Open-access Produção Científica em avaliação psicológica no contexto escolar/educacional

Producción científica en evaluación psicológica en el contexto escolar/educacional

Resumo

O presente estudo investigou a produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar/educacional entre 2005 e 2015. Foram analisados 94 artigos de 11 periódicos científicos classificados como A1 e A2. Os resultados evidenciaram que as revistas Psico-USF, Psicologia: Reflexão e Crítica e Revista Brasileira de Orientação Profissional, se destacaram. Pesquisas desenvolvidas em parceria e, por ambos os sexos, foram as mais frequentes, assim como a temática propriedades psicométricas/construção de instrumentos. Observou-se, ainda, que 36,6% dos trabalhos envolviam até 200 participantes e que os estudos foram realizados predominantemente com o Ensino Superior e com base em avaliações do tipo psicométrica/fatorial. Os artigos empregaram uma grande variabilidade de técnicas nas avaliações realizadas, sendo que o instrumento mais utilizado foi a Escala de Aconselhamento Profissional (EAP).

Palavras-chave: Avaliação psicológica; ambiente escolar; pesquisa científica

Resumen

En el presente estudio se investigó la producción científica en evaluación psicológica en el contexto escolar/educacional entre 2005 y 2015. Se analizaron 94 artículos de 11 periódicos científicos clasificados como A1 y A2. Los resultados evidenciaron que las revistas Psico-USF, Psicología: Reflexión y Crítica y Revista Brasileña de Orientación Profesional, se destacaron. Investigaciones desarrolladas en alianza y, por ambos sexos, fueron las más frecuentes, así como la temática propiedades psicométricas/construcción de instrumentos. Se observó, aún, que el 36,6% de los estudios abarcaban hasta 200 participantes y que los estudiosse realizaron predominantemente con la Enseñanza Universitaria y con base en evaluaciones del tipo psicométrica/factorial. Los artículos emplearon una gran variabilidad de técnicas en las evaluaciones realizadas, siendo que el instrumento más utilizado fue la Escala de Asesoramiento Profesional (EAP).

Palabras clave: Evaluación psicológica; ambiente escolar; investigación científica

Abstract

The present study investigated the scientific production in psychological evaluation in the school / educational context between 2005 and 2015. We analyzed 94 articles from 11 scientific journals classified as A1 and A2. The results showed that the journals Psico-USF, Psychology: Reflection and Criticism, and Brazilian Journal of Professional Orientation, stood out. Researches developed in partnership and, by both sexes, were the most frequent, as well as the thematic psychometric properties / instrument construction. It had also observed that 36.6% of the work involved up to 200 participants and that the studies had carried out predominantly with Higher Education and based on psychometric / factorial type evaluations. The articles used a great variability of techniques in the evaluations carried out, and the most used instrument was the Professional Counseling Scale (EAP).

Keywords: Psychological evaluation; school environment; scientific research

Introdução

Pesquisadores movidos pela vontade e/ou necessidade de conhecer o que já foi produzido, de dedicar cada vez mais atenção aos estudos realizados, de avaliar e refletir sobre o saber acumulado e de divulgá-lo para a sociedade têm utilizado a opção metodológica chamada estado da arte (Ferreira, 2002). Pesquisas sistemáticas sobre a produção científica vão além da utilidade e das necessidades dos pesquisadores, pois contribuem também para levantar possíveis diretrizes para novos temas de estudo e de distribuição do fomento (Witter, 2005). As avaliações de periódicos fornecem informações qualitativas que têm dado subsídio ao estabelecimento de políticas de gestão científica.

O estudo que aborda apenas um tipo de publicação sobre o tema analisado vem sendo denominado de “estado do conhecimento”. Essa metodologia difere do estado da arte, segundo Romanowski e Ens (2006), visto que para ser considerado como tal o estudo deve abranger toda uma área do conhecimento, nos diferentes aspectos que geraram produções, não bastando apenas estudar os resumos de dissertações e teses, mas também trabalhos sobre as produções em congressos na área e as publicações em periódicos da área, como no caso desta pesquisa que analisará somente este último tipo.

A análise da produção científica se faz pertinente em todas as áreas do conhecimento, visto que, segundo Witter (1999), essa análise possibilita verificar a qualidade do que tem sido publicado, sendo viável a visualização de mudanças nas subáreas de conhecimento e, até de assuntos específicos. Isso repercute na avaliação psicológica, visto que esta pode ser aplicada aos diversos contextos de atuação do profissional em psicologia, por exemplo, organizacional, trânsito e escolar, sendo esta última escolhida para ter sua publicação analisada. Neste estudo, foram acolhidas todas as formas de avaliação, mesmo com testes na área da saúde, por exemplo, mas que tenham sido utilizadas no contexto escolar.

Por meio da avaliação psicológica é possível investigar, descrever e/ou mensurar características e processos psicológicos, como emoção, afeto, cognição, inteligência, motivação, personalidade, atenção, memória, percepção, entre outros (CFP, 2013; Urbina, 2007). Ela é um processo flexível que, por meio da coleta, da avaliação e da análise de dados apropriados ao objetivo em questão, objetiva chegar a uma consideração a respeito de uma ou mais questões psicológicas. A avaliação psicológica educacional contribui para o desenvolvimento e aprimoramento de medidas que possibilitem a verificação do desempenho dos alunos e, subsequentemente, caso necessário, possam ser implementados programas de intervenção para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem.

No entanto, a temática da avaliação no campo da Psicologia Educacional suscitou questionamentos quanto à utilização de instrumentos de medida, como escalas e testes, que geraram desconfiança em relação ao seu uso no ambiente escolar. As alegações, em geral, eram de que os testes serviam somente a um recurso classificatório (Oliveira et al., 2007). Mas, de acordo com Oliveira e Marinho-Araújo (2009), essa visão foi sendo modificada com o aumento das pesquisas na área educacional, a revisão crítica do impacto da utilização de instrumentos, o foco da Psicologia Escolar para ações de caráter preventivo, e a retirada da ênfase do indivíduo, levando em consideração outras variáveis do processo de ensino e aprendizagem.

Várias pesquisas têm sido realizadas sobre a produção científica na área da avaliação psicológica educacional. Foram encontrados estudos realizados em: bases de dados (Barroso, 2010; Joly et al., 2010; Polydoro et al., 2016; Schelini et al., 2016; Silva & Wechsler, 2014; Silva et al., 2013; Suehiro& Lima, 2016); anais de eventos (Campos et al., 2014; Cosmo & Urt, 2009; Piovezan & Cardoso, 2015; Silva & Nakano, 2011); revistas específicas como a Psicologia Escolar e Educacional (Cosmo & Urt, 2009; Polydoro & Freitas, 2010); e dissertações ou teses (Joly et al., 2010; Silva et al., 2013).

Quanto aos critérios de busca nos estudos, houve a abordagem teórica (Cosmo & Urt, 2009; Nunes, Alves, Ramalho, & Aquino, 2014); critérios da metaciência, como autoria, temática, discurso e análise dos tipos de avaliações (Barroso, 2010; Joly et al., 2010; Polydoro & Freitas, 2010; Silva et al., 2013; Silva & Nakano, 2011) e construtos específicos como o monitoramento metacognitivo (Schelini et al., 2016), os estilos cognitivos (Silva & Weschler, 2014), as variáveis socioemocionais (Ambiel, Pereira, & Moreira, 2015), a área de “Avaliação, métodos e medidas em Psicologia” (Piovezan & Cardoso, 2015); criatividade e inovação (Campos et al., 2014); o uso de instrumentos de avaliação na pesquisa envolvendo estudantes de graduação do ensino superior brasileiro (Polydoro et al., 2016); o uso de instrumentos na avaliação cognitiva no contexto do ensino fundamental entre 2005 e 2014 (Suehiro & Lima, 2016).

Especificamente sobre a produção científica no contexto escolar, Oliveira et al. (2007) levantaram 234 artigos de sete periódicos científicos indexados, publicados no intervalo de 1995 a 2004. A análise seguiu alguns dos critérios da metaciência, como autoria, temática, discurso e análise dos tipos de avaliações. Os resultados evidenciaram que: em alguns periódicos houve maior concentração de publicações sobre a temática, acentuada nos últimos anos desse intervalo. A participação feminina predominou na autoria dos artigos e houve ampla diversificação nos propósitos para os quais os testes psicológicos tinham sido usados. As autoras encontraram também que os instrumentos psicométricos foram os mais utilizados, mas foi frequente o emprego de entrevistas e observação. Além disso, verificaram que a técnica projetiva foi empregada em apenas 2,3% das investigações.

Este trabalho tem por objetivo dar continuidade à investigação acerca da produção científica sobre o uso da avaliação psicológica nas várias etapas da educação formal, no período subsequente ao da pesquisa anterior, ou seja, no intervalo de 2005 a 2015. O ano de 2016 não foi incluído, pois muitas das revistas pesquisadas ainda não tinham disponibilizado todos os números do ano na época da pesquisa. Para tanto utilizaram-se os mesmos parâmetros metodológicos para percepção das possíveis alterações quanto aos resultados anteriores.

Método

O estudo foi realizado em três etapas. A primeira focalizou todos os periódicos científicos da área de Psicologia classificados como A1 e A2 pelo Qualis web (triênio 2013-2016) e com toda a sua coleção disponibilizada no Scientific Electronic Library Online (SciELO) e nos Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC).A segunda envolveu apenas aqueles nos quais foram encontrados artigos que focalizavam a avaliação psicológica. Já a terceira, envolveu apenas os periódicos nos quais os artigos envolviam a avaliação psicológica nos contextos escolar e educacional.

Nessa etapa foram analisados os seguintes periódicos: Arquivos Brasileiros de Psicologia (não há informações em seu site sobre a periodicidade de sua publicação), Estudos de Psicologia - Natal (publicação trimestral), Estudos de Psicologia - Campinas (publicação trimestral), Estudos e Pesquisas em Psicologia (não há informações em seu site sobre a periodicidade de sua publicação), Paidéia (publicação quadrimestral), Psico (publicação trimestral), Psico-USF (não há informações em seu site sobre a periodicidade de sua publicação), Psicologia: Ciência e Profissão (publicação trimestral), Psicologia Escolar e Educacional (publicação semestral), Psicologia: Organizações e Trabalho (publicação trimestral), Psicologia: Reflexão e Crítica (publicação trimestral), Psicologia: Teoria e Pesquisa (publicação trimestral), Psicologia: Teoria e Prática (publicação quadrimestral), Psicologia USP (publicação quadrimestral), Revista Brasileira de Orientação Profissional (publicação semestral) e Temas em Psicologia (publicação trimestral).

Fonte

A amostra do estudo foi composta por 101 artigos, encontrados em 14 periódicos, classificados como A1 e A2, que focalizavam a avaliação psicológica nos contextos escolar e educacional entre 2005 e 2015.

Procedimentos

O total de artigos levantados sobre avaliação psicológica foi 226. Todavia, apenas 101 tratavam especificamente de publicações relacionadas à avaliação psicológica no contexto escolar/educacional no período de onze anos analisado (2005-2015). Os artigos veiculados pelos periódicos foram analisados, na íntegra, respeitando-se alguns critérios estabelecidos nos estudos realizados por Witter (1999). Destarte, os itens considerados foram: Autoria, identificou-se a natureza da autoria (individual ou múltipla), bem como o gênero dos autores; Temática, analisou-se a quantidade e a distribuição por temas de avaliação; Discurso, avaliaram-se as palavras contidas no título do trabalho e número e escolaridade dos participantes; Análise das Avaliações, realizou-se a classificação do tipo de instrumentos empregados nas avaliações, bem como elencaram-se os instrumentos utilizados.

O levantamento de todos os dados foi realizado pelos autores da pesquisa, separada e concomitantemente, para dar confiabilidade à avaliação. O índice de concordância, verificado pela correlação de Pearson, ficou acima dos 85%.

Resultados

Os dados foram organizados em planilha e submetidos à estatística descritiva. Para avaliar o universo geral de publicações efetuou-se a contagem da quantidade de artigos publicados por periódico, nos últimos 11 anos. A Tabela 1 apresenta os resultados. Os dados evidenciaram que 2007 foi o ano com maior número de artigos no contexto educacional, assim como uma oscilação nas publicações a partir deste período. As revistas que apresentaram maior quantidade de artigos publicados foram Psico-USF (n=20; 19,8%), Psicologia: Reflexão e Crítica (n=16; 15,8%) e Revista Brasileira de Orientação Profissional (n=11; 10,9%).

Tabela 1
Distribuição da publicação sobre avaliação psicológica no contexto escolar por periódico científico

No que tange à avaliação da autoria, observou-se que 98% (n=99) foram realizados com autoria múltipla e 2% (n=2) com autoria individual. A maioria dos trabalhos foi escrita em parceria por autores de ambos os sexos (n=52; 51,5%), seguida por pessoas do sexo feminino (n=39; 38,6%) e, em menor percentual, apenas pela autoria masculina (n=10, 9,9%). A análise pelo teste Qui-quadrado mostrou que a distribuição não era equitativa, considerando [x2(2,101) = 27,46, p<0,001]. Pelo resultado verificou-se que as autorias em parcerias de ambos os sexos apresentaram mais publicações na área do que as mulheres e homens, respectivamente.

A análise da Temática revelou a quantidade e a distribuição dos artigos, considerando os temas implicados na avaliação. A Tabela 2 ilustra tal distribuição. No entanto, ressalta-se que alguns artigos trataram de duas ou mais temáticas ao mesmo tempo. Nesse sentido, todas as temáticas pesquisadas foram computadas totalizando 115 ocorrências. A análise do teste Qui-quadrado apontou que a distribuição das temáticas não era equitativa, tendo em vista [x2(5,115) = 147,07, p<0,001]. Nesse sentido, observou-se que ‘propriedades psicométricas/construção de instrumentos’ (n=65; 56,5%) foram as temáticas mais investigadas, seguidas por ‘orientação vocacional, profissional, mercado de trabalho, interesses profissionais’ (n=12; 10,4%) e ‘aspectos cognitivos’ (n=12; 10,4%).

Tabela 2
Distribuição da frequência dos artigos considerando a temática pesquisada (n=115)

Na categoria Discurso foram avaliadas as palavras contidas nos títulos dos artigos, número e escolaridade dos participantes. Quanto às palavras do título, a análise dos 101 manuscritos evidenciou que um grande número de trabalhos (n=73; 72,3%) não ultrapassa o limite definido de doze vocábulos no título. As Tabelas 3 e Tabelas 4 mostram as análises realizadas em razão do número e escolaridade da amostra. Faz-se necessário esclarecer, entretanto, que no caso da análise da quantidade de participantes/sujeitos nas pesquisas e respectiva escolaridade, o número de artigos avaliados passou de 101 para 100. Essa diminuição ocorreu pelo fato de que um artigo não trabalhou com sujeitos de pesquisa. Essa publicação era de cunho documental e, portanto, a pesquisa foi feita com base na análise de prontuários de uma clínica-escola.

Tabela 3
Análise do número de participantes/sujeitos nas pesquisas (n=100)

Observou-se que 44 trabalhos (44%) envolveram até 200 sujeitos e 9 (9%) foram realizados com amostras maiores que 1000 pessoas. Ao verificar a escolaridade dos participantes, a distribuição não foi novamente equitativa, tendo em vista [x2(6,100) = 41,68, p<0,001]. Sob esse aspecto, evidenciou-se uma concentração na realização de estudos com participantes matriculados no ensino superior, seguido da escolaridade média e, depois, mista, ou seja, de sujeitos provenientes de diferentes fases de escolaridade, variando da pré-escola, ensino básico, médio até o superior.

Tabela 4
Distribuição dos trabalhos em razão da etapa de escolarização dos participantes (n=100)

A Tabela 5 traz a Análise das Avaliações, na qual se realizou a classificação do recurso (tipo de instrumento) empregado nas avaliações realizadas. Cabe destacar que novamente o número de artigos focalizados sofreu uma mudança, passou de 101 para 100 na análise dessa modalidade. Esse dado é justificável, tendo em vista que o artigo documental não trabalhou com a análise de um instrumento de medida. Recorreu-se mais uma vez ao Qui-quadrado para a análise da distribuição [x2(4,100) = 225,70, p<0,001], verificando-se que houve diferença estatisticamente significativa. Pela análise verificou-se que há uma tendência na utilização de instrumentos do tipo psicométrico/fatorial em detrimento de outros recursos de avaliação.

Tabela 5
Análise dos artigos por recurso empregado na avaliação (n=100)

Observou-se uma grande variabilidade de técnicas empregadas nas avaliações analisadas (n=169). A técnica mais empregada foi a Escala de Aconselhamento Profissional (EAP) (n=9; 5,33%), seguida pela Self-Directed Search Career Explorer (SDS) (n=6; 3,6%), Baterias de Provas de Raciocínio (BPR-5) (n=5; 2,9%) e Teste de Bender - Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG) (n=4; 2,4%). A lista completa de todos os instrumentos que foram utilizados nos artigos consta na Tabela 6.

Tabela 6
Técnicas de Avaliação empregadas (n=169)

Discussão e considerações finais

Este estudo de estado do conhecimento (Romanowski & Ens, 2006) utilizou critérios da metaciência e objetivou dar continuidade à investigação realizada por Oliveira et al. (2007), que encontrou 234 artigos com a temática da avaliação psicológica no contexto escolar. Essa continuidade deveu-se ao fato de se acreditar que as avaliações de periódicos fornecem informações qualitativas que dão subsídio ao estabelecimento de políticas de gestão científica (Witter, 2005). Além disso, sabe-se que a avaliação psicológica educacional contribui para o desenvolvimento e aprimoramento de medidas que possibilitem a verificação do desempenho dos estudantes, servindo de base para eventuais programas de intervenção que precisem ser implementados.

Na pesquisa de Oliveira et al. (2007), a concentração de publicações aconteceu nos últimos anos do intervalo de 1995 a 2004. Já neste estudo, com intervalo de 2005 a 2015, foram levantados 101 artigos, menos da metade do encontrado anteriormente, sendo que o ano de 2007 teve o maior número de artigos com uma oscilação nas publicações a partir de então. Esse resultado corrobora os de Piovezan e Cardoso (2015), que indicaram diminuição da representatividade da área, em análise baseada na produção científica na área “Avaliação, métodos e medidas em Psicologia” em anais de um congresso de grande representatividade da área de psicologia.

Quanto às revistas que apresentaram maior quantidade de artigos publicados, na pesquisa anterior foi a Psicologia: Reflexão e Crítica, que ficou neste estudo com o segundo lugar, pois a Psico-USF ficou em primeiro. Com relação à autoria desses artigos, continua o predomínio da autoria múltipla (Oliveira et al., 2007), que subiu de 75,2 para 98% dos casos. Suehiro e Lima (2016) também constataram que esse tipo de autoria foi predominante nos artigos levantados em seu estudo que investigou os instrumentos usados na avaliação cognitiva no contexto do ensino fundamental entre 2005 e 2014.

Com relação à temática, a leitura e a escrita foram as mais investigadas anteriormente, já neste estudo observou-se que as propriedades psicométricas/construção de instrumentos sobressaíram, com 56,5% do total. Esse fato evidencia uma mudança de foco que revela o investimento na elaboração e validação dos instrumentos de medida; porém, Schelini et al. (2016) encontraram em sua pesquisa uma pequena quantidade de artigos que se propôs à elaboração ou adaptação de instrumentos e à investigação de suas evidências de validade e precisão.

Na pesquisa anterior, observou-se que apenas sete trabalhos do total apresentaram amostras com mais de 1000 participantes. Neste estudo verificou-se que 44 trabalhos (44%) envolveram até 200 sujeitos e 9 (9%) foram realizados com amostras maiores que 1000 pessoas, revelando um aumento discreto nesta categoria. Ainda em relação aos participantes, foi encontrada anteriormente a concentração de alunos do ensino superior e esta situação não foi alterada neste estudo. Schelini et al. (2016) consideram que isso se deva ao fato de haver uma maior facilidade de acesso a essa população. Pode-se considerar também que há um investimento.

Outra situação que não foi alterada da pesquisa anterior para este estudo foi a tendência na utilização de instrumentos do tipo psicométrico/fatorial em detrimento de outros recursos de avaliação. Vale destacar o uso da Escala de Aconselhamento Profissional (EAP) (5,33%), no entanto, Ottati e Noronha (2016), que utilizaram esta escala em seu estudo, destacaram que a Psicologia brasileira é rudimentar quanto aos instrumentos facilitadores da escolha profissional.

O fato de haver uma maior produção em construção e validação de escalas psicométricas, pode mostrar, por um lado, que se tem pensado na produção de material qualificado para a avaliação de possíveis problemas educacionais. Por outro lado, seria interessante que estudos de intervenção também fossem publicados, com o intuito de mostrar que essas escalas podem gerar dados que busquem proporcionar melhores condições aos estudantes.

Uma limitação do estudo, que pode justificar a diminuição dos artigos encontrados, é o fato de os autores não usarem os termos avaliação psicológica em artigos que tratam disto, mesmo que no contexto escolar. Acredita-se que alguns artigos possam tratar do tema em questão, mas não foram recuperados por não usarem os termos no título ou palavra-chave.

Por fim, sugere-se que sejam realizados novos estudos com a temática em outras bases de dados, assim como com elementos específicos do contexto escolar/educacional, para que os pesquisadores tenham maiores informações a respeito das publicações nessa área. Assim como, daqui a alguns anos outra pesquisa como esta se repita com publicações futuras a fim de se comparar com os dados aqui obtidos e os apontados por Oliveira et al. (2007).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jun 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    23 Abr 2017
  • Aceito
    25 Abr 2018
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