador.
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4
Pouco antes, em 1917, saiu no Almanaque do Estado da Paraíba um artigo sobre o poeta com autoria de José Américo de Almeida (Augusto dos Anjos…, 1984).
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5
Como consta no Livro Estatístico do Ginásio Leopoldinense (1906-1922), Esther Fialho dos Anjos fazia parte do corpo docente da Escola Normal da instituição, em efetivo exercício, entre os anos de 1916 e 1922.
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6
José Monteiro Ribeiro Junqueira foi vereador, secretário de Estado da Agricultura, deputado estadual, deputado federal, senador e ministro da Agricultura no governo de Washington Luís, em 1926 (Almeida, 2002).
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7
Segundo Scibiorska, Labbé e Martens (2021, s.p., destaques no original) “Entre consécration et popularisation, la patrimonialisation de la littérature s’effectue par le biais d’un ensemble de discours, d’images et de formes médiatiques qui opèrent une thésaurisation, des sélections et des classements à l’attention des générations actuelles et futures, tout en présentant bien souvent ces opérations performatives comme le simple enregistrement de ce qui résiste à l’épreuve du temps”
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Dez 2023 -
Data do Fascículo
Sep-Dec 2023
Histórico
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Recebido
10 Out 2022 -
Aceito
03 Fev 2023