OCORRÊNCIA DE ACERIA GUERRERONIS KEIFER E STENEOTARSONEMUS FURCATUS DE LEON (ACARI: ERIOPHYIDAE; TARSONEMIDAE) EM COQUEIRO NA REGIÃO DO VALE DO RIO DOCE

OCCURRENCE OF ACERIA GUERRERONIS KEIFER ANDSTENEOTARSONEMUS FURCATUS (ACARI: ERIOPHYIDAE; TARSONEMIDAE) IN COCONUT CROPS IN THE VALE DO RIO DOCE REGION, BRAZIL

RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo identificar as espécies de ácaro encontradas em frutos de coqueiro (Cocus nucifera) (Arecaceae) na região do Vale do Rio Doce, leste do Estado de Minas Gerais. As coletas de frutos de coqueiro foram realizadas no período de março de 2002 a outubro de 2003, em 42 propriedades agrícolas. Duas espécies de ácaro foram registradas: Aceria guerreronis Keifer (Acari: Eriophyidae) e Steneotarsonemus furcatus De Leon (Acari: Tarsonemidae). Este é o primeiro registro de A. guerreronis e S. furcatus na Região do Vale do Rio Doce.

PALAVRAS-CHAVE
Prostigmata; fitófagos; ácaros; pragas; Cocus nucifera

ABSTRACT

This work was carried out to identify the mite species on coconut fruits (Cocus nucifera) (Arecaceae) in the Vale do Rio Doce region, eastern Minas Gerais State, Brazil. Sampling of fruits was made from March of 2002 to October of 2003, on 42 farms. Two species of mites were found: Aceria guerreronis Keifer (Eriophyidae) and Steneotarsonemus furcatus De Leon (Tarsonemidae). This is the first report of A. guerreironis and S. furcatus in the Vale do Rio Doce region.

KEY WORDS
Prostigmata; phytophagous; mites; pests; Cocus nucifera

Diversas espécies de artrópodes-praga estão associadas à cultura do coqueiro (Cocus nucifera L.) no Brasil, variando de 16 a 22 espécies, entre insetos e ácaros, nas diferentes regiões produtoras do país (FERREIRA et al., 1988; SILVA, 2000; GALLO et al., 2002). A severidade das injúrias provocadas por essas espécies é variável em função das condições edafoclimáticas da região de cultivo e dos fatores bióticos que atuam sobre as populações dessas pragas.

Dentre os ácaros encontrados neste cultivo, Aceria guerreronis Keifer (Eriophyidae) é a mais nociva, estando diretamente relacionada à necrose e queda dos frutos, sendo relatada como séria praga do coqueiro em grande parte dos países onde a cocoicultura é importante. A primeira ocorrência deste ácaro foi registrada no Estado de Guerrero, México, em 1965, e hoje o mesmo encontra-se disseminado em vários países da América, África e Ásia (Índia e Sri Lanka) (SATHIAMMA et al., 1998; FERNANDO et al., 2000; VARADARAJAN; DAVID, 2002).

No Brasil, foi citado pela primeira vez em 1965, no Rio de Janeiro (ROBBS; PERACCHI, 1965), podendo hoje ser observado na maioria das áreas onde o coqueiro é cultivado. A. guerreronis constitui-se em um dos mais sérios problemas para a cultura do coqueiro no Vale do São Francisco, especialmente no pólo de Juazeiro, BA, e Petrolina, PE (ALENCAR et al., 1999). Nos frutos, a presença de A. guerreronis pode ser notada pelas estrias ou necroses longitudinais partindo do perianto do coco, podendo em altas infestações, causar significativa diminuição no tamanho do fruto e do albume, bem como no rendimento da copra (KANNAIYAN et al., 2002).

O ácaro Steneotarsonemus furcatus De Leon (Tarsonemidae), da mesma forma que A. guerreronis, causa descoloração da superfície dos frutos, que progride para fendilhamento longitudinal e transversal em finas bandas necróticas, estabelecendo colônias sobre a epiderme, entre as pétalas florais e o carpelo (NÁVIA et al., 2005). Esta espécie foi observada pela primeira vez em plantas de Paspalum sp. (DE LEON, 1956) e segundo OCHOA et al. (1991) causa dano expressivo na Ilha do Espírito Santo, em El Salvador. A ocorrência dessa espécie na cultura do coqueiro, também foi observada na Costa Rica e na Venezuela (SMILEY et al., 1993). No Brasil, S. furcatus foi relatado pela primeira vez no Estado de Pernambuco (GONDIM JUNIOR; OLIVEIRA, 2001) e, posteriormente, em várias amostras de coco de Alagoas, Minas Gerais (Janaúba), Rio de Janeiro e Sergipe (NÁVIA et al., 2005).

Na Região do Vale do Rio Doce (leste mineiro), a cocoicultura vem se expandindo, visando, principalmente, a produção e exploração do coco verde. O clima e o solo da região são fatores favoráveis ao bom desenvolvimento da cultura, tornando-a uma alternativa de renda em áreas onde antes era explorada apenas a pecuária extensiva, principal atividade econômica da região. Com esta expansão, problemas fitossanitários têm sido evidenciados e, considerando a carência de informações nesta área, realizou-se este trabalho com o objetivo de constatar a ocorrência de ácaros associados aos frutos do coqueiro na região do Vale do Rio Doce.

A avaliação ocorreu de março de 2002 a outubro de 2003, sendo realizada por meio de amostragens de frutos em 42 propriedades agrícolas de 17 municípios. Cada área amostrada foi percorrida em ziguezague, vasculhando-se plantas ao acaso e coletandose frutos de diferentes tamanhos, preferencialmente aqueles que apresentavam sintomas de ataque do ácaro da necrose. Os frutos coletados foram levados ao laboratório onde se procedeu à retirada das brácteas, coleta dos ácaros e sua montagem em lâminas para posterior identificação específica.

O sintoma de necrose dos frutos, injúria característica do ataque de A. guerreronis, foi observado em praticamente todas as propriedades visitadas; no entanto, a presença do ácaro foi registrada em apenas algumas propriedades do Município de Governador Valadares. Relacionou-se esse fato ao método de amostragem, em que foram coletados frutos de diferentes tamanhos e com sintoma de necrose. Frutos necrosados, em estágios mais avançados de desenvolvimento, podem já não mais conter os ácaros. Registrou-se, também, a ocorrência da espécie S. furcatus, mas, neste caso, apenas em frutos coletados na área experimental da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE), em Governador Valadares. Nessa área, realizou-se um acompanhamento periódico e observou-se que as duas espécies de ácaros ocorreram de forma isolada ou associada, sendo que A.guerreronis foi encontrado com maior freqüência nos frutos mais jovens, com ausência ou apresentando início do sintoma de necrose. A espécie S. furcatus, por sua vez, foi observada nos frutos em fase mais avançada de desenvolvimento (ainda jovens), mas em sua maioria já com sintoma de necrose.

Ambas as espécies, podem ser categorizadas apenas como pragas potenciais, pois a associação com a cultura não tem exigido medidas de controle.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, pelo apoio financeiro e concessão de bolsa de iniciação científica ao segundo autor. Ao Instituto Mineiro de Agropecuária – IMA, ea Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais – EMATER-MG, peladisponibilização de informações e pelo apoio nas visitas às propriedades da região. A Antônio Carlos Lofego, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo - USP, pela identificação dos ácaros Tarsonemidae.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Jan 2022
• Data do Fascículo
  Jan-Mar 2007

Histórico

• Recebido
  01 Ago 2006
• Aceito
  30 Mar 2007