RESUMO
Objetivo: identificar o conhecimento de Agentes Comunitários de Saúde sobre as práticas e a promoção do aleitamento materno.
Métodos: estudo transversal, descritivo, inquérito, quanti-qualitativo realizado com amostra de 148 agentes. A coleta de dados foi realizada por meio da aplicação de um questionário semiestruturado, com questões abertas e fechadas. Foram analisadas as variáveis: sociodemográficas, capacidade para orientação sobre o aleitamento, participação em treinamentos/cursos, conhecimentos sobre vantagens do aleitamento para mãe e bebê. Realizou-se análise estatística descritiva, foram empregados os testes Qui-quadrado, Exato de Fisher e G, ao nível de significância 5%. As questões abertas foram analisadas segundo a técnica de pesquisa qualitativa.
Resultados: aproximadamente, 45,95% dos agentes não foram capacitados para realizar orientação prática das nutrizes sobre o aleitamento e 63,30% nunca participaram de cursos sobre amamentação. A maioria citou vantagens do aleitamento relacionadas, somente, ao bebê, emergindo as categorias: nutrição do bebê, imunológica, desenvolvimento/saúde do bebê, dentição/ossos. Houve associação estatisticamente significante entre capacidade de orientar as mães na amamentação e participação em treinamentos (p<0,001).
Conclusão: os agentes não haviam participado de cursos de capacitação para acompanhar as nutrizes, apresentaram conhecimento limitado sobre a prática e a promoção do aleitamento, e as visitas domiciliares realizadas pós-parto ocorreram tardiamente.
Descritores: Agentes Comunitários de Saúde; Aleitamento Materno; Conhecimento
ABSTRACT
Purpose: to identify the knowledge of community health workers on practices and promotion of breastfeeding.
Methods: this is a cross-sectional descriptive study aimed to investigate a sample of 148 health workers quantitatively and qualitatively. Data collection was performed by applying a semi-structured questionnaire with open and closed questions. The following variables were analysed: sociodemographic data, capacity to provide breastfeeding guidance, participation in training and courses, and knowledge of the breastfeeding benefits for mother and baby. Statistical analysis was performed with chi-square test, exact Fisher’s test and G-test at significance level of 5%. Open questions were analysed according to the qualitative research technique.
Results: approximately, 45.95% of the health workers were not trained to provide nursing mothers with practical guidance on breastfeeding, and 63.30% never attended courses on breastfeeding. The majority of health workers mentioned breastfeeding benefits only for the baby, namely: nutrition, immunology, development, health, dentition, and bones. There was a statistically significant association between the capacity to provide breastfeeding guidance and participation in training (p<0.001).
Conclusion: the health workers had not participated in training courses to follow up nursing mothers, in addition to having a limited knowledge on practices and promotion of breastfeeding and paying late post-natal home visits.
Keywords: Community Health Works; Breastfeeding; Knowledge
Introdução
O aleitamento materno oferece diversas vantagens à nutriz, visto que promove involução uterina precoce, diminui a chance de câncer de mama e previne algumas mulheres de uma nova gravidez1. Ademais, o leite materno é considerado um alimento completo, natural, barato e seguro para o bebê, pois contribui para a prevenção de infecções, alergias e hábitos de sucção não nutritivos nos primeiros anos de vida2,3, além de proporcionar o desenvolvimento correto das estruturas orofaciais4. O aleitamento materno pode oferecer, ainda, proteção imunológica5 e favorecer o ganho de peso do bebê6,7. Por ser considerado um alimento completo para a criança até os seis meses de vida, é recomendada a sua utilização de maneira exclusiva3.
O Ministério da Saúde (MS) e as Organizações Internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), apresentaram a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), a qual tem como intuito a conscientização dos profissionais de saúde quanto à importância da amamentação. A finalidade da iniciativa consiste em aumentar as taxas de AM em todo o mundo8,9, as quais continuam baixas3,10-13, alertando sobre a necessidade de um trabalho coordenado, que envolve a capacitação de toda a Equipe de Saúde, e visa à integração dos Serviços de Saúde14.
A Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação (IUBAAM), proposta pelo MS, foi lançada pela Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, com o objetivo de melhorar os indicadores e promover o apoio ao aleitamento materno nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Essa iniciativa propõe para as UBS, em conjunto com os hospitais, a adoção dos “Dez Passos para o Sucesso da Amamentação”, considerando primordial a capacitação da Equipe de Saúde15. A escuta da Equipe de Saúde no processo de avaliação dos Serviços de Saúde é fundamental para o planejamento adequado das estratégias que visam melhorar a qualidade dos serviços prestados6,14.
O Agente Comunitário de Saúde (ACS) tem importante papel no sucesso do aleitamento materno, visto que é o profissional de saúde mais próximo das nutrizes, o qual atua como elo integrador entre a Equipe de Saúde e a comunidade/família14,16. Sendo assim, esse profissional necessita estar capacitado para agir nos problemas de saúde, para interferir e, assim, transformar a realidade das famílias. O ACS precisa conhecer o seu território de atuação, além de monitorar e acompanhar as gestantes17,18.
O diagnóstico sobre o conhecimento acerca da prática e da promoção do aleitamento materno desses profissionais, os quais exercem um trabalho integrado de apoio e esclarecimento dos questionamentos da gestante e da nutriz16, contribui para solidificar a importância da capacitação das equipes multiprofissionais (médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, nutricionistas, cirurgiões-dentistas).
Considerando a importância do aleitamento materno para a saúde geral e para o desenvolvimento das estruturas orofaciais, o objetivo desta pesquisa consistiu em identificar o conhecimento de ACS sobre as práticas e a promoção do aleitamento materno.
Métodos
O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” aprovou o presente estudo (processo FOA nº 2202/2011) e os ditames da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde foram todos rigorosamente respeitados.
Realizou-se um estudo transversal, descritivo, tipo inquérito, envolvendo ACS, os quais são vinculados à Estratégia Saúde da Família (ESF).
Todos os ACS que trabalhavam na ESF de um município do estado de São Paulo foram convidados e incluídos na pesquisa, no primeiro dia do ciclo de palestras multiprofissionais em comemoração à Semana Mundial do Aleitamento Materno. Do total de 182 ACS empregados no Serviço Público de Saúde do município, participaram desta pesquisa 148 (81%), os quais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e consentiram em responder o questionário.
Foram excluídos da pesquisa os ACS que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
O método de coleta de dados empregado na pesquisa foi o da aplicação de um questionário semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas, sobre a percepção e o conhecimento dos ACS acerca do aleitamento materno, sem indução das respostas e sem consulta durante o seu preenchimento (Figura 1).
As variáveis consideradas por esta pesquisa são: faixa etária, gênero, grau de escolaridade, tempo de atividade na ESF, cursos ou treinamento de capacitação para o desempenho de suas funções, participação em visitas domiciliares de pré-natal. Ainda foram consideradas por este estudo as seguintes variáveis no que tange ao conhecimento sobre aleitamento materno: início ideal da amamentação e vantagens do aleitamento materno para a mãe e para o bebê, período adequado do aleitamento materno exclusivo, início da complementação da dieta do bebê com outros alimentos, vantagens do aleitamento materno para as gestantes, aspectos importantes para uma boa mamada, sugestões para seios ingurgitados ou fissuras no bico, orientações às gestantes e lactantes durante as visitas.
Após a aplicação do questionário, os dados foram digitados e categorizados para análise no programa BioEstat versão 5.4. Foi realizada análise estatística descritiva, bem como foram empregados os testes Qui-quadrado, Exato de Fisher e G, ao nível de significância de 5% (α=0.05), no intuito de verificar associação entre as variáveis: grau de escolaridade, idade e treinamento, e as variáveis desfecho: tempo após o parto para início da amamentação, período de aleitamento materno exclusivo e início do aleitamento materno complementar.
Nas perguntas abertas, referentes à percepção dos ACS sobre aleitamento materno, as questões propostas foram: “liste três vantagens da amamentação para a mãe ou para o bebê”; “ liste três aspectos importantes a serem verificados na mamada para uma boa amamentação” e “liste duas sugestões que você faria para uma mãe com seios ingurgitados ou com fissuras no bico”.
Para a análise qualitativa das questões abertas, foi escolhida a técnica das representações sociais, cuja análise se baseia na forma como os indivíduos de uma determinada sociedade, pertencentes a um determinado grupo social, expressam sua realidade e a interpretam19.
Após leitura exploratória das respostas dos ACS, foi realizada a análise de conteúdo, a partir do cumprimento de três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. As respostas foram categorizadas e analisadas de acordo com os conteúdos apresentados pelos atores sociais envolvidos20, revelando as seguintes categorias para “vantagens da amamentação para a mãe”: prevenção contra câncer; emagrecimento; involução uterina/diminuição de sangramento/recuperação; produção de leite. As categorias relacionadas às “vantagens da amamentação para o bebê” foram: nutrição; imunológica; desenvolvimento/saúde; dentição/ossos. Emergiram, também, ao longo do material coletado, as categorias: praticidade, economia; afetividade. As categorias emergentes relacionadas aos aspectos importantes que devem ser verificados na mamada foram: posicionamento do bebê; atitudes da mãe; pega/sucção. Para sugestão de tratamento de seios ingurgitados e com fissuras no bico, as respostas foram incluídas nas categorias: adequadas; inadequadas e consultar médico/enfermeira.
A fim de manter o anonimato dos respondentes, foi utilizada a sigla ACS, seguida de número arábico, no sentido de identificar as falas dos sujeitos da pesquisa: ACS1, ACS2...
Resultados
A análise do perfil dos ACS demonstrou que a maioria dos respondentes eram mulheres, a faixa etária predominante foi de 40-49 anos, com média de 39,32 anos. Nota-se, ainda, que a maior parte desses profissionais possuía o ensino médio completo e atuava na profissão há menos de cinco anos, eles alegaram nunca terem recebido treinamento ou curso sobre amamentação (Tabela 1).
Em relação à realização de visitas domiciliares, a frequência de visitas de pré-natal foi estabelecida na UBS dos ACS. Elas foram realizadas, frequentemente, pela maioria dos ACS; a maior parte dos profissionais visitavam, em média, duas gestantes por semana. Foi observado que a maioria das microáreas de abrangência tinha cinco gestantes ou menos e que grande parte dos ACS, frequentemente, falavam das vantagens da amamentação nas visitas domiciliares de pré-natal (Tabela 2).
A frequência de visitas domiciliares de puerpério, segundo a maioria dos ACS, foi estabelecida em sua UBS; de modo que os ACS participavam frequentemente dessas visitas; menos da metade dos ACS não responderam sobre a média de gestantes visitadas por semana e a maioria disse que orientavam as mães sobre amamentação em quase todos os encontros (Tabela 3).
Respostas dos Agentes Comunitários de Saúde, referentes às visitas domiciliares de puerpério 2016
Quanto ao período da primeira visita domiciliar que o binômio mãe-filho recebe após sair da maternidade, verificou-se que a maior parte dos ACS fazia sua primeira visita domiciliar até sete dias após o parto e que, somente um quarto dos profissionais realizavam visitas domiciliares até três dias após o nascimento (Figura 2). Constatou-se que a maioria dos ACS costumava verificar a mamada e corrigir os possíveis erros frequentemente (Figura 3).
Distribuição percentual dos Agentes Comunitários de Saúde, segundo a primeira visita domiciliar realizada à mãe após a alta da maternidade 2016
Distribuição percentual dos Agentes Comunitários de Saúde, segundo verificação da mamada, nas visitas domiciliares, e correção dos possíveis erros 2016
Considerou-se iniciar a amamentação do bebê logo após o parto, ou seja, em até 3 horas e a duração do aleitamento materno exclusivo foi pensado até os 6 meses de idade1. Houve associação estatística significante entre a capacidade de orientar as mães quanto à técnica do aleitamento materno e a participação em treinamento ou cursos (p<0,001) (Tabela 4).
Na análise quantitativa sobre as vantagens do aleitamento materno, notou-se que a maioria dos profissionais citaram três vantagens, conforme solicitado e os demais citaram duas ou uma vantagem e os outros não responderam, o que possivelmente indicaria desconhecimento. Da mesma forma, quanto aos aspectos importantes a serem verificados na mamada para uma boa amamentação, grande parte dos ACS listaram três aspectos importantes a serem verificados na mamada; uma pequena parcela listaram apenas dois aspectos enquanto alguns deixaram a questão em branco.
Em relação às vantagens da amamentação para o bebê, foram consideradas corretas as seguintes respostas: crescimento normal do bebê, redução de anemia, prevenção contra infecções, proteção contra alergias, imunização, alimento completo corroborando com a literatura1,4,13,21,22. Em relação à questão que tratava sobre as vantagens da amamentação para a mãe, foram consideradas corretas as seguintes respostas: redução do risco de câncer de mama e de útero, involução rápida do útero, perda de peso, proteção para a mãe de uma nova gravidez, método mais barato e seguro, está sempre pronto e na temperatura ideal para consumo, proximidade entre mãe e filho, estreitamento dos laços afetivos13,21,22 (Tabela 5).
Distribuição das respostas de Agentes Comunitários de Saúde com relação às vantagens do aleitamento materno e categorias identificadas 2016
Quanto aos aspectos verificados na mamada, as respostas consideradas corretas, para crianças com peso dentro dos parâmetros normais, foram: posicionamento do bebê no colo da mãe, pega do bebê na aréola, sucção, jeito da mãe segurar a mama para não tapar a narina do bebê, esperar o bebê acordar para mamar, oferecer os dois seios para o bebê mamar (primeiramente, esvazia-se um dos seios e, posteriormente, o outro), tranquilidade da mãe e do ambiente no momento da amamentação de acordo com a literatura13,22.
No caso de crianças com baixo peso, é necessário acordar o bebê para mamar, ofertar o leite materno em livre demanda e empregar artifícios a fim de auxiliar na nutrição da criança. Esses artifícios são utilizados, por exemplo, no caso de bebês prematuros que não têm força para sugar o leite materno. Neste caso, o mesmo pode ser ofertado com o auxílio de colheres ou mamadeiras1,6,7.
Nas situações em que há ingurgitamento mamário, a mãe pode retirar o excesso de leite manualmente, com o intuito de facilitar a pega do bebê. Além de, fazer compressas frias no seio para aliviar as dores e os edemas e, amamentar o bebê em livre demanda ou esvaziar o seio, com a finalidade de, evitar-se desconfortos e dores causadas pelo acúmulo do leite materno9,23(Tabela 6).
Distribuição das respostas de Agentes Comunitários de Saúde com relação aos aspectos importantes a serem verificados na mamada e categorias identificadas 2016
As respostas consideradas corretas para a questão que sugere tratamento para seios ingurgitados foram: ordenha manual, dar de mamar sempre que o bebê quiser, posição correta do bebê e verificação da boa pega, não parar de amamentar, massagear e compressa fria depois de retirar o leite. Para fissuras no bico, foram consideradas: posição correta do bebê para pega do mamilo, verificação dos sinais de boa pega, não lavar os seios com sabão e excessivamente (apenas uma vez ao dia), não passar pomadas, não interromper a mamada, aplicar o próprio leite no mamilo, manter os mamilos arejados e tomar sol nestes1,22 (Tabela 7).
Distribuição das respostas de ACS com relação às orientações para os problemas advindos do período de aleitamento e categorias identificadas 2016
Os resultados obtidos foram apresentados aos gestores e aos trabalhadores de saúde do município, por meio de oficina, com a finalidade de que as informações coletadas por esta pesquisa fossem utilizadas no planejamento e na avaliação dos programas relacionados à promoção do aleitamento materno pela Equipe de Saúde.
Discussão
Os resultados desta pesquisa, a qual buscou verificar os conhecimentos dos ACS sobre as práticas e a promoção do aleitamento materno, apontaram, em relação à capacitação, deficiência na realização de cursos sobre amamentação. Aproximadamente, 45,95% dos ACS não se sentem capacitados para realizar a orientação prática das mães sobre amamentação, confirmando a carência de conhecimento científico sobre essa prática24, o que leva à reflexão acerca da eficácia das intervenções educativas. A fim de se adquirir habilidades para orientar a nutriz, é necessário a realização de cursos que qualifiquem o profissional, tornando-o apto.
Ressalta-se, a partir dos dados coletados nesta pesquisa, a importância da capacitação das Equipes Multiprofissionais, por meio de cursos que abordem a saúde bucal, a prática do aleitamento materno e a fisiologia da gestação. Na Equipe Multiprofissional, o médico orienta sobre a importância do aleitamento materno para a mãe e para o bebê; o enfermeiro acompanha a nutriz nos problemas que podem intervir na amamentação, como o ingurgitamento mamário e/ou as fissuras no bico dos seios; o fonoaudiólogo esclarece sobre o aleitamento materno e a sua importância para o desenvolvimento adequado das estruturas orofaciais, além das suas vantagens nutricionais, imunológicas e econômicas; o nutricionista realiza e orienta o acompanhamento nutricional correto da nutriz e esclarece sobre os nutrientes específicos do leite materno que são fundamentais para a saúde da mãe e do bebê; o cirurgião-dentista orienta sobre a importância do aleitamento materno para o desenvolvimento correto do sistema estomatognático da criança, além de, contribuir para a prevenção de hábitos de sucção não nutritivos, deglutição atípica e respiração bucal. O ACS deve ter consciência da importância do aleitamento materno no desenvolvimento completo da criança. Nesse sentido, as capacitações podem envolver a figura dos médicos, dos enfermeiros, dos fonoaudiólogos, dos nutricionistas e, ainda, dos cirurgiões-dentistas4,16.
O resultado desse estudo permite fornecer subsídios para os futuros planejamentos de capacitações e alerta os gestores sobre as possíveis deficiências que pode haver nas Equipes de Saúde. Considerando que são profissões que têm grande rotatividade de pessoas, por isso é imprescindível a constante capacitação desses profissionais. Em relação à falta de capacitação dos ACS sobre as práticas do aleitamento materno, observa-se a necessidade de se instituir estratégias de educação permanente em saúde que proporcionem a reflexão e a análise dos problemas enfrentados no cotidiano desses profissionais, visando o desenvolvimento de ações que contribuam, efetivamente, para a promoção do aleitamento materno5,6,21,25.
Em outro estudo22 observou-se, por meio de uma intervenção educativa, que a capacitação teve efetividade sobre os ACS. Foi comparada a percepção desses profissionais antes e após a intervenção. O resultado da capacitação foi positivo, comprovando que houve mudanças favoráveis que contribuíram para o conhecimento dos ACS acerca do assunto, bem como contribuíram para as práticas que envolvem o aleitamento materno e o acompanhamento às gestantes e às nutrizes.
A capacitação dos profissionais é considerada uma atividade abrangente, pois inclui procedimentos teórico-práticos e permite o desenvolvimento das habilidades e dos objetivos educacionais nos três domínios: cognitivo, afetivo e psicomotor.
No presente estudo, as visitas domiciliares nos três primeiros dias de vida dos bebês não eram realizadas pela maioria dos ACS. Foi observado que a maioria dos ACS realizava sua primeira visita sete dias após o parto. Durante esse intervalo, muitas mulheres podem enfrentar dificuldades em relação à amamentação, como: ingurgitamento mamário, fissuras no bico dos seios e, até mesmo, o desmame precoce5,13. Segundo a OMS23, para que o início e o estabelecimento do aleitamento materno tenha êxito, as mães necessitam de apoio ativo, durante a gravidez e após o parto, não apenas de suas famílias13 e comunidade, mas, também, de todo o sistema de saúde6. As visitas tardias podem ser ineficazes, visto que possíveis problemas podem se instalar e as possibilidades para sua solução serão diminuídas5.
Em outro estudo22 verificou-se que as nutrizes que não foram visitadas no prazo de três dias pós-parto estavam mais propensas a terem problemas na amamentação, já as mães visitadas na primeira semana por ACS capacitados tiveram sucesso em superar as dificuldades em relação ao aleitamento materno, dado que comprova que a visita e o acompanhamento dos ACS são fundamentais, pois permitem a verificação “in loco” das dificuldades encontradas.
Quando o ACS não dispõe dos conhecimentos necessários, é imprescindível a ajuda de outros profissionais, a fim de solucionar os problemas encontrados. Por exemplo, no caso de ingurgitamento mamário ou fissuras no bico do seio, o cuidado do enfermeiro é fundamental. Quando surgirem dúvidas das nutrizes, relacionadas à importância do aleitamento materno para a saúde da mãe e do bebê, o fonoaudiólogo, o nutricionista e o cirurgião-dentista são essenciais, a fim de orientar e incentivar à prática do aleitamento materno.
Pesquisas internacionais demonstram a eficácia da intervenção dos ACS no aumento das taxas de aleitamento materno exclusivo, de modo que a orientação, a educação e a assistência prestada por esses profissionais sobre a amamentação devem ser estratégias exploradas mundialmente para que se obtenha maior sucesso na prática do aleitamento materno4,26-28.
Em relação às vantagens da amamentação, a maioria dos ACS mencionaram somente ganhos para o bebê, sugerindo que o conhecimento da categoria sobre os benefícios do aleitamento materno é limitado às vantagens para a criança, revelando que pouco se conhece sobre os ganhos para a mãe. Notou-se nas respostas dos ACS o conhecimento dos aspectos imunológicos do aleitamento materno, “... protege a criança contra a desnutrição e doenças pelos anticorpos presentes no leite” (ACS30); e o conhecimento dos fatores nutricionais: “... É o alimento mais completo” (ACS58). Para o bebê, a amamentação não é apenas vantajosa por conter todos os nutrientes que ele necessita, por protegê-lo contra diversas formas de alergias ou infecções, ou, ainda, por diminuir consideravelmente a mortalidade e a morbidade infantil, mas é vantajosa, também, porque proporciona um desenvolvimento normal do sistema estomatognático e das estruturas orofaciais29-31.
As vantagens da amamentação podem ser consideradas positivas para as mães, para a família e até mesmo para a sociedade. Embora a questão tenha sido feita sobre a saúde da mãe e do bebê, considerando que o ACS atua diretamente com o binômio mãe-filho. O aleitamento materno oferece vantagem para a família pela sua economia de custo, pois a família não precisará despender recursos com fórmulas infantis. A vantagem da amamentação se estende, também, para a sociedade, pois a consequência do aleitamento materno pode contribuir para a diminuição da mortalidade materno-infantil, além de, no futuro resultar em adultos saudáveis na força de trabalho, impactando positivamente na sociedade.
Observou-se o alto índice de respostas corretas sobre os aspectos importantes a serem verificados na mamada para uma boa alimentação, dado que, consequentemente, veio a revelar um bom conhecimento dos ACS sobre conceitos básicos acerca do tema, entretanto, destaca-se um percentual de respostas incorretas, influenciadas por valores e crenças populares32, como “verificar se o leite da mãe é fraco”. Depreende-se de tal dado, a necessidade de se estipular e de se colocar em prática treinamentos e períodos de capacitação continuada a toda Equipe de Saúde5,6,14, principalmente, ao ACS que está mais próximo da nutriz22,25,33.
O foco do aleitamento materno é, na maioria das vezes, centrado, apenas, nas necessidades da criança, esquecendo-se que o cuidado, treinamento e preparo da mãe é fundamental para que se estabeleça a amamentação sem intercorrências12,21. O ACS deve estar preparado para ouvir a queixa da nutriz e fazê-la se sentir valorizada e compreendida ao ser assistida em suas dificuldades e dúvidas32. Tal questão evidencia a necessidade de se desenvolver estratégias de educação permanentes para capacitar a Equipe de Saúde, visando obter sucesso na contínua promoção do aleitamento materno.
Novos estudos qualitativos de investigação sobre o conhecimento dos ACS acerca das práticas e da promoção do aleitamento materno podem ser realizados em outras regiões do país, a fim de se analisar a capacitação desses profissionais. É importante desenvolver pesquisas de representação social, de percepção e de avaliação de trabalho envolvendo a Equipe Multiprofissional.
Conclusão
Os dados obtidos neste estudo revelam que os ACS apresentaram conhecimento limitado sobre a prática e a promoção do aleitamento materno, bem como falta de cursos de capacitação para possibilitar o acompanhamento das nutrizes. As visitas domiciliares pós-parto, em sua maioria, foram realizadas tardiamente. É indispensável o trabalho integrado da Equipe Multiprofissional no acompanhamento das mães, assim como é fundamental a formulação de um protocolo para a ESF com visitas aos domicílios para gestantes até o terceiro dia pós-parto. Pode-se, afirmar, ainda a necessidade de outras estratégias, como o aprimoramento do sistema de informação entre UBS e ESF, no sentido de aprimorar a comunicação entre os profissionais de saúde, e a disponibilização de dados sobre o pré-natal e o puerpério para melhor planejamento das ações de cuidado e dos Serviços de Saúde.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Mar 2017
Histórico
-
Recebido
27 Set 2016 -
Aceito
23 Fev 2017