PATOLOGIAS EM RÃ-TOURO (RANA CATESBEIANA, SHAW, 1802). PRIMEIRA REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA BRASILEIRA

FIRST REVISION OF THE BRAZILIAN LITERATURE ON BULLFROG (RANA CATESBEIANA SHAW, 1802 ) PATHOLOGY

RESUMO

As comunicações, referendadas no Brasil, sobre processos patológicos na rã-touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802) tiveram início a partir da década de 80, sendo que a sua grande maioria ocorreu na década de 90. Antes disto, as esparsas comunicações apresentavam um aspecto geral dos processos patológicos, situação que permaneceu até a metade dos anos 80, quando, a partir de 1984, começaram a ser relatados os casos patológicos decorrentes de vários processo. O progresso na área decorreu principalmente a partir daquela década, ao fato de que a ranicultura não mais se comportava como “criação empírica”, passando a tomar a forma de uma “criação organizada, moderna, zootecnicamente acompanhada e comercial”. Paralelamente iniciavam-se os Encontros Nacionais de Ranicultura (bienais) e a organização de Associações de Criadores. A partir dessa mudança, qualquer caso de doença/mortalidade refletia-se como sério prejuízo ao criador que passou a procurar instituições de pesquisa, de ensino e de fomento, para um diagnóstico e para saber quais medidas de controle, prevenção e tratamento deveriam ser tomadas. Foram localizados 127 documentos, sendo 36 sobre bacteriologia; 25 de sanidade geral; 23 de parasitologia; 17 de patologias diversas; 12 de fungos; 5 sobre água; 3 de vírus; 3 referências; 2 sobre tratamento e 1 sobre predadores. O período compreendido foi de 1947 (a primeira) até 2001.

PALAVRAS-CHAVE:
Rã-touro; Rana catesbeiana; patologias; doenças; revisão; Brasil.

ABSTRACT

The published literature in Brazil on pathological processes in bullfrogs (Rana catesbeiana Shaw, 1802) began in the 1980s, though most of it was published in the 90s. Before this, communications were scarce and were concerned with general aspects of pathology. This situation began to change in 1984, with communications focused on specific issues. This change was due to the fact that growers were moving away from the former empirically based methods to develop modern and commercial organizations with scientific orientation, as well as the advent of the National Meeting of Frogfbreeding, held every 2 years, and the organization of Frogbreeder Associations. From this point on, any case of disease/mortality became a serious problem to farmers and the solution involved various research institutions and universities, as well developmental agencies in diagnosis, control prevention and treatment of bullfrog diseases. A total of 127 documents were compiled, 36 concerning bacteriology; 25 general health; 23 parasitology; 17 on distinct pathological processes; 12 on micology; 5 concerning water; 3 on viruses; 3 references; 2 concerning treatments and 1 about predator. The period was from 1947 (first) until 2001.

KEY WORDS:
Bullfrog; Rana catesbeiana; pathology; diseases; review; Brazil.

A intenção desta revisão comentada, é de procurar conhecer o que existe divulgado, nas suas mais diferentes formas como artigos científicos, artigos de divulgação, resumos de congressos, em livros, apostilas, manuais, revistas técnicas e leigas e bem como outros tipos de apresentações publicadas, sobre patologia em ranicultura. De um modo abrangente, sob este termo “patologia” foram agrupadas informações genéricas sobre sanidade, controle sanitário e doenças, além de comunicações especificas sobre ocorrências de processos patológicos e revisões menores.

Acrescente-se termos como finalidade, em uma única fonte, as matérias publicadas e divulgadas que certamente facilitarão quando da necessidade de uma referência nacional bem como do conhecimento atual das atividades sobre as patologias da rã-touro Rana catesbeiana em nosso meio.

Percebe-se que, em sua maioria, são comunicados efêmeros, ou seja, casos únicos que foram apresentados aproveitando-se de um caso inédito ou diferente, além de um evento para a sua divulgação, não tendo continuidade, tanto do caso, como do grupo de autores envolvidos com a notificação. Acredita-se que esses não estejam envolvidos diretamente com patologias destes animais, diferentemente de outros grupos de autores e co-autores, que apresentam inúmeros casos, decorrentes de uma constante atividade neste campo.

Muitas destas comunicações referem-se a um mesmo caso apresentado em vários eventos, que resultam em artigos científicos decorrentes dessas apresentações. Isto é louvável pois procura-se divulgar ao máximo tais situações patológicas e a publicação na integra de um artigo decorrente de resumo. Por outro lado, estas situações resultam um grande volume de notificações apesar de serem em número bem menor.

A primeira divulgação recuperada até o momento e que cita problemas sanitários foi em 1947, ao relacionar a qualidade da água com a sanidade da criação. Depois desta, caiu-se num vazio de informações e que pudessem ser localizadas. Em 1981, com a realização do 2º Encontro Nacional de Ranicultores divulgaram-se os primeiros resumos sobre patologias da rãtouro. A partir do 3º Encontro em 1984 e de Teses Acadêmicas em 1985, tornou-se uma constante a presença de resumos sobre patologias nos mais diversos eventos nacionais e internacionais. A revisão chegou até o ano de 2001.

Cabe aqui destacarmos que um único caso de patologia em rãs brasileiras foi divulgado por autores estrangeiros, em 1983. A partir desta data o Brasil tornou-se auto-suficiente com a formação de equipes de trabalhos que atendiam nas mais diversas áreas de patologia não necessitando, portanto, da presença de especialistas estrangeiros.

Tais equipes foram formadas devido às necessidades de estudos, pesquisas, diagnósticos e fomento em vista do progressivo crescimento da ranicultura a partir da metade dos anos oitenta. Estas equipes passaram a se preocupar com a divulgação dos casos e, em 1984, já se apresentou trabalho completo em evento, não mais como um simples resumo. As primeiras divulgações como artigo científico, só surgiram em 1988. Isto mostra o quanto somos neófitos em relação à divulgação científica dos processos patológicos em rã-touro. Atualmente, isto já é uma constante como forma de divulgação, porém a divulgação em eventos continua ser predominante.

Revisões menores, como complemento ao tema apresentado, foram feitas anteriormente mostrando uma preocupação em se ter uma fonte de dados, sendo a primeira em 1994, e as outras em 1996 e 2000. Espera-se que esta seja a mais abrangente e completa até a presente data.

Outro ponto que deve ser destacado é a insignificante presença, ou mesmo ausência, de nossas referências em listas bibliográficas estrangeiras, e nas fontes nacionais a presença de artigos é também diminuta. Isto decorre da falta de alimentação destes bancos de dados com as referências brasileiras.

O grande número de documentos com aspecto de material informativo, divulgação e apostilas de cursos decorre devido a patologia na ranicultura ser considerada de um modo superficial ou somente como informação secundária. Acredita-se que deveriam ocorrer poucos casos de graves patologias ou o que é pior: não se conhecia, ainda, o verdadeiro desfrute que a criação poderia alcançar em vista da aceitação geral de que altos índices de mortalidade seriam normais. Com o desenvolvimento desta atividade zootécnica, o número de animais alojados aumentou consideravelmente e conseqüentemente manifestações graves de processos patológicos começaram ocorrer, além do aspecto comercial do empreendimento, onde o lucro somente proviria da sobrevida dos animais. Isto começou preocupar o criador organizado. Com o engajamento de instituições de pesquisa e de ensino superior, o assunto passou a ser visto em seu aspecto científico, que resultou no aumento das publicações neste formato.

A seguir são apresentadas as referências encontradas, em ordem alfabética. Foram catalogadas e divididas por assuntos de acordo com sua maior prevalência, assim: bacteriologia; sanidade geral; parasitologia; patologias diversas; fungos; qualidade da água; vírus e referências; tratamento e predador.

O maior número de documentos referentes à bacteriologia deve-se, certamente ao fato de ser uma constante a presença de agentes bacterianos tanto em rãs doentes quanto em seu meio ambiente. Por serem oportunistas tais procariontes manifestam-se na queda da resistência orgânica do animal, sendo muitas vezes responsáveis pela sua morte. Hoje procura-se conhecer as causas predisponentes à invasão bacteriana tais como, erros tanto no manejo alimentar quanto sanitário. Devido a esta nova postura, a presença bacteriana atualmente é pouco relatada, sendo os artigos voltados mais para os fatores desencadeantes.

Durante vários anos, divulgavam-se nas referências informativas, por vezes até compiladas de fontes estrangeiras, somente um agente bacteriano (Aeromonas hydrophila), sendo que no avanço dos trabalhos, além do mesmo, outros agentes foram encontrados. Quanto ao tratamento da presença bacteriana, na maioria das divulgações encontradas, o resultado sempre foi duvidoso.

Fica aberto um caminho para uma revisão futura com a incorporação de novos documentos e de outros apresentados e divulgados, que acreditamos existir, e que não puderam ser presentemente localizados, mas que serão de alguma forma lembradas pelos seus autores.

REFERÊNCIAS LOCALIZADAS

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Patologias diversas:

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• HIPOLITO, M.; BALDASSI, L.; CALIL, E.M.B.; MOULIN, A.A.P.; MACRUZ, R. Nódulos com depósito de cálcio em girinos e imagos de rã-touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802). Bol. Inst. Pesca, v.22, n.2, p.121-127, 1995.
• HIPOLITO, M.; BALDASSI,L.; MOULIN, A.A.P.; PORTUGAL, M.A.S.C.; CALIL, E.M.B. Processos obstrutivos intestinais em rãs touro, Rana catesbeiana, causada por corpo estranho e por invaginação intestinal. In: ENCONTRO NACIONAL DE RANICULTURA, 8. & INTERNATIONAL MEETING ON FROG RESEARCH AND TECHNOLOGY, 1., 1995, Viçosa. Anais. Viçosa: ABETRA, 1995. v. 2, p. 19.
• HIPOLITO, M.; FERREIRA, C.M.; MACRUZ, R.; MARTINS, A.C.R.P.F.; BACH, E.E. Petéquias hemorrágicas em musculatura de rã-touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802). In: ENCONTRO BRASILEIRO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS, 6. & ENCONTRO LATINOAMERICANO DE PATOLOGISTAS DE ORG. AQUÁTICOS, 2., 2000, Florianópolis. Resumos. Florianópolis: ABRAPOA, 2000. p. 224
• HIPOLITO, M. & LEME, M.C.M. Lesões anátomohistopatológicas causadas por intoxicação em rãstouro (Rana catesbeiana Shaw, 1802). In: REUNIÃO ANUAL DO INSTITUTO BIOLÓGICO, 9., 1996, São Paulo. Resumos. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v. 63, p. 29, 1996. Suplemento.
• HIPOLITO, M. & LEME, M.C.M. Lesões anátomohistopatológicas em rãs-touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802) associadas à deterioração da ração. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS, 5. & ENCONTRO LATINOAMERICANO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS, 1., 1998, Maringá. Resumos. Maringá: ABRAPOA, 1998. p. 73.
• HIPOLITO, M.; LEME, M.C.M.; BACH, E.E. Lesões anátomohistopatológicas em rãs-touro (Rana catesbeiana, Shaw, 1802) associadas à deterioração da ração. Arq.Inst.Biol., São Paulo, v.68, n.1 , p.11-114, 2001. Disponível em: <http://www.biologico.br/arquivos/v68>. (Acesso em setembro de 2001).
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• HIPOLITO, M.; MOULIN, A.A.P.; CALIL, E.M.B.; BALDASSI, L.; PORTUGAL, M.A.S.C. Processos obstrutivos intestinais, por causas variadas, em rãs-touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802 ) de criações comerciais no Estado de São Paulo, Brasil. Arq.Inst.Biol., São Paulo, v.65, n.2, p.103110, 1998.
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Qualidade da água:

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• MAIORINO, F.C.; HOGE, A.Y.A.; FIORIO, W.A.B.; RAMOS, M.C.C. Introdução de medidas corretivas em criação de girinos de rãs-touro gigante (Rana catesbeiana Shaw, 1802) com alta mortalidade. In: ENCONTRO NACIONAL DE RANICULTURA, 9. & INTERNATIONAL MEETING ON FROG RESEARCH AND TECHNOLOGY, 2., 1997, Santos. Anais. Santos: ABETRA/ABCR, 1997. p. 215.

Vírus:

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• HIPOLITO, M.; CATROXO, M.H.B.; CURI, N.A. Detecção ao microscópio eletrônico de transmissão de partículas virais semelhantes ao grupo herpes e ao grupo toga em fígado e líquido ascítico de rã-touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802). In: ENCONTRO NACIONAL DE RANICULTURA, 10., 1999, São Miguel do Iguaçu. Anais. São Miguel do Iguaçu: ABETRA/APARÃ, 1999. p.8.
• HIPOLITO, M.; CATROXO, M.H.B.;CURI, N.A.; BACH, E.E. Detecção ao microscópio eletrônico de transmissão de partículas virais semelhantes ao grupo paramixovírus em girinos de rã-touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802). In: ENCONTRO BRASILEIRO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS, 6. & ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE PATOLOGISTAS DE ORG. AQUÁTICOS, 2., 2000, Florianópolis. Resumos. Florianópolis: ABRAPOA, 2000. p.223.

Referências:

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• SOUZA, C.W.O.; SOUZA JÚNIOR, F.L.; ALBINATI, F.L.; MAGALHÃES, H.; REIS, J.H.; HIPOLITO, M.; MARTINS, M.L.; GUIMARÃES, N.D.; SILVA, N.R. Grupo IV: Sanidade. In: LIMA, S.L.; FIGUEIREDO, M.R.C.; MOURA, O.M. (Eds.) Diagnóstico da ranicultura: problemas, propostas de soluções e pesquisas prioritárias. Viçosa: ABETRA, 1994. p. 41-47.
• SOUZA JÚNIOR, F.L.; MARTINS, M.L.; HIPOLITO, M. Anfíbios. In: DELUCA, R.R.; ALEXANDRE, S.R.; MARQUES, T.; SOUZA, N.L.; MERUSSE, J.L.B.; NEVES, S.P. (Eds.). Manual para técnicos em bioterismo. São Paulo: COBEA, 1996. p.239-259.

Tratamento:

• FERREIRA, C.M. & ARAÚJO, M.V.F. Utilização de substâncias profiláticas no tratamento de fungos em girinos de Rana catesbeiana. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS, 5. & ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS, 1., 1998, Maringá. Resumos. Maringá: ABRAPOA, 1998. p. 59.
• GUEDES, J.R.P.; ARENALES, M.C.; FERREIRA, C.M. Utilização de medicamentos homeopáticos na criação de rãs. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS, 5. & ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS, 1., 1998, Maringá. Resumos. Maringá: ABRAPOA, 1998. p. 57.

Predador:

• MARINHO, A.C. Folidol no controle de larvas de odonatas em tanques de crescimento de girinos. In: ENCONTRO NACIONAL DE RANICULTURA, 6., 1988, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: ARERJ, 1988. p. 354.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  16 Set 2024
• Data do Fascículo
  Apr-Jun 2002

Histórico

• Recebido
  19 Nov 2001
• Aceito
  01 Fev 2002