EDITORIAL
ISociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil
IIHospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil
Mais de cem anos depois de sua fundação, o Institute of Medicine (IOM) publicou um relatório chamado To err is human: building a safer health system, afirmando que entre 44 mil e 98 mil pacientes morrem nos Estados Unidos a cada ano por erros médicos potencialmente preveníveis(1). Com intuito de melhorar a qualidade da assistência em saúde e, consequentemente, reduzir as taxas de eventos adversos, esse relatório orientou a implementação de prontuários eletrônicos e outras formas de tecnologia em Medicina(2), definindo como meta o aumento da segurança, da efetividade, do acesso rápido, da eficiência e da equitabilidade(2).
Duas questões devem ser elaboradas quando se considera essa estratégia:
1. A implantação do prontuário eletrônico é garantia de alcançar as metas de qualidade determinadas pelo IOM?
2. Pode-se ter o retorno do investimento com a implantação do prontuário eletrônico?
Quanto à primeira questão, enquanto os benefícios da tecnologia da informação, em teoria, são claros em quase todas as áreas da sociedade, sua adaptação para a área da saúde tem sido difícil e, além disso, seu uso tem sido limitado(2). O outro ponto é que a maioria dos aplicativos tem como objetivo informações financeiras e administrativas mais do que assistenciais(2).
Vários estudos demonstram ganhos na prática clínica com a adoção do prontuário eletrônico. Chaudhry et al.(3) conduziram um estudo com quatro instituições (Regenstrief Institute, Brigham and Women's Hospital/Partners HealthCare, US Department of Veterans Affairs e LDS Hospital/Intermountain Health Care) e identificaram cinco pontos de melhoria: aumento na aderência a protocolos; melhora na capacidade de aumentar a sobrevida, monitorização de doenças crônicas e seu cuidado; redução na taxa de erros com medicações; e, finalmente, a redução na utilização de recursos desnecessários(3). Como exemplo, o Brigham and Women's Hospital, em Boston, demonstrou redução na taxa de erros de 10,7 para 4,9 por 1.000 pacientes-dia (redução de 55%) com a utilização de prescrições eletrônicas(3).
Os fatores que devem ser considerados quando um sistema informatizado é implantado em saúde são: escolha do programa (software); custos de infraestrutura; conhecimentos do staff sobre tecnologia; paralelismos de projetos que podem concorrer com a implantação; objetivos da liderança; governança do projeto e desenvolvimento do sistema(4).
Quatro variáveis, no entanto, são consideradas as mais importantes para o sucesso da implantação e da manutenção dos sistemas:
1. entendimento do usuário final sobre benefícios em longo prazo e o impacto na prática diária;
2. infraestrutura da organização para suporte da implantação;
3. padrões de linguagem, regras institucionais e nacionais;
4. definir o objetivo e métricas de cada fase da implementação(4).
Desses quatro, o mais importante e maior desafio, em nossa visão, é o entendimento do usuário final sobre benefícios e o impacto na prática diária, pois, com certeza, essa atividade exige dispêndio de tempo com o uso do computador em tarefas assistenciais. É importante que o usuário entenda que, após a fase inicial, a da curva de aprendizado, o tempo gasto por paciente passa a ser aceitável e os benefícios passam a ter grande valia, como ter a informação em tempo real e centralizada no paciente, além do suporte à tomada de decisão rápida e segura(4).
Em relação ao retorno do investimento na implantação do prontuário eletrônico, discussões sobre produtividade em Tecnologia da Informação são novas na área da saúde. Em outros setores da economia, porém, a produtividade é amplamente utilizada. Em outras indústrias, o uso da produtividade como métrica para a indústria de serviços apresenta falhas, visto que, conceitualmente, produtividade é a razão entre o que é produzido e os recursos necessários para produzi-lo(5). Um bom exemplo dessa situação é a dos médicos que se comunicam com seus pacientes por meio de (SMS), e-mail ou ligações telefônicas. A substituição das visitas ao consultório pode parecer menos produtiva se for considerado o número de consultas como métrica, entretanto, se considerarmos acessibilidade e gerenciamento do cuidado dos pacientes, esse médico pode ter maior efetividade, oferecendo melhores cuidados aos pacientes(5).
O caminho da tecnologia da informação já foi definido pelo IOM como meio para se obter qualidade em saúde.
A utilização de tecnologia da informação para prevenção de eventos adversos é superior em efetividade quando comparada a fiscalizar e reverter as consequências de um erro.
Sem sistemas de informação implementados e suficientemente integrados, que suportem a decisão em tempo real e aumentem a segurança durante o cuidado, líderes organizacionais não serão mais que ativistas bem intencionados.
Sobre o retorno do investimento, devemos criar novas métricas de produtividade para a área da saúde, focando em estratégias que aumentem a usabilidade e controlando as expectativas muito otimistas sobre o retorno financeiro.
- 1. Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson M. To err is human: building a safe health system. Washington, DC: National Academy Press; 2000.
- 2. Stefan S. Evaluation of clinical metrics, medication reconciliation, problem list and discharge instructions. J Health Inform Manag. 2010;24(4):21-33.
- 3. Chaudhry B, Wang J, Wu S, Maglione M, Mojica W, Roth E, et al. Systematic review: Impact of health information technology in quality, efficiency, and costs of medical care. Ann Intern Med. 2006;144(10):742-52.
- 4. Hansmann J. Evidence-based healthcare and information systems. In: Performance Improvement in Hospitals and Health Systems. Chicago: HIMSS; 2009. p.131-41.
- 5. Kern LM, Dhopeshwarkar R, Barrón Y, Wilcox A, Pincus H, Kaushal R. Measuring the effects of health information technology on quality of care: a novel set of proposed metrics for eletronic quality reporting. Jt Comm J Qual Patient Saf. 2009;35(7):359-69.
Sistema de Informação em Saúde
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
31 Jan 2014 -
Data do Fascículo
Dez 2013