Open-access Formação de enfermeiros durante a pandemia de COVID-19 no extremo sul do Brasil: estudo transversal

Formación de enfermeras durante la pandemia de COVID-19 en el extremo sur de Brasil: estudio transversal

RESUMO

Objetivos  identificar as estratégias adotadas para a continuidade da formação de enfermeiros durante a pandemia de COVID-19.

Métodos  estudo transversal, realizado com coordenadores de curso de graduação em Enfermagem do Rio Grande do Sul, Brasil, e coleta de dados on-line, entre novembro de 2020 e março de 2021.

Resultados  participaram 48 coordenadores; as Instituições de Ensino Superior adotaram o Ensino Remoto Emergencial no tempo médio de 26,9 dias após a determinação do distanciamento social e a mediana 45 dias em relação aos Estágios Obrigatórios, sendo que em 2020/1 81,3% das instituições mantiveram alunos nesta atividade e em 2020/2 o número passou para 85,4%. A supervisão direta, nos estágios, foi realizada em 50% das instituições. Como auxílio aos estudantes, destacaram-se o acesso a plataformas e biblioteca digital, e acesso assíncrono ao conteúdo.

Conclusão e implicações para a prática  as estratégias para a continuidade do ensino incluíram a adoção de estratégia on-line, a retomada de estágios curriculares, a redução do número de alunos por grupo nas aulas práticas e a disponibilização de auxílio aos estudantes. O presente estudo identificou iniciativas que garantiram o ensino de Enfermagem no contexto pandêmico; há necessidade de novas investigações que avaliem o impacto de tais medidas na qualidade do ensino.

Palavras-chave:  Coronavírus; Educação em Enfermagem; Enfermagem; Ensino; Pandemia

RESUMEN

Objetivos  identificar las estrategias adoptadas para continuar la formación de enfermeras durante la pandemia de COVID-19.

Métodos  estudio transversal, realizado con coordinadores de cursos de pregrado en Enfermería en Rio Grande do Sul, Brasil, y recolección de datos en línea, entre noviembre de 2020 y marzo de 2021.

Resultados  de un total de 48 coordinadores participantes, se identificó que las Instituciones de Educación Superior adoptaron Educación Remota de Emergencia en un tiempo promedio de 26,9 días después de la determinación del distanciamiento social y la mediana de 45 días en relación a las Pasantías Obligatorias. En 2020/1, el 81,3% de las instituciones tenían alumnos en esta actividad y, en 2020/2, el 85,4%. La supervisión directa, en pasantías, se realizó en el 50% de las instituiciones. Como ayuda a los estudiantes se destacó el acceso a plataformas y biblioteca digital, y el acceso asincrónico a contenidos.

Conclusión e implicaciones para la práctica  Las estrategias para la continuidad de la docencia incluyeron la adopción del formato enlínea, la reanudación de las prácticas curriculares, la reducción del número de alumnos por clase en las clases prácticas y la asistencia al alumno. El presente estudio implicó la identificación de iniciativas que garantizaron la formación en Enfermería en el contexto de la pandemia, incentivando la necesidad de nuevas investigaciones que se centren en evaluar el impacto de tales medidas en la calidad de la educación.

Palabras clave:  Coronavirus; Educación en Enfermería; Enfermería; Enseñanza; Pandemia

ABSTRACT

Objectives  To identify the strategies adopted to proceed to education nursing during the COVID-19 pandemic.

Methods  A cross-sectional study was carried out with coordinators of undergraduate nursing programs in the Rio Grande do Sul, Brazil. Data collection was carried out online between November 2020 and March 2021.

Results  A total of 48 coordinators participated. Higher Education Institutions adopted Emergency Remote Education in an average time of 26.9 days after determining social distance and the median of 45 days concerning mandatory internships. In 2020/1, 81.3% of institutions kept students in this activity, and in 2020/2, the number increased to 85.4%. Direct supervision was carried out in 50% of institutions in internships. Access to platforms and digital libraries and asynchronous access to content stood out as an aid to students. Conclusion and implications for practice: Strategies for continuity of teaching included adopting an online strategy, resumption of curricular internships, reducing the number of students per class in practical classes, and student aid. The present study involved the identification of initiatives that ensured nursing education in the context of the pandemic, encouraging the need for new investigations that focus on assessing the impact of such measures on education quality.

Keywords:  Coronavirus; Education, Nursing; Nursing; Pandemic; Teaching

INTRODUÇÃO

Intensas mudanças marcaram as últimas décadas no âmbito da saúde, sejam impulsionadas por fenômenos culturais ou pautadas no avanço da ciência e tecnologia, impactando, outrossim, a incorporação de métodos mais avançados quanto à prevenção, diagnóstico e tratamento de enfermidades.1 Tais avanços modificam o processo de cuidar na prática clínica do enfermeiro, demandando contínua atualização e aprimoramento de seus conhecimentos.

À vista disso, quando somos acometidos pela maior crise de saúde pública de nossa geração em escala global, com o advento da pandemia de COVID-19 (coronavírus), detectada na China em dezembro de 2019, assume-se um cenário desafiador que fomenta a necessidade do constante aprimoramento e agir crítico por parte dos profissionais da saúde.2 Se, por um lado, faz-se intrínseco no cotidiano laboral do enfermeiro o aperfeiçoamento de seus processos de trabalho e a característica presente de moldar-se em virtude das adversidades, nunca antes foram tão urgentes e frequentes as atualizações quanto a novas estratégias e arranjos organizacionais por parte das instituições, equipes e profissionais de saúde, como no contexto atual.

Neste ínterim, não somente o âmbito da saúde precisou se reinventar constantemente, como outros segmentos, sendo a educação um dos setores mais afetados no que se refere ao desdobramento de ações que buscassem reduzir os impactos negativos acarretados pelas medidas adotadas para o combate à pandemia. No tocante às Instituições de Ensino Superior (IES), são acrescidas à equação os danos a serem minimizados referentes à saúde pública, sobretudo os danos pedagógicos, refletidos na qualidade do ensino e aprendizagem. Nesse contexto, destaca-se a qualidade e segurança no que concerne às decisões de docentes quanto à sua forma de conduzir as disciplinas, que precisariam sofrer alterações no planejamento, a fim de alcançar os objetivos de formação profissional desejados.3

Em meio à pandemia, o Ensino Remoto Emergencial (ERE) foi posto em voga, trazendo à luz questões necessárias quanto à novas perspectivas e à possibilidade de se reinventar frente ao contexto, criando formas de assegurar a continuidade e a qualidade do ensino-aprendizagem, uma vez que, além de competências técnico-científicas, o profissional enfermeiro necessita de capacidade de liderança, visão global, uso de prática baseada em evidências, cuidado centrado no paciente, habilidade de comunicação, dentre outras.4,5 O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) contribuiu para a retomada das atividades em ERE, mediante a instauração de estratégias pedagógicas subsidiadas pelo uso da internet, ao mesmo tempo em que exigiu esforço para assegurar meios de reduzir os danos oriundos desse processo de ensino-aprendizagem.6

Do ponto de vista da formação de enfermeiros, o ERE atende apenas parcialmente às premências do ensino, uma vez que tais profissionais necessariamente precisam exercitar habilidades, que envolvem o manuseio de equipamentos e materiais destinados ao cuidado em saúde, e relações interpessoais. Assim, aulas práticas em laboratório e em serviços de saúde e estágios curriculares obrigatórios são primordiais para o preparo de profissionais para cuidar de vidas humanas. Garantir tal exercício em um cenário pandêmico constitui-se um desafio. Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi identificar as estratégias adotadas para a continuidade da formação de enfermeiros durante a pandemia de COVID-19 no estado do Rio Grande do Sul.

MÉTODO

Trata-se do recorte de um estudo transversal, norteado pela ferramenta STROBE. A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2020 e março de 2021, junto a coordenadores de cursos de graduação em enfermagem do Brasil. Para este trabalho, elencaram-se as respostas oriundas do estado do Rio Grande do Sul (RS), que se constituiu como local da presente pesquisa.

No estado, existem 56 IES que oferecem graduação em enfermagem na modalidade presencial.7 Para um nível de confiança de 95%, margem de erro de 5% e heterogeneidade de amostra, o n esperado era de 49 coordenadores de cursos de graduação em enfermagem.

Como critérios de exclusão, considerou-se: impossibilidade de responder ao questionário por inviabilidade de acesso à internet; férias e afastamentos de qualquer ordem; e coordenador de curso que tenha sido descontinuado ou não iniciado.

Todos os possíveis participantes foram contatados via e-mail, a partir do banco de dados da Diretoria de Educação em Enfermagem da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), seção RS. Adicionalmente, foi realizada busca nos sites das instituições ou realizado contato telefônico, com posterior envio de convite por e-mail. O convite compreendia uma breve explicação sobre a pesquisa, seguido do link que direcionava para um formulário Google, contendo TCLE, e do instrumento de coleta de dados, composto por 26 questões abertas e fechadas.

Concluída a coleta, os dados foram extraídos diretamente da planilha gerada pelo formulário Google, no formato Excel®. Realizou-se a organização desta, com exclusão de respostas duplicadas, seguida de análise estatística, realizada com o auxílio do programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 25.0.

A apresentação dos resultados foi realizada utilizando-se estatística descritiva, em número absoluto e relativo, além de medidas de tendência central (média e mediana) e de variabilidade (desvio padrão e amplitude interquartil), com estudo da simetria das distribuições contínuas, analisada pelo Teste de Kolmogorov-Smirnov. Foi realizada análise de associação entre variáveis categóricas, valendo-se do Teste do Qui-Quadrado de Pearson ou Exato de Fisher. Na comparação de proporções de uma única variável, foi empregado o Teste do Qui-Quadrado de Homogeneidade. As análises envolveram comparação de variáveis contínuas entre as regiões (grupos independentes), que foram realizadas através do Teste de Kruskall-Wallys – Post Hoc Dunn.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob Parecer nº 4.341.226, em 15/10/2020. O consentimento dos participantes foi obtido pela assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), imediatamente anterior à coleta de dados on-line, via formulários Google.

RESULTADOS

Foram obtidas respostas de 48 coordenadores do curso de graduação em enfermagem do Rio Grande do Sul, Brasil. Em relação à categoria administrativa, tais cursos eram oriundos de IES privadas (n=19; 39,6%), comunitárias (n=14; 29,2%), públicas federais (n=13; 27,1%) e filantrópicas (n=2; 4,2%).

A totalidade das IES representadas aderiu ao ERE, levando uma média de 26,9±48,1 (amplitude: 0 - 180) dias para retomar as aulas teóricas por meio de TICs. Sobre o mesmo dado, a mediana foi de 5,0 (1º - 3º quartil: 2,0 – 15,0) dias.

Em relação à sincronicidade, identificou-se média de 75,6 ± 21,8 (20 - 100) % e mediana de 80,0 (60,0 – 95,0) % de aulas síncronas no ERE.

Acerca dos estágios curriculares obrigatórios, a partir da determinação de distanciamento social, a mediana para o número que separou essa determinação da retomada dos mesmos foi de 45,0 (1º - 3º quartil: 16,0 – 90,0) dias. Quanto às características específicas relacionadas ao estágio, os itens mencionados com maior frequência foram sobre o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) a estudantes e professores, cada um relatado por 77,1% (n=37) da amostra. Ainda se destacou a permissão da unidade concedente para a retomada das atividades, com limitação do número de alunos por campo em 75,0% (n=36) das IES, como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1
Tempo de retorno às atividades, fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual e condições relacionadas aos estágios curriculares obrigatórios. Rio Grande do Sul, Brasil, 2021. n = 48.

Nas informações referentes ao número de estudantes em estágio curricular obrigatório, verificou-se que, em 2020/1, 81,3% (n=39) das instituições mantiveram alunos nesta atividade, enquanto que, em 2020/2, este número passou para 85,4% (n=41). No que se refere ao número de estudantes, em 2020/1, a mediana foi de 29,0 (1º - 3º quartil: 20,0 – 45,0) alunos, enquanto que, em 2020/2, foi de 28,0 (1º - 3º quartil: 19,0 – 44,0) alunos.

Considerando o número de estudantes que realizaram atividades na Ação Estratégica o Brasil Conta Comigo (AEBCC), em 2020/1, foram 37,5% (n=18), e, em 2020/2, 35,4% (n=17). Em relação ao número de estudantes em atividades na AEBCC, em 2020/1, a mediana foi de 4,0 (1º - 3º quartil: 1,0 – 6,0), enquanto que, em 2020/2, a estimativa foi de 4,0 (1º - 3º quartil: 1,0 – 10,0).

No que se refere ao percentual de carga horária cumprida na AEBCC, aproveitada para estágio curricular obrigatório, a mediana foi de 15,0% (1º - 3º quartil: 0,0 – 100,0%); no entanto, verificou-se que 43,8% (n=21) das instituições relataram que nenhuma hora da carga horária cumprida foi aproveitada. As informações sobre a AEBCC são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2
Número de estudantes em estágio curricular obrigatório e na Ação Estratégica o Brasil Conta Comigo. Rio Grande do Sul, Brasil, 2021. n = 48.

O número de estudantes em estágios curriculares obrigatórios foi comparado à categoria administrativa da instituição, e não houve diferença estatisticamente significativa (p = 0,582).

Os participantes foram questionados quanto ao auxílio disponibilizado para acompanhamento das aulas na modalidade ERE, e essa informação foi comparada com a categoria administrativa da instituição. Identificou-se diferença estatisticamente significativa no item “Acesso a plataformas digitais” (p=0,011), em que, nas instituições comunitárias, foi de 85,7% (n=12). Nas instituições privadas, 100,0% (n=19), este acesso foi superior, quando comparado ao de instituições públicas federais, de 53,8% (n=7).

No item “Capacitação para o uso plataformas digitais”, verificou-se que este auxílio, na instituição comunitária, 78,6% (n=11), foi significativamente superior (p=0,039), quando comparado aos casos da pública federal, 38,5% (n=5).

Em relação à oferta de biblioteca física, a diferença significativa (p=0,043) ocorreu entre as instituições privada, 36,8% (n=7), e públicas federais, 7,7% (n=1). Tais achados podem ser observados na Tabela 3:

Tabela 3
Distribuição absoluta e relativa para o auxílio disponibilizado aos alunos para acompanhamento das aulas na modalidade Ensino Remoto Emergencial segundo a categoria administrativa da instituição. Rio Grande do Sul, Brasil, 2021. n = 48.

DISCUSSÃO

Foi possível observar que, ainda que tenha ocorrido heterogeneidade em número de dias para a retomada do ensino teórico, mediante o emprego das TICs, instaurando-se o ERE, houve agilidade referente à implementação dessa nova forma de ensino, cuja maioria das aulas ocorreu de forma síncrona, apontando para uma diferença quanto ao ensino adotado na situação de emergência de saúde pública e o Ensino a Distância (EaD). Muito embora a adoção de TICs tenha sido essencial para a continuidade do ensino durante a pandemia e o mesmo tenha apontado para semelhanças em relação ao EaD, suas características são mais próximas ao ensino presencial, devido à interação aluno x professor em tempo real e metodologias empregadas para a ocorrência do processo ensino-aprendizagem.8 A proximidade viabilizada, através dessa gama de ferramentas, pode ser considerada assertiva, considerando que as Diretrizes Curriculares Nacionais (DNCs), comuns aos cursos da área da saúde, destacam a relevância da integração da tríade ensino-serviço-comunidade, ensejando fortalecer os vínculos da academia com os serviços e a população. As DCNs específicas da graduação em enfermagem fomentam a significância dos processos de formação dos profissionais de enfermagem, voltados para o cuidar, ressaltando o intransponível uso de pedagogias que propiciem características, como autonomia, participação, diálogo e engajamento político, crítico e reflexivo dos futuros enfermeiros.9

Entretanto, ainda que as aulas teóricas tenham sido retomadas rapidamente, por meio de TICs, e que sua articulação consista no esforço de desenvolver um ensino que considere as necessidades pedagógicas referentes ao currículo de enfermagem e suas particularidades, as mesmas não são suficientes para dar conta do ensino da profissão, posto que o mesmo necessita de relações interpessoais e da imersão no mundo do trabalho para que se garanta o desenvolvimento de competências necessárias ao exercício profissional. Compreende-se que tais espaços sejam basilares para a construção de identidades profissionais que transpassam a dimensão da produção de cuidado, contemplando um conjunto de saberes que se articulam com a realidade de saúde da população, sendo, portanto, elementares para o desenvolvimento de habilidades profissionais.10 Outrossim, compreende-se que o desdobramento destas competências requer a experiência em campo, de maneira presencial, e, no que se refere ao retorno dos estágios curriculares, observou-se que sua retomada demandou um tempo maior para ser restabelecido.

Se, por um lado, é imprescindível a realização de atividades em serviços de saúde, por outro, é indispensável a garantia da segurança dos entes envolvidos em tais ações, como estudantes e docentes, e, ao mesmo tempo, que os serviços de saúde tenham condições estruturais e de recursos para a recepção e trânsito dos aprendizes em suas dependências. Tais fatos justificam a oferta de EPIs pelas IES e, em menor escala, pelos próprios estudantes e docentes, ainda que isto seja de responsabilidade da unidade concedente de estágio,11 denotando a preocupação com a manutenção da saúde de tais atores, ao realizarem atividades imprescindíveis à consecução do currículo acadêmico e do desenvolvimento de competências adequadas às demandas da sociedade e às políticas públicas de ensino.12

Vale destacar que parte das IES não havia retomado os estágios até a conclusão da coleta de dados da presente pesquisa, bem como algumas unidades concedentes não permitiram o retorno das atividades em suas dependências. No período, a vacinação ainda não havia sido implementada, e, sendo o Brasil um dos países mais atingidos pelo SARS-COV-2, o perigo e o medo da exposição frente a uma crise sanitária global se fizeram presentes entre discentes e docentes, embora todos tenham ciência da importância da formação de enfermeiros, principalmente neste momento.13

Há de se considerar alguns entraves nesse contexto, posto que tanto as equipes das instituições receptoras quanto os acadêmicos ali inseridos manejaram fatores de sobrecarga, exposição a riscos ocupacionais, com possibilidade de adoecimento, bem como a insuficiência e/ou limitação de recursos humanos e materiais, demandando, assim, habilidades de gerenciamento de conflitos, tomada de decisão rápida, barganha/negociação, comunicação e liderança, visando mobilizar diferentes recursos para suprir com as necessidades presentes.14 Em face do contexto atual, desdobraram-se diversas problemáticas novas, das quais podem-se elencar a falta de suporte psicológico a professores, a baixa qualidade no ensino, este sendo reflexo da falta de planejamento de atividades em “meios digitais” ou desconhecimento para manejá-los, a sobrecarga de trabalho atribuído aos professores, posto as demandas novas somadas às já existentes, o descontentamento dos estudantes, implicando seus variados fatores para tanto, e o acesso limitado, outrora inexistente, dos estudantes às tecnologias necessárias.15 Ainda, a articulação do uso de ferramentas digitais envolve planejamento e uso de estratégias de gerenciamento singulares, que abrangem aspectos, como oferta de uma estrutura informacional adequada, suporte técnico aos professores e estudantes, elaboração e disponibilização de materiais didáticos a serem utilizados em aula, alocação desses no ambiente virtual, bem como apoio pedagógico acessível aos estudantes e treinamento contínuo às tecnologias aos professores.16 Por outro lado, sendo a conjuntura atual emergente e insólita em meio a uma crise sanitária, outras dimensões são consideradas, como a oportunidade única de aprendizado e de adaptação a cenários de excepcionalidade, contribuintes incontestáveis para o desenvolvimento de competências profissionais do enfermeiro. Nesse sentido, o cenário pandêmico exigiu das IES a necessidade de tomada de decisões acerca das alternativas, para lidar com os processos de ensinar e aprender, de modo que os agentes envolvidos (professores, estudantes e funcionários) fossem devidamente protegidos da contaminação e propagação do vírus.17

A emergência de saúde instaurada pela pandemia de COVID-19 desencadeou uma série de iniciativas governamentais. Uma delas teve por objetivo aumentar o aporte de profissionais de saúde para o enfrentamento à pandemia.14 Na AEBCC, além do recrutamento de profissionais para atuar em diferentes locais do território nacional, foi prevista a antecipação da formatura dos acadêmicos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia que estivessem em estágio curricular obrigatório. Eles poderiam colar grau com 75% da carga horária do estágio cumprida. Além disso, os estudantes poderiam se cadastrar para atuar no enfrentamento da pandemia, tendo a oportunidade de utilizar as horas realizadas nessa atividade como horas de estágio curricular.18

Não obstante, verificou-se que, a despeito dessa possibilidade, a percentagem de aproveitamento das horas cumpridas em AEBCC foi baixa, sendo que mais de 40% das IES representadas neste estudo não aproveitaram nenhuma hora cumprida em AEBCC, possivelmente relacionado ao fato de as IES não terem gerência sobre as atividades do AEBCC, que não previa planejamento ou acompanhamento pedagógico. Assim, observou-se pouca adesão dos acadêmicos à AEBCC, com uma mediana de 4 alunos realizando a ação ao semestre a cada escola, enquanto que uma mediana de 29 e 28 alunos/escola realizava estágio curricular supervisionado nos semestres 2020/1 e 2020/2, respectivamente. Se, por um lado, a pandemia pode ser vista como oportunidade para o desenvolvimento e consolidação de competências trabalhadas durante a formação acadêmica, por outro, os acadêmicos podem se tornar vetores de transmissão viral na comunidade e, ao mesmo tempo, não se pode afirmar que a participação dos estudantes garantiria melhorias nos resultados em saúde.19

Em tempo, estudos desenvolvidos acerca da AEBCC apontam que a formação por seu intermédio, nesse período, foi permeada por fragilidades e inseguranças, tais como o acesso aos EPIs, uma vez que os mesmos eram disponibilizados pela instituição concedentes, variando de acordo com os recursos disponíveis, além do risco presente quanto à sobrecarga dos preceptores ao terem que articular e reformular suas ações diárias, que se intensificaram com a pandemia, somadas à supervisão direta dos estudantes sem a presença do professor no local.20

Ainda, ressalta-se que a AEBCC acaba por deslegitimar a prática baseada em evidências, além de aumentar a sobrecarga de trabalho dos profissionais que estão atuando na linha de frente, pois os profissionais recém-formados, com 75% da carga horária de estágio curricular obrigatório, necessitarão de supervisão durante suas atividades assistenciais. Portanto, a AEBCC caracteriza uma involução no âmbito da educação, uma decisão que não vislumbra os danos futuros que a antecipação da formação desses profissionais pode causar.21

Em relação ao auxílio disponibilizado aos estudantes, houve diferença na oferta de “acesso a plataformas digitais”, de capacitação para uso de “plataformas digitais” e de “biblioteca física”, quando foram comparadas às IES em diferentes categorias administrativas. Independentemente do tipo de auxílio ofertado, embora tenha ocorrido corte de gastos nas instituições públicas e evasão de estudantes universitários durante os estudos remotos, observou-se quantitativo expressivo de auxílios disponibilizados. Isso pode ter contribuído para a manutenção dos estudantes ativos na universidade.22,23

Ademais, há de se considerar que este contexto suscita a incerteza e a instabilidade, pela imprevisibilidade no que toca à garantia de condições de segurança e, em outro aspecto, o impacto de traumas causados pela perda irreparável de entes queridos, que afetam a saúde mental da sociedade no seu todo.24

CONCLUSÕES E IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

O estudo apresentou o panorama da formação do enfermeiro no Rio Grande do Sul durante a pandemia de COVID-19, sob a perspectiva de 48 coordenadores dos cursos do estado. A maioria dos participantes era de IES privada, seguida por pública federal.

Com o isolamento social devido à pandemia, a retomada das atividades de ensino por meio do ERE ocorreu de maneira heterogênea entre as IES públicas e privadas, entretanto notou-se agilidade na incorporação de novas metodologias para dar conta dos entraves provocados pela pandemia. Em grande parte das IES, houve preparação dos docentes para a transição do ensino presencial para o remoto, que passou a ocorrer majoritariamente de maneira síncrona, via plataformas digitais.

Dentre os tipos de auxílio disponibilizados aos estudantes pelas IES, destacaram-se aqueles relacionados às tecnologias digitais, sendo que biblioteca digital, internet e capacitação para o uso de plataformas digitais diferiram estatisticamente entre públicas e privadas, mas não diferiram entre as regiões do país.

Para a retomada das atividades práticas, a maioria das IES ofereceu preparação da comunidade acadêmica. Os estágios curriculares foram retomados em uma mediana de 45 dias após decretado o distanciamento social. Para tanto, houve fornecimento de EPIs pelas IES ou unidades concedentes de estágio a docentes e discentes. Um percentual dos mesmos necessitou providenciar seus próprios EPIs. A supervisão dos estagiários foi realizada de maneira direta ou indireta. A maior parte das unidades concedentes de estágio permitiu o retorno das atividades, limitando o número de estudantes por campo.

Em relação às atividades práticas em laboratório, as alternativas apontadas pelos coordenadores foram a substituição por aulas teóricas, a sua não realização, a ocorrência de maneira síncrona, via plataformas digitais, com o docente no laboratório e o estudante em sua casa. Já para as aulas práticas em serviços de saúde, observou-se diminuição do número de alunos nos dois semestres avaliados. Para essas ocorrências, houve menor percentual de fornecimento de EPIs a docentes e discentes pelas IES em relação aos estágios curriculares.

No que toca aos limites do estudo, cita-se a não obtenção de respostas do n amostral. Ainda, trata-se do panorama de uma unidade da federação, que impede a generalização para os demais estados brasileiros. O presente estudo contribui para a construção de um panorama abrangente quanto à implementação de novas estratégias no ensino por parte das IES no que se refere aos cursos de enfermagem, cada vez mais necessárias no âmbito da educação, bem como para fomentar futuros estudos na temática que se debruçam em articular melhores respostas às demandas presentes.

Novos estudos são necessários para avaliar a qualidade do ensino e o impacto das iniciativas empregadas para a formação dos enfermeiros nesse contexto.

AGRADECIMENTOS

Aos coordenadores de cursos de graduação do Rio Grande do Sul, que gentilmente participaram da pesquisa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    08 Dez 2021
  • Aceito
    25 Fev 2022
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