Resumo
A Análise de Desempenho e a Pedagogia do Esporte são áreas de conhecimento que apontam caminhos para a melhora da prática esportiva. O presente artigo buscou identificar o papel pedagógico na atuação dos analistas de desempenho das categorias de base dos clubes brasileiros. A pesquisa, de abordagem qualitativa, utilizou o procedimento de análise de Triangulação de Métodos, a partir de entrevistas semiestruturadas com dez analistas de desempenho das categorias de base dos clubes brasileiros de futebol masculino da série A (2020). Conclui-se que embora os analistas não percebam a sua atuação dentro dos clubes como de cunho pedagógico, na prática essa interface vem sendo necessária no desenvolvimento do trabalho destes profissionais. Dessa maneira o diálogo entre as áreas da Pedagogia do Esporte e da Análise de Desempenho pode contribuir para qualificação e atuação profissional dos analistas de desempenho, potencializando o processo de formação de jovens jogadores de futebol.
Palavras-chave: Análise de Desempenho; Pedagogia do Esporte; Futebol.
Abstract
Performance Analysis and Sport Pedagogy are areas of knowledge that point to ways to improve sports practice. This article sought to identify the pedagogical role in the performance of performance analysts of the base categories of Brazilian clubs. The research, with a qualitative approach, used the Triangulation of Methods analysis procedure, based on semi-structured interviews with ten performance analysts from the basic categories of Brazilian men's soccer clubs in the series A (2020). It is concluded that although the analysts do not perceive their performance within the clubs as pedagogical, in practice this interface has been necessary in the development of the work of these professionals. In this way, the dialogue between the areas of Sport Pedagogy and Performance Analysis can contribute to the qualification and professional performance of performance analysts, enhancing the process of training young soccer players.
Keywords: Performance Analysis; Sport Pedagogy; Football.
Resumen
El Análisis del Rendimiento y la Pedagogía del Deporte son áreas de conocimiento que apuntan caminos para mejorar la práctica deportiva. Este artículo buscó identificar el papel pedagógico en la actuación de los analistas de rendimiento de las categorías básicas de los clubes de fútbol masculino brasileño. La investigación, con enfoque cualitativo, utilizó el procedimiento de análisis Triangulación de Métodos, basado en entrevistas semiestructuradas con diez analistas del rendimiento de las categorías básicas de los clubes de fútbol masculino brasileño en la serie A (2020). Se concluye que aunque los analistas no perciban su actuación dentro de los clubes como pedagógica, en la práctica, esa interfaz ha sido necesaria en el desarrollo del trabajo de estos profesionales. Así, el diálogo entre las áreas de Pedagogía del Deporte y Análisis del Desempeño puede contribuir a la formación y desempeño profesional de los analistas del rendimiento, potenciando el proceso de formación de jóvenes futbolistas.
Palabras clave: Evaluación del Rendimiento; Pedagogía del Deporte; Fútbol.
1 INTRODUÇÃO1
A Análise de Desempenho, área que busca dar significado às informações registradas em ambiente de jogo e treino analisando aspectos que influenciam o rendimento dos jogadores e das equipes, e a Pedagogia do Esporte, que apresenta foco na intervenção do processo de ensino-aprendizagem-treinamento, são áreas de aplicação do conhecimento das Ciências do Esporte. As duas áreas, através da compreensão aprofundada do fenômeno esporte, vêm apontando caminhos para a melhora da prática esportiva nas últimas décadas (CARLING; WILLIAMS; REILLY, 2005; GLAZIER, 2010, GALATTI et al., 2014). Embora cada campo de conhecimento apresente conteúdos específicos, se entrelaçam nas possibilidades de contribuição na formação de atletas.
Consequência da recente introdução nos clubes brasileiros de futebol (especialmente nas categorias de base), a Análise de Desempenho ainda apresenta poucos estudos voltados para a atuação do analista de desempenho no contexto de prática profissional. Pesquisas que abordam a perspectiva de atuação desses profissionais têm sido iniciadas nos últimos anos com diferentes enfoques, sinalizando o interesse pela temática (CORREIA; SILVA; SCAGLIA, 2021; SHAMAH et al., 2021). A área da Pedagogia do Esporte possui ampla produção nas novas abordagens pedagógicas, e através dos seus referenciais discute a intencionalidade dos procedimentos de ensino (LEONARDI et al., 2021; GALATTI et al., 2014; REVERDITO; SCAGLIA; PAES, 2009), podendo, portanto, estabelecer uma relação de proximidade com o trabalho dos analistas de desempenho (CORREIA; SILVA; SCAGLIA, 2021; LEONARDO, 2020) que estão participando de maneira ativa nos processos inerentes à prática (planejamento, organização, avaliação e sistematização), indicando uma atuação estratégica e de cunho pedagógico dentro dos clubes (GÓMEZ-RUANO, 2017 PEDREÑO, 2018; CORREIA; SILVA; SCAGLIA, 2021; SHAMAH; VOSER, 2022).
Dado este cenário, em que há uma evidente lacuna em pesquisas qualitativas na área do estudo que represente a perspectiva dos próprios sujeitos que vivenciam diariamente o fenômeno investigado, o objetivo do presente artigo é identificar o papel pedagógico dos analistas de desempenho das categorias de base dos clubes brasileiros de futebol, relacionando duas áreas de aplicação do conhecimento: Análise de Desempenho e Pedagogia do Esporte.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente artigo faz parte de um projeto maior denominado “O Processo de Desenvolvimento da Análise de Desempenho nas Categorias de Base em Clubes Brasileiros de Futebol”. Todos os procedimentos éticos foram seguidos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ESEFID/UFRGS) com parecer de aprovação sob nº 31000120.2.0000.5334. Todos os entrevistados receberam e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), como também, validaram as informações prestadas na transcrição das entrevistas, autorizando de maneira voluntária a utilização das informações. A pesquisa apresenta natureza descritiva, adotando como procedimento técnico a abordagem qualitativa, tratando-se de um trabalho de corte transversal (SILVA, 1996).
2.1 PARTICIPANTES
O universo da pesquisa compreendeu os analistas de desempenho das categorias de base de clubes brasileiros, cujas equipes profissionais de futebol masculino eram participantes do Campeonato Brasileiro Série A de 2020. Os clubes participantes da pesquisa foram selecionados de maneira aleatória intencional, critério utilizado quando a amostra potencial é muito grande (MILES; HUBERMAN, 1994, p. 28). Após serem separados de acordo com as cinco regiões geográficas do país (norte, nordeste, sudeste, sul, centro-oeste), realizou-se um sorteio virtual, indicando a ordem dos clubes que fariam parte do estudo, sendo selecionados metade (50%) dos clubes de cada região, totalizando dez clubes participantes da pesquisa. Portanto, três clubes na região nordeste (analistas 2,3 e 10), cinco clubes na região sudeste (analistas 1,4,5,6 e 7), e dois clubes na região sul (analistas 8 e 9).
Foram participantes do estudo dez analistas de desempenho, sendo um representante de cada clube selecionado. Estes sujeitos foram elegidos com base nos seguintes critérios de participação: profissionais atuantes especificamente na área de análise de desempenho; vinculados aos clubes selecionados da pesquisa; experiência mínima de um ano na área de análise de desempenho; atuação mínima de seis meses como analista de desempenho dentro do clube; atuação em alguma das categorias: sub 15, sub 17 ou sub 20.
Nos casos em que o clube sorteado não apresentou profissionais que cumprissem os pré-requisitos para participação, o clube subsequente na ordem do sorteio, dentro da sua região, foi incluído. Nos casos em que não houve mais clubes na região, foi realizado um novo sorteio com os clubes não participantes até o momento.
2.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE INFORMAÇÕES
Como instrumento utilizado para coleta das informações, foi realizada uma entrevista semiestruturada, com base nos objetivos propostos pelo trabalho. O roteiro da entrevista, composto por 22 questões, foi elaborado e definido previamente contendo os temas chaves a serem explorados. Todas as entrevistas foram realizadas através de plataformas de chamada de vídeo (WhatsApp, Google Meet e Skype). Além da gravação das entrevistas pelas plataformas utilizadas (recurso disponível pelos aplicativos), as entrevistas também foram gravadas utilizando o programa Open Broadcaster Software (OBS).
Após o contato inicial com os possíveis participantes, foi enviado, através de mensagem, os critérios para participação na pesquisa, a fim de verificar se os sujeitos apresentariam os critérios válidos de inclusão no estudo. Posteriormente, com a lista de possíveis sujeitos, foi enviada a Carta Convite de Colaboração em Pesquisa Acadêmica, solicitando anuência do clube participante. Após esta etapa os participantes receberam o TCLE e o Formulário de Identificação do Entrevistado, a fim de obter dados de identificação, formação e atuação profissional dos participantes.
Dando seguimento na pesquisa, foi agendada uma data para a entrevista, acordada entre pesquisador e sujeito participante. O pesquisador solicitou que as entrevistas ocorressem em local que os participantes se sentissem à vontade. Nos casos em que houve interrupção na chamada de vídeo, o pesquisador refez a chamada, continuando o diálogo do ponto em que havia sido interrompido.
Posteriormente a realização das entrevistas, efetivou-se a transcrição e a fim de manter o anonimato dos participantes foi substituída qualquer informação pessoal (nomes, clubes, cidades etc.) que fosse mencionada na entrevista. As transcrições foram enviadas aos sujeitos participantes, sendo validadas pelos mesmos. As entrevistas duraram em média 54 minutos e os entrevistados tiveram a liberdade de alterar, modificar e/ou substituir as palavras e/ou trechos que entendessem necessários.
2.3 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
Neste estudo utilizou-se o procedimento de análise de Triangulação de Métodos, que para Marcondes e Brisola (2014) pauta-se na preparação do material coletado (dados empíricos), interpretação das informações obtidas e articulação com autores da área da temática da pesquisa. A escolha por esse procedimento de análise imbui ao autor um comportamento crítico-reflexivo-conceitual, além de prático, ao objeto de estudo. Além disso, através de diferentes perspectivas possibilita “complementar, com riqueza de interpretações, a temática pesquisada, ao mesmo tempo, em que possibilita que se aumente a consistência das conclusões” (MARCONDES; BRISOLA, 2014, p. 206).
Dessa maneira a análise e a interpretação das informações foi operacionalizada seguindo três procedimentos. No primeiro procedimento, atribuiu-se importância à narrativa dos entrevistados, realizando marcações e comentários durante a transcrição das entrevistas, levando em consideração a repetição de falas, frases com impacto e discursos que exploravam os objetivos da pesquisa, sendo executada uma filtragem do conteúdo. O tema gerador para a elaboração das categorias de análise foi o cunho pedagógico de atuação dos analistas. As categorias foram elaboradas a posteriori, na seguinte ordem:
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Função do analista de desempenho e aspectos pedagógicos na execução do trabalho;
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Relação dos analistas com os atores do jogo e as aproximações com a Pedagogia do Esporte.
O segundo procedimento, colocou-se como um momento de aprofundamento prático-teórico, sendo realizada uma leitura aprofundada do material selecionado, interpretado de forma crítica-reflexiva pelo pesquisador. Neste momento procurou-se a contextualização das informações obtidas nas entrevistas com a realidade, ancorando-se em trabalhos com relevância nesta temática.
Como último procedimento de análise, buscou-se realizar uma construção sintetizada com diálogo entre os dados empíricos, literatura especializada e análise contextual do fenômeno. Para Marcondes e Brisola (2014, p. 206) esse processo é caracterizado “pela reinterpretação, em outras palavras, uma interpretação das interpretações”. Nessa fase, foi importante a retomada dos conteúdos abordados nos processos anteriores, de modo a formular, com a consciência crítica necessária, as conclusões dos delineamentos finais da pesquisa.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados e discussão apresentados no presente artigo, buscam de maneira específica se aprofundar nas categorias de análise elencadas, contextualizando e aproximando as duas áreas de aplicação do conhecimento: Análise de Desempenho e Pedagogia do Esporte. Com esse propósito, os resultados e discussão são apresentados em duas categorias: Função do analista de desempenho e aspectos pedagógicos na execução do trabalho e a relação dos analistas com os atores do jogo e as aproximações com a Pedagogia do Esporte.
3.1 FUNÇÃO DO ANALISTA DE DESEMPENHO E ASPECTOS PEDAGÓGICOS NA EXECUÇÃO DO TRABALHO
Através dos resultados da pesquisa, a presente categoria, identifica as funções executadas pelos analistas de desempenho (quadro abaixo) e os aspectos pedagógicos no desenvolvimento do trabalho, possibilitando ampliar as reflexões sobre o contexto de prática destes profissionais dentro dos clubes.
Quadro 1 Funções exercidas pelos analistas de desempenho nas categorias de base dos clubes brasileirosFUNÇÕES EXERCIDAS PELOS ANALISTAS NAS CATEGORIAS DE BASE |
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- Filmagem de jogos e treinos; - Edição e análise de jogos (própria equipe e adversários), atendendo a demanda da comissão técnica (especialmente treinador); - Armazenagem de informações de forma organizada; - Análise e edição de lances individuais dos atletas; - Edição de lances de atletas de alto nível, para exemplificar ações e comportamentos; - Acompanhamento dos treinamentos, auxiliando a comissão técnica nas demandas dentro do campo; - Acompanhamento de minutagem dos atletas; - Criação de banco de dados (lances, características dos atletas do clube); - Coleta e registro do comportamento dos atletas e das equipes; - Fornecimento de instruções e feedbacks, individuais e coletivos; - Elaboração de relatórios de análise, individuais e coletivos; - Filtragem e condução de informações para comissão técnica, coordenação e direção do clube; - Montagem de preleção em conjunto com a comissão técnica. |
Diante disso, os resultados apontam que a função exercida pelos analistas dentro da estrutura dos clubes no futebol brasileiro não se restringe à área técnica/tática, mas também está atrelada a setores de gestão, como a relação com questões metodológicas (ANALISTA 3; ANALISTA 5) e a organização de informações de outras áreas (captação e fisiologia por exemplo):
É um profissional que tá [sic] altamente atrelado com a coordenação também, então a gente tem uma comunicação com a coordenação e com as comissões técnicas, então serve também muito de intermédio dessas informações né, [...] tá [sic] ligado com a captação, mas principalmente organizar os dados da base em geral né (ANALISTA 2, p. 8, grifo nosso).
Muitas vezes os analistas das categorias de base possuem uma função abrangente dentro do seu contexto de atuação, desenvolvendo o trabalho em mais de uma categoria, o que culmina em informações importantes na tomada de decisão neste ambiente:
Então acho que a gente...fica muito inserido dentro de todo contexto da base, porque a gente acaba conhecendo todos jogadores [...] pelo tanto de informação que a gente gere [...] a nossa opinião lá dentro, eu acho mais importante na base do que até no profissional (ANALISTA 3, p. 2, grifo nosso).
Então a gente é responsável, eu no sub 17, por todos os dados da minha categoria, desde técnico, tático, físico, [...] a gente que filtra tudo e organiza pra poder melhorar a tomada decisão do clube em geral (ANALISTA 2, p. 8, grifo nosso).
Embora a atividade de analisar o jogo e o rendimento dos atletas não seja uma atividade recente no meio futebolístico (GARGANTA, 2001; SARMENTO et al., 2014), somente no decorrer dos últimos anos que os analistas de desempenho no futebol brasileiro ganharam relevância na estrutura dos clubes (CORREIA; SILVA; SCAGLIA, 2021; SHAMAH et al., 2021). De acordo com Galatti (2017) e Mazzei et al. (2015) os megaeventos esportivos ocorridos no país, foram um pontapé para maiores investimentos no esporte de alto rendimento, objetivando a qualificação do desempenho dos atores do esporte. Portanto, ocorrendo a possibilidade de inserção do analista de desempenho nesse contexto.
Os próprios analistas indicam que atualmente um trabalho qualificado, em especial no ambiente das categorias de base, tem a necessidade de atuação dos profissionais de Análise de Desempenho: “[...] eu não consigo ver um trabalho profissional hoje, na base, sem a figura do analista.” (ANALISTA 1, p. 3). Da mesma forma, para o Analista 8 (p. 3), “[...] então hoje eu acho que é extremamente importante e dentro futebol dificilmente você vai ver [...] o clube se desenvolver sem análise de desempenho”.
Os resultados da pesquisa indicam que o trabalho dos analistas nas categorias de base dos clubes brasileiros é multifuncional e parece demonstrar uma necessidade de competências ligadas ao referencial técnico-tático da Pedagogia do Esporte no sentido de se apropriar de conhecimentos relacionados aos métodos de ensino-treino, procedimentos pedagógicos no intermédio de informações com um corpo de diferentes profissionais, e um papel fundamental na sistematização, aplicação e avaliação de conteúdos que possibilitam a formação e o desenvolvimento de atletas (CORREIA; SILVA; SCAGLIA, 2021; GALATTI et al., 2014).
Nesta perspectiva, outro pressuposto relacionado com a Pedagogia do Esporte, se trata do fato de que o esporte atualmente precisa ser pensado/avaliado/analisado a partir da sua complexidade. Assim, a atuação profissional no esporte contemporâneo (e de alto rendimento), exige a necessidade (e o desafio) de diálogo com diversas áreas do conhecimento (LEONARDI; BERGER; REVERDITO, 2019; GALATTI, 2017). Isso só passa a ser possível através da compreensão de que a atuação no esporte contemporâneo necessita da ação de múltiplos profissionais, configurando-se em uma prática interdisciplinar (MCLEAN et al., 2017; REIN; MEMMERT, 2016; GALATTI, 2017; LEONARDI; BERGER; REVERDITO, 2019).
Contudo, embora a figura do analista tenha se valorizado no decorrer dos últimos anos, como visto anteriormente, ainda encontra resistência diante de algumas situações:
[...] tem uma certa resistência com o analista de desempenho né, de ouvir o analista... a gente sabe muito bem como é que funciona né...[...] é algo que tá [sic] melhorando muito entendeu [...] dependendo da comissão técnica que você está inserido, eles procuram também saber a sua opinião (ANALISTA 4, p. 5, grifo nosso).
Diante desse cenário é importante que os analistas de desempenho apresentem competências de diálogo como aponta Carlet (2020) e Pedreño (2018), pensando na boa comunicação com os diversos profissionais envolvidos no contexto dos clubes e um conhecimento amplo não somente das questões relacionadas ao jogo de futebol, mas também a uma série de informações que emergem a partir da análise do jogo e que precisam ser relacionadas com distintas áreas do conhecimento. É neste sentido que Correia, Silva e Scaglia (2021) sinalizam a superação da visão dos analistas apenas como administradores de dados dos jogos, passando a serem vistos como profissionais que contêm competências pedagógicas. Para além disso, é necessário que os analistas procurem uma conceituação teórica de modelos de análise, visto que a sua atuação profissional é de natureza prática, baseada nas suas experiências empíricas, com pouco suporte teórico (LEONARDO, 2020).
Os resultados da pesquisa indicam a possibilidade de uma relação pedagógica da análise de desempenho, através das seguintes falas:
Eu acho que na base, acho que deveria ter mais essa liberdade para o analista, pra que ele pudesse realizar suas intervenções, participar mais da elaboração de treinamentos e tudo mais, participar mais do processo metodológico né (ANALISTA 10, p. 5, grifo nosso).
Eu acho que a análise de desempenho ela é essencial nas categorias até pra a gente poder fazer intervenções, pra gente poder ter materiais dos atletas, enfim, desde as categorias menores até a sub-20 e da sub-20 à transição profissional, até pra a gente ter um histórico desse atleta (ANALISTA 6, p.4, grifo nosso).
Relatos dos Analistas 3 e 6, apontam para a mesma linha, em que de forma conjunta com a comissão técnica, torna-se necessário definir o que será observado durante as situações do treinamento para relacionar com os comportamentos analisados nos jogos. Caracterizando então a confluência das informações e o papel agregador presente na junção dessas áreas de conhecimento.
Outro relato importante, aponta a dimensão da participação do analista no processo entre um treinamento e outro:
[...] editávamos ou só analisávamos, dependendo da questão do tempo, junto com a comissão, como que foi o treino (da manhã), pensávamos a sessão de tarde [...] ia pro treino da tarde, voltava [...], olhávamos o treino, e já elaborávamos o treino do dia seguinte (ANALISTA 1, p.6, grifo nosso).
A participação do analista nos processos junto à equipe técnica é imprescindível, sendo um papel que deve ser cada vez mais buscado pelos profissionais da análise de desempenho dentro dos clubes (CARLET, 2020; PEREIRA, 2017; VÁZQUEZ, 2012). O fornecimento de informações possibilitando a identificação e adequação do treinamento, garantindo a sua especificidade, objetivo atribuído à área da análise de desempenho (O’DONOGHUE, 2015), ganha na Pedagogia do Esporte um campo aliado que valoriza estas informações. Esse processo, com interface entre treino e jogo, parece crucial no planejamento pedagógico e na avaliação da aprendizagem esportiva (LEONARDI et al., 2017).
O planejamento pedagógico se configura como um conteúdo importante da Pedagogia do Esporte, sendo a intencionalidade das ações um elemento central, que busca de maneira objetiva fortalecer as conexões que possibilitem o ensino (LEONARDI; BERGER; REVERDITO, 2019), como também relacionado à área de Análise de Desempenho, já que a intencionalidade ligada a essa área pode ser compreendida como a definição de meios (métodos) capazes de produzir informações eficientes, que estejam de acordo com os objetivos estabelecidos, e o contexto em que o profissional está inserido (GARGANTA, 2001; SÁNCHEZ, 2018; PEREIRA, 2017). Essa intencionalidade por si só não garante a validade das informações, porém deve ser uma preocupação para que o trabalho realizado, de forte característica empírica na origem de sua prática, se sustente em modelos de caráter científico-acadêmico (teórico) (LEONARDO, 2020), levando em conta que o ambiente acadêmico é um fator gerador de interesse pela área de análise de desempenho (CORREIA; SILVA; SCAGLIA, 2021).
O contexto de prática e a interação entre analista e clube (intencionalidade e métodos), é mencionada por um dos profissionais entrevistados como ponto a ser refletido: “então eu acho que essa interação entre o analista e clube ela ainda tem que ser melhorada em alguns aspectos entendeu, cabe muito do próprio analista né melhorar isso aí, entender o contexto onde está.” (ANALISTA 6, p.4).
A Pedagogia do Esporte abrange uma capacidade educativa/formativa, e o futebol se apresenta como um importante espaço de formação de jovens atletas (BETTEGA et al., 2015; GALATTI, 2017). Entretanto, parece comum haver uma diferenciação entre contextos de prática.
Se por um lado o esporte em nível profissional tem a tendência em focar-se exclusivamente no resultado, objetivando fundamentalmente a vitória (VENTURA, 2013; MENDES, 2016), refletindo pouco sobre o desenvolvimento humano dos indivíduos (GALATTI, 2017), por outro, nas categorias de base, mesmo no contexto do alto rendimento, os procedimentos necessitam de uma abordagem diferenciada, com foco na identificação e desenvolvimento do potencial dos atletas (PEDREÑO, 2018; CARLET, 2020). Posto isso, percebe-se a compreensão dessas diferenças nos resultados da pesquisa:
[...] eu discordo muito quando eu ouço de alguns analistas, enfim né, de alguns modelos de clube, de que a análise da base tem que ser igual à do profissional, eu discordo porque eu acho que não tem que ser, eu acho que o trabalho de base e do profissional são dois mundos completamente diferentes (ANALISTA 9, p. 3, grifo nosso).
[...] você tem que dar muito mais atenção para o desenvolvimento do atleta, [...] porque você tá pensando em formação, então desenvolver conteúdo, desenvolver informação, pra que você possa realmente potencializar o atleta e quando ele chegar na equipe principal ele esteja pronto pra exigência da equipe principal, que vai ser o dia a dia de vitória, busca de resultado [...] (ANALISTA 8, p. 4, grifo nosso).
[...] eu vejo até como mais fácil, em trabalhar com profissional do que com base, porquê base é você desenvolver o jogador, é difícil pra caramba, você conseguir saber que você tá [sic] desenvolvendo é difícil, porque ele vai demorar três, quatro anos pra explodir [...] (ANALISTA 2, p. 20, grifo nosso).
Mendes (2016) traz uma contribuição necessária neste ponto, na qual é importante avaliar que muitos clubes possuem categorias de base, no entanto, passam a ter como objetivo principal vencer (mentalidade profissional), isso pode gerar prejuízos aos atletas, e consequentemente ao clube. O autor ainda cita que não é o caso de que vencer não seja importante, mas parece que no contexto das categorias de base é prioridade que se valorize o desenvolvimento dos jogadores (ativos) do clube.
Um dos profissionais entrevistados, de forma semelhante, ressalta o viés formativo como objetivo do trabalho, sem deixar de mencionar o fator do resultado:
[...] melhorar a sua equipe, sua equipe jogar bem, consequentemente os resultados virão, independente do adversário, então focamos muito nos nossos atletas, na melhoria do indivíduo, tanto como jogador como ser humano e consequentemente a melhoria da equipe, e consequentemente tá [sic] mais próximo do resultado também, também não tem como deixar de lado, também é importante né nesse mundo (ANALISTA 1, p. 4, grifo nosso).
Apesar de não ser mencionada literalmente uma atuação de cunho pedagógico pelos profissionais entrevistados, percebe-se que muitas vezes a prática desenvolvida por esses profissionais, baseada em suas experiências empíricas e conhecimentos esportivos (LEONARDO, 2020), e por vezes fomentada pelo ambiente acadêmico-científico (CORREIA; SILVA; SCAGLIA, 2021), apresenta um diálogo de proximidade com os pressupostos teóricos da área da Pedagogia do Esporte, especialmente nos processos de ensino-treino (referencial técnico-tático), visando a qualificação dos procedimentos para a melhora na formação dos atletas.
3.2 A RELAÇÃO DOS ANALISTAS COM OS ATORES DO JOGO E AS APROXIMAÇÕES COM A PEDAGOGIA DO ESPORTE
Os resultados da presente categoria indicam que os analistas de desempenho possuem um papel estratégico (e de cunho pedagógico) na relação com os atletas dentro dos clubes, corroborando com a pesquisa de Correia, Silva e Scaglia, (2021), em que os autores apontam a importância de os profissionais de análise estabelecerem relações didáticas (competência pedagógica) com os atletas envolvidos. Para tal, muitas vezes é necessário mostrar a importância do trabalho realizado para obter a confiança dos atletas, e assim estimulá-los a compreender o próprio rendimento:
[...] você precisa primeiro ganhar confiança, [...] então quando você ganha confiança fica muito mais fácil essa ligação, [...] quando ele percebe que você tá [sic] pra ajudar [...] que a gente é útil pra ele melhorar o futebol dele [...] (ANALISTA 2, p. 14, grifo nosso).
Um elemento fundamental na qualidade do trabalho desenvolvido no processo de formação nas categorias de base, se dá pela relação entre os profissionais (especialmente treinadores e analistas) com os atletas. O estabelecimento de relações que propiciem maior confiança é um ponto chave na construção de um ambiente direcionado ao aprendizado (GROOM; CUSHION; NELSON, 2011). Desse modo Correia, Silva e Scaglia (2021) referem que o estabelecimento desse tipo de relação, na qual o analista deve investir ao conceber o processo de análise através de uma perspectiva interdisciplinar, passa a ser entendido como de viés pedagógico.
Nesta perspectiva, despertar o interesse nos atletas em relação à análise de desempenho é um dos caminhos relatados pelo Analista 8 (p. 14), “então a gente tenta caminhar pra essa direção aonde o atleta consiga realmente ter um interesse muito grande por analisar o jogo né”. Além de ressaltar a proximidade com os atletas, o mesmo profissional, comenta sobre conscientização dos mesmos e a liberdades que os treinadores proporcionam aos analistas:
É... nós temos uma relação bem próxima assim dos atletas né, tanto que o clube e os treinadores dão liberdade pra gente mesmo passar informação pros atletas, e a gente pensa muito numa questão de educação dos atletas em relação a análise mesmo, pra que a gente chegue num momento em que o atleta [...] ele mesmo faça sua autoanálise, seja crítico em cima do que ele fez de bom ou ruim no que ele precisa evoluir (ANALISTA 8, p. 14, grifo nosso).
Ponto que tem tomado relevância, de acordo com os resultados do estudo que fundamentam o presente artigo, é que o interesse por parte dos atletas em relação à análise de desempenho tem aumentado consideravelmente nos últimos anos:
[...] eu tô [sic] há quatro anos no clube, há dois anos atrás, analista de desempenho era cinegrafista pros atletas, atleta só passava na sala pra te pedir gol ou te pedir vídeo né, de jogo inteiro, e pra te perguntar “filmou o jogo hoje?” [sic] (ANALISTA 9, p. 12).
O mesmo profissional comparativamente complementa:
Hoje né [...] eu recebo muitos atletas na sala que querem sentar, sem eu chamar, pra ver o seu material, que me mandam mensagens [...] se eu tenho algum vídeo de correção deles, eles me aceleram muito pra saber os números e ter os feedbacks [...] (ANALISTA 9, p. 12).
No mesmo sentido, outro profissional comenta:
[...] e tem atleta que ele mesmo busca a gente pra poder debater e a gente explicar, tirar algumas dúvidas que ele tem, com a maior liberdade assim... e principalmente a gente dá uma atenção bem grande para esses atletas, que vem nos procurar, pra que eles possam realmente fazer isso com frequência [...] (ANALISTA 8, p. 14, grifo nosso).
Para Garganta (2018), é importante que se crie essa cultura nos jovens jogadores, pois quando os jogadores percebem que estes procedimentos são necessários para que eles possam qualificar seu desempenho, os atletas vão solicitar cada vez mais que se faça, pois necessitam disso para melhorar e seguirão fazendo continuamente em categorias maiores. Pedreño (2018) coloca que as experiências adquiridas pelos atletas ao longo das suas trajetórias, com a contribuição da análise de desempenho, melhoram a cultura tática dos jogadores, enriquecendo seu entendimento de jogo. Contudo, um ponto que poderia ser valorizado (não sendo mencionado por nenhum dos analistas) relaciona-se aos conteúdos do referencial histórico-cultural da Pedagogia do Esporte, assim poderiam estimular uma proximidade com a história e a cultura do clube em que os indivíduos estão inseridos, promovendo um maior conhecimento sobre o contexto do esporte, gerando um ambiente de aprendizagem significativo (BERGER; GINCIENE; LEONARDI, 2020; MACHADO; GALATTI; PAES, 2012, 2014)
Um dos analistas comenta sobre o fato de muitas vezes os atletas solicitarem seus lances (geralmente dribles e gols), mas que provoca os atletas a partir de uma outra perspectiva, mais reflexiva:
[...] mas eu quero também que você sente aqui e entenda que você tinha outras opções, pra ser um pouco mais objetivo, entendeu, eu tento jogar dessa forma com eles, mas sim, eles tão sempre lá na sala, é bem divertido (ANALISTA 6, p.11, grifo nosso).
Estes aspectos podem ser configurados com uma aproximação ao referencial socioeducativo da Pedagogia do Esporte. Neste ponto, procedimentos pedagógicos que podem contribuir visando a formação dos atletas são grupos de debates, momentos de reflexão e diálogo, garantindo um momento para os atletas expressarem as suas opiniões e se autoavaliarem, estimulando a responsabilidade sobre o seu próprio desempenho (MACHADO; GALATTI; PAES, 2012)
Fornecer aos jovens atletas conhecimentos específicos do seu rendimento, investindo na criação de um ambiente favorável, em que estes se sintam apoiados no processo de aprendizagem, estimulando o autoconhecimento e a compreensão da importância de um ambiente positivo, são elementos fundamentais para o desenvolvimento individual e coletivo dos atletas (GALATTI, 2017). Neste sentido as abordagens que propiciam um maior interesse dos atletas pelo seu próprio desempenho se tornam essenciais, reforçando a importância e o desenvolvimento da área de Análise de Desempenho nas categorias de base (SHAMAH; VOSER, 2022).
Ademais, destaca-se que a informação só se torna útil quando o atleta a percebe como necessária, por isso é sempre importante que se considere de que forma as informações serão transmitidas (CALVO, 2008). Para isso, o auxílio das ferramentas de vídeo se torna apropriada quando os atletas recebem um bom feedback, com informações que são essenciais para a aquisição e melhora do próprio rendimento (MCGARRY, 2009), reforçando a importância da relação pedagógica no processo de ensino-aprendizagem.
Os resultados da pesquisa apontam que a relação pedagógica, com um olhar didático utilizado pelos profissionais, apontado pelos autores Correia, Silva e Scaglia (2021), pode fazer diferença na compreensão dos atletas sobre as informações do seu rendimento:
[...] a gente consegue ter ferramentas onde você vai conseguir ser muito mais didático com atleta né, [...] é diferente você simplesmente falar algo pro atleta no campo, seja no treino ou no jogo, do que você realmente ter o material como um vídeo, algo didático apresentando pro atleta aonde ele vai visualizar ele fazendo ou um modelo fazendo né (ANALISTA 8, p.3, grifo nosso).
Para Otte et al. (2021), papel central na aquisição de conhecimento no uso apropriado do feedback, é compreender que cada atleta apresenta uma forma de aprendizado, ou seja, deve se enfatizar processos individualizados para a aprendizagem. Portanto, na relação treinador-atleta, assim como analista-atleta, é fundamental que os profissionais atribuam importância em entender o atleta na sua individualidade, pois cada um apresenta experiências e formas de aprendizado diferentes, estabelecendo uma interface com a prática didática (conteúdo da Pedagogia do Esporte) (BETTEGA et al., 2019; MACHADO; GALATTI; PAES, 2014).
A interface com a prática didática, se aproxima com o que um dos entrevistados denomina de “materiais pedagógicos”:
[...] a gente usa normalmente materiais pedagógicos e ele a partir dessa visualização ele consegue interpretar o que ele fez [...] pensar em possíveis estratégias né... aonde a gente também contribui, tentando levar o atleta a achar estratégias pra resolver os problemas, corrigir talvez determinadas competências que ele precisa corrigir ou reforçar competências que ele aplica muito bem (ANALISTA 8, p.3, grifo nosso).
Segundo Otte et al. (2021) o treinador deve ser um facilitador do processo de aprendizagem, cabe ressaltar, que se atribui também ao analista de desempenho esse papel, levando em conta a proximidade que esses profissionais têm estabelecido com os atletas dentro dos clubes, como apresenta os resultados do presente artigo. Neste sentido, um grande desafio é colocar o atleta no centro do processo de aprendizagem, fornecendo um ambiente de treinamento capaz de suprir as suas necessidades. Isso reforça o papel pedagógico do analista na forma como percebe e identifica a necessidade dos atletas e compartilha isso com outros profissionais.
[...] o objetivo da base do clube em todas as áreas é o desenvolvimento técnico tático e social do jogador, do atleta, então assim a análise é assim... como as demais áreas, é um desses campos para tentar potencializar e desenvolver capacidades que a gente identifica, então basicamente a gente ajuda a identificar né (ANALISTA 7, p.3).
Portanto, para que isso se concretize há um cuidado importante que deve ser considerado, se estabelecendo pela necessidade dos analistas (e/ou treinadores) considerarem a perspectiva do jogador que interage com o jogo, não apenas pela própria observação, mas buscando compreender o que os atletas dizem e sentem, pois, muitas vezes ao efetuar a análise pode não se constatar muitas coisas, mas quando se conversa com os atletas, estes apresentam uma outra percepção dos acontecimentos no campo, então, escutar a opinião dos jogadores possibilita que se possa ter uma melhor compreensão de diversos aspectos, analisar melhor e reformular conceitos (GARGANTA, 2018). Além disso, este tipo de comunicação-relação pode desenvolver um entendimento mútuo entre o treinador e o atleta (considera-se também o analista neste processo), estimulando o diálogo e possibilitando que falem a “mesma língua”, desenvolvendo a compreensão do jogo (GROOM; CUSHION; NELSON, 2011). Destaca-se que a compreensão do jogo é um elemento central nos modelos de análise que visam aproximar as duas áreas de conhecimento, valorizando sobretudo a sua dimensão tática (LEONARDO, 2020).
Diante do exposto, percebe-se então, que a relação que os analistas de desempenho estabelecem com os jogadores (em especial os jovens), tende a influenciar positivamente o interesse dos atletas no próprio desempenho. Isso pode contribuir efetivamente no desenvolvimento dos jogadores, contribuindo para a sua formação. Além disso, constata-se que gradativamente o interesse dos atletas por informações do jogo vem aumentando. Este contributo pode ser pela forma como os profissionais de análise vêm constituindo o seu escopo de trabalho, especialmente nas categorias de base. Assim, a continuidade do trabalho (em longo prazo) do analista dentro das categorias de base, incluindo conhecimentos da Pedagogia do Esporte, pode fazer, no decorrer dos anos, com que a capacidade dos jogadores de perceberem o seu desempenho, e refletirem sobre ele, seja melhorada.
4 CONCLUSÕES
A atuação do analista de desempenho tem se caracterizado pela participação ativa nos processos dentro dos clubes. Esse é um grande desafio dos profissionais da área, já que a sua atuação tem sido estratégica na busca por melhores resultados, especialmente nas categorias de base, que visa a formação de atletas para o futebol profissional. Neste ponto, parece necessário que exista uma aproximação dos conhecimentos da área da Pedagogia do Esporte com a Análise de Desempenho, em que se considere aspectos pedagógicos na execução do trabalho de análise (planejamento, intencionalidade, sistematização e avaliação) com adequação ao contexto de prática.
Ainda que os próprios analistas não percebam a sua atuação dentro dos clubes como de cunho pedagógico, percebe-se que na prática essa interface vem sendo necessária no desenvolvimento do trabalho. Isso aponta para o fato de que aqueles que pretendem qualificar a sua atuação, podem apoiar-se nos conhecimentos propostos pela Pedagogia do Esporte, valorizando acima de tudo os sujeitos como parte fundamental do processo de aprendizagem. A relação de confiança que os analistas estabelecem, apresenta uma influência positiva no interesse dos atletas pelo seu próprio rendimento, podendo melhorar a cultura tática dos jogadores, enriquecendo seu entendimento de jogo.
O arcabouço teórico proposto pela Pedagogia do Esporte, especialmente os conteúdos do referencial técnico-tático podem (e devem) fazer parte dos conhecimentos de quem recorre a área da Análise de Desempenho, principalmente os profissionais inseridos no contexto das categorias de base, para que possam qualificar o trabalho na formação de atletas. Portanto, a prática profissional dos analistas de desempenho deve ser baseada no entendimento da complexidade do desempenho no esporte contemporâneo, necessitando do diálogo com diferentes áreas do conhecimento.
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Este artigo é um desdobramento de: SHAMAH, Manoel Eduardo do Prado. Análise de desempenho no futebol: a prática do analista de desempenho nas categorias de base dos clubes brasileiros da série A. 2021. 227f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) - Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2021
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FINANCIAMENTOO presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
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COMO REFERENCIAR
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ÉTICA DE PESQUISA
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética de Pesquisa (CEP) da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - ESEFID/UFRGS. Número de protocolo nº 31000120.2.0000.5334.
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Editado por
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RESPONSABILIDADE EDITORIAL
Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Guy Ginciene*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira**Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
25 Ago 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
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Recebido
30 Ago 2022 -
Aceito
22 Mar 2023 -
Publicado
14 Jul 2023