Resumo
Educação Interprofissional (EIP) em saúde acontece quando duas ou mais profissões aprendem com, sobre e para a outra como forma de desenvolver a colaboração através de um processo de aprendizagem compartilhada, visando a melhorar a qualidade dos serviços prestados. A EIP proporciona o desenvolvimento de três importantes competências: comuns a todas as profissões; específicas de cada área profissional; e colaborativas. Nesse sentido, este estudo objetivou sintetizar o conhecimento existente na literatura acerca dos instrumentos de avaliação para mensurar competências colaborativas na EIP. Realizou-se uma revisão integrativa da literatura entre novembro e dezembro de 2020, nas bases de dados SCOPUS e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), para sintetizar o conhecimento produzido acerca dos instrumentos de avaliação usados na mensuração de competências colaborativas na EIP. Foi feito um compilado de 38 estudos. Observou-se uma grande variedade de escalas aplicadas, com destaque para a aplicação em estudantes (42,1%) e profissionais (39,5%), dentro de uma perspectiva interprofissional. Foram identificadas na literatura 29 escalas utilizadas para mensuração de competências colaborativas na EIP. Dessas, merecem destaque a Readiness for Interprofessional Learning, com maior representatividade entre as publicações (20,0%), além da Escala Jefferson de Atitudes em relação à Colaboração entre Médico e Enfermeiro (8,0%) e Assessment of Interprofessional Team Collaboration Scale (8,0%). Compilar a literatura acerca das principais escalas aplicadas possibilita a padronização no uso das escalas validadas e de alta confiabilidade. Dessa forma, facilita sua inserção em ambientes colaborativos, com vistas a mensuração e comparação dos estudos.
Palavras-chave
Relações interprofissionais; Educação interprofissional; Inquéritos e questionários; Avaliação educacional
Abstract
Interprofessional Education (IPE) in healthcare occurs when two or more professions learn with, about, and from each other to develop collaboration through a shared learning process, aiming to improve the quality of services provided. IPE fosters the development of three key competencies: common to all professions, specific to each professional area, and collaborative. In this context, this study aimed to synthesize existing knowledge in the literature regarding assessment instruments for measuring collaborative competencies in IPE. An integrative literature review was conducted between November and December 2020, using the SCOPUS and Virtual Health Library (VHL) databases, to synthesize the knowledge produced about the assessment instruments used to measure collaborative competencies in IPE. A compilation of 38 studies was performed. A wide variety of applied scales were observed, with a focus on application to students (42.1%) and professionals (39.5%) within an interprofessional perspective. The literature identified 29 scales used to measure collaborative competencies in IPE. Among these, the Readiness for Interprofessional Learning Scale, with the highest representation among publications (20.0%), the Jefferson Scale of Attitudes toward Physician-Nurse Collaboration (8.0%), and the Assessment of Interprofessional Team Collaboration Scale (8.0%) stand out. Compiling the literature on the main applied scales enables the standardization of using validated and highly reliable scales, thus facilitating their integration into collaborative environments and aiming for the measurement and comparison of studies.
Keywords
Interprofessional relations
;
Interprofessional education
;
Surveys and questionnaires
;
Educational measurement
Introdução
A definição mais amplamente conhecida de Educação Interprofissional (EIP) em saúde defende que ela ocorre quando duas ou mais profissões aprendem com, sobre e para a outra como forma de desenvolver a colaboração através de um processo de aprendizagem compartilhada, a fim de melhorar a qualidade dos serviços prestados (CAIPE, 2002 CAIPE. The Centre for the Advancement of Interprofessional Education. Interprofessional education: today, yesterday and tomorrow. Fareham: CAIPE, 2002. Disponível em: https://www.caipe.org/resources/publications/caipe-publications/caipe-2002-interprofessional-education-today-yesterday-tomorrow-barr-h# . Acesso em: 04 mar. 2023
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). Assim, a EIP objetiva a promoção de profissionais mais colaborativos, capazes de prestar uma assistência mais integral e, consequentemente, mais eficazes na resolução e enfrentamento de problemas e necessidades de saúde (Reeves; Hean, 2013 REEVES, Scott; HEAN, Sarah. Why we need theory to help us better understand the nature of interprofessional education, practice and care. Journal of Interprofessional Care, London, v. 27, n. 1, p. 1-3, 2013. https://doi.org/10.3109/13561820.2013.751293
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).
Dessa forma, o desenvolvimento de competências é essencial para uma prática interprofissional efetiva no contexto do trabalho em equipe. Entende-se por competência a capacidade de mobilizar conhecimentos, atitudes e habilidades necessárias ao desempenho eficiente das atividades requeridas nos diferentes contextos do trabalho em saúde (Brasil, 2014 BRASIL. Ministério da Educação. Resolução n. 3, de 20 de junho der 2014. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 jun. 2014. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-basica/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/20138-ces-2014 . Acesso em: 04 mar. 2023
http://portal.mec.gov.br/escola-de-gesto...
).
A EIP proporciona o desenvolvimento de três importantes competências: as comuns a todas as profissões; as específicas de cada área profissional; e as colaborativas, que se referem às especificidades de cada profissão (Casanova; Batista; Ruiz-Moreno, 2015CASANOVA, Isis Alexandrina; BATISTA, Nildo Alves; RUIZ-MORENO, Lídia. Residência multiprofissional em saúde: percepção dos residentes sobre a educação interprofissional nas práticas colaborativas. In: CONGRESSO IBERO-AMERICANO EM INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA (CIAIQ), 4., 2015, Aracaju. Anais […]. Aracaju: Universidade Tiradentes, 2015. p. 368-370. Desmembrar esta sigla. ).
Nesse contexto, torna-se necessário elucidar as competências colaborativas para melhor avaliar os resultados advindos de programas de EIP e aperfeiçoar a colaboração interprofissional, beneficiando assim os pacientes e as comunidades (Dow et al. , 2014 DOW, Alan W. et al. An exploratory study of an assessment tool derived from the competencies of the interprofessional education collaborative. Journal of Interprofessional Care, London, v. 28, n. 4, p. 299-304, 2014. https://doi.org/10.3109/13561820.2014.891573
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; Spencer, L; Spencer, S, 1993SPENCER, Lyle M.; SPENCER, Signe M. Competence at work: model for superior performance. New York: Wiley, 1993. ). Portanto, o uso de escalas validadas cientificamente para a avaliação de tais competências é imprescindível no fornecimento de um feedback (Morrison, 2003 MORRISON, Jill. ABC of learning and teaching in medicine: evaluation. BMJ, London, v. 326, p. 385-387, 2003. https://doi.org/10.1136/bmj.326.7385.385
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).
Diante da variedade de escalas existentes na literatura para a avaliação das competências colaborativas na EIP, nota-se inicialmente a necessidade de reunir esse conhecimento, ressaltando as principais a serem empregadas. Dessa forma, questiona-se: quais são os instrumentos de avaliação para mensuração de competências colaborativas na EIP disponíveis? Nesse sentido, o presente estudo objetivou sintetizar o conhecimento existente na literatura acerca dos instrumentos de avaliação para a mensuração de competências colaborativas na EIP.
Metodologia
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, seguindo cinco etapas: identificação da questão de pesquisa; busca na literatura; avaliação dos dados; análise dos dados; e apresentação dos resultados (Whittemore; Knafl, 2005 WHITTEMORE, Robin; KNAFL, Kathleen. The integrative review: updated methodology. Journal of Advanced Nursing, Oxford, v. 52, n. 5, p. 546-553, 2005. https://doi.org/https://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2005.03621.x
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).
Formulou-se, dessa forma, a questão de pesquisa a partir da estratégia PIO, em que: P – população – competências colaborativas na EIP; I – intervenção – mensuração das competências colaborativas; e O – resultado – escalas.
Realizou-se a busca para a seleção dos artigos nas seguintes bases de dados eletrônicas: SCOPUS e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), no período de novembro a dezembro de 2020. Foram utilizados os descritores a partir da terminologia preconizada pelo vocabulário controlado Medical Subject Headings (MeSH), separados pelos operadores booleanos OR e AND: Interprofessional Relations OR Interprofessional education OR interprofessional collaboration OR interprofessional competency evaluation AND Surveys and Questionnaires OR scales OR Educational Measurement OR protocol measurement OR scale development.
Durante a etapa de seleção dos estudos, cada base de dados foi acessada simultaneamente por dois pesquisadores, em computadores diferentes, a fim de garantir a escolha do maior número de artigos pertinentes para a pesquisa. Para minimizar vieses, essa etapa foi conduzida por um protocolo de busca, o qual contemplou o tema da revisão, o objetivo da busca, a questão norteadora, as bases de dados a serem acessadas, os descritores utilizados e o cruzamento a ser realizado. Os pesquisadores seguiram as etapas destacadas, o que garantiu a consistência interna e a padronização da busca realizada.
Como critérios de inclusão, foram adotados artigos disponíveis gratuitamente nas bases de dados selecionadas, nos idiomas português, inglês ou espanhol e que abordassem a questão do estudo. Os critérios de exclusão foram: editoriais; cartas ao editor; opiniões de especialistas; teses ou dissertações; e outras revisões. O corte temporal foram os últimos cinco anos, a fim de identificar a literatura mais recente sobre a temática.
No decorrer da busca, aplicou-se o teste de relevância, de acordo com as recomendações Cochrane, para a seleção de estudos na amostra (Higgins; Green, 2011HIGGINS, Julian PT; GREEN, Sally. Cochrane handbook for systematic reviews of interventions version 5.1.0 [updated March 2011]. The Cochrane Collaboration, 2011. Disponível em: https://www.handbook.cochrane.org . Acesso em: 04 mar. 2023.
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). O teste contemplou questionamentos a partir da questão norteadora e dos critérios de inclusão pré-estabelecidos. Inicialmente, foi aplicado nos títulos de todos os artigos analisados. Caso respondessem positivamente, aplicava-se o teste nos resumos e, a partir de respostas favoráveis, nos textos completos, incluindo o estudo na amostra.
Na realização do cruzamento proposto, em cada uma das bases de dados se encontrou um total de 1037 estudos, sendo 925 na SCOPUS e 112 na BVS. Após a aplicação do teste de relevância nos títulos, resumos e textos completos, bem como o consenso entre os pesquisadores, a amostra se compôs de 38 estudos, os quais se subdividiram da seguinte forma: 24 na SCOPUS e 14 na BVS.
A extração dos dados dos artigos que contemplaram a amostra foi norteada por um instrumento desenvolvido para o estudo, o qual abordou: ano de publicação; país onde foi realizado; área da publicação; método; nível de evidência a partir do delineamento do estudo (Joanna Briggs Institute, 2013 JOANNA BRIGGS INSTITUTE. JBI levels of evidence. Adelaide: JBI, 2013. Disponível em: https://jbi.global/sites/default/files/2019-05/JBI-Levels-of-evidence_2014_0.pdf . Acesso em: 04 mar. 2023.
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); e tipo de escala empregada, levando em conta se a foi validada e os principais resultados da aplicação dessa.
A apresentação dos resultados foi realizada de forma descritiva, por meio de um quadro sintético dos estudos analisados. Realizou-se ainda estatística descritiva com os dados relativos e absolutos. Os resultados foram discutidos utilizando a literatura pertinente à temática.
Resultados
A amostra dos estudos selecionados contou com 38 artigos. A partir do corte temporal proposto, as porcentagens de anos foram: 2020 (18,4% dos estudos); 2019 (18,4%); 2018 (23,7%); 2017 (18,4%); 2016 (18,4%); e 2015 (2,7%).
Referente ao país de publicação, obteve-se uma variedade de 19, sendo eles: Estados Unidos da América (34,2%); Japão (11,0%); Canadá (8,0%); China (5,2%); Índia (5,2%); e os demais países representando 2,6% cada (Peru, Espanha, Indonésia, Caribe, Holanda, Reino Unido, Brasil, Suécia, Alemanha, Coréia do Sul, Irlanda, Eslovênia, Arábia e Dinamarca).
As publicações foram 100,0% na língua inglesa. Quanto às áreas de publicação, destacam-se: interprofissional (44,7%); medicina (31,6%); enfermagem (13,2); odontologia (2,6%); e outras áreas da saúde (7,9% – farmácia e serviço social).
O Quadro 1 apresenta o compilado dos 38 estudos que compuseram a amostra, destacando o título, os objetivos, as escalas utilizadas e a área em que essa escala foi aplicada. Dessa forma, percebe-se uma grande variedade de escalas aplicadas, com destaque para profissionais (39,5%) e estudantes de forma interprofissional (42,1%).
Na Tabela 1 é possível observar a frequência na qual cada uma das escalas aparece nos estudos evidenciados, bem como as áreas de em que essas foram aplicadas.
A análise dos resultados compilados na literatura possibilitou identificar uma grande variedade de instrumentos de avaliação das competências colaborativas na EIP, com diversos domínios de avaliação e objetivos de aplicação direcionados para estudantes, profissionais ou ambos. As que se apresentaram com maior frequência foram Readiness for Interprofessional Learning Scale (RIPLS) (20,0%), Assessment of Interprofessional Team Collaboration Scale (AITCS) (8,0%), Escala Jefferson de Atitudes em relação à Colaboração entre Médico e Enfermeiro (JSAPNC) (8,0%) e a Interprofessional Collaborative Competency Attainment Survey (ICCAS) (6,0%).
Quanto as áreas de aplicação das escalas, evidenciou-se que 42,1% dos estudos apontaram a sua execução em Estudantes e 39,5% com profissionais, ambas dentro de um contexto interprofissional.
Discussão
A inserção da EIP em currículos e prática clínica é indispensável para alcançarmos a integralidade da assistência à saúde. Entretanto, para sua efetivação, faz-se necessário mensurar as competências necessárias, dentre elas a colaborativa. A literatura nos apresenta uma gama de escalas padronizadas para esse fim. Compilar esse conhecimento permite avançar na mensuração da referida competência.
A Escala Jefferson de Atitudes em relação à Colaboração Médico-Enfermeiro (JSATPNC) é uma ferramenta estabelecida para avaliar a cooperação entre médicos e enfermeiros. O instrumento mede tais atitudes a partir de quinze questões, divididas em quatro domínios: Educação compartilhada e colaboração (7 itens); Cuidar em oposição à cura (3 itens); Autonomia do enfermeiro (3 itens); e Autoridade do médico (2 itens). Todos os domínios são autoavaliados pelo participante ao longo de uma escala do tipo Likert de quatro pontos (1=discordo totalmente, 2=discordo, 3=concordo, 4=concordo totalmente), em que pontuações mais altas indicam atitudes positivas em relação à colaboração médico-enfermeira (Jafary et al ., 2017 JAFARY, Seyed Meysam et al. Relationship between differentiation of self and attitude towards physician-nurse relationship in hospitals (Isfahan/Iran). Iranian Journal of Nursing and Midwifery Research, Mumbai, v. 22, n. 4, p. 262-266, 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5590353/ . Acesso em: 2 maio 2024.
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).
As evidências de confiabilidade e validade da JSAPNC indicam consistência interna de moderada a alta, e sugerem uma sensibilidade da medida às diferenças de atitudes entre enfermeiros e médicos. Reconhece-se ainda um potencial efeito “teto” para a JSAPNC, visto que muitos médicos, enfermeiras e estudantes em treinamento relataram atitudes iniciais elevadas, limitando o potencial de demonstrar melhorias significativas ao longo do tempo (Wetzel, 2013 WETZEL, Angela. Critical synthesis package: Jefferson scale of attitudes toward physician-nurse collaboration. MedEdPORTAL, Washington, DC, v. 9, p. 9631, 2013. https://doi.org/https://doi.org/10.15766/mep_2374-8265.9631
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).
A AITCS, por sua vez, é uma escala canadense validada e composta por três subescalas: “Parceria/ Tomada de decisão compartilhada”, com 19 itens; “Cooperação”, com 11 itens; e “Coordenação”, com 7 itens (Haruta; Ozone; Goto, 2019 HARUTA, Junji; OZONE, Sachiko; GOTO, Ryohei. Factors for self-assessment score of interprofessional team collaboration in community hospitals in Japan. Family Medicine and Community Health, London, v. 7, n. 4, e000202, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1136/fmch-2019-000202
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). Existem variações culturais aprovadas em diversos países de forma a adaptá-la à realidade de cada cultura, como pode ser visto na versão japonesa (Haruta; Ozone; Goto, 2019 HARUTA, Junji; OZONE, Sachiko; GOTO, Ryohei. Factors for self-assessment score of interprofessional team collaboration in community hospitals in Japan. Family Medicine and Community Health, London, v. 7, n. 4, e000202, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1136/fmch-2019-000202
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) e dinamarquesa (Marcussen et al ., 2019 MARCUSSEN, Michael et al. Interprofessional clinical training in mental health improves students’ readiness for interprofessional collaboration: a non-randomized intervention study. BMC Medical Education, London, v. 19, n. 27, 2019. https://doi.org/10.1186/s12909-019-1465-6
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).
Através das respostas registradas em escalas Likert de 5 pontos (1: nunca e 5: sempre), a escala avalia a autopercepção dos estudantes para o trabalho colaborativo dentro de um time, em que o paciente também é visto como parte da equipe, seguindo o princípio da tomada de decisão compartilhada. Ela pode ser desenvolvida em diferentes ambientes de práticas com consistência interna alta, no entanto, avaliações mais extensas devem ser realizadas para expandir sua validação e responsividade à mudança (Hellman et al. , 2016 HELLMAN, Therese et al. Preliminary testing of the swedish version of the Assessment of Interprofessional Team Collaboration Scale (AITCS-S). Journal of Interprofessional Care, London, v. 30, n. 4, p. 499-504, 2016. https://doi.org/10.3109/13561820.2016.1159184
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).
A escala RIPLS, que apresentou maior frequência entre as escalas avaliadas (20,0%), objetiva medir a prontidão para educação interprofissional, as atitudes em relação à EIP e seus efeitos na formação. Contém 19 itens com consistência interna, sendo cada questão respondida em uma escala Likert de 5 pontos (1: menor e 5: maior) (Al-Qahtani, 2016 AL-QAHTANI, Mona Faisal. Measuring healthcare students’ attitudes toward interprofessional education. Journal of Taibah University Medical Sciences, Al Madinah Al Munawwarah, v. 11, n. 6, p. 579-585, 2016. https://doi.org/10.1016/j.jtumed.2016.09.003
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; Li; Sun; Zhang, 2018 LI, Zhewei; SUN, Yihan; ZHANG, Yang. Adaptation and reliability of the Readiness for Inter Professional Learning Scale (RIPLS) in the Chinese health care students setting. BMC Medical Education, London, v. 18, 309, 2018. https://doi.org/10.1186/s12909-018-1423-8
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; Mcdevitt; Passi, 2018 MCDEVITT, Sara; PASSI, V. Evaluation of a pilot interprofessional education programme for eating disorder training in mental health Services. Irish Journal of Psychological Medicine, Dublin, v. 35, n. 4, p. 289-299, 2018. https://doi.org/10.1017/ipm.2015.61
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; Roopnarine; Boeren, 2020 ROOPNARINE, Rohini; BOEREN, Ellen. Applying the Readiness for Interprofessional Learning Scale (RIPLS) to Medical, Veterinary and Dual Degree Master of Public Health (MPH) students at a private medical institution. PLoS ONE, San Francisco, v. 15, n. 6, e0234462, 2020. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0234462
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; Sumiyoshi et al., 2020 SUMIYOSHI, Tomoko et al. Learning outcomes of interprofessional collaboration among medical and nursing students in Japan. Journal of Interprofessional Education and Practice, Nebraska, v. 21, 100377, 2020. https://doi.org/10.1016/j.xjep.2020.100377
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). Ela consiste em quatro subescalas: trabalho em equipe e colaboração; identidade profissional negativa; identidade profissional positiva; e papéis e responsabilidade (Al-Qahtani, 2016 AL-QAHTANI, Mona Faisal. Measuring healthcare students’ attitudes toward interprofessional education. Journal of Taibah University Medical Sciences, Al Madinah Al Munawwarah, v. 11, n. 6, p. 579-585, 2016. https://doi.org/10.1016/j.jtumed.2016.09.003
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; Gray; Cunningham; Kolomer, 2020 GRAY, Cara; CUNNINGHAM, Robin; KOLOMER, Stacey. It’s time to go! unfolding interprofessional simulations to promote health team communications. Advances in Social Work, Indiana, v. 20, n. 2, p. 338-354, 2020. https://doi.org/10.18060/23615
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; Li; Sun; Zhang, 2018 LI, Zhewei; SUN, Yihan; ZHANG, Yang. Adaptation and reliability of the Readiness for Inter Professional Learning Scale (RIPLS) in the Chinese health care students setting. BMC Medical Education, London, v. 18, 309, 2018. https://doi.org/10.1186/s12909-018-1423-8
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; Mcdevitt; Passi, 2018 MCDEVITT, Sara; PASSI, V. Evaluation of a pilot interprofessional education programme for eating disorder training in mental health Services. Irish Journal of Psychological Medicine, Dublin, v. 35, n. 4, p. 289-299, 2018. https://doi.org/10.1017/ipm.2015.61
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; Roopnarine; Boeren, 2020 ROOPNARINE, Rohini; BOEREN, Ellen. Applying the Readiness for Interprofessional Learning Scale (RIPLS) to Medical, Veterinary and Dual Degree Master of Public Health (MPH) students at a private medical institution. PLoS ONE, San Francisco, v. 15, n. 6, e0234462, 2020. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0234462
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).
Entretanto, uma vez afetada pelas variações culturais, os títulos das subescalas e suas associações com os fatores mudam, assim como seus resultados (Onan et al. , 2017 ONAN, Arif et al. A test adaptation of the modified readiness for inter-professional learning scale in Turkish. Indian Journal of Pharmaceutical Education and Research, Bangalore, v. 51, n. 2, p. 207-215, 2017. https://doi.org/10.5530/ijper.51.2.26
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). Inclusive, um dos estudos incluídos nesta revisão, por ser uma adaptação japonesa da escala original, aborda apenas três subescalas: (1) Trabalho em equipe e colaboração; (2) Oportunidades de EIP; e (3) Singularidade da profissão (Sumiyoshi et al ., 2020 SUMIYOSHI, Tomoko et al. Learning outcomes of interprofessional collaboration among medical and nursing students in Japan. Journal of Interprofessional Education and Practice, Nebraska, v. 21, 100377, 2020. https://doi.org/10.1016/j.xjep.2020.100377
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). Por isso, ao usar a RIPLS e analisar os resultados, é imperativo levar em consideração as variações culturais (Onan et al ., 2017 ONAN, Arif et al. A test adaptation of the modified readiness for inter-professional learning scale in Turkish. Indian Journal of Pharmaceutical Education and Research, Bangalore, v. 51, n. 2, p. 207-215, 2017. https://doi.org/10.5530/ijper.51.2.26
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).
A RIPLS é um dos instrumentos mais adequados para avaliar a prontidão do aluno para a EIP, haja vista que é confiável no tocante aos conceitos sobre trabalho em equipe, colaboração e identidade profissional. Dessa forma, a maioria dos estudos que avaliam as práticas colaborativas na educação interprofissional a utilizam como instrumento de pesquisa (Roopnarine; Boeren, 2020 ROOPNARINE, Rohini; BOEREN, Ellen. Applying the Readiness for Interprofessional Learning Scale (RIPLS) to Medical, Veterinary and Dual Degree Master of Public Health (MPH) students at a private medical institution. PLoS ONE, San Francisco, v. 15, n. 6, e0234462, 2020. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0234462
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). Além disso, é indicada para uso antes e após cursos/simulações/metodologias para a EIP/treinamentos, a fim de fornecer mais informações sobre as percepções iniciais da educação interprofissional, as atitudes e emoções, a identidade profissional, os papéis e responsabilidades, e obter resultados quanto aos efeitos da participação dos alunos (Gray; Cunningham; Kolomer, 2020 GRAY, Cara; CUNNINGHAM, Robin; KOLOMER, Stacey. It’s time to go! unfolding interprofessional simulations to promote health team communications. Advances in Social Work, Indiana, v. 20, n. 2, p. 338-354, 2020. https://doi.org/10.18060/23615
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).
Os instrumentos de pesquisa mencionados nesta revisão têm aplicabilidade em diversas áreas, como observado nos estudos. Isso mostra a importância dos alunos e profissionais da área da saúde adquirirem conhecimentos sobre a EIP e habilidades para o trabalho em equipe (Al-Qahtani, 2016 AL-QAHTANI, Mona Faisal. Measuring healthcare students’ attitudes toward interprofessional education. Journal of Taibah University Medical Sciences, Al Madinah Al Munawwarah, v. 11, n. 6, p. 579-585, 2016. https://doi.org/10.1016/j.jtumed.2016.09.003
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).
Dentre as dificuldades encontradas em cada área, o estudo de Mulvaney et al . ( 2020 MULVANEY, Elizabeth A. et al. Improving the interprofessional practice, knowledge, and skills of health professions students through an interactive course in gerontology. Advances in Social Work, Indiana, v. 20, n. 2, p. 184-203, 2020. https://doi.org/10.18060/23682
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) relata que os acadêmicos de medicina foram obrigados a comparecer ao curso, enquanto os demais estudantes da área da saúde se apresentaram como voluntários. Por isso, sugere-se que tal fato esteja ligado à cultura hierárquica tradicional da medicina (Mulvaney et al. , 2020 MULVANEY, Elizabeth A. et al. Improving the interprofessional practice, knowledge, and skills of health professions students through an interactive course in gerontology. Advances in Social Work, Indiana, v. 20, n. 2, p. 184-203, 2020. https://doi.org/10.18060/23682
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). Assim, percebe-se a importância dos estudantes de medicina (bem como os de outras áreas) se apropriarem da prática interprofissional, a fim adquirir habilidades para se comunicarem com os outros profissionais de saúde (Kim et al. , 2019 KIM, Seung Jae et al. Investigating the effects of interprofessional communication education for medical students. Korean Journal of Medical Education, Seul, v. 31, n. 2, p. 135-145, 2019. https://doi.org/10.3946/kjme.2019.125
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). Isso transparece nos resultados do estudo de Mulvaney et al . ( 2020 MULVANEY, Elizabeth A. et al. Improving the interprofessional practice, knowledge, and skills of health professions students through an interactive course in gerontology. Advances in Social Work, Indiana, v. 20, n. 2, p. 184-203, 2020. https://doi.org/10.18060/23682
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), os quais mostram que os estudantes de medicina melhoraram significativamente em todos os domínios da subescala de competência de interprofissionalidade. Em contrapartida, na nutrição, os alunos reconhecem o valor da EIP, sendo isso, em parte, explicado pelo fato do nutricionista atender diversos tipos de paciente (Al-Qahtani, 2016 AL-QAHTANI, Mona Faisal. Measuring healthcare students’ attitudes toward interprofessional education. Journal of Taibah University Medical Sciences, Al Madinah Al Munawwarah, v. 11, n. 6, p. 579-585, 2016. https://doi.org/10.1016/j.jtumed.2016.09.003
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).
Ademais, no tocante à área do serviço social, destaca-se que os assistentes sociais voltados para a saúde se inserem em diversos ambientes com outros profissionais. Em virtude disso, a EIP se mostra essencial para a futura prática colaborativa. Destarte, não só na Medicina, mas nas outras áreas da saúde, há a necessidade da abordagem multidisciplinar ainda durante a formação, visando aumentar a comunicação interprofissional e a abordagem da equipe para o cuidado centrado no paciente (Gray; Cunningham; Kolomer, 2020 GRAY, Cara; CUNNINGHAM, Robin; KOLOMER, Stacey. It’s time to go! unfolding interprofessional simulations to promote health team communications. Advances in Social Work, Indiana, v. 20, n. 2, p. 338-354, 2020. https://doi.org/10.18060/23615
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).
Diante disso, é perceptível que as competências colaborativas precisam ser estimuladas e oportunizadas durante o período de formação dos profissionais. Para tanto é necessário que eles vivenciem, em cenários reais de práticas, a interação, a comunicação, a troca de saberes e informações, a liderança em equipe, o estabelecimento de objetivos comuns, o feedback, o planejamento e a intervenção de forma compartilhada e colaborativa. A prática da EIP irá fomentar o desenvolvimento dessas competências, propiciando o acúmulo de experiências de trabalho colaborativo e em equipe, que impactarão positivamente tanto os estudantes em formação quanto os gestores do Sistema Único de Saúde (SUS), os trabalhadores da saúde e os usuários e comunidades envolvidas (Peduzzi, 2017PEDUZZI, Marina. Educação interprofissional para o desenvolvimento de competências colaborativas em saúde. In: TOASSI, Ramona Fernanda Ceriotti (org.). Interprofissionalidade e formação na saúde: onde estamos?. Porto Alegre: Rede Unida, 2017. p. 40-48. ).
Ademais, o fato de terem sido encontrados 38 artigos nos últimos quatro anos, todos em linha inglesa, demonstra o quanto a temática ainda é incipiente em vários países e categorias profissionais, podendo ser mais explorada inclusive no Brasil, que contou com uma pequena porcentagem dos estudos (2,5%).
Considerações finais
Foram identificadas, na literatura, 29 escalas utilizadas para mensuração de competências colaborativas na educação interprofissional. Dessas, merecem destaque a Readiness for Interprofessional Learning, com a maior representatividade entre as publicações, além da Escala Jefferson de Atitudes em relação à Colaboração entre Médico e Enfermeiro e a Assessment of Interprofessional Team Collaboration Scale.
A aplicação dessas escalas dentro de propostas interprofissionais foi um importante achado. Ela ocorreu tanto em nível profissional como em estudantes de graduação, fomentando a atuação interprofissional e sua avaliação por meio das competências desenvolvidas nessa atuação. Ressalta-se a aplicação a nível de graduação, permitindo uma formação embasada em competências colaborativas que terão resultados positivos em um futuro próximo, a partir da inserção desse aluno no mercado de trabalho.
De início, compilar a literatura acerca das principais escalas aplicadas na avaliação de competências colaborativas proporciona a possibilidade de padronização no uso das escalas validadas e de alta confiabilidade. Dessa forma, facilita a inserção delas em ambientes colaborativos, com vistas a mensuração e comparação dos estudos.
A escala RLPIS se apresentou como o instrumento mais adequados para avaliar a prontidão do aluno para a EIP. Sua confiabilidade frente a conceitos de trabalho em equipe, colaboração e identidade profissional é visualizada diante da abrangência de estudos que fizeram uso da mesma.
As publicações foram em sua totalidade na língua inglesa, envolvendo uma variedade de países. Dessa forma, sugere-se que sejam realizados novos estudos capazes de propor a tradução transcultural de escalas de impacto internacional, para que a avaliação de competências colaborativas a nível nacional seja realizada de forma ampla e homogênea, com vistas a impulsionar a educação interprofissional no país.
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Editado por
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
02 Set 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
29 Nov 2022 -
Aceito
27 Nov 2023 -
Revisado
09 Ago 2023