Resumo
Este artigo aborda uma modalidade de assaltos contra bancos atualmente registrada em todas as regiões do Brasil, que apresenta as seguintes características: os assaltos ocorrem a altas horas da noite ou durante as madrugadas; são efetuados por quadrilhas cuja quantidade de homens armados varia de duas a cinco dezenas; têm nas cidades de pequeno e médio porte seus alvos preferenciais. Utilizando armas de grosso calibre e explosivos, os assaltantes subtraem valores de duas ou mais agências bancárias em simultaneidade. Nessas ações, parte da quadrilha ataca e obstrui a atuação das forças de segurança pública locais e, com isso, domina bairros e até cidades inteiras por algumas horas, submetendo toda a população. Antes que possam chegar reforços policiais de cidades vizinhas, os bandidos empreendem fuga. Não raro, moradores são tomados como reféns e vivenciam instantes de medo e pavor, chegando mesmo a ser alvejados, quando há confrontos entre quadrilhas e policiais. Este artigo argumenta que a modalidade de crime em análise envolve minucioso planejamento e investimento em infraestrutura e logística, uso instrumental e performático da violência, sendo significada como atividade econômica e negócio por seus praticantes. Sobre a socialidade nas quadrilhas que efetuam tais ações criminais, salienta-se a condição temporária e circunstancial desses agrupamentos, baseados em trocas de saberes, cooperação técnica e “empreendedorismo” dos assaltantes, cujo objetivo comum é obter elevadas quantias em suas investidas armadas. A pesquisa e a análise dos dados, ora apresentadas, têm inspiração etnográfica e o trabalho de campo desenvolvido recorreu a entrevistas em profundidade e conversas informais com praticantes desses assaltos, entrevistas com delegados de polícia e policiais, levantamento e análise de notícias de jornais, telejornais e portais online de todas as regiões do Brasil.
Palavras-chave assaltos; crime; roubos contra bancos; violência; performance
Abstract
This article addresses a type of bank robbery, currently registered in all Brazilian regions, that shows the following characteristics: the assaults occur late at night or during the early hours; they are carried out by gangs, whose number of armed men vary from two to five dozens, their preferred targets are small and medium-sized cities. Using large-caliber weapons and explosives, robbers subtract amounts from two or more banks simultaneously. During such assaults, part of the gang attacks and obstructs the work of local public security forces and, thus, lay siege to neighborhoods and even entire cities for a few hours, subjecting the entire population. Before police reinforcements from neighboring towns can arrive, the bandits flee. Residents are often taken hostage and experience moments of fear and dread, even being shot when there are clashes between gangs and police. This article argues that the type of crime under analysis involves meticulous planning and investment in infrastructure and logistics, instrumental and performative use of violence, being understood as an economic activity and business by its practitioners. Regarding the sociability within such gangs, the study reveals the temporary and circumstantial condition of these groups, based on exchanges of knowledge, technical cooperation and “entrepreneurship” of the robbers, whose common objective is to obtain high amounts through their armed attacks. Research and data analysis, presented in this text, have ethnographic inspiration and fieldwork resorted to in-depth interviews and informal conversations with practitioners of these robberies, interviews with police chiefs and police officers, survey and analysis of news from newspapers, newscasts and web portals from all regions of Brazil.
Keywords robberies; crime; bank robbery; violence; performance
Introdução: problemática, campo de estudos e ferramentas de pesquisa
Uma cidade sitiada, uma polícia acuada e uma população inteira em pânico, refém em suas próprias casas, assustada com quase uma hora e meia de tiroteio ininterrupto. Assaltantes dominaram a cidade e fizeram o que quiseram no município, sem reação da polícia. Eles impediram a saída dos PMs do 22º Batalhão por mais de uma hora, após destruir o portão da unidade e tocar fogo em uma caminhonete. Assim foi a madrugada de terça-feira no município de Surubim, cidade-polo do Agreste Setentrional, de comércio farto e detentora do título de capital pernambucana da vaquejada, distante 119 quilômetros do Recife. Em mais uma ação estrategicamente planejada, aproximadamente 50 homens fortemente armados e encapuzados, usando dez veículos e algumas motocicletas, cercaram a cidade e explodiram os cofres de quatro dos cinco bancos instalados no local. [...] Incendiaram dois veículos, trancaram a Polícia Militar em seu próprio batalhão e fizeram pelo menos seis cidadãos reféns, um deles ferido por um golpe de fuzil nas nádegas. Depois, fugiram sem dificuldade, com uma quantia em dinheiro não revelada, deixando para trás um rastro de destruição e medo [...]. “Foi desesperador. A gente não sabia o que fazer. Ficamos trancados dentro de casa, escondidos como podíamos. Foi a primeira vez que Surubim sofre um crime nessas proporções. Humilharam a polícia", diz o morador Carlos Henrique da Conceição. A ação meticulosamente planejada pelos homens armados com fuzis 762 e 556, além de metralhadoras .50 (aquelas utilizadas sobre um tripé), começou à 0h30. O grupo entrou na cidade e rapidamente se dividiu para bairros e locais estratégicos do município. O objetivo era assustar a população para que ficasse trancada em casa e impedir qualquer possível reação da polícia. A primeira ação foi contra a Polícia Militar. Parte da quadrilha, utilizando três veículos, encurralou os sete policiais que estavam no 22º Batalhão, localizado no bairro de Cabaceiras. Destruíram o portão da unidade com uma caminhonete ’Ranger’ e, depois de incendiá-la, iniciaram uma troca de tiros com os PMs para impedi-los de sair da unidade. Enquanto isso, outro grupo espalhava o terror na Rua João Batista, localizada no Centro e conhecida como a rua dos bancos porque nela estão instaladas, lado a lado, as agências do Bradesco, Santander, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Banco do Nordeste (Soares, 2018).
Este artigo aborda uma modalidade de assalto1 contra bancos que se tornou recorrente em todo o Brasil e envolve o domínio momentâneo de bairros ou cidades inteiras por quadrilhas de assaltantes, cujas atuações chamam a atenção pelas abordagens truculentas e a ostensividade da violência empregada, constituindo-se atualmente na principal modalidade de ataque contra o patrimônio público no Brasil.2 Conforme ilustra a notícia acima, sobre uma ocorrência no município de Surubim, localizado no estado de Pernambuco, estes assaltos têm ocorrido em cidades de “pequeno” e “médio porte” que, de acordo com a classificação do IBGE, apresentam até 50 mil e 500 mil habitantes, respectivamente. Tais aglomerados urbanos frequentemente possuem efetivos policiais reduzidos e equipamentos de segurança pública debilitados. Sem enfrentar grandes dificuldades, agrupamentos de duas a cinco dezenas de homens armados, portando armas de grosso calibre, rendem delegacias e quartéis, atacam a estrutura física de bancos, fazem reféns e fogem, levando grandes quantias.3
De acordo com os dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban),4 o número de assaltos contra bancos e tentativas no Brasil tem diminuído progressivamente nas duas últimas décadas. No ano 2000, 1.903 ocorrências foram registradas no país. Já os ataques a caixas eletrônicos tiveram seu pico em 2014, com 3.584 ocorrências. Entre 2000 e 2021, a redução teria sido de 98%. Nos ataques a caixas eletrônicos, segundo o mesmo levantamento, a queda foi de 38,7% no período. Quando o foco da comparação são os últimos anos, os números apresentados pela Febraban também são positivos – entre 2020 e 2021, a quantidade de assaltos e tentativas de assalto a agências bancárias teria caído de 58 para 37, constituindo uma redução de 36,2%. Entre 2019 e 2020, houve redução de 52,26% no número de assaltos a agências, que caiu de 119 para 58 casos, e os ataques a caixas eletrônicos apresentaram queda de 23,45% – de 567 casos registrados em 2019, passou-se a 434, em 2020.5
Tais reduções nos assaltos contra agências bancárias e ataques a caixas eletrônicos identificadas pela Febraban são efetivas e relevantes, decorrem de investimentos dos bancos em modernos sistemas de segurança e, também, de parcerias e intercâmbios com as instituições de segurança pública no país e com o poder judiciário.6 Contudo, há também particularidades na dinâmica de funcionamento dessas instituições financeiras e nos ataques armados que têm sofrido nas últimas décadas, que expõem a complexidade do fenômeno. Uma delas é o encolhimento das unidades físicas de bancos nos últimos anos, suscitada pela redução da demanda dos clientes por atendimento presencial no setor. Além disso, ainda de acordo com balanços apresentados pela Febraban, apesar da ampla redução no número de ocorrências de assaltos contra agências bancárias e caixas eletrônicos, as quantias subtraídas nas ocorrências dos últimos anos têm sido substancialmente maiores do que aquelas roubadas até meados dos anos 2010.7 No caso específico do Banco do Brasil, que tem a maior quantidade agências e caixas eletrônicos instalados no país, uma das explicações para os diversos ataques sofridos, envolvendo quantias de oito e nove dígitos, remete à estratégia de armazenamento de valores em espécie adotada pela instituição durante os anos 2010. O banco construiu em algumas agências Setores de Retaguarda e Tesouraria, os chamados Seret, que funcionam como compartimentos fortificados nas partes subterrâneas de unidades bancárias, cujas localizações geográficas são consideradas estratégicas pelos setores de segurança do Banco do Brasil, e nelas vinham sendo armazenadas quantias milionárias em espécie, que eram distribuídas para as outras agências bancárias de suas proximidades. Não demorou para que quadrilhas de assaltantes tivessem acesso a informações sobre localizações e funcionamento dos Seret e passassem a visá-los. Alguns dos mais impactantes assaltos contra instituições financeiras ocorridos no Brasil nos últimos anos, que tiveram repercussão midiática dentro e fora do país, como os das cidades de Araraquara-SP e Criciúma-SC em 2020 e o de Araçatuba em 2021, dentre outros, tiveram nas agências do Banco Brasil equipadas com Seret os alvos principais. Evidencia-se, desse modo, que a redução na quantidade de assaltos contra bancos e caixas eletrônicos registrada pela Febraban nas últimas décadas não se explicaria pela perda de atratividade desses alvos ante às quadrilhas, tampouco sinaliza drástica redução nessas ocorrências a curto prazo. Ao contrário, as séries estatísticas da Febraban e os dados qualitativos apresentados neste artigo indicam que os roubos contra bancos no Brasil, suas dinâmicas, personagens e modus operandi, persistem como um vigoroso fenômeno social, propulsor de instigantes questionamentos e reflexões acadêmicas.
Este texto analisa o planejamento e a elaboração da logística e da infraestrutura utilizadas em assaltos contra bancos realizados no Brasil, viabilizados por abordagens truculentas e domínio momentâneo de cidades, argumentando que, ao invés de ações impulsivas ou descontroladas, trata-se de ocorrências sofisticadas e baseadas em cálculo racional. São assinaladas as conexões desses roubos com outros mercados ilegais, o desempenho dramático e o uso performático de violência por seus praticantes, que vivenciam estas ações criminais como um tipo peculiar de atividade econômica e negócio. Também são analisadas as relações sociais nas quadrilhas de assaltantes, cujos agrupamentos são temporários, baseados em cooperação técnica, troca de saberes e divisão de despesas, desfazendo-se depois que cada assalto é executado e que os valores obtidos são divididos entre os participantes.
No contexto da América do Norte e da Europa, verificam-se relevantes discussões nas áreas de Ciências Sociais e Criminologia, que focalizam roubos e outros crimes contra o patrimônio, consolidadas em um rico repertório de publicações, a começar pela pioneira pesquisa de Sutherland (1937) sobre ladrões profissionais, sucedida por outros instigantes trabalhos, desenvolvidos em maior quantidade na segunda metade do século XX. Mesmo dando margem a reducionismos, vale apontar alguns eixos temáticos ou analíticos que se destacam nessa bibliografia, tais como a motivação dos roubos (Katz, 1991), oportunidades de realização da ação criminal, sua elaboração e técnicas (Cloward; Ohlin, 1960; Best; Luckenbill, 1982; Sykes; Matza, 2008), decisões relacionadas à execução desses crimes, emprego de violência e uso de armas (Luckenbill, 1981; Cornish; Clark, 1985; Tedeschi; Felson, 1994; Wright; Decker, 1997; Matthews, 1996, 2002), carreira criminal (Sutherland, 1937; Einstadter, 1966), características e habilidades de praticantes dos roubos (Gill, 2000; Wright; Decker, 1997), a experiência do crime como trabalho ou negócio (Letkemann, 1973; Gill, 2001), contingências, riscos e meios de manipular o medo ou controlar a reação das “vítimas” (Cohen; Felson, 1979; Luckenbill, 1981; Katz, 1991; Linger, 1992; Tedeschi; Felson, 1994; Wrigth; Decker, 1997 Jacobs, 2012, 2013; Lindergaarden; Bernasco; Jacques 2015; Tark; Kleck, 2004;), dificuldades impostas aos assaltantes e tipologias de roubos (Normandeau, 1968; McCluskey, 2013).
No Brasil, embora tenham aumentado nos anos 2010, ainda são escassas as pesquisas sobre roubos e furtos, sobretudo quando comparadas à quantidade de trabalhos que abordam outros crimes, como homicídios e tráfico de drogas. Esta assimetria se mostra paradoxal, pois os roubos impactam significativamente a “sensação de segurança” de moradores e visitantes das cidades brasileiras. O medo de ser assaltado tem modelado rotinas de populações urbanas no país, seus itinerários, horários e interações sociais com pessoas desconhecidas, desencadeando estigmas sobre pobres e negros, frequentemente percebidos como “assaltantes potenciais” (Martins; Corrêa; Feltran, 2020).
Entre os estudos realizados no Brasil, vale destacar os trabalhos de Eduardo Paes Machado e seus alunos, que elucidam graus de organização em ocorrências de roubos contra variados alvos, como ônibus urbanos (Paes-Machado; Levenstein, 2004) ônibus intermunicipais (Paes-Machado; Viodres-Inoue, 2015, 2017), taxistas (Paes-Machado; Nascimento, 2014), motoboys (Paes-Machado; Riccio-Oliveira, 2009) e funcionários de bancos (Paes Machado; Nascimento, 2006, 2011). Trata-se de importantes estudos que analisam a problemática dos roubos na perspectiva das “vítimas”. Carolina Grillo (2013), em suas pesquisas sobre o tráfico de drogas no Rio de Janeiro, aborda a relação de assaltantes com traficantes nas favelas. Grillo e Martins (2020) exploram os critérios adotados por assaltantes na escolha de alvos, abordagens e as formas de mobilidade urbana que lhes são acessíveis. Diogo Caminhas (2018) focaliza decisões sobre planejamento, execução e uso da força por assaltantes em Belo Horizonte. Caminhas e Beato (2020) destacam elementos como arma utilizada, reação da vítima, maturidade do infrator e sua interferência no desenrolar dos assaltos. Gabriel Feltran (2019) analisa furtos de veículos em São Paulo, observando o percurso dessas “mercadorias” até as fronteiras do Brasil com o Paraguai e a Bolívia, onde são trocados por drogas e armas, que vêm circular nos mercados ilegais paulistanos. Em sua pesquisa sobre segurança e controle em redes de supermercados, Leonardo Ostronof (2018) enfatiza os impactos dos roubos de cargas, destacando estratégias de supermercados e transportadoras para prevenir esses crimes. Diogo Corrêa (2020) explora a dimensão interacional dos roubos, articulando narrativas de assaltantes com categorias analíticas propostas por G. H. Mead (1932; 1934; 1938). Sophia Prado (2020) observa negociações entre jovens assaltantes e vítimas, enfatizando ganhos existenciais aos primeiros, que vivenciam os roubos como momentos de deleite e performance.
Entre as pesquisas específicas sobre assaltos contra instituições financeiras que privilegiam a perspectiva de seus praticantes, há o estudo de Edmilson Lopes Junior (2006), que focaliza as quadrilhas e o caráter instrumental das relações entre assaltantes, e os trabalhos da autora deste texto, que exploram as diferentes fases e o caráter sistêmico dessas investidas, a divisão de tarefas entre seus participantes (Aquino, 2004), a racionalidade teleológica que as atravessam (Aquino, 2004, 2008), a competência técnica dos assaltantes e “compensações” obtidas nesses roubos (Aquino, 2010a), as relações sociais nas quadrilhas (Aquino, 2010a, 2010b, 2017, 2020) e a atuação do Primeiro Comando da Capital-PCC, a maior facção criminal do Brasil, no mercado dos grandes roubos na América do Sul (Aquino, 2019)
As análises desenvolvidas neste artigo têm inspiração etnográfica e estão ancoradas em variadas incursões heurísticas desta pesquisadora ao universo dos assaltos contra instituições financeiras no Brasil e na América do Sul, que têm possibilitado o acúmulo de um rico e variado repertório de material empírico, composto por notícias de jornais, telejornais e portais online, extensas anotações em “cadernos de campo”, conversas informais e entrevistas semiestruturadas com policiais e delegados de polícia, conversas informais e entrevistas em profundidade com assaltantes, inserções etnográficas junto ao cotidiano de seus familiares e amigos. Devido a uma série de contingências, inclusive eventuais riscos à integridade física da pesquisadora, não foi realizada “observação participante” (Malinowski, 1978) nos instantes propriamente ditos de execução dos assaltos analisados, por outro lado tem sido possível interagir com praticantes desta de atividade ilegal em variadas circunstancias e contextos, sobretudo no interior de suas residências. Desde o ano 2000, período de início do trabalho de campo junto ao universo social dos grandes roubos, somam sessenta e quatro os assaltantes que já colaboraram com esta pesquisa, seja em conversas informais ou entrevistas (Aquino, 2010; Aquino; Hirata, 2018).
Um primeiro investimento em trabalho de campo realizado entre 2000 e 2009 possibilitou aproximação e diálogo com quarenta e um assaltantes, seis policiais e nove delegados de Polícia, lotados em divisões especializadas em roubos e furtos (Aquino, 2004, 2010a, 2019). Inicialmente, as entrevistas foram realizadas com assaltantes presos. Depois de contínuas investidas, buscando a “confiança” daqueles interlocutores, foi possível acessar dezenas de outros praticantes de roubos e furtos contra bancos, em situação de livramento condicional ou foragidos da Justiça. Com uma parte dessas pessoas, houve afeição mútua, inserções etnográficas em residências e convívio com familiares e amigos de assaltantes (Aquino, 2015). Posteriormente, entre 2016 e junho de 2022, nova pesquisa empírica foi empreendida, resultando em aproximação e entrevistas com vinte e três outros assaltantes, intermediadas pela rede de contatos no universo social dos assaltos contra bancos, construída entre 2000 e 2009. Entre 2016 e 2021, também foram entrevistados, oito policiais e cinco delegados de polícia. Todas as etapas da pesquisa e interações com interlocutores foram desenvolvidas de acordo com os códigos de ética da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) e da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), que recomendam a preservação da confidencialidade e o anonimato de pessoas e comunidades pesquisadas, destacando que a publicação dos trabalhos acadêmicos não deve desencadear constrangimentos ou prejuízos, de qualquer ordem, a seus interlocutores (Aquino; Hirata, 2018). Neste texto, em todas as referências aos entrevistados, sobretudos nas transcrições de suas falas, são utilizados nomes fictícios, tendo sido suprimidas menções a pessoas, situações, lugares ou datas que pudessem evidenciar suas identidades ou ser utilizadas como provas de sua participação em ocorrências criminais específicas.
Cronologia dos assaltos contra bancos no Brasil, como são organizadas as ocorrências e as violências desferidas em suas execuções
Nos anos seguintes ao golpe militar de 1964, no Brasil, os assaltos contra agências bancárias ganharam considerável visibilidade pública. Naquele período, essas ocorrências e os sequestros de relevantes figuras do cenário político foram realizados por militantes de grupos contrários ao governo ditatorial, instituído pelo golpe. Eram assaltos “políticos”, como a imprensa os tratava. O dinheiro obtido com tais ações armadas era canalizado para o financiamento de atividades políticas contrárias ao regime militar (Torres, 2017). Posteriormente, os assaltos a bancos no país passaram a ser efetuados pelo chamado “crime comum” e, a partir dos anos de 1980, tiveram como protagonistas mais notórios integrantes Comando Vermelho (CV), coletivo criminal que nasceu em 1979, na prisão de Ilha Grande, litoral do Rio de Janeiro, como desdobramento do convívio entre “presos comuns” e “presos políticos” da ditadura. Naquele decênio, o CV realizou assaltos contra bancos, carros fortes e joalherias em diversas regiões do Brasil, canalizando o dinheiro roubado para organizar fugas de detentos e otimizar o tráfico de drogas nas periferias do Rio de Janeiro (Lima, 2001). Consolidando-se na distribuição e tráfico de drogas na década seguinte, as cúpulas do Comando Vermelho pararam de organizar assaltos contra instituições financeiras, os quais deixaram de ser uma atividade relevante para essa facção criminal. A partir do fim dos anos de 1990, o coletivo criminal que passou a ser associado aos assaltos contra bancos em que maiores quantias foram roubadas, principalmente aqueles cujas somas subtraídas ultrapassam oito dígitos, tem sido o Primeiro Comando da Capital (PCC), fundado na Casa de Custódia de Taubaté, estado de São Paulo, em 1993 (Biondi, 2010; Dias, 2012). Nas últimas décadas, o PCC se tornou a facção criminal com a maior quantidade de membros e que movimenta maiores quantias no país (Feltran, 2018). Apesar do protagonismo que exerce no mercado ilegal dos roubos contra bancos no Brasil, o PCC não o monopoliza e a maior parte destes assaltos ainda ocorre sem a participação dos seus membros (Aquino, 2019).
Até meados dos anos de 1990, predominavam nos roubos contra bancos ações conduzidas a partir de sequências de procedimentos bem definidas: grupos de três ou quatro assaltantes, armados de revólveres ou pistolas, adentravam às agências bancárias, rendiam funcionários e clientes, levavam o todo dinheiro da bateria de caixas e do cofre do banco, partindo em fuga, de modo súbito, a bordo de veículos ou motos. Havia casos em que estas ocorrências se realizavam de “modo discreto” e silencioso e eram chamadas, no universo social dos “ladrões de banco”, de assaltos “no sapatinho”, expressão disseminada naquele período, em referência a ações caracterizadas por astúcia, sagacidade e esperteza. Mas também havia assaltos em que as quadrilhas efetuavam disparos e agiam com estridência, causando pânico no interior dos estabelecimentos bancários e em suas vizinhanças. Entre assaltantes, estas ações eram denominadas “assalto no vapor”, em alusão à umidade liberada por panelas de pressão sob fogo alto – dizia-se que nesses roubos as quadrilhas deveriam colocar “pressão” sob seus oponentes, fossem reféns ou vigilantes de bancos (Aquino, 2008, 2019).
Ainda no fim dos anos 1990, os bancos brasileiros começaram a investir em melhorias nos sistemas de segurança de suas agências, instalando câmeras e portas giratórias com detectores de metais e alarmes. Visando “contornar” os efeitos desses equipamentos nos estabelecimentos bancários, quadrilhas de assaltantes colocaram em prática novas técnicas de abordagens “discretas” e até “burlescas”, entre as quais, o uso de armas de brinquedo. Assim, os vigilantes armados de bancos eram rendidos com revólveres de plástico e, em seguida, outros assaltantes com armas “de verdade” entravam nas agências para concretizar os roubos. Havia casos em que ladrões alegavam ter passado por cirurgias que implantaram pinos metálicos em seus corpos e, por isso, era inevitável o disparo de alarmes em sua passagem. Com essa narrativa, conseguiam entrar armados em agências bancárias e roubá-las. Também houve ocorrências em que assaltantes usaram uniformes militares e se apresentaram como policiais, para justificar o uso das armas. Algumas ocorrências contavam com participação de mulheres nas abordagens. Uma das táticas utilizadas era o uso de hábitos de freiras, portando simulacros de bíblias, que na realidade escondiam uma ou duas pistolas. Sem suspeitar dessas personagens, os seguranças acreditavam que os detectores de metais estavam com defeito e liberavam a entrada das “religiosas”.
Nos anos 2000, uma nova e “promissora” metodologia de assaltar bancos foi elaborada por integrantes do PCC, no estado de São Paulo, tendo se disseminado rapidamente em todo o país. Tratava-se dos assaltos efetuados por meio do sequestro das famílias dos gerentes das agências bancárias. Vendo familiares sob ameaça, mantidos em cárcere privado, muitas vezes em suas próprias casas, estes profissionais eram obrigados a introduzir as quadrilhas nas agências bancárias e lhes conceder acesso aos cofres. Embora o uso da violência física fosse evitado nesses assaltos, seus participantes acionavam intensa violência psicológica para ameaçar os reféns, como demonstrei em trabalhos anteriores (Aquino, 2010a, 2010b). Também nos anos 2000, foram recorrentes os assaltos possibilitados pela construção de túneis: quadrilhas alugavam imóveis próximos aos estabelecimentos visados, empreendiam escavações e, por vias subterrâneas, acessavam seus cofres. Tal estratégia viabilizou diversos furtos, cujas quantias subtraídas ultrapassaram sete dígitos, dentre eles a ação contra uma agência do Banco Central, o banco de reservas cambiais e autoridade monetária do país, de onde foram retirados R$ 156 milhões, registrada como o maior assalto da história do Brasil. Naquele período, táticas de abordagens silentes e traiçoeiras, claramente, atraíam mais os assaltantes.
Apesar de envolverem altas cifras e menores riscos às quadrilhas e reféns, as modalidades de assaltos mais astuciosas e “discretas” se tornaram raras. Os assaltos contra bancos mais recorrentes no país a partir da década de 2010 têm sido exatamente os que são focalizados neste artigo, cujas execução é truculenta e ruidosa. Mas tal crescimento não decorreu de escolhas das quadrilhas – foi propiciado, sobretudo, pelos contínuos e vultosos investimentos das instituições financeiras em dispositivos de segurança. Além de reforçar a segurança das famílias dos gerentes, os bancos modificaram o acesso a seus cofres, que, atualmente, são programados para abrir apenas uma vez por dia; também foram instalados sensores, capazes de detectar perfurações e construções subterrâneas nas proximidades dos estabelecimentos financeiros. Tais medidas inviabilizam assaltos baseados em truques ou aproximações sutis, que dispensam disparos e enfrentamentos. Limitadas nas chances de êxito com abordagens mais burlescas, restaram às quadrilhas ações nas quais dezenas de homens fortemente armados, como um pequeno exército, atacam unidades de segurança pública e implodem agências bancárias. Embora já ocorresse esporadicamente no Brasil desde os anos 2000, este tipo de roubo contra bancos aumentou substancialmente tão logo aqueles baseadas em artimanhas ou violências psicológicas se tornaram inexequíveis.
Mesmo aparentando impulsividade, os assaltos em foco neste texto pouco têm de improvisados. Constituem intrincadas operações criminais que demandam semanas de levantamento de dados, elaboração do plano, deliberações coletivas sobre cada detalhe da execução e fuga. Vejamos esta ocorrência de 30 de julho de 2020, em Botucatu, estado de São Paulo:
Botucatu (SP) tem madrugada de pânico com assaltos, tiroteios, explosões e incêndios. A ação de uma quadrilha de assaltantes provocou pânico na madrugada desta quinta-feira (30). [...] Segundo informações de testemunhas, os assaltantes atacaram com explosivos ao menos três agências bancárias no centro comercial de Botucatu, roubaram carros, fizeram reféns, bloquearam ruas e avenidas, ameaçaram a Polícia Militar. Eram por volta de 40 criminosos fortemente armados e mascarados. A quadrilha ateou fogo em uma caminhonete em frente ao batalhão da Polícia Militar e atirou contra Policiais que estavam no prédio. [...] Na fuga, outros veículos foram incendiados nas proximidades dos acessos à cidade, como parte da estratégia para escapar da perseguição. [...] Segundo informações da Polícia, ainda existem explosivos em duas das agências atacadas. O assalto começou por volta das 23:30 de quarta-feira e durou cerca de três horas. Os moradores de Botucatu, cidade de 143.000 habitantes, passaram parte da madrugada ouvindo o barulho de tiros e explosões. [...] Os assaltantes ocupavam ao menos oito carros blindados e trocaram tiros por aproximadamente uma hora com policiais militares. Um drone foi usado pelos bandidos para monitorar as forças de segurança
(Camargo, 2020).
A quase totalidade deste tipo de assalto é efetuada na madrugada, quando é menor a quantidade de policiais nas delegacias e quartéis. Trata-se de roubos que produzem impacto visual e sonoro, instaurando nas cidades “sitiadas” dinâmicas sociais e psicológicas pautadas por perplexidade e assombro. Forças policiais e moradores são tomados de surpresa e pouco podem fazer para resistir às quadrilhas; agências bancárias, comércios e populações ficam-lhes submetidas. Mais recentemente, em agosto de 2022, na cidade de Araçatuba, também localizada no interior paulista, assaltantes fixaram reféns no teto e no capô de veículos em todo o percurso até a saída da cidade. Nesta ocorrência, embora as imagens dos corpos masculinos sobre caminhonetes possam evocar suplícios, ritos sacrificiais ou mesmo o simbolismo da crucificação, o objetivo da quadrilha era se proteger de eventuais disparos, efetuados por policiais atiradores de elite, posicionados em helicópteros ou no alto de prédios locais.
Outra característica marcante nessas ocasiões é a realização de dois ou mais assaltos simultaneamente. Aproveita-se o impacto da chegada súbita para atacar mais de um estabelecimento. Esta estratégia foi estrelada no Brasil nos roubos empreendidos pela facção criminal Comando Vermelho, nos anos 1980 (Amorim, 1993). Conforme elucida a notícia, as dezenas de homens envolvidos nessas ações não constituem uma turba sem rumo; cada um desempenha funções previamente acertadas. Raul, um dos interlocutores desta pesquisa, destaca o encadeamento entre as tarefas individuais e a meta coletiva de concretizar o assalto:
Tem que ter foco e precisão cirúrgica; cada um vai fazer o que veio fazer e no final cada função se encaixa com a outra. Quem vai atirar já vai de colete [à prova de balas]. Já é acostumado a fazer isso, sem se apavorar, vai ali, troca tiro, dar o seu recado. Se vai usar explosivo já botou ali, já vai abrindo os caixas, já pega o dinheiro e se dirige para os veículos. É importante fazer tudo no tempo planejado, porque se demora demais, já perdemos nossa principal vantagem, que é o fator surpresa
(Entrevista realizada em 28 mar. 2019).
Por envolver a neutralização momentânea das forças de segurança pública locais, não ultrapassar o tempo previsto para execução do roubo é crucial. Considera-se a localização do alvo, para calcular o tempo que reforços policiais dos municípios vizinhos gastarão no trajeto, quando solicitados. São cogitadas diversas situações que impediriam o assalto ou provocariam prisões e mortes dos seus executantes. Assim como assaltantes de vans que transportam dinheiro na Inglaterra, pesquisados por Gill (2001), as quadrilhas brasileiras que atacam instituições financeiras também buscam amenizar riscos com planejamento minucioso, conhecimento especializado e investimento em logística. Em Botucatu, como visto, um drone e uma frota de nove veículos blindados foram mobilizados. É frequente a utilização de coletes à prova de balas, balaclavas para ocultar rostos e objetos esféricos pontiagudos, que são lançados nas rodovias durante fugas e perfuram pneus de viaturas. Ferramenta central dessas ações, as armas utilizadas são obtidas clandestinamente. Os modelos mais elogiados pelos interlocutores desta pesquisa, atuantes nesses assaltos mais truculentos, são os fuzis AR-15 e AK-47, as metralhadoras UZI e .50 — esta última é capaz de abater helicópteros e romper blindagens. Embora pese 38 kg e demande o uso de um tripé, o “sucesso” da .50, segundo os entrevistados, é devido ao pavor provocado em policiais, que desistem de reagir às quadrilhas tão logo detectam a presença desse armamento.
Junto com o tráfico de armas, há outros mercados ilegais dando suporte aos grandes roubos no Brasil, como o de furto e roubo de veículos, de adulteração de placas automotivas, de produção e comércio de documentos falsificados e, mais recentemente, o mercado de produção e venda de explosivos (Aquino, 2020). Desde o fim dos anos 2000, dinamites têm sido utilizadas em diversas ocorrências de assaltos contra bancos no país, segundo relatos de assaltantes entrevistados, até meados dos anos 2010, as emulsões eram furtadas de empresas de construção civil, que as obtinham para implodir rochas e edificações antigas, sendo possível também a compra clandestina em depósitos do Exército brasileiro. Com o aumento da demanda no mercado dos assaltos, teriam sido montadas fábricas ilegais de explosivos em todas as regiões do país. Mas o tratamento desse material requer expertise. Geralmente, agentes ou ex-agentes das Forças Armadas, com formação técnica para o manuseio de dinamites, ou assaltantes treinados por esses especialistas, os “explosivistas”, têm exercido protagonismo nos assaltos baseados no domínio de cidades; sua perícia e know-how têm sido decisivos na violação de cofres bancários e caixas eletrônicos. Na fase preparativa dos roubos, eles estabelecem a quantidade de dinamite a ser utilizada durante os ataques armados, definem a disposição dos artefatos, sua distância das estruturas a ser colapsadas e o momento dos comandos de implosão.
“Especialização” similar a dos “explosivistas” pode ser observada em algumas outras funções. Por exemplo, aqueles que conduzem os veículos nas ocasiões dos roubos são experientes em dirigir sob perseguição policial, mantêm o controle do volante em altíssimas velocidades, mostrando-se exímios em ultrapassagens, direção na contramão, desvio de obstáculos, escalada de calçadas, dentre outras manobras. Outra função que tende a se estabelecer nessas ocorrências, sobretudo em cidades de médio porte, é a do operador de drones. Este técnico, em tempo real acompanha a movimentação de pedestres e veículos nos acessos às cidades, nas proximidades das agências bancárias e das instituições de segurança pública sob cerco das quadrilhas tendo, assim, condições de detectar com antecedência eventuais reações aos assaltantes.
Ademais, boa pontaria e desenvoltura com diferentes modelos de armas são consideradas habilidades “básicas” entre os chamados “assaltantes de bancos”. Embora os enfrentamentos armados durem poucas horas, envolvem riscos extremos. Por isto, os “informantes” têm relevância seminal na elaboração de planos e projeções estratégicas das quadrilhas, são policiais, funcionários de bancos ou funcionários de empresas terceirizadas que prestam serviços a bancos, que fornecem a assaltantes detalhes sobre movimentação de numerários, disposição de cofres, esquemas de segurança, quantidade de policiais e tipos de armas disponíveis nos quartéis e delegacias da cidade. Munidos com dados “privilegiados”, infraestrutura sofisticada e “profissionais” qualificados, agrupamentos de assaltantes conciliam truculência e racionalidade, tal como ressaltado por Wieviorka (1997), operam usos fortemente “instrumentais” da violência, que nessas situações funciona como linguagem ordenadora, sobrepondo-se a outros signos e mediações. Equipamentos diversos, junto com vontade e habilidades humanas formam, portanto, genuínas “redes sociotécnicas” (Akrich et al., 2006) que conferem a esses roubos a precisão de “sistemas peritos” (Giddens, 1991).
As “competências” dos assaltantes também compreendem teatralizações de comportamentos individuais e coletivos. A chegada triunfante nas cidades exibindo armamento moderno, incêndios de unidades policiais, implosões de agências bancárias e ameaças a moradores são ações vivenciadas como performance, em sua acepção de consciência e elaboração dramatúrgica dos componentes expressivos do comportamento em situações de interação presencial (Goffman, 1992). Vejamos falas de assaltantes entrevistados. Segundo Paulo Sérgio,
tem que chegar de uma vez, em caminhonete, carro médio, já tem que todo mundo ver os fuzis, fazer o que tem que fazer sem hesitar. Cada um sabe qual a sua missão ali, então tem que fazer sem hesitar. Cada passo é conversado antes.
(Entrevista realizada em 15 abr. 2018).
Laurindo, por sua vez, salienta:
tem que fazer cara que vai atirar, que não tá ali pra brincadeira. Seja com toca ou de cara limpa, o jeito que o cara anda, que se movimenta, com a cara fechada, sem demonstrar simpatia, só o jeito de se movimentar e olhar, o pessoal sabe que a gente tá ali pra arrebentar. Tem que dominar todos os sentidos de quem assiste um assalto desse. Tem que ter a arma e o carro para impactar no visual, tem que ter barulho de tiro para impactar no sonoro, se aparece alguém mais atrevido a gente dar um empurrão, uma mãozada, soltar um grito, a gente tem que mostrar que a parada é séria, entrando na mente por todos os sentidos
(Entrevista realizada em 3 ago. 2018).
Ao contrário do que ocorre nos encontros sociais cotidianos analisados por Goffman (1992), cujos “atores” buscam produzir imagens positivas de si, “assaltantes de banco” mobilizam conhecimento e ferramentas expressivas, sobretudo corporais e sonoras, para fomentar as “piores” impressões sobre eles, amedrontando eventuais oponentes. Se considerados rústicos e “descontrolados”, os riscos de enfrentarem reações são menores. Entre os entrevistados nesta pesquisa, liberação de adrenalina e outras sensações relacionadas à excitação não foram apontadas como estímulos relevantes a suas atuações nos roubos. Por outro lado, a maioria deles destacou implicações de suas performances ante interlocutores e sobre si mesmos (Katz, 1988). William declarou: “[n]o começo, eu tremia de medo, mas notei que quando aparecia de fuzil, colete, cara coberta, quem via ficava apavorado, então fui ficando marrento e superei a insegurança” (Entrevista realizada em 09/08/2019). Em raciocínio similar, Maurício conclui: “[f]azer medo aos outros, faz meu medo passar. Logo que chego, entro no personagem do bandido perigoso e deixo de ser eu” (Entrevista realizada em 11 fev. 2020).
Participando continuamente de grandes roubos, saberes, técnicas e imagens de si são incorporadas e modificadas continuamente por assaltantes. Ao invés de acidentais, as violências, tanto quanto atributo de ações, modulam relações, engajamentos, investimentos materiais, mentais e emocionais. As performances das quadrilhas expressam brutalidades, mas também cálculos que, por sua vez, constelam informações, vivências, saberes e ambições. Ao descrever essas ocorrências e veicular com sensacionalismo a atuação dos assaltantes, mídias também “trabalham” a favor deles, ampliando o alcance de suas performances, que transbordam o cenário presencial das ocorrências, reforçando imagens e expectativas sobre crueldade e “periculosidade” de “bandidos” no país. Cientes da visibilidade pública que ganham seus ataques armados, quadrilhas articulam performances, considerando o contexto imediato de cada assalto, mas também reverberações de outros roubos; assim, tornam suas ameaças mais “convincentes”. Cada assalto concretizado constitui êxito direto e material daquela investida em si, mas também, por meio de suas repercussões, reitera referências simbólicas instituídas sobre essa modalidade de evento e seus executantes.
Relações sociais e empreendedorismo nas quadrilhas de assaltantes
Um roubo iniciado em 30 de novembro e finalizado na madrugada de 01 de dezembro de 2020, em Criciúma, cidade localizada no estado de Santa Catarina, na região Sul do Brasil, rendeu aproximadamente 80 milhões a seus participantes. Além das habituais manchetes que esses delitos costumam impulsionar nos jornais do país, a ocorrência também foi notícia em mídias estrangeiras, incluindo noticiários da América do Norte e da Europa. As reportagens, em sua maioria, foram ilustradas por vídeos amadores, que registraram alguns momentos da quadrilha em ação. Vejamos alguns detalhes do crime.
O assalto a duas agências do Banco do Brasil no centro de Criciúma (SC) provocou terror na cidade na madrugada desta terça-feira. Além de rajadas de tiros, os criminosos fizeram barricadas com carros, espalharam explosivos e usaram reféns como escudo para evitar a aproximação de policiais. Os bandidos fugiram e ninguém foi preso até o momento. Eles também incendiaram o 9º batalhão da PM (Polícia Militar) e o túnel que liga a cidade à vizinha, Tubarão. [...] A ação começou por volta da meia-noite e terminou às 3h da madrugada. A polícia informou que ao menos 30 bandidos participaram da ação. Dez a 12 veículos foram usados na fuga e abandonados a 18 km de Criciúma, em uma plantação de milho. [...] Ulisses Gabriel, delegado da Polícia Civil responsável pelo caso, afirmou que o objetivo dos bandidos era chegar à tesouraria de uma das agências bancárias e que 30 kg de explosivos foram encontrados no local. Segundo ele, a soma total do roubo ultrapassa R$ 80 milhões. Na fuga, os criminosos espalharam um malote de dinheiro pelas ruas. Vídeos mostram moradores recolhendo as notas, quatro pessoas foram detidas em flagrante por furtarem o dinheiro abandonado pela quadrilha nas ruas. “Essas pessoas detidas se aproveitaram do momento, não são da quadrilha [que praticou o assalto]”, disse o delegado
(UOL, 2020).
A sequência de etapas, a logística e as características desse roubo são similares a outras ocorrências efetivadas mediante domínio de cidades e neutralização momentânea das forças policiais locais. Apenas um procedimento exposto na notícia constitui novidade nessa modalidade de assalto no Brasil: a distribuição de dinheiro pela quadrilha na via pública, no momento que antecedeu sua fuga. Este detalhe da ocorrência gerou especulações e debates na grande mídia e redes sociais. O ato inusitado atrasou a perseguição policial, confundiu os investigadores e, assim, a quadrilha “ganhou tempo”. As cédulas espalhadas pela rua geraram aglomeração e disputa entre populares, que tentavam auferir frações do valor roubado, ocupando parte dos policiais com detenções e interrogatórios. Naquela semana, dezenas de reportagens e milhares de posts em redes sociais como Twitter, Instagram e Facebook indagavam sobre intencionalidades e significados dos assaltantes deixarem para trás parte do numerário subtraído. Destacaram-se as analogias com a lenda britânica de Robin Wood, o príncipe dos ladrões, que roubava dos ricos para distribuir aos pobres.
Também recorrentes foram associações do modus operandis da quadrilha ao fenômeno criminal do cangaço, observado em regiões rurais do Brasil, durante a primeira metade do século XX, constituído por grupos nômades de camponeses armados, que sitiavam cidades, vilas e propriedades rurais, cometiam roubos e assassinatos, confrontavam e abatiam forças policiais. Entre tais grupos, aquele liderado por Virgulino Ferreira Silva, vulgo Lampião8 foi o mais famoso e temido. Assim como a quadrilha que atacou Criciúma, cangaceiros também submetiam cidades inteiras em seus ataques, manifestando postura belicista e afrontosa, perante forças de segurança pública e outros poderes instituídos. Tanto Robin Hood, como Lampião e seu bando, foram analisados pelo historiador Eric Hobsbawm (1970, 2010), em suas pesquisas sobre “banditismo social”. Apresentados pelo autor como forma de resistência camponesa observada em variadas regiões do mundo, em diferentes períodos, a emergência de “bandidos sociais” estaria associada à desintegração de sociedades tribais, rupturas com modelos sociais baseados em grupos familiares e à emergência do capitalismo agrário. Hobsbawm (1970, 2010) assinala três “tipos” de bandidos sociais: “o nobre” ao estilo Robin Hood, “os guerrilheiros primitivos” e “o vingador”, como Lampião. Apesar das ilegalidades e atuação violenta desses personagens, suas trajetórias e feitos teriam dimensões de contestação política à opressão e desigualdades sociais.
O tipo de assalto em análise neste texto, em alguma medida, envolve rebeldia e insurgência, efetivadas por cercos a cidades, armamento pesado e explosivos, produz destruição física e reconfigurações simbólicas. Atacar delegacias e quartéis não apenas causa constrangimento a policiais, compromete também as imagens das polícias locais. Trata-se de atos performativos que questionam a capacidade dessas instituições de garantir “segurança pública” àquele município, deflagrando subversão momentânea da ordem instituída material e simbolicamente. Mas o teor contestatório desses eventos parece limitado. Na lenda de Robin Hood e outros registros de “banditismo social” são recorrentes cumplicidades, relações de confiança e proteção mútua entre criminosos e habitantes das localidades onde ocorriam as ações transgressoras. Reciprocidades análogas não ocorrem entre assaltantes e moradores das cidades eleitas como seus alvos. De modo geral, as consequências dessas ações criminais têm sido categoricamente negativas para as populações dos municípios atingidos, resultando-lhes prejuízos diversos, a começar pelos materiais. Em dezenas de casos registrados na última década, a quantidade de explosivos utilizada foi excessiva, de modo a implodir agências inteiras e prédios vizinhos. Em algumas cidades, os bancos decidiram não reconstruir suas sedes destruídas por quadrilhas, causando danos à economia de municípios e à rotina de seus residentes, submetidos a deslocamentos intermunicipais recorrentes, apenas para efetuar transações bancárias. Outra consequência nociva desses assaltos é o impacto psicológico sobre as pessoas tomadas como reféns, em muitas situações obrigadas a formarem “escudos humanos”, para proteger quadrilhas de equipes policiais, ao empreender fugas. Até quem não tem contato visual com assaltantes nessas ocasiões, apenas por ouvir os sons estridentes de suas armas, têm relatado abalos emocionais. Em mais de uma década em que estes assaltos truculentos e ruidosos vêm sendo recorrentes no Brasil, o episódio em Criciúma, onde grande quantidade em dinheiro foi lançada na rua ao alcance dos moradores, mesmo constituindo um recurso para tolher a atuação da Polícia, foi o único registro de postura minimamente amistosa de uma quadrilha, em contexto de execução de roubos desse tipo, direcionada a moradores de municípios alvejados.
O material empírico desta pesquisa, sobretudo entrevistas em profundidade e conversas informais com assaltantes, elucida uma série de demandas desses sujeitos por reconhecimento de suas masculinidades, coragem, força, ambição e inteligência, atributos valiosos no contexto da sociedade brasileira, marcada por injustiças e desigualdades sociais, restrita em possibilidades de ascensão social e sobrevivência, por vias legais, aos mais pobres. Tais depoimentos, entretanto, não indicaram interferências de ideais políticos, projetos de resistência coletiva ou utopias de emancipação humana nas motivações dos entrevistados, o que poderia aproximá-los do fenômeno do “banditismo social” (Hobsbawm 1970, 2010). Os anseios e sonhos mencionados foram, em sua quase totalidade, individuais e relacionados a expectativas de ganho monetário rápido e aquisição de bens, apresentados como propulsores de reconhecimento, aceitação, inserção e status social. “Profissional”, “homem de negócio” e “empresário dos assaltos” foram expressões utilizadas pela maior parte deles em referência a si mesmos.
Embora as diversas etapas e procedimentos concernentes à organização e execução dos assaltos contra bancos propiciem convívio, trocas de saberes e negociações entre os participantes, suas ambições e metas são marcadamente individuais. A atuação conjunta parece constituir uma contingência operacional em função da qual quadrilhas são formadas e desfeitas. Mesmo envolvendo quantias milionárias, altos riscos e rigoroso sigilo, trata-se de agrupamentos temporários, cujos investimentos e ganhos são divididos. Participar desses crimes também requer “boa reputação entre pares”. A maioria dos assaltantes entrevistados afirmou que confiança mútua entre os envolvidos é requisito decisivo nessas ações. Indivíduos falastrões, que não guardam “segredo” sobre planos em andamento ou que enganam colegas na divisão do dinheiro roubado tornam-se estigmatizados no universo social dos grandes assaltos, podendo mesmo ser assassinados. Também sofrem rejeição os que contraem dependência química, pois passam a ser vistos como incapazes de controlar as próprias ações e, por isso, propensos a arruinarem assaltos dos quais venham a participar (Aquino, 2010b, 2017, 2019).
Em vez de pré-formadas, pautadas em coesão, sentimento de pertença dos seus membros ou obediência a um líder, como ocorria nos grupos de cangaceiros atuantes no Brasil rural no início XX, as quadrilhas que roubam bancos têm a composição definida nas etapas de elaboração do plano e viabilização da infraestrutura de cada ação criminal, não apresentam hierarquia entre membros, tampouco lideranças. Laços de amizade, quando ocorrem, tendem a envolver dois ou três componentes, não se estendendo aos demais. Cada assaltante tem autonomia para utilizar a parte do dinheiro que lhe cabe, sem dar satisfações ou dividendos a um chefe. Nessas ações, quando um ou mais participantes ficam com quantias maiores que os outros, é por terem investido mais recursos ou emprestado armas para uso dos colegas no assalto. Mesmo quando as quantias obtidas nas ações criminais não são elevadas, parte dos entrevistados apontou outros ganhos implicados. Vejamos o que diz Aluísio.
É um ramo que dá um bom dinheiro, não dá para negar, mas não é uma mega sena. Se em um assalto você ganha pouco, aceite, não faça confusão, porque você tá ganhando em contatos. Eu tenho um colega da Bahia que diz que o nome disso é construir “network”. Não é bom se mostrar ganancioso. Porque vem outro pessoal e te coloca em uma missão maior, você já ganha mais, quando menos espera tem um milhão, já pode ter coisas que sempre quis, mas não tinha condições de comprar. Se não faz inimigo já é um ganho, porque não vai ter ninguém te perseguindo e te queimando pra seus contatos
(Entrevista realizada em 29 mar. 2019).
De acordo com Aluísio, portanto, ganha-se a possibilidade de realizar “sonhos” de consumo, acúmulo de elevadas quantias, formação de novas parcerias no universo dos grandes roubos, que ampliam possibilidades de atuação “profissional”. Os interlocutores desta pesquisa afirmaram com recorrência que a contínua participação em roubos contra instituições financeiras propicia ascensão social, manifestada em aquisição de casa própria, negócios legais, fazendas, custeio de colégios e faculdades particulares para filhos, dentre outras conquistas. Protagonistas desses “empreendimentos”, assaltantes atuam como “empresários”, movimentam recursos, elaboram planos de fugas e abordagens dos alvos, calculam possibilidades de êxitos e falhas (Gill, 2001). Embora classificados como “criminosos” por códigos jurídicos e valores socialmente instituídos, significam suas ações criminais como “investimentos” que exigem cuidados e habilidades específicas (Aquino, 2019). Devido à disposição de se “expor ao risco”, à criatividade e à “inovação” desprendidas para contornar os modernos sistemas de segurança dos bancos, esses sujeitos se aproximam, em alguma medida, do ideal de “empreendedor” tornado clássico por Schumpeter (1961) em sua “teoria do desenvolvimento econômico”. Vejamos este relato de Heraldo.
A gente bota o dinheiro de cada um na roda, planeja tudo mastigadinho. Quando a gente vai para cima é tudo ou tudo, eu sei que ali está em jogo meu futuro e meus sonhos. Tem tendência de muitos caras experientes subestimar o perigo, mas eu nunca perdi de vista que tá tudo em jogo naquela hora. É chegar e partir pra cima, ficar atento, ligado. Depois que tá ali não adianta urinar na roupa, chamar pela mãe. Só quem pode te tirar dali é sua ação. A gente vai com receio, com esperança e ambição também. Se der bom vem grana boa pra garantir o futuro, a volta por cima
(Entrevista realizada em 15 mar. 2019).
Em um raciocínio próximo ao de Heraldo, Paulo Sérgio assinala que
[v]ocê sabe que a gente tá numa crise econômica muito séria né, muito difícil emprego, muito difícil de ganhar dinheiro. Cada 40, 50, 60 mil [reais] que a gente tira numa história dessa tá valendo. Porque tá muito difícil pra todo mundo. Você bota ali uns cinco mil e tira uns 40 [mil reais], você ganhou mais de 30 [mil reais] em uma, duas horas de aperto. A gente que já tem costume de muito tempo, não entra em desespero, já sabe o que vai fazer. O negócio é traiçoeiro, mas com os cuidados certos, dá pra levar
(Entrevista realizada em 15 abr. 2018).
A percepção de si mesmos como “empresários” ou “empreendedores” parece clara e bem formulada para a maior parte desses sujeitos, cujas narrativas e posições demonstraram mentalidades empreendedoras. Todos os entrevistados desta pesquisa afirmaram estar cientes dos “riscos” envolvidos nas ocorrências criminais das quais tomam parte. No entanto, o interesse nas somas daí provindas — e nas aquisições e experiências que tais quantias podem proporcionar — prevaleceriam sobre eventuais temores e receios. Os agrupamentos que se formam para planejar e realizar truculentos e ruidosos assaltos contra agências bancárias são animados, portanto, por cooperação profissional, associação monetária e empreendedorismo individual (Aquino, 2019). Depois de divididos os valores líquidos obtidos, cada assaltante tem liberdade para investir ou gastar como quiser as somas que lhe couberam, sem que “comparsas” venham interferir. Não raro, eles investem em bens e negócios legais, como imóveis, fazendas e variados tipos de comércios como farmácias, postos de gasolina, lojas de material de construção, entre outros, sendo capazes de garantir o sustento de suas famílias e gastos com advogados, quando são capturados pela polícia.
Considerações finais
Este texto analisou assaltos contra agências bancárias no Brasil, caracterizados por abordagens violentas e impactantes, uso de explosivos, armas de grosso calibre e domínio momentâneo de cidades. Conforme exposto anteriormente, além de coragem e ousadia, estes roubos demandam saberes e técnicas específicos, minucioso planejamento e investimento em infraestrutura e logística, e as somas obtidas em tais ações criminais são divididas entre seus participantes. Além de sua dimensão truculenta e espalhafatosa, que são as características que mais chamam a atenção dos meios de comunicação de massa, o texto ressaltou a complexidade e sofisticação dessas ocorrências, a divisão de tarefas nas quadrilhas e a expertise desenvolvida por seus integrantes para realizar, de modo exitoso, suas funções em intrincados planos de assalto que, a rigor, constituem empreendimentos individuais e coletivos.
Também foram abordados os pontos de contato entre o mercado ilegal dos grandes roubos com outros mercados ilegais que lhes dão suporte, como o mercado de armas, de veículos roubados, de adulteração de placas de veículos, de produção e comércio ilegal de explosivos, de documentos falsificados, que facilitam a mobilidade e trânsitos interestaduais dos assaltantes, tanto nos momentos de preparação dos roubos, como por ocasião das fugas. O texto elucida o uso não só instrumental, mas também performático da violência empregada nessas ocorrências. Ameaças, agressões físicas e outras gestualidades, assim como disparos de armas, visam render e dissuadir reações às quadrilhas em ação. Há plena ciência e treino no que concerne a sons proferidos, posturas corporais, armas, veículos e outras logísticas, saberes e ferramentas acionadas, buscando explorar ao máximo os sentidos e as mentes de reféns, transeuntes e profissionais de segurança pública locais para intimidá-los e submetê-los.
A execução de plano minuciosos, a violência instrumental desferida, as ações calculadas em mínimos detalhes, as modernas infraestruturas mobilizadas, junto com as vulnerabilidades e precariedades da segurança pública em cidades de pequeno e médio porte no país, torna possível às quadrilhas invadirem e dominarem bairros e até de cidades inteiras, causando medo e pavor. Com esse modus operandi, tais agrupamentos, compostos por dezenas de homens, operam uma espécie de “inversão estrutural” nas localidades alvejadas, já que os poderes políticos, econômicos e de segurança pública das localidades, dentre outros, são neutralizados ou suspensos na perspectiva material e simbólica. Durante uma ou duas horas são os assaltantes que, valendo-se de performances estridentes e uso de força física, figuram como detentores de amplos poderes perante populações amedrontadas e rendidas. Não são raras as cenas de quadrilhas perseguindo habitantes e até viaturas policiais por ocasião dessas ações. Os assaltantes suscitam em seus oponentes estados de consciência alterados, produzem impactos emocionais, interferindo mesmo nas formas de significar o espaço e o tempo. Tais abordagens intempestivas interrompem a dinâmica cotidiana da vida local, instaurando ali, momentaneamente, uma atmosfera de pavor e medo. Explosões, disparos, gritos, variados sons e cheiros, imagens de devastação e estilhaços se locomovem ante os presentes, fazendo cada minuto ser experimentado como se fossem horas. Alguns participantes de tais roubos relataram a esta pesquisadora que as horas de duração desses assaltos “têm o peso” de semanas e meses, cinco deles contaram que não conseguem dormir na noite anterior às ações armadas.
Também foram abordadas a socialidade no âmbito destas quadrilhas, que constituem agrupamentos temporários. Baseadas em cooperação técnica e financeira, confiança mútua, e, sobretudo, no objetivo comum aos seus integrantes de reaverem multiplicadas as quantias investidas, ganham dimensões de associações profissionais e negociais. A partir de finais dos anos 2010, quando os assaltos em análise neste texto, mais truculentos e caracterizados por domínios de bairros e cidades, tornaram-se recorrentes em todo o país, começaram a se delinear algumas mudanças concernentes a relações de poder e divisão de dinheiro no âmbito das quadrilhas. Por envolverem agrupamentos de dezenas de homens, sobretudo desempenhando a função de “soldado” no momento da efetivação dos assaltos, nem todos os envolvidos nessas ações criminais costumam ter vasta experiência com roubos contra instituições financeiras, nos últimos anos. Segundo relatos de dois interlocutores desta pesquisa, em parte das ocorrências, apenas uma parte da quadrilha elabora ou opina sobre os planos de assaltos em andamento, e nem todos os participantes dessas ações têm dinheiro para investir em sua infraestrutura e logística; alguns desses homens têm sido engajados nos planos mediante pagamento de quantias prefixadas e participam apenas do momento de efetivação da ação armada de “invasão” das cidades até a fuga da quadrilha. Estas informações são relevantes e indicam reconfigurações materiais e simbólicas nesses agrupamentos, pois um dos elementos mais alardeados pelos chamados “assaltantes de banco” em conversas entre pares é a alegação de ter “sócios” e não “patrões”. É recorrente afirmarem que não querem ser empregados, nem patrões de ninguém. Outro motivo de orgulho em suas falas é o da participação na elaboração dos planos das ações em que tomam parte; dizem não ser “piolhos” e que, por isso, “não andam pela cabeça dos outros”; garantem que não participariam de ocorrências nas quais não pudessem opinar ou avaliar as etapas e procedimentos nelas envolvidos. Ainda não houve oportunidade de realizar entrevistas com assaltantes que apresentam esse perfil descrito por alguns interlocutores desta pesquisa e que são pejorativamente chamados de “exclusivamente soldados”, que teriam participação apenas no momento da execução do assalto. Em trabalhos futuros será interessante expor e analisar as versões, narrativas e justificações morais desses personagens sobre as funções que desenvolvem nos assaltos e as posições que ocupam no âmbito das quadrilhas.
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1
A maior parte das ocorrências de assaltos contra bancos analisadas neste artigo são juridicamente classificadas como roubo – que corresponde ao artigo 157 do Código Penal Brasileiro, caracterizado pela apropriação de bens de terceiros, mediante uso de grave ameaça ou violência – e furto – definido no artigo 155, do mesmo Código, como o ato de subtrair algo móvel pertencente a outra pessoa sem a sua permissão.
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2
Sobre os prejuízos ao patrimônio público causado pelos assaltos em análise neste artigo, ver Baldez (2022).
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3
Embora a modalidade de assaltos em análise neste texto quase sempre envolva também arrombamentos dos caixas eletrônicos nas agências bancárias atacadas, essas ocorrências não se confundem com aquelas que tomam tais equipamentos como alvo exclusivo. Quadrilhas que se especializaram em arrombamentos de caixas eletrônicos não costumam atacar sedes de forças de segurança pública, tampouco submetem bairros ou cidades inteiras.
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4
Em se tratando de crimes contra instituições financeiras no Brasil, a Febraban possui o banco de dados mais abrangente, uma vez que tais casos costumam ser contabilizados e investigados pelas polícias civis, que são polícias estaduais e não possuem levantamentos unificados de roubos, furtos e outros crimes contra bancos registrados em todo o cenário nacional.
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5
Observemos que a Febraban, assim como as Polícias Civis, registra os “assaltos contra bancos” e os “arrombamentos de caixas eletrônico” como modalidades diferentes de ocorrências. Em se tratando dos assaltos analisados neste texto, vale esclarecer que, mesmo sendo recorrentes as violações de caixas eletrônicos neste tipo de crime, assaltos contra agências bancárias o alvo principal das quadrilhas que os empreendem são os cofres dos bancos.
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6
Para uma exposição mais ampla dos balanços estatísticos publicados pela Febraban nos últimos anos, ver Estadão Conteúdo (2022), Ferrari (2021) e Castilho (2020).
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7
Ver na reportagem de Militão (2020) como os assaltos contra bancos e empresas de guarda valores passaram a render quantias maiores desde os anos 2000.
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8
Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, foi um sertanejo natural de Pernambuco, estado localizado na região nordeste do Brasil. Após o assassinato do seu pai pela Polícia, em razão de um conflito por terra, Lampião formou um bando de homens armados e, em vingança, percorreu o semiárido nordestino nas primeiras décadas do século XX, jornada onde efetuou dezenas de roubos e assassinatos. Após morrer em confronto com a Polícia, inspirou livros e filmes. Ele foi um dos “foras da lei” abordados pelo historiador Eric Hobsbawm, em sua “clássica” análise dos “bandidos sociais” ao redor do mundo (Hobsbawm, 2010).
Referências
- 1AKRICH, Madeleine; CALLON, Michel; LATOUR, Bruno (ed.). Sociologie de la traduction: textes fondateurs. Paris: Presse des Mines, 2006.
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2 AQUINO, Jania P. D. Violência e performance no chamado “novo cangaço”: cidades sitiadas, uso de explosivos e ataques a polícias em assaltos contra bancos no Brasil. Dilemas, v. 13, n. 33, p. 615-643, 2020. https://doi.org/10.17648/dilemas.v13n3.31668
» https://doi.org/10.17648/dilemas.v13n3.31668 -
3 AQUINO, Jania P. D. Pioneiros: O PCC e a especialização no mercado dos grandes roubos. Journal of Illicit Economies and Development, v. 10, n. 1, p. 193-1203, 2019. http://doi.org/10.31389/jied.34
» https://doi.org/10.31389/jied.34 - 4 AQUINO, Jania P. D. Subvertendo o Código Penal e monogamia: Arranjos afetivos e familiares envolvendo praticantes de assaltos contra instituições financeiras. Dilemas, v. 10, n. 1, p. 84-111, 2017.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Abr 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
06 Set 2021 -
Aceito
17 Fev 2023