Open-access LE CORBUSIER 1929: RAÇA NO RIO DE JANEIRO E NA AMÉRICA LATINA

LE CORBUSIER 1929: RACE IN RIO DE JANEIRO AND LATIN AMERICA

LE CORBUSIER 1929: RAZA EN RÍO DE JANEIRO Y AMÉRICA LATINA

RESUMO

A partir de uma perspectiva que leva em consideração mecanismos de validação estrangeira sobre a cultura brasileira, este texto dialoga com Eugenics in the Garden [Eugenia no jardim], de Fabíola López-Durán, ao elaborar uma análise sobre a aparente mudança de postura de Lucio Costa diante da participação da população preta na sociedade brasileira. A primeira visita de Le Corbusier ao Rio de Janeiro, em 1929, parece crucial para que Lúcio Costa tenha podido transitar em direção a posições mais afastadas de postulados eugenistas, reproduzindo, a partir da década de 1930, um discurso marcadamente menos racista e machista em relação às décadas anteriores.

PALAVRAS-CHAVE Lúcio Costa; Eugenia; Racismo; Machismo; Descolonialismo

ABSTRACT

From a perspective that takes into account mechanisms of foreign validation of Brazilian culture, this essay dialogues with Eugenics in the Garden, by Fabíola López-Durán, when analyzing an apparent change in Lucio Costa’s take on the participation of the black population in Brazilian society. Le Corbusier’s first visit to Rio de Janeiro, in 1929, seems crucial for Lucio Costa to have been able to move towards positions further removed from eugenics postulates, reproducing, from the 1930s onwards, a markedly less racist and sexist discourse compared to previous decades.

KEYWORDS Lúcio Costa; Eugenics; Racism; Sexism; Decolonialism

RESUMEN

Desde una perspectiva que toma en consideración los mecanismos de validación extranjera sobre la cultura brasileña, este texto dialoga con Eugenics in the Garden [Eugenesia en el jardín], de Fabíola López-Durán, al elaborar un análisis sobre el aparente cambio de actitud de Lucio Costa ante la participación de la población negra en la sociedad brasileña. La primera visita de Le Corbusier a Río de Janeiro, en 1929, parece ser crucial para que Lucio Costa haya podido evolucionar hacia posiciones más alejadas de los postulados eugenésicos, reproduciendo, a partir de la década de 1930, un discurso notablemente menos racista y machista en comparación con las décadas anteriores

PALABRAS CLAVE Lucio Costa; Eugenesia; Racismo; Machismo; Descolonialismo

Introdução

Não é angustiante o espetáculo da grande imprensa, que descreve com todos os detalhes o drama “escandaloso” – ofensas à dignidade humana (!) – de uma pobre moça que praticou o aborto? Querem saber por que ela abortou?

Busquem: arquitetura e urbanismo.

(Le Corbusier, 2004, p. 40) 1

Em 2005, a artista britânica de ascendência cingalesa M.I.A. lançou a música “Bucky Done Gun”, que rapidamente se tornou um grande sucesso inclusive no Brasil. Produzida pelo DJ e produtor estadunidense Diplo, a música é uma releitura do funk carioca “Injeção”, lançado em 2004 pela cantora Deise Tigrona. No mesmo ano, Tati Quebra Barraco lançou o álbum Boladona, reunindo faixas hoje consideradas clássicas do estilo de música que nasceu nas favelas do Rio de Janeiro, como “Kabo kaki”, “Sou feia, mas tô na moda” e “Dako é bom”, além da faixa “Boladona”, que dá nome ao disco. Enquanto as músicas de Deise Tigrona e Tati Quebra Barraco foram consideradas imorais e indignas da alcunha de cultura – mesmo após o grande sucesso alcançado pela dupla Claudinho e Buchecha ao longo da segunda metade da década de 1990, percurso interrompido pela morte de Cláudio Rodrigues de Mattos, o Claudinho, em 2002 –, “Bucky Done Gun”, um funk cantado em inglês, foi aclamado pela elite cultural brasileira.

Para essa elite, essa música funcionou como uma espécie de autorização. Num momento de abertura de perspectivas para as classes pobres brasileiras – o Financiamento Estudantil (Fies) havia sido criado em 1999 e o Programa Bolsa Família em 2003 – dois estrangeiros, de países no Norte global, reconheceram o valor de um estilo musical preto e periférico brasileiro e, com isso, autorizaram as classes privilegiadas brasileiras a também reconhecer e gostar de funk. Então, na segunda metade da década de 2000, o funk desceu dos morros do Rio de Janeiro e ocupou diversos outros espaços, dos programas de auditório das tardes de domingo às festas organizadas pelos estudantes das melhores universidades do país.

O complexo e nuançado arranjo entre a intelectualidade brasileira e a leitura estrangeira sobre o Brasil, do qual faz parte o mecanismo de validação descrito nos parágrafos anteriores, sofreu uma série de mudanças ao longo do século XX, mas é também marcado por permanências. No campo da arquitetura, também é possível observar as consequências de tal arranjo. Ao longo da primeira metade do século XX, Lucio Costa fez um movimento de afastamento de posições marcadamente racistas e machistas, evidentemente influenciadas por ideias eugenistas, em direção a um discurso que não toca em questões explicitamente ligadas a noções de raça. O momento dessa virada parece coincidir com o contato de Lucio Costa com Le Corbusier, figura estrangeira de autoridade.

Posturados2 em trânsito

A Proclamação da República (1889), imediatamente posterior à Abolição da Escravatura (1888), significou, para o Rio de Janeiro, a implementação de uma série de políticas públicas, incluindo significativas intervenções no espaço da cidade, que acabaram por marginalizar a população não branca. Antes mesmo disso, a Lei de Terras (1850) funcionava para barrar o acesso de ex-escravizados e de seus descendentes à propriedade de bens imóveis. A gestão de Francisco Franco Pereira Passos (1902 – 1906) abriu a Avenida Central; o prefeito Carlos Sampaio (1920 – 1922) iniciou o desmonte do Morro do Castelo; as intervenções urbanas propostas pelo francês Alfred Hubert Donat Agache, promovidas pelo prefeito Antônio da Silva Prado Júnior (1926 – 1930), incluíram a retomada do desmonte do Morro do Castelo e o desmonte do Morro de Santo Antônio, e foram marcadas pelo viés abertamente eugenista – a eugenia é uma pseudociência fundada pelo inglês Francis Galton no final do século XIX, presente de maneira marcante nos círculos intelectuais e artísticos de elite brasileiros ao longo das primeiras décadas do século XX e de grande influência para a cultura brasileira até os dias de hoje, que almeja a melhoria racial dos seres humanos através do controle social, e que parte do pressuposto de que a raça ariana é superior.

Assim como as reformas urbanas iniciadas no início do século por Francisco Pereira Passos para preparar a mostra internacional da cidade de 1908 foram alimentadas pelo desejo de apagar a imagem do Brasil atrasado e incivilizado, também a dramática demolição do Morro do Castelo — gerando o extenso território no qual a Exposição Internacional de 1922 foi exibida — representou a primeira e mais radical ação na construção de uma nova imagem. Essa imagem negava não apenas qualquer associação retrógrada, mas também a percepção do país como racialmente exótico. Em outras palavras, a exposição de 1922 foi concebida como um autorretrato de uma nação cosmopolita — uma nação que foi capaz de empreender um processo de autoconstrução não apenas de seu meio, mas de sua população. O Livro de ouro, catálogo da mostra com mais de 518 páginas, é explícito ao descrever a exposição como uma “expressão da energia construtiva de uma nova raça”, uma nova raça capaz de triunfar “na batalha entre os homens, as montanhas e o oceano”. (López-Durán, 2019, p. 70, tradução nossa) 3

Alfred Agache torna-se um importante nome no que diz respeito ao desenho de cidades no Brasil; por exemplo, a ele é atribuída a responsabilidade pela abertura da Avenida Presidente Vargas, já no período conhecido como Estado Novo, época em que, na esplanada resultante do desmonte do Morro do Castelo, foi construído o edifício do Ministério da Educação e Saúde. De acordo com Fabíola López-Durán (2019), Agache, que tinha todo o apoio de José Mariano Filho, grande nome da arquitetura neocolonial, era membro do Musée Social de Paris, instituição que tinha como objetivo promover a eugenia. Além disso:

Em várias oportunidades no período de 1921 a 1923, a Câmara dos Deputados considerou e discutiu leis nas quais se proibia qualquer entrada no Brasil “de indivíduos humanos de raças de cor preta”. Quase no fim do seu governo ditatorial, Getúlio Vargas assinou, em 18 de setembro de 1945, o Decreto-Lei n° 7967, regulando a entrada de imigrantes de acordo com “a necessidade de preservar e desenvolver na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência europeia”. (Nascimento, 2016, p. 86)

Em 2009, Fabíola López-Durán defendeu uma Tese no Massachusetts Institute of Technology (MIT) intitulada Eugenics in the Garden: Architecture, Medicine, and Landscape from France to Latin America in the Early Twentieth Century [Eugenia no jardim: arquitetura, medicina e paisagem da França à América Latina no início do século XX]. O texto procura demonstrar que, ao longo da primeira metade do século XX, ideias e práticas eugenistas foram fundamentais para o pensamento arquitetônico e urbanístico na América Latina, por influência francesa, associadas a ideais de higiene, saúde coletiva, moral e progresso, levando às primeiras concepções de Estado de bem-estar social. No Brasil, ideias eugenistas fomentaram planos e políticas de embranquecimento da população e, de maneira tácita porém explícita, planos e políticas de extermínio da população negra, de ex-escravizados e de seus descendentes. Dessa forma, o ambiente construído e, portanto, a arquitetura e o urbanismo, foram fundamentais para a estruturação de políticas eugenistas na América Latina.

Um importante pressuposto desse texto é a ideia de que, de certa forma, na América Latina, as elites econômicas, políticas e culturais procuram ver o mundo a partir de um ponto de vista europeu: “As elites latino-americanas defendiam uma essência latina que estava entremeada pela cultura e ciência francesas” (López-Durán, 2019, p. 21, tradução nossa) 4. Nesse sentido, assumimos que um traço fundamental da cultura capitalista e industrial europeia é a suposição de diferenças entre o homem branco europeu, considerado universal, referência para todas as coisas, e todos aqueles que não são homens brancos europeus, são outros; diferenciação essa que faz coincidir alteridade e inferioridade. Empiricamente, não é difícil constatar que até os dias de hoje uma boa parcela das elites latino-americanas se pretende tanto ou mais europeia do que propriamente latino-americana; constatação que nos ajuda a entender a necessidade de submeter a produção brasileira à validação estrangeira.

Fabíola López-Durán nos alerta para o fato de que eugenia não é um conceito que mantém uniformidade histórica e geográfica, focando sua Tese num recorte conceitual bastante específico, no qual eugenia inclui tanto ideias darwinianas ligadas à hereditariedade quanto ideias lamarckianas relacionadas à influência do meio sobre os corpos. Apesar de pouco discutir raça como categoria política e de raramente identificar com clareza quais eram os grupos-alvo daquilo que hoje podemos identificar como políticas de extermínio, o texto ainda permite aproximar eugenia e racismo – pela constatação de que, na prática, eugenia, na América Latina, é sinônimo de embranquecimento. Nos chama a atenção o fato de que a autora não cita importantes autores negros brasileiros, como Lélia Gonzalez ou Abdias Nascimento, autor de O Genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado. Esse livro foi editado no Brasil pela primeira vez em 1978, pela Editora Paz & Terra, com prefácios de Florestan Fernandes e Wole Soynka. Foi escrito originalmente em 1977 como contribuição de Abdias Nascimento, durante seu exílio na Nigéria, ao II Festival Mundial de Artes e Culturas Negras e Africanas (Festac) realizado em Lagos. Sob o título Racial Democracy in Brazil: Myth or Reality [Democracia racial no Brasil: mito ou realidade?], o texto foi rejeitado pelos representantes oficiais da Nigéria e do Brasil no Festac, mas foi editado pelo Departamento de Línguas e Literatura Africanas da Universidade de Ifé, onde Abdias atuava como professor convidado, e distribuído aos participantes do evento (Santos, 2020).

Como sugere o título original, o livro de Abdias Nascimento é uma profunda crítica ao conceito de “democracia racial”. Gilberto Freyre, autor de Casa-grande e senzala, publicado originalmente em 1933, a quem é atribuída a sistematização e a defesa da teoria da democracia racial, foi uma referência importante para Lucio Costa inclusive participando da estruturação da noção de tradição para o autor do Plano Piloto de Brasília, como nos mostram trabalhos como “Gilberto Freyre e Lúcio Costa, ou a ‘boa tradição’” e “Entre o CIAM e o SPHAN: Diálogos entre Lúcio Costa e Gilberto Freyre”, de Silvana Rubino (1993, 2003), ou “Gilberto Freyre e o horizonte do Modernismo”, de Mariza Veloso (2000). Nas últimas décadas, pesquisadores como Otavio Leonidio (2005), Luis Henrique Rechdan (2009), Luana Espig Regiani (2019), Alexandre Benoit (2020) e Gabriel Romero (2020) vêm desenvolvendo importantes trabalhos sobre a noção de tradição para Lucio Costa.

Ao debate sobre eugenia é franca a possibilidade de empregar os conceitos de “biopolítica” de Michel Foucault e “necropolítica” de Achille Mbembe para elaborar leituras sobre essa passagem. Biopolítica é um conceito desenhado por Foucault ao longo da década de 1970 para tratar de relações de poder que se manifestam tanto nos espaços quando nos corpos. Os significados da biopolítica e necropolítica para o espaço na cidade de São Paulo são tema de “São Paulo metrópole e colônia: Planejamento urbano, segregação racial e espaço racializado” (Barzaghi; Bragaia, 2021).

A noção foucaultiana de biopolítica é fundamental em Testo junkie: Sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica, livro de Paul Preciado lançado originalmente em 2008 e traduzido para o português em 2018, no qual são descritas as maneiras pelas quais a indústria farmacêutica sediada no Norte global, frequentemente amparada por governos locais autoritários, trata como cobaias a população do Sul global (Preciado, 2018). Contemporâneo de Preciado, Achille Mbembe publica em 2003 o artigo “Necropolitics”, traduzido para o português e publicado como livro em 2018 (Mbembe, 2018), posteriormente expandido e publicado como livro em 2019 (ainda sem tradução para o português). Fortemente influenciado por Frantz Fanon, Mbembe reelabora o conceito de biopolítica e o transforma em necropolítica, dando contorno a tecnologias (em sentido foucaultiano) que trabalham a partir da ideia de que há corpos que devem viver e há corpos que devem morrer, isto é, fala-se sobre corpos que são escolhidos como”descartáveis” ou “matáveis”. Esse é um conceito de grande importância para os latino-americanos. Em 2020 e 2021, durante os momentos mais dramáticos da pandemia de COVID-19 no Brasil, uma empresa de planos de saúde conduziu de forma irregular testes do fármaco Hidroxicloroquina, inclusive com ocultamento de mortes (Balza, 2021).

O texto de Fabíola López-Durán (2019) constrói a ideia de que as cidades latino-americanas eram de grande importância para projetos de sociedades ideais, nas quais se pretendia uma espécie de engenharia biológica e social, cujo objetivo era a construção de raças superiores. Os processos colonialistas, a própria construção dos espaços da cidade, eram pensados a partir de ideias eugenistas. Vale ressaltar que, de acordo com Fabíola López-Durán, ainda que houvesse autores que consideravam miscigenação um problema, no Brasil, essa era uma estratégia de embranquecimento da população; de acordo com a autora, à época da construção da sede do Ministério da Educação e Saúde, o ministro Gustavo Capanema Filho mantinha relações com autores abertamente racistas, incluindo o sociólogo Francisco José de Oliveira Viana, um dos principais defensores da ideia de que o encontro de raças brancas e pretas serviria ao extermínio da componente preta, pois prevaleceria a componente branca, considerada superior. Na esteira de Michel Foucault, que em diversos textos e entrevistas dá protagonismo para o espaço construído como elemento de políticas estatais de controle dos corpos, a autora afirma que, na América Latina, “reprodução era ainda mais relevante que produção” (López-Durán, 2019, p. 39–40, tradução nossa)5. Para o Norte global, as cidades latino-americanas eram — e continuam sendo — laboratórios nos quais se conduzem experimentos.

Epistemologicamente, Eugenics in the Garden comete dois equívocos marcantes, típicos de autores do Norte global que pesquisam relações de dominação baseadas em raça. O primeiro é considerar que as relações culturais entre Brasil e França ao longo da primeira metade do século XX se dão em um contexto geopolítico não colonialista. Isso faz com que o texto possa ser lido como filiado ao que podemos chamar de pós-colonialismo sem, no entanto, levar em conta o descolonialismo6.

O chamado pós-colonialismo é um conjunto de teorias desenvolvidas a partir da segunda metade do século XX, ligadas à noção de pós-modernidade, que analisam os efeitos contemporâneos no campo da política, da economia e da cultura, de relações colonialistas. Nesse âmbito é possível dividir o mundo em dois grupos: o Norte global, composto pelos países chamados desenvolvidos; e o Sul global, composto por países chamados subdesenvolvidos; ente eles havendo relações de exploração do Sul pelo Norte. Contemporâneo do pós-colonialismo, o descolonialismo é um conjunto de teorias de origem latino-americana que procura romper com lógicas eurocêntricas no campo da política, da economia e da cultura. Não se trata de conceitos concorrentes, mas, sob o ponto de vista descolonial, há críticas que podem ser feitas à teoria pós-colonial: os principais autores do pós-colonialismo são, em sua formação, europeus, não apenas por terem nascido em territórios europeus ou recém-emancipados, mas por terem percorrido carreira acadêmica em países e instituições na Europa; além disso, apesar de considerar relações de exploração entre países, a teoria pós-colonial comumente não reconhece, nessas relações, a permanência de mecanismos que ainda permitem caracterizá-las como colonialistas.

O segundo equívoco de Eugenics in the Garden, relacionado ao primeiro, é apostar na ruptura com uma leitura “centro-periferia” — a constatação de que entre grupos opressores e grupos oprimidos existe uma “via de mão dupla” no que diz respeito às trocas culturais não coloca esses dois grupos no mesmo nível em uma “paisagem de sobreposições e disjunções” (López-Durán, 2019, p. 22). O fato de que as elites latino-americanas procuram se aproximar das elites europeias não as faz europeias.

Além disso, apesar de oferecer uma leitura sobre o trabalho de Le Corbusier e Lucio Costa acrescentando camadas que permitem localizar ideias dos arquitetos e urbanistas em um panorama teórico mais amplo, relacionando-as com concepções de autores contemporâneos, Fabíola López-Durán parece desconsiderar a complexidade de relações que podem ser observadas na paisagem conceitual que ela mesma constrói. Com destaque para as filiações de Le Corbusier e Lucio Costa a ideias eugenistas, Eugenics in the Garden leva a crer que a segunda viagem de Le Corbusier ao Brasil, em 1936 — ainda impactado pela sua viagem de 1929 à América Latina, ocasião na qual teria viajado pela primeira vez a bordo de um avião —, pode ter marcado uma mudança de postura do arquiteto e urbanista franco-suíço diante da ideia de raça.

Um dos principais catalizadores dessa mudança seria Burle Marx, que assumia postura oposta à de Le Corbusier: enquanto este trabalhava a partir da oposição arquitetura versus natureza, aquele trabalhava a partir da articulação arquitetura e natureza, não para construir um ambiente de uniformidade, como Le Corbusier, mas para celebrar a diversidade, caracterizando, assim, a modernidade tropical. Ainda que o trabalho de Burle Marx estabelecesse, de alguma forma, resistência em meio a um cenário político racista, no qual eram construídas políticas de extermínio da população não branca, essa leitura sobre a relação entre arquitetura e natureza no trabalho de Le Corbusier e Burle Marx é discutível, bem como a leitura que Fabíola López-Durán constrói sobre o campo político ao longo de seu recorte — a autora chega a afirmar que o governo de Getúlio Vargas, ao longo do período conhecido como Estado Novo, pode ser caracterizado como “socialismo top-down”, com características semelhantes às de regimes fascistas (López-Durán, 2019, p. 246–447).

O que interessa a este ensaio são hipóteses que contrastam com os postulados de Fabíola López-Durán no que diz respeito a Le Corbusier, Lucio Costa e a ideia de raça, quais sejam:

1) Le Corbusier, já em 1929, transitava entre posições ora mais, ora menos racistas e machistas; 2) após a primeira visita de Le Corbusier à América Latina, Lucio Costa — que, ao contrário de Le Corbusier, era declaradamente eugenista — passa a flexibilizar sua postura diante da ideia de raça, autorizado por Le Corbusier a valorizar o povo preto do Rio de Janeiro.

Atribui-se a Le Corbusier o papel de protagonista da fundação da arquitetura moderna brasileira, no decorrer das décadas de 1920 e 1930. Ao longo das décadas de 1950 e 60, o advento de Brasília marcou um novo debate em torno de revisões críticas no campo da arquitetura moderna brasileira, colocando em análise princípios fundadores dessa corrente, frequentemente agrupados sob o termo “funcionalismo”.

Na revista Módulo de número 31 (dezembro de 1962), Oscar Niemeyer publica “Contradição na arquitetura”, que dialoga com “Forma e função na arquitetura”, texto do mesmo autor publicado na edição 21 da mesma revista (dezembro de 1960) (Niemeyer, 1960). Os textos marcam diferentes momentos de reflexão do arquiteto sobre sua própria obra e sobre sua relação com os cinco pontos da arquitetura e as quatro funções da cidade postulados por Le Corbusier, “princípios que adotávamos religiosamente” (Niemeyer, 1962, p. 18).

Isso explica a recuperação de Gaudí, com sua delirante arquitetura, recuperação tão sintomática da época atual; isso explica o movimento renovador que senti na Europa, o interesse pela forma diferente, bela e criadora. E explica, também, porque certos arquitetos vão evoluindo, como que guiados pela intuição, dimensionando suas estruturas – pilares, vigas, etc. – de acordo com sua fantasia, dando-lhes uma leveza ou uma robustez que contraria deliberadamente, para mais ou para menos, as solicitações estritas do concreto armado, embora – e isso custa a compreender – procurando não raro justificá-las dentro do velho critério funcionalista, explicação para mim ociosa, pois as aceito e por vezes também as faço, com a mesma gratuidade, desinteressado dos comentários que na crítica especializada possam provocar.

(Niemeyer, 1962, p. 18)

Niemeyer relata ter conversado sobre o assunto ao jantar com Le Corbusier em Paris. O arquiteto franco-suíço se incomodava com acusações que lhe eram dirigidas de aderir ao barroco, sobre as quais afirmava: “Nosso trabalho é como um rio. Tem um objetivo certo, mas varia e dá voltas durante todo o curso” (Niemeyer, 1962, p. 18). Quando se encontraram, 15 anos antes, em Nova Iorque, Le Corbusier, examinando fotos das obras de Niemeyer, teria dito ao arquiteto carioca: “Você faz o barroco com o concreto armado, mas faz muito bem” (Niemeyer, 1962, p. 18). A ideia de que o trabalho é como um rio ecoa a “teoria do meandro” de Le Corbusier (2004), principal tema de sua sexta conferência em Buenos Aires, em 1929.

Em 1962, Le Corbusier viaja novamente ao Brasil, contratado pelo governo francês para projetar a embaixada da França em Brasília. A revista Módulo, na edição de número 32 (março de 1963), publica a breve carta de Le Corbusier que marca o fim de sua viagem (Le Corbusier, 1963), e um texto de Niemeyer em homenagem ao arquiteto franco-suíço, em que relata brevemente seus encontros com ele, retratando-o como um guerreiro vitorioso que, aos 75 anos, continuava pronto para a batalha; arquiteto “cuja obra passou as fronteiras da Europa, invadindo a América, a Ásia e o Oriente, com a força irresistível do seu gênio” (Niemeyer, 1963, p. 23).

Começamos a tomar contato com a obra de Le Corbusier nos bancos da Escola Nacional de Arquitetura do Rio de Janeiro. Aí a estudamos, manuseamos seus álbuns, procurando sentir suas intenções, tentando descobrir em cada traço, em cada curva, o objetivo arquitetural. Mesmo depois de formados há vários anos — sua obra permaneceu como uma espécie de guia, de tira-dúvidas, que consultávamos com frequência.

(Niemeyer, 1963, p. 23)

Le Corbusier é novamente citado, ao longo da primeira metade da década de 1960, na revista Acrópole de número 298 (agosto de 1963) por Eduardo Corona, que comemora os 40 anos da publicação de Por uma arquitetura, livro publicado pela primeira vez em 1923 e traduzido para o português em 1973, que, de acordo com Corona, deu ao arquiteto franco-suíço “a oportunidade de chamar a atenção dos arquitetos do mundo todo para algumas de suas realizações técnicas que estavam representando verdadeiramente bom senso, realidade, compreensão, ao lado do mau gosto, da desordem, da falsidade das construções comuns da época” (CORONA, 1963, p. 2).

De toda lição do passado sadio e grandioso em que a grande arquitetura foi realizada e desses aspectos de renovação e revolta depois de um período desastroso no campo da arte e da arquitetura, Le Corbusier nos traz a bandeira de uma época para modificar, para engrandecer uma arquitetura que, hoje, 40 anos depois aí está, a fantástica e poética arquitetura contemporânea que, no Brasil, tomou corpo, criou personalidade. (...) 40 anos são passados. Já muita coisa se realizou. Muitos anseios e ideias se consolidaram. Nos encontramos, porém, em plena revolução arquitetônica (...).

(Corona, 1963, p. 2)

Em 1965, a Acrópole de número 321 (setembro de 1965) lamenta o falecimento do “mundialmente famoso urbanista, arquiteto e pintor Le Corbusier” (Falecimento, 1965, p. 19) e, na edição seguinte (322, outubro de 1965), Eduardo Corona presta homenagem ao arquiteto e urbanista (Corona, 1965). A última edição da Habitat, de número 84 (jul./ago./set./out./nov./dez. de 1965), também presta homenagem a Le Corbusier, tido como um dos inventores “da última palavra na arquitetura moderna” (Ferraz, 1965, p. 17).

Devemos-lhe o risco do Ministério da Educação, o mais belo edifício moderno que o Rio possui, completado nos pormenores por uma equipe de arquitetos brasileiros, que se tornaram os discípulos amados de Le Corbusier, e que foram Jorge Machado Moreira, Carlos Leão, Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Vasconcelos, Afonso Eduardo Reidy. (Ferraz, 1965, p. 18)

Rio e raça

Nas décadas de 1980 e 1990, em meio à redemocratização do Brasil, os cinco pontos da arquitetura e as quatro funções da cidade de Le Corbusier eram colocados em xeque diante de novas ideias e abordagens agrupadas sob o termo “pós-modernismo”. Em 1988, Anatole Kopp publica pela primeira vez Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa, traduzido para o português em 1990. O livro expõe passagens dos escritos de Le Corbusier que permitem especular sobre as orientações políticas do arquiteto, e procura demonstrar que Le Corbusier transitava com certa naturalidade entre o fascismo e o socialismo, em busca de uma autoridade com suficiente poder para concretizar seus grandes projetos. Dessa forma, o arquiteto e urbanista sustentava uma postura que, na prática, era pouco clara e levaria à sua rejeição por parte de grupos tanto da esquerda quanto da direita no espectro político (Kopp, 1990).

À época em que o livro de Anatole Kopp foi lançado, as ideias contidas no texto talvez estivessem envoltas por ares de novidade. Porém, já na década de 1920, o próprio Le Corbusier tratava do assunto. Para ele: “A política devora as energias. A política não é uma função construtiva; é um crivo, que age somente por eliminação; é também uma fornalha, um incinerador.” (Le Corbusier, 2004, p. 190). Ele também afirmava que “tudo isso é feito para suscitar o trabalho do homem, para tornar seus conceitos mais sublimes, despertar seu orgulho, fazer nascer o civismo” (Le Corbusier, 2004, p. 236).

A Ação Francesa declarou: este projeto é nosso programa.

O fascismo francês de 1926 disse exatamente a mesma coisa.

O Ami du Peuple, num editorial recente, denunciou-me como cúmplice de Lênin, um destruidor.

L’Humanité, jornal comunista francês, designou-me em 1923 como agente do capitalismo francês para a repressão da “Grande Noite” (“Grand Soir”). “Ele propõe”, dizia esse jornal, “a solução para a habitação e, com ela, a massa trabalhadora será colocada numa situação de suficiente bem-estar para não desejar mais correr o risco da revolução.”

O presidente do Soviete do Trabalho em Moscou, neste mês de junho, encerrou uma discussão de muitas horas decidindo construir sobre pilotis nosso palácio do Centrosoyus, a fim de incitar, por intermédio dele, a urbanização da Grande Moscou.

O “Redressement Français”, organização de estudos econômicos da grande indústria francesa, publicou meu estudo Vers le Paris de l’époque machiniste e, mediante seu patrocínio, a ideia agitou com intensidade novos ambientes.

(Le Corbusier, 2004, p. 189)

No Brasil, Lucio Costa é frequentemente visto como o principal representante das ideias de Le Corbusier, ainda que o autor do Plano Piloto de Brasília, como se sabe, não tenha sido um grande defensor da arquitetura moderna desde os primeiros anos de sua carreira. No dia 19 de março de 1924, publica-se no jornal carioca A Noite a entrevista “A alma de nossos lares”, referência conhecida entre os pesquisadores que se dedicam à “trajetória” do arquiteto e urbanista, do neocolonial à arquitetura moderna, especialmente porque o texto foi publicado imediatamente antes de sua viagem a Diamantina, permitindo estabelecer importantes contrastes em relação à sua produção após a visita à cidade mineira. Um dos mais importantes elementos estruturadores do raciocínio de Lucio Costa é a ideia de raça.

Para o arquiteto e urbanista, o Brasil, era um país “de raça ainda não constituída definitivamente, de raça ainda em caldeamento, não podemos exigir uma arquitetura própria, uma arquitetura definida” (Costa, 1924). Em outra entrevista, publicada no jornal O Paiz no dia 1º de julho de 1928 como parte de uma série intitulada “O Arranha-céu e o Rio de Janeiro”, Lucio Costa leva adiante seu raciocínio:

Toda arquitetura é uma questão de raça. Enquanto o nosso povo for essa coisa exótica que vemos pelas ruas, a nossa arquitetura será forçosamente uma coisa exótica. Não é essa meia dúzia que viaja e se veste na rue La Paix, mas essa multidão anônima que toma trens da Central e Leopoldina, gente de caras lívidas, que nos envergonha por toda a parte. O que podemos esperar em arquitetura de um povo assim?

Tudo é função de raça.

A raça sendo boa, o governo é bom, será boa a arquitetura.

(Costa, 1928, p. 4)

Em 1929, ano do Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia, Le Corbusier faz sua primeira viagem à América Latina; o arquiteto e urbanista proferiu dez conferências em Buenos Aires e visitou Montevidéu, Rio de Janeiro e São Paulo. Essas foram reunidas no volume Precisões sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo, publicado originalmente em 1930 e traduzido para o português em 2004.

Aquilo que denomino pesquisar “uma célula na escala humana” significa esquecer todas as moradias existentes, todo código de habitação em vigor, todos os hábitos ou tradições. É estudar, com sangue frio, as novas condições sob as quais transcorre nossa existência. É ousar analisar e saber sintetizar. É sentir, atrás de si, o apoio das técnicas modernas e, diante de si, a fatal evolução das técnicas construtivas em direção a métodos sensatos. É aspirar a satisfazer o coração de um homem da época maquinista e não acalentar alguns romancistas caducos, que assistiram, sem mesmo se dar conta do fato e tangendo o alaúde, a dissolução da raça, o desencorajamento da cidade e a letargia do país.

(Le Corbusier, 2004, p. 110)

Por um lado, é possível afirmar que ao longo da década de 1920 a ideia de que o advento da indústria havia provocado a destruição de maneiras antigas de organizar a cultura e a sociedade parecia levar Le Corbusier a crer que um dos reflexos negativos do “cataclismo” provocado pela chegada da era maquinista era a “dissolução da raça”. Porém, é possível que o arquiteto franco-suíço se referisse à “dissolução da raça” como um problema para os “romancistas caducos”, mas não exatamente para ele próprio. Menções à ideia de raça aparecem com razoável frequência no livro, e talvez seja possível que essa viagem de Le Corbusier à América Latina tenha contribuído para que ele construísse sua própria noção de raça.

Na quinta conferência, o arquiteto e urbanista afirma: “Nós, de Paris, somos dados essencialmente à abstração, criadores de motores de corrida, possuídos pelo equilíbrio puro. Os senhores, na América do Sul, estão numa região velha e jovem; são povos jovens e suas raças são velhas” (Le Corbusier, 2004, p. 238). Na sexta conferência, Le Corbusier (2004, p. 153) afirma: “O urbanismo não é uma questão estética senão sincronicamente com a questão da organização biológica, da organização social, e da organização financeira”. Na nona conferência, após Le Corbusier (2004, p. 205) ter tido tempo para observar a “desordem característica da América”, a ideia de dissolução da raça é substituída:

Senti, na cidade, o esforço constante de dois milhões de homens que vieram “fazer a América”. Vi, nos escritórios, que os alemães e ingleses enviaram técnicos para equipar o país; senti, sobretudo, o imenso poderio dos Estados Unidos no plano financeiro e industrial. (...) Quanto à elegante rigidez dos senhores, a reserva que se deve, em parte, ao espírito dominador adquirido no manejo dos grandes rebanhos do “campo” ou na administração dos vastos empreendimentos e, em parte, à incerteza provocada pelo silêncio de um imenso oceano que os mantém longe do mundo, avaliei que tudo isso constituirá um traço de raça e que Buenos Aires, feita de todos os povos, era na realidade uma nova raça, monolito animado por um civismo ardente.

(Le Corbusier, 2004, p. 199–200)

No “Prólogo americano”, texto que abre volume Precisões, redigido durante sua viagem de volta à Europa, o arquiteto e urbanista também escreve sobre o tema:

As multidões de imigrantes cruzam os mares, surgem novas entidades nacionais, formadas pela nova fusão de todas as raças e de todos os povos, os Estados Unidos ou o país dos senhores. (...) É uma dissolução fenomenal, que se precipita a cada dia e que em breve será total. Somente os acontecimentos que se situam fora do alcance da máquina parecem resistir. Os negros continuam sendo negros e os índios, vermelhos. E ainda assim... Em todos os lugares o sangue do negro infiltra-se no branco, e o do vermelho, no branco ou no negro. (Le Corbusier, 2004, p. 37–38)

Nesse texto é possível observar Le Corbusier (2004, p. 29) caminhando em direção à ideia de raça menos como categoria biológica do que social e política: “A história não existe, é talhada. Assim é que vemos surgir a ficção da ’raça’.” Ele também coloca em xeque a ideia de nacionalidade ao afirmar que “alguém torna-se americano na América, embora seja emigrante” (Le Corbusier, 2004, p. 29); para ele, a chegada da era maquinista ensejou “uma imensa e súbita mobilidade na família e na cidade” (Le Corbusier, 2004, p. 39). A noção de “devir” é de grande valor para as discussões sobre identidades nos dias de hoje. “A reforma que se precisa realizar é profunda e reina a hipocrisia: amor, casamento, sociedade, morte. Somos inteiramente falsificados, somos falsos”, escreve o arquiteto e urbanista (Le Corbusier, 2004, p. 23). De fato, os valores burgueses cristãos como um todo são colocados em questão ainda em território argentino: “Permanecem mecanismos sociais, mentais, mecânicos, que são parasitários, anacrônicos, paralisantes.” (Le Corbusier, 2004, p. 144). Essa crítica aparece de forma marcante desde a primeira conferência:

Penso que vivemos em um equívoco profundo e em uma hipocrisia deprimente. O “contrato social” vigente não passa de um resíduo. Sua moral é cruel, pérfida, mentirosa. Ela é imoral. O dogma bíblico que começa a definir como pecado o ato de fazer amor, que é a lei fundamental da natureza, apodreceu nossos corações, acabou desembocando, nesse vigésimo século, em conceitos de honra e honestidade que não passam de fachadas, as quais, algumas vezes, encobrem mentiras e crimes. O peso desse contrato social sobre nossos atos mais legítimos e normais sujeita multidões inteiras. [...] Com efeito, o castigo se abate sobre esses pecadores! O castigo de quem? Simplesmente a cruel e inconsciente “honestidade” daqueles que, aparentemente, seguem o código. Este julgamento é tão correto quanto o destino de uma tropa jogada na linha de tiro da vida: aqueles que foram atingidos pelos obuses são os pecadores!

(Le Corbusier, 2004, p. 40–41)

A diferença na posição de Le Corbusier no que se refere a ideia de raça, no “Prólogo americano” em relação aos textos das conferências, vem acompanhada por menções à população negra do Rio de Janeiro e de São Paulo sem paralelos em praticamente todo o restante do livro.

Volto a encontrar naquilo que denomino “Casa dos homens” estas disposições fatais. Dei, aliás, explicações a este respeito em Une Maison – Un Palais. No entanto, altas personalidades brasileiras ficaram furiosas quando souberam que, no Rio, subi os morros habitados pelos negros. “É uma vergonha para nós, gente civilizada!” Expliquei que, antes de mais nada, eu considerava esses negros fundamentalmente bons, gente de bom coração. E belos, magníficos, além do que sua nonchalance, os limites que eles sabem impor a suas necessidades, sua capacidade de devaneios interiores, sua candura faziam com que suas casas estivessem implantadas admiravelmente no solo, com a janela surpreendentemente aberta para espaços magníficos, e que a exiguidade de seus cômodos fosse abundantemente eficaz. Tinha em mente o problema das casas baratas da nossa Europa, envenenada pelos príncipes da Renascença, os papas ou o sr. Nérot, e minha eterna conclusão, após tantos países percorridos há mais de vinte anos, torna-se cada dia mais precisa: é o conceito de vida o que tem de mudar, é a noção de felicidade o que se deve resgatar. A reforma está nisso, o resto é apenas consequência.

(Le Corbusier, 2004, p. 22–23)

O texto contém profundas marcas de racismo; nonchalance é um termo pejorativo usado até os dias de hoje para caracterizar a população negra, pode ser traduzido como “indolência” e, para Le Corbusier, parece ser um traço natural das pessoas às quais se refere. Por outro lado, em viagem de volta à Europa, ele opera uma inversão da lógica eugenista: em vez de tratar as cidades americanas como laboratórios, lugares nos quais poderiam surgir sociedades controladas conforme padrões eugenistas europeus, o arquiteto e urbanista rechaça tentativas de reproduzir, na América, a arquitetura da Europa e afirma que é a partir da observação e da valorização daquilo que há de particular em Buenos Aires, Montevidéu, Rio de Janeiro e São Paulo, que surgiria a nova arquitetura. “Aprender! Ver os negros, os mulatos, os índios na multidão de São Paulo!” (Le Corbusier, 2004, p. 26). Os americanos são “irmãos separados de nós pelo silêncio de um oceano” (Le Corbusier, 2004, p. 31), as respostas para os problemas das cidades europeias eram respostas americanas.

Os senhores me dirão: “Nada temos!”. Eu respondo: “Têm uma planta padrão, um jogo de belas formas sob a luz argentina, um jogo de formas muito belas, muito puras. Observem! Meçam o escândalo que são esses cottages ingleses com seus telhados de telhas, inutilizáveis, com quartos nas mansardas, impondo despesas anuais de manutenção. Os senhores fizeram nascer naturalmente o teto-terraço na Argentina. Mas os álbuns de arquitetura europeia os levam estupidamente três séculos para trás, em suas cidades-jardim ‘modelos’ e seus residenciais de lazer, em Mar del Plata!”. (Le Corbusier, 2004, p. 222)

Para Le Corbusier (2004, p. 29), assim como para diversos outros viajantes para os quais a Argentina é a velha Castela e o Brasil o velho Portugal, nesse país a presença do povo negro era inescapável. As favelas no Rio de Janeiro fazem parte da paisagem, a cidade de São Paulo “parece suportar, em seu território, a carga espiritual e autocrática dos fazendeiros de café que outrora mandavam nos escravos e que hoje são como governadores severos e insuficientemente ativos” (Le Corbusier, 2004, p. 15). Evidentemente, ele está longe dos debates que hoje chamamos de descolonialistas; seu olhar é marcado por um romantismo flagrante:

Quando escalamos as “favelas” dos negros, morros muito altos e escarpados, onde eles dependuram suas casas de madeira e taipa, pintadas com cores vistosas, e que se agarram a esses morros como os mariscos nos enrocamentos dos portos – os negros são asseados e de estrutura magnífica, as negras vestem-se de morim branco, irrepreensivelmente lavado; não existem ruas ou caminhos, é tudo muito empinado, mas atalhos por onde escoa o esgoto e a água da chuva; ali ocorrem cenas da vida popular animadas por uma dignidade tão magistral que uma requintada escola de pintura de gênero encontraria, no Rio, motivos muito elevados de inspiração; o negro tem sua casa quase sempre a pique, sustentada por pilotis na parte da frente, com a porta atrás, do lado do morro; do alto das “favelas” sempre se contempla o mar, as enseadas, os portos, as ilhas, o oceano, as montanhas, os estuários; o negro vê tudo isso; o vento reina, útil sob os trópicos; existe orgulho, no olhar do negro que contempla tudo isso; o olho do homem que avista horizontes vastos é mais altaneiro, tais horizontes conferem dignidade; eis aqui uma reflexão de urbanista.

(Le Corbusier, 2004, p. 228–229)

A ideia de que Le Corbusier é um autor “em trânsito” pode ser reforçada pela análise de suas posições em relação à suposta hegemonia cultural europeia, sobretudo francesa. Em Precisões, há momentos nos quais o homem europeu prevalece como referência, sinônimo de universalidade: “O terno inglês que usamos realizou algo importante: neutralizou-nos.” (Le Corbusier, 2004, p. 113); “Paris [é o] lar espiritual do mundo.” (Le Corbusier, 2004, p. 188). Também há momentos nos quais as referências à Europa causam incômodo: “[...] nos Estados Unidos, bem como aqui, o sr. Vignola é um deus. As cidades dos senhores nada manifestam de original, a não ser uma extravagante vegetação de balaústres (existe um caso americano de balaústre!) e uma devoção cega às ordens da arquitetura.” (Le Corbusier, 2004, p. 216). No “Prólogo americano”, Le Corbusier (2004, p. 24) questiona: “Afinal de contas o que é que os gregos e os padres vieram fazer aqui? Estamos na terra vermelha e violenta dos índios e essa gente tem uma alma.” E, com cinismo, afirma:

O argentino que não precisa preocupar-se em “fazer a América” (ganhar dinheiro), compartilha sua vida e seus pensamentos com a pátria e a França. Oh, França, que faz suas dádivas a este país novo, por ocasião de seu centenário, a um país repleto de um conhecimento ponderado daquilo que construiu o poderio intelectual de Paris, desse imenso bombom glacê de mármore branco, talhado sob os auspícios do Instituto, você se ofende ao ofender o belo passeio de Alvear de Palermo! (...) Paris está juncada de cadáveres. Paris é um concílio canibal que estabelece o dogma do momento. Paris é uma selecionadora.

(Le Corbusier, 2004, p. 28–29)

Além disso, com devidas ressalvas pelo fato de se tratar de um homem europeu da primeira metade do século XX, Le Corbusier se mostrava significativamente menos machista do que alguns de seus contemporâneos. Autoras e autores como Fabíola López-Durán e Paul Preciado nos mostram como o machismo é componente fundamental da construção de uma sociedade branca e heteronormativa, que relega à maioria das mulheres um papel apenas reprodutivo. López-Durán e Preciado demonstram também que a prostituição cumpre diferentes funções nessa sociedade ao longo da história, com a constante de ser sempre uma espécie de heterotopia, e, consequentemente, ocupar diferentes espaços na cidade.

Enquanto Lucio Costa (1924, p. 1) afirmava ao jornal A Noite que “Assim como a principal missão da mulher é ser mãe, a missão principal da casa é ser lar”, Le Corbusier (2004, p. 28–29), nos conta que, em Buenos Aires “A sra. Victoria Ocampo, somente ela até agora, fez o gesto decisivo na arquitetura, ao construir uma casa que provocou escândalo. Pois é assim Buenos Aires. Seus dois milhões de habitantes, emigrantes que se enternecem com o mais rele brique-a-braque, chocam-se com esta mulher só, que sabe querer.” Antes de escrever o “Prólogo americano”, em sua décima conferência, na qual cita Charlotte Perriaud, o arquiteto e urbanista franco-suíço afirma:

A mulher nos precedeu. Ela realizou a reforma de seu traje. Ela encontrava-se num impasse: seguir a moda e então renunciar à contribuição das técnicas modernas, à vida moderna. Renunciar ao esporte e, problema mais material, não poder aceitar empregos que lhes permitiriam ter uma participação fecunda na atividade contemporânea e ganhar sua vida. Seguir a moda: ela não podia pensar em guiar; não podia tomar nem o metrô, nem o ônibus, não podia sequer agir com desenvoltura em seu escritório ou na loja. Para poder realizar a construção cotidiana de sua toalete – pentear-se, calçar o sapato, abotoar o vestido – ela não tinha mais tempo para dormir.

Então a mulher cortou seus cabelos, suas saias e suas mangas. Agora está com a cabeça descoberta, os braços de fora e as pernas livres. Veste-se em cinco minutos. E é bela, seduz com o encanto de suas graças, das quais os modistas resolveram tirar partido. (...) A mulher moderna cortou os cabelos. Nossos olhares conheceram a forma de suas pernas. O espartilho deixou de existir. “A etiqueta” sumiu. A etiqueta nasceu na corte. Nela, apenas algumas pessoas tinham o direito de sentar e precisavam fazê-lo de uma certa maneira. Mais tarde, no século XIX, o burguês tornou-se rei e encomendou poltronas infinitamente mais esculpidas e douradas do que aquelas de uso dos príncipes de sangue. As “boas maneiras” foram ensinadas no convento. Pois bem, hoje tudo isso nos entedia! Uma pessoa distinta jamais perde sua distinção, mesmo no carnaval. Quanto a isto estamos tranquilos.

(Le Corbusier, 2004, p. 112–125)

O contraste entre o discurso de Lucio Costa e o discurso de Le Corbusier ao longo da década de 1920 é inegável. No campo da arquitetura e urbanismo no Brasil, atualmente, são razoavelmente aceitas as hipóteses de que a viagem de Le Corbusier à América Latina, em 1929, adiciona elementos à prática projetual do arquiteto franco-suíço, e, de certa maneira, marca a passagem de Lucio Costa de grande defensor do neocolonial à porta-voz do moderno. Mas há camadas de leitura que precisam ganhar mais evidência.

Conclusão

Em 1934, Lucio Costa escreve “Razões da nova arquitetura”, que, diferentemente de “A alma de nossos lares” e “O Arranha-céu e o Rio de Janeiro”, foi incluído em Registro de uma vivência. No texto, ele vislumbra um momento de felicidade no qual “arquitetura, escultura, pintura formam um só corpo coeso, um organismo vivo de impossível desagregação” (Costa, 2018, p. 109). Apesar de ainda ser possível relacionar algumas ideias contidas no texto com aspirações a algum tipo de supremacia, talvez esse texto possa ser tomado como indício de uma mudança de postura de Lucio Costa diante da ideia de raça. Longe de romper com um olhar biologizante, o arquiteto e urbanista lista uma série de elementos, entre eles a “variedade das raças” (Costa, 2018, p. 112), que levaram os estadunidenses a construir com entusiasmo uma história e uma tradição para si, através da arquitetura; mas lamenta, no entanto, a escolha de um repertório de referências inscritas numa suposta tradição clássica e a falta de sensibilidade diante das possibilidades abertas pela Revolução Industrial enquanto revolução tecnológica. Parece importante o fato de que Lucio Costa faz um elogio à variedade de raças nos Estados Unidos, como Le Corbusier no “Prólogo americano” de Precisões; mas, ao contrário do arquiteto e urbanista franco-suíço, o autor do Plano Piloto de Brasília ainda não estende, em “Razões da nova arquitetura”, esse elogio à América Latina.

A validação estrangeira opera duplamente: o ato de Le Corbusier de valorizar algo que podemos chamar de pluralidade racial autorizou Lucio Costa a também valorizar o que ele chama de variedade de raças; esse elogio, num primeiro momento, é dirigido à variedade de raças nos Estados Unidos, ecoando o discurso de Le Corbusier e “virando as costas” para a América Latina.

Não é novidade a ideia de que a primeira visita de Le Corbusier à América Latina parece ter induzido Lucio Costa a uma guinada, movimento que o levaria a se tornar um dos principais representantes do movimento moderno no Brasil, um dos responsáveis pela fundação de uma maneira de articular modernidade e tradição tanto no campo do discurso quanto no campo da prática projetual, maneira essa que distingue de forma prestigiosa a arquitetura moderna brasileira no cenário internacional. Le Corbusier parece ter induzido Lucio Costa a aderir a uma maneira moderna de pesar. O racismo de Lucio Costa deveria ceder; o que não quer dizer necessariamente assumir posições antirracistas, mas, ao menos, caminhar na direção oposta à de posições eugenistas.

Por outro lado, não seria demasiado suspeitar de que a arquitetura moderna brasileira alcançou elevados patamares de aceitação e prestígio nacional e internacional em parte porque a tradição havia passado ela própria, pelas mãos de nossos arquitetos, por um processo de embranquecimento como aquele que os eugenistas almejavam, processo esse que acontece justamente quando passamos a consumir versões do Brasil desenhadas a partir do olhar estrangeiro. Em um certo momento, o Brasil observado por Lucio Costa pode muito bem ter sido o Brasil descrito por Le Corbusier (2004, p. 238), para quem a América Latina é “velha e jovem; são povos jovens e suas raças são velhas”. Sob o ponto de vista da branquitude latino-americana, a América Latina parece ser ou branca, ou exótica.

Lucio Costa, ainda que brasileiro, nasceu, cresceu e se formou na Europa; era europeu, mas menos do que Le Corbusier. Ambos são figuras em trânsito inclusive entre posições marcadamente distintas no que diz respeito a questões como raça e gênero; questões essas que, fundamentais, são determinantes de uma série, se não todas, de intervenções pelas quais passaram as cidades brasileiras ao longo de toda a sua história. A história do Brasil é a história da influência estrangeira e do racismo no Brasil.

Referências

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  • VELOSO, Mariza Motta Santos. Gilberto Freyre e o horizonte do Modernismo. Sociedade e Estado, v. XV, p. 25-50, 2000.
  • 1
    As citações reproduzem os grifos de Le Corbusier conforme a tradução para o português de Precisões, publicada pela Cosac & Naify em 2004. A pandemia de COVID-19 impediu o acesso a bibliotecas e arquivos e, consequentemente, a consulta ao texto original, em francês.
  • 2
    Vindo do universo do funk, “posturado” ou “posturada” é um termo que significa “pessoa que mantém a postura”.
  • 3
    No original: “Just as the urban reforms initiated at the beginning of the century by Francisco Pereira Passos to prepare for the city's 1908 international exhibition were fueled by the desire to efface the image of Brazil as backwards and uncivilized, so the dramatic demolition of the Morro do Castelo — generating the extensive territory in which the 1922 International Exhibition was displayed — represented the first and most radical action in the construction of a new image. This image negated not only any backwards association but also the perception of the country as racially exotic. In other words, the 1922 exhibition was conceived as a self-portrait of a cosmopolitan nation — a nation that was able to undertake a self-remaking process, not only of its milieu but of its population. The Livro de Ouro, a more than 518–page catalogue for the exhibition, was explicit when it described the exhibition as an ‘expression of the constructive energy of a new race’, a new race able to triumph in ’the battle between man, mountain, and ocean.” (López-Durán, 2019, p. 70)
  • 4
    No original: “Latin American elites argued for a Latin essence that was embodied in French culture and science.” (López-Durán, 2019, p. 21)
  • 5
    No original: “reproduction was even more relevant than production”. (López-Durán, 2019, p. 39–40)
  • 6
    Optamos pela grafia “descolonial” e seus derivados, considerando que o prefixo “des-”, em português brasileiro, é o mais comumente empregado para expressar negação, afastamento ou cessação de um estado. O prefixo “de-”, nesse caso, em razão de ser o mais frequentemente utilizado nas línguas francesa e inglesa para o mesmo fim (« décolonial » e “decolonial”, respectivamente), ressoa um estrangeirismo oriundo de línguas do Norte global — de modo que o vocábulo “decolonial”, no Brasil, acaba por ser uma forma contraditoriamente colonialista de nomear o referido conceito.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Out 2023
  • Data do Fascículo
    Sept-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    08 Fev 2023
  • Aceito
    09 Ago 2023
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