Open-access Perfil da Fisioterapia Esportiva nas Instituições de Ensino Superior do Brasil

Perfil de la Fisioterapia Deportiva en las Instituciones de Enseñanza Superior del Brasil

Resumos

O I Fórum Nacional dos Docentes da Fisioterapia Esportiva descreve diretrizes para normatização do ensino de graduação e pós-graduação referente à Fisioterapia Esportiva, as quais fundamentam orientações para Instituições do Ensino Superior (IES). O objetivo do estudo foi descrever o perfil da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva nas IES do Brasil. Foi realizado um estudo transversal entre os meses janeiro a outubro de 2011 e buscou-se no sistema de informação e-MEC a identificação das 439 instituições que ofertam o curso de graduação em Fisioterapia. Posteriormente, houve um levantamento de informações nos planos pedagógicos dessas IES, observando-se grade curricular do curso, especificamente a existência da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva, carga horária e estágio supervisionado. Em seguida, foi aplicado um questionário aos coordenadores de 33% das IES que ofertam a disciplina/o módulo de Fisioterapia Esportiva. A disciplina de Fisioterapia Esportiva é ofertada em 56% das IES brasileiras com graduação em Fisioterapia; destas, 97% oferecem em caráter obrigatório e em 62% o conteúdo é ofertado unido a outra disciplina. Com base na resposta aos questionários, 31% dos cursos apresentam carga horária total da disciplina entre 30 a 45 horas/aula, 50% oferecem estágio supervisionado e apenas 20% das instituições oferecem pós-graduação lato sensu na área. Foi investigada também a titulação dos professores ministrantes: 24% deles são especialistas, 31% são mestres, apenas 3% são doutores e 34% obtiveram o título de sócio-especialista da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE). Observa-se que a Fisioterapia Esportiva nas IES do Brasil ainda não está de acordo com as diretrizes que normatizam o ensino de graduação e pós-graduação na área.

fisioterapia; esportes; educação


El I Foro Nacional de los Docentes de Fisioterapia Deportiva describe directrices para normatización de la enseñanza de graduación y postgrado referente a la Fisioterapia Deportiva, las cuales fundamentan orientaciones para Instituciones de Enseñanza Superior (IES). El objetivo del estudio fue describir el perfil de la disciplina/del módulo de Fisioterapia Deportiva en las IES del Brasil. Fue realizado un estudio transversal entre los meses de enero a octubre de 2011 y se buscó en el sistema de información e-MEC la identificación de las 439 instituciones que ofertan el curso de graduación en Fisioterapia. Posteriormente, hubo un levantamiento de informaciones en los planes pedagógicos de esas IES, observándose el programa curricular del curso, específicamente la existencia de la disciplina/del módulo de Fisioterapia Deportiva, carga horaria y pasantía supervisada. Enseguida, les fue aplicado un cuestionario a los coordinadores de 33% de las IES que ofertan la disciplina/el módulo de Fisioterapia Deportiva. La disciplina de Fisioterapia Deportiva es ofertada en 56% de las IES brasileñas con graduación en Fisioterapia; de estas, 97% la ofrecen en carácter obligatorio y en 62% el contenido es ofertado unido a otra disciplina. Basándonos en la respuesta a los cuestionarios, 31% de los cursos presentan carga horaria total de la disciplina entre 30 a 45 horas/clase, 50% ofrecen pasantía supervisada y apenas 20% de las instituciones ofrecen postgrado lato sensu en el área. Fue investigada también la titulación de los profesores actuantes: 24% de ellos son especialistas, 31% son másters, apenas 3% son doctores y 34% obtuvieron el título de socio especialista de la Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE). Se observa que la Fisioterapia Deportiva en las IES del Brasil aun no está de acuerdo con las directrices que regulan la enseñanza de graduación y postgrado en el área.

fisioterapia; deportes; educación


The first Brazilian Forum of Professors in Sports Physiotherapy describes guidelines to standardize the education in undergraduate and graduate courses in relation to Sports Physiotherapy, justifying an orientation for Institutions of Higher Education (IHE). The aim of this study was to describe the profile of the Sports Physiotherapy in Brazilian IHE. A cross sectional study was conducted from January to October, 2011. In the research on the e-MEC information system, 439 institutions that offer undergraduate Physiotherapy courses were identified. Subsequently, it was collected information from pedagogical plans of these IHE, about core curriculum, specifically the existence or absence of the discipline of Sports Physiotherapy, workload and traineeship. A questionnaire was given to the coordinators of 33% of IHE that offer the discipline of Sports Physiotherapy. This discipline is offered in 56% of the Brazilian IHE with Physiotherapy course, obligatorily in 97% and, in 62%, the content is offered together with another discipline. Based in the response to the questionnaires, 31% of the courses have a total discipline workload within 30 to 45 hours/class, 50% of the courses offer traineeship, and only 20% of the IHE offer graduate courses in the area. It was also investigated the teachers' titration: 24% of them are specialists, 31% have a master degree, only 3% have a PhD degree, and 34% achieved the specialist degree of Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE). It is observed that Sports Physiotherapy in the Brazilian IHE is not in accordance with the guidelines that regulate the teaching in undergraduate and graduate courses in the area.

physical therapy specialty; sports; education


PESQUISAS ORIGINAIS

Perfil da Fisioterapia Esportiva nas Instituições de Ensino Superior do Brasil

Perfil de la Fisioterapia Deportiva en las Instituciones de Enseñanza Superior del Brasil

Rodrigo Ribeiro de OliveiraI; Nahra Santos RebouçasII; Natália Pereira MarquesII; Carlos Henrique Jasmim BrolloIII; Marcela Nicácio Medeiros de OliveiraIV; Pedro Olavo de Paula LimaV

IDepartamento de Fisioterapia da UFC; Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil

IICurso de Fisioterapia da UFC; Liga de Fisioterapia Esportiva da UFC – Fortaleza (CE), Brasil

IIICurso de Fisioterapia da Faculdade de Alagoas (FAL) – Maceió (AL), Brasil

IVDepartamento de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR); Curso de Ciências da Reabilitação do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil

VDepartamento de Fisioterapia da UFC – Fortaleza (CE), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rodrigo Ribeiro de Oliveira Faculdade de Medicina – Universidade Federal do Ceará Rua Alexandre Baraúna, 949 CEP: 60430-160 – Fortaleza (CE), Brasil E-mail: rodrigo@ufc.br

RESUMO

O I Fórum Nacional dos Docentes da Fisioterapia Esportiva descreve diretrizes para normatização do ensino de graduação e pós-graduação referente à Fisioterapia Esportiva, as quais fundamentam orientações para Instituições do Ensino Superior (IES). O objetivo do estudo foi descrever o perfil da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva nas IES do Brasil. Foi realizado um estudo transversal entre os meses janeiro a outubro de 2011 e buscou-se no sistema de informação e-MEC a identificação das 439 instituições que ofertam o curso de graduação em Fisioterapia. Posteriormente, houve um levantamento de informações nos planos pedagógicos dessas IES, observando-se grade curricular do curso, especificamente a existência da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva, carga horária e estágio supervisionado. Em seguida, foi aplicado um questionário aos coordenadores de 33% das IES que ofertam a disciplina/o módulo de Fisioterapia Esportiva. A disciplina de Fisioterapia Esportiva é ofertada em 56% das IES brasileiras com graduação em Fisioterapia; destas, 97% oferecem em caráter obrigatório e em 62% o conteúdo é ofertado unido a outra disciplina. Com base na resposta aos questionários, 31% dos cursos apresentam carga horária total da disciplina entre 30 a 45 horas/aula, 50% oferecem estágio supervisionado e apenas 20% das instituições oferecem pós-graduação lato sensu na área. Foi investigada também a titulação dos professores ministrantes: 24% deles são especialistas, 31% são mestres, apenas 3% são doutores e 34% obtiveram o título de sócio-especialista da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE). Observa-se que a Fisioterapia Esportiva nas IES do Brasil ainda não está de acordo com as diretrizes que normatizam o ensino de graduação e pós-graduação na área.

Descritores: fisioterapia; esportes; educação.

RESUMEN

El I Foro Nacional de los Docentes de Fisioterapia Deportiva describe directrices para normatización de la enseñanza de graduación y postgrado referente a la Fisioterapia Deportiva, las cuales fundamentan orientaciones para Instituciones de Enseñanza Superior (IES). El objetivo del estudio fue describir el perfil de la disciplina/del módulo de Fisioterapia Deportiva en las IES del Brasil. Fue realizado un estudio transversal entre los meses de enero a octubre de 2011 y se buscó en el sistema de información e-MEC la identificación de las 439 instituciones que ofertan el curso de graduación en Fisioterapia. Posteriormente, hubo un levantamiento de informaciones en los planes pedagógicos de esas IES, observándose el programa curricular del curso, específicamente la existencia de la disciplina/del módulo de Fisioterapia Deportiva, carga horaria y pasantía supervisada. Enseguida, les fue aplicado un cuestionario a los coordinadores de 33% de las IES que ofertan la disciplina/el módulo de Fisioterapia Deportiva. La disciplina de Fisioterapia Deportiva es ofertada en 56% de las IES brasileñas con graduación en Fisioterapia; de estas, 97% la ofrecen en carácter obligatorio y en 62% el contenido es ofertado unido a otra disciplina. Basándonos en la respuesta a los cuestionarios, 31% de los cursos presentan carga horaria total de la disciplina entre 30 a 45 horas/clase, 50% ofrecen pasantía supervisada y apenas 20% de las instituciones ofrecen postgrado lato sensu en el área. Fue investigada también la titulación de los profesores actuantes: 24% de ellos son especialistas, 31% son másters, apenas 3% son doctores y 34% obtuvieron el título de socio especialista de la Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE). Se observa que la Fisioterapia Deportiva en las IES del Brasil aun no está de acuerdo con las directrices que regulan la enseñanza de graduación y postgrado en el área.

Palabras clave: fisioterapia; deportes; educación.

INTRODUÇÃO

A profissão de fisioterapeuta no Brasil foi regulamentada em 13 de outubro de 1969 pelo decreto lei nº 938/69. Desta forma, definiu-se que a Fisioterapia, como profissão de nível superior, terá determinada a função privativa dessa profissão, cabendo ao fisioterapeuta a realização de métodos e técnicas específicas e com finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do indivíduo1. No entanto, foi o Código de Ética Profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, estabelecido pela resolução nº 10, do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), que estabeleceu referências ao objeto de trabalho do fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Para tanto, o profissional fisioterapeuta deverá prestar assistência ao indivíduo, participando da promoção, tratamento e recuperação de sua saúde, utilizar todos os conhecimentos técnicos e científicos a seu alcance para prevenir ou aliviar o sofrimento do ser humano e evitar o seu extermínio. E, ainda, o fisioterapeuta deve participar de programas de assistência à comunidade em âmbito nacional e internacional2,3.

A partir desse momento, foi iniciado um movimento coletivo para elaboração de novas bases e diretrizes curriculares para os cursos de graduação em Fisioterapia, que, posteriormente, foram desenvolvidas pela Comissão de Especialistas de Ensino de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CEEFTO). Entretanto, somente em 2002, foram aprovadas pelo Colegiado de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Superior, por meio da resolução nº 4, as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Segundo estas, as Instituições de Ensino Superior (IES) podem organizar seus cursos de maneira diversificada e implementar conteúdos e tecnologias que engrandeçam a formação do estudante de Fisioterapia, porém seguindo as propostas das diretrizes e garantindo a formação generalista4.

Esses processos, ao longo da história, contribuíram para a formação profissional do fisioterapeuta com autonomia plena para tomar decisões clínicas, sendo capaz de fornecer um atendimento seguro e eficaz para pacientes com condições musculoesqueléticas em uma conformação de acesso direto a um custo reduzido para o sistema de saúde e empregadores5.

A formação dos fisioterapeutas envolvidos com abordagens de pacientes na área esportiva deve observar as competências e atribuições específicas, tais como destreza para atuar na prevenção de lesões, no atendimento emergencial e na reabilitação funcional, garantindo a boa forma do indivíduo para o retorno à prática esportiva6,7.

A Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE) tem como objetivos promover o desenvolvimento técnico-científico dos fisioterapeutas que congrega, visando implementar a qualidade dos procedimentos e rotinas operacionais nas áreas da Fisioterapia Esportiva, além de contribuir na orientação da formação profissional na área congênere8.

Para a concretização desses objetivos, a SONAFE realizou o I Fórum Nacional dos Docentes da Fisioterapia Esportiva no dia 03 de novembro de 2005, na cidade de Londrina (PR). Nesse Fórum, foram criadas as diretrizes para normatização do ensino de graduação e pós-graduação referentes à área de Fisioterapia Esportiva. Estas foram denominadas de "Carta de Londrina" e se fundamentam em orientações aos profissionais fisioterapeutas professores e coordenadores de cursos8.

O COFFITO, sob a resolução nº 337, de 08 de novembro de 2007, reconhece a especialidade de Fisioterapia Esportiva e dá outras providências para sua prática. O reconhecimento da especialidade levou em consideração os encaminhamentos da Carta de Londrina e os encaminhamentos do II Fórum Nacional de Políticas Profissionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, realizado na cidade de Belo Horizonte (MG), no mês de novembro de 20069.

O objetivo do presente estudo foi descrever o perfil da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva nas IES do Brasil, observando se está de acordo com as diretrizes da SONAFE.

METODOLOGIA

Amostra

Foi realizado um estudo transversal, com coleta dos dados entre os meses de janeiro a outubro de 2011. Os participantes da pesquisa foram as IES no Brasil que ofertam o curso de Fisioterapia e que estivessem devidamente registradas no Ministério da Educação e Cultura (MEC).

Procedimentos

A pesquisa iniciou-se por uma busca no sistema eletrônico de informações do Ministério da Educação e Cultura (e-MEC), que permitiu a identificação das 439 instituições que proporcionam o curso de graduação em Fisioterapia. Posteriormente, foi realizada uma busca de informações nos planos pedagógicos das 439 IES, observando-se a grade curricular do curso, especificamente a existência da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva, carga horária, obrigatoriedade da disciplina/do módulo e estágio supervisionado. Os dados do e-MEC foram confrontados com os projetos pedagógicos dos cursos de Fisioterapia e com as informações cedidas pelos coordenadores dos cursos para minimizar o efeito de uma possível incompatibilidade das informações.

Em seguida, foi enviado um questionário estruturado para todos os coordenadores dos cursos de graduação em Fisioterapia das IES que ofertavam a disciplina/o módulo de Fisioterapia Esportiva; esse questionário estruturado foi aplicado por e-mail e/ou por telefone.

Análise estatística

Os dados foram analisados no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 15.0, utilizando-se a estatística descritiva, com análise de frequência e teste de hipóteses de associação pelo χ2 de Pearson para relação dos dados pela distribuição de curso por região do Brasil. Nível de significância de 5% (p<0,05).

RESULTADOS

Ao analisar os dados no e-MEC, observou-se uma desproporcionalidade na distribuição dos cursos de Fisioterapia nas regiões do Brasil, visto que, na região Sudeste, encontram-se 44,3% dos cursos, seguida pelas regiões Nordeste, com 23,4%, e Sul, com 16,6%; já as regiões Centro-Oeste e Norte têm uma baixa proporção, sendo 9,8 e 5,9%, respectivamente (p=0,001).

Destaca-se o Estado de São Paulo, visto que o mesmo apresenta uma elevada concentração de cursos; por si só, o Estado supera a soma da totalidade dos cursos de Fisioterapia dos estados das regiões Norte e Centro-Oeste. A distribuição dos cursos de graduação em Fisioterapia por Unidade Federativa está demonstrada na Figura 1.


Ao analisar os currículos e projetos pedagógicos, observou-se que a disciplina/o módulo de Fisioterapia Esportiva foi ofertada (o) em 56% (248) das IES brasileiras com graduação em Fisioterapia. A distribuição dos cursos de graduação em Fisioterapia que ofertam em seus currículos o conteúdo de Fisioterapia Esportiva por Unidade Federativa está demonstrada na Figura 2 (p=0,003).


Ao estratificar a presença da disciplina de Fisioterapia Esportiva entre instituições públicas e privadas, observou-se que a maioria das IES é de caráter privado (90,2%) e que 61,2% destas IES ofertam a disciplina, enquanto que apenas 29,4% das IES públicas (Municipais, Estaduais e Federais) ofertam a disciplina de Fisioterapia Esportiva.

Ao analisar as 248 IES que ofertam a disciplina de Fisioterapia Esportiva, observou-se que a oferta é de caráter obrigatório em 97% dos currículos investigados na pesquisa e, em apenas 3%, é de caráter optativo, como mostra a Figura 3B. Contudo, ao avaliar a alocação dos conteúdos de Fisioterapia Esportiva na grade curricular, consignou-se que 38% dos cursos apresentam em seus currículos a especificidade da disciplina de Fisioterapia Esportiva, ou seja, a maioria das IES aplica seus conteúdos de Fisioterapia Esportiva associados a outros, como a Fisioterapia Traumato-ortopédica e/ou Fisiologia do Exercício (Figura 3C).


O questionário estruturado foi enviado para todos os coordenadores dos 248 cursos de graduação em Fisioterapia das IES brasileiras, que apresentavam a disciplina/o módulo de Fisioterapia Esportiva em sua grade curricular; no entanto, apenas 82 (33%) o retornaram com o devido preenchimento.

Quanto à oferta de estágio supervisionado, verificou-se que 50% das IES apresentam estágio na área da especialidade. Foi visto também que 37% das IES apresentam projeto de extensão na área e, além disso, apenas 20% das instituições ofertam pós-graduação lato sensu na área de Fisioterapia Esportiva (Figura 3D–F).

Com base na resposta a esse questionário, registrou-se que 78,1% dos cursos apresentam carga horária total da disciplina/do módulo inferior a 80 horas/semestre, sendo a maior prevalência da oferta da disciplina/do módulo com carga horária entre 40 a 60 horas/semestre (Figura 4).


Ao examinar a titulação dos professores ministrantes da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva, observou-se que 53% são mestres, seguidos de 40,8% de especialistas e 6,7% de doutores. Consignou-se também que 33% dos professores ministrantes da disciplina/do módulo obtiveram o título de sócio-especialista da SONAFE (Figura 3A). A distribuição dos professores com título de especialista em Fisioterapia Esportiva, dada pela SONAFE, por Unidade Federativa, está demonstrada na Figura 5.


DISCUSSÃO

Interpretar o perfil da Fisioterapia Esportiva poderá contribuir para o entendimento das estruturas bem como dos processos da formação profissional do fisioterapeuta na área do esporte. O perfil da Fisioterapia Esportiva nas IES do Brasil mostra como está caracterizado o ensino daqueles que podem vir a ser profissionais da área esportiva10.

A distribuição dos cursos de Fisioterapia nas regiões do Brasil mostrou-se irregular e desproporcional, visto que a região Sudeste apresenta uma elevada concentração de cursos, enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste têm baixa densidade de cursos de Fisioterapia. A expansão desordenada dos cursos de Fisioterapia agravou-se com a estagnação das IES públicas e o incentivo às instituições privadas11.

O crescimento desordenado do curso de Fisioterapia reflete na formação do profissional fisioterapeuta e, consequentemente, na constituição de uma base sólida para o desenvolvimento da Fisioterapia Esportiva. Essa condição pode ser agravada pela ausência do conteúdo de Fisioterapia Esportiva em quase metade dos projetos pedagógicos dos cursos de Fisioterapia no Brasil, visto que os presentes resultados demonstram o cenário da Fisioterapia Esportiva na educação de nível superior, onde 44% de todas as IES não ofertam a disciplina/o módulo de Fisioterapia Esportiva.

Tais desigualdades na construção da Fisioterapia brasileira poderão revelar aspectos negativos na assistência prestada à população, como, no caso específico, atletas e praticantes de atividade física, em virtude da carência de profissionais em algumas localidades, como na região Norte, e de divergências corporativas nas regiões de maior concentração de profissionais, como acontece na região Sudeste11.

A preocupação com a desigualdade na oferta da formação da Fisioterapia Esportiva foi demonstrada por um estudo realizado com fisioterapeutas ingleses. Estes exerciam suas funções em clubes de futebol e tinham sua autonomia clínica frequentemente ameaçada, sendo uma das principais causas apontadas pelo estudo a fragilidade na formação dos profissionais na área especifica de atuação12.

A desigualdade da oferta da disciplina de Fisioterapia Esportiva também é demonstrada em IES públicas, onde menos de um terço dos cursos ofertam o conteúdo em seus currículos.

O conteúdo é ofertado de forma obrigatória na extraordinária maioria das IES que contemplam a Fisioterapia Esportiva em seu currículo. Contudo, o que chama atenção é o baixo número de currículos que oferecem o conteúdo de forma optativa. É possível observar que há uma grade curricular rígida e previamente estabelecida em vez de uma matriz curricular flexível, na qual os componentes se relacionam conforme o conteúdo exposto, como proposto pelo currículo integrado13.

Assumindo que é vital a formação generalista do fisioterapeuta durante sua graduação, identificar conteúdos optativos nas áreas fundamentais e potenciais de especialidade nas grades currículares contribuirá para o fortalecimento da profissão e melhorar a sua influência dentro do setor de saúde e comunidade em geral14.

A Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva, por meio da Carta de Londrina, sugere a intitulação da disciplina/do módulo como Fisioterapia Esportiva com integração de conteúdos curriculares; no entanto, somente 38% das IES com a disciplina/o módulo de Fisioterapia Esportiva ofertam estes de forma específica, ou seja, a maioria dos cursos aplica os conteúdos da disciplina/do módulo associados a outras disciplinas. Esse achado poderá, em diversas situações, reduzir a carga horária específica e dificultar o processo de ensino-aprendizagem do conteúdo da Fisioterapia Esportiva e a ancoragem de outros saberes, Fisiologia do Exercício, Princípios do Treinamento, Ética e Humanização, entre muitos outros15.

A Carta de Londrina vaticina que o conteúdo do módulo deverá ter a carga horária mínima de 80 horas/aula e máxima de 120 horas/aulas semestrais. No entanto, observou-se, no presente estudo, na maioria das IES, uma carga horária entre 40 e 60 horas/aula semestrais. O documento da carta ainda sugere que a incorporação do conteúdo ofertado na disciplina/no módulo de Fisioterapia Esportiva seja concomitante ou após ter sido ofertado o conteúdo de Fisioterapia Traumato-ortopédica Funcional, para viabilizar a integração vertical dos conteúdos15.

A metade das IES que têm o conteúdo de Fisioterapia Esportiva no seu ciclo pré-profissionalizante ofertam, também, o estágio curricular em Fisioterapia Esportiva. Contudo, a SONAFE estabelece as diretrizes quanto ao estágio supervisionado, devendo acontecer no último ano ou nos dois últimos semestres da graduação e sua carga horária deve ser proporcional à de outros estágios, de modo que contemple 60% para atenção curativa e 40% para prevenção e pronto atendimento no esporte. A ausência do estágio poderá romper a autonomia do futuro profissional, visto que propicia ao acadêmico a participação em situações reais, com o intuito de desenvolver o raciocínio clínico e a responsabilidade profissional16.

A experiência do acesso à supervisão clínica de estudantes canadenses de Fisioterapia foi descrita de forma positiva do ponto de vista estudantil. Os resultados desse estudo canadense fundamentam a importância do incentivo e desenvolvimento contínuo de estágios e intercâmbios clínicos como ferramenta de experiências educativas que, por sua vez, pode pontecializar a formação dos fisioterapeutas para as ações clínicas17.

No presente estudo, também foi investigada a quantidade de IES que possuem projetos de extensão na área e verificou-se que estes estão presentes em apenas 37% dos cursos. Projeto de extensão na área da Fisioterapia Esportiva é de extrema importância para a vida acadêmica, pois proporciona o desenvolvimento de ações educacionais e assistenciais junto à população praticante de atividade física; também compreende a articulação com o ensino e a pesquisa, o que enriquece ainda mais a vivência acadêmica, além de ser um exercício de contribuição mútua, em que há o envolvimento de alunos, professores, IES e comunidade18.

A quantidade de IES que ofertam pós-graduação lato sensu na área de Fisioterapia Esportiva é de apenas 20%, o que pode estar diretamente relacionado à grande quantidade de profissionais especialistas que são formados por áreas afins, e não na área da Fisioterapia Esportiva. O número baixo de IES que não ofertam pós-graduação latu sensu corrobora os resultados de um estudo de descrição do perfil profissional da Fisioterapia Esportiva brasileira, incluindo 49 fisioterapeutas com atuação direta no esporte profissional, no qual os autores apontam a necessidade de investir na formação específica do profissional fisioterapeuta esportivo, visando a uma melhor especialização na área esportiva19.

A titulação dos professores ministrantes da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva é considerada moderada, visto que a maioria é de mestres, seguidos de especialistas, com uma minoria de doutores. Contudo, este estudo não observou a área de concentração e os programas de formação desses professores. No entanto, no Brasil, houve um aumento extraordinário de pesquisadores mestre e doutores com graduação em Fisioterapia na última década, embora haja uma grande variedade de áreas de formação e, muitas vezes, não ocorre relação com o objeto de estudo do fisioterapeuta20.

Consignou-se que apenas um terço dos professores ministrantes da disciplina/do módulo de Fisioterapia Esportiva obteve o título de sócio-especialista da SONAFE. Esse número reduzido de professores de Fisioterapia Esportiva que são sócios-especialistas da SONAFE não coincide com as diretrizes da Carta de Londrina. A aproximação com a entidade poderá facilitar o processo de formação continuada desses docentes. Para esses profissionais, é importante a educação continuada, manter-se atualizado com novos desenvolvimentos de teoria e prática, para se evitar um profissional obsoleto20, além da comprovação da experiência prática na área de estudo.

A discussão e o debate sobre os caminhos da especialização são estágios integrados no desenvolvimento de um percurso de carreira para o profissional fisioterapeuta e de crescimento para a profissão. A especialização ajudará a conduzir a pesquisa e o desenvolvimento de novas ideias dentro da prática da Fisioterapia, auxiliando na evolução contínua da profissão14.

A descrição do perfil da Fisioterapia Esportiva poderá ajudar na compreensão da realidade do profissional disponível no mercado de trabalho e contribuir no planejamento de estratégias que possam melhorar o ensino da Fisioterapia no Brasil. Contudo, outros estudos deverão ser encorajados, com análises dos programas e conteúdos do módulo, do período do curso em que é ofertado e de sua carga horária, fazendo a distinção entre carga teórica e prática, entre outras. Sugere-se o incentivo para a abertura de conteúdos de Fisioterapia Esportiva, teóricos e práticos, no formato optativo, nas IES, como estratégia para integralizar o conteúdo no currículo do curso de Fisioterapia o mais brevemente possível.

CONCLUSÃO

O perfil da Fisioterapia Esportiva nas IES do Brasil não está de acordo com as diretrizes da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva, tais como oferta do conteúdo de Fisioterapia Esportiva nas IES, carga horária dos módulos entre 80 e 120 horas, docentes especialistas em Fisioterapia Esportiva, oferta de estágio e projetos de extensão. Além disso, a oferta é menor em IES públicas.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Ceará e às Instituições de Ensino Superior pela colaboração na pesquisa.

Apresentação: fev. 2013

Aceito para publicação: ago. 2013

Fonte de financiamento: nenhuma

Conflito de interesses: nada a declarar

Parecer de aprovação no Comitê de Ética nº 150/2011.

Estudo desenvolvido no Laboratório de Análise do Movimento Humano da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Fortaleza (CE), Brasil.

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  • Endereço para correspondência:
    Rodrigo Ribeiro de Oliveira
    Faculdade de Medicina – Universidade Federal do Ceará
    Rua Alexandre Baraúna, 949
    CEP: 60430-160 – Fortaleza (CE), Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Nov 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      Fev 2013
    • Aceito
      Ago 2013
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