O processo de globalização incrementou mudanças que ultrapassam as barreiras geográficas, produzindo mudanças políticas, culturais e econômicas. Isso, por sua vez, levou a uma reforma nas políticas de educação universitária na qual, para dar resposta a essa necessidade, surge e se destaca o eixo da internacionalização do conhecimento como uma ponte para dar acesso a uma visão ampliada de diferentes contextos. Para Knight1“a internacionalização é uma das maiores forças que impactaram e estruturaram o ensino superior para assumir os desafios do século XXI.”
Considerado um processo multidimensional, a internacionalização comporta uma importante competência cultural que envolve intercâmbio de aprendizagem científica e cultural em um caminho de duplo sentido entre as universidades. Além disso, deve assumir um papel sociopolítico com perspectiva de cooperação internacional para favorecer a ajuda mútua entre os países. De fato, no ano de 2009, a Conferência Mundial sobre Ensino Superior (CMES) da UNESCO destacou “a responsabilidade social das instituições de ensino superior de contribuir para o incremento da aprendizagem baseado na transferência de conhecimento através das fronteiras, especialmente para os países em desenvolvimento”. No ano de 2011, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) considerou que a mobilidade internacional é um fenômeno que resgata o sentido de trabalho conjunto e benefício mútuo.
A enfermagem também apoia esse processo. Assim, A ALADEFE (Associação Latino-americana de Escolas e Faculdades de Enfermagem) há anos incentiva essa transculturalidade na Enfermagem e, em setembro de 2015, na última Conferência, destacou a importância de promover o intercâmbio pedagógico, científico, político, social e cultural entre as universidades como ponte para a qualidade da formação em Enfermagem.
No âmbito europeu, também aconteceu recentemente uma reforma do Espaço Europeu de Ensino Superior (EESS), com um enfoque sobre a mobilidade universitária, a promoção do trabalho multicêntrico e a inovação docente e/ou acadêmica. Para Freire2 “Conhecer o que acontece em outros países, e mais ainda nos mais próximos é, hoje, uma obrigação iniludível. As comparações internacionais oferecem um excelente meio para analisar a própria realidade com outra perspectiva, ampliar horizontes e aprender vendo como funcionam em outros países as diferentes combinações de recursos, esquemas organizacionais e normativos. Em certa medida, o que acontece em outro país pode ser considerado como uma grande experiência natural - gratuita - da qual retirar conclusões”.
Desde essa perspectiva, o Processo de enfermagem surge como um interessante recurso comum de comunicação entre países. Compartilhamos uma linguagem e uma metodologia de trabalho e, a partir da docência, destacamos a necessidade da transversalidade desse processo na formação, tanto em nível de graduação quanto de pós-graduação. Existe uma necessidade de promover a interação entre ensino e serviço, entre grupos de pesquisa e prática clínica, além de buscar a experiência de outros centros e/ou instituições.
O processo de enfermagem influencia diretamente na continuidade dos cuidados, que, por sua vez, é uma importante dimensão da qualidade assistencial e que está diretamente relacionada com a melhoria da segurança do paciente e, como resultado disso tudo, seu maior grau de satisfação. Os cuidados de enfermagem guardam uma relação direta com a satisfação do paciente e, por isso, vêm se transformando em um referente da qualidade assistencial3, enquanto a pesquisa nos cuidados é a sua arma fundamental. As redes de pesquisa em enfermagem, como foi comentado em um editorial anterior desta revista, serão uma importante ferramenta, como a Rede EnfAméricas, que reúne mais de 3000 enfermeiros da América Latina4.
Desde que surgiram, há pouco tempo, as linguagens padronizadas de enfermagem (LEE) foram sofrendo uma evolução e transformação: primeiro foram colocadas as suas bases, depois veio a implementação e informatização, e mais atualmente encontra-se a pesquisa; tudo com o objetivo de consolidar a disciplina de enfermagem e a sua contribuição para a melhoria da qualidade do cuidado à população.
Surgiu uma variedade de Cursos de Mestrado oficiais e específicos em enfermagem, linhas de pesquisa e teses de doutorado sobre a metodologia de trabalho própria da enfermagem como é o processo de enfermagem.
Nesse contexto, até o momento não existia qualquer obra no mercado que se concentrasse especificamente na pesquisa das linguagens de enfermagem. A editora Elsevier vai publicar, em breve, a obra intitulada: “Investigación en Metodología y Lenguajes Enfermeros”5. Como assessoras da editora, entendemos que fazia falta descrever o estado atual da questão e, a seguir, estabelecer pautas de atuação específica em pesquisa, de forma que todo profissional da enfermagem que queira iniciar um projeto possa encontrar ajuda adequada e ampla bibliografia de apoio.
A obra é uma colaboração entre a Faculdade de Enfermagem da Universidade católica de San Antonio, de Múrcia, (Espanha) e a AENTDE (Associação Espanhola de Nomenclatura, Taxonomia e Diagnósticos de Enfermagem), e nasceu com vocação internacional e integradora. Participam mais de 40 autores dos Estados Unidos. Holanda, Brasil e Espanha, tanto do âmbito da docência e pesquisa quanto da assistência ou gestão. Destacamos autoras do Centro para as Classificações de Enfermagem e a Efetividade Clínica da Universidad de Iowa (EUA) como E. Swanson ou S. Moorhead (Universidad de Iowa), da NANDA-I, como María Müller–Staub, e membros atuais e anteriores da AENTDE, começando pela sua fundadora. No Brasil, o fenômeno está em expansão, e contamos com dois dos melhores pesquisadores da atualidade: Marcos Vinicios Lopes (Universidade Federal do Ceará (UFC)/Fortaleza) e Gracielle Linch (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)/Porto Alegre).
Em resumo, a enfermagem tem um papel significativo no processo assistencial dos cuidados, tanto em nível de execução quanto na sua gestão, e vemos com otimismo este momento porque estamos desenvolvendo ferramentas que melhoram a evidência dos resultados da saúde sobre a qualidade assistencial de forma global. Devemos continuar nessa linha.
REFERÊNCIAS
- 1 Knight J. Internationalization: key concepts and elements. In: Raabe J, editor. Internationalization of European higher education. Berlim: Raabe Academic Publishers; 2010.
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2 Freire JM. El Sistema Nacional de Salud español en perspectiva comparada europea: diferencias, similitudes, retos y opciones. Claridad. 2006 [citado 2016 mar 20];(7):31-45. Disponível em: http://portal.ugt.org/claridad/numero7/freire.pdf
» http://portal.ugt.org/claridad/numero7/freire.pdf - 3 Wagner D, Bear M. Patient satisfaction with nursing care: a concept analysis within a nursing framework. J Adv Nurs. 2009;65(3):692-701.
- 4 Rocha CMF, Cassiani SHB. Las redes de enfermería: estrategias para el fortalecimiento de la investigación y de la extensión. Rev Gaúcha Enferm. 2015 jun;36(2):12-3.
- 5 Echevarría P, editor. Investigación en metodología y lenguajes enfermeros. Barcelona: Elsevier; 2016.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
2016