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Portanus aliceae sp. nov. do Brasil (Hemiptera: Cicadellidae, Xestocephalinae)

Portanus aliceae sp. nov. from Brazil (Hemiptera: Cicadellidae, Xestocephalinae)

Resumos

Uma nova espécie de Portanus Ball, 1932 é descrita de São Gonçalo, MG. A nova espécie difere das demais espécies do gênero, principalmente pelo aspecto geral da coloração e pela forma dos processos medianos do edeago. A espécie foi coletada em armadilha Malaise.

Biodiversidade; Insecta; Portanini; taxonomia


A new especies of Portanus Ball, 1932 is described and illustrated from São Gonçalo, MG, Brazil. The new species can be distinguished from other species of the genus mainly by the general coloration and by the shape of the aedeagus process. This species was collected in trap Malaise.

Biodiversity; Insecta; Portanini; taxonomy


SYSTEMATICS, MORPHOLOGY AND PHYSIOLOGY

Portanus aliceae sp. nov. do Brasil (Hemiptera: Cicadellidae, Xestocephalinae)1 1 Contribuição número 1484 do Deparmento de Zoologia, UFPR

Portanus aliceae sp. nov. from Brazil (Hemiptera: Cicadellidae, Xestocephalinae)

Adenomar N. CarvalhoI; Rodney R. CavichioliII

IBolsista CAPES/UFPR, adenomarc@yahoo.com.br

IIBolsista CNPq, 303451/2002-5, cavich@ufpr.br Depto. Zoologia, Universidade Federal do Paraná, C. postal 19020, 81531-990, Curitiba, PR

RESUMO

Uma nova espécie de Portanus Ball, 1932 é descrita de São Gonçalo, MG. A nova espécie difere das demais espécies do gênero, principalmente pelo aspecto geral da coloração e pela forma dos processos medianos do edeago. A espécie foi coletada em armadilha Malaise.

Palavras-chave: Biodiversidade, Insecta, Portanini, taxonomia

ABSTRACT

A new especies of Portanus Ball, 1932 is described and illustrated from São Gonçalo, MG, Brazil. The new species can be distinguished from other species of the genus mainly by the general coloration and by the shape of the aedeagus process. This species was collected in trap Malaise.

Key words: Biodiversity, Insecta, Portanini, taxonomy

Os Xestocephalinae foram inicialmente incluídos em Deltocephalinae (Oman, 1949 e Evans, 1951a), sendo elevados à categoria de subfamília por Linnavuori (1979b), que considerou as semelhanças entre os dois grupos meramente artificiais. Segundo Oman et. al (1990) e Nielson & Knight (2000), a subfamília está dividida em duas tribos: Xestocephalini, com ampla distribuição, exceto na maior parte da região paleártica, e Portanini, restrita à região neotropical.

Os Portanini podem ser diferenciados dos Xestocephalini pela combinação dos seguintes caracteres: (1) antenas tão ou quase tão longas quanto o corpo; (2) sutura epicranial evidente e alongada; (3) cabeça triangularmente pronunciada, com a margem anterior da coroa angulada ou arredondada e sem carena na transição com a face. A tribo atualmente é composta por um gênero (Portanus) e 49 espécies nominais (Carvalho & Cavichioli 2003).

Além de Linnavuori (1959), que realizou um estudo detalhado sobre a taxonomia de Portanini, poucos pesquisadores estudaram o grupo, destacando-se Kramer (1961, 1964), DeLong (1976, 1980, 1982), DeLong & Linnavuori (1978), Linnavuori & DeLong (1979), DeLong et. al (1980) e Carvalho & Cavichioli (2001, 2003), que descreveram várias espécies. Neste estudo, uma espécie nova coletada em armadilha Malaise, em São Gonçalo, Minas Gerais é descrita e ilustrada: Portanus aliceae sp. nov.

Todas as escalas estão em milímetros. O material-tipo está depositado na Coleção de Entomologia Pe. Jesus Santiago Moure, Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil (DZUP).

Portanus aliceae sp. nov.

(Figs. 1 a 12)





Diagnose. Corpo inteiramente marrom-escuro com manchas alaranjadas mais ou menos circulares na coroa, pronoto, escutelo e asas anteriores; edeago com um par de processos lamelares longos, sinuosos e dirigidos para cima, na porção mediana da haste.

Comprimento total. Macho: 5,40 mm. Fêmea: 5,65 mm.

Coloração. Corpo inteiramente marrom-escuro. Coroa com quatro manchas alaranjadas, sendo duas na margem basal, próximas aos olhos compostos, as outras duas na região apical, entre os ocelos; as manchas apicais conectam-se a uma pequena faixa alaranjada que toca o ângulo anterior dos olhos compostos. Pronoto com diversas áreas esbranquiçadas pequenas e irregulares, com quatro manchas alaranjadas, duas maiores, próximas à margem anterior, e duas menores, tocando as margens laterais. Escutelo com duas manchas alaranjadas na margem anterior. Asas anteriores com três manchas alaranjadas no clavo, duas na veia claval posterior, sendo uma a cada extremidade, e a terceira no ápice da veia claval anterior.

Macho. Cabeça ( . 1), em vista dorsal, levemente pronunciada anteriormente; margem anterior da coroa arredondada, sem carena na transição com a face; superfície dorsal finamente pontuada; ocelos localizados na transição da coroa com a face, eqüidistantes dos olhos compostos e da linha mediana da coroa; sutura coronal alongada, estendendo-se até o comprimento mediano da coroa; fóveas tentoriais dorsais evidentes; sutura frontogenal atingindo os ocelos; antenas tão longas quanto o corpo.

Pronoto, em vista dorsal, tão largo quanto a cabeça, convexo, finamente pontuado e finas estrias transversais; margens ântero-laterais arredondadas, margem posterior retilínea. Escutelo com o ápice finamente pontuado. Asas anteriores com venação evidente; com três células ante-apicais fechadas, a mediana apresenta-se maior que a externa.

Genitália. Pigóforo (Fig. 2), em vista lateral, projetado posteriormente, estreitando-se ao longo do seu comprimento, com a porção apical globular, com um par de dentes curtos pouco esclerotizados no ápice; margem ventral dobrada internamente, com um par de processos agudos, curtos e dirigidos posteriormente na região pré-apical; macrocerdas na porção mediana da margem dorsal. Placa subgenital (Fig. 3), em vista ventral, retangular completamente bipartida, com forte estreitamento no ápice, este arredondado e voltado para cima; terço basal com uma linha de fratura transversa; macrocerdas unisseriadas, seguidas por cerdas longas e finas. Conetivo (Figs. 4 e 5), em vista dorsal, em forma de "Y" invertido, claramente articulado ao edeago, e em vista lateral, com um processo digitiforme curto na confluência ventral dos braços, voltado para baixo. Estilos (Fig. 4) alongados, delgados com os ápices bífidos; ramos internos longos, agudos e fortemente voltados para fora; ramos externos curtos, agudos com cerdas. Edeago (Figs. 6 e 7), em vista lateral, subcilíndrico, longo com um par de processos lamelares na porção mediana da margem dorsal, voltados para cima; ápice, em vista dorsal, alargado com dois dentes laterais curtos; gonóporo apical.

Fêmea. Semelhante ao macho, porém apresenta as genas de cor preta, e as veias das asas anteriores marrom-escuras com áreas opacas no interior das células.

Genitália. Pigóforo (Fig. 8), em vista lateral, triangular, pronunciado posteriormente e com ápice agudo, recoberto por macrocerdas, mais esparso na margem dorsal; sem processos. Esternito VII curto (Fig. 9), com a margem posterior ± retilínea com pequena elevação mediana; comprimento mediano aproximadamente 1/2 da sua largura. Esternito VIII completamente membranoso. Valva I (Fig. 10), em vista lateral, longa, levemente alargada na porção mediana, estreitando-se para o ápice; estruturas similares a diminutas cerdas estão presentes ao longo de todo o comprimento da valva, sendo mais numerosas na porção basal; área esculturada dorsal estendendo-se do ápice à curvatura basal. Valva II (Fig. 11), em vista lateral, longa, expandida na porção mediana, estreitando-se ligeiramente para o ápice; superfície dorsal com 26 dentes, sendo os primeiros dentes pouco distintos; demais dentes são arredondados e lisos; com ductos evidentes que se abrem em poros na base dos dentes e ápice da valva. Valva III (Fig. 12), em vista lateral, longa, com ápice agudo; metade basal distintamente mais estreita que a apical; porção apical com um pequeno número de cerdas e diminutas estruturas espiniformes, que se estendem para a base ao longo da margem ventral.

Material Tipo. Holótipo Macho. Brasil, Minas Gerais, São Gonçalo, Est.[ação] Amb.[iental]/Peti-Cemig, 27.XII.2002, A. L. Kumagai, Col. (DZUP). Parátipo. Ibdem, uma fêmea, 07.II.2003, A.L. Kumagai, Col. (DZUP).

Nota Taxonômica.Portanus aliceaesp. nov. apresenta uma linha de fratura no terço basal da placa subgenital, característica compartilhada por algumas espécies de Portanus, o que sugere a formação de um grupo de espécie com tal característica. Entrentanto, em P. aliceae sp. nov., o pigóforo apresenta-se projetado para trás, com um processo dentiforme curto e fortemente esclerotizado, na porção ventro-apical; os processos do edeago surgem na porção mediana da haste, com os ápices voltados para cima. Distingue-se facilmente de todas as espécies conhecidas de Portanus pelo colorido predominantemente marrom-escuro com manchas alaranjadas na coroa, pronoto, escutelo e asas anteriores.

Etimologia. A espécie é dedicada à Profª. Drª. Alice F. Kumagai da Universidade Federal de Minas Gerais.

Agradecimentos

À Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES, pela concessão da bolsa de doutorado [ANC] e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, pela bolsa de produtividade em pesquisa [RRC].

Literatura Citada

Received 01/IV/04. Accepted 02/XII/04.

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  • Carvalho, A.N. & R.R. Cavichioli. 2003.Portanus Ball: Descrições de dez espécies novas (Hemiptera, Cicadellidae, Xestocephalinae). Revta. Bras. Ent. 47: 547-558.
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  • 1
    Contribuição número 1484 do Deparmento de Zoologia, UFPR
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Jul 2005
    • Data do Fascículo
      Abr 2005

    Histórico

    • Aceito
      02 Dez 2004
    • Recebido
      01 Abr 2004
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