CARTAS LETTERS
Ao Editor,
O artigo “Características das gestações, partos e recém-nascidos da região metropolitana de Aracaju, Sergipe, Brasil”,1 faz menção ao comportamento de alguns indicadores materno-infantis e a utilização de serviços de saúde pela população local. Intitulado pelos próprios autores: “Estudo epidemiológico-social de saúde perinatal de partos hospitalares da grande Aracaju”, a proposta é bastante pertinente e traz um incentivo maior para a realização de novas pesquisas de base populacional no Estado.
Estudos de base epidemiológica promovem auxílio às políticas públicas no gerenciamento de sistemas de saúde. Segundo Fernandes et . al.,2 a utilização de tais sistemas demonstra um comportamento complexo, resultante de um conjunto de determinantes que incluem características sociodemográficas e de saúde, organização da oferta e perfil epidemiológico, que poderiam levar a maior ou menor utilização dos serviços. Assim, a magnitude do problema estaria no detalhamento desses determinantes e suas aplicações nas políticas públicas.
Concordamos com a premissa de que Aracaju e região metropolitana têm condições e instrumentos suficientes para realizar inquéritos populacionais bem estruturados. A facilidade na obtenção da amostra e a concentração de partos em unidades hospitalares forneceram um interessante suporte à execução desta pesquisa. No entanto, algumas afirmações textuais precisam de melhor embasamento e/ou explicação. Neste sentido, questionamentos, na sessão de métodos, foram despertados:
Qual programa e método estatísticos utilizados para calcular a amostra?3
A exclusão dos hospitais de pequeno porte, das cidades de São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro, não introduziria um viés de seleção prejudicando a validade interna do estudo? Segundo descrição dos autores, estas cidades fazem parte da região metropolitana de Aracaju, cujas características populacionais poderiam sugerir homogeneidade da amostra. Os hospitais em questão provavelmente forneceriam informações importantes quanto ao funcionamento destas instituições de saúde em relação aos hospitais da capital.
Como sugestão para evitar possível viés de informação, caso a gestante desconheça a data da ultima menstruação, o cálculo da idade gestacional poderia ser feito através da primeira ultrassonografia obstétrica realizada pela mesma.4 Tal dado deveria ser resgatado pelo cartão pré-natal ou registro do exame propriamente dito.
Na sessão de resultados, a expressão “Dos nascidos vivos participantes da coorte de nascimentos, 5,7% foram de mães procedentes da área rural” deixou certa dúvida quanto ao desenho de estudo empregado. Inicialmente, a impressão do leitor é que não há seguimento de grupos tendo a pesquisa uma característica observacional, descritiva do tipo corte transversal. Com o decorrer da leitura, a comparação constante dos resultados com estudos de coorte5-7 sugere uma intenção suposta de seguimento da amostra pelos autores.
Ressaltamos ainda a necessidade de embasamento teórico para discorrer sobre algumas variáveis analisadas já que, em muitas passagens, só houve associação dos resultados com outros estudos observacionais. Somente as características da atenção médica, assistência pré-natal/parto e características dos nativivos foram comentadas de forma interessante na sessão de discussão.
Essas observações apresentadas não invalidam a importância desse estudo, apenas trazem reflexões quanto ao processo de elaboração de pesquisas epidemiológicas. Parabenizo os autores pela iniciativa do estudo, sobre um assunto atual e que nos traz muitos questionamentos que necessitam serem respondidos.
Carlos Noronha Neto
Alex Sandro Rolland de Souza
Pós-graduandos (doutorado) em Saúde Materno Infantil. Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira IMIP. Rua dos Coelhos, 300. Boa Vista. Recife, PE, Brasil. CEP: 50.070-550. E-mail: ca.no.ne@hotmail.com
Recebido em 4 de setembro de 2009
Aprovado em 11 de setembro de 2009
Referências bibliográficas
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
21 Dez 2009 -
Data do Fascículo
Dez 2009