EDITORIAL
Retomamos neste número 2, de junho de 2012, o debate que iniciamos na seção Opinião em dezembro de 2011 a respeito das necessárias reflexões sobre ensino e pesquisa em Administração. No ensaio "O produtivismo e suas anomalias", Christiane Kleinubing Godoi e Wlamir Gonçalves Xavier destacam a importância do III Encontro de Ensino e Pesquisa como espaço indutor do debate e de reflexões críticas sobre problemas específicos considerados relevantes para a área. E com base nos textos dos painelistas, publicados na seção Opinião (v. 9, n. 4 de 2011), Maria Ester de Freitas, Alexandre Faria e Rafael Alcadipani discutem o que significa ensinar e pesquisar no Brasil, e o que pode ser considerado trabalho de qualidade. Convidamos a comunidade acadêmica a contribuir para a continuidade deste debate.
Em paralelo, estamos abertos às submissões para as chamadas de trabalhos que organizamos para o número de setembro de 2012, que será focado nos debates e implicações da Rio+20, bem como para o número de junho de 2013, com o tema Desenvolvimento-Gestão/Desenvolvimento & Gestão; Development-Management/Development & Management.
Ainda na seção "Opinião", publicamos um ensaio de autoria de Katarzyna Kosmala e Miguel Imas, intitulado "Favela is Painting. An UrbansparkZ/Art Installation of Social Commitment and Organizational Change". Os autores destacam os desdobramentos sociais e organizacionais do projeto Favela Painting, no Brasil, com base no conceito de UrbansparkZ.
Este número está organizado em dez artigos. No primeiro, "Importância dos arquivos empresariais para a pesquisa histórica em Administração no Brasil", Diego Maganhotto Coraiola destaca a necessidade de discussão e avaliação da atual situação dos arquivos empresariais brasileiros a fim de promover o desenvolvimento de ações e projetos de melhoria voltados à preservação e disponibilização de arquivos empresariais para a pesquisa na área de Organizações. Na opinião do autor, trata-se de etapa necessária e fundamental para garantir a disponibilidade de matéria-prima para pesquisas dedicadas a desvendar a história das empresas e do desenvolvimento da Administração no Brasil.
Em "Pós-modernidade nos estudos organizacionais: equívocos, antagonismos e dilemas", Eloisio Moulin de Souza analisa aspectos ontológicos e epistemológicos relacionados à Pós-modernidade para entender se esta é ontologia, epistemologia ou ambos, e os possíveis equívocos existentes em sua utilização nos estudos organizacionais.
Elisa Zwick; Marília Paula dos Reis Teixeira; José Roberto Pereira e Ana Alice Vilas Boas, no artigo "Administração pública tupiniquim: reflexões a partir da Teoria N e da Teoria P de Guerreiro Ramos", promovem uma reflexão sobre a administração pública brasileira contemporânea valendo-se do enfoque da Teoria N e da Teoria P de Guerreiro Ramos. Afirmam que a hibridização institui um novo modelo de gerir a coisa pública, formando o que se denomina "administração pública tupiniquim" e se apresenta como uma administração pública flexibilizada, que absorve elementos de vários modelos e experiências ao longo da história no Brasil e no exterior.
No artigo "Interdisciplinaridade e complexidade no curso de graduação em Administração", de autoria de Nério Amboni; Rui Otávio Bernardes de Andrade; Arnaldo Jose de Lima e Isabela Regina Fornari Muller, são discutidos as bases, a metodologia de operacionalização e os resultados do programa de integração horizontal e vertical de conteúdos programáticos implantados no 2º semestre de 2009, no curso de graduação em Administração em uma universidade pública estadual da região Sul do Brasil.
Gelson Silva Junquilho; Roberta Alvarenga de Almeida e Alfredo Leite da Silva, no artigo "As 'artes do fazer' gestão na escola pública: uma proposta de estudo", apresentam uma proposta teórico-epistemológica de estudo das 'artes do fazer' gestão na escola pública. A ideia é compreender como se re/constroem as 'artes do fazer' gestão no cotidiano das práticas sociais do diretor escolar e de sua comunidade escolar. Esperam contribuir para o avanço dos estudos sobre a gestão como prática, tratada como 'artes do fazer' na vida cotidiana das organizações.
Em "A alavanca que move o mundo: o discurso da mídia de negócios sobre o capitalismo empreendedor", Alessandra Mello Costa; Denise Franca Barros e Paulo Emílio Matos Martins, com base na perspectiva da teoria social do discurso de Norman Fairclough (2001), objetivam identificar e discutir possíveis implicações nas relações de trabalho contemporâneas da criação e disseminação do conceito de "empreendedorismo" pelas revistas de negócios. Os resultados da pesquisa permitiram a identificação e a seleção de três objetos discursivos - capitalismo empreendedor, ascensão econômica no livre mercado e herói global - vinculados ao tema "empreendedorismo".
Amon Narciso de Barros; Wescley Silva Xavier; Rafaela Costa Cruz; Alexandre de Pádua Carrieri e Gusttavo Cesar Lima, no artigo "O ethos capitalista weberiano e a afetividade no comércio mineiro", questionam o ethos capitalista weberiano no contexto do comércio mineiro de meados do século XX. Verificam neste trabalho que os comerciantes estudados caracterizam-se como um tipo híbrido, em que aspectos afetivos, morais e racionais se entrecruzam, entre um "moderno" e um "tradicional" conforme definidos por Weber.
O artigo "Sob as sombras do discurso colonial: subalternidade e configurações de gênero em uma lavanderia do interior de Minas Gerais", da autoria de Alexandre Reis Rosa, Cintia Rodrigues de Oliveira Medeiros e Valdir Machado Valadão Júnior, surpreende-nos pelo tema e abordagem. Os autores analisam as configurações de gênero em uma lavanderia comunitária, na qual trabalham apenas mulheres sob a liderança de uma mulher negra e pobre. O artigo está fundamentado nas reflexões sobre a subalternidade feminina para compreender a dinâmica de gênero. Traz à tona questões pouco observadas pelas teorias tradicionais, principalmente as de caráter dual que abordam gênero como uma simples relação entre sexos.
Em "Motivações e significados do abandono de categoria: aprendizados a partir da investigação com ex-fumantes e ex-proprietários de automóveis", as autoras Maribel Carvalho Suarez; Marie Agnes Chauvel e Leticia Moreira Casotti investigam por que os indivíduos tomam a decisão de abandono de categoria, tendo em vista diferentes contextos de estímulo e questionamento ao consumo.
Carla Madalena Alves Fernandes; Rodrigo Bandeira-de-Mello e Pedro Pinto Zanni, em "O papel dos fatores políticos no processo de internacionalização de empresas", analisam o papel dos fatores políticos e sua relação com os fatores mercadológicos no processo de internacionalização de empresas multinacionais. Concluem que a posse de capacidades e recursos técnicos e de know-how necessários à entrada e consolidação da empresa no Brasil foram condições necessárias, mas não suficientes para viabilizar o processo de internacionalização da Energias de Portugal (EDP) no Brasil.
Desejo uma boa leitura!
Ana Lucia Guedes
Editora
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
17 Jul 2012 -
Data do Fascículo
Jun 2012