Open-access FREQÜÊNCIA DE AGENTES CAUSADORES DE ENTERITES EM LEITÕES LACTENTES PROVENIENTES DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS DO ESTADO DE SÃO PAULO*

FREQÜÊNCIA DE AGENTES CAUSADORES DE ENTERITES EM LEITÕES LACTENTES PROVENIENTES DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE SUÍNOS DO ESTADO DE SÃO PAULO

RESUMO

Considerando-se a importância econômica das enterites em leitões lactentes o presente estudo teve como objetivo verificar a freqüência de agentes etiológicos bacterianos, virais e parasitários em fezes de leitões com diarréia em sistemas de produção de suínos do Estado de São Paulo. Foram examinados 174 leitões com idade entre 1 a 38 dias provenientes de 21 sistemas de produção. Amostras de fezes foram submetidas ao exame bacteriológico, parasitológico e virológico. Dos 174 animais examinados, 117 foram positivos para um ou mais agentes pesquisados. Observou-se 70 (40,2%) animais positivos para presença de E. coli ETEC, 55 (31,6%) para Isospora suis, 19 (10,9%) para rotavírus, 2 (1,2%) para o Cryptosporidium parvum e 57 (32,8 %) dos animais amostrados revelaram-se negativos para qualquer agente estudado. A associação mais freqüente entre os agentes pesquisados foi I. suis e E. coli ETEC, presente em 19 animais (10,9%). A freqüência da I. suis foi significativamente maior em leitões com idade entre 8 e 14 dias. Em relação aos 70 leitões onde diagnosticou-se a presença de E. coli ETEC, 25,7% apresentaram genótipo Sta+, 21,5%-STb+, 7,1%-LT+, 4,3%-STa+STb+, 34,3%-STb+LT+ e 7,1%-Sta+STb+LT+. As informações obtidas neste estudo visam contribuir para o conhecimento dos principais microrganismos causadores de enterites em leitões em cidades do Estado de São Paulo, auxiliando os profissionais da área na adoção de medidas preventivas e de controle dos agentes.

PALAVRAS-CHAVE: Suínos; diarréia; enterite; Escherichia coli; Isospora suis; rotavírus.

ABSTRACT

Considering the economic importance of enteritis in piglets the pourpose of this study was to verify the frequency of bacterial, viral or protozoan agents in the feces of piglets with diarrhea from swine herds of the State of São Paulo. A hundred and seventy-four piglets from 21 swine herds with ages between 1 and 38 days, were examined. Intestinal sections and fecal samples were submitted to bacteriological, parasitological and virological tests and 117 animals were positive. Escherichia coli ETEC was isolated from 70 (40,2%) samples, Isospora suis were found in 55 (36,1%) animals, rotavirus were detected in 19 (10,9%) piglets, 2 (1,2%) animals were positive for Cryptosporidium parvum and 57 (32,8 %) animals were negative for any of above the agents. The most frequent association of agents was I. suis and E. coli ETEC, being observed in 19 (10,9%) animals. The detection of I. suis was statistically associated to piglets with age between 8 and 14 days of age. About the 70 animals positive for E.coli ETEC, 25,7% presented the genotype Sta+, 21,5% the STb+, 7,1% the LT+, 4,3% the Sta+STb+, 34,3% the STb+LT+, and 7,1% the Sta+STb+LT+. This study contributed to the indentification of the most frequent causes of enteritis in piglets from the studied regions, supporting decisions of the swine practitioners for control and preventive measures.

KEY WORDS: Pig; diarrhea; enteritis; Escherichia coli; Isospora suis; rotavirus.

INTRODUÇÃO

Os distúrbios gastrointestinais são freqüentemente observados em suínos de diferentes faixas etárias. Com as modificações zootécnicas adotadas para incrementar a produção suinícola, as criações extensivas foram substituídas pelo sistema de confinamento, exigindo a utilização de novas técnicas de manejo que se executadas inadequadamente propiciam a proliferação e a permanência de diversos agentes patogênicos (DEWEY et al., 1995).

Vários estudos têm associado a enterite no período pré-desmame ao aumento da taxa de mortalidade, diminuição da eficiência alimentar, atraso no desenvolvimento dos leitões e aumento no risco de ocorrência de diarréia pós-desmame (WITTUM et al., 1995; SVENSMARK et al., 1989).

Os agentes etiológicos mais freqüentes responsáveis pelas enterites durante o período pré-desmame são a Escherichia coli enterotoxigênica (E. coli ETEC), a Isospora suis (I. suis), o rotavírus, o Clostridium perfringens (C. perfringens) tipo C ou A e o vírus da gastroenterite transmissível (FITZGERALD et al., 1988; LINDSAY et al., 1992).

As causas de diarréia em leitões são multifatoriais e a simples presença de enteropatógenos, nem sempre é suficiente para o desenvolvimento da doença. A morbidade e a mortalidade dependem da virulência do agente, da resistência do hospedeiro e da presença de fatores de risco, tais como a temperatura ambiente, higiene inadequada das instalações e dificuldade de acesso ao colostro e ao leite (DEWEY et al., 1995).

Considerando-se que as enterites causam sérios prejuízos econômicos, neste trabalho propôs-se a identificar os principais agentes etiológicos bacterianos, virais e parasitários em fezes de leitões com diarréia na fase pré-desmame em sistemas de criação de suínos de algumas cidades do Estado de São Paulo.

MATERIAL E MÉTODOS

Sistemas de Produção

No presente estudo foram utilizados 21 sistemas de produção intensiva de suínos localizados nos municípios de Itú, Bragança Paulista, Campinas, São Carlos, Mogi das Cruzes, São José dos Campos, Santana do Parnaíba e Ibiúna, os quais apresentavam histórico de diarréia na maternidade.

Animais

Durante o período de março de 1996 à novembro de 1997, examinou-se 174 leitões lactentes, com idade entre 1 a 38 dias (média de 14 dias), apresentando diarréia e sem distinção de sexo ou linhagem. Foram utilizados, em média, 8 animais por propriedade, que não haviam sido submetidos a qualquer tipo de terapia antimicrobiana e antiparasitária.

Material Colhido

Os leitões foram necropsiados no local de origem procedendo-se ao exame macroscópico dos órgãos das cavidades torácica e abdominal, dando-se especial atenção às lesões presentes no sistema gastrointestinal.

“Swabs” contendo fezes colhidas do duodeno, jejuno, íleo, ceco e cólon foram acondicionados em tubos esterilizados. Procedeu-se também, a colheita de aproximadamente 5 mL de fezes do intestino delgado e grosso, as quais foram acondicionadas em frascos plásticos limpos.

Exame bacteriológico

Os “swabs” foram ressuspensos em 1 mL de solução salina esterilizada para a semeadura em ágar McConkey. As amostras de fezes provenientes dos diferentes segmentos intestinais foram semeadas em placas de Petri individuais, totalizando 4 placas por animal.

Utilizou-se caldo de tetrationato adicionado de novobiocina para isolamento de Salmonella spp, mantendo-se a cultura a 37o C por 24 horas e, para identificação de Yersinia spp, alíquotas das amostras foram inoculadas e mantidas em caldo peptonado a 4o C por 7 dias. Após estes procedimentos, ambas as culturas foram semeadas em ágar McConkey (QUINN et al., 1994).

As amostras semeadas em ágar McConkey foram incubadas a 37oC por 24 horas para a identificação de E. coli, Salmonella spp. e Yersinia spp. A identificação das enterobactérias isoladas foi realizada utilizando as seguintes provas bioquímicas: produção de indol, utilização de citrato, produção de gás, H2S, urease, produção de ácido a partir de glicose, motilidade, lisina descarboxilase, sendo os resultados analisados segundo BERGEY’S Manual of determinative bacteriology (HOLT et al., 1994).

Para o isolamento de Clostridium spp. as amostras foram semeadas em ágar sangue de carneiro e incubadas em anaerobiose por 24 horas. A identificação do C. perfringens foi realizada através da seleção de colônias com dupla hemólise em ágar sangue, as quais foram semeadas em ágar gema de ovo para verificar a produção de lecitinase e lipase e semeadas em meio “litmus milk” a fim de evidenciar a fermentação da lactose (QUINN et al., 1994).

Os meios utilizados foram testados com amostras de S. typhimurium, E. coli, Y. enterocolítica, e C. perfringens fornecidas pelo Laboratório de Ornitopatologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.

Pesquisa de enterotoxinas e verotoxinas de E. coli

Foram considerados positivos para E. coli os animais cujas as fezes apresentaram isolamento de amostras produtoras de enterotoxinas (ETEC) e/ou verotoxinas (VTEC).

A pesquisa de genes codificadores das enterotoxinas termoestáveis (STa e STb), termolábeis (LT) e verotoxinas ou “shiga-like” toxinas (VT1 ou STx1, VT2 ou STx2 e VT2e ou SLTII-v), foi realizada através da técnica da reação em cadeia pela polimerase (PCR). Para a execução da PCR, 6 amostras de E. coli isoladas de cada animal foram submetidas à extração de DNA descrita por BOOM et al.(1990). A amplificação do DNA foi realizada sob a forma de multiplex como descrito por BLANCO et al. (1997). O produto amplificado foi submetido a eletroforese em gel de agarose a 2% e corado por brometo de etídio. O gel foi fotografado sob luz ultravioleta para visualização do produto. O marcador de peso molecular utilizado foi o 100 bp DNA Ladder (Life technologies- Grand Island, N.Y.).

Como controles positivos para PCR utilizou-se as amostras de E. coli ETEC: Anastra E2539 (LT+), PD27a (STa+, STb+), VTEC H30 (SLT-I), J2 (SLT-II) e S1191MT (VT2e).

Pesquisa de rotavírus

A detecção do RNA do rotavírus foi obtida através da técnica de eletroforese em gel de poliacrilamida corado pela prata (PAGE), de acordo com o método descrito por HERRING et al.(1982). Utilizou-se como controle positivo para detecção de rotavírus uma amostra padrão de RNA rotaviral NCDV (Neonatal Calf Diarrhea Virus) cedida pelo Laboratório de imunologia e virologia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo.

Pesquisa de parasitos

Pesquisou-se quantitativamente e qualitativamente os oocistos de coccídia utilizando-se a técnica modificada de centrifugo flutuação em solução saturada de sacarose, densidade 1,2 g/cm3 (OGASSAWARA et al., 1989; LALLO, 1993)

Análise estatística

Procedeu-se a análise estatística da relação entre o tipo do agente e a faixa etária dos animais. Para a obtenção da freqüência do tipo do agente segundo a idade, distribuiu-se os animais em grupos. O grupo 1 foi constituído por leitões de 1 a 7 dias de idade, grupo 2 por leitões de 8 a 14 dias de idade, grupo 3 por leitões de 15 a 21 dias de idade e grupo 4 por leitões acima 22 dias idade. Na avaliação da significância entre o tipo de agente e a faixa etária foram utilizados os métodos estatísticos de qui quadrado de Pearson (SSSS for Windows versão 9.0) e o qui quadrado estratificado de Mantel-Haenzel (Epinfo, versão 604).

RESULTADOS

Das 174 amostras de fezes examinadas observouse que 40,2 % (70/174) dos animais encontravam-se infectados por E. coli ETEC, 31,6% (55/174) com I. suis, 10,9% (19/174) com rotavírus, 1,2% (2/174) com C. parvum e em 32,8% (57/174) foram negativos, não sendo detectado qualquer agente. As amostras analisadas através das técnicas propostas foram negativas para C. perfringens, Salmonella spp. e Yersinia spp.

Dentre os animais examinados 117 (67,2%) foram positivos para um ou mais agentes.

No isolamento de um único agente, a E. coli ETEC foi detectada em 43 (24,7%) animais, os oocistos de I. Suis foram identificados em 35 (20,1%) leitões, o rotavírus em 10 (5,7%) animais e o C. Parvum, em apenas um (0,6%).

No isolamento de 2 ou mais agentes, prevaleceu a associação I. suis e E. coli ETEC, estando presente em 19 (10,9%) leitões. As associações entre E. coli ETEC e rotavírus e, I. suis, rotavírus e C. parvum ocorreram com freqüências baixas, não ultrapassando 6% (Tabela 1).

Amostras de E. coli foram isoladas em todos os animais, entretanto apenas 40,2% (70/174) destes apresentaram amostras enterotoxigênicas (ETEC). As freqüências de E. coli ETEC conforme os genótipos para as enterotoxinas Sta, STb e LT estão contempladas na Tabela 2. Nenhuma das amostras isoladas apresentou genes codificadores para as verotoxinas pesquisadas (VT1, VT2 e VT2e).

Com relação a contaminação das propriedades, notou-se que a E. coli ETEC esteve presente em 85,7% (18/21), a I. suis em 76,2% (16/21) e o rotavírus em 47,6% (10/21). Estas porcentagens representam as somas das freqüências de um ou mais agentes por sistemas de produção. As freqüências de isolamento de um ou mais agentes por propriedade encontramse representadas na Tabela 3.

No que diz respeito a relação entre tipo de agente e a faixa etária, observou-se significância estatística apenas para infecção pela I. suis (P< 0,05) em leitões entre 8 a 14 dias de idade. O C. parvum não foi considerado nesse estudo por apresentar baixa freqüência nas amostras analisadas. As freqüências obtidas para a relação entre o tipo de agente e a idade encontram-se representadas na Tabela 4.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos, a E. coli ETEC destacou-se como agente mais freqüente, sendo diagnosticada em 40,2% (70/174) das amostras analisadas. MOON et al. (1999), em estudo realizado nos Estados Unidos utilizando a PCR para detecção de genes codificadores de enterotoxinas em E. coli, obteve resultado semelhante, notando 42% (227/539) de freqüência de E. coli ETEC em leitões lactentes. Estes dados diferem dos descritos por BLANCO et al. (1997) na Espanha, que valendo-se do mesmo procedimento técnico, obteve 20,2% (64/317) de casos positivos em leitões na fase de aleitamento.

No que diz respeito a freqüência de animais positivos para E. coli ETEC observou-se a ocorrência do genótipo STa+ em 25,7% (18/70) dos animais, STb+ em 21,5% (15/70), LT+ em 7,1% (5/70), STa+ STb+ em 4,3% (3/70), STb+LT+ em 34,3% (24/70) e STa+STb+LT+ em 7,1% (5/70). PARMA et al. (2000) relataram, em leitões com diarréia, freqüências superiores para E. coIi Sta+ (55,6%-20/36) e STa+STb+ (13,9%-5/36) e inferiores para E. coli STb+ (0,0%-0/36), LT+ (0,0%-0/36), STb+LT+ (22%-8/36) e STa+STb+LT+ (0%-0/36%).

Considerando-se a presença dos agentes nos sistemas de produção, E. coli ETEC destacou-se como o microrganismo mais freqüente, ocorrendo em 85,7% (18/21) dos plantéis estudados. Na literatura pesquisada não se observou relatos sobre a ocorrência de E .coli ETEC em sistemas de produção.

Nas amostras processadas não foram detectadas E. coli com genótipos relativos a produção de verotoxinas (VT1, VT2 e VT2e). Entretanto, PARMA et al. (2000) relataram a ocorrência de 5.6% (2/36) de E. coli com genótipo VT2e+STa+STb+ e 2,7% (1/36) de E. coli com genótipo VT2e+STa+.

Em relação a I. suis , verificou-se que 31,6 % (55/174) dos leitões examinados encontravam-se infectados pelo protozoário. SAYD & KAWAZOE (1996), em estudos realizados em sistemas de produção localizados no sudeste do Estado de São Paulo, obtiveram 24,3% (43/177) de leitões lactentes e desmamados infectados pelo agente. Apesar dos autores terem utilizado leitões em duas fases diferentes de crescimento, a freqüência verificada foi similar a encontrada neste estudo. ROSTAGNO et al. (1999), em Minas Gerais, apresentaram resultado inferior ao nosso, relatando 15% (30/200) de leitões lactentes positivos para oocistos de I. suis nas fezes. SANFORD (1983), no Canadá, utilizando o exame histopatológico como método diagnóstico, observou formas evolutivas do agente em 20,5 % (298/1453) de leitões neonatos. A utilização de técnicas distintas para a identificação deste agente pode ter interferido na diferença entre os resultados encontrados.

No que se refere a faixa etária, notou-se significância estatística para I. suis nos animais com idade entre 8 e 14 dias. Os dados obtidos foram pertinentes aos verificados por SANFORD (1983) e SAYD & KAWAZOE (1996) que evidenciaram respectivamente, as idades de 5 a 15 dias e 10 a 19 dias, como o período de maior ocorrência deste protozoário.

Nos 21 sistemas de produção avaliados, notou-se que 76,2 % (16/21) destes encontravam-se contaminados pela I. suis. Resultado semelhante foi descrito por SAYD & KAWAZOE (1996), que relataram 81,8% (27/ 33) de plantéis contaminados pelo microrganismo. Entretanto, o mesmo achado mostrou-se superior ao descrito por ROSTAGNO et al. (1999), que obtiveram uma freqüência de 42,5% (17/40) para a contaminação por este agente.

Tabela 1
Freqüência dos agentes etiológicos identificados, isoladamente ou em associação, nas fezes de leitões lactentes com diarréia procedentes de 21 sistemas de produção de suínos do Estado de. São Paulo, 1996 à 1997.
Tabela 2
Freqüência dos genótipos associados às enterotoxinas (Sta, STb, LT) para amostras de E. coli ETEC detectadas nas fezes de leitões lactentes com diarréia provenientes de 21 sistemas de produção de suínos do Estado de. São Paulo, 1996 à 1997.
Tabela 3
Freqüência dos agentes etiológicos nos 21 sistemas de produção de suínos do Estado de São Paulo, SP, 1996 à 1997.
Tabela 4
Freqüência do tipo de agente etiológico por faixa etária. São Paulo,1996 à 1997.

Embora o suíno seja uma das fontes de infecção de C. parvum para o homem, no presente estudo identificou-se os oocistos em apenas 2 amostras (1,2%), revelando a participação irrelevante deste microrganismo como causa de enterite em leitões, na região estudada. Estudo retrospectivo correspondente ao período de 1981 a 1985, realizado por SANFORD (1987), no Canadá, mostrou também uma ocorrência (5,3%184/3491) pouco significativa para o parasito.

Em relação a freqüência do rotavírus, notou-se a ocorrência de 10,9% (19/174) de leitões positivos. A freqüência obtida mostrou-se semelhante aos 13,6% (25/183) citados por FREITAS et al. (1991), em municípios dos estados do Paraná e São Paulo. Porém, estes achados mostraram-se inferiores aos descritos por DE SAN JUAN (1985) em leitões de granjas do leste do Estado de São Paulo e BERRIOS et al. (1989), no Chile, que obtiveram respectivamente, 22% (77/350) e 23% (23/ 100) de leitões positivos para rotavírus.

No que concerne a presença do rotavírus nos sistemas de produção, observou-se uma freqüência de 47,6% (10/21), a qual mostrou-se inferior ao descrito por DE SAN JUAN (1985) que detectaram 89,2% (17/ 19) de plantéis contaminados por este vírus.

A detecção de mais de um agente por amostra expressou uma ocorrência de 23,9% (28/117) e a de um único, 76,1% (89/117). Estes dados foram pertinentes aos descritos por FTIZGERALD et al. (1988) que relataram, nos Estados Unidos, 26,3% (39/148) de animais positivos para mais de um agente e 74% (109/148) para um único agente.

Considerando-se as freqüências obtidas para cada agente, a E. coli ETEC (40,2%-70/174) destacou-se como o microrganismo diagnosticado com maior freqüência, seguida pela I. suis (31,6%-55/174), pelo rotavírus (10,9%-19/174) e pelo C. parvum (1,2%-2/174). FTIZGRERALD et al. (1988) ressaltaram o rotavírus como o microrganismo predominante, conferindolhe uma ocorrência de 46% (68/148) e atribuíram a E. coli, ao vírus da TGE, a I. suis e ao C. perfringens as respectivas freqüências, 35,1% (52/148), 31% (46/ 148), 11% (16/148) e 10% (15/148).

Com base no estudo realizado pelos autores acima citados pôde-se notar que o vírus da TGE assumiu importância considerável como agente etiológico responsável pelas enterites em suínos. Em consulta a literatura pertinente ao assunto verificamos serem poucos os relatos a respeito da doença no Brasil. ROMERO et al. (1985), através da pesquisa de anticorpos neutralizantes para o vírus em 5859 reprodutores pertencentes a sistemas de produção de Santa Catarina, não verificaram animais soropositivos, demonstrando a ausência de infecção pelo vírus da TGE neste Estado. CAPELLARO et al. (1998) baseados nos sintomas e aspectos macroscópicos das alterações teciduais descreveram um surto de gastroenterite em 50 animais provenientes de criação de suínos no Município de Mairinque, SP. A identificação de partículas virais com características de coronavírus em amostras de fezes e intestinos ,submetidos a microscopia eletrônica, possibilitou aos pesquisadores atribuir a este agente a causa desta gastroenterite. Entretanto, no presente trabalho, não se observou animais com sintomatologia compatível com a infecção pelo vírus da TGE ou propriedades com histórico da doença.

A baixa ocorrência da gastroenterite transmissível no Brasil, talvez possa estar relacionada a grande sensibilidade do vírus ao calor, o que dificulta a sobrevivência do vírus em países de clima tropical (SAIF & WESLEY, 1992).

No que diz respeito a identificação de 2 ou mais agentes, observou-se que a E. coli e I. suis ocorreu em 10,9% das amostras analisadas, sobressaindo-se como a associação mais freqüente. Este resultado encontrase de acordo com o descrito por DRIESEN et al. (1993), que observaram uma porcentagem de 9,8% (113/1154) para a associação entre E. coli e I. suis.

O diagnóstico dos agentes relacionados as enterites, bem como a predominância de alguns destes por região, contribui para estabelecer o tratamento adequado e para instituir medidas de controle e prevenção da diarréia neonatal em leitões.

  • *
    Este trabalho é parte da Dissertação de Mestrado apresentado por Franco Ferraro Calderaro ao Departamento de Patologia , Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, financiado pela FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Jun 2001

Histórico

  • Recebido
    30 Jun 2000
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