Resumo
Introdução As feiras livres existem há muito tempo no Brasil e apresentam grande importância no abastecimento direto de consumidores, na geração de renda para a população rural e no fomento ao comércio urbano.
Objetivo Descrever o perfil socioeconômico e demográfico e avaliar a satisfação dos consumidores das feiras livres de Juiz de Fora-MG.
Método Estudo transversal, descritivo, quantitativo e qualitativo. Foram realizadas 385 entrevistas utilizando questionário semiestruturado em 15 feiras.
Resultados A maioria dos consumidores é do gênero feminino (65%, n = 252), com idade média de 46 anos (± 22 anos), 50% (n = 192) são casados, 43,4% (n = 167) apresentam o ensino médio e mais da metade não trabalha ou é aposentada (51,9%, n = 199) e 41,4% (n = 159) possuem renda familiar de 1 a 3 salários mínimos. O gasto na feira está associado com estado civil e número de moradores por casa. Dos consumidores, 98,1% (n = 371) estão satisfeitos com a feira que frequentam. Os motivos de satisfação citados: 20% (n = 71) praticidade e localidade; 19% (n = 66) preço e variedade; 12% (n = 60) interação e qualidade e 1% (n = 4) atendimento. A escolaridade do frequentador e a satisfação quanto à higiene pessoal e das barracas/boxes estão associadas.
Conclusão O desafio é conquistar o reconhecimento de um público maior, com produtos diversificados e com qualidade. O estabelecimento de novas estratégias pode contribuir para o desenvolvimento das feiras, promover saúde e garantir a segurança alimentar e nutricional.
Palavras-chave: segurança alimentar e nutricional; alimentos; feiras livres
Abstract
Background Street markets have been around for a long time in Brazil and are of great importance in the direct supply of consumers, in the generation of income for the rural population and in the promotion of urban commerce.
Objective To describe the socioeconomic and demographic profile, and to evaluate the satisfaction of consumers at the street markets in Juiz de Fora-MG.
Method A cross-sectional, descriptive, quantitative, and qualitative study was carried out. The interviews were carried out through a semi-structured questionnaire with 385 consumers at 15 street markets.
Results Most consumers are female (65%, n = 252), with a mean age of 46 years (± 22 years), 50% (n = 192) are married, 43.4% (n = 167) have the high school and more than half do not work or are retired (51.9%, n = 199) and 41.4% (n = 159) have a family income of 1 to 3 minimum wages. Spending at the fair is associated with marital status and number of residents per house. 98.1% (n = 371) of consumers are satisfied with the street market where they attend. The reasons for satisfaction cited: 20% (n = 71) convenience and location; 19% (n = 66) price and variety; 12% (n = 60) interaction and quality and 1% (n = 4) service .The schooling of the frequenter and the satisfaction with personal hygiene and the tents are associated.
Conclusion The challenge is to gain recognition from a larger audience, with diversified and quality products. The establishment of new strategies can contribute to the development of street markets, promote health, and ensure food and nutritional security.
Keywords: food and nutrition security; food; street markets
INTRODUÇÃO
As feiras livres existem há muito tempo no Brasil e apresentam grande importância no abastecimento direto de consumidores, na geração de renda para a população rural e no fomento ao comércio urbano. Porém, sua relevância vai além do aspecto econômico, perfazendo também uma forte relação com os hábitos alimentares, costumes e a própria cultura local1.
Oferecem grande variedade de produtos alimentícios e contribuem para a valorização dos hábitos alimentares saudáveis. Estão inseridas na cultura da cidade, funcionando também como ponto de encontro, convívio social e momento de lazer dos frequentadores. É um ambiente que atrai os consumidores pelo preço acessível, variedade de produtos, alimentos frescos e com boa qualidade2. Além disso, muitas pessoas escolhem as feiras para aquisição de alimentos devido a tradição, cultura alimentar, dentre outros motivos3.
As feiras livres estimulam e beneficiam a agricultura familiar, já que nelas a inserção do produtor é mais fácil do que em outros canais de comercialização. Essa viabilização favorece a interação de pessoas, variedade de alimentos, troca de culturas e tradições, além de melhorar a economia da cidade, principalmente de cidades pequenas4. Porém, na maioria das vezes, esses espaços possuem infraestrutura precária, falta de hábitos higiênicos sanitários adequados e manipulação incorreta dos produtos, os quais podem comprometer a segurança alimentar e nutricional dos consumidores5.
A segurança alimentar e nutricional (SAN) é definida como a “garantia de condições de acesso aos alimentos básicos, seguros e de qualidade, em quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais”. Portanto, a SAN visa a qualidade dos alimentos, as condições ambientais para a produção, o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população6. Dessa forma, é necessário fornecer alimentos de qualidade para a população, promovendo e estimulando a SAN nas feiras livres7.
Conhecer o perfil do consumidor local, identificar as razões que expliquem a escolha do produto comercializado e entender o comportamento do público que frequenta as feiras podem contribuir para o melhoramento da infraestrutura do ambiente de compra, contribuindo para a melhoria do serviço3 e para a garantia da SAN.
Portanto, os objetivos desse trabalho são descrever o perfil socioeconômico e demográfico e avaliar a satisfação dos consumidores em relação às feiras livres de Juiz de Fora-MG.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo com delineamento transversal, descritivo, quantitativo e qualitativo. O presente trabalho foi desenvolvido com os frequentadores das 15 feiras livres diurnas, que acontecem uma vez por semana nos diferentes bairros da cidade de Juiz de Fora-MG, no período de fevereiro a abril de 2017. Os dados foram coletados por meio de aplicação de questionário semiestruturado desenvolvido para essa pesquisa, nos diversos dias da semana e nos horários de funcionamento das feiras. O questionário aplicado abrangeu informações demográficas e socioeconômicas; de satisfação e sobre as condições higiênico-sanitárias. Para avaliar o perfil socioeconômico e demográfico dos participantes foi considerado quantos anos completos, gênero, estado civil, local de residência, escolaridade, profissão, renda familiar, meio de transporte utilizado para chegar à feira, gasto médio nas feiras. Em relação à satisfação foi avaliada a frequência de ida à feira, local alternativo para compra dos mesmos produtos, localização da feira; pesquisa de preço em diferentes feirantes, aquisição de um alimento com preço fora do orçamento e (in)satisfação quanto à feira frequentada; quanto às condições higiênico-sanitárias, foi verificada a opinião dos frequentadores de acordo com a higiene pessoal dos feirantes, assim como de barracas/boxes, infraestrutura, atendimento e serviço prestado, motivos de comprar na feira, condições sensoriais dos alimentos.
O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa em seres humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora (Parecer n. 1.533.768). Os participantes foram abordados aleatoriamente, durante as compras nas feiras, sendo esclarecidos a proposta e o objetivo da pesquisa, e logo após, a participação e o consentimento dos envolvidos foram firmados por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido.
Utilizou-se o aplicativo OpenEpi, versão 3, para o cálculo do tamanho da amostra. Com base na estimativa média de 5 mil consumidores4 nas feiras livres da cidade, frequência de satisfação da população de 50%, significância de 5% e 95% de confiança, estimou-se o tamanho da amostra mínimo de 385 participantes.
A unidade amostral do estudo foi definida com os seguintes critérios de inclusão: idade acima de 18 anos e menor ou igual a 65 anos, de ambos os gêneros.
Os dados foram descritos por meio da distribuição de frequências absolutas e relativas em tabela específica utilizando o programa Microsoft Excel, posteriormente processados e analisados por meio do programa EpiInfo versão7.1. Utilizou-se o teste de qui-quadrado para avaliar a associação do gasto na feira e da satisfação com a higiene com as variáveis socioeconômicas e demográficas, exceto para a variável idade, que foi analisada com o teste de Mann-Whitney (p < 0,001 no teste Shapiro-Wilk de normalidade). Em todas as análises foi adotado um nível de significância de 5%.
RESULTADOS
Foram concluídos 385 questionários válidos e, após a análise dos resultados, constatou-se que o perfil dos frequentadores das feiras livres de Juiz de Fora apresentou, em sua maioria, consumidores do gênero feminino (65%, n = 252) e 45% (n = 133) do gênero masculino, com idade média de 46 anos (± 22 anos).
Quanto à pesquisa dos dados socioeconômico e demográficos (Tabela 1), foi verificado que metade dos entrevistados (50%, n = 192) era de casados, a maioria (43,4%, n = 167) possui escolaridade do ensino médio e mais da metade não trabalha ou é aposentada (51,9%, n = 199). As feiras livres de Juiz de Fora são frequentadas por diversas classes sociais, verificou-se que 9,1% (n = 35) dos frequentadores, de ambos os gêneros, possuem renda familiar superior a 5 salários mínimos, 19% (n = 73) se enquadram no valor de 3 a 5 salários mínimos, 41,4% (n = 159) recebem de 1 a 3 salários mínimos; 9,6% (n = 37) têm até 1 salário mínimo e 20,8% (n = 80) não responderam.
Dados demográficos e socioeconômicos dos consumidores das feiras livres de Juiz de Fora- MG, 2017
Dos consumidores entrevistados, 42,4% (n = 163) moram com 1 a 2 pessoas, 44,3% (n = 170) com 3 a 4 moradores, 10,7% (n = 41) com mais de 5 moradores e 2,6% (n = 10) não responderam.
O gasto na feira, por vez, varia conforme a faixa de renda, sendo que 37,4% (n = 144) gastam até R$ 25,00 na feira, 39,2% (n = 151) gastam de R$ 25,00 a R$ 50,00 e 23,4% (n = 90) gastam mais de R$ 50,00.
O gasto na feira foi significativamente associado com estado civil e número de moradores por casa (p < 0,05) (dados não apresentados em tabela). Em relação ao estado civil, os casados apresentaram um gasto maior em relação às outras situações conjugais. A quantidade de moradores por casa foi diretamente proporcional ao gasto na feira, ou seja, quanto maior o número de pessoas por casa, maior também será o gasto.
O meio de transporte utilizado para chegar à feira também foi avaliado, sendo constatado que a maioria dos consumidores não usa nenhum meio de transporte, ou seja, 61,5% (n = 235) vão a pé para as feiras. Porém, 22% (n = 84) utilizam o carro como meio de transporte, 14,7% (n = 56) utilizam o transporte público e 1,8% (n = 3) outros meios ou não opinaram. Dos que utilizam o transporte público, 25% (n = 14) opinaram que estes estão em boa qualidade para utilização, enquanto 55,4% (n = 31) relataram o contrário e 19,6% (n = 11) não opinaram quanto a esse quesito.
A periodicidade de ida à feira por mês é variável, sendo que 16,7% (n = 64) vão até duas vezes, 50,4% (n = 193) vão de 3 a 4 vezes e 32,9% (n=126) vão mais de 4 vezes.
Os consumidores preferem comprar na feira livre em relação a outros tipos de comércio devido a vários motivos, dentre os citados estão: preço (49,09%, n = 189), qualidade (44,41%, n = 171), variedade (31,16%, n = 120), praticidade (27,79%, n = 107) e outros motivos (18,44%, n = 71), ressaltando que os entrevistados apontaram uma ou mais de uma dessas alternativas como resposta. Contudo, quando não há possibilidade de ir à feira, a maioria (57,3%, n = 199) opta por comprar em supermercados, 34% (n = 118) em mercearias e/ou vendas de bairro e 8,6% (n = 30) compram em outros tipos de estabelecimentos.
Quanto à pesquisa de satisfação, ressalta-se que grande parcela dos pesquisados (98,1%, n =371) está satisfeita com a feira que frequentam e apenas 1,9% (n = 7) estão insatisfeitos.
De modo geral, percebe-se que todas as variáveis em questão sobre as características da feira livre frequentada (Figuras 1 e 2) foram bem avaliadas, destacando a localização, recebendo 94,7% (n = 364) das respostas a avaliação “boa” e “ótima”. Assim como o atendimento e o serviço prestado foram classificados em sua maioria como ótimo e bom, sendo confirmado pela análise dos dados, 39% (n = 150) e 53,2% (n = 205), respectivamente. As características sensoriais dos produtos (aparência, consistência, odor e higiene) também foram avaliadas como ótima por 24,4% (n = 94) dos consumidores e 63,4% (n = 244) classificaram como boa.
Quanto à pesquisa de satisfação sobre as condições higiênico-sanitárias (Figura 2), a higiene pessoal dos feirantes, das barracas/boxes e infraestrutura também teve boa avaliação em sua maioria: 75% (n = 288) dos entrevistados opinaram entre ótima e boa. Para esse quesito foi verificada associação significativa apenas com a escolaridade do frequentador (Tabela 2). A maior parte das avaliações como regular e ruim foi conferida pelos frequentadores com ensino superior, 38% (n = 41) para a higiene pessoal (p = 0,003) e 32% (n = 35) para a higiene das barracas/boxes (p = 0,04).
Avaliação da satisfação quanto à higiene pessoal e das barracas de acordo com a escolaridade dos consumidores das feiras livres de Juiz de Fora-MG, 2017
Dentre os motivos de satisfação (Figura 3) foram citadas: 20% (n = 71) praticidade e localidade; 19% (n = 66) preço e variedade; 12% (n = 60) interação e qualidade, em ambas; 1% (n = 4) atendimento e 36% (n = 124) não responderam.
Pesquisa de satisfação com os consumidores das feiras livres de Juiz de Fora-MG. *36% dos participantes não responderam
O preço é um item importante para os frequentadores das feiras, e isso pode ser confirmado já que 83,1% (n = 320) fazem uma avaliação desse item antes de adquirir o produto, sendo que, quando o alimento de interesse está fora do orçamento previsto, 85,9% (n = 330) dos frequentadores deixam de comprá-lo.
DISCUSSÃO
No presente estudo foi constatado que a maioria dos consumidores são do gênero feminino, mesma situação relatada por Fante et al.8. Tal fato pode ser decorrente de, na maioria das vezes, as mulheres serem as maiores responsáveis pela tomada de decisão de compra, além de se demonstrarem atenciosas aos detalhes na escolha do produto9.
Metade dos entrevistados é casada ou vivem com uma pessoa. O estado conjugal pode indicar diferentes fases do ciclo de vida de uma família, podendo, portanto, influenciar o comportamento de compra dos consumidores, no que diz respeito aos produtos consumidos, quantidades e/ou variedades assumidas. O estado civil e o número de morador por casa influenciam no gasto final do consumidor na feira, conforme demonstrado por este estudo.
O mesmo pôde ser observado por Cazane et al.10, que também concluiu que os consumidores casados e com filhos tendem a comprar produtos para toda a família, o que influencia no resultado final dos gastos e na quantidade e variedade de produtos adquiridos.
Já em relação à escolaridade, dos frequentadores entrevistados, a maior parcela possui até o ensino médio completo, isso também foi observado em um estudo realizado por Colla9. Segundo o estudo de Silva et al.11, quanto maior a escolaridade, maior é o conhecimento sobre segurança alimentar e nutricional.
Pode-se observar que a maioria das pessoas que frequentam as feiras possuem uma renda familiar em torno de 1 a 3 salários mínimos, com em torno de 3 a 4 moradores em casa. A renda familiar impacta no poder aquisitivo para compra, na escolha dos alimentos, do lugar e na pesquisa de preço12. Já foi constatada que a feira livre é uma alternativa para pessoas de poder aquisitivo menor, por ser um local de diversidade de preço e por englobar uma qualidade de produtos muito grande, fato que nenhum outro local de vendas representa, tornando possível ao consumidor determinar o preço e a qualidade do produto a ser adquirido, conforme as suas preferências ou condições socioeconômicas13,14.
Com relação aos valores das compras realizadas, observamos que a maioria dos consumidores das feiras-livres do presente estudo mencionou gastar entre R$ 25,00 e R$ 50,00. Isso representaria um valor médio de 4% do salário mínimo vigente no ano de 2017 (R$ 937,00), período em que a pesquisa foi realizada. Semelhante a este estudo, os gastos médios dos consumidores na Feira do Produtor de Passo Fundo foram de R$ 25,94 por dia. Os gastos médios por feira variaram conforme a faixa de renda familiar. À medida que se eleva a faixa de renda, aumenta o consumo, o que concorda com o observado de modo geral no Brasil, onde o consumo está condicionado às condições socioeconômicas da população, ou seja, o crescimento nos níveis de consumo está associado à elevação da renda da população15.
Em relação à periodicidade, constata-se que mais da metade dos frequentadores entrevistados vai às feiras de 3 a 4 vezes por mês; isso pode ser justificado pelos motivos que os levam a ir nesses locais, que, de acordo com a pesquisa, os principais são: melhores preços, boa qualidade dos produtos, praticidade e variedade, mesmos motivos apontados por Specht et al.14.
O presente trabalho buscou identificar variáveis que influenciam no processo de escolha dos consumidores para aquisição de produtos e também o que fazem optar pela feira livre como alternativa de varejo para aquisição dos produtos. Foi constatado na pesquisa que a localização foi considerada um dos motivos para a escolha da feira livre, provavelmente por ser em bairros próximos às moradias dos frequentadores, acompanhada por qualidade dos produtos, variedade, busca por convívio social e bom atendimento. Foi visto que a maioria dos entrevistados não utiliza nenhum tipo de transporte para chegar ao local das compras. Sendo assim, pode-se deduzir que são moradores do bairro e que têm esse tipo de comércio como primeira opção para compra, devido a sua comodidade. Estudos mostram que fatores sociais e culturais são os principais determinantes para os consumidores irem à feira16, sendo que muitas pessoas conhecem a feira livre por residirem próximo ou por influência dos fatores culturais, aumentando assim a probabilidade de compra naquele local10.
De acordo com os questionários respondidos, mais da metade classificou os aspectos de infraestrutura (banca/boxes, cobertura, pisos, sanitários etc.), atendimento e serviço prestado, condições sensoriais (aparência, consistência, odor, higiene) dos produtos, higiene pessoal do feirante e localização da feira frequentada como “bom”. É notada pela população a necessidade de condições higiênico-sanitárias adequadas para a aquisição de um alimento de qualidade. Em decorrência dessa exigência, a tendência é que os feirantes priorizem a segurança alimentar e nutricional desses locais. Isto é decorrente do maior acesso à informação, que contribui para aumentar as exigências dos frequentadores das feiras. Assim como pode ser observado quanto às avaliações sobre a higiene dos feirantes e das barracas/boxes, onde a classificação como regular e ruim foi atribuída, significativamente em sua maioria, pelos frequentadores que apresentavam maior nível de escolaridade, portanto reafirma-se que quanto maior a escolaridade, maior é o conhecimento sobre segurança alimentar11. Nesse sentido, para manter a freguesia, os feirantes têm que acompanhar o ritmo do consumidor e buscar satisfazer suas necessidades17.
A feira, além de ser um ambiente para lazer, é a principal responsável pela integração produtor e consumidor e um local favorável à obtenção de alimentos que asseguram uma alimentação saudável, é responsável por garantir boa parte da segurança alimentar do país; assim, esse canal de comercialização se torna um forte instrumento de políticas públicas18. Portanto, a importância de se conhecer esse ambiente popular é reforçada, pois pode subsidiar políticas de saúde e nutrição. Nesse sentido, pode-se dizer que a feira representa um local de impacto social e nos concedem medidas intervencionistas, influenciando ações de aspectos socioeconômicos e nutricionais.
CONCLUSÃO
Pode-se verificar pelo presente estudo que a maioria dos consumidores das feiras livres é do gênero feminino, com idade média de 46 anos (± 22 anos), a maioria é casada e grande parte apresenta o ensino médio, e mais da metade não trabalha ou é aposentada. A renda familiar se concentra entre 1 e 3 salários mínimos, sendo que gasto na feira está associado com estado civil e número de moradores por casa.
A maioria dos consumidores está satisfeita com a feira que frequenta, onde muitos deles preferem comprar nas feiras livres onde procuram pelo melhor preço, qualidade, praticidade, variedade e outros motivos, demonstrando que as feiras ainda atraem muitos consumidores. Foi verificada associação significativa da escolaridade do frequentador e a satisfação quanto à higiene pessoal e das barracas/boxes.
No entanto, de acordo com os dados resultantes, é possível ainda identificar alguns frequentadores insatisfeitos com as condições da feira frequentada. Tendo como desafio conquistar o reconhecimento de um público maior de consumidores, com produtos diversificados e com qualidade diferenciada e que atenda os atributos de saúde, sabor e cultura, promovendo a valorização de alimentos com qualidade diferenciada. As constatações do presente estudo indicam um caminho de grande relevância, orientam para proposição de ações e estratégias visando o maior desenvolvimento das feiras livres como canal de distribuição e promoção de saúde, contribuindo para a segurança alimentar e nutricional.
O estabelecimento de novas estratégias pode contribuir para o desenvolvimento das feiras, promover saúde e garantir a segurança alimentar e nutricional.
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Como citar: Ribeiro NR, Martins BX, Marques NPA, Campos ICS, Figueiredo PC, Binoti ML. Satisfação e perfil socioeconômico e demográfico dos consumidores das feiras livres de Juiz de Fora-MG. Cad Saúde Colet, 2022; Ahead of Print. https://doi.org/10.1590/1414-462X202230030046
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Fontes de financiamento: nenhuma.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
02 Dez 2022 -
Data do Fascículo
Jul-Sep 2022
Histórico
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Recebido
12 Mar 2018 -
Aceito
20 Nov 2020