Resumo
O objetivo do estudo é identificar na literatura a relação entre a logística humanitária e a evolução da pandemia de COVID-19. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura (RIL), com busca nas bases de dados SCOPUS, MEDLINE e ENEGEP, de abril e maio de 2022. Um total de 61 artigos foram avaliados conforme os critérios estabelecidos: artigo original ou de revisão de literatura publicado em revista científica; resumo e texto completo disponível; artigo com objeto de investigação sobre a logística humanitária em relação à pandemia de COVID-19. Foram selecionadas 11 publicações, organizadas e analisadas por meio de matriz de síntese. Das publicações, 72% foram em periódicos internacionais, e majoritariamente no ano de 2021 (56%). A presença da cadeia de suprimentos tem determinado a dinâmica de setores econômicos e sociais, estabelecendo, por meio de um olhar interdisciplinar, as operações humanitárias frente à pandemia de COVID-19. Constatou-se escassez de estudos que analisam a logística humanitária com o intuito de amenizar os impactos causados por esses desastres, tanto no contexto da atual pandemia como em eventos futuros da mesma natureza. Contudo, o caráter mundialmente emergencial sugere a necessidade de fortalecer o conhecimento científico acerca da temática da logística humanitária relacionada a eventos de desastres.
Palavras-chave: Logística humanitária; COVID-19; Desastres
Abstract
An integrative literature review (ILR) was conducted to identify the relationship between humanitarian logistics and the development of the COVID-19 pandemic based on research in the SCOPUS, MEDLINE and ENEGEP databases in April and May 2022. In all, 61 articles were evaluated according to the following criteria: original article or review of literature published in a scientific journal; abstract and full text available; article on humanitarian logistics in relation to the COVID-19 pandemic. The resulting sample comprised eleven publications organized and analyzed through a synthesis matrix, where 72% were published in international journals and mostly in 2021 (56%). The presence of the supply chain defines the course of action of economic and social sectors, which in turn determine, by means of an interdisciplinary approach, humanitarian operations in the face of the COVID-19 pandemic. The lack of studies narrows down humanitarian logistics to mitigate the impacts caused by these disasters, both in the context of the current pandemic and in future events of the same nature. However, as a global emergency, it suggests the need to increase scientific knowledge on the subject of humanitarian logistics related to disaster events.
Key words: Humanitarian logistics; COVID-19; disasters
Introdução
Logística humanitária (LH) é um ramo da logística que surgiu como vertente de conhecimento e pesquisa científica desde meados de 2002, para fornecer apoio a locais que necessitam de ajuda humanitária diante de casos de guerra, crises políticas, desastres naturais e outros acontecimentos que envolvam o contexto dos desastres. Assim, a LH é definida como um conjunto de planos e ações que visa salvar vidas e desenvolver estratégias para atender às demandas humanas e materiais por meio da disseminação de informações, aquisição, armazenamento, transporte e distribuição de insumos em situações de desastre¹.
De acordo com a Terminologia da Estratégia das Nações Unidas para a Redução de Desastres² (p. 11), desastre é a Interrupção do funcionamento de uma comunidade ou sociedade envolvendo perdas e impactos humanos, materiais, econômicos ou ambientais generalizados, que excede a capacidade da comunidade ou sociedade afetada de lidar com seus próprios recursos.
Os desastres são grandes desafios para a saúde pública e, entre suas tipologias, podem ser considerados: tecnológicos (relacionados a acidentes de trabalho, transportes...) ou naturais (climatológicos, meteorológicos, geofísicos, biológicos e hidrológicos), diferindo-se por suas características de intensidade, evolução e origem1,2.
Sendo assim, incluem-se as crises emergenciais com impactos significativos à saúde pública, atualmente representada pela pandemia COVID-19, que instala a necessidade de se pensar a catástrofe humanitária em sua complexidade de respostas locais, orgânicas e participativas³.
Percebe-se que a dinâmica sociopolítica atual traz as discussões sobre o tema para um nível elevado de preocupação diante das consequências e prejuízos causados por eventos de desastres naturais. Além disso, a intensa publicidade que esse tipo de ocorrência atrai exige providências para mitigar os danos causados.
No Brasil, especificamente, a maior incidência de desastres é relacionada a ações climáticas e reflexos antropogênicos, causados direta ou indiretamente pelo homem. Porém, ainda que menos comum, as pandemias e epidemias têm uma maior complexidade de acompanhamento, devido às incertezas, instabilidades e lacunas, dificultando uma resposta precisa e eficaz previamente planejada.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) ressaltou a ocorrência de eventos de pneumonia em Wuhan, China, em dezembro de 20194. O vírus SARS-CoV-2, identificado no país asiático, causa uma infecção viral significativa, que é transmitida por gotículas respiratórias. Devido à alta incidência e à elevada taxa de disseminação de casos, a OMS declarou a ocorrência de situação pandêmica em 11 de março de 20205,6. A propagação do vírus em escala mundial evoluiu de forma que os números chegaram a 496 milhões de casos confirmados e 6 milhões de mortes em abril de 20225.
A sintomatologia da doença, identificada e constatada, transcorre desde casos assintomáticos a outros que manifestam comprometimento respiratório de forma leve, moderado ou crítico7. Nesse sentido, a ocorrência de crise sanitária é determinada pela dinâmica da evolução da doença manifestada e, consequentemente, por sua dispersão geográfica. Ao considerarem o impacto das doenças infecciosas, especificamente, porque o mundo ainda está lidando com a pandemia de COVID-19, para além da deficiência de estudos, os que se tem ainda estão em andamento e não estão totalmente articulados em reflexões de médio e longo prazo, o que aumenta o grau de incerteza quanto às medidas de prognósticos, prevenção, profilaxia e possibilidades no tratamento do agravo. Essa conjunção de aspectos cria uma mobilização massiva e sustentada de recursos em todo o mundo por meio de sua influência e impacto na vida dos seres vivos8,9.
Os estudos realizados10 mostram que a LH ganhou mais destaque com a pandemia de COVID-19, por ser responsável por responder às interrupções de fornecimento nos fluxos das cadeias globais de suprimentos e fazer “interface” junto às mesmas.
A classificação de desastres tem características e apresentações distintas, que desencadeiam consequências globais, gerando quadros de escassez de suprimentos e assistência humanitária11, evidenciando a necessidade de expandir conceitos e a discussão a respeito de operações humanitárias e de logística em cenários de crises de saúde pública em contextos de pandemias12.
Da mesma maneira, em desastres naturais, a logística humanitária apresenta ligação significativa devido ao impacto expressivo nas pessoas, bens e serviços, resultando em emergência ou crise, tanto em âmbito humanitário como na interrupção da cadeia de suprimentos global13. Entretanto, independentemente do tipo desastre ou agravo, as organizações de logística humanitária não podem deixar de funcionar sob rede local ou mundial.
Nesse sentido, estudos com foco nos contextos pandêmicos passaram a ter maior visibilidade desde 2015, com aumento significativo depois de 2020. O mundo é confrontado todos os dias com novos surtos de doenças até então desconhecidas, com efeitos devastadores e não detectados nas dinâmicas sociais, econômicas, humanas e de saúde14.
A crescente intensidade dos desastres em todo o mundo nas últimas décadas é refletida pela urbanização, por contrastes políticos e preocupações ambientais, que incidem nas vulnerabilidades da população e nos riscos decorrentes15. Assim, não apenas a probabilidade de ocorrência de desastres, mas a possibilidade de ocorrência, torna necessário o desenvolvimento de um sistema que auxilie tanto no reconhecimento do evento como na transmissão e nas repercussões dele decorrentes. Frente a isso, questiona-se: como a literatura internacional relaciona a logística humanitária ao contexto da pandemia de COVID-19?
No Brasil, o tema é recente e tanto quanto limitado16, sobretudo na região Norte do país, onde não foram encontrados estudos relacionados. Logo, o presente artigo visa contribuir com o ramo das pesquisas de LH, com um olhar direcionado à saúde, devido à necessidade de aprofundamento e busca de respostas para os questionamentos das implicações do “presente” e do futuro a respeito da temática, de modo a minimizar os impactos no transcorrer da pandemia de COVID-19 ou outras que venham a ocorrer. Diante desse contexto, o objetivo do estudo foi identificar na literatura internacional a relação entre a logística humanitária e a evolução da pandemia de COVID-19.
Metodologia
De acordo com Vosgerau e Romanowski17 (p. 167), “os estudos de revisão consistem em organizar, esclarecer e resumir as principais obras existentes, bem como fornece completas citações abrangendo o espectro de literatura relevante na área”. Por meio de revisão bibliográfica, a análise e síntese do conhecimento produzido sobre determinado tema parte de uma questão-chave de pesquisa e busca identificar estudos que, utilizando fontes primárias, respondam à questão colocada pelo pesquisador17,18.
Para realizar a revisão integrativa, segue-se protocolos específicos de modo a organizar uma gama de documentos e analisá-los no contexto em questão, necessitando de etapas definidas, como: 1) identificação do tema e seleção da questão de pesquisa, 2) estabelecimento dos critérios de exclusão e inclusão, 3) identificação dos estudos pré-selecionados, 4) categorização dos estudos selecionados e 5) apresentação síntese do conhecimento19.
Neste estudo, a revisão foi baseada em artigos localizados em bases de dados como PubMed e SCOPUS -, dada a representatividade do banco de dados de resumos e citações na literatura revisada por pares, via portal Capes (acesso CAFe), e a relevância do portal frente às pesquisas no país, por meio de formulário avançado de busca - e ENEGEP, mediante a expressividade na área em foco. Foram realizadas buscas nos portais Web of Science e LILACS, mas não foram localizados artigos com a temática selecionada.
Esta pesquisa foi pautada na interseção entre logística humanitária e a pandemia da COVID-19. Adotou-se como estratégia de busca descritores controlados e não controlados (termos livres), nos idiomas português e inglês. Os descritores exatos foram localizados nos sistemas de vocabulário controlado: Medical Subject Headings (MeSH), termos em inglês; e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Nesse sentido, foram definidas as estratégias de busca com a elaboração do filtro temático pelos termos em português e em inglês: 1) “Logística humanitária” e “covid 19”. 2) “Humanitarian Logistics” and “Covid-19” ou “SARS CoV 2 Infection”. A coleta de dados pelas buscas de referências, ocorreu entre março e abril de 2022. Quanto à produção dos dados, foi estabelecida a definição dos seguintes critérios de inclusão para a seleção dos artigos: 1) ser artigo original ou de revisão de literatura publicado em revista científica; 2) ter resumo e texto completo disponíveis; 3) ter como objeto de investigação a logística humanitária em relação à pandemia do COVID-19. E como critérios de exclusão foram adotados os seguintes contrapontos: 1) produções que não contemplaram a relação da temática; 2) produções em formato de editorial, resenha, relato de experiência e análise textual sem detalhamento do método.
Resultados
A busca resultou em 61 produções, destas, 41 permaneceram após a leitura do título e resumo. Quatro foram excluídas por repetição e seis por não contemplarem os demais critérios de inclusão. Sendo então, após revisão por pares (duplo-cego), a amostra final contemplada por 11 artigos científicos (Figura 1).
Fluxograma de informações com as diferentes fases da revisão integrativa de literatura, PRISMA, 2022.
Para a organização da revisão e a construção da base de dadosfoi criada uma planilha, como proposta na Matriz de Síntese18, usando o software Microsoft Excel, versão 2019.
A partir da leitura dos estudos selecionados para a amostra, foram identificados dados que fornecem um perfil bibliométrico da amostra, apresentado em síntese no Quadro 1.
Três periódicos surgiram nos resultados dessa revisão. Na SCOPUS, encontra-se o maior número de artigos, 63,63% (n = 7), seguida da ENEGEP, com 27,27% (n = 3), e PubMed, 9,09% (n =1). Desses 72,72% (n = 8), foram publicados em periódicos internacionais (36,36% no Journal of Humanitarian Logistics and Supply Chain Management; 27,27% no Annals of Operations Research; e 9,09% no Frontiers in Public Health) e 27,27% (n = 3) foram publicados em periódicos nacionais.
Os resultados deste estudo revelaram que 54,54% (n = 6) da amostra correspondem ao ano de 2021, seguido de 27,27% (n = 3) e 18,18% (n = 2) para o ano de 2022. Quanto à metodologia do estudo, 66,63% (n = 6) dos artigos estavam em alguma categoria de revisão, 18,18% (n = 2) eram estudos de caso e 9,09% (n = 1) eram estudos de campo e pesquisas exploratórias. Os estudos qualitativos são os mais frequentes para investigar uma área até então pouco estudada, com o número de revisões de literatura justificado pelo movimento da segunda fase da pandemia de COVID-19.
Discussão
A logística humanitária é considerada uma disciplina “nova” por falta de pesquisas anteriores ao ano 2000, e recentemente tem sido destacada e documentada em diversos trabalhos acadêmicos. Os desastres constantes focam na melhoria da infraestrutura de aclimatação e resposta na área afetada, bem como na assistência à população atingida20.
As duas décadas seguintes contribuirão para a expansão desse campo de estudo, estimulando a produção científica e ampliando o campo da logística em decorrência da pandemia de COVID-19. Nesse segmento existem propostas para analisar os impactos ou o risco do desenvolvimento dos desastres, entretanto é notória a abrangência e intencionalidade das pesquisas na relação dos desastres e a logística humanitária, que se intensificaram especialmente nos últimos três anos.
No Quadro 2 é apresentada uma síntese dos objetivos, das limitações do estudo e das conclusões dos artigos publicados. Os estudos foram conduzidos por meio de projetos que desenvolvem uma relação com a cadeia de suprimentos existentes que abastecem os setores sociais e econômicos. O objetivo desta revisão foi explorar os vários aspectos da logística humanitária e a gestão da cadeia de suprimentos, como conceitos, gerenciamento, contribuições e perspectivas resilientes para a execução de operações humanitárias diante da tomada de decisões, das possibilidades políticas e das relações interorganizacionais.
Por conseguinte, desafios no campo dos processos logísticos ainda precisam ser superados, diante das lacunas para uma implementação da logística humanitária eficaz, associada à infraestrutura, às centrais de assistência, à distribuição de recursos e à coordenação de processos humanos e logísticos relacionados com a cadeia de suprimentos.
Como desastre natural de fator biológico, a disseminação da doença e o aumento de óbitos, associados com a precariedade da saúde pública, aspectos sociais e econômicos, acometeu diversos segmentos no mundo todo, requerendo assim a intervenção e operacionalização da logística humanitária na busca de minimizar os danos causados, seja de suprimentos, seja de serviços básicos e hospitalares21.
A amostra da pesquisa evidenciou como principais considerações uma carência de estudos correlacionando logística humanitária, cadeia de suprimentos e pandemia de COVID-19. Especificamente quando se tratavam de estudos envolvendo métodos de aplicação prática e ferramentas para análise de danos, ou a necessidade de se estabelecer agendas de pesquisa para projetos futuros. No Quadro 3, é apresentada uma análise em termos do escopo de estudo dos artigos selecionados e os insights referidos pelos autores nas propostas de agenda de pesquisa.
Evidencia-se também que a saúde coletiva precisa passar de um setor de gestão de saúde reativo para um desenvolvimento de gerenciamento logístico de serviços, prestando não apenas suporte assistencial propriamente dito aos pacientes, mas também aos elementos que são reflexos de um episódio de desastre (antes, durante e depois), de modo a atender às necessidades globais da população22.
A atenção básica (AB) é essencial nesse contexto e se estabelece como elemento estratégico nas primeiras fases de resposta na gestão de risco de desastres, por isso a relevância do setor para a saúde, pois existe uma complexidade na atenção primária no cenário de desastres por reflexos de fatores que determinam e condicionam a saúde da população23,24. Porém, o estudo24 relacionou o impacto dos desastres no campo da saúde pública mundialmente e já evidenciava (antes da pandemia de COVID-19) o baixo desempenho e capacidade de resposta da atenção básica para lidar com esses eventos.
Em outro segmento da saúde pública, destacaram a importância dos hospitais de campanha como resposta emergencial21. Reforça a necessidade de investimentos no contexto hospitalar/saúde, que perpassa desde a elaboração de diagnósticos direcionados, planos de capacitação e educação permanente dos profissionais, até protocolos de atendimentos e fluxos de serviços, avaliação dos recursos humanos, materiais e tecnológicos, suporte psicológico para os profissionais e desenvolvimento de competências avançadas frente ao contexto de desastres e gerenciamento de riscos25.
A Agenda de Saúde Sustentável para as Américas (2018-2030) desenvolve o compromisso de trabalhar com os desafios emergentes de saúde pública atrelados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) por meio de planos estratégicos e políticas de acesso aos serviços de saúde.
Nos estudos26, destacou-se a necessidade de adoção de medidas específicas para caracterização de diferentes desastres, tendo em vista as pesquisas que demonstram o quanto os desastres epidemiológicos de origem natural arruinaram mais do que guerras. Nesse sentido, a reprodução generalizada da logística perde sua eficiência. Por exemplo, populações com maior vulnerabilidade são mais acometidas, logo necessitam de um melhor padrão de resposta22,27, afinal o reconhecimento do “beneficiário” emerge como ferramenta e subterfúgio para lidar com a diversidade, haja vista que um dos objetivos do ODS é a igualdade de acesso por parte das populações que demandam os serviços de saúde. Pesquisadores ressaltam em seus estudos que a desigualdade social é um fator potencializador para a ocorrência e/ou agravamento de desastres28.
Foram identificados pontos de interesse que reafirmam a necessidade da interdisciplinaridade como componente-chave para uma boa gestão de recursos humanos e resultados. Assim, a colaboração compartilhada de setores e áreas de conhecimento é a estratégia que tem se destacado na evolução da logística humanitária, pautada por vertentes de múltiplas áreas de conhecimento. Seja pela adoção de recursos, suprimentos, materiais e financeiros, não apenas como resposta dos estados, seja pela participação de ONG’s, instituições privadas e órgãos internacionais21.
A resposta dos setores envolvidos não se faz isoladamente, e sim pelo envolvimento e relação entre estudos cruzados e discussão de conceitos com um olhar mais transversal, contribuindo no processo de gerenciamento das operações, mobilização de órgãos, poder público, políticas, recursos e prestação de serviços21,22.
Na literatura científica pesquisada, observou-se que a logística humanitária ainda é uma temática repleta de lacunas. É notória a limitação na literatura a respeito do assunto, com pesquisadores emergindo nesse ramo de estudo, em que, apesar da crescente e notória internacionalização dos dados levantados, evidenciou-se a inserção de pesquisadores brasileiros. A ausência de uma rede de partilha mais coesa, possibilitando uma produção de conhecimento, pode tender a certa fragilização26,29.
Da amostra da pesquisa, as limitações dos estudos muitas vezes estavam relacionadas à prevalência da metodologia e à duração da pesquisa, pois a maioria dos dados (amostrais) era proveniente de dados secundários coletados durante a pandemia de COVID-19. Inclusive a não contabilização do impacto direto na saúde pública e seus vínculos com populações vulneráveis.
Entretanto, as revisões sistemáticas surgem como um começo para o direcionamento de pesquisas futuras, por meio do reconhecimento das principais implicações teóricas e propostas de agendas de pesquisa construídas pelo agrupamento de dados encontrados nos estudos até então produzidos.
Conclusão
Uma revisão sistemática da literatura tem como objetivo avaliar, sintetizar as informações e analisar prospecções futuras. Nesse sentido, o presente trabalho propôs levantar e apresentar o que a comunidade científica tem trabalhado no ramo da LH, por meio do subterfúgio inicial de minimizar os impactos dos desastres naturais, em especial da COVID-19, solidificando um acúmulo de capital científico e contribuindo para o preenchimento de lacunas de pesquisa, por meio de interlocução das agendas de pesquisas emergentes e propostas pela literatura frente à evolução da pandemia e seus impactos para a vida humana.
Em um contexto de desastres é primordial conhecer o modelo de estrutura humanitária utilizado para subsidiar estratégias em períodos epidêmicos, com base no apoio que a estrutura da logística humanitária pode dar à saúde pública. Sendo assim, o cenário da pandemia de COVID-19, de caráter mundialmente emergencial, tem destacado sua relevância e produção científica, para facilitar ou instruir medidas eficientes e mais assertivas na logística humanitária.
Desse modo, entre as contribuições do presente trabalho, destaca-se a apresentação de pesquisas para futuras investigações e sistematização da literatura relacionada à interação entre logística humanitária e COVID-19, não só no Brasil, mas em escala global, diante de seus desafios e oportunidades, observando a evolução, o impacto e a contribuição da LH em meio a esses cenários de crises e desastres, sobretudo no Brasil.
A pesquisa apresentou limitações quanto à escassez de pesquisas sobre os efeitos da pandemia na saúde/logística humanitária e poucas possibilidades de comparações de pesquisas. Outra limitação diz respeito à consulta utilizada para a realização das pesquisas e a escolha das palavras-chave, pois podem ter sido uma barreira de exploração de outros temas, bem como a transcorrência do marco pandêmico em concomitância ao estudo.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
06 Mar 2023 -
Data do Fascículo
Mar 2023
Histórico
-
Recebido
20 Jul 2022 -
Aceito
28 Set 2022 -
Publicado
30 Set 2022