Resumos
INTRODUÇÃO: o avanço da idade ocasiona uma diminuição das capacidades físicas, aumentando o risco de inatividade física nas idades mais avançadas.
OBJETIVO: analisar as percepções quanto às barreiras e os facilitadores para a prática de atividade física.
MÉTODOS: desenvolveu-se um estudo qualitativo, com 30 idosas fisicamente inativas, participantes dos Grupos de Convivência cadastrados na Prefeitura Municipal de Florianópolis-SC. Para a coleta de dados, foi utilizado o roteiro das questões norteadoras dos grupos focais e os dados foram tratados pela análise de conteúdo temática.
RESULTADOS: as idosas fisicamente inativas perceberam mais barreiras do que facilitadores para a prática de atividades físicas. As principais barreiras foram: a limitação física, a falta de disposição, o excesso de cuidado da família, os exercícios físicos inadequados, as doenças, a falta de segurança, o casamento e o cuidar dos filhos, nunca ter realizado atividades físicas para lazer, o medo de quedas e o aumento da idade. Os principais facilitadores foram: o prazer pela prática de atividade física, a socialização, os benefícios da atividade física, os exercícios físicos adequados, ter companhia para praticar atividades físicas e o programa de atividades físicas da Prefeitura Municipal de Florianópolis-SC.
CONCLUSÃO: o conhecimento dessas barreiras e facilitadores pode contribuir para o planejamento de estratégias a serem aplicadas em intervenções com a população de idosas fisicamente inativas, buscando modificações de comportamentos para a adoção de um estilo de vida ativo, que lhes proporcionará anos de vida com melhor capacidade funcional, condições de saúde e independência.
idoso de 80 anos ou mais; estilo de vida sedentário; motivação
INTRODUCTION: the advancing age causes a physical capacity decline in the elderly, increasing the risk of physical inactivity in older ages.
OBJECTIVE: to analyze the perceptions regarding the barriers and facilitators to physical activity.
METHOD: we developed a qualitative study, with 30 elderly women, physically inactive, participants of Companionship Groups registered in the Prefecture of Florianópolis-SC. To collect data, we used the script of the guiding questions of the focus groups and the data was processed by thematic content analysis.
RESULTS: the physically inactive elderly women perceived more barriers than facilitators for physical activity. The main barriers were: the physical limitation, unwillingness, excess of family care, inadequate physical exercise, disease, unsafe, marriage and caring for children, never performed physical activities during leisure time, the fear of falling and the increasing age. The main facilitators were: the pleasure of physical activity, socialization, the benefits of physical activity, appropriate exercise, to have company to practice physical activities and the physical activity program of the Prefecture of Florianópolis-SC.
CONCLUSION: the knowledge of these barriers and facilitators can contribute to the planning of strategies to be applied in interventions with the oldest population of physically inactive, seeking modification of behaviors for the adoption of an active lifestyle, that will provide years of life with better functional capacity, health and independence.
aged 80 and over; sedentary lifestyle; motivation
INTRODUCCIÓN: El avance de la edad provoca una disminución de las capacidades físicas del anciano aumentando el riesgo de inactividad física en edades más avanzadas.
OBJETIVO: Analizar las percepciones sobre las barreras y facilitadores para la práctica de actividad física.
MÉTODOS: Se desarrolló un estudio cualitativo de naturaleza participante, con 30 ancianas longevas inactivas físicamente, participantes de los grupos de Convivencia registrados en la Municipalidad de Florianópolis-SC. Para la colecta de datos fue utilizado el sistema de preguntas norteadoras de los grupos focales y los datos fueron tratados por el análisis de contenido temático.
RESULTADOS: Las ancianas longevas físicamente inactivas percibieron más barreras que facilitadores para la práctica de actividad física. Las principales barreras fueron: limitación física, falta de disposición, exceso de atención de la familia, ejercicios físicos inadecuados, enfermedades, falta de seguridad, el matrimonio y el cuidado de los hijos, nunca haber realizado actividades físicas en el tiempo libre, miedo de caídas y aumento de edad. Los principales facilitadores fueron: el placer por la práctica de actividad física, la socialización, los beneficios de la actividad física, ejercicios físicos adecuados, tener compañía para la práctica de actividades físicas y el programa de actividades físicas de la Municipalidad de Florianópolis-SC.
CONCLUSIÓN: El conocimiento de estas barreras y facilitadores puede contribuir para la planificación de las estrategias a ser aplicadas en las intervenciones con la población de ancianas longevas físicamente inactivas, buscando modificaciones de comportamientos para la adopción de un estilo de vida activo, que les proporcionará años de vida con mejores capacidad funcional, condiciones de salud e independencia.
Anciano de 80 o más años; estilo de vida sedentario; motivación
INTRODUÇÃO
A faixa de pessoas com 80 anos ou mais de idade está aumentando no mundo1. No Brasil essa situação também se confirma, pois no ano de 1970 existiam aproximadamente de 485 mil idosos longevos no país e em 2010 passou para três milhões com projeções de aumento para 14 milhões até 2040. No estado de Santa Catarina, Brasil, estima-se que existam, aproximadamente, 80 mil idosos nesta faixa etária e no município de Florianópolis sete mil2.
O avanço da idade ocasiona uma perda progressiva das aptidões funcionais do organismo e a diminuição das capacidades físicas, aumentando assim o risco de inatividade física nos indivíduos mais idosos3 , 4. Assim, este grupo etário tem o menor nível de atividade física se comparado a outras faixas etárias1. Segundo Vigitel573,1% dos brasileiros com mais de 65 anos de idade são inativos fisicamente. Em Florianópolis-SC, Brasil o estudo epidemiológico realizado com 1656 idosos denominado EPIFLORIPA IDOSO6, constatou que 42,1% desses indivíduos são inativos fisicamente, e que 58,4% dos 214 idosos longevos pesquisados são inativos fisicamente. Esse fato demonstra que a inatividade física torna-se evidente entre os idosos de Florianópolis.
Muitos motivos podem influenciar a inatividade física, como o gênero, o nível socioeconômico, o estado civil, a escolaridade, a obesidade, o tabagismo, o alcoolismo, a autopercepção de saúde3 , 7, as condições ambientais, de transporte e de segurança8; além da imagem negativa do idoso perante a sociedade7. A inatividade física age como acelerador do declínio humano, ocasionando maior incapacidade funcional, perda de qualidade de vida, aumento do número de doenças, obesidade e mortalidade4 , 9.
Diante das consequências da inatividade física, alguns estudos sobre as barreiras e os facilitadores para a prática de atividades físicas regulares têm sido realizados, mas a maioria deles foram conduzidos com adolescentes (14 a 17 anos de idade)10, adultos (18 a 59 anos de idade)11 e idosos (60 a 79 anos de idade)8 , 12. Assim, observa-se que estudos que verificaram as barreiras e facilitadores para a prática de atividades físicas delimitando-se apenas à população de idosos longevos são escassos.
Tendo em vista que 58% dos idosos longevos de Florianópolis são sedentários6, que a expectativa de vida do brasileiro ao nascer vem aumentando consideravelmente, passando de 67 anos, em 1991, para 72,8 anos, em 20102 e que em âmbito nacional os estudos são mais direcionados aos idosos jovens e ativos fisicamente que apresentam características e necessidades diferenciadas do idoso longevo, objetiva-se neste estudo, analisar as barreiras e os facilitadores para a prática de atividade física das idosas longevas inativas fisicamente participantes em grupos de convivência para idosos de Florianópolis.
MÉTODOS
Esta pesquisa qualitativa participante13 foi aprovada no Comitê de Ética Envolvendo Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil (nº 149/2010).
A população deste estudo foi definida a partir do cadastro dos 102 grupos de convivência para idosos na Prefeitura Municipal de Florianópolis-SC, Brasil, que continha o número de idosos por grupo, região, idade e sexo. Deste cadastro, foram encontrados 493 idosos longevos nos grupos de convivência para idosos dispersos nas cinco regiões sanitárias da cidade. No quadro 1 apresenta-se a distribuição dos idosos nos grupos de convivência das cinco regiões de Florianópolis-SC.
Número de grupos de convivência para idosos por regiões de Florianópolis-SC e de idosos longevos cadastrados nestes grupos.
A seleção da amostra para o presente estudo se deu de maneira intencional e utilizou-se como critério de inclusão: idosos com 80 anos ou mais de idade, sexo feminino, participante de algum grupo de convivência de Florianópolis, SC, que obtiveram pontuação zero no Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e que estavam presentes e se propuseram a participar da coleta. A amostra foi categorizada em idosas ativas e inativas conforme avaliação do nível de atividade física a partir da aplicação do IPAQ, adaptado para idosos. Trata-se de um instrumento que permite estimar o dispêndio energético semanal de atividades físicas relacionadas aos seguintes domínios: trabalho, lazer, transportes, tarefas domésticas. A pontuação do questionário acontece através do somatório dos minutos por semana gastos em atividades moderadas e/ou vigorosas nos diferentes domínios14.
A definição de pessoa inativa fisicamente se deu com base nas recomendações de limiares de atividades físicas que resultam em benefícios para a saúde, ou seja, pessoas que praticam menos de 150 minutos por semana de atividades físicas moderadas e/ou vigorosas14.
A escolha por mulheres aconteceu porque as mulheres idosas brasileiras são mais inativas fisicamente (37,3%) do que os homens (35,8%)2 e devido ao seu maior número nos grupos de convivência para idosos e ao maior número de pessoas do sexo feminino neste estrato etário; nessa amostra totalizaram 173 idosas longevas.
Foram convidadas a participar dos grupos focais, 89 idosas longevas inativas fisicamente, sendo 20 em cada uma das cinco regiões de Florianópolis-SC, e nove na região Leste. Das 89 idosas longevas inativas fisicamente convidadas, 30 aceitaram participar dos grupos focais, distribuídos da seguinte forma por região: Centro (n=6), Leste (n=4), Sul (n=6), Norte (n=8) e Continente (n=6) (figura 1).
Os instrumentos aplicados em forma de entrevista individual para definição da amostra foram:
- Ficha diagnóstica desenvolvida pelo Laboratório de Gerontologia (LAGER), que contém 23 questões abertas e fechadas sobre as características sociodemográficas e condições de saúde de idosos.
- Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) adaptado para idosos14. Aplicado conforme explicado anteriormente.
Posteriormente, as idosas selecionadas foram convidadas a participar do grupo focal. Essa técnica é uma forma de entrevista com grupos, que busca colher informações que possam proporcionar a compreensão de percepções, crenças, atitudes sobre um tema, produtos ou serviços baseada na comunicação e na interação, através de um tópico a ser explorado, podendo abordar um tema e um grupo específico, a fim de entender em profundidade o comportamento de um determinado grupo15. Neste trabalho, o grupo focal foi utilizado para reconhecer as percepções quanto às barreiras e facilitadores para a prática de atividade física das idosas longevas inativas e ativas fisicamente.
Roteiro das questões norteadoras aplicado na técnica de grupos focais. O roteiro utilizado foi: 1- Como podemos envelhecer ativamente? 2- Como vocês percebem a atividade física? 3- Vocês conhecem alguém da sua idade que faz atividade física regularmente? 4- Na opinião de vocês, o que é importante e que impulsiona essas pessoas a saírem de casa para praticarem atividade física? 5- Vocês gostariam de praticar atividade física como elas? 6- Na opinião de vocês, o que motivaria vocês a fazerem atividade física? 7- O que impede vocês de não fazerem atividade física? 8- Quais os tipos de atividades físicas que vocês fariam ou poderiam fazer? 9- Quais as atividades físicas que vocês mais gostam? 10- Quais atividades físicas vocês faziam no passado? O que fez vocês pararem de fazer essas atividades físicas, ou o que fez vocês não fazerem atividades físicas?. A técnica de grupo focal é uma forma de entrevista com grupos, baseada na comunicação e na interação, através de um tópico a ser explorado, podendo abordar um tema e um grupo específico, a fim de entender em profundidade o comportamento de um determinado grupo.
Primeiramente, contatou-se com a Prefeitura Municipal de Florianópolis-SC para obter acesso ao número e ao endereço dos grupos de convivência para idosos cadastrados na mesma, e os dados para contato com os coordenadores dos grupos. A Prefeitura Municipal forneceu o banco de dados, que tinha informações sobre o local de funcionamento e os telefones das coordenadoras dos 102 Grupos de Convivência.
Posteriormente, foi feito contato com os coordenadores dos grupos de convivência para pedir permissão para fazer a pesquisa e em seguida os idosos longevos foram convidados a participarem do estudo, sendo esclarecidos os objetivos do mesmo. Os idosos longevos foram comunicados no próprio grupo de convivência o qual participavam, lá foram marcadas data e horário para a entrevista. Depois do aceite em participar da pesquisa, os idosos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, ficando uma em posse do pesquisador e outra, do entrevistado. Posteriormente, foi aplicada, em forma de entrevista, a ficha diagnóstica e o IPAQ.
De posse das informações dos idosos quanto ao seu nível de atividade física, foi realizado convite, individualmente e por telefone, às 89 idosas longevas inativas fisicamente com pontuação zero no somatório total do IPAQ para participarem dos grupos focais de cada região de Florianópolis-SC. Todas as idosas longevas convidadas foram esclarecidas sobre a proposta de trabalho e os objetivos a serem atingidos no grupo focal que participariam. Seguidamente, foi marcado data, horário e local para a realização da técnica de grupo focal de acordo com a localização dos grupos de convivência o qual as idosas longevas selecionadas participavam.
Foram formados cinco grupos focais, um para cada região da cidade (Centro, Leste, Sul, Norte e Continente). Para dar início as intervenções nos grupos focais elaborou-se um cronograma, que iniciou em março e finalizou em maio de 2011, pois a preocupação dos pesquisadores era finalizar antes do inicio do inverno em virtude da fragilidade das pessoas longevas. Foi marcado um horário e local para realização dos grupos focais, de acordo com a proximidade das longevas selecionadas, para melhor acesso das mesmas. Para as pessoas longevas que morassem longe do local do encontro do grupo focal, o translado de ida e de retorno foi responsabilidade dos pesquisadores. É importante registrar a dificuldade dos pesquisadores para obter o numero desejado de pessoas longevas nos grupo focais, pois os mesmos utilizavam vários argumentos para não participar ao ser contato por telefone, sendo esta uma fase da pesquisa muito árdua pelos pesquisadores.
Ao dar início aos grupos focais era esclarecido o objetivo estudo e do encontro, bem como a importância da colaboração para a efetivação da pesquisa. Pela dificuldade de reunir as pessoas longevas pela a idade avançada e a fragilidade inerente a idade, bem como as respostas obtidas durante os encontros que contemplaram os objetivos do estudo optou-se por realizar apenas um encontro em cada um dos cinco grupos focais. No final de cada sessão (ou nos dias seguintes) foi realizada avaliação acerca das discussões, sentimentos e sensações promovidas naquele encontro, sendo elaborado um quadro geral das ideias preponderantes e traçar estratégias para as próximas reuniões do grupo focal ou finalizar com um relatório das atividades ocorridas.
Para a interpretação das informações que foram obtidas através da técnica de grupo focal, foi utilizada a análise de conteúdo temática que é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens13.
RESULTADOS
As principais dificuldades encontradas para a realização do estudo foram, os poucos estudos de referência na temática atividade física e idosos longevos, a dificuldade para obter o número desejado de idosas para a realização dos grupos focais, e realizar o deslocamento das idosas no dia dos grupos focais, que foi todo de responsabilidade dos pesquisadores.
Para melhor compreensão dos resultados optou-se por apresentá-los em dois eixos temáticos, os quais foram subdivididos de acordo com as categorias identificadas e número de ocorrência: a) Barreiras para a prática de atividades físicas percebidas pelas idosas longevas estudadas e b) Facilitadores para a prática de atividades físicas percebidas pelas idosas longevas estudadas.
A partir dos resultados dos grupos focais, observam-se, na figura 2, as barreiras e os facilitadores para a prática de atividade física das 30 idosas longevas inativas fisicamente.
Barreiras e facilitadores para a prática regular de atividades físicas de idosas longevas inativas fisicamente, participantes de grupos de convivência para idosos de Florianópolis-SC.
Nota-se, no geral, que as idosas longevas inativas fisicamente mencionaram mais categorias referentes às barreiras para atividade física (13 categorias) do que os aspectos facilitadores (nove categorias). Esse maior número de relatos em relação às barreiras se deve ao fato dessas idosas longevas serem inativas fisicamente, pois conforme Nascimento et al. 16 pessoas inativas têm maior propensão de relatarem mais barreiras para a prática de atividades físicas do que facilitadores, pois estas ainda não superaram estas dificuldades.
DISCUSSÃO
a) Barreiras para a prática de atividades físicas percebidas pelas idosas longevas estudadas
Aumento da idade: O "aumento da idade" foi considerado como barreira para a prática de atividades físicas quando foi relatado: "Cem anos não dá mais pra fazer, só pra passear (...) minha idade já não dá mais pra isso." [Grupo focal da região Continente]. Lees et al. 17, ao analisarem grupos de idosos praticantes e não praticantes de exercício físico, através da técnica de grupo focal, verificaram que a barreira aumento da idade foi mais prevalente no grupo não praticante de exercícios. Já é comprovado por muitos estudos4 , 9 , 18 que os níveis de atividade física diminuem com o avançar da idade. Isso se deve ao fato de esse aumento da idade estar associado ao declínio da aptidão física devido a fatores como a diminuição da capacidade aeróbia, da força muscular, da flexibilidade, do equilíbrio, do tempo de reação, de movimento, da agilidade, da coordenação e também ao aumento do número de doenças9.
"Eu não posso mais caminhar muito, aí de noite me dá muita câimbra e eu não durmo (...)." [Grupo focal da região Continente]; "(...) a gente tá mais encarangada. Enferrujada! As juntas já não tão mais legais (...) é a maneira de andar que não dá, às vezes eu sinto dormência nas pernas (...) quando eu ando um pouquinho a mais assim meu joelho fica duro, aí não dá pra caminhar." [Grupo focal da região Centro]; "(...) eu não faço porque fico cansada, com falta de ar, não adianta fazer (...) [Grupo focal da região Leste]
"Eu parei, mas eu caminhava, eu tenho problema de diabetes. Eu (...) fiquei dois meses sem ir e senti falta, porque eu tive muita gripe e tosse e os médicos me proibiram de fazer a musculação." [Grupo focal da região Centro]; "(...) só não caminho porque não posso, tô proibida pelo médico, tô com o coração inchado (...). Meu problema de coluna é muito sério." [Grupo focal da região Sul]; (...) eu fico cansada, eu tenho problema sério no coração. (...) eu (...) tenho falta de ar (...)." [Grupo focal da região Leste]
"Eu sou malandra (...). (...) a gente é preguiçosa (...) eu não tenho mais essa disposição para passear (...)." [Grupo focal da região Continente]; "(...) Eu acho que a preguiça faz a gente fica acomodada (...). Eu já dancei muito, já trabalhei muito, mas agora já não faço mais nada porque tô preguiçosa (...)." [Grupo focal da região Norte]; " Eu gostaria, mas é que eu sou muito preguiçosa (...)." [Grupo focal da região Sul]
"Eu sempre tenho outra coisa, já caminhei muito já trabalhei muito vou descansar agora." [Grupo focal da região Continente]
"(...) eu nunca fiz atividade física (...) as nossas atividades eram o trabalho (...) na roça (...) a gente não fazia nada nunca, só em casa, todo dia era só trabalho (...) fazia caminhada pra ir buscar lenha (...) eu era do colégio pra casa, da casa pro colégio, depois fazia o serviço da casa (...) eu saia lá da minha casa (...) vender o que eu fazia, pegava o bonde desse lado da cidade, saltava na barra e ia até a ponte (...), caminhava tudo a pé." [Grupo focal da região Norte]; "Ginástica eu nunca fiz. Nunca pude fazer." [Grupo focal da região Leste], evidenciou-se que "nunca ter feito atividades físicas no lazer"
"Ah, porque agente se casou (...)." [Grupo focal da região Continente]; "(...) quando a gente tinha filho pequeno (...) não podia sair (...) nós não podíamos ir viajar, conhecer pessoas, nada." [Grupo focal da região Centro]; "(...) dancei muito, casei acabou, com filho né, não tinha lugar pra ir, numa missa daqui no Campeche de apé com filho nas costa, Deus me livre (...) tinha que tá dentro de casa (...). Depois a gente casa e vive pros filhos, o marido não gosta mais (...) não deixa. É que naquele tempo (...) casou acabou (...) ciúme matava (...)" [Grupo focal da região Sul]
Não gostar de atividade física: Outro aspecto em relação à prática de atividade física no passado é relatado pelas idosas do presente estudo que reportaram nunca terem feito atividades físicas de lazer no passado e justificam a não prática atual por "não gostarem de fazer atividades fisicas". Reichert et al. 20 aponta que o desgosto pela atividade física reflete na falta de motivação para engajar em programas de atividades físicas e as primeiras experiências podem ter um papel importante na motivação e, consequentemente, no nível de atividade física, principalmente em pessoas mais velhas.
Dergance et al. 21 avaliaram a percepção de idosos com idade igual ou superior a 65 anos, sedentários e de diferentes etnias (mexicano-americanos e europeu-americanos), e o fato desses idosos não gostarem de fazer atividades físicas foi uma das barreiras que apresentaram diferença significativa entre as etnias. Meurer et al.22, também relatam que o prazer pela prática de atividades físicas é um dos fatores mais citados pelas pessoas idosas (60 anos ou mais de idade) que participaram de seu estudo como fator motivador para a aderência à prática de atividades físicas regulares.
"(...) muito ruim de eu sair de casa sozinha (...)." [Grupo focal da região Continente]; "(...) como eu fiquei sozinha me descuidei e relaxei, com a Olímpia eu fazia." [Grupo focal da região Sul]
"Uma vez a Ida veio do nosso grupo, saiu do banco, três vezes já, ganhou um empurrão e tiraram o dinheiro dela da bolsa, uma quantia boa (...) se tu leva uma bolsinha com a chave já chega pra arranjar um pedinte (...)". [Grupo focal da região Continente]; "Já tive um grupo de idosos (...) mas o marido não quer deixar ir sozinha porque é meio perigoso." [Grupo focal da região Leste]; " Eu até pra caminhar (...) tenho medo, porque lá é um demônio, já morreu três mulheres caminhando, o carro matou (...) porque os carros passam ali (...) não vou andar mais, deixa eu assim meio durinha, mas com vida." [Grupo focal do Continente]; "(...) eu não tenho segurança de andar ali, por causa dos carro (...) não tem segurança (...)." [Grupo focal da região Centro]
"Eu não faço, eu agora parei (...) porque eu quebrei uma perna, caí dentro de casa (...)." [Grupo focal da região Continente]; "Eu machuquei minha perna, eu posso tá em pé aqui, de repente eu caio (...) porque eu ando e de repente eu não sinto o pé (...). (...) eu quase não posso andar por causa da minha perna, o médico não me deixa sair quando chove, porque ele diz que eu caio muito, cada tombo que eu levava era uma fratura, tenho seis ou sete fraturas, tô toda cheia de coisa quebrada." [Grupo focal da região Centro]; "Eu não ando muito porque eu caí muito, não tenho segurança (...)." [Grupo focal da região Norte]
As duas barreiras que já foram relatadas anteriormente, doenças e limitações físicas, podem acarretar efeitos sobre o controle postural do indivíduo, aumentando assim o risco de quedas. O risco de quedas aumenta de acordo com a idade do idoso, sendo que, aproximadamente, 28% a 35% das pessoas com mais de 65 anos de idade sofrem quedas a cada ano, subindo essa proporção para 32% a 42% para as pessoas com mais de 70 anos24.
O medo de voltar a cair é muito comum em idosos que já caíram. Esse medo pós-queda pode trazer consigo o medo de machucar-se, ser hospitalizado, sofrer imobilizações, ter declínio de saúde e tornar-se dependente de outras pessoas24. Satariano et al. 25 destacam que, com o aumento da idade, o medo de quedas aumenta, sendo que, em pessoas com mais de 75 anos, ela é uma das barreiras mais citadas para a adoção de atividades físicas.
"(...) eu não faço porque elas não me deixam mais pegar um ônibus, eu saio do portão, onde é que a mãe vai? eu tenho que andar um pouquinho, elas que me prendem, onde é que a mãe vai? Agora eu não faço mais nada, depois que dei o tombo, a minha filha não deixa eu fazer mais nada (...) até pra tomar banho ela me dá banho, ela tem medo de eu cair no banheiro." [Grupo focal da região Continente]; "Eu fazia o serviço da casa (...) limpava tudo (...) agora (...) os meus netos acabaram com a minha vida (...). Depois que eu me machuquei e quebrei a coluna, não faço mais nada, e eu quero fazer (...) mas a minha filha não deixa." [Grupo focal da região Norte]; " (...) a minha filha não quer que eu ande sozinha. É, que nem as minhas filhas, elas não querem que ande sozinha, elas têm medo." [Grupo focal da região Leste]
As pessoas longevas, geralmente, têm maiores índices de doenças, consequentemente maior fragilidade, dependência e vulnerabilidade, que fazem com que os cuidadores tenham uma maior responsabilidade e atenção pela preservação da saúde dessas pessoas. Assim, o número e a gravidade das doenças e limitações físicas ditam o que o idoso pode ou não fazer. Nesse sentido, a proibição por parte dos familiares em relação aos idosos saírem de casa para realizarem atividades físicas ou sociais, é um fato que geralmente ocorre. Dessa forma, acredita-se que para mudar esse panorama é necessário conhecer o idoso, seus problemas de saúde e suas limitações físicas. Esse conhecimento se torna fundamental para apreciar possibilidades e dificuldades26, principalmente em relação à prática de atividades físicas.
"Eu não tenho mais condições de fazer mais certa ginástica, porque se eu me deito, tem que ter duas pessoas pra me levantar (...). (...) andar de bicicleta (...) em cima da esteira (...) devagarzinho pode fazer. (...) eu participaria de grupos de atividade física, a não ser os que deita no chão (...) eu gostaria, se fosse só em pé, em pé eu faço tudo. Gosto da hidroginástica, mas já fiz umas 15 na minha vida, não produziu nada (...) não sinto que está me fazendo bem (...) não senti resultado nenhum (...)." [Grupo focal da região Centro]; (...) física pesada eu não posso fazer. Nem eu. Porque a gente não tem condições de fazer (...) cansa (...). Pra mim também, mesmo que é calmo, mas acelera o coração forte. É, toda terça-feira, toda quinta-feira ele vem aqui fazer conosco, o que ele tenta fazer com a gente eu já não consigo fazer. Eu também não, é que eu canso de pensar, me dá falta de ar (...). A gente não acompanha, por isso que eu tô dizendo, é meio puxado (...) se fosse uma coisa mais devagar (...)." [Grupo focal da região Leste]
Cassou et al. 8, em seu estudo realizado em idosos com idade igual ou superior a 60 anos, evidenciaram que a intensidade da atividade física é uma barreira muito percebida por essa população. Essa percepção pode ser decorrente de muitos fatores, dentre eles as limitações físicas que o avanço da idade traz. Safons e Pereira27 dizem que os professores precisam realizar atividades mais adequadas para a população idosa, pois essas pessoas precisam de estímulos diferenciados para realizarem atividades físicas regularmente. As atividades físicas para idosos, pelo menos inicialmente, devem ter intensidade moderada, pois assim essa população aumentará o nível de atividade física1. Além disso, ter um professor ruim pode acarretar na desistência e, principalmente, na não adesão às práticas físicas por parte da população idosa3.
b) Facilitadores para a prática de atividades físicas percebidas pelas idosas longevas estudadas
"Prazer em fazer o que quer (...) porque gosta (...). (...) eu vejo o sorriso delas dançá (...) vejo ela dançar e ela mostra que adora. A ginástica, a dança eu faria" [Grupo focal da região Norte]; "A Zizi (...) aquela faz mesmo porque gosta (...) aquela ama fazer ginástica." [Grupo focal da região Sul]; "(...) porque elas gostam (...)." [Grupo focal da região Leste]
Freitas et al. 28, ao estudarem 120 idosos com idades entre 60 e 85 anos, praticantes de atividades físicas há, pelo menos, seis meses, verificaram que 67% dos idosos se mantiveram nos programas porque gostavam de praticar atividades físicas. Eiras et al. 29, em seu trabalho com idosos com idade igual ou superior a 60 anos, praticantes de ginástica e caminhada, também verificaram que gostar da atividade física é fundamental para se manter ativo.
"É porque é só um pouquinho de tempo, é pouca coisa é pouco tempo mais faz, é uma atividade mais leve (...)" [Grupo focal da região Continente]; "(...) se fosse fazer assim, levantar a perna pra frente, pra trás, umas atividades leve (...) eu faria." [Grupo focal da região Norte]; "Eu faço algumas mais leves que eu posso fazer. É, eu faço leve, as mais pesadas eu já não faço mais. (...) eu faço seguido porque é uma coisinha leve (...)." [Grupo focal da região Leste]
A pesquisa de Freitas et al.28, identificou que fatores como receber incentivos (62,5%) e receber a atenção do professor (57,5%) foram apontados pelos idosos (idade igual ou superior a 60 anos) praticantes de ginástica e caminhada como aspectos importantíssimos para que se mantenham realizando exercícios físicos. Estudo de Eiras et al. 29 também apontou para esse fato quando os idosos relataram que a boa atuação do professor faz com que eles continuem praticando exercícios físicos. Sendo assim, a atuação do profissional de Educação Física é fundamental para a adoção de idosos em um programa de atividades físicas27.
"Por causa dos ossos (...) pra não endurecer as pernas, os braços (...) é bom. Agente não fica encolhida (...) é pra não endurecer (...)." [Grupo focal do Continente]; "(...) fiquei dois meses sem ir e senti falta (...). (...) porque não tinha mais aquele exercício, me doía mais e mais e mais. (...) pra saúde, pra elas ficarem mais firmes (...) ter mais energia." [Grupo focal da região Centro]; "(...) pra melhorar a silhueta da pessoa, a pessoa fica mais forte. (...) pra ela ter uma vida melhor (...) com mais saúde (...)." [Grupo focal da região Sul]; "(...) pra esticar os nervos (...)."[Grupo focal da região Leste]
"Porque tem saúde. É tem saúde tem que fazer (...) pra não se entregarem (...)." [Grupo focal da região Sul]
"(...) fazer amizade. (...) encontrar outras pessoas." [Grupo focal da região Norte]
"(...) se eu tivesse um namorado que me ensinasse dança, eu iria. (...) se eu tivesse alguém que me ensinasse a dançar (...)." [Grupo focal da região Norte]; "Eu caminhava todos os dias (...) com a Olímpia (...) aí a Olímpia mudou-se, e caminhar sozinha, eu não gostava, daí parei. Companhia é importante, porque caminhar sozinha é muito ruim (...)." [Grupo focal da região Sul]
"Quando o meu marido morreu, eu fiquei muito tempo dentro de casa, me convidaram pra ir pra escola, aí eu fui lá pra escola, toda terça-feira às 6 horas nós fazia ginástica (...)." [Grupo focal da região Sul]
"Pra fazer atividades físicas, tem que ter força de vontade, não pode deixar a preguiça tomar conta." [Grupo focal da região Norte]; (...) a pessoa que tem vontade faz."
"Aqui (...) vem duas ou três meninas da saúde (...)." [Grupo focal da região continente]; "(...) agente faz ginástica no nosso grupo que é um da Educação Física da Prefeitura que vai uma vez por mês, que faz exercício com a gente (...)." [Grupo focal da região Centro]; "(...) um moço e uma moça vão lá dá ginástica pra nós. O nosso lá a Prefeitura manda uma moça, um moço, de vez em quando eles tão lá dando aula." [Grupo focal da região Sul]; "Então, nós temos a professora que vem aqui toda semana fazer ginástica (...). Aqui vem um professor da Prefeitura fazer conosco." [Grupo focal da região Leste]
Programas de atividades físicas para idosos contribuem para um envelhecimento ativo e saudável, modificando ou retardando os processos de perdas biopsicossociais inerentes a essa fase da vida, sendo um consenso que programas de atividades físicas supervisionadas contribuem muito para a promoção da saúde, beneficiando seus praticantes nos aspectos físicos, psicológicos e sociais1. Nesse sentido, fomentar intervenções de práticas de atividade física é uma meta a ser atingida por órgãos governantes e/ou não governantes27.
CONCLUSÃO
Espera-se que os resultados encontrados neste estudo possam contribuir para novas contextualizações/reflexões sobre as barreiras e os facilitadores para a prática de atividades físicas por parte da população longeva e concluiu-se que o conhecimento destas barreiras e facilitadores pode facilitar o planejamento de estratégias a serem aplicadas em intervenções com esta população que é inativa fisicamente, buscando modificações de comportamentos para a adoção de um estilo de vida ativo, que lhes proporcionará anos de vida com melhor capacidade funcional, condições de saúde e independência.
Sugere-se que novos estudos com idosos longevos, tanto homens como mulheres, inativos e ativos fisicamente, sejam realizados, para que possamos verificar se o nível de atividade física e o sexo podem interferir na percepção de barreiras e facilitadores para a prática de atividades físicas.
REFERÊNCIAS
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jan-Feb 2015
Histórico
-
Recebido
20 Mar 2013 -
Aceito
22 Abr 2014