APRESENTAÇÃO
Este número da Interface - Comunicação, Saúde, Educação traz diversos recortes temáticos que se iniciam e terminam no campo das práticas sociais e das relações de poder.
Abrindo a edição, "A medicalização do crime", de Fernanda Rebelo e Sandra Caponi. O artigo é um primoroso estudo sobre as interfaces dos pensamentos médico-higienista e jurídico, as relações entre saber e poder na primeira metade do século XX e a psiquiatrização dos comportamentos. Discute a instalação do modelo penitenciário, analisando os medos que afetaram os centros urbanos e as estratégias para seu controle. O texto de Eliane de Castro e Elisabeth Araújo Lima, "Resistência, inovação e clínica no pensar e no agir de Nise da Silveira", aparece na seção Espaço Aberto, quase ao final da revista, e resgata um exemplo de resistência e rompimento com esse poder de encarceramento. Vem articulado à Criação. Em "IN PACTO a obra no mundo - arte e corpo em terapia ocupacional", a mesma Eliane ilustra a trama de diversos dispositivos da clínica aos espaços da cidade, no circuito cultural.
Destaca-se, também, o instigante ensaio de Luiz Cecílio em torno do conceito de "trabalhador moral na saúde", que abre a seção Debates e provoca, igualmente, ricos comentários de Gastão Campos, Maria Elizabeth de Barros e Ricardo Ceccim em torno de diferentes perspectivas da gestão em nossas instituições e do espaço de produção do trabalhador da saúde nesta arena.
O fascículo traz, ainda, novas contribuições à reflexão sobre temas da Saúde, em trabalhos que abordam a recente política nacional de promoção da saúde no Brasil, uma nova proposta no ensino de Psicopatologia, equipes de referência e a integração entre saberes e práticas nos serviços de saúde, a relação entre família e profissionais no cuidado e atividades de promoção da saúde de idosos e crianças.
Encerrando a seção Artigos, dois ensaios retomam reflexões que podem contribuir para o debate atual sobre as práticas educacionais na universidade, numa mesma perspectiva teórica. No primeiro, Angelo Abrantes e Lígia Martins reafirmam a produção do conhecimento científico como uma das expressões da relação sujeito-objeto, analisando-a à luz da teoria materialista histórico-dialética do conhecimento e das contribuições dos russos Kopnin e Petrovski. No segundo, Sandra Della Fonte defende que o Eros primordial da educação escolar não se efetiva quando se abre mão do conhecimento objetivo e da sua apropriação. Para desenvolver essa idéia, parte de considerações de Platão sobre o amor, presentes em O Banquete, para, em seguida, trazer as reflexões de Marx sobre a paixão, nos Manuscritos Econômico-Filosóficos.
E são o marxismo e a pedagogia os temas centrais da Entrevista, seção retomada nesta edição. Nosso entrevistado, professor Newton Duarte, da Unesp de Araraquara, é um crítico radical do ideário pedagógico do universo neoliberal e pós-moderno, da tese escolanovista, segundo ele reeditada pelo construtivismo. Explicitando suas posições sobre educação e psicologia da educação, traz para o diálogo elementos para uma teoria histórico-crítica do trabalho educativo e polemiza com uma tendência atualmente muito comum entre educadores brasileiros: a que propõe aproximações entre as concepções de Vigotski e as de ideários com o lema "aprender a aprender", descaracterizando as raízes marxistas do pensador russo.
Mariangela Quarentei,
editora associada
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
21 Set 2007 -
Data do Fascículo
Ago 2007