Resumo
A percepção negativa da imagem corporal está relacionada à piora da saúde física e mental. Estudo transversal objetivou descrever a relação entre imagem corporal e fatores demográficos, socioeconômicos e comportamentais nos estudantes do nono ano de 25 escolas municipais de ensino fundamental em Pelotas, Rio Grande do Sul. Participaram 810 estudantes (85% dos elegíveis), de 13 a 22 anos (média de 14,9 anos). Dados foram coletados mediante questionário padronizado e pré-codificado e a relação entre o desfecho (estar satisfeito, indiferente ou insatisfeito em relação à imagem corporal), e variáveis independentes, foi analisada por Regressão Logística Multinomial. Prevalência de insatisfação corporal de 31%, maior entre as meninas que experimentaram fumo ou álcool, sofreram bullying, se percebiam como gordas ou magras e tentavam perder ou ganhar peso. Maior indiferença nas que atribuíram pouca ou nenhuma importância à imagem. Nos meninos, mais chances de insatisfação entre os que experimentaram fumo, sofreram bullying, atribuíram pouca ou nenhuma importância à imagem, se percebiam gordos e tentavam ganhar peso. Maior indiferença nos meninos que atribuíram pouca importância à imagem e estavam obesos. Cerca de um terço da amostra apresentou insatisfação, que esteve associada a alguns fatores comportamentais.
Palavras-chave:
Insatisfação corporal; Estudantes; Estado nutricional
Abstract
A negative perception of body image is related to worsening of physical and mental health. This cross-sectional study sought to describe the relationship between body image and demographic, socioeconomic and behavioral factors in ninth grade students from 25 municipal elementary schools in Pelotas, Rio Grande do Sul. A total of 810 students participated (85% of those eligible), aged 13 to 22 years (mean age 14.9 years). Data were collected through a standardized and pre-coded questionnaire and the relationship between the outcome (satisfied/indifferent or dissatisfied with body image), and independent variables were analyzed using Multinomial Logistic Regression. The prevalence of body dissatisfaction of 31%, higher among girls who tried smoking or alcohol, suffered bullying, perceived themselves as fat/thin and tried to lose/gain weight. There was greater indifference among those who attributed little or no importance to image. In boys, there was a higher incidence of dissatisfaction among those who tried smoking, suffered bullying, gave little/no importance to image, saw themselves as fat and tried to gain weight. There was greater indifference in boys who attributed little importance to image and were obese. A third of the sample were dissatisfied, which was associated with various behavioral factors.
Key words:
Body dissatisfaction; Students; Nutritional status
Introdução
A construção psicológica da percepção do indivíduo em relação ao seu corpo como um todo ou partes dele pode ser definida como imagem corporal11 Fantineli ER, Silva MP, Campos JG, Malta Neto NA, Pacífico AB, Campos W. Body image among adolescents: the association between nutritional status and physical activity. Cien Saude Colet 2020; 25(10):3989-4000.,22 Sánchez-Castillo S, López-Sánchez GF, Ahmed MDD, Díaz-Suárez A. Imagen corporal y obesidad mediante las Siluetas de Stunkard en niños y adolescentes indios de 8 a 15 años. Cuad Psicol Deport 2020; 19(1):19-31.. O construto de imagem corporal pode ser dividido em perceptivo (julgamento de tamanho e forma corporal) e atitudinal (abrangendo o comportamental, cognitivo e afetivo)33 Cash TF, Pruzinsky T. Body image: A handbook of theory, research and clinical practice. New York: The Guilford Press; 2002., podendo sofrer influência do ambiente, relações sociais, características físicas e também da construção pela mídia de corpos ideais musculosos para homens e magérrimos para mulheres22 Sánchez-Castillo S, López-Sánchez GF, Ahmed MDD, Díaz-Suárez A. Imagen corporal y obesidad mediante las Siluetas de Stunkard en niños y adolescentes indios de 8 a 15 años. Cuad Psicol Deport 2020; 19(1):19-31.,44 García Fernández DA, Gastélum Cuadras G, Barron Luján JC, Guedea Delgado JC, Lugo Parra R. Percepción de la imagen corporal en preadolescentes escolares del norte de México: género y nivel socioeconómico. Rev Cien Act Fisica 2019; 20(1):1-12.. Quando essa autoavaliação acontece de forma negativa, ou quando há discrepância entre a forma corporal autorreferida atual e a forma considerada ideal pelo indivíduo, pode ser caracterizada como insatisfação corporal55 Bucchianeri MM, Fernandes N, Loth K, Hannan PJ, Eisenberg ME, Neumark-Sztainer D. Body dissatisfaction: Do associations with disordered eating and psychological well-being differ across race/ethnicity in adolescent girls and boys? Cult Divers Ethn Minor Psychol 2016; 22(1):137-146.,66 Wang Y, Lynne SD, Witherspoon D, Black MM. Longitudinal bidirectional relations between body dissatisfaction and depressive symptoms among Black adolescents: A crosslagged panel analysis. PLoS One 2020; 15(1):e0228585..
Nessa perspectiva, avaliar a percepção da imagem corporal na adolescência, período de transição entre a infância e a vida adulta, fase em que ocorrem grandes modificações psicológicas, físicas, afetivas e sociais, que se estenderão e impactarão na vida adulta, mostra-se relevante11 Fantineli ER, Silva MP, Campos JG, Malta Neto NA, Pacífico AB, Campos W. Body image among adolescents: the association between nutritional status and physical activity. Cien Saude Colet 2020; 25(10):3989-4000.,77 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Proteger e cuidar da saúde de adolescentes na atenção básica. 2ª ed. Brasília: MS; 2018.. Além disso, nessa fase o indivíduo tende a se comparar com pessoas de seus grupos de amigos, podendo essa comparação contribuir para a percepção negativa da imagem corporal88 Pereira PML, Oliveira ME, Carmo CC, Fontes VS, Silva RMSO, Pereira Netto M, Candido APC. Assossiation of nutritional status and sexual maturation with dissatisfaction with body image. Demetra (Rio J) 2020; 15(1):42737.,99 Uchôa FNM, Uchôa NM, Daniele TMC, Lustosa RP, Garrido ND, Deana NF, Aranha ACM, Alves N. Influence of the Mass Media and Body Dissatisfaction on the Risk in Adolescents of Developing Eating Disorders. Int J Environ Res Public Health 2019; 16(9):1508., e essa insatisfação aumentar o risco de baixa-estima, transtornos depressivos e alimentares e comportamentos de risco entre adolescentes insatisfeitos55 Bucchianeri MM, Fernandes N, Loth K, Hannan PJ, Eisenberg ME, Neumark-Sztainer D. Body dissatisfaction: Do associations with disordered eating and psychological well-being differ across race/ethnicity in adolescent girls and boys? Cult Divers Ethn Minor Psychol 2016; 22(1):137-146..
Em uma revisão sistemática e meta-análise incluindo estudos nacionais e estrangeiros que investigaram satisfação com a imagem corporal entre adolescentes, a maioria de base escolar, foi identificada uma prevalência de insatisfação corporal variando de 32,2% a 83,0%, com média ponderada de 60,8%. Menor variação entre os estudos brasileiros: de 56,5% a 67,6%1010 Côrtes MG, Meireles AL, Friche AAL, Caiaffa WT, Xavier CC. O uso de escalas de silhuetas na avaliação da satisfação corporal de adolescentes: revisão sistemática da literatura. Cad Saude Publica 2013; 29(3):427-444..
Dados da última Pesquisa Nacional da Saúde do Escolar (PeNSE) de 2019, com estudantes de 13 a 17 anos, mostram mais da metade dos estudantes satisfeitos com a sua imagem corporal (66,5%). Em relação à de 2015, houve uma redução de 5,2% de satisfação e aumento de 16,2% na prevalência de insatisfação corporal1111 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2019. Rio de Janeiro: IBGE; 2021..
Diversos fatores têm sido associados à imagem corporal, estando frequentemente às meninas mais insatisfeitas e desejando corpos menores, enquanto os meninos insatisfeitos por desejarem corpos maiores55 Bucchianeri MM, Fernandes N, Loth K, Hannan PJ, Eisenberg ME, Neumark-Sztainer D. Body dissatisfaction: Do associations with disordered eating and psychological well-being differ across race/ethnicity in adolescent girls and boys? Cult Divers Ethn Minor Psychol 2016; 22(1):137-146., ainda, indivíduos de maior nível socioeconômico, com cor da pele branca, filhos de mães com menor escolaridade relatam maior insatisfação44 García Fernández DA, Gastélum Cuadras G, Barron Luján JC, Guedea Delgado JC, Lugo Parra R. Percepción de la imagen corporal en preadolescentes escolares del norte de México: género y nivel socioeconómico. Rev Cien Act Fisica 2019; 20(1):1-12.,1212 Evangelista LA, Aerts D, Alves GG, Palazzo L, Câmara S, Jacob MH. Body image perception in scholars of a school in the Brazilian north region. J Hum Growth Dev 2016; 26(3):385-392.,1313 Zanolli NMBC, Cândido APC, Oliveira RMS, Mendes LL, Pereira Netto M, Souza AIS. Fatores associados à insatisfação corporal de crianças e adolescentes de escola pública em município da Zona da Mata mineira. Rev APS 2019; 22(1):106-118.. Frequentemente, estudantes de maior nível socioeconômico mostram-se insatisfeitos pelo excesso de peso, relacionando o corpo magro à melhor condição de saúde e maior sucesso pessoal e profissional44 García Fernández DA, Gastélum Cuadras G, Barron Luján JC, Guedea Delgado JC, Lugo Parra R. Percepción de la imagen corporal en preadolescentes escolares del norte de México: género y nivel socioeconómico. Rev Cien Act Fisica 2019; 20(1):1-12.. Contudo, a baixa escolaridade materna pode ser fator de risco para hábitos inadequados de vida, impactando no crescimento e desenvolvimento saudável dos filhos1313 Zanolli NMBC, Cândido APC, Oliveira RMS, Mendes LL, Pereira Netto M, Souza AIS. Fatores associados à insatisfação corporal de crianças e adolescentes de escola pública em município da Zona da Mata mineira. Rev APS 2019; 22(1):106-118..
Também costumam ser mais insatisfeitos aqueles que utilizaram álcool ou fumo alguma vez na vida1414 Martini MCS, Assumpção D, Barros MBA, Canesqui AM, Barros Filho AA. Are normal-weight adolescents satisfied with their weight? Sao Paulo Med J 2016; 134(3):219-227.,1515 Duarte L, Fujimori E, Borges AL, Kurihayashi A, Steen M, Roman Lay A. Body Weight Dissatisfaction Is Associated with Cardiovascular Health-Risk Behaviors among Brazilian Adolescents: Findings from a National Survey. Int J Environ Res Public Health 2020; 17(23):8929., que sofreram bullying1616 Soares LC, Batista RFL, Cardoso VC, Simões VMF, Santos AM, Coelho SJDDAC, Silva AAM. Body image dissatisfaction and symptoms of depression disorder in adolescents. Braz J Med Biol Res 2020; 54(1):e10397. ou se percebiam acima do peso1717 Madalosso MM, Schaan B, Cureau FV. Association between body weight perception and quality of diet in brazilian adolescents. Rev Paul Pediatr 2020; 38:e2020057.. Ainda, os adolescentes que têm um padrão alimentar saudável costumam ser mais satisfeitos1818 Matias TS, Lopes MVV, Mello GT, Silva KS. Clustering of obesogenic behaviors and association with body image among Brazilian adolescents in the national school-based health survey (PeNSE 2015). Prev Med Reports 2019; 16:101000., enquanto aqueles que já fizeram dieta, usaram remédios, pularam refeições ou outros métodos não saudáveis de perda de peso referiram maior insatisfação55 Bucchianeri MM, Fernandes N, Loth K, Hannan PJ, Eisenberg ME, Neumark-Sztainer D. Body dissatisfaction: Do associations with disordered eating and psychological well-being differ across race/ethnicity in adolescent girls and boys? Cult Divers Ethn Minor Psychol 2016; 22(1):137-146.,1919 Dion J, Blackburn ME, Auclair J, Laberge L, Veillette S, Gaudreault M, Vachon P, Perron M, Touchette É. Development and aetiology of body dissatisfaction in adolescent boys and girls. Int J Adolesc Youth 2015; 20(2):151-166.. Estudantes com baixo rendimento escolar além de apresentarem maior risco para sobrepeso e baixa motivação, também tendem a ser mais insatisfeitos, sugerindo que o aumento da atividade física nesse grupo possa melhorar a satisfação com o corpo e consequentemente o desempenho escolar2020 Nunes LC, Neves D, Teodósio GF, Floriano PM, Lara S. Perfil de estudantes dos anos iniciais com baixo rendimento escolar: importância da educação física na escola. R Bras Ci Mov 2014; 22(2):36-46.
Entretanto, outro estudo mostrou que adolescentes fisicamente ativos costumavam ser mais insatisfeitos, apresentando comportamentos de aumento de atividade física e restrições alimentares, mas com tendências obsessivas1919 Dion J, Blackburn ME, Auclair J, Laberge L, Veillette S, Gaudreault M, Vachon P, Perron M, Touchette É. Development and aetiology of body dissatisfaction in adolescent boys and girls. Int J Adolesc Youth 2015; 20(2):151-166.. Fato preocupante, pois esses comportamentos provavelmente ocorrem sem orientação de profissionais, caracterizando comportamentos de risco na busca por mudança na imagem corporal. Ainda que maiores prevalências de insatisfação com a imagem corporal sejam identificadas em indivíduos com excesso de peso, essa prevalência também é considerável entre estudantes eutróficos1414 Martini MCS, Assumpção D, Barros MBA, Canesqui AM, Barros Filho AA. Are normal-weight adolescents satisfied with their weight? Sao Paulo Med J 2016; 134(3):219-227.,1616 Soares LC, Batista RFL, Cardoso VC, Simões VMF, Santos AM, Coelho SJDDAC, Silva AAM. Body image dissatisfaction and symptoms of depression disorder in adolescents. Braz J Med Biol Res 2020; 54(1):e10397.. Por fim, já existem evidências de que principalmente em indivíduos com excesso de peso, a insatisfação corporal pode ser fator de risco para sintomas depressivos66 Wang Y, Lynne SD, Witherspoon D, Black MM. Longitudinal bidirectional relations between body dissatisfaction and depressive symptoms among Black adolescents: A crosslagged panel analysis. PLoS One 2020; 15(1):e0228585.,2121 Cecon RS, Franceschini SCC, Peluzio MCG, Hermsdorff HHM, Priore SE. Overweight and Body Image Perception in Adolescents with Triage of Eating Disorders. ScientificWorldJournal 2017; 2017:8257329..
Considerando o impacto da percepção negativa da imagem corporal à saúde física e mental e a existência de poucos estudos realizados sobre o tema com amostra representativa de estudantes de um município do Sul do Brasil, o presente estudo tem por objetivo descrever a relação com a imagem corporal e fatores que possam influenciá-la entre estudantes do nono ano da rede municipal na zona urbana de Pelotas, possibilitando o desenvolvimento de ações educativas em relação aos fatores modificáveis, visando a promoção de saúde e prevenção de doenças nessa população.
Metodologia
Delineamento e população do estudo
Estudo transversal realizado no ano letivo de 2019, com alunos matriculados no nono ano, nos turnos matutino e vespertino, nas escolas municipais de ensino fundamental completo da zona urbana de Pelotas, no Rio Grande do Sul, vinculadas ao Programa Saúde na Escola (PSE). O PSE foi criado em 2007, pelo governo federal, permitindo a integração de políticas de saúde e educação visando, mediante práticas de promoção à saúde realizadas nas escolas, o enfrentamento das vulnerabilidades e melhoria da qualidade de vida de crianças, jovens e adultos da educação pública brasileira2222 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Instrutivo PSE. Brasília: MS; 2011..
No período do estudo, a zona urbana do município contava com 40 escolas municipais de ensino fundamental (EMEF), cujo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) teve uma média de 4,72323 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Índice de Desenvolvimento da Educação Básica [Internet]. [acessado 2022 jan 13]. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/ideb/resultados.
https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-a...
, das quais 30 ofertavam o ensino fundamental completo - sendo 25 vinculadas ao PSE. Optou-se por iniciar a coleta de dados nas escolas vinculadas ao PSE visto que esses alunos tinham o termo de autorização de participação no Programa de Prevenção de Doenças e Promoção da Saúde, permitindo sua avaliação antropométrica. Dada a suspensão das atividades em virtude da pandemia de COVID-19, as outras cinco escolas não foram incluídas. Conforme a Secretaria Municipal de Educação e Desporto (SMED) de Pelotas, em 2019, as referidas escolas ofereciam ensino fundamental para 11.658 estudantes, sendo elegíveis os 951 matriculados no nono ano.
A escolha por estudantes do nono ano embasou-se no fato de ser a menor escolaridade necessária para o entendimento e melhor preenchimento do questionário autoaplicável, além da proximidade da faixa etária de referência preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 13 a 15 anos para a realização de inquéritos de saúde com adolescentes2424 Oliveira MM, Campos MO, Andreazzi MAR, Malta DC. Características da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar - PeNSE. Epidemiol Serv Saude 2017; 26(3):605-616.. Foram incluídos no estudo os estudantes do nono ano durante o ano letivo de 2019 e que estavam presentes nos dias de aplicação do questionário. Foram critérios de exclusão apresentar incapacidade física ou mental que impedisse de preencher o instrumento autoaplicável, e no caso da avaliação antropométrica, aqueles que não conseguiram ficar na posição ereta na aferição do peso e/ou altura. Foram consideradas perdas os estudantes que não estavam presentes na escola após três tentativas em dias e horários diferentes (107 estudantes).
Instrumentos
As variáveis de interesse do estudo foram obtidas mediante questionário elaborado pela equipe coordenadora do projeto com base no questionário utilizado na PeNSE de 20152525 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Rio de Janeiro: IBGE; 2016.. O questionário foi composto por 139 questões, dividido em blocos: informações gerais, alimentação, atividade física, fumo, bebida alcoólica, imagem corporal, sentimentos, segurança, alimentação na escola, atividades diárias, lazer e deslocamento, e retenção escolar. O preenchimento foi feito pelos estudantes, em sala de aula, após apresentação do trabalho por acadêmicos do Curso de Nutrição que realizavam a leitura do instrumento juntamente com a turma, ficando à disposição para o esclarecimento de dúvidas e minimizar conversas paralelas durante o preenchimento.
As medidas antropométricas (peso e altura) para a avaliação do estado nutricional também foram aferidas por acadêmicos previamente treinados e padronizados, em local reservado, nas dependências da escola, de acordo com as recomendações da OMS2626 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para coleta e análise de dados antropométriocos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN. Brasília: MS; 2011.. Informações necessárias para a avaliação nutricional, como sexo e data de nascimento foram fornecidas pelas escolas, e quando ausentes, observadas/questionadas aos alunos no momento da avaliação.
Para a aferição do peso foram utilizadas balanças da marca Tanita® com capacidade de 150 kg e precisão de 100 gramas. Já para a aferição da altura, foi utilizada uma fita métrica fixada com fita adesiva transparente em uma parede lisa e sem rodapés, e um esquadro de madeira para a leitura da medida. Ambas as medidas foram aferidas duas vezes, havendo diferença maior que 7 mm entre as medidas de altura, foi tomada uma terceira medida e para as análises utilizada a média entre as duas medidas mais concordantes.
Variável dependente
A relação com a imagem corporal foi avaliada a partir da questão “Como tu te sentes em relação ao teu corpo?”, com opções de resposta em escala Likert (muito satisfeito, satisfeito, indiferente, insatisfeito ou muito insatisfeito). No questionário, essa pergunta fazia parte do bloco intitulado IMAGEM CORPORAL. Na identificação de poucos respondentes nas categorias “muito satisfeito” e “muito insatisfeito”, essas foram agrupadas às categorias “satisfeito” e “insatisfeito”, respectivamente, sendo para fins de análise a variável estudada em três categorias: satisfeito, insatisfeito ou indiferente. No mesmo sentido, algumas das variáveis independentes também foram reagrupadas.
Variáveis independentes
As variáveis demográficas utilizadas foram: sexo (masculino ou feminino); cor da pele (amarela, branca, indígena, parda ou preta), idade (13 a 15 ou ≥16 anos). Quanto ao nível socioeconômico utilizou-se a escolaridade materna (≤8, 9 a 12 anos ou ≥13 anos completos de estudo - reagrupada em ≤8 e ≥9 anos completos de estudo) e o nível econômico em tercis calculados através de análise de componentes principais (ACP)2727 Barros AJD, Victora CG. Indicador econômico para o Brasil baseado no censo demográfico de 2000. Rev Saude Publica 2005; 39(4):523-529., fazendo parte do primeiro tercil os estudantes mais pobres e do último tercil os mais ricos. Para a ACP utilizou-se as seguintes informações: presença de telefone fixo, celular, computador, internet, carro, motocicleta, presença de empregada doméstica (com opções de resposta não ou sim) e número de banheiros na residência.
Em relação ao comportamento, investigou-se o consumo da alimentação ofertada pela escola na última semana (“Nos últimos sete dias em quantos tu comeste a alimentação oferecida pela escola?” - 0 a 5 dias, reagrupada em ≤3 ou ≥4 dias); participação nas aulas de educação física (“Nos últimos sete dias, quantos dias tiveste aula de educação física na escola?” - 0 a 5 dias, reagrupada em ≤1 ou ≥2 dias); o bullying (“Tu já sofreu bullying alguma vez?” - não ou sim); retenção escolar (“Tu repetiste de ano alguma vez?” - não ou sim); e a experimentação de tabaco e álcool (“Alguma vez na vida tu fumaste, mesmo que uma ou duas tragadas?” e “Alguma vez na vida tu experimentaste bebida alcoólica?” - não ou sim).
Ainda, procurou-se identificar qual seria a importância dada pelo estudante à imagem corporal (“Tu consideras a tua imagem como sendo algo...” - muito importante, importante, pouco importante ou sem importância); a percepção corporal (“Quanto ao teu corpo tu te consideras?” - muito magro, magro, normal, gordo ou muito gordo, agrupada em magro, normal ou gordo); e as atitudes em relação ao peso (“O que tu estás fazendo em relação ao teu peso?” - nada, tentando ganhar ou manter ou perder peso).
Os dados antropométricos foram inseridos no software AnthroPlus para a avaliação do estado nutricional, a partir do índice de massa corporal (IMC) para idade em Escore-Z, de acordo com as curvas de crescimento para crianças e adolescentes de 5 a 19 anos, sendo classificados da seguinte forma: magreza acentuada (IMC/idade <-3 Escore-Z), magreza (IMC/idade ≥-3 e <-2 Escore-Z), eutrofia (IMC/idade ≥-2 e <1 Escore-Z), sobrepeso (IMC/idade ≥1 e <2 Escore-Z), obesidade (IMC/idade ≥2 e <3 Escore-Z) e obesidade grave (IMC/idade ≥3 Escore-Z)2828 World Health Organization (WHO). Growth reference data for 5-19 years 2007 [Internet]. [cited 2022 jan 13]. Available from: http://www.who.int/growthref/en/.
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Para os estudantes adultos o IMC foi obtido da seguinte forma: peso/altura², e classificado de acordo com os pontos de corte para a população adulta em: baixo peso (IMC<18,5 kg/m²), eutrofia (IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m²), sobrepeso (IMC entre 25 e 29,9 kg/m²), obesidade grau I (IMC entre 30 e 34,9 kg/m²), obesidade grau II (IMC entre 35 e 39,9 kg/m²) e obesidade grau III (IMC>40 kg/m²)2626 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para coleta e análise de dados antropométriocos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional - SISVAN. Brasília: MS; 2011.. Para as análises estatísticas as categorias foram reagrupadas em baixo peso/eutrofia, sobrepeso ou obesidade.
Digitação de dados e análises estatísticas
Os dados foram duplamente digitados por pessoas diferentes no programa Epidata 3.1 para a verificação de possíveis inconsistências. As análises estatísticas foram realizadas no software Stata 13.0. Inicialmente foi realizada a caracterização da população do estudo, apresentando para as variáveis categóricas as proporções e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%), e a distribuição do desfecho de acordo com as variáveis independentes a partir do teste de Qui-quadrado de Pearson. Ao final, foi testada a associação bruta e ajustada para potenciais fatores de confusão mediante Regressão Logística Multinomial com o desfecho em três categorias (satisfeito, insatisfeito ou indiferente), sendo “satisfeito” a categoria de referência. O ajuste foi considerado a partir de um modelo conceitual em três níveis hierárquicos2929 Victora CG, Huttly SR, Fuchs SC, Olinto MT. The role of conceptual frameworks in epidemiological analysis: A hierarchical approach. Int J Epidemiol 1997; 32(1):43-49., estando no primeiro nível as variáveis demográficas e socioeconômicas (sexo, idade, cor da pele, nível socioeconômico e escolaridade materna), no nível intermediário as variáveis comportamentais (consumo da alimentação da escola, participação na educação física, retenção escolar e experimentação de fumo e álcool), as variáveis relacionadas diretamente à imagem corporal, incluídas no último nível (bullying, percepção corporal, importância da imagem, atitudes em relação ao peso e estado nutricional). A significância estatística foi avaliada através do teste de heterogeneidade de Wald e mantidas no modelo as variáveis com valor p<0,20. Os resultados são apresentados na forma de razão de odds (RO) e seus respectivos IC95%. Para todas as análises foi considerado um nível de significância de 5%.
Aspectos éticos
Para a realização do estudo foi solicitada a autorização da Secretaria Municipal de Educação e Desporto e o consentimento da escola pelos diretores. O consentimento para o preenchimento dos questionários se deu mediante Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos responsáveis ou no caso de estudantes maiores de 18 anos, pelo próprio estudante. Ainda, no momento da entrevista foi solicitado o assentimento verbal após leitura do Termo de Assentimento Livre e Esclarecido. Para aferição de peso e altura já existia a autorização prévia dos responsáveis devido à participação nos Programas de Prevenção de Doenças e Promoção da Saúde, considerando ser atividade prevista pelo PSE. O projeto foi encaminhado à Plataforma Brasil para apreciação ética, visando o cumprimento das diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos3030 Brasil. Ministério da Saúde (MS). Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 dezembro de 2012. Aprova diretrizes e norrmas regulamentadoras de pesquisas evolvendo seres humanos. Diário Oficial da União 2012; 12 dez.,3131 Conselho Federal de Nutricionistas (CFN). Resolução CFN no 599, de 25 de fevereiro de 2018. Aprova o Código de Ética e Conduta do Nutricionista e dá outras providências. Diário Oficial da União 2018; 4 abr. e aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia da Universidade Federal de Pelotas (nº 2.843.572/2018).
Resultados
Dos 951 estudantes elegíveis, 810 aceitaram participar do estudo (85,1%; 11,3% de perdas e 3,6% de recusas). A maioria dos participantes era do sexo feminino (51,6%), com idade entre 13 e 15 anos (80,2%), cor da pele branca (61,2%), pertencentes ao 3º tercil de renda (34,1%) e filhos de mães com 9 a 12 anos de escolaridade (27,4%). A maior parte dos estudantes referiu ter: participado das aulas de educação física de um a três dias (88,6%), consumido a alimentação ofertada pela escola quatro ou mais dias (38,1%), além de nunca ter reprovado (69,5%). Ainda, 73,6% e 18,3%, dos entrevistados afirmaram ter experimentado álcool e fumo pelo menos uma vez na vida, respectivamente (Tabela 1).
Cerc a de um terço dos estudantes estavam insatisfeitos (30,8%), e pouco mais de um terço consideraram a própria imagem importante (39,3%), perceberam seu corpo como normal (43,4%) e não estavam realizando nenhuma estratégia em relação ao seu peso (42,5%), embora a maioria tenha sofrido bullying alguma vez (70,6%). Referente ao estado nutricional, 35,4% dos estudantes apresentaram excesso de peso (Tabela 1).
A Tabela 2 descreve a distribuição da variável dependente entre as variáveis independentes de interesse do estudo, onde pode ser observada maior prevalência de insatisfação com a imagem corporal entre os estudantes do sexo feminino (40,2%) e maior indiferença no sexo masculino (17,0%, p<0,001). Quanto aos hábitos comportamentais estiveram mais insatisfeitos aqueles que já haviam experimentado álcool (35,8%) ou fumo (48,9%), enquanto entre os indiferentes a maior proporção referiu nunca ter experimentado fumo (14,9%) nem álcool (15,9%; p<0,001).
Também foram mais insatisfeitos (51,5%) e mais indiferentes em relação à imagem (25,2%), no momento do estudo, aqueles que não atribuíram nenhuma importância à imagem corporal (p<0,001), se perceberam como gordos (58,7% insatisfeitos e 18,5% indiferentes), estavam tentando perder peso (49,0% insatisfeitos e 18,9% indiferentes, p<0,001) e que sofreram bullying (39,0% insatisfeitos e 15,4% indiferentes; p<0,001). Estudantes com sobrepeso (41,6%, p<0,001) se disseram mais insatisfeitos e aqueles classificados como obesos se disseram indiferentes em relação à imagem corporal (33,0%, p<0,001).
Na Tabela 3, pode ser observada a associação bruta e ajustada entre a imagem corporal e as variáveis independentes do estudo. Comparando ao grupo satisfeito, após ajuste para potenciais fatores de confusão, foi observada maior chance de insatisfação com a imagem corporal entre as meninas que já haviam experimentado fumo (RO: 2,1; IC95%: 1,1-4,0) ou álcool (RO: 3,6; IC95%: 1,5-8,4) e que já haviam sofrido bullying (RO 4,2; IC95%: 1,7-10,4). Também tiveram mais chance de estar insatisfeitas aquelas que se percebiam gordas (RO: 8,2; IC95%: 3,5-19,3) ou que se percebiam magras (RO: 3,3; IC95%: 1,3-8,8) e que estavam tentando perder (RO: 3,7; IC95%: 1,6-8,6) ou ganhar peso (RO: 3,7; IC95%: 1,4-9,9), em relação às que não estavam tendo nenhuma atitude. Tiveram mais chance de estar indiferentes em relação à sua imagem as estudantes que atribuíram pouca (RO: 20,3; IC95%: 2,2-191,3) ou nenhuma (RO: 82,9; IC95%: 6,6-1040,18) importância à sua imagem. Entre os meninos, as maiores chances de estar insatisfeitos estiveram naqueles que já haviam experimentado fumo (RO: 2,8; IC95%: 1,1-6,9) e sofrido bullying (RO: 3,3; IC95%: 1,5-7,6). Em relação à sua imagem tiveram mais chance de estar insatisfeitos aqueles que atribuíram pouca (RO: 3,7; IC95%: 1,2-11,8) ou nenhuma importância (RO: 8,0; IC95%: 2,3-27,9), se percebiam gordos (RO: 18,8; IC95%: 5,5-64,5) e que tentavam ganhar peso (RO: 5,6; IC95% 2,0-15,9). Maiores chances de indiferença com a sua imagem entre os meninos que atribuíram pouca importância (RO: 2,9; IC95%: 1,1-8,1) e que estavam obesos (RO: 5,2; IC95%: 1,4-19,1).
Discussão
No presente estudo, um terço dos estudantes relatou insatisfação em relação à imagem corporal, com maior chance entre as meninas que já haviam experimentado álcool, sofrido bullying, tentavam ganhar ou perder peso e que se percebiam gordas. Tiveram mais chance de estar indiferentes em relação à imagem as meninas que atribuíram pouca ou nenhuma importância à sua imagem. Entre os meninos, mais chances de insatisfação naqueles que experimentaram fumo, se percebiam gordos, tentavam ganhar peso e que atribuíram pouca ou nenhuma importância à sua imagem. Ainda, os meninos obesos tiveram maior chance de indiferença sobre sua imagem.
Alguns estudos encontraram prevalências de insatisfação bastante elevadas em relação ao presente estudo, sendo as maiores em estudos brasileiros encontradas no Ceará (90,3%), Minas Gerais (86,5%) e São Paulo (80,1%)1313 Zanolli NMBC, Cândido APC, Oliveira RMS, Mendes LL, Pereira Netto M, Souza AIS. Fatores associados à insatisfação corporal de crianças e adolescentes de escola pública em município da Zona da Mata mineira. Rev APS 2019; 22(1):106-118.,3232 Sousa MRM, Rodrigues PAS, Rodrigues IP, Silva ACF. Avaliação da percepção da imagem corporal em adolescentes de uma escola pública estadual no município de Fortaleza-Ceará. Rev Bras Obesidade Nutr Emagrecimento 2020; 14(87):571-577.,3333 Leal GVS, Philippi ST, Alvarenga MS. Unhealthy weight control behaviors, disordered eating, and body image dissatisfaction in adolescents from São Paulo, Brazil. Braz J Psychiatry 2020; 42(3):264-270. e as menores na Bahia (19,5%) e no estudo nacional PeNSE de 2015, no qual o percentual se aproxima do presente estudo (28,0%)3434 Matias TS, Silva KS, Duca GF Del, Bertuol C, Lopes MVV, Nahas MV. Attitudes towards body weight dissatisfaction associated with adolescents perceived health and sleep (PeNSE 2015). Cien Saude Colet 2020; 25(4):1483-1490.,3535 Ribeiro-Silva RC, Fiaccone RL, Conceição-Machado MEP, Ruiz AS, Barreto ML, Santana MLP. Body image dissatisfaction and dietary patterns according to nutritional status in adolescents. J Pediatr 2018; 94(2):155-161.. No Rio Grande do Sul a prevalência de insatisfação corporal variou de 16,9%, entre estudantes da zona rural de Canguçu, Cerrito, São Lourenço do Sul, Piratini e Pelotas3636 Iepsen AM, Silva MC. Prevalência e fatores associados à insatisfação com a imagem corporal de adolescentes de escolas do Ensino Médio da zona rural da região sul do Rio Grande do Sul, 2012. Epidemiol Serv Saude 2014; 23(2):317-325. a 85% entre estudantes de escola privada no município de Três de Maio3737 Corseuil MW, Pelegrini A, Beck C, Petroski EL. Prevalência de insatisfação com a imagem corporal e sua associação com a inadequação nutricional em adolescentes. Rev Educ Física/UEM 2009; 20(1):25-31.. A alta amplitude encontrada entre os estudos pode ser atribuída aos diferentes instrumentos utilizados, o estudo relacionado à PeNSE trabalha com uma pergunta direta sobre a satisfação do indivíduo com o seu corpo, com cinco opções de resposta3434 Matias TS, Silva KS, Duca GF Del, Bertuol C, Lopes MVV, Nahas MV. Attitudes towards body weight dissatisfaction associated with adolescents perceived health and sleep (PeNSE 2015). Cien Saude Colet 2020; 25(4):1483-1490., sendo este também o critério utilizado pelo presente estudo, enquanto os quatro estudos com maiores prevalências foram realizados com escalas de silhuetas, classificando a satisfação dos participantes com sua imagem a partir da diferença entre a imagem relatada como atual e ideal1313 Zanolli NMBC, Cândido APC, Oliveira RMS, Mendes LL, Pereira Netto M, Souza AIS. Fatores associados à insatisfação corporal de crianças e adolescentes de escola pública em município da Zona da Mata mineira. Rev APS 2019; 22(1):106-118.,3232 Sousa MRM, Rodrigues PAS, Rodrigues IP, Silva ACF. Avaliação da percepção da imagem corporal em adolescentes de uma escola pública estadual no município de Fortaleza-Ceará. Rev Bras Obesidade Nutr Emagrecimento 2020; 14(87):571-577.,3333 Leal GVS, Philippi ST, Alvarenga MS. Unhealthy weight control behaviors, disordered eating, and body image dissatisfaction in adolescents from São Paulo, Brazil. Braz J Psychiatry 2020; 42(3):264-270.,3737 Corseuil MW, Pelegrini A, Beck C, Petroski EL. Prevalência de insatisfação com a imagem corporal e sua associação com a inadequação nutricional em adolescentes. Rev Educ Física/UEM 2009; 20(1):25-31. e os dois estudos com menores prevalências utilizaram instrumentos com vários questionamentos com respostas em escala Likert e gerando um escore, quanto maior a pontuação do indivíduo, maior a insatisfação3535 Ribeiro-Silva RC, Fiaccone RL, Conceição-Machado MEP, Ruiz AS, Barreto ML, Santana MLP. Body image dissatisfaction and dietary patterns according to nutritional status in adolescents. J Pediatr 2018; 94(2):155-161.,3636 Iepsen AM, Silva MC. Prevalência e fatores associados à insatisfação com a imagem corporal de adolescentes de escolas do Ensino Médio da zona rural da região sul do Rio Grande do Sul, 2012. Epidemiol Serv Saude 2014; 23(2):317-325.. Também devem ser consideradas as características de cada uma das populações estudadas, que podem impactar em maior ou menor satisfação com a imagem corporal, além do tamanho da amostra, considerando que a PeNSE foi realizada com estudantes de todos os estados do Brasil, enquanto os demais estudos com amostras menores e públicos específicos.
Ao avaliar alguns comportamentos descritos pelos estudantes, foi possível identificar maiores chances de insatisfação nos meninos que experimentaram fumo e nas meninas que experimentaram álcool. Estudos apontam maior prevalência de uso ou experimentação de fumo e álcool entre adolescentes insatisfeitos, principalmente naqueles insatisfeitos por excesso de peso1515 Duarte L, Fujimori E, Borges AL, Kurihayashi A, Steen M, Roman Lay A. Body Weight Dissatisfaction Is Associated with Cardiovascular Health-Risk Behaviors among Brazilian Adolescents: Findings from a National Survey. Int J Environ Res Public Health 2020; 17(23):8929.,3838 Carvalho GX, Nunes APN, Moraes CL, Veiga GV. Body image dissatisfaction and associated factors in adolescents. Cien Saude Colet 2020; 25(7):2769-2782.. Evidências sugerem que além da possibilidade do desenvolvimento desses comportamentos com o objetivo de aceitação em grupos ou comportar-se como a maioria, o relacionamento difícil com os pais pode explicar o uso de ambas as substâncias e, também, a insatisfação com o corpo1414 Martini MCS, Assumpção D, Barros MBA, Canesqui AM, Barros Filho AA. Are normal-weight adolescents satisfied with their weight? Sao Paulo Med J 2016; 134(3):219-227.,1515 Duarte L, Fujimori E, Borges AL, Kurihayashi A, Steen M, Roman Lay A. Body Weight Dissatisfaction Is Associated with Cardiovascular Health-Risk Behaviors among Brazilian Adolescents: Findings from a National Survey. Int J Environ Res Public Health 2020; 17(23):8929.. O fumo, também pode estar sendo utilizado como método de controle do peso, pois ao cessar o consumo existe a possibilidade de aumento do apetite e consequente ganho de peso1212 Evangelista LA, Aerts D, Alves GG, Palazzo L, Câmara S, Jacob MH. Body image perception in scholars of a school in the Brazilian north region. J Hum Growth Dev 2016; 26(3):385-392.,1515 Duarte L, Fujimori E, Borges AL, Kurihayashi A, Steen M, Roman Lay A. Body Weight Dissatisfaction Is Associated with Cardiovascular Health-Risk Behaviors among Brazilian Adolescents: Findings from a National Survey. Int J Environ Res Public Health 2020; 17(23):8929.,3838 Carvalho GX, Nunes APN, Moraes CL, Veiga GV. Body image dissatisfaction and associated factors in adolescents. Cien Saude Colet 2020; 25(7):2769-2782..
Maior insatisfação foi observada nas meninas que sofreram bullying alguma vez na vida. Estudos recentes, com população de faixa etária semelhante à do presente estudo, identificaram maior insatisfação corporal entre os estudantes expostos ao teasing - embora em termos diferentes, se refere a provocações sofridas em função de aparência ou comportamento diferente da maioria3838 Carvalho GX, Nunes APN, Moraes CL, Veiga GV. Body image dissatisfaction and associated factors in adolescents. Cien Saude Colet 2020; 25(7):2769-2782. -, enquanto nunca ter sofrido provocações sobre o corpo tem sido mais prevalente naqueles satisfeitos com o seu corpo1616 Soares LC, Batista RFL, Cardoso VC, Simões VMF, Santos AM, Coelho SJDDAC, Silva AAM. Body image dissatisfaction and symptoms of depression disorder in adolescents. Braz J Med Biol Res 2020; 54(1):e10397.. Os achados sugerem aceitação pelos estudantes de um padrão corporal colocado como ideal, havendo discriminação daqueles que não se encaixam nesse padrão. Cabe destacar que nas meninas, essa preocupação com a imagem ocorre de forma mais precoce, bem como as comparações com padrões de beleza impostos pela mídia99 Uchôa FNM, Uchôa NM, Daniele TMC, Lustosa RP, Garrido ND, Deana NF, Aranha ACM, Alves N. Influence of the Mass Media and Body Dissatisfaction on the Risk in Adolescents of Developing Eating Disorders. Int J Environ Res Public Health 2019; 16(9):1508.,3939 Pinho L, Brito MFSF, Silva RRV, Messias RB, Silva CSO, Barbosa DA, Caldeira AP. Perception of body image and nutritional status in adolescents of public schools. Rev Bras Enferm 2019; 72(Supl. 2):229-235., fazendo com que esse grupo seja mais suscetível às provocações sobre o corpo, o que provavelmente acontece com menor frequência entre os meninos. O bullying é considerado uma forma de violência que acontece principalmente em âmbito escolar, ainda que já existam outros meios, e entre as consequências está a perda do rendimento escolar por não se sentirem seguros no ambiente ou se sentirem excluídos dos grupos, além de poder desencadear sintomas depressivos1616 Soares LC, Batista RFL, Cardoso VC, Simões VMF, Santos AM, Coelho SJDDAC, Silva AAM. Body image dissatisfaction and symptoms of depression disorder in adolescents. Braz J Med Biol Res 2020; 54(1):e10397.,4040 Seo H-J, Jung Y-E, Kim M-D, Bahk W-M. Factors associated with bullying victimization among Korean adolescents. Neuropsychiatr Dis Treat 2017; 13:2429-2435..
Um crescente corpo de evidências sugere que a maior prevalência de insatisfação está entre aqueles que se percebem gordos, principalmente entre as meninas11 Fantineli ER, Silva MP, Campos JG, Malta Neto NA, Pacífico AB, Campos W. Body image among adolescents: the association between nutritional status and physical activity. Cien Saude Colet 2020; 25(10):3989-4000.,66 Wang Y, Lynne SD, Witherspoon D, Black MM. Longitudinal bidirectional relations between body dissatisfaction and depressive symptoms among Black adolescents: A crosslagged panel analysis. PLoS One 2020; 15(1):e0228585.,1717 Madalosso MM, Schaan B, Cureau FV. Association between body weight perception and quality of diet in brazilian adolescents. Rev Paul Pediatr 2020; 38:e2020057., corroborando os achados desse estudo. Estudos indicam que além de não se sentir bem com a aparência e se comparar com pessoas de suas relações, elas estão em uma fase em que a opinião dos grupos de amigos é muito importante, o que somado ao uso frequente de redes sociais, onde se comparam com padrões de beleza idealizados ali, contribui para que aquelas que não se enquadram nesse padrão se sintam insatisfeitas88 Pereira PML, Oliveira ME, Carmo CC, Fontes VS, Silva RMSO, Pereira Netto M, Candido APC. Assossiation of nutritional status and sexual maturation with dissatisfaction with body image. Demetra (Rio J) 2020; 15(1):42737.,99 Uchôa FNM, Uchôa NM, Daniele TMC, Lustosa RP, Garrido ND, Deana NF, Aranha ACM, Alves N. Influence of the Mass Media and Body Dissatisfaction on the Risk in Adolescents of Developing Eating Disorders. Int J Environ Res Public Health 2019; 16(9):1508.,4141 Vuong AT, Jarman HK, Doley JR, McLean SA. Social Media Use and Body Dissatisfaction in Adolescents: The Moderating Role of Thin- and Muscular-Ideal Internalisation. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(24):13222..
Referente às atitudes em relação ao peso, os meninos que tentavam ganhar peso estiveram mais insatisfeitos, entre as meninas ficaram distribuídas igualmente as chances de desejar perder e ganhar peso entre as insatisfeitas com a sua imagem. Embora frequentemente as meninas estejam mais insatisfeitas, alguns estudos mostram maior insatisfação entre os meninos, com o desejo de uma silhueta maior que a atual22 Sánchez-Castillo S, López-Sánchez GF, Ahmed MDD, Díaz-Suárez A. Imagen corporal y obesidad mediante las Siluetas de Stunkard en niños y adolescentes indios de 8 a 15 años. Cuad Psicol Deport 2020; 19(1):19-31.,3232 Sousa MRM, Rodrigues PAS, Rodrigues IP, Silva ACF. Avaliação da percepção da imagem corporal em adolescentes de uma escola pública estadual no município de Fortaleza-Ceará. Rev Bras Obesidade Nutr Emagrecimento 2020; 14(87):571-577.,4242 Leite ACB, Ferrazzi NB, Mezadri T, Höfelmann DA. Insatisfação corporal em escolares de uma cidade do Sul do Brasil. J Hum Growth Dev 2014; 24(1):54-61.. Esse desejo de ganhar peso ocorre no sentido de aumentar massa muscular, por aqueles que se consideram magros, já encontrado em outros estudos entre os indivíduos que selecionaram como ideal uma silhueta maior do que a escolhida como a imagem atual4343 Claumann GS, Laus MF, Felden ÉPG, Silva DAS, Pelegrini A. Associação entre insatisfação com a imagem corporal e aptidão física relacionada à saúde em adolescentes. Cien Saude Colet 2019; 24(4):1299-1308.,4444 Lee CY, Yusof HM, Zakaria NS. Knowledge, attitude and behaviours related to weight control and body-image perceptions among Chinese high school students. Malaysian J Med Sci 2019; 26(5):122-131..
Ainda que o principal problema em questão seja a insatisfação com a imagem corporal, foi identificado um percentual de estudantes que se definiu como indiferente (15,0%), podendo ser considerado expressivo em uma população em idade característica de busca pela própria identidade onde há uma maior valorização da imagem e comparação com outras pessoas ou padrões vigentes88 Pereira PML, Oliveira ME, Carmo CC, Fontes VS, Silva RMSO, Pereira Netto M, Candido APC. Assossiation of nutritional status and sexual maturation with dissatisfaction with body image. Demetra (Rio J) 2020; 15(1):42737.,4545 Niswah I, Rah JH, Roshita A. The Association of Body Image Perception With Dietary and Physical Activity Behaviors Among Adolescents in Indonesia. Food Nutr Bull 2021; 42(1 Supl.):S109-S121.. O presente estudo mostrou que os meninos que estavam obesos foram mais indiferentes com a imagem corporal. Esses achados estão em direção oposta quando comparados a estudos prévios, onde aqueles que estavam acima ou abaixo do peso estavam insatisfeitos, principalmente as meninas1515 Duarte L, Fujimori E, Borges AL, Kurihayashi A, Steen M, Roman Lay A. Body Weight Dissatisfaction Is Associated with Cardiovascular Health-Risk Behaviors among Brazilian Adolescents: Findings from a National Survey. Int J Environ Res Public Health 2020; 17(23):8929.,1717 Madalosso MM, Schaan B, Cureau FV. Association between body weight perception and quality of diet in brazilian adolescents. Rev Paul Pediatr 2020; 38:e2020057.,4646 Moehlecke M, Blume CA, Cureau FV, Kieling C, Schaan BD. Self-perceived body image, dissatisfaction with body weight and nutritional status of Brazilian adolescents: a nationwide study. J Pediatr 2020; 96(1):76-83., mas também identificou-se eutróficos insatisfeitos1313 Zanolli NMBC, Cândido APC, Oliveira RMS, Mendes LL, Pereira Netto M, Souza AIS. Fatores associados à insatisfação corporal de crianças e adolescentes de escola pública em município da Zona da Mata mineira. Rev APS 2019; 22(1):106-118.,1414 Martini MCS, Assumpção D, Barros MBA, Canesqui AM, Barros Filho AA. Are normal-weight adolescents satisfied with their weight? Sao Paulo Med J 2016; 134(3):219-227.. Haver entre os obesos mais indiferença (e não insatisfação) pode sugerir aceitação do corpo em excesso de peso. Essa associação já foi demonstrada em estudo com adolescentes de escolas profissionalizantes3333 Leal GVS, Philippi ST, Alvarenga MS. Unhealthy weight control behaviors, disordered eating, and body image dissatisfaction in adolescents from São Paulo, Brazil. Braz J Psychiatry 2020; 42(3):264-270., o que merece atenção, pois o impacto do excesso de peso para diversas condições de saúde pode ainda ser desconhecido ou pouco abordado na população em questão4444 Lee CY, Yusof HM, Zakaria NS. Knowledge, attitude and behaviours related to weight control and body-image perceptions among Chinese high school students. Malaysian J Med Sci 2019; 26(5):122-131..
As meninas que referiram não dar nenhuma ou pouca importância à imagem corporal também apresentaram maior indiferença. Estudo realizado com adolescentes na Indonésia, de faixa etária similar ao presente estudo, identificou que mais de 90% dos adolescentes consideraram sua imagem importante e um quarto destes relatou se sentir pressionado a manter um determinado padrão de imagem4545 Niswah I, Rah JH, Roshita A. The Association of Body Image Perception With Dietary and Physical Activity Behaviors Among Adolescents in Indonesia. Food Nutr Bull 2021; 42(1 Supl.):S109-S121.. Por outro lado, estudo realizado em Rondônia apresentou resultados similares ao presente estudo, onde 78% dos estudantes não estavam preocupados com a imagem corporal1212 Evangelista LA, Aerts D, Alves GG, Palazzo L, Câmara S, Jacob MH. Body image perception in scholars of a school in the Brazilian north region. J Hum Growth Dev 2016; 26(3):385-392.. Sendo uma faixa etária em que frequentemente há uma maior preocupação com a imagem, principalmente entre as meninas, onde as comparações com pessoas de suas relações são inevitáveis, essa falta de importância talvez seja explicada por tentativas frustradas na busca por uma imagem idealizada ou, possivelmente por falta de orientação profissional. O que pode ser traduzido como se conformar com a imagem corporal atual, tornando-a assim, irrelevante.
Na última PeNSE, o percentual de indiferentes foi de 10,5%, similar à prevalência encontrada na pesquisa de 2015 (10,3%), igualmente distribuído entre os sexos, variando de 7,4% no Maranhão a 13,5% no Paraná, com maior percentual de indiferentes nas escolas privadas em relação às públicas1111 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2019. Rio de Janeiro: IBGE; 2021.. Tais resultados sustentam a hipótese de serem pessoas que em algum momento estiveram insatisfeitas com sua imagem, considerando que maior prevalência de insatisfação é encontrada também nas escolas particulares1515 Duarte L, Fujimori E, Borges AL, Kurihayashi A, Steen M, Roman Lay A. Body Weight Dissatisfaction Is Associated with Cardiovascular Health-Risk Behaviors among Brazilian Adolescents: Findings from a National Survey. Int J Environ Res Public Health 2020; 17(23):8929.,4747 Uchôa FNM, Uchôa NM, Daniele TMC, Lustosa RP, Nogueira PRC, Reis VM, Andrade JHC, Deana NF, Aranha ÁM, Alves N. Influence of body dissatisfaction on the self-esteem of brazilian adolescents: A cross-sectional study. Int J Environ Res Public Health 2020; 17(10):3536..
O presente estudo é um dos primeiros a mostrar um panorama da imagem corporal de uma amostra representativa de estudantes do ensino fundamental da rede pública em um município na região sul do país, bem como explorar a relação com fatores ainda pouco estudados, como o bullying e atitudes para modificar o peso. Trazendo entre os benefícios a possibilidade do desenvolvimento de ações educativas no âmbito do PSE a fim de orientar sobre o estado nutricional e composição corporal adequados, bem como a maneira saudável de corrigi-los quando inadequados, e a indicação de busca pelo acompanhamento profissional quando recomendado. Houve risco mínimo aos participantes, devido ao possível constrangimento no preenchimento do questionário ou aferição das medidas antropométricas, embora o questionário tenha sido autoaplicável e as medidas tomadas em local reservado. Cabe salientar que foi esclarecida a possibilidade de desistência a qualquer momento sem prejuízos ao participante.
Como limitação deve ser mencionada a causalidade reversa, inerente aos estudos transversais, impossibilitando examinar uma relação temporal entre as exposições e o desfecho. Além disso, alguns estudantes não foram localizados após três tentativas, o que pode sugerir algum desconforto no ambiente escolar e que, por sua vez, poderia estar de certa forma relacionado ao desfecho. Possíveis motivos poderiam ser cogitados, tais como: reprovação e, consequentemente, estar com idade maior do que a maioria dos colegas; não se sentir bem com a sua aparência e se sentir/estar mais exposto a provocações por parte do grupo.
Por fim, observou-se que a cada três estudantes, um estava insatisfeito com a sua imagem corporal. Estiveram associados a essa condição comportamentos considerados de risco, principalmente para a faixa etária estudada. Dados que mostram a importância de ações de educação em saúde dentro da escola, visto que em uma idade tão precoce já aconteça o uso de substâncias prejudiciais à saúde, como o álcool e o fumo, que podem estar sendo utilizadas com o intuito de integração aos grupos sociais, controle de emoções, e até mesmo a fim de controlar o peso em busca da forma corporal desejada.
Não atribuir nenhuma importância à imagem corporal ainda que se percebam gordos, é preocupante na medida em que existe a possibilidade de estar exposto ao bullying, sofrendo discriminação na forma de violência e pode sugerir aceitação aos padrões de beleza impostos sem questionamentos, gerando problemas psicológicos e de autoestima, justificando assim, a necessidade de ser abordado, debatido e esclarecido no ambiente escolar. Ainda, maior indiferença entre os obesos, categoria onde era esperada maior insatisfação, pode sugerir que estes deixaram de se importar com a forma corporal após tentativas frustradas de mudá-la ou também uma maior aceitação do corpo por desconhecimento dos riscos que o excesso de peso pode trazer à saúde.
Referências
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Editores-chefes:
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Maio 2024 -
Data do Fascículo
Maio 2024
Histórico
-
Recebido
03 Fev 2023 -
Aceito
08 Ago 2023 -
Publicado
10 Ago 2023