RESUMO
Objetivo refletir sobre a Fenomenologia da Vida de Michel Henry como abordagem para o cuidado afetivo de Enfermagem em tempos de pandemia de coronavírus.
Método trata-se de um estudo teórico-reflexivo com base na Fenomenologia da Vida apresentado por Michel Henry, de modo a contribuir com o cuidado de Enfermagem elegendo a dimensão do afeto, de onde derivam os sentimentos, atitudes e ações para o cuidado da vida em tempos de Covid-19.
Resultados o cuidado de Enfermagem em tempos de coronavírus como cuidado afetivo do sofrimento da vida subjetiva de cada ego, que se revela na sua carne afetiva e por um acolhimento afetivo. Mostrou-se conceitualmente que esse cuidado de vida subjetiva se distingue totalmente da vida objetiva.
Conclusão e implicações para a prática o valor fenomenológico da afetividade do cuidado de Enfermagem requer uma concepção que contemple a vida como um bem valioso em Si, e respeito do outro.
Palavras-chave: Filosofia; Vida; Cuidados de Enfermagem; Pandemias; Coronavírus
RESUMEN
Objetivo reflexionar sobre la Fenomenología de la Vida de Michel Henry como abordaje del cuidado afectivo de enfermería en tiempos de pandemia de coronavirus.
Método se trata de un estudio teórico-reflexivo basado en la Fenomenología de la Vida presentada por Michel Henry, con el fin de contribuir al cuidado de Enfermería eligiendo la dimensión del afecto, de donde derivan los sentimientos, actitudes y acciones para el cuidado de la vida en tiempos de Covid-19.
Resultados el cuidado de enfermería en tiempos de coronavirus se presenta como cuidado afectivo del sufrimiento de la vida subjetiva de cada sujeto, que se revela en su carne afectiva y por una acogida afectiva. Se demostró conceptualmente que este cuidado de vida subjetiva es totalmente diferente de la vida objetiva.
Conclusión e implicaciones para la práctica el valor fenomenológico de la afectividad en el cuidado de enfermería requiere de una concepción que contemple la vida como un bien valioso en sí mismo y del respeto hacia el otro.
Palabras clave: Filosofía; Vida; Atención de Enfermería; Pandemias; Coronavírus
ABSTRACT
Objective to reflect on Michel Henry's Phenomenology of Life as an approach to affective Nursing care in times of the coronavirus pandemic.
Method this is a theoretical-reflexive study based on the Phenomenology of Life presented by Michel Henry, in order to contribute to Nursing care by choosing the dimension of affection, from which the feelings, attitudes, and actions for the care of life arise in times of COVID-19.
Results Nursing care in times of coronavirus is disclosed as affective care for the suffering of the subjective life of each ego, which is revealed in its affective flesh and by affective welcoming. It was conceptually shown that this subjective life care is totally different from objective life.
Conclusion and implications for the practice the phenomenological value of affectivity in Nursing care requires a conception that considers life as a valuable good in itself, and respect for the other.
Keywords: Philosophy; Life; Nursing Care; Pandemics; Coronavirus
INTRODUÇÃO
A Fenomenologia da Vida, segundo Michel Henry1 revela em Si mesmo, no afetar-se em Si e consigo desvelando por imediato a originalidade, ao outro; manifestação da vida que comprovamos a partir das afecções indispensáveis em nós.
Michel Henry1 contribuiu e tem contribuído muito para o pensamento filosófico e para outras áreas do conhecimento. A sua teoria fundamental é a Fenomenologia da Vida que apresenta um sujeito que se afeta em Si e consigo e nesta auto-afecção revela a sua originalidade. Manifestação da vida que comprovamos a partir das afecções indispensáveis em nós.
Para sustentar a tese da Fenomenologia da Vida, Henry se contrapõe abruptamente à fenomenologia de Husserl que parte da consciência intencional para descrever o mundo e a vida2,3.
A consciência é para Husserl a “consciência do mundo, ela é a consciência de qualquer coisa, a intencionalidade. Que a consciência seja em sua essência intencionalidade, isso quer dizer que é a intencionalidade que coloca na condição da fenomenalidade, que é a fenomenalidade ela mesma, é ela que faz ver” 4:13.
As coisas, os objetos, os fenômenos aparecem na consciência intencional. Henry contesta essa teoria ao afirmar que a vida não precisa da redução fenomenológica e nem da intencionalidade para ser manifestada, pois, ela mesma se manifesta e assim doravante revela o que é o mais importante, a sua própria essência3,4. Nesse sentido, a vida não será fundada somente num ato intencional, mas ela criará a fenomenalidade pura5.
Sendo assim, “a vida é fenomenológica num sentido original e fundador. É fenomenológica no sentido em que é criadora da fenomenalidade. A fenomenalidade surge originalmente e ao mesmo tempo na vida, sob a forma de vida e de nenhuma outra maneira” 5:13. A vida é a fenomenalidade original e absoluta, nela não se manifesta nenhum outro ente estranho, mas, somente a vida. A subjetividade sendo absoluta revela o fenômeno originário, e o conteúdo que é manifestado, ele é puro e verdadeiro.
A teoria da Fenomenologia da Vida supera a grande questão que foi desenvolvida na fenomenologia tradicional, o distanciamento do ego com a subjetividade absoluta, ou em outras palavras, o distanciamento que existia entre o ego e a manifestação da vida originária. Segundo Henry, a vida manifesta o que ela sente e experimenta, não há possibilidade para a existência de outro conteúdo. “A vida se sente e se prova a Si mesma, por isso que não há nada nela que ela não prova nem sente. E pelo fato de se sentir a Si mesma é justamente isso que faz dela ser vida” 4:31.
Fundamentalmente, a vida não precisa de um ego externo para dizer o que ela é, visto que ela está constantemente se experimentado. Desse modo, a vida revela a sua essência abertamente e não necessita de um saber teórico com a intenção de ditar o que ela é, ao contrário, todo o conhecimento, a Fenomenalidade da Vida é fundada nela e por ela mesma. Diante disso, o pensador dirige uma crítica forte à tradição fenomenológica de Husserl, pois, apesar de falar do ego, corpo, subjetividade e outros temas semelhantes e importantes, os descreve a partir do método fenomenológico e de um ego constituído.
Então, se não há um distanciamento entre a vida, o ego e o corpo, como Henry demonstra essa teoria de vida originária? Como essa vida expõe o seu conteúdo na manifestação originária? O filosofo4 afirma que a vida é pura afetividade e que ela se engendra nela mesma e se auto-afeta. Assim, “a vida se engendra ela mesma no processo de sua auto-afecção eterna, processo no qual ela vem a Si, se choca contra Si, se prova a Si mesma (soi-même), goza de Si, não sendo nenhuma outra coisa que a eterna felicidade desse puro gozo (gozando) de Si. Viver consiste neste puro provar (se provar/se experimentar) (s´éprouve), só deste modo é possível viver, não existe nada em outro lugar” 5:132.
Com esta proposição surpreendente, o pensador evidencia que o pensamento sobre a origem da vida do ego de cada vivente não deverá ser constituído fora de Si mesmo, como foi elaborado pela teoria da intencionalidade, mas na subjetividade da vida do fenômeno originário, do aparecer primordial que antecede a toda a aparência. Porque nesse aparecer a vida se doa, é pura doação, e todo o conteúdo manifestado se torna verdadeiro4,5.
A vida é essa eterna auto-afecção de Si mesmo, por Si mesmo. É uma força, potência originária. E o conteúdo provém da subjetividade como uma força que se impõe e resiste aos poderes externos. Ela é pura auto-afecção e na realização desse processo ela revela a sua essência. A auto-afecção não tem nem um começo nem um fim, é um movimento, um auto-movimento interno que experimenta a Si mesma na vivência, sem interrupção4,5.
Outro ponto importante, é que a vida sendo pura auto-afecção, é vida afetiva. A Fenomenologia da Vida deixa de ser uma fenomenologia teórica no sentido racional como fora constituída, mas pura afetividade. Afetividade é essência e se revela a Si mesma. A Fenomenologia da Vida não constitui o fenômeno fora de Si, mas a essência da manifestação do fenômeno ela se doa por ela mesma, esse sendo o fenômeno puro. Desta forma, não é diferente do fenômeno e da sua manifestação, da sua fenomenalização.6
A fenomenologia de Husserl descreve os fenômenos do ato de aparecer que estão na consciência, portanto, estão fora da essência, ou mais precisamente da vida. Porque na fenomenalização do fenômeno do mundo ela não se revela a Si mesmo nem em Si mesmo, mas se revela no ego constituído, isso quer dizer na exterioridade. Já no aparecer puro, revela o fenômeno originário e na auto-afecção reside à essência que se manifesta continuamente.
Assim, Henry4 afirma que o auto-aparecer da vida não traz nenhuma alteridade consigo, mas somente a vida em sua pureza imediata. Ela se expõe como é. E a fenomenalidade de tal auto-aparecer é uma afetividade transcendental. E as tonalidades afetivas como o sofrimento, a alegria e os seus desdobramentos são vivenciados inteiramente, e é nelas que se revela a vida do ego. Por isso, Henry coloca a afetividade no centro da sua fenomenologia, afinal tudo parte dela3,6.
Desse modo, “a afetividade é a essência fenomenológica da vida, a carne impressional em que o ver da intencionalidade não tem lugar – nesse sentido, (a afetividade) é o não intencional puro”5:13. A afetividade é a contraposição mais extrema possível da intencionalidade husserliana, a afetividade não é pensamento, mas puro sentir-se.
Assim, a Fenomenologia da Vida de Henry4 envolve diretamente o sofrimento do outro, e com a pandemia do coronavírus a humanidade tem vivenciado altas taxas de mortalidade. Desse modo, até 02 de novembro de 2020 a pandemia mundial de Covid-19 atingiu o quantitativo de 46.618.804 casos confirmados e mais de 1.201.833 mortes; sendo registrados no Brasil mais de 5.545.705 casos confirmados, com 160.104 mortes7. E, portanto, as pessoas estão envolvidas mutuamente com o sofrimento, sejam pacientes, familiares, profissionais de saúde, que se comunicam na singularidade, direcionando o olhar para a vida, focalizando ser acolhida de forma efetiva, cheio de sentidos de afeto e impulsividade para a vida.
Desse modo, o estudo objetivou refletir sobre a Fenomenologia da Vida de Michel Henry como abordagem para o cuidado afetivo de Enfermagem em tempos de pandemia de coronavírus.
MÉTODO
Estudo teórico-reflexivo com base na Fenomenologia da Vida apresentado por Michel Henry. O estudo pretende contribuir com o cuidado de Enfermagem elegendo a dimensão do afeto, de onde derivam os sentimentos, atitudes e ações para o cuidado da vida em tempos de Covid-19.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fenomenologia da vida em tempos de coronavírus
Como vimos, a proposição fundamental da fenomenologia de Henry4 é defender de uma forma magistral e contundente o primado da vida. Ele dirige duras críticas à filosofia, mas também à ciência8, pois ambas esqueceram a vida subjetiva. Isso não significa que ela não tenha sido pesquisada durante a história do pensamento.
No entanto, foi investigada, como um objeto fora de Si e este, será exatamente o contraponto que o pensador fará com a filosofia e com a ciência. As pesquisas que foram realizadas geraram uma profunda crise na humanidade, pois a vida foi objetivada.
Diante disso, Henry reclama duramente e isso aparece praticamente em todos os seus escritos sobre o esquecimento da vida originária, da vida afetiva, subjetiva, pois ela é o princípio e contém a sua sabedoria específica, devendo ser respeitada em sua essência infinitamente. Ela sendo descolada corre-se o grande perigo da sua existência ser extirpada definitivamente, como tem acontecido, considerando que vem sendo ameaçada constantemente. As conseqüências por sua vez são inúmeras, como, por exemplo: o desprezo, a exclusão, a mecanização e falta de cuidado e de acolhida.
A Fenomenologia da Vida nasce dessa intriga e propõe outro dito, ou seja, para pensarmos e repensarmos fenomenologicamente sobre os reducionismos. Isso não significa que o filósofo abandone o pensamento, a ciência e suas contribuições em prol da sociedade. Talvez, a humanidade tenha visto neles, sobretudo na ciência, a única possibilidade de salvação e, assim, a vida afetiva foi excluída. Henry argumenta excessivamente que a vida não pode ser objetivada porque ela revela a essência de cada ego que é carne afetiva e que essa subjetividade precisa ser respeitada9.
Para melhor refletir e tecer alguns apontamentos sobre a superação do problema mundial da pandemia do novo coronavírus podemos pensá-lo a partir da tese de Henry4. Isso porque, a tensão atual é um resultado visível de um modo de pensar e agir, ou seja, há a exclusão da vida afetiva o que significa o não acolhimento do sofrimento do outro.
Talvez, estejamos nos preocupando e dando mais valor às coisas que consideramos importantes. No entanto, a crise da vida afetiva, ou melhor, a saúde da vida de cada ipseidade na atualidade nos faz repensar o que priorizamos em nossa existência. Para amenizar o sofrimento, com a intenção de salvarmos vidas, precisamos mudar a forma de pensar, as nossas preocupações, olharmos e agirmos percebendo a essência da vida afetiva que se revela e se expõe aos outros.
A tese fundamental da Fenomenologia da Vida como vimos é priorizá-la e colocá-la no centro do argumento1,4,5. Desta maneira, Henry percebeu que o pensamento não a valorizava, ao contrário, colocava-a na qualidade de objeto a ser analisado. Sendo assim, a humanidade entrou em uma profunda crise em todos os sentidos devido ao esquecimento da vida afetiva10.
Neste sentido, a Fenomenologia da Vida nos possibilita pensar o corpo, que sente a vida nas tonalidades afetivas que se tornam singulares e, ao mesmo tempo se abrem para além da afasia indo ao encontro da subjetividade10, porque uma vida encarnada é uma vida em que o outro, ao dar-se como afeto, se dá na intimidade constitutiva do sentimento11.
Assim, o acesso às facetas dos fenômenos, e ao próprio fenômeno, tornam-se possíveis apenas no vivido enquanto copropriedade da própria vida que se afeta em Si mesmo como afeição12. Desta maneira, olhar as implicações da Fenomenologia da Vida para a ciência da Enfermagem nos cuidados aos pacientes com suspeitas ou infectados pelo coronavírus é interrogar as possibilidades do cuidado na fenomenalidade da afeição no cotidiano da vida dos enfermeiros.
Ao pensar na manifestação da vida a partir pandemia de Covid-19 declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 11 de março de 2020, e, no Brasil em 4 de fevereiro do mesmo ano, quando o Ministério da Saúde (MS) decreta a Emergência Sanitária, pretendendo mitigar a disseminação da doença, foi instituída a Lei Federal nº 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, onde são dispostas medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente do coronavírus, como o estabelecimento de isolamento do convívio social da população, quarentena aos infectados, permanência das pessoas em seus domicílios, funcionamento de serviços apenas essenciais à vida, como: saúde, farmácias, supermercados, padarias entre outros13,14.
O cuidado afetivo de enfermagem a partir da fenomenologia da vida em tempos de pandemia
No cuidado de Enfermagem aos pacientes suspeitos ou infectados pelo Covid-19, indagar o cotidiano da assistência é necessário. Da mesma forma, cuidar para além das técnicas de saúde, tais como: curativos, administração de medicamentos e higienização do corpo, técnicas que traduzem um cuidado tecnificado e fundamental para a garantia da ação efetiva, porém o cuidado de Enfermagem não se reduz à razão, envolve outras facetas da vida do enfermeiro e do paciente.
Assim, torna-se um desfio compreender que a subjetividade do cuidado de Enfermagem constitui-se no vivido das emoções que mobilizam e afetam o corpo do enfermeiro que se revela nos significados e sentidos dos afetos, das paixões e do impulso da vida11. Essa questão fenomenológica do cuidado de Enfermagem é, portanto, de natureza afetiva: ela vai da afecção de sentidos corporais a uma subjetividade doadora de sentido no campo do cuidado de Enfermagem.
Nesse sentido, um núcleo essencial se evidencia no cuidado em Si e com o outro na área da Enfermagem, a partir de Michel Henry4, instituído pela afetividade enquanto processo originário da vida. Dessa forma, descrever o cuidado afetivo na pratica de Enfermagem aos pacientes suspeitos e ou infectados pelo Covid-19 é inquietador.
Assim, o cuidado afetivo se desvela como fenômeno de Si com o outro, vida e vivencia como pólos inseparáveis na condição primitiva do devir afetivo, manifestação pura que mobiliza a autodoação afetando a vida no seu sentir a Si mesmo; a fenomenalidade de sentir o cuidado afetivo15 como originário da subjetividade, traz aberturas para uma vida real vivida na carne como: amar, sofrer, duvidar, sentir, perdoar.
O cuidado de Enfermagem afetivo a partir da abordagem em MH nos possibilita viver a subjetividade em Si e com o outro na sua imanência absoluta sem perder a ipseidade16 possibilitando a autodoação no cuidado afetivo. A vida se revela em suas facetas, o acolhimento afetivo expressa o cuidar respeitoso, individual e mútuo, e favorece o estar com o outro, sem invadir a vida do paciente, mas acolhendo-o fraternalmente, num ato de sentir a dor do paciente, possibilitando ampliar a prática assistencial com afetividade.
O avanço do coronavírus impõe medo e sofrimento à população mundial, exigindo das autoridades de saúde uma atenção segura para o enfrentamento da pandemia. No campo da Enfermagem, a assistência dos enfermeiros nas 24 horas no hospital é vital, e são várias as atividades exercidas por estes profissionais no sentido de proporcionar o cuidado qualificado em prol do restabelecimento da saúde, dentre elas, a comunicação entre paciente, enfermeiro e familiares no intuito de orientar sobre o Covid-19 e as ações que intencionam evitar a contaminação como, por exemplo, o isolamento social.
Outro item é a sobrecarga de trabalho dos profissionais de Enfermagem, visto que os mesmos absorvem tarefas assistências ininterruptamente atendendo todas as necessidades dos clientes.
Nessa luta contra a pandemia do coronavírus, profissionais de saúde ao redor do mundo estão sendo infectados e há um número crescente de mortos entre eles. Apesar dos equipamentos de proteção individual (escassos em muitos países, inclusive no Brasil), enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem dentre outros profissionais de saúde parecem tender a contrair mais o vírus que a maioria das pessoas, e talvez a desenvolver a doença com quadros mais letais, isso, pela alta exposição ao Covid-19 e o estresse vivenciado no cotidiano do cuidado á saúde17.
Assim, olhar a dimensão da assistência de Enfermagem considerando que é um doar-se de Si e ao outro, estabelecendo nesse ato de aproximação entre enfermeiro e paciente, um cuidado afetivo na relação do cuidar, ampliando manifestações afetuosas que ampliam a saúde e possibilita modos afetivos do sofrer e do fruir18 como vivenciados pelos enfermeiros e pacientes em tempos de coronavírus.
Nesse sentido, a vida no seu cotidiano é uma doação sentida e constituída em nós pelo afeto, permitindo a construção do Si mesmo, que não se finda, pois cuidar com afetividade e dar alento ao sofrimento, como possibilidade de sentir o outro, ser afetado pelo outro e apropriar-se de cuidar do outro. O compartilhamento entre o cuidado de Enfermagem e o paciente produz afeto que não é estanque em Si, transforma-se entre nós (enfermeiros e pacientes), em uma dinâmica afetiva originária que os constitui.
O afeto é manifestado no cotidiano do cuidado de Enfermagem aos pacientes infectados por Covid-19 no modo original da vida do sofrer e fruir instituindo-se na ligação fundante deste cuidado. A relação do cuidado afetivo que se desenrola nesse vivido cotidiano do enfermeiro, tem eco mobilizador de afetos no corpo do paciente e permite o cuidado ampliado para o sentir das diversas formas de sofrimento físico, mental, espiritual entre outras maneiras de cuidar que mobilizam a existência humana.
O afeto no cuidar tem íntima relação com o exercício profissional de Enfermagem, pois ao realizar os cuidados vitais intencionando o bem-estar dos pacientes necessita abertura afetiva para tocar o corpo do outro, isso nos remete à humanização da assistência prestada por esta categoria desvelando duas dimensões: a objetiva, que se refere ao desenvolvimento de técnicas e procedimentos, e a subjetiva, que se baseia em sensibilidade, criatividade e intuição no sentido de cuidar do outro com afeto.
Michel Henry4,5 nos possibilita desvelar que o cuidado de Enfermagem é constituído na vida, numa relação direta entre enfermeiro e paciente; em tempos de Covid-19 fica expresso no contexto mundial o sofrimento e a dor dos pacientes infectados e profissionais de saúde no enfretamento da pandemia.
Assim, o cuidado de Enfermagem se dá no acolhimento afetivo, ato de afeto no cuidar intersubjetivo, manifestação da condição humana, autoafecção para as facetas do cuidado da vida/saúde, não só em tempos de pandemia.
CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA
Pensar o cuidado de Enfermagem a partir das contribuições da Fenomenologia da Vida de Michel Henry é, pois, uma necessidade real em tempos de coronavírus, a fim de ampliar o olhar para além das técnicas em saúde e compreender a intersubjetividade do cuidado de Enfermagem afetivo.
Assim, valorizar o sentir da vida em Si e no Outro em sua complexidade é respeitar o humano em suas facetas do sofrer e fruir, sendo manifestação da condição humana que possibilita o acolhimento afetivo. O cuidado afetivo aplicado na prática da Enfermagem significa resgatar a dignidade do ser humano vivida e sentida na alegria e dor ao cuidar dos pacientes com Covid-19. Esse é um processo que se faz urgente em tempos de pandemia ou não.
O estudo teve como fator limitante para análise do campo teórico, a escassez de estudos científicos que abordem a relação dos conceitos da Fenomenologia da Vida de Michel Henry em articulação com o contexto de emergência sanitário mundial, ocasionada pelo Covid-19.
REFERÊNCIAS
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Editado por
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EDITOR ASSOCIADO
Antonio José Almeida FilhoEDITOR CIENTÍFICOIvone Evangelista Cabral https://orcid.org/0000-0002-1522-9516
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
30 Jun 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
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Recebido
06 Nov 2020 -
Aceito
28 Abr 2021