RESUMO
Foi realizado um experimento de campo em cultura de jiló no município de Ribeirão Preto, SP, com o objetivo de comparar a eficiência dos ingredientes ativos thiamethoxam (ACTARA 250WG) e deltamethrin+triazophos (DELTAPHOS) com os ingredientes ativos utilizados pelo agricultor no controle da mosca-branca Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae). Os resultados obtidos indicam que o ingrediente ativo thiamethoxam pode ser recomendado como alternativa para o controle da mosca-branca em programas de manejo na cultura do jiló.
PALAVRAS-CHAVE: Bemisia tabaci biótipo B; controle químico, mosca-branca; Solanum gilo; thiamethoxam
ABSTRACT
The field experiment was carried out in Ribeirão Preto, SP, Brazil, in bitter egg-plant cultivations to compare the active ingredients thiamethoxam and deltamethrin+triazophos with the active ingredients utilized for the producer to control Bemisia tabaci (Gennadius, 1889) B-biotype (Hemiptera: Aleyrodidae). The results obtained indicated that the active ingredient thiamethoxam can be recommended to control of the whitheflies in management programs in the bither egg-plant cultivations.
KEY WORDS: Bemisia tabaci B-biotype; chemical control; Solanum gilo, thiamethoxam; whitheflies.
INTRODUÇÃO
No Brasil, a ocorrência de espécies de moscabranca em várias culturas e em plantas silvestres é registrada há muitos anos. Estes insetos são considerados pragas de importância econômica por atuarem como vetores de viroses (EICHELKRAUT & CARDONA, 1989; HILJE, 1999). COSTA et al. (1973) afirmam que, em 1963, 25 viroses tinham como vetor Bemisia tabaci. Na atualidade são conhecidas 70 diferentes viroses transmitidas pela mosca-branca em todo o mundo (BERLING et al., 1995). Segundo esses autores, a mosca-branca B. tabaci desenvolve-se em altas temperaturas, tem uma alta capacidade de adaptação em relação a mudanças climáticas e se multiplica em um grande número de hospedeiros. Dada esta combinação de características, esta espécie encontra-se disseminada por todo o mundo e é citada como praga de diversas culturas e de plantas ornamentais.
No verão dos anos de 1990/91 registrou-se um aumento populacional de mosca-branca em hortaliças e em plantas ornamentais no Estado de São Paulo. MELO (1992) alertou para a presença no país de um novo biótipo de B. tabaci, possivelmente introduzido através de plantas ornamentais importadas da Europa ou dos EUA. FRANÇA et al. (1993) registraram a presença desta espécie em culturas de repolho e de tomate no Distrito Federal e LOURENÇÃO & NAGAI (1994) registraram sua ocorrência nos municípios de Paulínia e Arthur Nogueira, no Estado de São Paulo, com severas infestações em diferentes hortaliças, em lavouras de tomate estaqueado e em plantas ornamentais. Em 1977, a ocorrência desta espécie foi registrada em regiões dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Bahia, Pernambuco, Ceará, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Tocantins, Rio de Janeiro e no Distrito Federal, tendo como principais hospedeiros: tomate, abóbora, melão, berinjela, brócolos, mandioca, melancia, feijão e pimentão, além de plantas ornamentais e silvestres (VILLAS BÔAS et al., 1997). Na tentativa de seu controle, dada a rápida dispersão e os grandes danos provocados por esta praga, observouse um aumento significativo na utilização de produtos químicos. HOROWITZ & ISHAAYA (1995) revisaram os trabalhos publicados nos 10 anos anteriores à data da publicação, relacionado-os à utilização de inseticidas no controle de Bemisia e constataram que, de forma geral, nos testes realizados em laboratório a maioria dos inseticidas convencionais apresentou maior eficiência no controle dos adultos que das fases jovens. Segundo estes autores, o mesmo não ocorreu em condições de campo e/ou de estufa, principalmente quando da ocorrência de altas infestações. Por outro lado, os produtos que não apresentam eficiência no controle de ninfas reduzem a população de adultos por um curto período. Sharaf apud HORWITZ & ISHAAYA (1995), cita mais de 50 inseticidas relacionados na literatura, até 1986, como eficientes no controle de populações de Bemisia, reduzindo a transmissão de vírus por esta praga. Aquele autor afirma ainda que os carbamatos eram os inseticidas mais eficientes no controle daquela praga, seguido pelos fosforados e piretróides. PARRELLA et al. (1992) relatam que diversas espécies de Bemisia tornaram-se altamente resistentes aos inseticidas comumente utilizados em seu controle, independentemente do sistema de cultivo utilizado ou da espécie botânica hospedeira. A partir da década de 1980 novos inseticidas, com diferentes modos de ação, foram desenvolvidos e utilizados no controle de Bemisia spp. apresentando boa eficiência sobre as fases jovens desta praga. No entanto, a utilização contínua destes novos produtos ocasionou o aparecimento de populações resistentes e tornou iminente a necessidade de medidas de controle baseadas nos conceitos de manejo de pragas. A resistência de espécies e biótipos de Bemisia a inseticidas é bastante documentada na literatura. BROWN et al. (1995) traçam um histórico desta resistência e afirmam que, somente a partir de meados da década de 1980 o estudo da resistência a inseticidas por biótipos passou a ser sistematizado. Recentemente um novo ingrediente ativo (i.a.), o thiamethoxam, um neonicotinoide, foi registrado para o controle de várias pragas, em diferentes culturas e, por suas características de seletividade, baixa toxidade, flexibilidade de uso e eficácia tornaram este i.a. uma nova ferramenta no manejo integrado de pragas, em particular no controle de insetos com grande capacidade de desenvolver populações resistentes a outros produtos.
Na cultura de jiló comumente ocorrem grandes infestações de mosca-branca, não existindo estudos direcionados para o controle daquela praga, o que leva o agricultor a utilizar produtos recomendados para outras hortaliças. Tendo em vista que resultados de pesquisas indicam a eficiência do thiamethoxam no controle de espécies de Bemisa, avaliou-se o uso de tal i.a. na cultura de jiló de acordo com as recomendações das práticas do manejo integrado de pragas.
MATERIAL E MÉTODOS
O ensaio foi desenvolvido, em Ribeirão Preto, SP, no período de 8/12/1999 a 11/01/2000. Comparouse o efeito do thiamethoxam no controle da moscabranca com os ingredientes ativos utilizados pelo agricultor. Os tratamentos utilizados foram: na área A: Actara 250WG (thiamethoxam) na dose de 20 g p.c./100 L de água alternado com Deltaphos (deltamethrin+triazophos) a 0,75 L/ha; na área B: Deltaphos a 0,75 L/ha alternado com Actara 250WG na dose de 20 g p.c./100 L de água e, na área C, o agricultor utilizou Confidor (imidacloprid), na dose de 30 g p.c./100 L de água alternado com Hamidop 600SC (metamidophos) na dose de 500 mL p.c./100 L de água + Sipcatim 500SC (hidróxido de triciclo-hexil estanho) 240 mL p.c./100 L de água.
As aplicações foram realizadas em 8 e 15 de dezembro de 1999. Nas áreas A e B, as aplicações foram realizadas com um pulverizador costal de pressão constante (CO2), munido de bico X3 e, na área C, com um pulverizador tratorizado munido de mangueira, com bico X3, fornecendo uma vazão de 1000 L de calda/ha.
Para as avaliações de adultos e de ninfas de mosca-branca cada uma das áreas foi dividida em cinco parcelas de 13 ruas x 6 m de comprimento, inteiramente casualizadas. Nas três áreas foram realizadas cinco avaliações: prévia e aos 2, 7, 19 e 33 dias após a primeira aplicação (DAP). Para o levantamento de adultos foi contado: a. número de adultos presentes na face inferior de 10 folhas/parcela (50 folhas/ tratamento); b. número de adultos capturados em cinco armadilhas “CC trap” (CHU & HENNEBERRY, 1998) (Fig. 1) distribuídas ao acaso pela área, cada uma delas instalada acima de uma planta e que permaneceram no campo por 48 horas, e c. número de adultos aderidos aos seis quadrados centrais da “tábua de batidas” (Fig. 2), em dois pontos/parcela, amostrados batendo-se a planta sobre a mesma (10 plantas/área). Foi contado o número de adultos aderidos aos seis quadrados centrais, o que corresponde ao número de adultos coletados em 54 cm2.
A “tábua de batidas” foi confeccionada com um retângulo de plástico de 24 cm de comprimento x 19 cm de largura, pintado com fundo de pintura automotiva, na coloração cinza-claro, dividida em 24 quadrados de três cm de lado, pintados na cor preta. Este aparato foi adaptado pelos autores do presente artigo a partir da bandeja adesiva descrita por SERRA (1996). Para a aderência dos adultos da mosca-branca a superfície da “tábua de batidas” foi besuntada com óleo de cozinha.
Sumário das análises estatísticas das médias de adultos e ninfas da mosca branca, Bemisia tabaci biótipo B no ensaio comparativo do efeito do thiamethoxam com produtos utilizados pelo agricultor, em Ribeirão Preto, SP, 1999.
Para a avaliação das ninfas foram coletadas 10 folhas ao acaso do terço médio das plantas/parcela, totalizando 50 folhas/tratamento. No campo, as folhas foram acondicionadas em sacos de papel e transportadas ao laboratório onde, de cada uma foi retirada, com o auxílio de um vazador de 1,6 cm de diâmetro, duas amostras de 4 cm2 da região próxima a nervura principal. Essas amostras foram analisadas sob microscópio estereoscópico, anotando-se o número de ninfas vivas.
Os resultados obtidos foram analisados pelo teste de significância F e as médias comparadas pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de probabilidade.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos durante o transcorrer do experimento estão sumarizados na Tabela 1 onde se pode constatar que, durante o período amostrado, não ocorreram diferenças significativas na flutuação populacional da praga nas três áreas. Resultados semelhantes foram obtidos por BLEICHER et al. (1999) que utilizaram o i.a. thiamethoxam alternado com outros produtos, na redução da população de mosca-branca na cultura do melão. O resultado obtido nos permite afirmar que os tratamentos testados mantiveram a população da praga alvo em baixos níveis, quando comparado àquele realizado pelo agricultor (Figs. 3 e 4).
Observou-se, após a segunda aplicação de thiamethoxam e deltamethrin+triazophos uma grande redução na incidência de adultos de Bemisia tabaci biótipo B, quando comparada com aquela existente no início do experimento (Fig. 3). Fato semelhante ocorreu para a população de ninfas onde os ingredientes ativos avaliados foram mais eficientes que aqueles utilizados pelo agricultor (Fig. 4). Sete dias após a primeira aplicação de thiamethoxam e deltamethrin +triazophos observou-se sensível redução da população de ninfas de mosca-branca, enquanto que o tratamento utilizado pelo agricultor foi menos eficiente, o que permitiu o aumento da população da praga em relação a sua população inicial.
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos no presente estudo mostram que o i. a. thiamethoxam pode ser recomendado como alternativa de controle químico de B. tabaci biótipo B em programas de manejo de pragas para a cultura de jiló.
Armadilha, tipo CC trap, utilizada nos levantamentos de adultos da mosca-branca Bemisia tabaci biótipo B, em Ribeirão Preto, SP, 1999.
“Tábua-de-batidas” utilizada nos levantamentos de adultos da mosca branca, Bemisia tabaci biótipo B, em Ribeirão Preto, SP, 1999.
Flutuação de adultos da mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo B, no ensaio realizado em cultura de jiló, em Ribeirão Preto, SP, 1999. As datas de aplicação estão indicadas por setas.
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
07 Out 2024 -
Data do Fascículo
Jul-Dec 2001
Histórico
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Recebido
11 Dez 2000 -
Aceito
07 Fev 2002