Open-access Efeito do treinamento físico sobre o perfil metabólico e ósseo de ratos recém-desmamados

Resumos

INTRODUÇÃO: A prática de exercícios de intensidade moderada pode reduzir o risco de infecções e melhorar os aspectos metabólicos do indivíduo. OBJETIVO: Investigar os efeitos do treinamento físico aeróbio sobre os aspectos metabólicos, ósseo e sistema imunológico. MÉTODOS: Vinte ratos machos, recém-desmamados, foram distribuídos em dois grupos experimentais: grupo sedentário (GS) e grupo treinado (GT). O GT foi submetido a um protocolo de natação, durante seis semanas consecutivas. Ao final do período experimental, foi realizada a contagem total e diferencial de leucócitos e hematócrito. Após o sacrifício, foram analisados: glicose, proteínas totais, triglicérides, colesterol; amostras do fígado e músculo para a determinação dos teores de glicogênio; e tíbia para determinação do comprimento e área óssea. Os dados foram analisados pela análise de variância ANOVA one-way e o nível de significância estabelecido foi p<0,05. RESULTADOS: O hematócrito (%) analisado apresentou diferença significativa, com maior valor para o GT (54,63 ± 1,41) que para o GS (49,5 ± 1,65). A contagem total de leucócitos não apresentou diferença significativa, assim como também não houve diferença na contagem diferencial. O colesterol total apresentou relevante diminuição no GT (GT = 68,27 ± 13,71 mg/dL; GS = 94,44 ± 28,09); os níveis de proteínas totais também apresentaram importante redução (GT = 7,3 ± 0,40 g/dL; GS = 7,74 ± 0,36 g/dL); os níveis de glicose e triglicérides não apresentaram diferenças significativas. Já o comprimento ósseo apresentou diferença significativa, com o comprimento do tibial do GT (40 ± 0,14* mm) sendo menor que o GC (42,10 ± 0,12 mm). A área tibial demonstrou menor valor para o GT (1,53 ± 0,12 cm²) que para o GS (1,67 ± 0,18 cm²), entretanto, a diferença não foi estatisticamente significante. CONCLUSÃO: O treinamento físico aeróbio é capaz de produzir algumas modificações fisiológicas peculiares em ratos jovens.

treinamento físico; aspectos metabólicos; sistema imunológico


INTRODUCTION: The practice of moderate-intensity exercise can reduce the risk of infections and improve metabolic aspects of the person. OBJECTIVE: To investigate the effects of aerobic physical training on endocrine and metabolic aspects, bone and immune system. METHODS: Twenty Wistar rats were divided in two groups: sedentary (GS) and trained group (TG). Training program consisted in swimming, 6 weeks, supporting a workload corresponding to 5% of body weight. At the end of the experiment, were performed counting total and differential leukocyte count and hematocrit. After training period, were analyzed glucose, total protein, triglycerides, cholesterol, liver and muscle samples for the determination of the levels of glycogen, and determination of the tibia length and bone area. All dependent variables were analyzed by one-way analysis of variance (ANOVA) and a significance level of P < 0.05 was used for all comparisons. RESULTS: Hematocrit (%) analyzed showed a significant difference, with higher values for TG (54.63 ± 1.41) than for the GS (49.5 ± 1.65). The total leukocyte count was not significantly different, as there was no difference in the differential count. Total cholesterol showed significant decrease in GT (GT = 68.27 ± 13.71 mg/dL; GS = 94.44 ± 28.09), the total protein levels also showed significant reduction (GT = 7.3 ± 0,40 g/dL; GS = 7.74 ± 0.36 g/dL) glucose levels and triglyceride showed no significant differences.The bone length showed a significant difference (GT = 40±0.14 mm; CG = 42.10 ± 0.12mm). The tibial area showed the lowest value for the GT (1.53 ± 0.12cm²) than for the GS (1.67 ± 0.18cm²) however the difference was not statistically significant. CONCLUSION: It can be concluded that aerobic exercise training is able to produce some unique physiological changes in young rats. There is also the need to prescribe exercises that meet the particular maturational stage of development.

physical training; metabolic aspects; immune system


ARTIGO ORIGINAL

CIÊNCIAS DO EXERCÍCIO E DO ESPORTE

Efeito do treinamento físico sobre o perfil metabólico e ósseo de ratos recém-desmamados

Luciana Mendonça Arantes; Natalia Oliveira Bertolini; José Alexandre Leme; Bruno Augusto Ribeiro do Vale; Eliete Luciano

UNESP – Universidade Estadual Paulista, Júlio de Mesquita Filho, Campus de Rio Claro, São Paulo, Brasil

Correspondência Correspondência: Departamento de Educação Física, Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Campus de Rio Claro. Rua 24 A, 1.515, Bela Vista - 13506-900. Rio Claro, SP, Brasil E-mail: lumarantes@hotmail.com

RESUMO

INTRODUÇÃO: A prática de exercícios de intensidade moderada pode reduzir o risco de infecções e melhorar os aspectos metabólicos do indivíduo.

OBJETIVO: Investigar os efeitos do treinamento físico aeróbio sobre os aspectos metabólicos, ósseo e sistema imunológico.

MÉTODOS: Vinte ratos machos, recém-desmamados, foram distribuídos em dois grupos experimentais: grupo sedentário (GS) e grupo treinado (GT). O GT foi submetido a um protocolo de natação, durante seis semanas consecutivas. Ao final do período experimental, foi realizada a contagem total e diferencial de leucócitos e hematócrito. Após o sacrifício, foram analisados: glicose, proteínas totais, triglicérides, colesterol; amostras do fígado e músculo para a determinação dos teores de glicogênio; e tíbia para determinação do comprimento e área óssea. Os dados foram analisados pela análise de variância ANOVA one-way e o nível de significância estabelecido foi p<0,05.

RESULTADOS: O hematócrito (%) analisado apresentou diferença significativa, com maior valor para o GT (54,63 ± 1,41) que para o GS (49,5 ± 1,65). A contagem total de leucócitos não apresentou diferença significativa, assim como também não houve diferença na contagem diferencial. O colesterol total apresentou relevante diminuição no GT (GT = 68,27 ± 13,71 mg/dL; GS = 94,44 ± 28,09); os níveis de proteínas totais também apresentaram importante redução (GT = 7,3 ± 0,40 g/dL; GS = 7,74 ± 0,36 g/dL); os níveis de glicose e triglicérides não apresentaram diferenças significativas. Já o comprimento ósseo apresentou diferença significativa, com o comprimento do tibial do GT (40 ± 0,14* mm) sendo menor que o GC (42,10 ± 0,12 mm). A área tibial demonstrou menor valor para o GT (1,53 ± 0,12 cm²) que para o GS (1,67 ± 0,18 cm²), entretanto, a diferença não foi estatisticamente significante.

CONCLUSÃO: O treinamento físico aeróbio é capaz de produzir algumas modificações fisiológicas peculiares em ratos jovens.

Palavras-chave: treinamento físico, aspectos metabólicos, sistema imunológico.

INTRODUÇÃO

Na última década, jovens têm se destacado em vários esportes1, que exigem alto grau de habilidade motora e treinamento1. Além disso, a busca por uma aparência estipulada pela mídia também leva adolescentes à procura de atividades físicas e/ou esportivas de alta intensidade e volume de treino2. Devido à dominância dos impulsos cerebrais e à menor sensação de esforço de movimento, crianças apresentam maior atividade motora que adultos3, além de maior metabolismo basal mediado pelos intensivos processos de crescimento e diferenciação4, aumentando a necessidade de vitaminas, minerais e nutrientes, principalmente proteínas5.

Treinos extenuantes, nessa fase da vida, podem acarretar uma predominância do metabolismo funcional sobre o estrutural, que pode prejudicar os processos de crescimento e diminuir a capacidade de suporte de carga6. Na infância, os ossos são mais flexíveis, menos resistentes à pressão e à tração; o tecido dos tendões e ligamentos é insuficientemente resistente à tração, e o tecido cartilaginoso e discos epifisários não ossificados, possuem grande risco de dano sob forças de pressão e torção devido à alta taxa de divisão, regulada pelo crescimento5. Desse modo, crianças e adolescentes são mais suscetíveis a danos de carga que adultos, principalmente durante a puberdade7. Segundo Mackelvieet et al.8, cargas unilaterais ou máximas podem causar, imediatamente ou em longo prazo, distúrbios teciduais.

O aumento da massa óssea durante e imediatamente após o crescimento é apontado como importante estratégia de prevenção da osteoporose; e um incremento de 3 a 5% na densidade mineral óssea reduz o risco de fraturas em 20 a 30%8. Evidências indicam que os efeitos das atividades físicas sobre a massa óssea são potencializados em período próximo ao pico máximo de velocidade de crescimento15, melhorando a densidade mineral óssea de crianças e adolescentes atletas.

Basset et al.11 concluíram que a densidade mineral óssea uma vez aumentada pelo exercício físico, durante a juventude, tem efeito na vida adulta, com benefícios estendidos por décadas após a interrupção do treinamento. Entretanto, com treinamento extenuante, os efeitos benéficos sobre a saúde óssea podem ser reduzidos ou até neutralizados2 causando, comumente, fraturas por estresse14.

Durante o crescimento, a velocidade de adaptação do aparelho locomotor passivo (tecido ósseo e cartilaginoso) é mais lenta que a do aparelho locomotor ativo (tecido muscular), e se vinculada à alta suscetibilidade a sobrecargas, necessita de uma progressão rígida de carga, com estímulos apropriados (submáximos) em crianças, solicitando de forma múltipla o aparelho locomotor passivo, garantindo às suas estruturas um tempo adaptativo adequado, evitando a ultrapassagem do limite de carga, que resulta em lesões7 e influenciando positivamente o crescimento e sua estruturação.

A prática de exercício físico crônico aeróbio resulta em importante melhora na atividade insulínica15,16 e na captação de glicose induzida por insulina nos tecidos muscular, hepático e adiposo através de um processo associado à contração muscular, com ativação dos transportadores de glicose através da insulina e do exercício por distintos mecanismos17. Ratos Wistar, submetidos à natação diária de 1h/dia com carga de 5% do peso corporal ao longo de 30 dias, manifestaram aumento significativo do glicogênio muscular em relação aos sedentários18, provavelmente devido ao aumento da demanda de glicogênio imposta pelo exercício.

Há uma grande quantidade de estudos realizados com adultos acerca dos efeitos da atividade física sobre o sistema imunológico, enquanto trabalhos com jovens atletas são escassos na literatura científica específica. Pesquisas mostram que a atividade física pode causar modificações na concentração, proporção e função das células brancas sanguíneas, sobretudo nos leucócitos polimorfo nucleares, nas células matadoras naturais (natural killers), e nos linfócitos, acometendo também as imunoglobulinas, além de outros fatores19.

O cortisol e as catecolaminas, além de metabólitos ativos, também ocasionam uma redistribuição dos leucócitos, determinando uma ação imunossupressora20. Apesar de muito discutida, alguns cientistas apontam a existência de uma "janela aberta" em um período de três a 72 horas após a prática do exercício, quando vírus e bactérias teriam um acesso facilitado ao organismo, fato que poderia ser potencializado com a má nutrição e diminuição das horas de sono21.

A prática de exercícios de intensidade moderada pode reduzir o risco de infecções22, porém, vários estudos demonstram que a prática de exercícios intensos de longa duração deprime o sistema imune23, e eleva o risco de infecções nas vias aéreas superiores24,25.

Segundo Mackinnon25, o exercício físico pode atenuar a função dos neutrófilos em atletas submetidos ao treinamento intenso, a capacidade de proliferação dos linfócitos é aumentada após exercício moderado e diminuída após exercício intenso, e o exercício agudo modifica profundamente e de forma transitória o número e a distribuição relativa dos diversos leucócitos na circulação sanguínea, retornando aos níveis basais em cerca de 24 horas após o exercício.

Estudo realizado por Oliveira26 em ratos submetidos ao treinamento físico intenso não demonstrou modificações no número total ou diferencial da maior parte dos leucócitos, entretanto, indicou elevação do número de monócitos no grupo treinado em relação ao grupo sedentário, sugerindo melhora da resposta imunológica em consequência do treinamento físico.

Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos do treinamento físico aeróbio sobre aspectos endócrinos e metabólicos, e sobre o tecido ósseo e sistema imunológico em ratos recém- desmamados.

MATERIAIS E MÉTODOS

Animais e seu tratamento

Foram utilizados ratos Wistar (Rattus norvegicusalbinus albinus, Wistar) com 30 dias de idade. Os animais, provenientes do Biotério Central da UNESP – Botucatu, foram mantidos no Biotério do Laboratório de Biodinâmica do Departamento de Educação Física do Instituto de Biociências – UNESP – Rio Claro. Os animais foram alimentados com ração balanceada padrão (Purina®) e água ad libitum, e distribuídos em gaiolas coletivas (com cinco ratos por gaiola) à temperatura ambiente controlada de 25ºC e fotoperíodo de 12 h claro/12 h escuro.

Protocolo de treinamento

Os animais foram distribuídos em dois grupos (n = 10 ratos por grupo): grupo sedentário (GS) e grupo treinado (GT). O protocolo de exercício consistiu de natação cinco vezes/semana, 1 hora/dia, durante seis semanas, com sobrecarga de 5% em relação ao peso corporal do rato, que foi acoplada com elástico ao tronco dos animais. A temperatura da água foi mantida entre 31ºC e 32ºC por ser considerada termicamente neutra em relação à temperatura corporal do rato.

Avaliações prévias ao sacrifício

Durante o período experimental, foram feitas, para fins de registros e posterior análise, mensurações relativas ao peso, ingestão alimentar e hídrica dos animais. Após o período experimental, foram coletadas amostras de sangue para avaliação dos seguintes parâmetros: contagem total de leucócitos e contagem diferencial de leucócitos.

Avaliações após o sacrifício dos animais

Ao término do período experimental, os ratos de cada grupo foram mantidos em repouso por 48 horas em relação à última sessão de exercício, sem jejum prévio. O sacrifício deu-se por decapitação em guilhotina, e foram retiradas amostras teciduais e de sangue (centrifugação à 3.000 rpm) para avaliação de diversos parâmetros: glicose sérica; proteínas totais séricas; triglicérides sérico; colesterol total sérico; hematócrito; glicogênio do músculo gastrocnêmio e do fígado e determinação do comprimento e área das tíbias.

Análise estatística

Os resultados foram avaliados estatisticamente por meio do teste t de Student, com nível de significância estabelecido em 5% (p < 0,05). Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão.

RESULTADOS

Pode-se observar o peso corporal (g) na tabela 1. Os valores de ingestão alimentar (g/100 g p.c.) e ingestão hídrica (mL/100 g p.c.) estão apresentados na tabela 1 e figura 1.


As figuras 1 e 2 demonstram a ingestão hídrica e alimentar dos grupos experimentais.


Na tabela 2 e figura 3 podemos observar o comportamento do hematócrito (%). A contagem total de leucócitos (número de células/mm3 de sangue) de ratos sedentários e treinados estão apresentados na tabela 2.


A contagem diferencial de leucócitos (%) de ambos os grupos experimentais estão apresentados na tabela 3. As avaliações séricas, como: glicose (mg/dL); colesterol (mg/dL); proteínas (g/dL) e triglicérides (mg/dL) podem ser observadas na tabela 4.

As avaliações da tíbia obtidas ao final do experimento como: peso tibial (mg); comprimento tibial (mm) e área tibial (cm²) estão apresentadas na tabela 5. O comprimento tibial (mm) e a área tibial (cm²) também podem ser observados nas figuras 4 e 5, respectivamente.



DISCUSSÃO

Os resultados indicam algumas particularidades nos efeitos do treinamento aeróbio em ratos recém-desmamados. Os registros de ingestão hídrica acompanhados semanalmente demonstram uma compensação adaptativa (tabela 1; figura 1), com valor de ingestão hídrica média maior no GT (21,4 ± 2,0 mL/100 g de rato) que no GS (10,4 ± 3,0 mL/100 g de rato). A ingestão alimentar média de GT também foi maior (GT = 26,3 ± 4,3 g/100 g de rato; GS = 18,4 ± 6,3 g/100 g de rato), demonstrando também uma compensação alimentar devida à demanda energética aumentada pelo treinamento (tabela 1; figura 2). Isso pode ser confirmado pela ausência de diferença significativa entre os grupos quanto ao peso corporal médio (tabela 1), relativo a todo o período experimental (GT = 276,50 ± 53,67 g; GS = 325,01 ± 76,43 g), o que pode ter ocorrido pelo aumento contínuo e progressivo do gasto e da reposição energética, com maior consumo de alimento pelos ratos treinados27.

O hematócrito (%) analisado apresentou diferença significativa, com maior valor para o GT (54,63 ± 1,41) que para o GS (49,50 ± 1,65), o que deve representar uma adição na quantidade de glóbulos vermelhos em resposta ao treinamento físico, a fim de tornar mais eficiente o transporte de gases pelo processo de respiração (tabela 2; figura 3). A contagem total de leucócitos (GT = 13.331 ± 2.822 células/mm3 de sangue; GS = 12.280 ± 2.689 células/mm3 de sangue) não apresentou diferença estatisticamente significante (tabela 2), assim como também não houve diferença na contagem diferencial (tabela 3), indicando que não houve influência do treinamento no sistema imunológico quanto aos parâmetros avaliados. Em relação a alguns parâmetros séricos, algumas importantes modificações aconteceram (tabela 4), ainda mais em se tratando de ratos no período desenvolvimental em questão. O colesterol total apresentou relevante diminuição no GT (GT = 68,27 ± 13,71 mg/dL; GS = 94,44 ± 28,09 mg/dL), remetendo-nos à eficiência do treinamento aeróbio regular como fator preventivo às coronariopatias também em ratos recém-desmamados. Os níveis de proteínas totais também apresentaram importante redução (GT = 7,30 ± 0,40 g/dL; GS = 7,74 ± 0,36 g/dL), refletindo o anabolismo tecidual a que está sujeito o GT, com diminuição da proteína circulante, que é absorvida pelos tecidos de forma mais acentuada28,29. Quanto aos níveis de glicose (GT = 149,44 ± 22,83 mg/dL; GS = 130,22 ± 21,80 mg/dL) e triglicérides (GT = 284,53 ± 77,29 mg/dL; GS = 249,70 ± 68,66 mg/dL), estes não apresentaram diferenças significativas. Devido à importância da glicose no metabolismo do tecido nervoso, já era de se prever que o índice glicêmico poderia manter-se sem significantes alterações, já que é habitualmente regulado dentro de limites muito estreitos. Em relação ao triglicérides, em geral, os programas padronizados de treinamento aeróbio não exercem importante influência sobre os níveis séricos de triglicerídios29. Analisando-se os níveis de glicogênio hepático (GT = 3,31 ± 0,76 mg/100 mg; GS = 3,24 ± 0,93 mg/100 mg) e muscular (GT = 7,54 ± 1,93 mg/100 mg; GS = 6,03 ± 2,13 mg/100 mg), não foram encontradas diferenças significativas, contudo, observando os resultados para o glicogênio muscular, pode-se identificar maior valor para o grupo treinado, indicando tendência de aumento. Talvez, com uma sobrecarga mais individualizada, levando-se, por exemplo, em consideração o limiar anaeróbio dos ratos, possivelmente encontrar-se-ia diferença significativa, pois já está bastante relatado na literatura científica que o treinamento regular produz diferenças nos níveis glicogênios musculares30.

Quanto aos aspectos relacionados ao tecido ósseo, analisando-se a tabela 5, podemos conferir que o peso ósseo não demonstrou diferença significativa entre os grupos. Já o comprimento ósseo (figura 4) apresentou importante modificação, o comprimento tibial do GT (40,00 ± 0,14 mm) foi menor que o GC (42,10 ± 0,12 mm). A área tibial (figura 5) demonstrou menor valor para o GT (1,53 ± 0,12 cm²) que para o GS (1,67 ± 0,18 cm²), entretanto, a diferença não foi estatisticamente significante. Observando-se os dados, pode-se inferir que o treinamento aplicado aos ratos foi capaz de trazer modificações quanto à estrutura óssea, mesmo levando em consideração que apenas o comprimento tibial apresentou diferença estatisticamente significativa. Pelos ratos estarem num período desenvolvimental de acelerado metabolismo, os dados indicam que o protocolo de treinamento pode ter contribuído negativamente no crescimento ósseo dos jovens ratos, refletindo-se no peso ósseo, que apresentou tendência de aumento nos ratos submetidos ao treinamento físico, e também na área tibial, que teve tendência de redução no GT. Pode-se prever que uma maior densidade óssea pode ter sido resultante nos ratos treinados, adquirindo-se uma ossatura mais compacta, e, portanto, de menores área e comprimento tibial, mas de maior peso ósseo.

CONCLUSÃO

O treinamento físico regular é capaz de produzir algumas modificações fisiológicas peculiares em ratos jovens, principalmente no que diz respeito aos aspectos hematológicos, metabólicos e estrutural ósseo. Verifica-se a necessidade de prescrição de exercícios que atendam às particularidades desenvolvimentais do estágio maturacional em questão, levando-se em consideração que determinados volumes e intensidades de treinamento podem ser capazes tanto de atribuir benefício quanto prejuízos a quem se aplica o treinamento regular. O protocolo de treinamento aplicado interferiu no hematócrito e nos níveis normais de proteínas e colesterol, sendo que, neste último parâmetro, demonstra o exercício, também em ratos jovens, ser importante meio de combate às coronariopatias. Também interfere na morfologia óssea, sendo capaz de impedir o crescimento ósseo normal em ratos recém-desmamados.

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Ago 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 2013
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