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Editorial

EDITORIAL

Escrevo o editorial do volume 9, número 4, de dezembro de 2011, com a triste notícia do falecimento do Professor Marcelo Milano Falcão Vieira, Editor do Cadernos EBAPE.BR no período de 2003 a 2009.

Compartilho a decisão, em conjunto com os Editores Associados, de organizar a devida homenagem no número a ser publicado em março de 2012. Para tal, convidamos a comunidade acadêmica e, principalmente, os colegas e orientandos para se manifestarem em sua memória na seção Opinião, do Cadernos EBAPE.BR.

Aproveito para divulgar que postamos, recentemente, um texto do Professor Marcelo Milano Falcão Vieira com um breve histórico seu como Editor do Cadernos EBAPE.BR no link a seguir: http://app.ebape.fgv.br/cadernosebape/asp/dsp_sobre_revista_historico.asp.

Neste último número de 2011, retoma-se um importante espaço para debate de temas relevantes à comunidade acadêmica. A seção Opinião publica três ensaios resultantes de um painel do III Encontro de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade, coordenado por Christiane Kleinünbing Godoi.

O ensaio de Maria Ester de Freitas, "O Pesquisador hoje: entre o artesanato intelectual e a produção em série" visa contribuir para o debate sobre o produtivismo acadêmico. A autora destaca atos que considera importantes sobre o trabalho intelectual e que parecem estar sendo cada vez mais esquecidos em virtude da nossa pressa em produzir resultados rápidos, quantitativamente mensuráveis, para fazer face ao atual modelo de avaliação da pesquisa brasileira.

Alexandre Faria, no ensaio "Repensando produtivismo em gestão a partir do Brasil", objetiva explorar algumas questões históricas, políticas e internacionais que não apenas nos ajudam a compreender os principais antecedentes e implicações do produtivismo acadêmico na área de gestão, mas também nos provocam reflexões baseadas no Brasil.

No ensaio "Resistir ao produtivismo: uma ode à perturbação acadêmica", Rafael Alcadipani chama de "produtivismo" uma ênfase exacerbada na produção de uma grande quantidade de algo que possui pouca substância. Um foco em se fazer o máximo de uma coisa "enlatada", com pouco conteúdo e uma consequente valorização da quantidade como se fosse qualidade. O autor destaca os efeitos do produtivismo acadêmico na formação dos alunos na graduação e no mundo da pesquisa.

Convido a comunidade acadêmica a se manifestar a respeito deste e de outros temas relevantes para realizarmos em conjunto a missão do Cadernos EBAPE.BR.

Os artigos publicados refletem, em sintonia com a política editorial deste periódico, a multiplicidade de temas e abordagens. Em "Beneficiários ou reféns? O patrimonialismo na perspectiva dos cidadãos de Poço Fundo, Minas Gerais", Renato Ferreira de Oliveira, Virgílio Cézar da Silva e Oliveira e Antônio Carlos dos Santos sustentam que há uma diversidade de elementos na cultura política dos pequenos municípios brasileiros agindo em anteposição ao processo democrático, à solidariedade social e visando à desconstrução do espírito de comunidade cívica. No artigo é apresentado o caso de Poço Fundo, município de pequeno porte localizado no sul de Minas Gerais. A precariedade dos serviços públicos identificada nos depoimentos, embora pareça causa da cultura do favor, é, antes de tudo, seu produto.

O artigo "As redes sociais dos empreendedores na formação do capital social: um estudo de casos múltiplos em municípios do norte pioneiro no estado do Paraná", de Norma Pimenta Cirilo Ducci e Rivanda Meira Teixeira, tem como objetivo o entendimento de como as redes sociais são utilizadas pelos empreendedores na construção do seu capital social. As autoras analisam, especificamente, quais os tipos de rede desenvolvidos pelos empreendedores e quais os recursos acessados por meio desses relacionamentos na criação e desenvolvimento do negócio. O estudo qualitativo de casos múltiplos investigou três empreendimentos localizados no norte pioneiro do Paraná. As evidências sugerem que, nas duas fases dos negócios, de criação e desenvolvimento, a rede social dos empreendedores permitiu acesso aos diferentes recursos que influenciaram de forma significativa na trajetória e nos resultados alcançados.

Em "O jogo social e a produção de acontecimentos no território: o caso da Rede Arrozeiras do Sul", Camila Furlan da Costa e Sueli Goulart analisam as características das relações entre atores sociais e governamentais na produção de acontecimentos visando ao desenvolvimento local. As autoras puderam deduzir que as relações entre os atores sociais, em articulação com o território, produzindo e sendo produzidas pelas territorialidades, geram acontecimentos nos lugares e, a depender da direção dos recortes e das forças, indicam as possibilidades de desenvolvimento.

Cristian Eugenio Orellana Pino, en "Análisis al desarrollo social territorial: estimular competencias y fortalecer estrategias", pretende evaluar la acción de los agentes sociales en el modo de aplicar los instrumentos y métodos con objetivos a retos estratégicos y entender el análisis de la integración de los territorios con miras a la creación de polos regionales estratégicos estableciendo escenarios que se promueven por la creación de un planificado proceso de gestión social. Ciertos países Latinoamericanos, han podido demostrar, que si bien planificados, pueden proyectarse a territorios periféricos en el uso de una estrategia que fortalezca el crecimiento y su desarrollo.

Cristiane Simões Netto Costa, Diana Costa de Castro, Vanessa Brulon Soares e Marcel de Souza Silva e Santos, no artigo "Política cultural e desenvolvimento: uma análise do Programa Bairro Escola, do município de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro", identificam de que maneira as práticas atuais deste programa atendem aos seus objetivos de desenvolvimento. O programa funciona por meio de parcerias e busca a educação em turno integral, associando oficinas de cultura e esporte com atividades de reforço escolar. Há indícios de que o programa não está mais funcionando da forma como foi planejado, principalmente por falta de recursos e de infraestrutura. Pode ser observada uma diferença marcante entre o discurso dos entrevistados que trabalham nas escolas e o discurso oficial.

O artigo de Juliane Ines Di Francesco Kich e Maurício Fernandes Pereira, "A influência da liderança, cultura, estrutura e comunicação organizacional no processo de implantação do planejamento estratégico", caracteriza-se como um estudo de caso único, com enfoque qualitativo, realizado na Santa Luzia Laboratório Médico. Os resultados indicam que, para uma empresa implantar seu planejamento estratégico de forma eficaz, é preciso que tal planejamento esteja alinhado com sua cultura e integrado à sua estrutura, além de contar com uma comunicação eficaz e com a presença na organização de uma liderança envolvida no processo. Concluem que os fatores organizacionais estudados - estrutura, cultura, liderança e comunicação - atingiram o processo do planejamento estratégico na empresa analisada em diferentes intensidades, tanto no que tange à contribuição para sua implantação, quanto às limitações.

Tânia Tisser Beyda e Renata Utchitel Casado, em as "Relações de trabalho no mundo corporativo: possível antecedente do empreendedorismo?", objetivam compreender a transição de profissionais qualificados que abriram mão de carreiras corporativas para empreender seus próprios negócios, mantendo-se em suas áreas profissionais. Os resultados dos casos deste estudo reforçam fatores motivadores do empreendedorismo já antecipados pela literatura, como a busca por flexibilidade, autonomia e melhor qualidade de vida. Além disso, revelam antecedentes não considerados pelos modelos explicativos do empreendedorismo, como a busca por uma prática profissional capaz de refletir valores e crenças pessoais não encontrados no mundo corporativo.

Hélio Arthur Reis Irigaray e Sylvia Constant Vergara, no artigo intitulado "O tempo como dimensão de pesquisa sobre uma política de diversidade e relações de trabalho", focam o processo de absorção dos deficientes físicos pelas empresas, considerando múltiplos olhares (público interno e externo), e se estes se modificaram ao longo dos anos. O campo revelou que a presença dos deficientes naturalizou-se de tal forma que, para os passageiros, deixou de ser um diferencial da empresa e, para os empregados, algo relevante. A empresa insiste em buscar visibilidade social e midiática por meio da espetacularização da deficiência. Já os deficientes reclamam que não conseguem fazer carreira, pois encontram o mesmo "teto de vidro" denunciado por outras minorias.

Em "Comunicação intercultural em uma empresa transnacional: a visão dos brasileiros sobre sua comunicação com os norte-americanos", Ana Carolina Pimentel Duarte da Fonseca destaca a importância de analisar, na comunicação com outras culturas, aspectos que podem resultar em uma interpretação equivocada das mensagens enviadas de uma cultura para a outra. A pesquisa de campo foi realizada na subsidiária localizada na cidade do Rio de Janeiro de uma empresa transnacional de origem norte-americana que atua no setor de telecomunicações. Foram enfatizados alguns pontos negativos na interação entre as duas culturas, mas também foi apontada a possibilidade de captar sinergias da diversidade cultural, como sugerem os bons resultados do estilo relacional dos brasileiros com os clientes e o efeito motivador, nos brasileiros, do tratamento mais igualitário adotado pelos chefes americanos.

Em "Os efeitos da expatriação sobre a identidade: estudo de caso", Juan Miguel Rosa González e José Arimatés de Oliveira objetivam identificar a ocorrência de transformações, como consequência da expatriação, na identidade dos sujeitos; para o que foi tomado como marco teórico o conceito de self-shock (choque do eu) de Zaharna (1989). A análise dos resultados sugere a existência de sustentação empírica para a hipótese do self-shock. Contrariamente, na maioria dos relatos não foram identificadas experiências condizentes com os pressupostos centrais da teoria clássica sobre o processo de adaptação do expatriado.

No último artigo, "Escolhas linguísticas, custos políticos e gerenciamento da imagem corporativa: o caso da Aracruz Celulose S.A.", Marcelo Sanches Pagliarussi, Jusmeire Fieni Ribeiro, Alfredo Rodrigues Leite da Silva e Annor da Silva Júnior debatem o processo de construção de sentido nos relatórios anuais corporativos com base na relação entre as escolhas linguísticas realizadas e os custos políticos a que uma empresa - Aracruz Celulose - está submetida. A escolha da empresa foi motivada pelo seu histórico de lucros elevados e adoção de políticas voluntárias de divulgação financeira, além de custos políticos elevados relacionados a assuntos ambientais e conflitos de demarcação de terras indígenas. Os resultados indicam a tentativa da empresa em priorizar e enfatizar sua identidade institucional ao intensificar, circunstanciar e reforçar suas atitudes, em vez de informar de maneira neutra suas realizações ou planos.

Encerro este editorial com pesar, mas também com o sentimento de dever cumprido pelas realizações que obtivemos com a renovação do corpo editorial e o refinamento dos procedimentos de submissão e avaliação. Em paralelo, celebramos a aprovação de recursos do CNPq para as alterações necessárias, em 2012, na página que hospeda o periódico. Agradeço, particularmente, à assistente editorial Fabiana Braga Leal pelo entusiasmo e dedicação apesar de todos os obstáculos.

Desejo que a leitura dos ensaios da seção Opinião e dos artigos inspire boas reflexões! Boas Festas !

Ana Lucia Guedes

Editora

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jan 2012
  • Data do Fascículo
    Dez 2011
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