Resumo
Este artigo tem como objetivo principal investigar os modos de interação e sociabilidade de imigrantes de origem latino-americana que vivem na cidade de São Paulo, contexto de maior presença migratória internacional no Brasil. Para isso, fizemos uso da técnica de pesquisa de observação-participante, acompanhando o desenvolvimento de veículos de comunicação de seis grupos, coletivos e associações de imigrantes, durante cerca de um ano. Como recurso teórico-metodológico, adotamos a ideia de comunicação como vínculo, trabalhada por Sodré (2014), em diálogo com o conceito de mediador, de Gilberto Velho (2010), em uma perspectiva interdisciplinar que une os campos da Comunicação e Antropologia. Os resultados apontam para a forma como se constituem as relações sociais na cidade por meio da convivência no espaço comum, bem como para a composição de significados compartilhados em um nível sociocultural.
Palavras-chave: imigração; São Paulo; mediações socioculturais; comunicação
Abstract
The main goal of this article is to investigate interaction and sociability ways of Latin American immigrants who live in São Paulo city, the context of greater international migratory presence in Brazil. For this, we used the participant observation research technique, following the development of communication vehicles of six groups, collectives and immigrant associations, for about one year. As a theoretical-methodological resource, we adopted the idea of communication as a tie/bond, according to Sodré (2014), in dialogue with the concept of mediator, by Gilberto Velho (2010), in an interdisciplinary perspective that links Communication and Anthropology fields. The results point to the way in which social relations in the city are constituted through coexistence in the common space, as well as to the composition of shared meanings at a socio-cultural level.
Keywords: immigration; Sao Paulo city; sociocultural mediations; communication.
1. Introdução1 2
Ao desenhar a história da humanidade ao longo do tempo, as migrações internacionais se mostram estratégicas para a compreensão das realidades e das transformações sociais. Nas últimas décadas, especialmente, os processos de deslocamento vêm crescendo em volume. Entre 1970 e 2019, o número estimado de imigrantes internacionais passou de aproximadamente 85 milhões para cerca de 272 milhões de pessoas. Tal quantidade já superou algumas projeções feitas para o ano de 2050, que eram da ordem de 230 milhões pessoas (IOM, 2019). No entanto, mais que números e previsões estatísticas - os cerca de 272 milhões de pessoas deslocadas correspondem a apenas 3,5% da população atual do planeta -, a importância das migrações internacionais reside, principalmente, nas consequências políticas, econômicas, sociais e culturais que geram, seja nos países de origem, seja no destino ou ainda em país(es) de trânsito.
No Brasil, essa perspectiva é evidente. Atualmente, são menos de 2 milhões de imigrantes vivendo no país. O percentual de estrangeiros em território brasileiro não chega nem a 1% do total da população, contra quase 5% na Argentina - a título de comparação (IOM, 2020). Mesmo assim, o impacto é significativo no imaginário social nacional, na própria cobertura midiática de fatos relacionados e no cotidiano das cidades. Tal cenário nos faz concordar com autores como ElHajji (2017) e Sayad (1998) que defendem que o espaço migratório não pode ser reduzido a dimensões física-geográfica, político-administrativa ou econômica. Mas, sim, deve ser pensado, também, a partir da multiplicidade social e simbólica - em uma referência ao conceito de espaço simbólico de Bourdieu (1986; 1989) - da sociabilidade e da subjetividade do imigrante.
Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo principal investigar, a partir da realização de práticas comunicativas - produção de veículos de comunicação, como websites, blogs, páginas em redes sociais virtuais, jornais, rádios etc. - por partes de imigrantes de origem latino-americanos residentes em São Paulo, os modos de interação e sociabilidade desses estrangeiros com a cidade de São Paulo (território de destino), contexto de maior presença migratória internacional no Brasil e no qual, também, se concentra o maior número de veículos, coletivos, redes e associações migratórios relacionadas às distintas nacionalidades presentes no país.
Historicamente, a cidade de São Paulo foi a que recebeu maior quantidade de imigrantes internacionais3. O número mais recente, de 2019, mostra que 361.201 estrangeiros vivem na cidade, o que representa cerca de 3% da população local. São bastante diversificadas as nacionalidades de origem, com destaque para os países latino-americanos, como Peru, Bolívia, Venezuela e Haiti (OIM, 2019).
Acreditamos que há uma estreita ligação entre migração e cidade que até pode ser justificada, em um primeiro momento - seja na definição do local de destino, seja no direcionamento dos fluxos - por iniciativas derivadas de questões econômicas e geopolíticas. Porém, ganha outras dimensões, de ordem simbólica, subjetiva e interacional, quando o espaço urbano oferece novos pontos de encontro e trocas. Nesse contexto, conforme Sodré (2014), a cidade passa a ser percebida como um imperativo estrutural de tornar comum as diferenças ou de unir os opostos que, em sua dinâmica, torna-se palco de mediações socioculturais.
No âmbito empírico, realizamos pesquisa de campo utilizando como técnica principal a Observação Participante (OP), conforme indicações gerais de Lindeman (1924), Bruyn (1966) e Whyte (2005), com ênfase na sua aplicação nos processos comunicacionais, nos quais a técnica pode contribuir, segundo Peruzzo (2011, p. 139), “para subsidiar a melhoria dos modos de comunicação dos grupos populares”. Isso significou a atuação conjunta com seis grupos, coletivos e/ou organizações migratórias em atividade na capital paulista, no intuito de acompanhar o desenvolvimento de suas práticas midiáticas4.
Já como recurso teórico-conceitual, apoiamo-nos em uma proposta interdisciplinar que une, especificamente, conceitos da Comunicação e da Antropologia. Enfatizamos a ideia de comunicação como vínculo, trabalhada por Sodré (2014), em diálogo com o conceito de mediador, do antropólogo Gilberto Velho (2010). Para o primeiro autor, a comunicação não é transmissão de informação nem diálogo verbal, mas, sim, uma forma modeladora (organização de trocas reais) e um processo (ação) de colocar diferenças em comum, de estabelecer vínculos por parte dos indivíduos (Sodré, 2014, p. 193-194). Já Velho discorre sobre o potencial de diálogo do sujeito-mediador frente à uma experiência cosmopolita, seja no nível da cultura objetiva e nas relações materiais, seja nas relações entre diferentes grupos ou pessoas, negociando a realidade e construindo-a em um processo ininterrupto (Velho, 2010, p. 21).
Este artigo está dividido em três partes principais, além desta Introdução e das Considerações finais. A primeira tem o objetivo de fazer uma breve revisão de literatura sobre a temática das mediações socioculturais enfatizando os processos de comunicação e vinculação em contextos migratórios. Na sequência, discorremos sobre os modos de interação e sociabilidade dos grupos de imigrantes estudados com a cidade de São Paulo a partir do material colhido durante a pesquisa de campo. Por fim, à luz do conceito de mediador sociocultural, procuramos interpretar e explicar os resultados obtidos.
2. Mediações socioculturais: comunicação, vínculos e cidade
Os processos migratórios sempre alimentaram o crescimento das cidades e, consequentemente, seus desenvolvimentos econômico e político. À medida que o capitalismo se expandiu, também reestruturou as formas urbanas e organizou novas e numerosas ondas de migração até elas. Nesse sentido, são conhecidos os estudos de Sassen (1993; 1998; 2015a) sobre a incorporação das migrações internacionais em uma sociologia da globalização, com ênfase na estruturação das cidades contemporâneas a partir de lógicas baseadas em laços históricos de hegemonia e desequilíbrio entre sociedades centrais e periféricas5.
Portes (2001) enfatiza que, no espaço urbano, as imigrações são muito mais que uma questão político-econômica ou mesmo fonte de novas etnicidades, mas constituem um dos fatores mais importantes na construção da cidade moderna e no modelo de suas estruturas sociais e de diversos ambientes culturais. Assim, o autor defende que não é só certo que os imigrantes estão muito mais ligados ao urbano do que os nativos, como também, ao se fixarem em grandes centros urbanos, criam “áreas-chave” onde se incorporam ao espaço. “É lá [nessas áreas-chave] que os recém-chegados dão os primeiros passos para aprender a nova língua e cultura e, ao fazê-lo, influenciam a composição da população e o caráter da vida urbana” (Portes, 2001>, p. 12 - Tradução nossa).
É justamente nesse instante, ou seja, no momento em que o espaço urbano oferece pontos de encontro e integração - ainda que carregados de conflitos -, que o processo migratório ganha outras dimensões. Se por um lado acompanha e reforça o desenvolvimento local, com atores diferentes que compõem novos cenários (Portes, 2001), por outro, constitui-se locus para as mediações socioculturais ao possibilitar trocas de ordem simbólica, subjetiva e interacional.
O estudo das mediações socioculturais vem se mostrando intrínseco à área da Comunicação Social. Um dos pesquisadores pioneiros na América Latina, especificamente, foi Martín-Barbero (1991), segundo o qual, a verdadeira proposta do processo de comunicação não está no conteúdo das mensagens, nem nos instrumentos tecnológicos (canais transmissores de informação), mas, nos modos de interação que o próprio meio transmite ao receptor. É assim que a comunicação assume um sentido de prática social que abarca, entre outros elementos, a produção cultural. “O eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações, isto é, para as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as diferentes temporalidades e para a pluralidade de matrizes culturais” (Martín-Barbero, 2002, p. 55).
Seguindo essa mesma linha, Sodré (2014) defende que a comunicação não deve ser reduzida a uma “dimensão antropomórfica”, consciente, verbal, com foco na relação emissor / receptor, na troca de informação e na prática discursiva. Isso, na opinião do autor, deixaria escapar a complexidade do processo comunicativo e do próprio significado original do termo comunicar - que seria “vincular, relacionar, concatenar, organizar ou deixar-se organizar pela dimensão constituinte, intensiva e pré-subjetiva do ordenamento simbólico do mundo” (Sodré, 2014, p. 9).
Assim, Sodré (2014, p. 201) explica que a discussão sobre os mecanismos da coesão ou do vínculo social em face das novas formas de sociabilidade criadas pelo capitalismo transnacional e irradiadas por dispositivos de mídia, inclusive nos espaços urbanos, exige um olhar mais apurado, voltado para um comum a ser partilhado.
Entendida como um conjunto de regras partilhadas, a ‘sociedade’ moderna é uma ficção, uma imagem pública e transcendente, que se impõe com a emergência do indivíduo como categoria de agente, para representar politicamente o laço coletivo. (...) O ‘social’ daí decorrente é uma abstração: o que há de concreto são indivíduos, famílias e associações ligados por redes de dependência que, além das razões econômicas, jurídicas e políticas, aglutinam-se por meio de um ‘comum’. Em sua base está um núcleo de sentido constitutivo, a partir do qual as diferenças encontram um lugar próprio para comunicar-se. (Sodré, 2014, p. 205).
Dessa forma, a multiplicidade social se torna coesa a partir de um laço, que é invisível, e que Sodré (2014, p. 208) denomina de vinculação, isso é, o elemento que “desenha, a cidade como lugar, criando outros lugares próprios para a identificação do indivíduo como cidadão”. Trata-se de formas próprias de organização da cultura cotidiana a partir de um comum - que induz ao diálogo e à ação - instaurado por subjetivações dos sujeitos integrantes. Em outras palavras: visualiza a comunicação como fator de organização simbólica do comum, que envolve o particular e o externo, revelando diferenças e identidades com base na união de um agrupamento social.
Já a partir da perspectiva antropológica, Velho (2010) examina questões relacionadas à temática da “metrópole cosmopolita”, focalizando trajetórias e subjetividades de indivíduos e categorias em práticas socioculturais. E é justamente nesse universo que também trata do tema da mediação, manifestado na capacidade de trânsito do sujeito em situações específicas, e entre distintos grupos, redes e códigos, simultaneamente, no espaço urbano. A esse sujeito, o autor dá o nome de “mediador”, um intérprete e um reinventor da cultura, ou seja, um agente de mudança quando traz informações e transmite novos costumes, hábitos, bens e aspirações no contexto das cidades.
De acordo com Velho (2010, p. 17), há várias dimensões importantes a serem observadas no reconhecimento dos limites e fronteiras socioculturais em que interagem grupos, categorias, agentes sociais e indivíduos-sujeitos, mesmo em sociedades em que predominam valores individualistas. A questão da mediação nas cidades envolveria, dessa maneira, uma
plasticidade sociocultural que se manifesta na capacidade de transitar e, em situações específicas, de desempenhar o papel de mediador entre distintos grupos e códigos (...). Não se trata, apenas, de um fenômeno espacial-geográfico, mas um potencial de desenvolver capacidade e/ou empatia de perceber e decifrar pontos de vista e perspectivas de categorias sociais, correntes culturais e de indivíduos específicos. (Velho, 2010, p. 19)
O mediador, nesse sentido, tem uma experiência complexa no que se refere à ideia de multipertencimento: move-se em múltiplos planos, articula-se a redes diversificadas e suas identidades não são homogêneas nem se desenvolvem de modo unilinear (Velho, 2010, p. 20). Além disso, precisa conviver com a fragmentação, desigualdades e conflitos da sociedade moderno-contemporânea, particularmente na metrópole.
A mediação é um fenômeno fundamental não só ao estabelecer pontes entre diferentes, mas ao reinventar códigos, redes de significados e relações sociais, importante para a expansão e desenvolvimento de uma nova e mais complexa concepção de cidadania. (Velho, 2010, p. 22)
Evidentemente, no caso desta pesquisa, destaca-se que a mediação cultural não é apenas vivida pelo migrante, mas, também, por aqueles com quem o imigrante interage. Ela propicia a construção de pontes simbólicas que facilitem a compreensão entre comunidades estrangeiras e comunidades de acolhida, apostando na diversidade e no diálogo para promoção, compreensão e valorização de cada cultura como procedimento que permite ressignificar o mundo e facilitar a vivência entre as pessoas (Waldely, 2021).
3. Modos de interação e sociabilidade do imigrante com a cidade de São Paulo
Esta pesquisa teve início em 2019, quando passamos a acompanhar a produção de práticas midiáticas envolvendo grupos de imigrantes na cidade de São Paulo. Tais práticas, conforme defendemos em estudos anteriores (ESCUDERO, 2007; 2017), são um efeito resultante do processo migratório internacional. A iniciativa desse tipo de ação está relacionada à chegada e ao estabelecimento de um grupo de imigrantes em novo território. O perfil, formato, canal, modos de produção e periodicidade desse tipo de veículo dependem da capacidade de organização e dos interesses do grupo, além de fatores econômicos, políticos, técnicos, culturais e sociais de ordem local. Países que recebem grandes fluxos migratórios tendem a registrar esse tipo de ação - atualmente, favorecida pelo desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) - que tem, entre os principais objetivos: 1) estabelecer um canal próprio de comunicação entre os imigrantes que reflita as necessidades do grupo envolvido; e 2) garantir a manutenção da identidade cultural do grupo, fortalecendo laços de amizade, familiaridade e união de seus membros, bem como celebração das origens.
Importante ressaltar que as atividades acompanhadas nessa etapa ocorrem intimamente relacionadas a um amplo contexto de desenvolvimento, não só das TICs, mas da evolução dos meios de transporte, em geral, que resultam em uma amplitude e velocidade, não só das formas de produção midiática e acesso por parte do imigrante, mas das próprias estruturas urbanas no que diz respeito à circulação dos fluxos humanos, de informação e de capital. Além disso, destaca-se que a cidade-tema em questão neste trabalho é uma das maiores do planeta. São Paulo tem uma área territorial de 1.521.110 km2 e uma população estimada em 2010 de 11.253.503 (IBGE, 2020); e é considerada a sexta maior aglomeração urbana do mundo, atrás de Tóquio, Deli, Xangai, Cidade do México e Mumbai (Bremaeker, 2016).
Levantamento de 2019 feito pela Polícia Federal considera que, atualmente, a cidade conta com uma população de mais de 360 mil imigrantes de 200 nacionalidades. Quanto à classificação específica de pessoas em situação de refúgio, o Ministério da Justiça registra 52.517 pessoas de mais de 100 nacionalidades diferentes que solicitaram refúgio na capital entre 1993 e 2020 (SMDHC, 2020).
Número de pessoas imigrantes registradas em São Paulo por país de origem, em junho de 2019
Nessa perspectiva, não é tarefa fácil sistematizar os modos de interação e sociabilidade a partir da rotina de produção de práticas comunicativas dos grupos. Além disso, apesar de tratarmos aqui de coletivos, organizações e associações de imigrantes de origem latino-americana estabelecidos em São Paulo, há, pelo menos, cinco anos, é preciso destacar a heterogeneidade e diversidade natural, não só dos grupos de maneira individual, mas dos próprios membros de cada grupo. No caso desta pesquisa, trabalhamos com seis grupos, coletivos e/ou organizações migratórias a saber: 2 de origem boliviana; 2 de origem venezuelana, sendo um deles voltado especificamente para o público LGBTQI+; 2 de origem latina em geral. Três deles têm como foco principal aspectos culturais (promoção de eventos, divulgação da cultura de origem; fortalecimento de laços e vínculos identitários etc.) e outros três são de caráter predominantemente civil, ou seja, voltado para a luta por direitos dos imigrantes, participação, visibilidade etc.
Tentamos, assim, categorizar algumas possibilidades a partir de falas colhidas de 12 imigrantes durante os trabalhos de execução dos projetos de comunicação, bem como alguns itens observados, no intuito de desenhar um quadro referencial no qual é possível verificar múltiplas e simultâneas possibilidades comunicacionais e informacionais do imigrante a partir de trocas e interações em dois níveis, basicamente:
-
o primeiro formado por suas redes e conexões locais e transnacionais ao, principalmente, participar de diferentes espaços coletivos (escolas, centros culturais, pontos turísticos, igrejas etc.);
-
o segundo pelo contato permanente com a cidade, seu ritmo e cotidiano, especialmente, ao usufruir de serviços básicos, como transporte, postos de saúde e hospitais, Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes - CRAI6, centros de documentação (Polícia Federal, Poupatempo) etc.
3.1. Somos parte da cidade
A participação do imigrante nos espaços coletivos públicos, a interação com os próprios conterrâneos e/ou com a população local se dá, inicialmente, a partir de necessidades de ordem prática. Um exemplo são as questões envolvendo documentação, saúde educação etc., que costumam ser latentes no cotidiano desses grupos. Nesse sentido, as falas abaixo são ilustrativas:
Veja o Poupatempo7. Os moradores de São Paulo vão lá e resolvem tudo. Tiram qualquer documento, pagam contas. Tem em vários pontos da cidade, fica aberto o dia todo, de sábado também. Por que não podemos ir lá e resolver tudo também? Não. Lá não tem nenhum serviço para quem é imigrante. Se tivesse um balcão lá que nos atendesse até as pessoas que frequentam o Poupatempo, que são milhares, notariam nossa presença. Seria uma forma de integração. (Imigrante 1)
Nós, antes de sermos imigrantes, somos pessoas, pessoas comuns. Por isso, não queremos uma escola exclusiva para imigrantes. Queremos uma escola que o imigrante tenha acesso e possa estudar. Não queremos um posto de saúde só para imigrantes. Queremos poder frequentar qualquer posto de saúde e ser atendido, como qualquer morador da cidade. (Imigrante 2)
Os trechos acima nos dão uma dimensão de como o imigrante considera seu processo de inserção no território de acolhida a partir das estruturas urbanas consolidadas. As ideias de separação, isolamento e exclusão nos espaços públicos são veemente refutadas e denunciadas, apesar de consolidadas em outras áreas, como, por exemplo, a da moradia8. Se São Paulo oferece espaços aos seus cidadãos no que se refere à documentação, saúde e educação - direitos básicos - por que não facilitar o acesso de imigrantes a eles? Nesse sentido, não seria necessário construir nada novo para o imigrante, mas possibilitar sua participação nos espaços coletivos públicos já existentes. “Já tem tudo aqui. A cidade não precisa mudar. Só precisa facilitar o acesso” (Imigrante 2).
Na sequência, verifica-se que a sociabilidade está ancorada - a partir da visão do imigrante - na imagem de “cidadão comum”, o que perpassa, inclusive, políticas públicas de acolhimento ao imigrante na cidade e atuação das organizações da sociedade civil (OSC) voltadas para questões migratórias e de refúgio9. É frequentemente questionada a ideia de assistencialismo e comparações com populações em situação de extrema vulnerabilidade, conforme demonstram as falas destacadas:
Nos comparam o tempo todo com moradores de rua. Pode reparar, todas as ajudas que têm para os imigrantes aqui em São Paulo são as mesmas que para os moradores de rua. Pode ser no CRAI, pode ser na igreja (...). Não é certo encaminhar o imigrante para os serviços de acolhida e integração para o morador de rua, para os deficientes mentais. (Imigrante 3).
O imigrante entra na categoria de excluído, até mesmo para ter acesso a cotas, a outros projetos. Somos pessoas estudadas, mas aqui não vale nada. Nos colocam em subempregos. A gente estuda, tenta uma nova profissão, mas todo mundo pensa que a gente deve ficar no subemprego. (Imigrante 4)
Nós não queremos assistencialismo. Não somos coitadinhos. Ação assistencialista é importante, mas é emergencial. É preciso de ações que vão além, de cidadania, de participação social, de dignidade humana. De toda a população. (Imigrante 1)
Outro ponto bastante presente é o tipo de acolhimento e/ou tratamento recebido pelo imigrante nos diferentes espaços, o que acaba interferindo nos níveis de interação e sociabilidade. Em determinados órgãos públicos da cidade, principalmente os de ordem administrativa ou legais (alguns mencionados pelos participantes desta pesquisa foram: Delegacia da Polícia Federal, Secretaria Municipal de Finanças, Secretaria de Educação, entre outros), é constante a reclamação de falta de informação ou mesmo preparo dos atendentes no trato com o imigrante. Entretanto, não é possível precisar, pelo menos neste trabalho, se essa fragilidade do sistema é exclusiva do imigrante, ou compreende a população em geral. “É preciso que as coisas sejam institucionalizadas? Sim. Mas é preciso que sejam humanizadas também. Não estamos lidando com imigrantes, mas como seres humanos” (imigrante 7). De qualquer forma, esbarra em uma contradição: a da visibilidade versus integração, conforme destacado nos relatos abaixo:
Nos lugares deveriam ter imigrantes nos atendendo. Porque eles conhecem a nossa realidade, sabem da nossa dificuldade. Então, a gente vai nos lugares que são para imigrantes, mas que não tem um imigrante para fazer o atendimento. Fica difícil. [...] E as pessoas que fazem atendimento parecem não saber nada. Eles não sabem informar nada. Precisa ter treinamento e disseminação da informação. (Imigrante 5)
As informações da prefeitura ou do governo não chegam às pessoas que trabalham diretamente com o imigrante. Isso é fato. Essas informações tinham que circular nos nossos canais, nas nossas redes sociais. Mas não chegam. (Imigrante 6)
Eu não quero reclamar do CRAI. Ainda bem que tem. Mas, lá, eles trabalham muito com voluntários. E o voluntário um dia vai, no outro não. Pode resolver ou não. Nós não queremos esse trabalho assistencial. Queremos um trabalho profissional. (Imigrante 2)
Por outro lado, quando o atendimento é adequado, acaba-se por criar um vínculo com o espaço. Essa observação é bastante recorrente quando se trata de espaços públicos culturais, como museus, bibliotecas e centros culturais. “Eu gosto muito daqui [do Centro Cultural São Paulo10]. Venho sempre. Aqui, trocamos experiências, há afeto, interação. O pessoal nos atende bem. Está acostumado com a gente aqui” (Imigrante 7). Além disso, o fato de ocupar esses espaços, de estar presente fisicamente, é outro ponto importante no processo de interação e sociabilidade com a cidade, na visão do imigrante. “Temos que estar sempre juntos, presencialmente, e esse é um bom espaço [Memorial da América Latina11]. Porque o contato físico é importante, tem carinho, tem interação. A gente já é invisível para a cidade, passamos despercebidos. Então, quando alguma pessoa nos olha nos olhos é muito bom” (Imigrante 3).
Nesse sentido, percebe-se ainda uma contribuição dos espaços religiosos. “A gente frequenta uma igreja. Mas não pela questão religiosa. Porque aqui é um espaço de convivência do imigrante. De acolhida, de interação. Não encontramos espaços assim pela cidade, o tempo todo” (Imigrante 6).
3.2. São Paulo: uma cidade que assusta
O contato do imigrante permanente com a cidade, seu ritmo e cotidiano, especialmente, ao usufruir de seus espaços públicos, também é um elemento de interferência nos seus modos de interação e sociabilidade. Além disso, geralmente, características próprias locais nesses aspectos tendem a ser percebidas, especialmente, por quem é de fora, ao mesmo tempo em que são comparadas com as das suas cidades de origem. Uma delas é a quantidade de pessoas que vivem em São Paulo e a grandeza do território, conforme relatado nas falas abaixo:
A cidade é muito grande. Não estamos acostumados com isso. Eu morava em Caracas, que é uma capital, uma cidade grande. Mas aqui é muito maior, é outro mundo. (Imigrante 8)
São Paulo é imensa. Demora para a gente chegar nos lugares. As coisas aqui são muito rápidas, é muita gente. (Imigrante 6)
Eu moro aqui há bastante tempo. Mas não conheço tudo. Não dá. A cidade é muito grande. Eu gosto de frequentar o Parque do Ibirapuera12 e o Memorial da América Latina, quando tem algum evento. Vou na 25 de Março13 também. Mas esses lugares sempre estão lotados. É muita gente. (Imigrante 5)
A infraestrutura da cidade, no que diz respeito aos meios de transporte, também é outro ponto constantemente comentado. É interessante observar que as referências históricas presentes na cidade - em nomes de bairros, estações de metrô etc. - também compõem a relação com São Paulo.
O metrô é sempre lotado. Fora que para chegar no meu trabalho eu demoro duas horas. Veja, em duas horas no meu país, eu praticamente, viajava de ponta a ponta. Além disso, é muito bairro, muito lugar. Tudo com o nome estanho. (Imigrante 4)
Uma coisa que eu não ando aqui, de jeito nenhum, é nisso que vocês chamam de ‘fura-fila’14. Deus me livre. Você já viu a altura daquilo? Não pode ser seguro. Eu prefiro ficar duas horas em um ônibus atravessando a cidade do que 10 minutos dentro daquilo. (Imigrante 10)
Na minha cidade, eu andava de bicicleta. Aqui, com esse trânsito todo, nem me imagino numa bicicleta. Eu tive que aprender a andar de ônibus. Tive que aprender todos os nomes daquelas linhas de metrô, onde fazer conexão. Foi complicado. (Imigrante 1)
Além disso o fato de São Paulo ser uma cidade com muitos serviços funcionando 24 horas por dia, tudo precisando ser muito rápido para atender a todos, tráfegos de veículos e fluxos de informações intensos, obras e reformas a todo momento, entre outros fatores, há a percepção por parte do imigrante de que “ninguém tem tempo para nada”. A própria imagem de São Paulo, no contexto brasileiro, é de “a cidade que nunca para”.
Não existe receita para chegar numa cidade como São Paulo. Por mais que você planeje, tenha contatos, quando chega aqui é só você e Deus. Não que as pessoas aqui sejam individualistas, mas não há tempo para o outro. Todo mundo corre muito. É um dia a dia frenético, não dá tempo para reparar quem é o outro. (Imigrante 2)
Outro ponto constantemente mencionado é o clima da cidade que acaba por interferir nas relações com o próprio território. Considerado subtropical úmido, as estações são relativamente definidas, porém, contabilizam frequentes e intensas mudanças em curtos períodos, muitas delas ocasionadas pela poluição do ar, a existência de poucas áreas verdes, a alta concentração de edifícios, proximidade com o mar etc.
Logo que a gente chega, precisamos de um tempo para nos adaptar, inclusive ao clima. Aqui em São Paulo, o tempo muda toda hora. Acordamos com calor, depois temos que pegar o casaco. Chove, faz calor de novo. Não estamos acostumados a isso. Só que a cidade é tão intensa e não para nunca, que nem temos direito a esse tempo. (Imigrante 11)
Às vezes, eu me programo para ir no Parque Ibirapuera. Saio de casa com sol e roupa de calor. Chego lá, está frio e chovendo. O tempo aqui é maluco. (Imigrante 9)
Demorou para eu entender o que significava ‘efeito cebola’. A gente sai cedo de casa com um monte de roupa porque está frio e ao longo do dia vai tirando tudo, casacos, blusas. Vamos descascando mesmo [risos]. (Imigrante 8)
Em São Paulo, ainda, há a particularidade de não ser uma cidade de fronteira internacional, tema essencial quando se estuda territórios e migrações. Os imigrantes chegam por processos de interiorização ou por via direta, de ordem particular. Na visão do imigrante, esse é um dos motivos pelo qual os habitantes locais não estão acostumados com outras formas de interações e sociabilidades. Esse ponto é representado pela fala abaixo:
Quando cheguei ao Brasil, cheguei por uma cidade de fronteira. É muito diferente da realidade de São Paulo, pode apostar. Aqui não tem fronteira com outro país. Acho que é por isso que as pessoas não têm contato direto com outras culturas. E nos acham estranhos, exóticos. Somos pessoas. (Imigrante 7)
Há o fato de, conforme percebido pelos imigrantes latino-americanos, contexto desse trabalho, o Brasil ter tido um tipo de colonização diferente do restante da América Latina. Ao contrário dos outros países invadidos pelos espanhóis, aqui se deu a ocupação portuguesa, o que significou em idioma, hábitos, costumes, tradições, religiosidades etc. diferentes.
São Paulo não lembra em nada a América Latina. Nossa cultural não é parecida com a de vocês. Não é só por causa da língua. Aqui é tudo diferente. (Imigrante 3)
Aqui em São Paulo não me sinto na América Latina. Sou latino-americano, conheço vários países da América Latina, mas não me sinto em casa aqui. Acho que minha cultura é muito mais próxima da caribenha, enquanto vocês parecem que tem uma cultura mais europeia, não sei. É um outro mundo. (Imigrante 2)
Por fim, o anonimato, conforme Velho (2000), uma situação, em princípio, típica de uma grande cidade das sociedades complexas moderno-contemporâneas, é responsável por classificar pela cor, pele, roupas, língua etc. tem efeitos diversos no caso migratório, entre eles o de liberdade e o de quebra de estereótipos. “Devido à dimensão e complexidade do meio, terá, proporcionalmente, muito menos conhecidos e ele, por sua vez, será em princípio um anônimo (...) será classificado como membro de alguma categoria, num mundo urbano heterogêneo e diversificado” (Velho, 2000, p. 20)”. Nesse sentido, são ilustrativos os trechos abaixo:
Para mim, migrar para São Paulo foi um ato de liberdade. No meu país eu morava numa cidade pequena. E eu vestia saia, tinha cabelo comprido, estava sempre maquiada. Mas eu fazia isso pelos outros, não por mim. Quando eu cheguei aqui em São Paulo, eu vi que ninguém me conhecia. E esse anonimato para mim foi transformador. Eu cortei o cabelo, passei a vestir jeans e tênis o tempo todo. E isso não era um problema. Na verdade, ninguém reparava. E foi assim que comecei a me assumir lésbica. Então, para mim, foi libertador. (Imigrante 11)
Quando eu chego num lugar e falo que sou boliviano, ninguém acredita. Porque sou loiro, tenho pele e cabelos claros, e sou gay. Além disso, não trabalho em confecção [risos]. Sou artista. Faço performances em casas de shows da cidade, standup comedy... As pessoas falam: ‘você está mentindo’. ‘Não pode ser boliviano’. Mas sou. (Imigrante 12)
4. A cidade como espaço para o imigrante exercer seu papel de mediador sociocultural
Os trechos de falas dos imigrantes destacados no item acima procuram demonstrar não só trajetórias e subjetividades, mas o modo de sociabilidade e interação do estrangeiro com a cidade de São Paulo. Indicam, além da forma como se constituem as relações sociais na cidade por meio da convivência no espaço comum - seja com os moradores locais, seja com os próprios imigrantes -, a composição de significados compartilhados em um nível sociocultural.
Tal modo de sociabilidade e interação compreende um processo complexo, que envolve conhecimentos, reconhecimentos, ações e relações e mostra que, no caso dos processos migratórios, as características da cidade - geográficas, climáticas, de infraestrutura etc. - não são significantes vazios para os sujeitos externos, mas produzem sentidos e exigem tensão e conflito com matrizes culturais compostas de identidades e histórias. Talvez resida aí a razão de que, conforme apontou Portes (2001), o imigrante está muito mais ligado ao urbano do que o nativo.
Além disso, remete à ideia de “metrópole, cosmopolitismo e mediação”, destacada por Velho (2010), demonstrando que a vivência em uma cidade como São Paulo pode ampliar o universo de experiências e o desenvolvimento de visões de mundo do sujeito. Isso fica muito evidente nos relatos dos participantes desta pesquisa, quando verificamos que a interação com os espaços desperta no imigrante questões e consciências mais amplas, de ordem universal, como participação, pertencimento, cidadania, luta coletiva, direitos e deveres.
É nesse sentido que podemos afirmar que o imigrante é um mediador, conforme entende Velho (2010). Ele interpreta e reinventa as práticas socioculturais. Não é um “autor da cultura”, mas sua habilidade de transitar em situações e espaços específicos - na maioria das vezes por pura necessidade e questão de sobrevivência - o capacita a interagir com distintos grupos e códigos, ressignificando estruturas consolidadas.
E é justamente no ato dessas mediações culturais que se estabelecem os vínculos e o comum, dos quais nos fala Sodré (2014), evidenciando nesse processo a comunicação e a organização social dos grupos envolvidos. Como visto, o vínculo criado pelos imigrantes com a cidade em suas atuações como mediador - seja de aspecto negativo, seja de aspecto positivo - integra sua extensão afetiva e dialógica, promovendo uma reciprocidade comunicacional entre espaço, tempo e sujeitos. “O comum é sentido antes de ser pensado ou expressado, portanto, é algo que ancora diretamente na existência” (Sodré, 2014, p. 204).
De acordo com o autor (Sodré, 2014, p. 221), organizar o comum induz universalmente ao diálogo e à ação, no caso deste trabalho, concretizada na realização de práticas midiáticas. Nesse sentido, molda o cotidiano do sujeito imigrante na cidade, revelando diferenças, mas, também, identidades; e destacando arbitrariedades e exclusão, porém, impondo o reconhecimento dos modos de interação, usos e interpelação que os sujeitos imigrantes fazem com o espaço que frequentam e se conectam.
Considerações finais
Independentemente de qualquer característica espaço-temporal, é sabido que os fluxos migratórios continuarão - como sempre ocorreram - dirigindo-se às grandes cidades, inevitavelmente, transformando e moldando não só o território de destino, mas os próprios sujeitos envolvidos, a partir de informações, hábitos, costumes, bens e aspirações trazidas por esses estrangeiros “na bagagem” e ressignificadas a partir de sua presença e convívio no local. Assim, procuramos neste trabalho demonstrar os modos de interação e sociabilidade de imigrantes de origem latino-americana fixados na cidade de São Paulo.
Nossa proposta foi desenhar um quadro referencial organizado em dois níveis: o primeiro que contemplasse as formas de interação e sociabilidade a partir das redes e conexões locais do imigrante formadas, principalmente, ao participar de diferentes espaços coletivos da cidade; o segundo que abordasse tais formas a partir do contato permanente desse estrangeiro com a cidade, na vivência de seu ritmo e cotidiano. Para isso, fizemos uso de observação participante - acompanhando, por cerca de um ano, grupos, coletivos e organizações de imigrantes na realização de projetos práticos de desenvolvimento de veículos de comunicação próprios - com os resultados expostos, neste artigo, em formas de relatos e ponderações.
Foi uma trajetória complexa, especialmente, devido às heterogeneidades socioculturais envolvidas. No entanto, longe de apresentar definições acabadas, gostaríamos de destacar dois pontos principais, que julgamos relevantes. O primeiro é o papel que o espaço urbano desempenha ao servir como local concreto de encontro e troca para ressignificações de ordem simbólica e subjetiva para o sujeito imigrante, com destaque para o estímulo de uma consciência crítica no que diz respeito a questões de cidadania e desenvolvimento de habilidades para mediações sociais. O segundo é a qualificação das práticas comunicativas, e da comunicação, em geral, como organizadora de trocas reais e indutora de ações e processos que dão visibilidade às diferenças e reforçam as identidades ao estabelecer vínculos comuns entre os sujeitos e território.
Destaca-se, assim, a importância de estudos correlatos, que identifiquem e aprofundem as contribuições fundamentais dos processos migratórios para manter o dinamismo social, econômico, político e cultural dos meios urbanos. Além disso, que demonstrem de que maneira os espaços urbanos são imperativos como locus de mediações socioculturais, onde as diferenças se encontram em trocas e diálogos possíveis, de modo a reforçar identidades, favorecer as diversidades e recriar novos meios de vida.
Referências bibliográficas
-
BOURDIEU, Pierre. Espaço Social e Poder Simbólico Tradução (texto em francês) da conferência pronunciada na Universidade de San Diego, em março de 1986. Disponível em: Disponível em: https://bibliotecadafilo.files.wordpress.com/2013/10/23-bourdieu-espaco-social-e-poder-simbolico.pdf Acesso em: 22.01.2022.
» https://bibliotecadafilo.files.wordpress.com/2013/10/23-bourdieu-espaco-social-e-poder-simbolico.pdf - BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico Lisboa: Difel, 1989.
-
BREMAEKER, François E. J de. As grandes aglomerações urbanas no mundo. Observatório de Informações municipais, 2016. Disponível em: Disponível em: http://www.oim.tmunicipal.org.br/abre_documento.cfm?arquivo=_repositorio/_oim/_documentos/6108C35A-0360-5637-C18BADC83762B43022022016125829.pdf&i=3020 Acesso em: 09.01.2021.
» http://www.oim.tmunicipal.org.br/abre_documento.cfm?arquivo=_repositorio/_oim/_documentos/6108C35A-0360-5637-C18BADC83762B43022022016125829.pdf&i=3020 - BRUYN, Severyn T. The human perspective in sociology: the methodology of participant observation. New Jersey: Prentice Hall, 1966.
-
ELHAJJI, Mohammed. Migrantes, uma minoria transacional em busca de cidadania universal. Interin, v. 22, n. 1, p. 203-220, jan./jun. 2017. Disponível em: Disponível em: https://seer.utp.br/index.php/i/article/view/568/529 Acesso em: 04.11.2020.
» https://seer.utp.br/index.php/i/article/view/568/529 - ESCUDERO, Carolina. Imprensa de comunidades imigrantes de São Paulo e identidade: estudo dos jornais ibéricos Mundo Lusíada e Alborada Dissertação de Mestrado em Comunicação Social. Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), São Bernardo do Campo, 2007.
- ESCUDERO, Carolina. Comunidades em festa: a construção e expressão das identidades sociais e culturais do imigrante nas celebrações das origens. Tese de Doutorado em Comunicação e Cultura. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2017.
-
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Projeto Cidades@, 2020. Disponível em: Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-paulo/panorama Acesso em: 20.11.2020.
» https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-paulo/panorama -
IOM - International Organization for Migration. World Migration Report 2020 Genebra: IOM, 2019. Disponível em: Disponível em: https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf Acesso em: 09.01.2021.
» https://publications.iom.int/system/files/pdf/wmr_2020.pdf -
IOM - International Organization for Migration. Tendencias migratorias en América del Sur. Informe Migratorio Sudamericano, n. 3, 2020. Disponível em: Disponível em: https://robuenosaires.iom.int/sites/default/files/Informes/Tendencias_Migratorias_en_America_del_Sur_Marzo.pdf Acesso em: 08.01.2021.
» https://robuenosaires.iom.int/sites/default/files/Informes/Tendencias_Migratorias_en_America_del_Sur_Marzo.pdf - LINDEMAN, Eduard C. Social Discovery: an approach to the study of functional groups. New York: Republic Publishing, 1924.
- MARTÍN-BARBERO, Jesús. De los medios a las mediaciones - Comunicación, cultura y hegemonía. México: Editorial Gustavo Gilli, 1991.
- MARTÍN-BARBERO, Jesús. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação social. In: SOUSA, Mauro W. (org.). Sujeito, o lado oculto do receptor São Paulo: Brasiliense, 2002.
- OIM - Organização Internacional para as migrações. A cidade de São Paulo: Perfil 2019 - Indicadores da governança migratória local. Genebra: OIM, 2019. Disponível em: https://brazil.iom.int/sites/default/files/Publications/mgi-layout-sao%20paulo%20copy_PT_for%20print_updated.pdf. Acesso em: 09.01.2021.
- PERUZZO, Cicilia M. K. Observação participante e pesquisa-ação. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio (orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em Comunicação São Paulo: Atlas, 2011, p. 125-145.
- PORTES, Alejandro. Inmigración y metrópolis: Reflexiones acerca de la historia urbana. Migraciones Internacionales, v. 1, n. 1, p. 111-134, julio-diciembre 2001.
- SASSEN, Saskia. A Cidade Global. In: LAVINAS, Lena; CARLEIAL, Liana; NABUCO, Maria Regina (orgs.). Reestruturação do espaço urbano e regional no Brasil São Paulo: ANPUR/Hucitec, 1993.
- SASSEN, Saskia. As cidades na economia mundial São Paulo: Ed. Studio Nobel, 1998.
-
SASSEN, Saskia. Não é imigração, é expulsão. Ponto e Vírgula, PUC-SP, n. 18, p. 171-179, 2º semestre de 2015a. Disponível em: Disponível em: http://saskiasassen.com/PDFs/interviews/SS%20Nao%20e%20imigracao.pdf Acesso em: 01.09.2020.
» http://saskiasassen.com/PDFs/interviews/SS%20Nao%20e%20imigracao.pdf -
SASSEN, Saskia. Quem é dono da cidade?, Entrevista concedida a TOLEDO, Carolina; CRUXEN, Isadora. ArquiFuturo, 2015b. Disponível em: Disponível em: https://arqfuturo.com.br/post/entrevista--saskia-sassen-quem-e-dono-da-cidade- Acesso em: 28.12.2021.
» https://arqfuturo.com.br/post/entrevista--saskia-sassen-quem-e-dono-da-cidade- - SAYAD, Abdelmalek. A imigração São Paulo: Edusp, 1998.
- SMDHC - Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. I Plano Municipal de Políticas para Imigrantes: 2021 - 2024. São Paulo, 2021.
- SODRÉ, Muniz. A ciência do comum - Notas para o método comunicacional. Petrópolis: Vozes, 2014.
-
VELHO, Gilberto. Metrópole, cosmopolitismo e mediação. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, Ano 16, n. 33, p. 15-23, jan./jun. 2010. Disponível em: Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832010000100002 Acesso em: 04.11.2020.
» https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-71832010000100002 -
VELHO, Gilberto. Individualismo, anonimato e violência na metrópole. Horizontes Antropológicos , Porto Alegre, Ano 6, n. 13, p. 15-29, jun. 2000. Disponível em: Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ha/v6n13/v6n13a02.pdf. Acesso em: 09.01.2021.
» http://www.scielo.br/pdf/ha/v6n13/v6n13a02.pdf. - WALDELY, Aryadne B. Mediação cultural e proteção comunitária: garantia de direitos de pessoas refugiadas. Centro Brasileiro de Estudos da América Latina (org.). Movimentos da América Latina São Paulo: Cadernos da Cátedra Unesco Memorial, v. I, p. 43-63, 2021.
- WHYTE, William F. Sociedade de esquina: a estrutura social de uma área urbana pobre e degradada.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
-
1
O resumo de uma primeira versão desta pesquisa foi apresentado oralmente e em inglês na Migration Conference 2021, em Londres, em junho de 2021.
-
2
Esta pesquisa foi realizada com apoio da Fapesp e CNPQ.
-
3
Os primeiros registros datam de 1827, com a chegada de alemães que se fixaram na região de Santo Amaro e Itapecerica da Serra. Deste ano até 1904, entrou no Estado um total de 2.429.711 imigrantes, a maioria vindo de países da Europa, mas também Japão e países árabes. Fonte: https://museudaimigracao.org.br. Acesso em: 09 jan. 2021.
-
4
Após uma aproximação aleatória inicial com grupos, coletivos e organizações de imigrantes descritos mais adiante, negociamos com os interessados os termos do nosso acompanhamento e desenvolvimento das práticas midiáticas migratórias envolvidas e participação em seu cotidiano. Durante o período de oito meses a um ano, foram produzidos, conjuntamente, websites, gravações em vídeo, podcasts, encontros, digitalização de acervos, campanhas, entre outros produtos, numa interface com alunos-bolsistas do curso de graduação em Jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), que fizeram uso do trabalho como laboratório para aperfeiçoamento técnico.
-
5
Sobre essa temática, a autora tem trabalhado recentemente com o conceito de desurbanização. “Na atual escala de aquisições, estamos vendo uma transformação sistêmica do padrão de propriedade de terra nas cidades. O espaço que antes era pequeno e público agora está virando grande e privado. Essa mudança pode alterar o significado histórico da cidade e tem implicações importantes para a equidade, a democracia e os direitos. A tendência é que propriedades pequenas enraizadas em áreas atravessadas por ruas e praças públicas deem lugar a megaprojetos que destroem a maior parte desse tecido urbano. Isso “desurbaniza” e privatiza o espaço da cidade. Lentamente, pedaço a pedaço, esse processo vai acontecendo, já que leva tempo para que essas construções sejam feitas. Quando finalmente nos dermos conta do que está acontecendo, será tarde demais” (Sassen, 2015b, s/p).
-
6
Serviço público da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, da Prefeitura de São Paulo. Localizado no Centro da cidade, oferta diversos serviços de apoio para imigrantes. Fonte: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/imigrantes_e_trabalho_decente/crai/. Acesso em: 08 jan. 2021.
-
7
O Poupatempo tem várias sedes espalhadas pela cidade e reúne no mesmo espaço diversos órgãos e empresas prestadoras de serviços de natureza pública. Fonte: https://www.poupatempo.sp.gov.br. Acesso em: 08 jan. 2021.
-
8
Não encontramos um estudo oficial sobre o local de moradia dos imigrantes em São Paulo. Sabe-se, porém, que muitos se instalam na Zona Leste da cidade, devido aos preços mais acessíveis de imóveis, a localização dos empregos e a presença de instituições de acolhidas, no caso dos mais vulneráveis. Em 2019, a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo divulgou um estudo sobre o local de moradia dos refugiados atendidos pela entidade em 2018 a partir dos endereços georreferenciados de 5.643 pessoas. O levantamento apontou que 55% viviam na Zona Leste; 26%, na região central; 9,5%, na Zona Sul; 6,5%, na Zona Norte; e 3%, na Zona Oeste. Os bairros com mais refugiados foram: Sé, República, Pari, São Mateus e Itaquera. Disponível em: https://www.caritassp.org.br. Acesso em: 08 jan. 2021.
-
9
Sabe-se que o papel dos municípios na governança da migração cresceu significativamente nas últimas décadas, devido ao rápido ritmo da urbanização e da importância das cidades como destinos para todas as formas de migração e deslocamento. No entanto, no Brasil, até 2019, São Paulo era a única cidade brasileira a contar com políticas municipais para a população imigrante, desde 2016. Pesquisa do IBGE de 2019 indica que há a presença de imigrantes em 3.876 dos 5.570 municípios brasileiros (69% do total). No entanto, apenas 215 (5,5%) contam com algum tipo de serviço de apoio voltado a essa população. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/25516-apenas-5-5-dos-municipios-com-imigrantes-tem-servicos-focados-nessa-populacao. Acesso em: 08 jan. 2021.
-
10
Conhecido como Centro Cultural Vergueiro, o espaço reúne bibliotecas, salas de espetáculos e de exposição etc.. Ver: http://centrocultural.sp.gov.br. Acesso em: 08 jan. 2021.
-
11
O Memorial da América Latina ocupa um espaço de 84.840 m², no bairro Barra Funda, onde são realizados eventos, concertos musicais, apresentações de dança e teatro, cursos, exposições etc. Ver: https://memorial.org.br. Acesso em: 08 jan. 2021.
-
12
O Parque do Ibirapuera foi inaugurado em 1954 e é tombado e patrimônio histórico de São Paulo. Ver: https://parqueibirapuera.org. Acesso em: 08 jan. 2021.
-
13
Principal rua de comércio popular da cidade. Ver: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/se/noticias/?p=46995. Acesso em: 08 jan. 2021.
-
14
“(...) trem com tração elétrica e sustentação por pneus que se desloca sobre uma viga de 69 cm de largura e de 15 a 20 m de altura, que liga bairros periféricos a regiões mais centrais. Ver: http://www.metro.sp.gov.br/obras/monotrilho-linha-15-prata. Acesso em: 09 jan. 2021.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
11 Maio 2022 -
Data do Fascículo
Jan-Apr 2022
Histórico
-
Recebido
14 Set 2021 -
Aceito
21 Dez 2021