Resumo:
Este estudo, de caráter qualitativo e exploratório, busca analisar os comentários nas postagens do Conselho Federal de Psicologia alusivas à campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, publicada no Facebook em 2020. Por meio da abordagem indutiva da análise temática, identificaram-se três eixos temáticos: a) tangenciamento da pauta sobre direitos das mulheres; b) despolitização do Conselho Federal de Psicologia; e c) formação profissional. No primeiro tema, discute-se a reação negativa à campanha, vista como tentativa de perpetuar a estrutura social patriarcal, incentivando a cultura do estupro e a marginalização dos direitos das mulheres. No segundo tema, discorre-se sobre como o Conselho é percebido pela categoria profissional, com atribuições voltadas principalmente aos direitos trabalhistas. Por fim, no terceiro tema, são questionados os currículos de formação, seu incentivo à neutralidade nas práticas psi e a qualificação ética que tem sido proporcionada às(aos) profissionais. Entende-se que as repercussões contrastantes à campanha evidenciam a necessidade de consolidar a agenda de direitos das mulheres na Psicologia brasileira, investindo na formação e capacitação profissional para ofertar serviços de qualidade. A presença do Conselho Federal de Psicologia nesse processo, posicionando-se e promovendo discussões, potencializa as diretrizes, resoluções e materiais fornecidos sobre o tema.
Palavras-chave: Violência contra as Mulheres; Violência de Gênero; Conselho Federal de Psicologia; Facebook; Análise Temática
Abstract:
This qualitative exploratory study aims to analyze comments in Federal Council of Psychology’s posts related to the campaign “16 Days of Activism Against Gender-based Violence” on its Facebook page in 2020. The inductive approach of thematic analysis found three thematic axes: a) The Tangency of the Agenda of Women’s Rights, b) The Depoliticization of the Federal Council of Psychology, and c) Professional Training. Theme A discussed negative reaction to campaign as ways to perpetrate patriarchal social structure, encouraging rape culture and marginalizing women’s rights. Theme B discoursed how the professional category perceived the Federal Council of Psychology, mainly attributing labor rights topics to the Council. Finally, Theme C questioned training curricula, their incentive to neutrality in psy practices, and the ethical training it has been provided to professionals. The contrasting repercussions about the campaign highlight the necessity to consolidate the women’s rights agenda in Brazilian psychology, investing in professional training to offer quality services. The Federal Council of Psychology positioning itself in this process and promoting discussions enhances the guidelines, resolutions, and materials on the subject.
Keywords: Violence against Women; Gender Violence; Federal Council of Psychology; Facebook; Thematic Analysis
Resumen:
Este estudio cualitativo y exploratorio tiene el objetivo de analizar los comentarios en las publicaciones del Consejo Federal de Psicología (CFP) en la campaña “16 Días de Activismo por el Fin de la Violencia contra las Mujeres” publicada en Facebook en 2020. Con base en el enfoque inductivo de la revisión temática, se identificaron tres ejes temáticos: a) El carácter tangencial de la pauta a respecto de los derechos de las mujeres; b) Despolitización del Consejo Federal de Psicología; y c) Formación profesional. El eje A discutió la reacción negativa a la campaña como intento de perpetuar la estructura social patriarcal al promover la cultura del estupro y la marginalización de los derechos de las mujeres. El eje expuso la despolitización de la categoría profesional a respecto del Consejo, con atribuciones orientadas principalmente a los derechos laborales. Por fin, el eje 3 cuestionó los currículos de formación, su incentivo a la neutralidad en las prácticas psi y la calificación ética que ha sido proporcionada a las/los profesionales. Se constata que las repercusiones sobre la campaña confirman la necesidad de fortalecer una agenda de derechos de las mujeres en Psicología brasileña al promover inversiones y capacitación profesional con el fin de ofertar servicios de calidad. La presencia del CFP en este proceso al posicionarse y promover discusiones potencia las orientaciones, resoluciones y materiales proporcionados sobre el tema.
Palabras clave: Violencia contra las Mujeres; Violencia de Género; Consejo Federal de Psicología; Facebook; Revisión Temática
A violência contra as mulheres é um alarmante problema de saúde pública no Brasil e no mundo, e uma das mais preocupantes formas de expressão da violência de gênero. Esta representa um conceito amplo, que abarca expressões de desigualdades sociais, políticas e econômicas entre os gêneros, resultando em relações de poder e disparidades sociais entre mulheres e homens (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2021 ). Trata-se de um fenômeno que requer análise ecológica, ou seja, em diferentes níveis: social (por exemplo, machismo e crenças sociais de aceitação da violência contra as mulheres); comunitário (por exemplo, falta de serviços especializados e sanções comunitárias); relacional (por exemplo, transgeracionalidade da violência); e individual (por exemplo, menosprezar o que provém de uma mulher) (Paludo, Barbosa, & Barum, 2021 ). Desse modo, para o enfrentamento da violência, são necessárias estratégias que envolvam a população geral, diferentes instituições e setores, tanto em organizações públicas, como privadas. Campanhas de conscientização, sensibilização e educação sobre o tema são fundamentais ( Lei nº 11.340 , 2006 ; Krug, Dahlberg, Mercy, Zwi, & Lozano, 2002 ).
As estratégias de enfrentamento devem ser baseadas na compreensão de que o fenômeno da violência contra as mulheres é extremamente complexo e multifatorial. A sociedade é patriarcal, fundamentada em uma estrutura de opressão a mulheres por meio de dominação e exploração pelos homens (Saffioti, 2015 ). Essa dominação é expressa de formas diversas, como pelo sexismo e pela cultura do estupro. O sexismo refere-se a preconceitos e discriminações contra mulheres por conta de seu gênero, e pode ser identificado em sua forma hostil (por exemplo, antipatia declarada contra mulheres) ou benevolente (por exemplo, visão estereotipada de mulheres como pessoas naturalmente vulneráveis e submissas) (Glick & Fiske, 1996 , 2001 ). Por sua vez, a cultura do estupro diz respeito ao “conjunto de crenças que encorajam e justificam a violência sexual contra mulheres” (Buchwald, Fletcher, & Roth, 2005 , p. 11). Tais conceitos permitem uma melhor compreensão do fenômeno de violência de gênero e sua amplitude, o que é fundamental para se pensar em estratégias integrativas de enfrentamento.
Essa alta complexidade justifica a necessidade de ações coordenadas a partir de diferentes setores da sociedade, governamentais e não governamentais, para o enfrentamento efetivo à violência de gênero. Além disso, é indispensável o envolvimento e a articulação entre diferentes áreas do conhecimento. No que tange à Psicologia, nota-se que, a partir dos anos 1980, houve uma inserção cada vez maior de profissionais no campo das políticas públicas. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) deixou de ser um órgão exclusivamente voltado para a fiscalização da profissão e passou a empenhar-se em movimentos de lutas sociais e direitos humanos. Esse fato seria reconhecido posteriormente como compromisso social da Psicologia enquanto ciência e profissão (Hur & Lacerda Júnior, 2017 ).
Desde 2005, consta no Código de Ética Profissional da(o) Psicóloga(o) o princípio fundamental de contribuir para a eliminação de qualquer forma de violência e a proibição de praticar ou ser conivente com situações que envolvam violência contra sujeitos ou comunidades (CFP, 2005 ). A recente Resolução CFP nº 8 , de 7 de julho de 2020, atenta para o compromisso da categoria profissional com o enfrentamento à violência de gênero. Especificamente, a orientação é acolher e cooperar para garantir a proteção das mulheres, considerando diferentes marcadores sociais, sem promover discriminação ou reforçar preconceitos, entre outras questões.
Dentre as diversas iniciativas globais para combater a violência de gênero, destaca-se a campanha anual “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher”, que teve início no Centro de Liderança Global de Mulheres no ano de 1991. A campanha começa no dia 25 de novembro e se estende até 10 de dezembro. Tem por objetivo reforçar a mobilização de Estados, organizações e sociedade civil para atuarem na prevenção, conscientização e enfrentamento da violência contra meninas e mulheres (Organização das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres Brasil [ONU Mulheres Brasil], 2019 ). A data de início da campanha, 25 de novembro, é o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher, proposto pelo movimento feminista latino-americano em 1981 em homenagem às irmãs Mirabal, três ativistas políticas contra a ditadura e a favor da justiça social e do feminismo que foram assassinadas. A data de fim da campanha, 10 de dezembro, é o Dia Internacional dos Direitos Humanos, o que salienta a ideia de defesa dos direitos da pessoa humana, independentemente de qualquer outra condição.
Em 2020, a adesão do CFP à campanha resultou em diversas postagens no Facebook com interação do público nas redes. A partir de cada postagem, foram propostas as seguintes temáticas para discussão: cultura do estupro; violência doméstica; feminicídio; violência obstétrica; direitos sexuais e reprodutivos; violência e invisibilidade das mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais; espaço das mulheres na política e na ciência; questões das mulheres do campo; mulheres negras; mulheres indígenas e quilombolas; direitos das mulheres com deficiência; assédio moral; precarização do trabalho; defesa das mulheres na linha de frente contra a covid-19 e pelo Sistema Único de Saúde (SUS); e o papel da Psicologia na luta por esses direitos.
Com a grande interatividade proporcionada pelas mídias sociais, cada vez mais estas têm sido alvo de estudos que podem ter como foco a frequência de interação na rede, tipo de uso e classificação de conteúdos de postagens. Ferramentas como o Facebook, por exemplo, têm proporcionado uma gama de estudos de opinião e participação política. Apesar de algoritmos permitirem a identificação do nível de receptividade de determinados conteúdos postados, ainda não permitem uma compreensão aprofundada dessa relação entre usuária(o) e tema discutido. Por proporcionar espaços colaborativos e mecanismos de participação, inclusive política, as redes sociais servem como termômetros para estudos sociais, políticos e psicológicos (Araújo, Travieso-Rodríguez, & Santos, 2017 ). Diante do exposto, o objetivo geral deste estudo foi analisar os comentários nas postagens do CFP publicadas no Facebook alusivas à campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”. Questiona-se como a categoria profissional compreende o papel social do CFP em relação à defesa do direito das mulheres e ao combate à violência contra estas e como o público que teve acesso à campanha reagiu às determinadas temáticas.
Método
Procedimento de coleta de dados
Para responder o objetivo do estudo, foram analisados os comentários de cinco das 16 postagens da campanha conduzida pelo CFP ( 2020a , 2020b , 2020c , 2020d , 2020e ), considerando aquelas que mais obtiveram comentários por parte de pessoas que utilizam o Facebook, possibilitando maior conteúdo para análise. As postagens analisadas foram: a) “Em luta contra a cultura do estupro”; b) “Em luta pelos direitos sexuais e pela justiça reprodutiva”; c) “Em luta pelo espaço das mulheres na política”; d) “Em luta pela valorização das mulheres na ciência”; e e) “Em luta pelo fim das violências contra mulheres lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis (LBTT)”.
A coleta dos dados foi realizada por duplas, no período de 18 a 20 de dezembro de 2020. Foram incluídos os comentários de cada uma das cinco postagens, e excluídos os comentários com ausência de texto (figuras, emojis, risadas e gifs), comentários considerados spam , ou seja, que não possuíam relação com o assunto, e comentários no formato de resposta a um comentário principal. Ao todo, foram identificados 1.801 comentários nas cinco propostas da campanha, considerando relevante ressaltar que cerca de 1.100 correspondiam à postagem de alusão ao combate da cultura do estupro. Após os critérios de exclusão, restaram 208, os quais foram analisados ( Figura 1 ). A amostra final foi armazenada em um banco de dados.
Em relação aos aspectos éticos, considera-se que os dados coletados são de livre acesso por estarem publicados em um perfil público nas redes sociais. Para respeitar a privacidade das pessoas autoras de comentários, não foram identificados seus nomes neste estudo. Além disso, para evitar a inferência de qualquer característica sociodemográfica sobre os perfis que comentaram na campanha, dados como idade, gênero e raça não foram incluídos nas análises. Ao longo do texto, foram inseridos exemplos de comentários coletados que ilustram a discussão proposta, sinalizando sua postagem de origem.
Procedimento de análise de dados
Para realização deste estudo, adotou-se abordagem qualitativa de caráter exploratório. Após a definição dos dados a serem analisados, aplicou-se o método da análise temática proposto por Braun e Clarke ( 2006 ), constituído por seis etapas: familiarização dos dados; estruturação de códigos iniciais; busca por temas; revisão dos temas; definição dos temas; e produção de resultados. A geração de temas possibilita uma atribuição padronizada de significados a partir de dados específicos. Para a formação dos temas e subtemas, foi utilizada a abordagem indutiva, definindo-os, portanto, com base exclusivamente na leitura dos dados coletados. Quanto às estratégias de aprofundamento, os dados foram analisados por um caráter descritivo com foco em seus conteúdos explícitos e por meio de lógica discursiva e interpretativa, buscando material implícito que compõe os dados (Souza, 2019 ). Os conteúdos incluídos para análise foram os textos na íntegra dos comentários, codificados por duas a quatro juízas independentes.
Seguindo as etapas indicadas, após a familiarização das autoras com os comentários, cada integrante buscou estabelecer códigos iniciais e, posteriormente, foram feitas discussões em duplas ou quartetos para compreensão e ajuste desses códigos. Depois da etapa em que os códigos foram estabelecidos, houve reuniões com a equipe para definição de possíveis temas centrais e subtemas. Registraram-se ideias e esboços em todo o passo a passo. Os temas foram revisados em nova reunião com todas as autoras, fazendo-se ajustes para garantir a coesão interna – entre ideias de um mesmo tema – e externa – diferenciação entre os temas principais propostos. Após concordância nas definições, buscou-se um aprofundamento na literatura pertinente para compreensão e explanação dos dados.
Por fim, para garantir os critérios de qualidade deste estudo, optou-se pela verificação dos critérios aplicáveis a artigos advindos de pesquisas qualitativas, proposta por Patias e Von Hohendorff ( 2019 ) para estudos brasileiros. A checklist reúne dados de três diferentes proposições internacionais a respeito do rigor científico e da transparência dos estudos qualitativos, com critérios detalhados para todas as seções de artigos científicos. Para a caracterização metodológica, por exemplo, a checklist sugere indicar critérios de inclusão e exclusão, detalhar minuciosamente os procedimentos de coleta e análise dos dados e apontar cuidados éticos. Quanto aos resultados e discussão, recomenda descrever os temas/subtemas, adicionando trechos ilustrativos e discutindo os principais resultados conforme referencial teórico escolhido (Patias & Hohendorff, 2019 ).
Resultados e discussão
Os resultados e a discussão estão organizados a partir dos três temas identificados na análise do material, juntamente com seus subtemas. O primeiro tema é intitulado “Tangenciamento da pauta sobre direitos das mulheres”, o segundo “Despolitização do Conselho Federal de Psicologia” e o terceiro e último tema foi nomeado de “Formação profissional” ( Figura 2 ).
Tema 1: Tangenciamento de pauta sobre direitos das mulheres
O primeiro tema é composto por comentários que não se mostraram congruentes com o tópico da postagem, desviando o foco do debate proposto e expressando posicionamentos contrários à campanha e aos direitos das mulheres. Nesse tema, todos os comentários analisados foram contrários à campanha. Ainda, cabe ressaltar que os comentários classificados como “Tangenciamento de pauta sobre direitos das mulheres ” compõem uma parcela massiva dos dados coletados. Dois subtemas emergiram:”Invisibilização da mulher” e “Invalidação da pauta”.
Entendeu-se como “Invisibilização da mulher” comentários que tiraram do centro da discussão as questões relacionadas aos direitos e à existência das mulheres. Por exemplo, na postagem sobre direitos sexuais e reprodutivos, apareceram comentários demonstrando preocupação maior com o feto do que com a decisão ou saúde das mulheres. Já na postagem sobre cultura do estupro, foram feitas afirmativas sobre “homens vítimas de falsas acusações de estupro”, colocando à margem a realidade do grande número de mulheres que sofrem violência sexual diariamente. Além das postagens sobre direitos sexuais e reprodutivos e cultura do estupro, esse subtema também apareceu nos posts sobre mulheres na ciência e mulheres LBTT. Alguns comentários ilustrativos desse subtema são apresentados a seguir:
Vocês estão perpetuando o homem como estuprador e opressor um discurso horrível e contestável haja vista a grande quantidade de falsas denúncias e fora o fato que vcs ignoram a violência praticada pelas mulheres contra os homens. Lamentável (Comentário no post sobre cultura do estupro).
Por que algumas mortes são lamentadas e outras vocês estimulam? Falam do feminicídio, dos direitos LGBT, indígenas, negros entre outros (ok, direitos a serem respeitados), mas nunca vi nenhum comentário em defesa da pequena vida que está sendo gerada (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos).
São tenebrosos esses posts do CFP, eles simplesmente ignoram todos os profissionais de Psicologia do gênero masculino, não fazem se quer algo que os representem, apesar da maioria dos fundadores da Psicologia serem Homens . . . (Comentário no post sobre mulheres na ciência).
O segundo subtema, “invalidação da pauta”, foi compreendido por comentários que, para deslegitimar a postagem, lançaram mão de estratégias argumentativas de individualização, minimização, generalização e/ou culpabilização da mulher, como exemplificado na Tabela 1 . Esse subtema foi identificado nas cinco postagens analisadas.
Estratégias utilizadas para deslegitimar a campanha, compondo o subtema “invalidação da pauta”.
A reação massiva de tangenciamento da pauta ilustra como os direitos das mulheres são comumente colocados em segundo plano, uma vez que lhes foi negada, ao longo dos tempos, a protagonização de suas próprias histórias (Rios, Bastos, & Barros, 2015 ). Às mulheres, restam existências como coadjuvantes, sujeitas às expectativas sociais de cuidado da família, manutenção do trabalho doméstico e priorização do matrimônio (Federici, 2019 ; Sos Peña, 2015 ). Tal movimento pode ser compreendido como uma expressão do sexismo e da cultura patriarcal, característicos da sociedade, que mantém a dominação e exploração de mulheres (Glick & Fiske, 1996 ; Saffioti, 2015 ). A invisibilização e exploração de mulheres está presente em diversas áreas da sociedade, desde o trabalho doméstico atribuído como uma tarefa compulsória e naturalmente feminina (Federici, 2019 ) até outros contextos de trabalho, como na construção e produção de conhecimento e na atuação profissional da Psicologia (Giménez, 2007 ; Sos-Peña, 2015 ).
E desde quando a ciência é ‘espaço masculino’? As mulheres são livres para estudarem o que quiserem, pesquisarem o que quiserem e trabalharem onde quiserem . . . . Quem fizer algo relevante certamente terá o devido reconhecimento (Comentário no post sobre mulheres na ciência).
Em contraste com o excerto, nos estudos sobre história da Psicologia, a invisibilização da contribuição feminina mostra-se bastante proeminente. A pouca atenção dada às pesquisas de mulheres nos primórdios da área não é resultado de pouca produção feminina ou de pesquisas sem qualidade; na verdade, é fruto de barreiras sociais, familiares, institucionais e profissionais que as prejudicavam – e, por vezes, impediam – no processo de estudos, formação e titulação acadêmica. Ademais, as dinâmicas sociais do período eram ainda mais incisivas para conter suas aspirações profissionais (Giménez, 2007 ; Sos-Peña, 2015 ). Outro aspecto significativo para tal invisibilização feminina refere-se ao que Sos-Peña ( 2015 ) nomeia matrimônio acadêmico . Em linhas gerais, esse conceito descreve mulheres pesquisadoras casadas com homens pesquisadores da mesma área, que mantinham uma relação pessoal e profissional com seus parceiros, contribuindo diretamente para as pesquisas e os escritos, sem, contudo, receberem reconhecimento e coautoria nos trabalhos desenvolvidos.
Para além da Psicologia, o sexismo é identificado na ciência como um todo. Até as primeiras décadas do século XX, a carreira científica era considerada imprópria às mulheres (Conceição & Teixeira, 2020 ), sendo o sexismo um facilitador da invisibilização ao longo dos anos, como por meio da crença na inferioridade intelectual feminina. Em contrapartida, estudiosos afirmam que, no passado, mulheres estiveram no campo da ciência, e, atualmente, pode-se observar sua presença numérica significativa: na área das ciências da vida e da saúde, cerca de 60% das pessoas pesquisadoras são do gênero feminino (De Negri, 2019 ). Visto isso, fica evidente, a partir dos comentários expostos, que muitas pessoas ainda negligenciam ou podem não estar cientes dos diversos obstáculos que mulheres seguem vivenciando para ganhar espaço e protagonismo no meio acadêmico e na produção de conhecimento científico (Lino & Mayorga, 2016 ).
Outros comentários desfavoráveis à campanha e que tentaram invisibilizar e deslegitimar a pauta de direitos das mulheres apareceram na postagem sobre combate à cultura do estupro: “ Cultura do estupro porque vocês feministas querem que exista essa cultura do estupro! Até parece que o estupro é aceito na sociedade! ”. Referir-se a quem coloca em evidência a pauta dos direitos das mulheres em tom agressivo – “ vocês feministas ” – exemplifica mais uma forma de sexismo hostil identificado nos comentários, pois demonstra desprezo a mulheres que não assumem o papel de subordinação socialmente esperado (Glick & Fiske, 1996 , 2001 ). Além disso, o rechaço ao uso do conceito de cultura do estupro evidencia a reprodução de um discurso que a reforça. Um dos argumentos para essa resistência diz respeito às falsas acusações de violência sexual, as quais negligenciam o que deveria estar em evidência: a violência contra mulheres e a luta por seus direitos. Contudo, mais uma vez a pauta é tangenciada e as mulheres, invisibilizadas: “ E quando vão ser justos e combater as falsas acusações e o uso indevido da lei maria da penha? NUNCA!!! ” (Comentário no post sobre cultura do estupro).
É imprescindível enfatizar que a resistência observada para reconhecer a cultura do estupro, bem como entender sua perpetuação, minimiza a realidade alarmante do assunto. Dados recentes estimam que, em 2021, uma menina ou mulher foi estuprada no Brasil a cada dez minutos (Bueno et al., 2021 ). Reduzir esses dados à mera preocupação com homens que seriam vítimas de falsas acusações é, mais uma vez, negar às mulheres a existência e protagonização de suas histórias e dores (Rios et al., 2015 ). Ainda, olhar para dados tão densos de violência sexual contra mulheres e, ainda assim, percebê-las como agressoras é manter a lógica sexista hostil, direcionando-se às dores delas com antipatia e hostilidade, perpetuando discursos de dominação e opressão (Glick & Fiske, 1996 , 2001 ).
Outra forma hostil de manifestação sobre os direitos das mulheres evidenciou-se na postagem sobre direitos sexuais e justiça reprodutiva: “ O que é ‘justiça reprodutiva’??? Encontro o significado no mesmo dicionário de ‘estupro culposo’??????? ”; “’ Justiça reprodutiva’, belo nome arrumaram para ABORTO ”.
Ao contrário do descaso que se infere desses excertos, direitos sexuais e justiça reprodutiva são conceitos que fazem parte de pautas sobre saúde pública. O conceito de direitos sexuais define a capacidade e a possibilidade de todas as pessoas alcançarem o bem-estar e a saúde sexual, enquanto justiça reprodutiva refere-se ao direito de ter acesso e meios para manter autonomia sobre o próprio corpo e suas próprias decisões reprodutivas (Ministério da Saúde, 2005 ; OMS, 2020 ; Ross, 2006 ). Assim, a igualdade, a liberdade e a dignidade devem ser balizadoras para profissionais de saúde na atenção humanizada às mulheres, incorporando o direito à assistência ao abortamento, quando permitido por lei, sem que haja discriminação e restrição do acesso a essa assistência de saúde (Ministério da Saúde, 2005 ). Muitos comentários nessa postagem sobre direitos sexuais e justiça reprodutiva buscaram tangenciar a pauta, desviando o foco da saúde das mulheres, para a saúde e o direito à vida do feto:
E o direito à vida do feto? Sabendo de todas as pesquisas em PSICOLOGIA (Brasil e o mundo) sobre trauma gestacional, o CFP ainda fecha os olhos para isso? É preciso reabrir esse debate e olhar para todos os envolvidos. A Ciência Psicológica precisa avançar nesse debate… + Ciência antes de debater os direitos humanos .
Desde quando aborto é psicologia? Que vergonha!
Entende-se tais posicionamentos como mais uma forma de silenciamento das mulheres e seus direitos, visto que o aborto seguro é, além de tudo, uma questão de saúde pública, que, quando não assegurado, causa anualmente a morte de milhares de mulheres e pessoas com útero (OMS, 2024 ). Além disso, o primeiro comentário apresenta a ideia de que a Psicologia não está – ou não deveria estar – alinhada aos direitos humanos, esquecendo-se que o próprio Código de Ética Profissional da(o) Psicóloga(o) ancora-se em tais princípios (CFP, 2005 ). Ainda assim, como percebido nos comentários, permanecem tentativas de distanciar os direitos humanos – em especial o direito das mulheres – dos debates em saúde pública e Psicologia, alienando e despolitizando as práticas psi .
Tema 2: Despolitização do Conselho Federal de Psicologia
O tema da despolitização do CFP reúne as principais opiniões sobre a função do Conselho enquanto autarquia regulamentadora da profissão e suas interfaces com pautas relativas aos direitos das mulheres. Esse tema apareceu nas cinco postagens analisadas e é formado por opiniões contrastantes entre si – favoráveis ou contrárias à campanha. Nos comentários das postagens relativas à campanha de enfrentamento à violência contra mulher, foram encontradas críticas ao Conselho, acusando-o de extrapolar seus limites e atribuições em defesa de pautas políticas consideradas não pertinentes: “É lamentável o quanto vocês pegam a Psicologia e jogam no lixo com essas inclinações políticas e ideológicas” (Comentário no post sobre cultura do estupro).
Nesse comentário, a Psicologia perde seu valor quando atrelada a pautas percebidas como políticas ou que podem evidenciar algum posicionamento ideológico mais progressista. Em partes, pode-se entender que a recusa em reconhecer a Psicologia como campo político e a função social da área decorre do fato de que a trajetória da Psicologia no Brasil iniciou-se sem considerar fatores macroestruturais que colaboravam para os fenômenos aos quais se debruçavam. A Psicologia brasileira nasceu essencialmente a partir de uma perspectiva clínica, individualista, elitista e que visava regular o comportamento humano (Yamamoto, 2012 ). Pautas coletivas e sociais só vieram a se consolidar como agenda da Psicologia brasileira a partir do período de redemocratização após a ditadura militar, com a promulgação da Constituição Federal, crescimento de movimentos sociais e criação de marcos nas políticas públicas, como o SUS. Tal mudança de ótica foi impulsionada principalmente pela Psicologia Social e a inserção profissional da classe nas políticas públicas (Borges, 2012 ; Borges, Tavares, Sousa, & Peres, 2019 ; Yamamoto, 2012 ). Alguns comentários favoráveis que trazem apoio à transformação da Psicologia e seus interesses refletem essa transformação: “ Orgulhosa do posicionamento do CFP, é exatamente isso… precisamos nos posicionar a favor da vida, direitos humanos, contra todas as violências e formas de preconceitos ” (Comentário no post sobre cultura do estupro).
Apesar dos avanços, muitos profissionais da área ainda não reconhecem a necessidade de uma Psicologia que dialogue com a promoção de direitos humanos. Esse descontentamento pode ser exemplificado por outro comentário, que sustenta a ideia de que a Psicologia se transformou negativamente, perdendo seus antigos valores: “ Se na década de setenta eu soubesse que um dia o CFP e os novos psicólogos se tornariam isso, eu não teria feito Psicologia!!! ” (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos). A partir do exposto, entende-se que a prática criticada se refere à percepção de uma Psicologia subversiva, que não cumpre expectativas higienistas ou patologizantes, ou, até mesmo, de neutralidade. Outros comentários desfavoráveis à campanha também enfatizam a ideologia como um aspecto descartável, desnecessário e coercitivo: “. . . tentativa de colocar sua ideologia porca e misândrica como uma verdade absoluta ” (Comentário no post sobre cultura do estupro). Para Chaui ( 2016 , p. 247), ideologia seria “um corpus de representações e de normas que fixam e prescrevem de antemão o que se deve e como se deve pensar, agir e sentir”. É tudo aquilo que produz um imaginário coletivo e que gera identificação dos indivíduos para com este. A partir dessa compreensão, pode-se entender que todo posicionamento se constrói a partir de alguma ideologia, e que essas práticas ideológicas são perigosas justamente quando não questionam o status quo , ou quando reforçam lógicas de opressão.
Apesar de não ser possível afirmar que todos os comentários nas postagens são de profissionais da Psicologia, não é possível ignorar que a categoria pode seguir tendências de pensamento e comportamento de âmbito coletivo. Euzébios Filho e Gradella Júnior ( 2020 ) apontam que o conservadorismo social cresce entre psicólogas(os) à medida em que cresce no Brasil, mesmo que profissionais com esse perfil ainda não integrem majoritariamente os espaços de representação, como sindicatos e os sistemas de Conselhos. Os comentários desfavoráveis às postagens dos direitos das mulheres muitas vezes não deixam evidente qual é a Psicologia desejada, voltando-se para a crítica de temáticas sociais como irrelevantes e prejudiciais ao exercício da profissão e da cidadania: “ Agora o Conselho deixa de lado a ciência e vai militar favoralmente ao aborto, é isso? ” (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos); “ Vocês me enojam Conselho F de Psicologia! Ativistas hipócritas!!!! ” (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos).
Os comentários expostos ignoram as inúmeras pesquisas científicas voltadas para violência de gênero, incluindo aquelas em relação ao aborto, que entendem tais problemas como de saúde pública e se debruçam sobre estratégias para prevenção e erradicação. Na maioria dos comentários que discutem a importância da função do CFP, há a disputa do que é Ciência e do que é Psicologia. Alguns dos precedentes históricos dessa discussão são a tradição positivista de ciência versus a necessidade de implicação do profissional na construção desta. Enquanto o primeiro ponto de vista considera a ciência como necessariamente neutra e objetiva, capaz de medir os fenômenos assim como acontecem, o segundo enfatiza as relações de poder presentes na construção de qualquer fenômeno, destacando que a ciência é feita por agentes sociais e, portanto, é influenciada por seus pontos de vista e lugares sociais (Serbena & Raffaelli, 2003 ). Alguns comentários destacam a influência da história e das relações de poder nas suas opiniões:
Que vergonha ver tantas postagens de colegas de profissão que após anos de estudo acompanharem historicamente toda forma de opressão e apagamento da humanidade da mulher, tecerem comentários que reforçam o machismo, a misoginia e a submissão delas . . . (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos).
Nos comentários estão presentes formas explícitas de discurso de ódio, racismo, misoginia e violência, comportamentos que abertamente desconsideram os princípios éticos de atuação profissional. . . . As ofensas por si só configuram falta grave e risco à sociedade . . . (Comentário no post sobre cultura do estupro).
Assim, o papel da ética é questionado pelo comentário no post sobre cultura do estupro, que inclui os princípios éticos da profissão como necessários ao exercício da Psicologia e sua função social. Ambos os comentários levantam questões como opressão, desumanização em função do gênero, machismo e racismo, violências que marcam as relações de poder que existem nos comentários, na Psicologia e na ciência. Assumindo que profissionais ou estudantes de Psicologia compõem a maior parte dos seguidores do perfil do CFP, compreende-se que o fato de questionarem comentários de desaprovação à campanha exemplifica o quanto a área é um dos polos de resistência contra desigualdades e a favor dos direitos humanos. Talvez, justamente por isso, a própria Psicologia brasileira tem sido alvo de ataques conservadores, inclusive com esses embates acontecendo entre membros da própria categoria profissional (Dantas, Santos, Dimenstein, & Macedo, 2020 ).
O rechaço ao sistema de Conselhos, que se coloca como aliado de causas sociais, por vezes adota a argumentação de que a função prioritária do CFP seria atender às reivindicações trabalhistas da classe de psicólogas(os). Cabe ressaltar que esse tipo de posicionamento ignora que os direitos da classe trabalhadora podem andar em consonância com um modelo de Psicologia politizada e crítica, não sendo tais demandas excludentes (Hur, 2005 ). O CFP é um órgão de direito público que tem como objetivo regulamentar, orientar e fiscalizar o exercício profissional de psicólogas(os) no território nacional. Além disso, cumpre uma função social de promover discussões, debates e ações que visem qualificar os serviços em Psicologia para atender às necessidades da população à qual se destinam (CFP, 2012 ).
Uma possível explicação para a dificuldade em se perceber a função política de um Conselho de Psicologia deve-se ao fato de que, para muitos profissionais da categoria, o Conselho ainda possui caráter corporativista, com função exclusiva de atender aos interesses da classe trabalhadora e lutar por espaço no mercado de trabalho. Tal percepção pode ter relação com o funcionamento de fato mais centralizado em demandas laborais por parte do Conselho em período anterior ao processo de redemocratização do país, já que o compromisso social como prerrogativa da instituição foi adotado somente após esse processo. Ainda, constata-se um embate entre concepções biomédicas sobre saúde mental e aquelas que entendem que a gestão da vida também está relacionada à maior igualdade social e aos determinantes sociais de saúde (Hur & Lacerda Júnior, 2017 ). Ambas se fazem presentes na formação profissional, mas a segunda está mais em acordo com a função política e social do Conselho, devido a seu posicionamento de apoio e promoção de discussões de cunho político e social, percebido principalmente na atuação do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (Crepop) e suas produções técnicas (Crepop, 2018 ). A criação do Crepop é fruto da discussão, entre o sistema de Conselhos, acerca da relevância de um maior aprofundamento e embasamento sobre a relação entre psicologia e políticas públicas, se atentando ao compromisso político de transformação social desse centro (Conselho Regional de Psicologia 21, 2021 ).
A visão de que o sistema de Conselhos deve ater-se exclusivamente às demandas trabalhistas ainda se faz muito presente na Psicologia brasileira, mesmo que seja notória a necessidade de uma Psicologia comprometida com transformações sociais (Hur, 2005 ). Esse ponto de vista se faz presente em alguns comentários: “ Eu luto pelo fim da obrigatoriedade de pagar anuidade para os conselhos ” (Comentário no post sobre mulheres na política); “ Cadê a valorização dos psicólogos com a exclusividade da psicoterapia para psicólogos?! ” (Comentário no post sobre mulheres na ciência).
Com isso, percebe-se que esses comentários reúnem reivindicações ao Conselho referentes a suas responsabilidades enquanto entidade. De forma geral, questionam se o CFP está sendo efetivo em representar a categoria da Psicologia. A despolitização, nesse caso, aparece de forma mais sutil, utilizando argumentos menos agressivos em relação às postagens veiculadas na rede social. Assim, não fica tão evidente a reprovação, pois a despolitização emprega estratégias mais brandas quando comparadas àquelas vistas anteriormente. Essa forma sutil de despolitização do Conselho foi identificada em todas as postagens analisadas.
Outras críticas identificadas nos comentários referem-se à efetividade da campanha como ferramenta de ação: “. . . . O empoleiramento de vocês tem muito de teoria, e absolutamente nada de prática ” (Comentário no post sobre cultura do estupro). Tal crítica seria referente à ausência de ações mais concretas por parte do órgão regulamentador da profissão em relação às pautas discutidas nas postagens. Apesar de não ser possível afirmar se o comentário é favorável a uma postura ativa do CFP a respeito dos direitos das mulheres, percebe-se uma crítica quanto à ineficácia do Conselho, uma vez que ele invalida a campanha via rede social como ação efetiva. Nesse caso, a despolitização ocorre quando é assumido que a postura do Conselho não é suficiente para ser considerada ação, questionando a eficácia da campanha.
Dessa forma, as temáticas sociais atravessam tanto profissionais que exercem a profissão quanto a população à qual a Psicologia se destina, ao mesmo tempo que integram e constroem a própria história da Psicologia. Portanto, é impossível conceber uma Psicologia que desconsidere a função social e a ética e se planeje neutra e objetiva, sem corresponder a uma ideologia específica. A neutralidade é uma ideologia não reconhecida nos comentários, pois beneficia certos sujeitos às custas da marginalização de outros (Serbena & Raffaelli, 2003 ).
Tema 3: Formação profissional
O terceiro e último tema, “Formação profissional”, é composto por comentários que questionam se preceitos éticos estão sendo seguidos e qual a qualidade da formação e da prática em Psicologia. Nesse tema, as críticas às pessoas que se declararam contrárias à postagem foram compreendidas como um posicionamento indiretamente favorável à campanha. Dois subtemas emergiram: “ética” e “questionamento sobre a formação profissional”.
No subtema “Ética”, foram incluídas críticas que classificavam os comentários de terceiros como antiéticos, ou que faziam alusão à falta de conhecimento dessas pessoas sobre o Código de Ética Profissional da(o) Psicóloga(o) . Nota-se que essas críticas partiam do pressuposto de que os comentários na postagem eram feitos exclusivamente por profissionais da Psicologia, o que não foi possível verificar. Esse subtema foi identificado nos posts sobre cultura do estupro, direitos sexuais e reprodutivos, mulheres na política e mulheres na ciência : “ Nossa, mas se o Comitê de Ética passa por esses comentários… Será que quem assinou o diploma desses psicólogos fascistas e negligentes dorme à noite? ” (Comentário no post sobre cultura do estupro); “É inacreditável o nível de machismo e sexismo nos comentários aqui. Gravíssimo! Me parece que muitos desconhecem totalmente nosso código de ética e o papel que o Conselho deve exercer na garantia de direitos” (Comentário no post sobre mulheres na política).
Como se pode inferir, esses excertos criticam os comentários intolerantes às postagens e, consequentemente, manifestam apoio à campanha. Ainda que esse subtema tenha sido marcado por uma maioria de comentários favoráveis, houve dois comentários contrários à campanha: “ Não levem isso para o lado religioso ou ideologia política, isso tem a ver com ética humana! ” (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos); “ O código de ética, vale tanto para mulheres como para homens ” (Comentário no post sobre mulheres na ciência).
O segundo subtema, “Questionamento sobre a formação profissional”, foi composto majoritariamente por posicionamentos favoráveis à campanha, que demonstraram preocupação com a qualidade teórico-prática das(os) profissionais em formação. Identificaram-se questionamentos acerca da existência de profissionais da Psicologia contrários à campanha, e críticas em relação à falta de conhecimento destes a respeito das temáticas apresentadas. A estrutura dos currículos de graduação, falta de crítica social e desinformação sobre o assunto foram tópicos levantados que colocaram em dúvida a qualidade do acolhimento e atendimento oferecido às mulheres. Esse subtema foi identificado nas postagens sobre cultura do estupro, direitos sexuais e reprodutivos, mulheres na política e mulheres na ciência: “ Espero que não sejam psicólogos, senão tenderia a pensar que a formação está precária ” (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos); “ O CRP precisa rever os cursos de graduação ou instituir um exame de suficiência pq não é possível certos posicionamentos vindos de psicólogos…” (Comentário no post sobre cultura do estupro); “ A tristeza que bate em ver os comentários… Que tipo de psicólogos foram formados??? ” (Comentário no post sobre mulheres na política).
Optou-se por unir ao mesmo tema questionamentos sobre a qualidade da formação e a ética profissional com o intuito de contextualizá-la a partir de uma perspectiva ético-política. É fundamental reconhecer que a formação em Psicologia, bem como as teorias e técnicas que a subsidiam, são fruto também de contextos sócio-históricos e políticos (CFP, 2013b ). Sendo assim, os discursos reproduzidos na formação acadêmica e profissional podem produzir verdades e conduzir as práticas Psicológicas. Revisitar o próprio ensino em Psicologia e contextualizar essa ciência a partir de uma perspectiva ético-política torna-se necessário para que esse campo do conhecimento não seja produtor e reprodutor de novas violências, em especial daquelas gendradas no gênero (Narvaz & Silva, 2021 ). Afinal, sabe-se que a formação profissional é marcada por sua indissociabilidade com ciência e profissão, e que práticas generalistas, elitistas, tecnicistas, higienistas e descompromissadas com a realidade social são resultado de um projeto político que define a estrutura curricular da graduação, as agendas de pesquisa e os campos de mais ampla atuação (Amendola, 2014 ; Rechtman, 2015 ).
Tal projeto político, moldado desde os primórdios da categoria profissional no Brasil, defende uma clínica neutra, por acreditar na perspectiva positivista de um homem universal que buscará a(o) psicóloga(o) para ajustar-se à sociedade, independentemente de seu contexto de vida (Rechtman, 2015 ). Contudo, essa perspectiva defasada de neutralidade não condiz com os Princípios Fundamentais do Código de Ética, que versam sobre combate a violências e opressões, análise e posicionamento críticos construídos sócio-historicamente e consciência sobre as relações de poder e seus impactos (CFP, 2005 ). O advento de outros campos da Psicologia, para além da clínica, fortaleceu a perspectiva sócio-histórica da prática psicológica, trazendo para debate a urgência de uma formação profissional comprometida socialmente – ou seja, posicionada em prol dos direitos humanos e do combate das desigualdades sociais como preceitos éticos centrais (Rechtman, 2015 ).
Ainda assim, nos comentários coletados nas postagens, foi possível identificar posicionamentos que remetem a uma crença de neutralidade nas práticas psi: “ Psicólogo não trabalha com moral. O trabalho é sobre o outro, não sobre o que o psicólogo pensa, o que o psicólogo acha ou crê! ” (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos). A ilusão de uma Psicologia unidirecional e um profissional despido de crenças tenta ancorar-se em práticas tecnicistas, mecanizadas e supostamente neutras. A existência de cursos que fomentam práticas que não associam as intervenções clínicas às repercussões geradas para o indivíduo e seu espaço micro e macrossocial é, inclusive, alvo de discussão no CFP, no âmbito de desafios a serem trabalhados sobre a formação profissional (CFP, 2013a ). Discursos que defendem o mito da neutralidade científica também são criticados, sob argumento de que a própria estruturação do currículo da graduação é embasada em um projeto ético-político das instituições (CFP, 2013a ), evidenciando novamente a impossibilidade de dissociar os debates sobre formação, ciência e profissão (Rechtman, 2015 ).
Trazendo esse debate de neutralidade para a temática do atendimento de mulheres, Narvaz e Silva ( 2021 ) buscam entender esse fenômeno nas práticas psi , descrevendo como epistemologias psicológicas contribuíram – e contribuem – para a perpetuação de profissionais não engajados sócio-historicamente, com práticas generalizantes e simplistas, que revitimizam mulheres em situação de violência.
Também foram identificados sentimentos de tristeza diante de profissionais que negligenciam a violência contra mulher: “ Eu fico triste é com esse tanto de psicólogo negligenciando violência e não entendendo conceitos básicos como gênero e suas implicações sociais ” (Comentário no post sobre cultura do estupro). Esse sentimento se justifica ainda mais quando pontuadas todas as atribuições da(o) psicóloga(o) em relação a tais demandas. No caso de violência sexual contra mulheres, Ruschel, Heringer e Silva ( 2021 ) descrevem que profissionais da Psicologia são responsáveis por acolher, reconhecer necessidades iminentes, identificar e/ou organizar a rede de apoio, mediar possíveis conflitos entre mulher atendida e familiares e fornecer informações sobre direitos legais diante da violência sofrida. Para além da garantia de acesso a informações sobre seus direitos, a(o) psicóloga(o) também possibilita que a mulher faça suas escolhas em relação à situação. A gama de responsabilidades no acolhimento e/ou acompanhamento dessas demandas torna evidente a importância de capacitar profissionais para tal, justificando a preocupação demonstrada nos comentários retirados do post sobre cultura do estupro: “ Medo do tipo de acolhimento que alguns profissionais aqui podem fazer… ”; “ A quantidade de gente aqui que não sabe o que é Cultura do Estupro é assustadora, espero que não sejam psicólogos, pois a falta de conhecimento pode ser trágica!! ”
Com isso, questiona-se se profissionais que negam a cultura do estupro estão, de fato, instrumentalizados para o atendimento de tais demandas. Afinal, dispor de psicólogas(os) sensibilizados e capacitados é imprescindível para garantir os direitos humanos dessas mulheres, respeitando suas histórias de vida, sem a emissão de preconceitos ou julgamentos (Ruschel et al., 2021 ). Ademais, salienta-se que a negligência da violência contra a mulher foi identificada nos discursos contrários à campanha. São falas que contrapõem diretrizes do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (Secretaria de Políticas para as Mulheres & Presidência da República, 2011 ) e denunciam uma falta de apropriação das(os) profissionais sobre a temática.
Por isso, com o intuito de instrumentalizar as(os) profissionais quanto ao fenômeno de violência contra as mulheres, o CFP tem fornecido referências técnicas compostas por pesquisas, debates ético-políticos, orientações para os atendimentos psicológicos e princípios norteadores para atuação diante dessa demanda. Para esses atendimentos, o Conselho enfatiza a necessidade de repensarmos nossas práticas psicológicas, bem como os modelos de intervenção até então seguidos. Afinal, a abordagem desses casos precisa envolver também uma perspectiva social e de clínica ampliada, fornecendo atendimento humanizado e individualizado para cada mulher e articulando-se com profissionais tanto do âmbito privado quanto público (CFP, 2013b ; Ruschel et al., 2021 ). Por isso, ressalta-se o potencial da campanha do CFP de atingir profissionais atuantes para além da clínica individualista e elitista historicamente estimulada na Psicologia, mas também aqueles atuantes no SUS: “. . . . Vocês não têm noção do quanto as publicações de vocês me ajudam a legitimar práticas éticas em meu trabalho no SUS ” (Comentário no post sobre direitos sexuais e reprodutivos).
Para a profissão de psicóloga(o), tal qualidade e capacitação resultam de um compromisso social com a mudança da realidade brasileira (CFP, 2013a ), iniciado desde o princípio da graduação. À formação profissional, cabe o dever de ir além do tecnicismo e estimular discursos e práticas psi implicadas em possibilitar existências diversas e heterogêneas. Para tal, a reflexão ético-política sobre a epistemologia das diferentes abordagens psicológicas pode ser uma forma de ampliar o olhar crítico de profissionais sobre suas práticas. Capacitá-las(os) para identificar discursos sexistas, questionando pressupostos que perpetuam hierarquias de gênero, é mais uma maneira de problematizar os saberes impostos na formação (Narvaz & Silva, 2021 ).
Considerações finais
Este estudo buscou realizar uma análise dos comentários nas postagens do CFP relativas à campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, publicada no Facebook. Como resultado, foram identificados os temas “Tangenciamento da pauta sobre direitos das mulheres”, “Despolitização do Conselho Federal de Psicologia” e “Formação profissional”. Entre as limitações do estudo, destacam-se o critério de inclusão, pois foi analisada a repercussão de apenas cinco postagens, e o de exclusão, retirando comentários que eram em resposta a outros. Dessa forma, não foram analisados: a) temas sobre direitos das mulheres que são igualmente relevantes, mas que não tiveram tanta repercussão no Facebook; e b) debates paralelos que surgiram e certamente forneceriam resultados importantes para discussão. Ainda, é importante mencionar que nem todos os comentários receberam códigos que foram contemplados nos temas apresentados. Dentre este conteúdo inexplorado, os códigos atribuídos foram: ironia/deboche, fundamentalismo religioso e legislação.
As repercussões contrastantes observadas na campanha do CFP “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher” evidenciam a necessidade vigente da consolidação da agenda de direitos das mulheres na Psicologia brasileira. Mesmo não sendo possível garantir que todos os comentários analisados foram emitidos por profissionais de Psicologia, a identificação de tanta resistência e desconhecimento sobre a temática em uma página do Conselho deve servir como reflexão sobre qual Psicologia vem sendo construída. Destaca-se a urgência em repensar a estrutura da formação profissional que vem sendo ofertada, se fazendo necessário investir em discussões sobre pautas coletivas embasadas em posicionamentos contra lógicas de opressão adoecedoras percebidas em expansão.
Políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres tiveram forte investimento nas primeiras décadas dos anos 2000, a partir da ascensão de governos mais progressistas. Contudo, as conquistas que vinham se estabelecendo passaram por anos de retrocesso desde o golpe de 2016, que marcou o início de administrações conservadoras e de extrema-direita que levaram a sucessivos desmontes e sucateamentos nas políticas públicas. À Psicologia, cabe o dever de atuar como resistência contra tantos retrocessos e manter o investimento em discussões sobre direitos das mulheres, bem como pensar em formação e capacitação sobre o assunto. Com isso, é possível promover a oferta de serviços de qualidade às mulheres, com profissionais empáticos, críticos e comprometidos com a luta pela saúde integral de todas. Diante desse cenário, é inegável a importância do movimento do CFP nesse processo, posicionando-se e promovendo discussões que potencializam as diretrizes, resoluções e materiais fornecidos às(aos) profissionais sobre esses temas, a partir de campanhas como a analisada.
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Como citar:
Marques, S. S., Rangel, R. G., Janes, C. F., Zamora, J. C., Gross Curia, B., & Habigzang, L. F. (2024). Repercussão da campanha do Conselho Federal de Psicologia sobre violência contra mulheres. Psicologia: Ciência e Profissão , 44 , 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003265134
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How to cite:
Marques, S. S., Rangel, R. G., Janes, C. F., Zamora, J. C., Gross Curia, B., & Habigzang, L. F. (2024). Repercussions of the Federal Council of Psychology’s campaign about violence against women. Psicologia: Ciência e Profissão , 44 , 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003265134
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Cómo citar:
Marques, S. S., Rangel, R. G., Janes, C. F., Zamora, J. C., Gross Curia, B., & Habigzang, L. F. (2024). Repercusión de la campaña del Consejo Federal de Psicología sobre violencia contra las mujeres. Psicologia: Ciência e Profissão , 44 , 1-17. https://doi.org/10.1590/1982-3703003265134
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
30 Set 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
20 Jun 2022 -
Aceito
10 Jan 2023 -
Revisado
05 Jan 2023