Resumos
Os vírus da anemia infecciosa eqüina (VAIE), da arterite viral dos eqüinos (VAVE) e do aborto viral eqüino (Herpesvírus eqüino tipo 1, HVE-1) são agentes causadores de enfermidades nos eqüídeos que podem causar graves prejuízos econômicos. O objetivo do presente trabalho foi estimar a soroprevalência de anticorpos contra os vírus VAIE, VAVE e HVE-1, utilizando como unidades de análise os eqüídeos e as propriedades rurais do tipo familiar do município de Uruará, PA. Os anticorpos contra o VAIE foram pesquisados pela prova de imunodifusão em gel de ágar e os anticorpos contra o VAVE e o HVE-1 pela prova de soroneutralização. O tamanho da amostra foi estimado a partir de um total de 2069 propriedades, caracterizadas por agricultura familiar e ausência de vacinações contra o VAVE e o HVE-1. Foi adotado um nível de confiança de 90%, com uma precisão de 15% e prevalência estimada de 50%. As seguintes prevalências de animais soro reatores para os diferentes vírus foram observadas: VAIE: 17,71% (IC 10,67 - 26,83%); HVE-1: 17,71% (IC 10,67 - 26,83%) e VAVE: 0,00% (IC 0,00 - 3,77%). As seguintes prevalências de propriedades com pelo menos um animal soro reator para os diferentes vírus foram observadas: VAIE: 53% (IC 38,12 - 68,12%); HVE-1: 40.62% (IC 25.96 - 56.65%) e VAVE: 0% (IC 0 - 6.94%).
Prevalência; Uruará (PA); Anemia infecciosa eqüina; Arterite animal
Equine infection anemia virus (EIAV), Equine arteritis virus (EAV) and Equine herpesvirus 1 (EHV 1) are the causal agents of diseases which may bring economical losses. The aim o of this study was to estimate the prevalence of herds and animals infected with EIA, EAV and EHV in Uruará municipal district, Pará State-Brazil. Antibodies against EIAV were detected by the immunodiffusion test and those against EAV and HEV-1 by the serum neutralization test. Sample size was estimated from 2069 holder farms that raised Equidae and did not vaccinate against EAV and EHV. A 90% confidence level was adopted with 15% precision and 50% estimated prevalence. The herd was considered positive when it had at least one positive animal. The following prevalence of serum reactors animals were observed: VAIE: 17,71% (IC 10,67 - 26,83%), HVE-1: 17,71% (IC 10,67 - 26,83%) and VAVE: 0,00% (IC 0,00 - 3,77%). The following prevalence of positive herds were observed: VAIE: 53% (IC 38,12 - 68,12%), HVE-1: 40.62% (IC 25.96 - 56.65%) and VAVE: 0% (IC 0 - 6.94%).
Prevalence; Uruará (PA); Equine infectious anemia; Animal arteritis
Soroprevalência da anemia infecciosa eqüina, da arterite viral dos eqüinos e do aborto viral eqüino no município de Uruará, PA, Brasil
Seroprevalence of equine infection anemia, equine viral arteritis and equine viral abortion in Uruará municipality, Pará state, Brazil
Marcos Bryan HeinemannI; Adriana CortezI; Maria do Carmo Custódio de SouzaII; Tatiana GottiI; Fernando FerreiraI; Valéria Stachini Ferreira HomemI; José Soares Ferreira NetoI; Rodrigo Martins SoaresI; Sidnei Mioshi SakamotoI; Elenice Maria Sequetin CunhaII; Leonardo José RichtzenhainI
IDepartamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo - SP
IIInstituto Biológico de São Paulo, São Paulo - SP
Endereço para correspondência E ndereço para correspondência Leonardo José Richtzenhain Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo Av. Prof. Orlando Marques de Paiva, 87 Cidade Universitária Armando Salles Oliveira 05508-270 São Paulo SP E-mail: leonardo@usp.br
RESUMO
Os vírus da anemia infecciosa eqüina (VAIE), da arterite viral dos eqüinos (VAVE) e do aborto viral eqüino (Herpesvírus eqüino tipo 1, HVE-1) são agentes causadores de enfermidades nos eqüídeos que podem causar graves prejuízos econômicos. O objetivo do presente trabalho foi estimar a soroprevalência de anticorpos contra os vírus VAIE, VAVE e HVE-1, utilizando como unidades de análise os eqüídeos e as propriedades rurais do tipo familiar do município de Uruará, PA. Os anticorpos contra o VAIE foram pesquisados pela prova de imunodifusão em gel de ágar e os anticorpos contra o VAVE e o HVE-1 pela prova de soroneutralização. O tamanho da amostra foi estimado a partir de um total de 2069 propriedades, caracterizadas por agricultura familiar e ausência de vacinações contra o VAVE e o HVE-1. Foi adotado um nível de confiança de 90%, com uma precisão de 15% e prevalência estimada de 50%. As seguintes prevalências de animais soro reatores para os diferentes vírus foram observadas: VAIE: 17,71% (IC 10,67 - 26,83%); HVE-1: 17,71% (IC 10,67 - 26,83%) e VAVE: 0,00% (IC 0,00 - 3,77%). As seguintes prevalências de propriedades com pelo menos um animal soro reator para os diferentes vírus foram observadas: VAIE: 53% (IC 38,12 - 68,12%); HVE-1: 40.62% (IC 25.96 56.65%) e VAVE: 0% (IC 0 6.94%).
Palavras-chave: Prevalência. Uruará (PA). Anemia infecciosa eqüina. Arterite animal.
SUMMARY
Equine infection anemia virus (EIAV), Equine arteritis virus (EAV) and Equine herpesvirus 1 (EHV 1) are the causal agents of diseases which may bring economical losses. The aim o of this study was to estimate the prevalence of herds and animals infected with EIA, EAV and EHV in Uruará municipal district, Pará State-Brazil. Antibodies against EIAV were detected by the immunodiffusion test and those against EAV and HEV-1 by the serum neutralization test. Sample size was estimated from 2069 holder farms that raised Equidae and did not vaccinate against EAV and EHV. A 90% confidence level was adopted with 15% precision and 50% estimated prevalence. The herd was considered positive when it had at least one positive animal. The following prevalence of serum reactors animals were observed: VAIE: 17,71% (IC 10,67 - 26,83%), HVE-1: 17,71% (IC 10,67 - 26,83%) and VAVE: 0,00% (IC 0,00 - 3,77%). The following prevalence of positive herds were observed: VAIE: 53% (IC 38,12 - 68,12%), HVE-1: 40.62% (IC 25.96 56.65%) and VAVE: 0% (IC 0 6.94%).
Keywords: Prevalence. Uruará (PA). Equine infectious anemia. Animal arteritis.
INTRODUÇÃO
A Anemia Infecciosa Eqüina (AIE) é uma virose de eqüídeos que possui distribuição mundial e sua transmissão ocorre, principalmente, pelo sangue e secreção corporal de animais infectados e através de insetos hematófagos. O vírus da AIE (VAIE) pertence à família Retroviridae e é causador de infecções persistentes, as quais tornam o animal infectado uma permanente fonte de infecção1.
Os vírus da Arterite Viral Eqüina (VAVE) e o vírus do Aborto Viral Eqüino (Herpesvírus eqüino tipo 1, HEV-1) pertencem ao gênero Arterivirus e Alphavirus das famílias Arteriviridae e Herpesviridae, respectivamente 2, 3. Os quadros clínicos causados por esses vírus confundem-se, podendo apresentar desde infecções subclínicas a manifestações respiratórias, seguidas de abortamento após o terceiro mês de gestação. Nas infecções pelo VAVE pode também ocorrer uma grave e generalizada vasculite 4, 5.
No Estado do Pará há poucos trabalhos que objetivaram avaliar o estado sorológico do rebanho eqüideo em relação ao VAIE 6, 7 e ao HEV-17. No que diz respeito ao VAVE, não foi possível constatar a existência de qualquer inquérito sorológico realizado no referido estado.
De maneira geral, existem poucas informações sobre a sanidade animal nos sistemas de produção familiar da Amazônia. Mesmo que determinadas afecções de origem infecciosa e/ou parasitária sejam bem conhecidas em outros ecossistemas, é bem provável que o ambiente amazônico apresente peculiaridades que interfiram em seu perfil epidemiológico. Imagina-se que as doenças tendam a adquirir características epidemiológicas próprias no ambiente amazônico, especialmente em áreas de fronteira agrícola e que o das mesmas seria um elemento básico para o estabelecimento das alternativas de profilaxia e controle 8, 9.
Devido à ausência de trabalhos sobre a prevalência destas viroses em propriedades que margeiam a rodovia Transamazônica e como um primeiro passo na compreensão de suas características epidemiológicas nesta região, o objetivo deste trabalho foi calcular a soroprevalência de anticorpos contra os vírus VAIE, VAVE e HVE-1, tendo como unidades de análise os eqüídeos e as propriedades rurais que os possuíam no município de Uruará, PA.
MATERIAL E MÉTODO
Propriedades
As propriedades participantes do estudo eram do tipo familiar, localizadas no município de Uruará, Estado do Pará, na fronteira agrícola da região da Transamazônica e possuíam uma área de 50 a 200 ha.
Cálculo da Amostra
A amostra foi planejada para a estimativa das prevalências tendo como unidades de análise os eqüideos e as propriedades rurais que os possuíam no município. Uma propriedade foi considerada positiva para um determinado vírus quando apresentou pelo menos um animal soro reator para o mesmo.
O cálculo foi feito através do programa Epi Info 6.02, utilizando-se os seguintes parâmetros: N= 2069 (número de propriedades tipo familiar que possuíam eqüídeos, no município de Uruará, PA), com uma prevalência estimada de 0,50; precisão de 0,15 e nível de confiança de 0,90.
O namostral obtido foi de 32 propriedades, as quais foram escolhidas por sorteio probabilístico aleatório, utilizando-se o programa computacional SPSS®. Todos os 96 eqüídeos presentes nestas propriedades tiveram seus soros sanguíneos colhidos para análise.
Colheita de Material
As amostras foram colhidas, entre os meses de julho a dezembro de 1998, de animais com idade a partir de dois meses, sem raça definida e utilizados para o serviço de campo. Os animais não apresentavam histórico de vacinação contra nenhuma das doenças estudadas. No momento da colheita não foram observadas manifestações clínicas características das infecções pelos vírus VAIE, VAVE e HEV-1.
De cada animal foi colhida uma amostra de 5mL de sangue a qual era transportada sob refrigeração até o laboratório, onde após obtenção do soro por centrifugação, o mesmo era estocado a -20oC até a realização das provas sorológicas.
Detecção de anticorpos anti VAIE
A detecção de anticorpos contra o VAIE foi realizada pela prova de imunodifusão em gel de ágar a 1%, empregando antígeno comercial da IDEXXÒ, seguindo as normas recomendadas pelo fabricante.
Detecção de anticorpos anti VAVE
A detecção de anticorpos contra o VAVE foi realizada pela microtécnica de soroneutralização viral em culturas de células da linhagem RK-13, empregando 100 TCID50% de uma amostra do VAVE cedida pelo Dr. Peter Timoney, do Gluck Equine Research Center- Kentucky -EUA. A incubação do vírus/soro foi completada em 1 hora a 37 ºC, em atmosfera de 5% de CO2, segundo metodologia descrita por Senne et al. 10. A leitura final foi efetuada em 72 horas. O ponto final da reação foi determinado pela maior diluição do soro capaz de inibir 100% do efeito citopático induzido pelo VAVE nas células RK-13. O animal foi considerado positivo quando o título do soro foi maior ou igual a 4.
Detecção de anticorpos anti Herpesvírus Eqüino tipo 1
A detecção de anticorpos contra o HEV-1 foi realizada pela microtécnica de soroneutralização viral em culturas de células da linhagem VERO, empregando 100 TCID50% da amostra A4/72 do HEV-1. A incubação do vírus/soro foi completada em 1 hora a 37 ºC, em atmosfera de 5% de CO2, segundo metodologia descrita por Kotait et al. 11. A leitura final foi efetuada em 72 horas. O ponto final da reação foi determinado pela maior diluição do soro capaz de inibir 100% do efeito citopático induzido pelo HVE-1 nas células VERO. O animal foi considerado positivo quando o título do soro foi maior ou igual a 2.
RESULTADOS
Algumas propriedades sorteadas tiveram que ser substituídas pelas vizinhas mais próximas devido às seguintes circunstâncias: 1) lote abandonado sem nenhum habitante; 2) não enquadramento na definição de propriedade familiar; 3) lotes com impossibilidade de acesso; 4) recusa em participar do estudo. A inclusão dos lotes na amostra obedeceu sempre o critério de selecionar propriedades do tipo familiar, ou seja, pertencentes e geridas pelas famílias que nelas residiam.
A soroprevalência e o Intervalo de Confiança (IC) das diferentes unidades de análise estudadas estão apresentadas na Tab. 1.
DISCUSSÃO
Os resultados obtidos em relação ao VAIE mostram uma alta prevalência tanto em relação ao número de animais soro reatores (17,71%), como para as propriedades positivas (53,00%). Estes resultados eram esperados, pois a região amazônica é ecologicamente propícia para o desenvolvimento de insetos hematófagos, os quais constituem fator de grande importância na determinação do grau de endemicidade da doença 7.
Compilando resultados obtidos por Laboratórios de Diagnóstico de Anemia Infecciosa Eqüina, o Boletim de Defesa Sanitária Animal 6 relatou que em 1997 16,82% de todos os animais testados no Estado do Pará eram soro reatores. Embora estes dados careçam de delineamento experimental para a estimativa de prevalência, estão muito próximos daqueles obtidos no presente trabalho (17,71%).
Também investigando a ocorrência de anticorpos contra o VAIE no Estado do Pará, Dias 7, no ano de 2000, encontrou 28,53% de eqüinos soro reatores na Ilha de Marajó, 10,70% em São Miguel do Guamá, 17,00% em Santa Maria do Pará e 25,00% em Paragominas. Este resultados demonstram que a doença ocorre em uma ampla área geográfica do estado.
No que tange a pesquisa de anticorpos contra o HVE-1, a prevalência de 17,71% de eqüídeos soro reatores encontrada no presente trabalho aproxima-se aos dados de ocorrência obtidos por Dias 7 que observou 21,70% e 13,18% de animais soro reatores na Ilha de Marajó e no resto do Estado do Pará, respectivamente.
Quanto às propriedades, obteve-se uma prevalência de 40,62% de fazendas positivas para o HVE-1, demonstrando que o vírus está amplamente disseminado no Município de Uruará. Estes dados reforçam os achados por Dias 7, que detectou a presença de anticorpos contra o HVE-1 em 30 de 33 fazendas do Estado do Pará.
A pesquisa de anticorpos contra o VAVE revelou uma prevalência de 0,00% tanto para os animais como para as propriedades, indicando que o vírus não deve circular entre os eqüídeos do município de Uruará ou, caso circule, a soro reatividade dos animais seja igual ou menor que 3,77%.
CONCLUSÕES
Com os resultados obtidos no presente estudo conclui-se que o VAIE e o HEV-1 encontram-se amplamente disseminados nas propriedades rurais do município de Uruará PA e que o VAVE não ocorre nos rebanhos deste município ou, se ocorre, a soroprevalência é menor ou igual a 3,77%.
Recebido para publicação: 19/09/2001
Aprovado para publicação: 31/01/2002
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Jul 2003 -
Data do Fascículo
2002
Histórico
-
Aceito
31 Jan 2002 -
Recebido
19 Set 2001