Open-access “PELO MEU HISTÓRICO DE ATLETA […]”: A ANÁLISE DE DISCURSO E A LINEARIDADE ESPORTE-SAÚDE

“AS A RESULT OF MY HISTORY AS AN ATHLETE […]”: DISCOURSE ANALYSIS AND SPORT-HEALTH LINEARITY

“POR MI HISTORIAL COMO ATLETA [...]” EL ANÁLISIS DEL DISCURSO Y LA LINEALIDAD DEPORTE - SALUD

Resumo:

Nesta investigação, utilizamos o arcabouço teórico da Análise de Discurso, de corrente francesa, além de outras fundamentações críticas. Esta análise se propõe a trazer reflexões sobre os processos de produção dos sentidos do enunciado: “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria, ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha […]”, proferido em pronunciamento oficial à população brasileira pelo Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, em março de 2020. Objetivando a compreensão do funcionamento discursivo dessa materialidade discursiva, nos valemos de conceitos como estereótipos, pré-construído, interdiscurso, entre outros. Levantamos a hipótese, e buscamos afirmá-la, de que, na materialização deste discurso, está uma intencionalidade de estabelecer uma linearidade entre o esporte e a saúde.

Palavras-chave: Análise de Discurso; Saúde; Esportes; Infecções por Coronavírus

Abstract:

This investigation resorts to the theoretical framework of Discourse Analysis - its French strain - in addition to other critical foundations. The analysis proposes to reflect on meaning-making processes in the following statement: “In my particular case, as a result of my history as an athlete, if I were infected by the virus, I would not need to worry, I would feel nothing or would be, at most, affected by a little flu […]”. It was a March 2020 official address to the Brazilian population by President Jair Messias Bolsonaro. In order to understand the discursive mechanisms of this discursive mentality, we use concepts such as stereotypes, pre-built, interdiscourse. We raise and affirm the hypothesis that the materializations of this discourse include an intention to establish a linearity between sport and health.

Keywords: Discourse Analysis; Health; Sports; Coronavirus infections

Resumen:

En esta investigación utilizamos el marco teórico del Análisis del Discurso, de la corriente francesa, además de otros fundamentos críticos. Este análisis se propone traer reflexiones sobre los procesos de producción de los sentidos de la declaración: “En mi caso particular, debido a mi historial como atleta, si fuera infectado por el virus, no tendría que preocuparme, no sentiría nada, o tendría, como mucho, un resfriadito […]”, pronunciado en un comunicado oficial a la población brasileña por el Presidente de la República, Jair Messias Bolsonaro, en marzo de 2020. Para entender el funcionamiento discursivo de esta materialidad discursiva, utilizamos conceptos como: estereotipos, preconstruidos, interdiscurso, entre otros. Planteamos la hipótesis, y tratamos de confirmarla, de que en la materialización de este discurso existe la intención de establecer una linealidad entre deporte y salud.

Palabras clave: Análisis del Discurso. Salud; Deportes. Infecciones por Coronavirus

1 INTRODUÇÃO

A partir das fundamentações metodológicas da Análise de Discurso (AD), de corrente francesa, além de outros arcabouços teóricos de fundamentação crítica, este estudo se propõe a trazer reflexões sobre os processos de produção dos sentidos do enunciado: “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria, ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha […]”. O excerto apresentado foi proferido pelo Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, no dia 24 de março de 2020, em pronunciamento oficial em rede nacional de rádio e TV, em resposta à pandemia mundial (BRASIL, 2020, p.1).

As análises do presidente acerca da pandemia consideravam que o trabalho das autoridades se realizava, que o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, atuava de forma “excelente” na preparação dos profissionais da saúde para o enfrentamento do Coronavírus, que viria a passar brevemente. A partir de suas considerações, ele indicou que a população voltasse à normalidade, para continuar a vida, manter os empregos e as famílias, mesmo em meio à pandemia. Dentre as argumentações utilizadas para “[…] situar a população […]”, nos dedicaremos à que buscou estabelecer a linearidade entre a prática esportiva e a saúde (BRASIL, 2020, p.1).

A AD francesa foi fundada por Pêcheux nos anos 1960. De acordo com Orlandi (2012a), sua filiação teórica foi atrelada aos movimentos de ideias sobre o sujeito, a ideologia e a língua, afastando a metafísica, trazendo para a reflexão o materialismo e não sucumbindo ao positivismo da ciência da linguagem.

No aprofundamento destas reflexões, Pêcheux e Fuchs (2014) apresentam um quadro epistemológico da AD, que envolve a articulação destas três áreas do conhecimento científico:

1. O materialismo histórico, como teoria das formações sociais e de suas transformações, compreendida aí a teoria das ideologias; 2. A linguística, como teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação ao mesmo tempo; 3. A teoria do discurso, como teoria da determinação histórica dos processos semânticos. Convém explicitar ainda que estas três regiões são, de certo modo, atravessadas e articuladas por uma teoria da subjetividade (de natureza psicanalítica) (PÊCHEUX; FUCHS, 2014, p. 163-164).

De acordo com Ferreira (2003), é no discurso, justamente, que se agrupam e se entrelaçam, confundindo-se, como um verdadeiro nó, as questões referentes à língua, à história e ao sujeito. O discurso constitui-se, assim, no verdadeiro ponto de partida de uma aventura teórica, com comprometimento científico (FERREIRA, 2003, p. 39, grifo da autora).

Orlandi (2005) menciona que o discurso é concebido como um lugar particular, pela análise do funcionamento discursivo, é objetivado à explicitação dos mecanismos da determinação histórica dos processos de significação. “O discurso é definido como sendo efeito de sentidos entre locutores, um objeto sócio-histórico em que o linguístico está pressuposto.” (ORLANDI, 2012a, p. 21).

Por estar ancorada nestes pressupostos, a AD se opõe à teoria da comunicação, ou seja, se opõe ao formalismo e à rigidez da teoria da comunicação, que diz ser o discurso uma mensagem na qual há emissor, receptor, código e referente. Tal concepção coloca a linguagem com a exclusiva função de transmissão de informações. Ao buscar ampliar essa função, a AD fundamenta que a linguagem é a mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social. “Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele vive” (ORLANDI, 2001, p.15).

Dentro desta complexidade, para a AD, não se trata tão somente de transmitir informação; tampouco existe uma linearidade na acomodação dos elementos da comunicação, de forma que a mensagem resulte de um processo assim serializado: “alguém fala, refere alguma coisa, baseando-se em um código, e o receptor capta a mensagem, decodificando-a. Na realidade, a língua não é só um código entre outros” (ORLANDI, 2012a, p. 20). Não existe essa separação entre emissor e receptor, bem como também não existe a atuação numa sequência em que primeiro um fala e, depois, o outro decodifica. O processo de significação é realizado ao mesmo tempo, os interlocutores não estão separados de forma estanque.

Além do mais, em vez de mensagem, o que é proposto é exatamente pensar o discurso. Desse modo,

[…] diremos que não se trata de transmissão de informação apenas, pois, no funcionamento da linguagem, que põe em relação sujeitos e sentidos afetados pela língua e pela história, temos um complexo processo de constituição desses sujeitos e produção de sentidos e não meramente transmissão de informação. São processos de identificação do sujeito, de argumentação, de subjetivação, de construção da realidade etc. Por outro lado, tampouco assentamos esse esquema na ideia de comunicação. A linguagem serve para comunicar e para não comunicar. As relações de linguagem são relações de sujeitos e de sentidos e seus efeitos são múltiplos e variados (ORLANDI, 2012a, p. 21).

A AD não se detém na interpretação, “Trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos processos de significação. Também não procura um sentido verdadeiro através de uma “chave de interpretação” (ORLANDI, 2012a, p. 26). Não existe esta chave; existe método, existe a construção de um dispositivo teórico e gestos de interpretação que devem ser compreendidos pelo analista.

Neste sentido, os estudos de Gregolin (1995, p. 13) consideraram que:

[…] Empreender a análise do discurso significa tentar entender e explicar como se constrói o sentido de um texto e como esse texto se articula com a história e a sociedade que o produziu. O discurso é um objeto, ao mesmo tempo, linguístico e histórico; entendê-lo requer a análise desses dois elementos simultaneamente. No intuito de entendermos melhor a orientação da AD, é necessário que façamos considerações a respeito dos conceitos-chave que constituem a sua base teórica.

Com efeito, valendo-nos de uma das características da AD que é trabalhar nos “entremeios”, utilizamos a “dialética do concreto”. Segundo Sánchez Gamboa (2012), a dialética é entendida como método que nos permite conhecer a realidade concreta no seu dinamismo e nas inter-relações. O autor prossegue, referindo-se a Marx (1983), em o método da Economia Política, em que é apresentada a dialética como o processo de construção do concreto do pensamento a partir do concreto real.

O que se denomina concreto não é mais do que a síntese de múltiplas determinações mais simples, é o resultado, no pensamento, de numerosos elementos cada vez mais abstratos que vão ascendendo até construir o concreto. O concreto é concreto porque é a síntese, e a unidade do diverso é o resultado e não o ponto de partida. “Para uma maior compreensão da dialética, é importante distinguir o concreto real, que é o objeto real que se deve conhecer, e o concreto do pensamento, que é o conhecimento daquele objeto real” (SÁNCHEZ GAMBOA, 2012, p. 38).

Ainda nos meandros metodológicos, buscamos fundamentação em categorias que elencamos como necessárias às reflexões pretendidas neste manuscrito. Dentre elas, o pré-construído, pelo lastro histórico que hegemonizou a Educação Física brasileira e buscou estabelecer relações unilaterais dentro dessa área, por meio do esporte, das atividades físicas e dos exercícios físicos, com a saúde.1 A categoria de pré-construído desenvolvida por Pêcheux, segundo Charaudeau e Maingueneau (2016, p. 43):

É uma reformulação das teorias da pressuposição de Ducrot. O pré construído pode ser entendido como a marca, no enunciado, de um discurso anterior; portanto, ele se opõe aquilo que é construído no momento da enunciação. Um sentimento de evidência se associa ao pré construído, porque ele já foi dito e porque esquecemos quem foi seu enunciador. A noção de pré construído está intimamente ligada à de interdiscurso (grifo dos autores).

Ligada ao pré-construído, se apresenta a categoria de interdiscurso que se constitui em todo o conjunto de formulações realizadas e já esquecidas, que determinam o que dizemos. Para que nossas palavras tenham sentido, é preciso que elas já façam sentido. Isto é efeito do interdiscurso, sendo prioritário que um enunciado “[…] dito por um sujeito específico, em um momento particular, se apague na memória para que, passando para o anonimato, possa fazer sentido em minhas palavras” (ORLANDI, 2012a, p. 34, grifos da autora).

Dentro deste contexto, fazemos menção à formação discursiva, que está intimamente ligada ao interdiscurso. Segundo Charaudeau e Maingueneau (2016), a noção de formação discursiva foi introduzida por Foucault e reformulada por Pêcheux.

É com Pêcheux que essa noção é acolhida na análise do discurso. No quadro teórico do marxismo Althusseriano, ele propunha que toda formação social, caracterizável por uma certa relação entre as classes sociais, implica a existência de posições políticas e ideológicas, que não são feitas de indivíduos, mas que se organizam em formações que mantêm entre si relações de antagonismo, de aliança ou de dominação. […] A formação discursiva aparece, inseparável do interdiscurso (CHARADEAU; MAINGUENEAU, 2016, p. 241).

Nesse sentido, mencionamos mais um conceito de fundamental importância para o desenvolvimento do texto, o de estereótipo2. Vilela (2000), ao referir-se à palavra estereótipo, sugere que ela servia para repetir a impressão, diminuindo os seus custos, em função das transformações sociais, fundamentalmente, a industrialização. Por metáfora, estereótipo atrelou-se ao valor de frases estereotipadas, de "repetição", auferindo assim à palavra estereótipo uma conotação negativa.

A partir destes apontamentos introdutórios, delineamos uma hipótese e, à luz da teoria, buscaremos afirmá-la. Nossa hipótese é a de que, na materialização deste discurso do Presidente, está a intencionalidade de estabelecer uma linearidade entre o esporte e a saúde.

Para constituir a afirmação de nossa hipótese, apresentaremos, na sequência, os embasamentos sobre a saúde, bem como realizaremos as reflexões buscando constituir nexos científicos, acessando as categorias da AD e das teorias críticas, que possam auxiliar no entendimento do referido discurso do Presidente Jair Bolsonaro. Assim, apresentaremos algumas considerações, entendidas como sínteses possíveis e provisórias, dado o tempo, espaço e importância dos temários esporte e saúde.

2 ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE SAÚDE

Iniciaremos realizando um breve resgate histórico, com o intuito de contextualizarmos a conceituação de saúde adotada por este estudo. Esse breve histórico nos permitiu compreender que o pensamento hegemônico, o qual fundamentou o entendimento de saúde no Brasil, foi composto pela filosofia positivista e as Ciências Biológicas (FARIA JÚNIOR, 1991).

A hegemonia filosófica para essa explicação não se estruturou somente em nível nacional, mas também integra um contexto mais amplo, mundial. Essa hegemonia foi configurada, aproximadamente, desde o século XVIII, por determinação do modo de produção capitalista, que se estruturava pós-Revolução Industrial e buscava se consolidar econômica e ideologicamente (SOARES, 1994).

Ao focalizar nas explicações biológicas, a burguesia sobrepõe a doença, e sua cura, às demais determinantes sociais que compõe uma explicação referente à saúde da maioria da população, como moradia, emprego, salário, alimentação, segurança, dentre outros. Assim, foram destacadas as características físicas, naturais e morais, a partir de uma concepção higienista, de caráter moralizador, normativo e adaptativo-educativo, voltado para hábitos, costumes, valores e crenças da população, que se estabeleceu no Brasil no processo de industrialização, a partir de 1930, e permaneceu por décadas (SOARES, 1994).

Mas as contradições impostas pelo próprio contexto social mundial de adoecimento da população, em especial dos trabalhadores pauperizados e que não dispunham de condições individuais para a manutenção da saúde, levaram as autoridades internacionais da área a repensar seu conceito e funcionamento, na I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários em Saúde, organizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nessa Conferência, apresentaram-se aos países participantes debates como: saúde enquanto um direito fundamental; a defesa da democratização na tomada de decisões na área da saúde; a redução das desigualdades sociais e a vinculação da saúde aos determinantes políticos, sociais e econômicos (FERREIRA; CASTIEL; CARDOSO, 2011).

Nesse sentido, a OMS passou a tematizar e buscar uma definição de saúde, distinta da simples ausência de doenças, ampliando o entendimento para o bem-estar físico, mental e social. Esse entendimento de saúde foi historicamente tematizado, a partir de diferentes matrizes analíticas (OMS, 2020).

Ao buscarmos uma análise que melhor pudesse nos explicar a saúde e, em particular, as relações entre esporte e saúde, alinhamo-nos às reflexões estabelecidas no âmbito da Saúde Coletiva, que surge entre as décadas de 1970 e 1980. Os estudos de Schraiber (2015) sinalizaram que a Saúde Coletiva é uma construção que pode ser caracterizada como brasileira, por sua peculiaridade em entrelaçar o campo científico e as transformações do contexto social no qual a saúde se insere.

Essa referência nos auxilia ainda no resgate da memória histórica de reformas determinantes para a consolidação da redemocratização do Estado brasileiro, em curso nas décadas de 1970-80, como a Reforma Sanitária (SCHRAIBER, 2015). As reformas principiaram sob as bases da integralidade em saúde e no sentido do atendimento mais amplo à população. Os fundamentos que a sustentaram ainda estavam nas Ciências Biológicas, mas não com exclusividade, pois, aos poucos, se somaram os pressupostos das Ciências Sociais e Humanas. Essas mudanças incidiram também sobre a Educação Física.

A Saúde Coletiva é um campo de produção de conhecimento e de intervenção profissional especializada, mas também interdisciplinar, onde não há limites precisos ou rígidos entre as diferentes escutas ou diferentes modos de olhar, pensar e produzir saúde. [...] As ações da Saúde Coletiva têm como eixo norteador as necessidades sociais em saúde e, nesse sentido, preocupam-se com a saúde do público, sejam indivíduos, grupos étnicos, gerações, classes sociais e populações, instigando uma maior e mais efetiva participação da sociedade nas questões da vida, da saúde, do sofrimento e da morte, na dimensão do coletivo e do social (CECCIM; CARVALHO, 2006, p.138-139).

Outro marco foi a elaboração da Carta de Ottawa, em 1986, a qual apresenta a saúde como um estado ideal e como um conceito positivo que enfatiza as potencialidades dos sujeitos. O referido documento apresenta campos de ação da Promoção da Saúde, expostos por Westphal (2006, p. 659):

Elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis, o reforço da ação comunitária, criação de espaços saudáveis que apoiem a Promoção da Saúde, desenvolvimento de habilidades pessoais, a reorientação dos serviços de saúde.

Ainda segundo a autora:

Adotamos como conceito de saúde orientador da Promoção da Saúde, a concepção positiva de saúde, holística, multideterminada, processual e ligada a direitos básicos do cidadão. Sabemos entretanto que a concepção hegemônica, no momento atual, e saúde como ausência de doença, uma mercadoria, um bem comercializável, em oposição a concepção de saúde como direito do cidadão. Nesse sentido a Promoção da saúde […] tem a conotação de mudança de direcionamento, uma tentativa de transformação social (WESTPHAL, 2006, p. 654).

Enfatizamos que, a partir das fundamentações teóricas assumidas aqui, torna-se imperativo apontar que qualquer concepção que pretenda auxiliar na compreensão científica3 da saúde na atualidade deve levar em consideração as relações sociais do sistema, as relações de classes e a universalização do acesso à saúde pública e gratuita, dentre outros elementos como: “condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terra” (FARIA JÚNIOR, 1991, p.16, grifo nosso).

3 A EDUCAÇÃO FÍSICA, O ESPORTE E A SAÚDE

As discussões relacionadas à Educação Física, esporte e saúde não são novas. Historicamente, a Educação Física tem apresentado uma priorização, uma ênfase, relacionada à dimensão biofisiológica. Todavia, como período marcante para a história da Educação Física brasileira, temos a década de 1980, com a incorporação de outros campos do saber, notadamente, das Ciências Humanas e Sociais (VAZ, 2019).

Outras fundamentações, oriundas, por exemplo, da compreensão da complexidade das ações humanas, também têm sido trazidas para a Educação Física. Este fato evidencia que a explicação advinda dos fundamentos biológicos se constitui em mais uma forma de interpretação da relação esporte-saúde, mas não a única.

Apesar da existência e das formulações teóricas desses diferentes campos do saber, a fundamentação pautada pelas Ciências Biológicas e, em especial, a união de esporte e saúde em uma lógica formal de causa e efeito não foram apagadas da memória histórica da população. Essa explicação, em nossa opinião, confere sentido ao discurso proferido pelo Presidente Jair Bolsonaro.

Na esteira do rompimento com a exclusividade da dimensão biofisiológica e no sentido das determinantes apresentadas por Faria Júnior (1991), o estudo de Taffarel (2010, p. 159) negou a prática do esporte como natural do ser humano, assim como sua relação direta com a saúde. “A relação atividade física-saúde4 é uma construção sócio-histórica que depende do modo de vida, do modo de organizar a produção […] e isso não pode ser visto de forma isolada, a partir de um indivíduo […]”. A autora ainda advertiu que

Não podemos abstrair das práticas corporais seus sentidos e significados isolados, ou seja, sem o seu conteúdo histórico. O homem não nasceu praticando esporte, e muito menos relacionando esporte com saúde. Foi pelo trabalho, pelas atividades, pelas condições de produzir e reproduzir seu modo de vida, que as relações entre esporte e saúde foram se consolidando (TAFFAREL, 2010, p.160, grifo da autora).

Ainda segundo Taffarel (2010), o esporte não deve ser considerado de maneira superficial, apenas como uma reação ou um conjunto de reações. É fundamental considerá-lo como “um sistema com estrutura, transições, conversões internas e desenvolvimento, motivo pelo qual não deve ser abstraído das formações econômicas e das relações sociais da vida da sociedade […]” (p.164). Assim, ele é compreendido no sistema de relações da sociedade, pois não existe em absoluto fora dessas relações.

Dentre os autores que investigaram a relação histórica entre a Educação Física e a saúde, nos fundamentamos, ainda, em Soares (1994) e em Carvalho (1995). Essas autoras discutem a relação atividade física e saúde, apontando duas vertentes que tratavam a relação entre esses pressupostos: uma vertente localiza a atividade física como produtora de saúde e a outra como preventiva dos problemas de saúde (CARVALHO, 1995).

Para Carvalho (1995), as duas concepções interpretam seus argumentos ancoradas em uma falsa consciência de que o exercício, componente do esporte ou das atividades físicas, por si só, seria responsável pela esfera de saúde individual, conforme discursou o Presidente, partindo do seu histórico de atleta, individual (grifo nosso). Esta compreensão individualizada de saúde, para Carvalho (1995, p. 139) acaba

[…] imputando ao indivíduo a necessidade da prática de exercício físico para a conquista da saúde, desconsiderando o descomprometimento público do governo nas políticas sanitárias, contribuindo, em última análise, para a culpabilização da vítima.

Dentro deste contexto, o enunciado discursivo centrou a responsabilidade no indivíduo. Mesmo que o indivíduo seja o Presidente da República, seu exemplo foi emanado não no sentido de gestor, de responsável pelas políticas públicas e sanitárias, e sim como um indivíduo, em grau de igualdade com os demais, o qual tem, em seu histórico de atleta, um diferencial positivo na relação com a saúde. Logo, está imbuída nesse discurso uma culpabilização do indivíduo não atleta, fenômeno que “ocorre, essencialmente, em uma sociedade cuja responsabilidade individual é extremada, em que o sujeito é unicamente responsável por seu sucesso ou fracasso” (PRATA; ALVES JUNIOR, 2018, p. 688-689).

As reflexões precedidas por Soares (1994, p. 63) já haviam considerado que:

[…] o exercício físico não é saudável em si, não gera saúde em si, é apenas […] um elemento, num conjunto de situações, que pode contribuir para um bem-estar geral e, neste sentido, aprimorar a saúde, que não é um dado natural […]. Ao contrário, […] é resultado, porque mais do que o vigor físico ao nível corpóreo, compreende o espaço de vida dos indivíduos.

Vislumbrada a multiplicidade dos fatores a serem compreendidos nas questões que envolvem os esportes, as atividades físicas, os exercícios físicos e a saúde, enfatizamos a necessidade de observar os diversos indicadores, a fim de possibilitar uma compreensão da totalidade, e não apenas pela matriz biologicista, como a que se fez presente no discurso do Presidente. As demais determinantes, que, conforme os estudos de Silva (2019), já vinham se agravando como produto da crise econômica mundial de 2007/2008, como o desemprego, e que foram aprofundadas em decorrência da pandemia, não ganharam destaque5 ou não foram mencionadas no referido discurso, tais como educação, segurança pública, direito e condições de trabalho, lazer, dentre outras, e que conformam uma condição de saúde coletiva da população.

Os fundamentos acionados por Bianchi (2020, s.p.) nos auxiliam na compreensão da orientação discursiva adotada pelo Presidente. Para o autor, “há um denominador comum nesses discursos políticos […]. Eles sempre respondem a uma falta de algo”. Ou seja, ao focalizar a linearidade do histórico individual de prática esportiva-saúde, Bolsonaro se exime de abordar as demais determinantes das condições de Saúde Coletiva da população.

Ainda considerando a análise da materialidade discursiva que teve como objetivo “[…] situar a população […]”: “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria, ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha […]”, buscamos afirmar a hipótese de que ela nos remete a uma intencionalidade de tratar a relação direta entre esporte e saúde (BRASIL, 2020, p. 1). Ao analisarmos este discurso, consideramos, ainda em Orlandi (2012a), a distinção no seio da inteligibilidade, a interpretação e a compreensão.

A inteligibilidade refere o sentido à língua: ele disse isso é inteligível, basta se saber português ou o idioma em que a frase está inscrita, para que esse enunciado seja inteligível; não é, no entanto, interpretável, pois não se sabe quem é ele e o que ele disse. A interpretação é o sentido pensando-se o co-texto (as outras frases do texto) e o contexto imediato (p. 26, grifos da autora).

A compreensão, para a AD, demonstra um avanço em relação a uma simples inteligibilidade. Desta perspectiva, compreender é saber como um objeto simbólico enunciado produz sentidos, é saber como as interpretações funcionam. Quando se interpreta, já se está preso em um sentido.

Nesse sentido, a compreensão busca a explicitação dos processos de significação presentes no texto e permite que se possa "escutar" outros sentidos que ali estão, compreendendo como eles se constituem. Dito de outra forma, a AD se propõe a compreender como um objeto simbólico produz sentidos, “como ele está investido de significância para e por sujeitos. Essa compreensão, por sua vez, implica explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação que relacionam sujeito e sentido” (ORLANDI, 2012a, p. 27).

Dentro deste contexto interpretativo, Orlandi (2012b) expõe a necessidade de apontar para dois modos de intervenção da noção de interpretação quando se trata do estudo do discurso, das quais nos apropriamos no intuito de confirmar a afirmação da hipótese deste estudo. Para a autora, é necessário levar em consideração a interpretação no nível do analista, que consiste em interrogar a interpretação e trabalhar sobre ela. A outra forma é a interpretação no nível do próprio objeto da análise. Nesta lógica, a interpretação faz parte da própria constituição do discurso, do sujeito que diz. Nas palavras da autora:

[…] A análise de discurso teoriza a interpretação na medida em que ela põe a questão da interpretação, ou melhor, ela põe em questão a interpretação. Se, de um lado, não podemos não interpretar, pois, diante de um objeto simbólico, o sujeito sofre a injunção à interpretação, de outro, a linguagem aparece como transparente como se os sentidos estivessem já sempre lá (ORLANDI, 2012b, p.170).

O entendimento de discurso, que considera a não transparência da linguagem e a constituição simbólica e histórica do sujeito que significa, desvela o caminho para a construção de uma forma de saber que se propõe como um programa de leitura particular. “Esse programa parte do princípio de que não se tem acesso direto aos sentidos, havendo necessidade de construir um dispositivo teórico da interpretação que exponha o olhar leitor à opacidade do texto” (ORLANDI, 2012b, p.170).

Com efeito, levantamos a hipótese de que a formação discursiva elegida para trabalharmos está permeada por um estereótipo cristalizado na sociedade, por meio do qual o vínculo esporte/saúde se impõe. Nossa hipótese passa pela possível relação do funcionamento da repetição de um estereótipo de maneira similar ao pré-construído. Ademais da intervenção da ideologia, nessa hipótese, sugerimos que essa interlocução pode contribuir, entre outras coisas, para o assujeitamento do sujeito.

Em se tratando de ideologia, trazemos para o debate as reflexões de Mészáros (2014). Os estudos do autor afirmam que, na sociedade capitalista, o discurso ideológico burguês determina as demais esferas da superestrutura social, inclusive, os valores e, correntemente, não temos a menor suspeita de que fomos induzidos a acolher.

Em seus estudos sobre ideologia, Pêcheux (1995, p.160) havia antecipado:

É a ideologia que fornece as evidências pelas quais todo mundo sabe o que é um soldado, um operário, um patrão, uma fábrica, uma greve, etc., evidências que fazem com que uma palavra ou um enunciado queira dizer o que realmente dizem e que mascaram, assim, sob a transparência da linguagem, aquilo que chamaremos o caráter material do sentido das palavras e dos enunciados (grifos do autor).

Para retomarmos as questões relacionadas aos estereótipos, parece claro, para nós, o quão errôneo é conferir a origem dos estereótipos de maneira simplificada, não realizando uma fundamentação baseada na criticidade. Assim, realizada a opção por reproduzir a teoria, que, muitas vezes, se tornará benéfica para a manutenção do status quo, defende-se que eles seriam uma “economia do esforço”, edificada por leis universais da cognição.

Compartilhamos da fundamentação crítica de Freire Filho, Herschmann e Paiva (2004), os quais argumentam que, de fato, os estereótipos precisam ser conceituados e contestados como estratégias ideológicas de construções simbólicas que intencionam a naturalização, universalização e legitimação de normas e convenções de conduta, identidade e valor, que emanam das estruturas de dominação social vigentes. Os autores seguem com a argumentação quando expõem:

Sua formulação e difusão, conforme sugere Hall (1997), são um dos aspectos daquilo que Gramsci chamou de luta pela hegemonia - ou seja, da tentativa habitual das classes dominantes de modelar toda a sociedade de acordo com sua visão de mundo, seu sistema de valores e sua sensibilidade, de modo que sua ascendência comande, arregimente um consentimento amplo e pareça natural, inevitável e desejável para todos (FREIRE FILHO; HERSCHMANN; PAIVA, 2004, p. 4).

Acreditamos que, como práticas significantes, os estereótipos não se limitam a identificar categorias gerais de pessoas. O julgamento e os pressupostos, subentendidos ou explícitos, a respeito de seu comportamento, visão de mundo ou história estão contidos no interior dos estereótipos.

Pickering (2001) apudFreire Filho, Herschmann e Paiva (2004) menciona que o estudo e a crítica dos estereótipos passarão a existir sempre de maneira inadequada, quando não levarem em consideração uma respectiva compreensão histórica do objeto discriminado. O processo e a prática de estereotipagem e de construção da alteridade estão relacionados, complementa o autor, aos pontos centrais de pertencimento no mundo moderno (à nação e ao passado cultural nacional, aos diferentes estágios do progresso civilizacional, mensurados em termos de evolução social e hierarquização racial), como também a questões de poder e autoridade no contexto da construção nacional, do colonialismo e do imperialismo.

Parece não existir um consenso em relação a uma maior ou menor importância do estudo dos estereótipos pela AD. No entanto, compartilhamos da hipótese de Vilela-Ardenghi e Motta (2013), que expõem que tal fato ocorre em função de muitos estudiosos da AD tratarem os estereótipos principalmente fazendo referências aos seus processamentos cognitivos, mas que também são pouco relevantes para a Análise do Discurso francesa. Este fato, talvez, tenha feito com que, durante um longo período, os analistas se interessassem pouco pelo estudo dos estereótipos, “[…] o que não significa, porém, que sejam os estereótipos desinteressantes ou mesmo incompatíveis com os pressupostos da AD” (p. 288).

Em similitude com o exposto anteriormente, Orlandi (1997) compara o estereótipo ao pré-construído, haja vista que ambos desempenham o funcionamento do já dito sustentando um dizer, porém o estereótipo resguarda o sujeito em sua imagem fixa. Orlandi (1997) considera a temática do estereótipo distinguindo nele um lugar para que os sentidos sejam outros em sua repetição. O estereótipo produz o efeito do consenso, da unidade, do fixo, garantia e proteção de dizer sobre um sentido já existente. “É uma forma de proteger sua identidade no senso comum, pois o estereótipo cria condições para que o sujeito não apareça, diluindo-se na universalidade indistinta” (p. 129). Essa forma de explicação da realidade, mencionada pela autora, baseada no senso comum, qualitativamente distinta do modelo científico, tem arregimentado não apenas as discussões referentes à saúde, mas de todos os setores do governo de Jair Messias Bolsonaro. Orlandi (1997) ainda afirmou, ampliando e reforçando a compreensão, que:

A meu ver, quando penso o estereótipo como ponto de fuga possível dos sentidos, penso-o como lugar em que trabalham intensamente as relações da linguagem com a história, do sujeito com o repetível, da subjetividade com o convencional. Tudo isso perpassado pelo funcionamento imaginário do discurso (p. 125).

Existe um fator que permite a consideração e mesmo assim se afasta pelos efeitos produzidos no estereótipo, porque este é “[…] um dos lugares desse equívoco que atravessa a relação do homem com a linguagem” (ORLANDI, 1997, p. 125). A autora, precisamente, explica que, como efeito de sentido fortemente marcado, a relação com o objeto estereotipado estabelece o lugar de apoio, o consenso, a literalidade, a solidificação, o que nos auxilia no entendimento do conjunto de explicações negacionistas adotadas pelo Presidente e por sua equipe política, mesmo não havendo

[…] nenhuma evidência científica de que o fato de se ter praticado atividades físicas ou mesmo estar fisicamente ativo, tendo sido ou não atleta, possa minimizar os sintomas relacionados à covid-19 ou reduzir seus riscos de contágio (CBCE, 2020, p. 1).

Ao fundamentarmos nossa argumentação em Orlandi, não nos esquivamos de sinalizar nossa crença na existência de uma complementação, uma interligação, a qual ruma para uma indissociabilidade na utilização do pré-construído, do interdiscurso e dos estereótipos, quando se intenciona analisar uma materialidade discursiva, que será sempre permeada pelo funcionamento ideológico. Os sentidos que se realizam e são praticados por sujeitos não são praticados por acaso, mas identificados com uma determinada ideologia. Nesse entremeio, efetivamente,

[…] é dentro do real, é dentro da realidade histórica do ser na sua configuração estruturada - não é antes, nem acima, nem ao lado - que as chaves de uma compreensão têm que ser investigadas e alcançadas, nos termos precisos de aquilo que em causa esteja (BARATA-MOURA, 2013, p. 154).

Mediante o exposto, compreendemos que as concepções descritas anteriormente se articulam com esta investigação, já que indicam um caminho que acreditamos que mereça ser refletido, o de que o nosso objeto é a realidade.

4 CONSIDERAÇÕES

Ao buscar estabelecer os nexos científicos da Análise de Discurso com o discurso presidencial “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria, ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha [...]”, (BRASIL, 2020, p. 1), podemos afirmar haver uma tentativa de estabelecer uma linearidade discursiva, direcionadora do pensamento, individual, verbalizado, no sentido de equiparar a existência de um histórico de prática esportiva a uma condição superior de saúde, capaz de inibir uma preocupação com um contágio por uma pandemia. Essa linearidade encontra lastro na história nacional, ou seja, está presente na memória histórica dos sujeitos, por suas repetições em períodos anteriores. Podemos exemplificar com a década de 1970, na conformação do estereótipo de esporte sinonimizar saúde e se configurar como conteúdo hegemônico da Educação Física (TAFFAREL, 2010). Essa sequência linear de pensamento e a concepção de aquisição de saúde de forma individualizada se constituíram hegemônicas durante décadas, mas foram objetivadas por estudos e questionadas, não se conformando, na atualidade, como exclusivas - ou como as únicas legítimas - explicações das múltiplas determinações que permeiam o esporte e a saúde.

Consideramos válido enfatizar que, na particularidade da pandemia do coronavírus, estudos importantes estão em curso, nas mais variadas áreas, inclusive na Educação Física. Em que pese a dedicação dos pesquisadores, o Grupo de Trabalho Temático em Atividade Física e Saúde do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte/GTTAFS/CBCE divulgou ainda não haver lastro científico, provado na prática, que fundamente o conteúdo discursivo presidencial e sua estratégia discursiva de linearizar a prática esportiva com níveis superiores de saúde (CBCE, 2020, p. 1). Essa entidade científica da área da Educação Física categorizou a informação proferida pelo Presidente como falsa e “não científica”, a ponto de sugerir, “[…] situar a população […]”, enquanto gestor da nação, que seja generalizado, aos demais atletas e ex-atletas, um estado de despreocupação, caso haja contaminação (BRASIL, 2020, p. 1).

REFERÊNCIAS

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NOTAS EDITORIAIS

  • 1
    Essa hegemonia não se estabeleceu sem questionamentos no interior da Educação Física. Fruto, especialmente, da abertura democrática do país, a partir da década de 1980, se adensaram e emergiram outras análises e proposituras teóricas, contrapostas a exclusividade da lógica de que esporte levava diretamente à saúde, denominado como Movimento Renovador (VAZ, 2019). Neste constructo teórico indicamos a visitação de: Medina (1983), Malina (2005), Soares et al. (1992), Oliveira (2001), Stigger (2015), dentre outros.
  • 2
  • 3
    Grifo nosso, com o intuito de reafirmar a explicação dos fenômenos da realidade por vias científicas, descartando, assim, o que Bianchi (2020) denomina de corrente anti-intelectualista, que, no contexto político brasileiro da atualidade, se soma a correntes políticas e ideológicas, criando o negacionismo da ciência.
  • 4
    Por vezes, a autora apreende esporte como sinônimo de atividade física, por não se constituir em objeto deste estudo, incorremos na mesma generalização.
  • 5
    Ao se referir a evitar o “desemprego em massa” e indicar para o retorno à normalidade, por exemplo, opta por não adentrar na discussão de que o desemprego já estava em curso, assim como outros problemas sociais e políticos (BIANCHI, 2020).

NOTAS EDITORIAIS

  • LICENÇA DE USO
    Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o trabalho original seja corretamente citado. Mais informações em: https://creativecommons.org/licenses/by/4.0
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem qualquer apoio financeiro.
  • COMO REFERENCIAR
    PRATA, Hugo Leonardo; SILVA, Elizandra Garcia da; ALVES JÚNIOR, Edmundo de Drummond. “Pelo meu histórico de atleta [...]”: a análise de discurso e a linearidade esporte-saúde. Movimento (Porto Alegre), v.26, p.e26095, jan./dez. 2020. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.105511. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/Movimento/article/view/105511.
  • RESPONSABILIBADE EDITORIAL
    Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Ivone Job*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira* *Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Mar 2021
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    20 Jul 2020
  • Aceito
    23 Nov 2020
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