Open-access EFEITO DE AGROTÓXICOS UTILIZADOS NA CULTURA DA GOIABA SOBRE O FUNGO ENTOMOPATOGÊNICO BEAUVERIA BASSIANA (BALS.) VUILL.

EFFECT OF PESTICIDES USED IN GUAVA CROPS ON THE ENTOMOPATHOGENIC FUNGUS BEAUVERIA BASSIANA (BALS.) VUILL

RESUMO

O efeito de oito inseticidas e doze fungicidas, utilizados na cultura da goiaba, foi avaliado sobre o fungo Beauveria bassiana sob condições in vitro e de semi-campo. Em laboratório, o efeito foi verificado misturando-se os agrotóxicos ao meio de cultura BDA, nas concentrações recomendadas, e os parâmetros avaliados foram o diâmetro médio das colônias, o número de conídios produzidos e a virulência sobre Galleria mellonella. Em condições de semi-campo, preparações dos produtos químicos e do entomopatógeno foram pulverizadas em mudas de goiaba de três diferentes formas, a saber: primeiramente os produtos químicos e depois o fungo; primeiro o fungo e posteriormente o produto químico e os dois simultaneamente. Após a aplicação, folhas foram coletadas e lavadas obtendo-se uma suspensão que foi plaqueada em BDA para avaliação da esporulação, viabilidade e virulência dos conídios dos fungos. Os resultados mostraram que, in vitro, somente o inseticida Actara 250 WG foi compatível com o fungo e os demais produtos foram classificados como moderadamente compatível, tóxicos e muito tóxicos. Para os testes de semicampo, a forma de aplicação interferiu no desenvolvimento do fungo e, além disso, Cuprozeb PM, Manzate 800 PM e Cerconil PM não afetaram o entomopatógeno em nenhum dos parâmetros avaliados, portanto são indicados para serem utilizados num programa de manejo integrado de pragas. Nos testes de virulência, os conídios não tiveram sua viabilidade afetada, mostrando-se patogênicos a traça-dos-favos, G. mellonella.

PALAVRAS-CHAVE Controle microbiano; compatibilidade; inseticida; fungicida; controle integrado

ABSTRACT

The effect of 8 insecticides and 12 fungicides used in guava crops was evaluated on the fungus Beauveria bassianain vitro and under semi-field conditions. The effect in the laboratory was verified adding pesticides to the PDA media, according to the recommended concentrations and evaluating the parameters of mean diameter of colonies, the number of conidia produced and the virulence on the Galleria mellonella. For the semi-field tests, the suspensions of the chemical products and of the fungi were sprayed on guava plants in three different ways: a) the fungi were sprayed on after the spraying of the chemical products; b) chemical products were sprayed on after the spraying of the fungi; c) chemical products and fungi were sprayed on all together. Subsequently, leaves were collected and washed to obtain a suspension that was transferred to PDA medium to evaluate the sporulation, viability and virulence of the fungus. The results sowed that: in vitro, only the Actara 250 WG was compatible with the fungus, the other products being classified as moderately compatible, toxic and very toxic. For the semifield tests, the manner of implementation interfered in the development of the fungus, and Cuprozeb PM, Manzate 800 PM and Cerconil PM did not affect the entomopathogen in any of the parameters measured, so are indicated for use in a program of integrated pest management. In tests of virulence, the viability of the conidia was not affected, the fungus being pathogenic to G. mellonella.

KEY WORDS Microbial control; compatibility; insecticide; fungicide; integrated control

INTRODUÇÃO

A goiabicultura hoje encontra-se amplamente espalhada pelas regiões tropicais e subtropicais do globo e, como outras culturas, também é ameaçada por diferentes problemas fitossanitários, como perdas por doenças e ataques de pragas. Estes problemas destacam-se por diferentes intensidades e importância à produção, desde manchas nos frutos à erradicação completa do pomar. O controle de pragas na cultura vem sendo efetuado através de métodos culturais, químicos e biológicos associados, no contexto do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e da Produção Integrada de Frutas (PIF-Goiaba) (SOUZA FILHO; COSTA, 2003; PIZA JUNIOR, 2003), que é um sistema de produção econômica de frutas de alta qualidade, obtida prioritariamente com métodos ecologicamente mais seguros, minimizando os efeitos colaterais indesejáveis do uso de agroquímicos, para aumentar a proteção do meio ambiente e da saúde humana (PIZA JUNIOR, 2003).

Com o surgimento de populações de pragas resistentes a inseticidas químicos, e à dificuldade destes produtos alcançarem efetivamente o alvo, tem-se reduzido a eficiência do controle químico, destacando assim a importância de outros métodos no controle destas pragas, como o controle biológico. Portanto, dentre os agentes biológicos de controle, os fungos são de extrema importância e o gênero Beauveria, segundo MAC LEOD (1954), é o mais comumente encontrado em insetos mortos no ambiente natural.

A espécie Beauveriabassiana é um patógeno amplamente estudado como agente de controle biológico para muitas espécies de insetos pragas, podendo ocorrer em lepidópteros, coleópteros, hemípteros, dípteros, himenópteros e ortópteros. Este fungo tornou-se conhecido internacionalmente pelo produto Boverin, formulado e utilizado em grande escala pela ex-União Soviética em 1970, para o controle do besouro do Colorado, Leptinotarsa decemlineata (SAMSINAKOVA, 1966; IGNOFFO, 1975).

No Brasil, um dos principais projetos envolvendo este fungo visa o controle dos cupins das pastagens e surgiu como uma alternativa eficiente, ecológica e econômica para a solução do problema desta praga. Segundo ALVES et al. (1998), depois de um a dois meses, a eficiência do controle pode chegar a 100% para ninhos pequenos com a aplicação de 3 a 6 g de conídios puros. Além disso, este fungo também vem sendo estudado no controle da broca-dabananeira, broca-do-café, cascudinho dos aviários, entre outros.

Assim, acredita-se que a possibilidade de sucesso em programas de controle biológico esteja diretamente relacionada ao conhecimento dos inimigos naturais associados à praga, permitindo o planejamento de estratégias para manutenção, incremento, ou criação e liberação destes organismos, a fim de reduzir a densidade da população da praga, com a exploração do potencial de agentes nativos e exóticos de controle biológico.

O objetivo desta pesquisa foi avaliar o desenvolvimento do fungo entomopatogênico, B. bassiana, sob a ação dos agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba, em condições de laboratório e semi-campo, visando a escolha de produtos seletivos que possam ser utilizados em associação com o entomopatógeno.

MATERIAL E MÉTODOS

Os ensaios de compatibilidade em laboratório e em semi-campo foram realizados em etapas devido à elevada quantidade de produtos a serem testados, ao número de repetições, quantidade de material e insetos disponíveis e, por fim, para o melhor desenvolvimento das avaliações.

Experimento de laboratório

Foi avaliado o efeito in vitro de 20 agrotóxicos (8 inseticidas e 12 fungicidas), utilizados na cultura da goiaba, sobre o fungo B. bassiana (IBCB 66), proveniente da Coleção de Microrganismos Entomopatogênicos “Oldemar Cardim Abreu” do Laboratório de Controle Biológico do Instituto Biológico. Foi observado o efeito sobre o crescimento vegetativo, conidiogênese e viabilidade dos fungos na presença dos produtos analisados, além da sua virulência sobre Galleria mellonella, traça-dos-favos.

A adição dos agrotóxicos em 200 mL de meio de cultura BDA foi feita nas concentrações recomendadas pelo fabricante, com ele ainda líquido, a uma temperatura próxima a 40º C (Tabela 1). Em seguida, o meio foi vertido em placas de Petri de 9cm de diâmetro, devidamente esterilizadas, sendo preparadas 3 placas por tratamento e a inoculação realizada em três pontos eqüidistantes por placa, totalizando 9 colônias de fungo, das quais 6 foram aleatoriamente apontadas como sendo as repetições por tratamento. O tratamento testemunha foi representado pelo meio de cultura sem a adição dos produtos.

Tabela 1
Agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba para o controle de pragas e doenças.

Após a inoculação dos fungos, as placas foram incubadas em câmaras tipo B.O.D. 25 ± 1º C e fotofase de 12 horas, por um período de 15 dias. Após esse período, foi realizada a medição do diâmetro médio das colônias, através de uma régua comum para avaliação do crescimento vegetativo. Em seguida, para avaliação da conidiogênese, essas colônias foram retiradas das placas, juntamente com o meio de cultura, e transferidas para tubos de ensaio contendo 10 mL de água destilada e esterilizada mais espalhante adesivo (Tween 80®) a 0,1%. Para promover a desagregação dos conídios do meio de cultura seguiu-se vigorosa agitação, em um agitador de tubos, sendo então feita a contagem do número de conídios em câmara de Neubauer.

Para avaliação da viabilidade dos fungos, foi repicado 0,1 mL da suspensão fúngica original em 2 placas contendo o meio BDA + antibiótico para cada tratamento, sendo este volume espalhado com uma alça de Drigalsky. As placas foram mantidas por 16 horas em B.O.D. nas mesmas condições já descritas. Após este período, contaram-se os conídios germinados e não germinados, estabelecendo-se uma porcentagem.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância com teste F e teste de Tukey a 5% para comparação entre as médias. Também foi utilizado o cálculo de um fator de compatibilidade (Valor “T”) proposto por ALVES et al. (1998), que permitiu a classificação dos produtos em classes de seletividade/ compatibilidade, de acordo com o efeito observado em relação aos parâmetros avaliados. O cálculo desse índice foi feito através da fórmula:

  • T= 20 (CV) + 80 (ESP)/100, onde:

  • T: valor corrigido do crescimento vegetativo e esporulação para a classificação do produto;

  • CV: porcentagem de crescimento vegetativo com relação à testemunha;

  • ESP: porcentagem de esporulação com relação à testemunha.

  • Os valores calculados de “T” foram comparados com os seguintes limites estabelecidos: 0-30 = muito tóxico; 31-45 = tóxico; 46-60 = moderadamente compatível e > 60 = compatível.

Experimento de semi-campo

Os agrotóxicos que não foram considerados compatíveis para o fungo nos testes de laboratório foram avaliados em condições de semi-campo.

Mudas de goiaba, variedade Paluma, foram pulverizadas com os produtos químicos e os patógenos de três formas diferentes, quais sejam: a) primeiramente com os agrotóxicos nas concentrações recomendadas e, posteriormente, com o isolado do patógeno na concentração de 1 x 108 conídios/mL; b) primeiramente o patógeno e posteriormente os agrotóxicos e c) o produto químico e o patógeno foram aplicados juntos em uma calda preparada pouco antes da pulverização. A testemunha constou da aplicação do patógeno isoladamente. Foram pulverizados, em 4 mudas por tratamento, 150 mL da solução com o produto e 150 mL da suspensão fúngica na concentração de 1 x 108 conídios/mL. Nos tratamentos com calda a suspensão foi preparada em 150 mL. Após a aplicação, 24, 48 e 72 horas, 3 folhas foram coletadas ao acaso de cada uma das 4 mudas, as quais foram lavadas com 100 mL de água destilada esterilizada e, por fim, 0,1 mL da suspensão obtida foi espalhada com alça de Drigalsky em 5 placas de Petri, por tratamento, com BDA acrescido de pentabiótico. Essas placas foram incubadas, durante 7 dias, em câmaras tipo B.O.D. a 25 ± 1º C e fotofase de 12 horas. Após este período, 3 placas foram aleatoriamente apontadas para avaliação da conidiogênese. Assim, foram retiradas de cada placa 3 colônias centrais por meio de um vasador, totalizando 9 repetições. Essas colônias foram retiradas das placas, juntamente com o meio de cultura, e transferidas para tubos de ensaio contendo 10 mL de água destilada e esterilizada mais espalhante adesivo (Tween 80â) a 0,1%, sendo então feitas as diluições necessárias na suspensão fúngica original para a contagem do número de conídios em câmara de Neubauer. Para avaliação da viabilidade dos fungos foi utilizada a mesma metodologia descrita para os testes de laboratório.

Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância com teste F e teste de Tukey a 5% para comparação entre as médias. Calcula-se, ainda, o fator de compatibilidade (Valor “T”), através de uma adaptação da fórmula proposta por ALVES et al. (1998), onde o crescimento vegetativo foi considerado padrão, no valor de 1,7 cm de diâmetro, para todos os tratamentos avaliados, devido ao tamanho do vasador utilizado para cortar as colônias.

Teste de virulência

Para os testes de virulência, após o crescimento do fungo no meio de cultura contendo os produtos químicos em laboratório e em meio BDA puro para o semicampo, as suspensões fúngicas obtidas para realização da avaliação da esporulação foram padronizadas em 1 x 106 conídios/mL para realização do bioensaio com larvas de G. mellonella.

Foram colocadas 5 larvas de G. mellonella em placa de Petri plástica, sendo cada tratamento constituído de três repetições, totalizando 15 larvas por tratamento. Em seguida, as larvas foram pulverizadas, com auxílio de uma Torre de Potter adaptada, com 2 mL de cada suspensão contendo 1 x 106 conídios/mL. As placas foram mantidas em câmara climatizada a uma temperatura de 25 ± 1º C e UR de 70%, adicionando-se dieta artificial para alimentação um dia após a aplicação. As avaliações foram realizadas diariamente, durante 10 dias, e, após a mortalidade das larvas, estas foram colocadas em câmara úmida para confirmação de sua mortalidade por meio da conidiogênese dos fungos nos cadáveres dos insetos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Experimento de laboratório

No parâmetro crescimento vegetativo, observou-se que houve diferenças significativas de praticamente todos os tratamentos com relação à testemunha, com exceção dos inseticidas Actara 250 WG e Thiovit sandoz PM. Os fungicidas Cercobin 700 PM, Folicur 200 CE, Condor 200 SC, Cerconil PM e o inseticida Mospilan 200 WG foram os produtos mais prejudiciais ao fungo B. bassiana, pois inibiram completamente o seu crescimento. Os produtos Orthene 750 BR, Hokko Cupra 500 PM e Cobox PM, apesar de terem apresentado diferença estatística à testemunha, mostraram crescimento vegetativo elevado (Tabela 2).

Tabela 2
Valores médios do crescimento, esporulação, viabilidade de colônias e valores de “T” e classificação de agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba com relação ao isolado IBCB 66 de Beauveria bassiana (T = 25 ± 1º C; UR = 70%; fotofase de 12 horas).

TAMAI et al. (2002) avaliaram a toxicidade de diversas formulações de agrotóxicos utilizados em culturas ornamentais e olerícolas sobre B. bassiana e apresentaram alguns resultados semelhantes, tais como a inibição do crescimento deste fungo pelos produtos Cercobin 700 PM, Cerconil PM, Folicur 200 CE e Sumithion 500 CE.

Quando o parâmetro avaliado foi esporulação, observou-se que os produtos que apresentaram diferença estatística da testemunha, porém não inibiram totalmente a esporulação do fungo, foram Cupravit azul BR, Orthene 750 BR, Provado 200 SC, Recop PM, Dipterex 500 SC, Cobox PM e Manzate 800 PM. O inseticida Thiovit sandoz PM, apesar de ter sido compatível em relação ao crescimento radial, causou uma redução significativa na esporulação do fungo e o Actara 250 WG foi o único que apresentou produção de conídios semelhante à testemunha (Tabela 2).

Os produtos Alto 100 BR, Cercobin 700 PM, Folicur 200 CE, Lebaycid 500 CE, Reconil PM, Hokko Cupra 500 PM, Thiovit sandoz PM, Condor 200 SC, Cuprozeb PM, Cerconil PM, Mospilan 200 WG e Sumithion 500 CE, além de afetarem, em alguns casos seu o crescimento vegetativo do fungo, prejudicaram também a esporulação inibindo a produção de conídios.

DURÁN et al. (2004) mostraram que os fungicidas Daconil (clorotalonil) e Dithane (mancozeb) provocaram uma completa inibição do crescimento do fungoB. bassiana, dados que diferem deste estudo para os produtos Manzate 800 PM e Cuprozeb PM (mancozeb), os quais apresentaram uma diminuição no crescimento quando comparados à testemunha, porém não o inibiram completamente. Este fato pode ser explicado pela formulação, onde a presença de emulsificantes, inertes ou outros aditivos pode agravar o problema da compatibilidade dos produtos fitossanitários com entomopatógenos, constituindo mais um fator importante a ser considerado e controlado na elaboração de produtos comerciais (MORRIS, 1975).

Em relação a viabilidade dos conídios produzidos, observou-se que a presença de agrotóxicos no meio de cultura não afetou a viabilidade dos conídios, mesmo quando houve influência dos produtos no crescimento vegetativo e nasua esporulação. Ou seja, o crescimento e a produção de conídios pode ser diminuída, porém os conídios produzidos não deixam de apresentar sua característica virulenta. Esse fato é, segundo NEVES et al. (2001), considerado importante na compatibilidade de fungos com agrotóxicos principalmente em condições de campo, visto que a sobrevivência do inóculo de fungos entomopatogênicos ocorre por meio dos conídios. CAVALCANTI et al. (2002) e WENZEL (2005) também não verificaram diferenças entre os tratamentos e a testemunha após a leitura da porcentagem de germinação dos conídios (Tabela 2).

Tabela 3
Valores médios da esporulação e viabilidade de colônias do isolado IBCB 66 de Beauveria bassiana, em diferentes tempos de coleta, após aplicação de diferentes formas com agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba, em condições de semi-campo (Temperatura média de 27,6º C e umidade relativa média de 67,5%).

Tratamentos Tempo de coleta

Tabela 4
Valores médios da esporulação e viabilidade de colônias do isolado IBCB 66 de Beauveria bassiana, em diferentes tempos de coleta, após aplicação de diferentes formas com agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba, em condições de semi-campo (Temperatura média de 28º C e umidade relativa média de 59,1%).
Tabela 5
Valores médios da esporulação e viabilidade de colônias do isolado IBCB 66 de Beauveria bassiana, em diferentes tempos de coleta, após aplicação de diferentes formas com agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba, em condições de semi-campo (Temperatura média de 27,5º C e umidade relativa média de 67,5%).
Tabela 6
Valores médios da esporulação e viabilidade de colônias do isolado IBCB 66 de Beauveria bassiana, em diferentes tempos de coleta, após aplicação de diferentes formas com agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba, em condições de semi-campo (Temperatura média de 28,2º C e umidade relativa média de 62,5%).

A classificação dos agrotóxicos testados, com relação à sua toxicidade ao fungo B. bassiana de acordo com o proposto por ALVES et al. (1998), encontra-se na Tabela 2. Pode-se considerar que o fungo entomopatogênico foi bastante afetado pelos produtos avaliados, pois 17 dos produtos testados foram classificados como muito tóxicos e tóxicos, apenas 2 como moderadamente compatíveis e somente o inseticida Actara 250 WG foi considerado compatível ao fungo. BATISTA FILHO et al. (2001), NEVES et al. (2001) e ALMEIDA et al. (2003) também observaram que o thiamethoxam não influenciou o desenvolvimento do fungo B. bassiana.

TAMAI (2002) também obteve resultados negativos quanto à compatibilidade dos produtos Cercobin 700 PM, Cerconil PM, Cobox PM, Folicur 200 CE, Hokko Cupra 500 PM, Manzate 800 PM e Lebaycid 500 CE sobre B. bassiana, nas mesmas dosagens utilizadas, sendo todos classificados como muito tóxicos para o entomopatógeno.

Tabela 7
Valores de “T” e classificação de agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba, com relação a Beauveria bassiana, em semi-campo, nos diferentes tempos de coleta, com diferentes formas de aplicação.

Experimento de semi-campo

Nas condições de semi-campo, verificou-se que imediatamente após a aplicação e no tempo de coleta de 24 horas poucos tratamentos interferiram no desenvolvimento do fungo B. bassiana (Bb). Além disso, pode ser observado que nestes dois tempos de coleta a maioria dos tratamentos que apresentaram diferenças estatísticas quando comparados à testemunha foi aquele em que o produto químico foi aplicado posteriormente ao entomopatógeno, entre eles Bb – Thiovit sandoz PM, Bb – Folicur 200 CE, Bb – Mospilan 200 WG, Bb – Hokko Cupra 500 PM (Tabelas 3, 4 e 5). Isto porque a aplicação do produto químico, após a pulverização do patógenopode lavar as folhas onde este foi aplicado, retirando-o da planta.

Nos tempos de 48 e 72 horas, um maior número de tratamentos demonstrou diferença em relação à testemunha na conidiogênese, apresentando redução na esporulação. Isto porque a sobrevivência dos propágulos do fungo no campo pode variar em função das condições atmosféricas, como precipitação pluviométrica, temperatura, radiação solar e umidade relativa (ALVES et al., 1998) e do tipo de substrato em que são aplicados, como folhagem, solo, hospedeiro (MCCOY et al., 1988 citados por TANADA; KAYA, 1992).

Os produtos Lebaycid 500 CE, Cercobin 700 PM, Sumithion 500 CE, Condor 200 SC, Cuprozeb PM, Cobox PM, Manzate 800 PM e Cerconil PM não afetaram o entomopatógeno em nenhum dos parâmetros avaliados nos quatro tempos de coleta e a forma de aplicação também não interferiu no desenvolvimento do fungo B.bassiana quando exposto a estes agrotóxicos (Tabelas 3, 4 e 5 e 6).

A viabilidade dos conídios do fungo diminuiu e apresentou diferença estatística em relação à testemunha em alguns tratamentos, porém as porcentagens de viabilidade obtidas são consideradas altas na avaliação de bioinseticidas (Tabelas 3, 4 e 5 e 6).

BATISTA FILHO et al. (2003), observando, em condições de campo, o impacto de inseticidas sobre inimigos naturais na cultura da soja, verificaram que lagartas de Anticarsiagemmatalis e adultos de Cerotoma spp. foram colonizados por Nomuraea rileyi e B. basssiana, respectivamente, mesmo nos tratamentos com os inseticidas. Assim, o potencial de inóculo destes fungos não foi reduzido pela ação dos inseticidas testados, Actara 250 WG Mix, Curyom e Thiodan, sendo que em todos os tratamentos foi verificada a presença de insetos mortos e infectados pelos patógenos dentro das épocas de avaliação.

Avaliando o número médio de unidades formadoras de colônias de M. anisopliae e B.bassiana em folhas de feijão submetidas ao inseticida thiamethoxam nos tempos de 24, 48 e 72 horas após a pulverização, Batista Filho et al. (2001) verificaram que o inseticida não interferiu no número médio de unidades formadoras de colônias, independentemente do microrganismo estudado.

Na Tabela 7, encontram-se os valores de “T” e a classificação de agrotóxicos utilizados na cultura da goiaba, com relação a B. bassiana, em semi-campo, nos diferentes tempos de exposição, com diferentes formas de aplicação. Logo após a aplicação observou-se que dos 57 tratamentos avaliados, 30 mostraram-se compatíveis, 15 moderadamente compatíveis, 6 tóxicos e 6 muito tóxicos. A tendência da toxicidade dos produtos químicos no patógeno foi proporcional à medida que o tempo de coleta aumenta, ou seja, quanto maior o tempo de coleta, maior é a toxicidade do produto. Entretanto, o número de agrotóxicos classificados como compatíveis ou moderadamente compatíveis foi sempre muito maior que o número de produtos tóxicos ou muito tóxicos.

Dos 19 produtos testados em condições de semicampo para o fungo B. bassiana, 6 mostraram-se compatíveis em todos os tempos de coleta avaliados quando aplicados anteriormente ao patógeno, e outros 6 foram classificados como compatíveis nos 4 tempos de coleta quando aplicados em calda juntamente com o fungo. Somente 3 produtos foram compatíveis quando aplicados posteriormente ao patógeno, sendo que os agrotóxicos Cuprozeb PM, Cerconil PM e Manzate 800 PM foram os únicos que se mostraram compatíveis em todos os tempos de coleta, independentemente da forma de aplicação.

JAROS-SU et al. (1999) avaliaram o efeito do tempo mais adequado das aplicações de fungicidas sobre um isolado do fungo B. bassiana. Estes autores observaram que a atividade inseticida do patógeno foi significativamente maior nos tratamentos onde o fungo foi pulverizado 24 horas após a aplicação do fungicida, do que nos tratamentos onde foi aplicado 48 e 72 horas após os fungicidas. Entretanto, houve uma interação significativa entre B. bassiana e o tempo de aplicação dos fungicidas clorotalonil, mancozeb e hidróxido de cobre.

Relatando que o tempo de aplicação pode ser um aspecto importante na sobrevivência de conídios de B. bassiana no campo, LORIA et al. (1983) observaram que, quando o patógeno foi aplicado 20 e 28 horas após a aplicação do fungicida, nenhum dos fungicidas testados, mancozeb e clorotalonil, causou 100% de mortalidade dos conídios.

KOUASSI et al. (2003) avaliaram o efeito do tempo mais adequado das aplicações de três fungicidas na incompatibilidade com um isolado do fungo B. bassiana. Estes autores observaram que, quando os produtos mancozeb, metalaxyl e óxido de cobre foram aplicados 2 ou 4 dias antes da aplicação do patógeno, se obteve um efeito antagônico. Por outro lado, a aplicação do patógeno 2 ou 4 dias antes da aplicação dos fungicidas proporcionou um efeito inseticida sinérgico do isolado.

Teste de virulência

Experimento de laboratório

Não houve diferença estatística quanto à mortalidade confirmada entre a testemunha e o produto Actara 250 WG para o fungo B. bassiana e as mortalidades foram de 73,33 e 80%, respectivamente (Tabela 8).

Tabela 8
Mortalidade confirmada (%) de larvas de Galleria mellonella pulverizadas com Beauveria bassiana produzidos em meio de cultura contendo agrotóxicos.

CAVALCANTI et al. (2002) avaliaram a patogenicidade de B. bassiana produzido em meio contendo produtos fitossanitários sobre G. mellonella e também não observaram diferenças significativas entre os tratamentos com os produtos thiamethoxam, imidacloprid, fenpropatrina e iprodione, e a testemunha. No entanto, observaram uma redução significativa na porcentagem de mortalidade do inseto para o tratamento com iprodione, sendo que o valor de mortalidade foi de 48%.

Experimento de semi-campo

Não foram observadas diferenças significativas entre os tratamentos e a testemunha (B. bassiana, pulverizada nas plantas sem adição de produtos químicos), evidenciando a inocuidade destes produtos sobre a capacidade do fungo provocar doença nos insetos, sendo que alguns tratamentos apresentaram valores de porcentagem de mortalidade dos insetos superiores ao da testemunha, independentemente do tempo de coleta (Tabelas 9, 10, 11 e 12).

Também não foi verificada diferença estatística entre os tratamentos baseando-se na maneira em que foram pulverizados, ou seja, apesar da diferença de ordem na aplicação dos produtos e do patógeno, e do produto interferir, em alguns casos, na produção de conídios, a virulência do fungo não foi afetada.

Tabela 9
Mortalidade confirmada (%) de larvas de Galleria mellonella pulverizadas com o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana cultivado no meio BDA, após pulverização em semi-campo juntamente com agrotóxicos.
Tabela 10
Mortalidade confirmada (%) de larvas de Galleria mellonella pulverizadas com o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana cultivado no meio BDA, após pulverização em semi-campo juntamente com agrotóxicos.
Tabela 11
Mortalidade confirmada (%) de larvas de Galleria mellonella pulverizadas com o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana cultivado no meio BDA, após pulverização em semi-campo juntamente com agrotóxicos.
Tabela 12
Mortalidade confirmada (%) de larvas de Galleria mellonella pulverizadas com o fungo entomopatogênico Beauveria bassiana cultivado no meio BDA, após pulverização em semi-campo juntamente com agrotóxicos.

Os resultados permitem concluir que os produtos Actara 250 WG, Cuprozeb PM, Manzate 800 PM e Cerconil PM não afetaram o entomopatógeno em nenhum dos parâmetros avaliados, portanto são indicados para serem utilizados num programa de manejo integrado de pragas. Os conídios do fungo produzidos em misturas com agrotóxicos, tanto em condições de laboratório como em semi-campo, não tiveram sua viabilidade afetada e são patogênicos a traça-dos-favos, G. mellonella.

Vale ressaltar, também, a importância de novos estudos de compatibilidade em condições mais próximas ao encontrado no campo, possibilitando alternativas para o uso de produtos químicos e biológicos de maneira integrada.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela concessão da bolsa de mestrado.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Set 2021
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2008

Histórico

  • Recebido
    22 Fev 2007
  • Aceito
    18 Ago 2008
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