Open-access Grupos de pesquisa em enfermagem no Brasil: comparação dos perfis de 2006 e 2016

Grupos de investigación en enfermería en Brasil: comparación entre los años 2006 y 2016

RESUMO

Objetivos  Comparar o perfil dos grupos de pesquisa em Enfermagem cadastrados no Diretório do CNPq em 2006 e 2016.

Métodos  Estudo descritivo documental. A coleta de dados aconteceu em 2006 e 2016 a partir de consulta parametrizada com o termo Enfermagem no Diretório dos Grupos de Pesquisa, na página online do CNPq, sendo realizada a análise descritiva. Os dados foram organizados em planilha do Excel.

Resultados  O número de Grupos de Pesquisa aumentou de 251 em 2006 para 617 em 2016, com incremento no número de participantes. Houve redução do número de grupos sem estudantes, embora 22% permaneçam sem participação de alunos de graduação.

Conclusões  Os grupos de pesquisa em Enfermagem refletem avanços estruturais e políticos na geração de ciência, tecnologia e inovação da área, entretanto ainda deve ser incentivada a participação de alunos de graduação e pesquisadores estrangeiros, bem como a ampliação de recursos tecnológicos e das parcerias interinstitucionais.

Enfermagem; Grupos de pesquisa; Pesquisa em enfermagem; Educação de pós-graduação; Educação superior

RESUMEN

Objetivo  Caracterizar el perfil de los grupos de investigación en enfermería registrada en el Directorio CNPq en dos momentos distintos: en 2006 y 2016.

Método  Estudio descriptivo documental, desde el Directorio de Grupos de Investigación en Brasil en 2006 y 2016, con un aumento significativo en el número de participantes, aunque el 22% no cuenta con la participación de estudiantes graduados. Los datos fueron organizados en una hoja de cálculo de Microsoft Office Excel.

Resultados  Los grupos de investigación aumentaron de 251 en 2006 a 617 en 2016. Además de aumentar el número de grupos, que reveló un aumento significativo en la proporción de los miembros, los investigadores y los estudiantes por grupo.

Conclusiones  Hubo un aumento significativo en el interés en actividades de investigación en la comparación entre los dos escenarios. Los grupos de investigación en enfermería reflejan avances estructurales y políticos en la generación de la ciencia, la tecnología y la innovación y la formación de científicos en el campo. Sin embargo, debe seguir fomentando la participación de los estudiantes universitarios.

Enfermería; Grupos de investigación; Investigación en enfermería; Educación de posgrado; Educación superior

ABSTRACT

Objective  To compare the profile of nursing research groups registered at the CNPq Research Groups Directory in 2006 and 2016.

Method  Descriptive and documentary analysis, The data has been collected in 2006 and in 2016, with parameterized search with the term “nursing” at the CNPq Research Groups Directory. The selected variables have been organized in a Microsoft Office Exce spreadsheetl.

Results  The research groups have increased from 251 in 2006 to 617 in 2016, with important increase of the number of participants, among students and researchers. There was a decrease of the number of groups without students. However, 22% remain without undergraduate students’ participation.

Conclusions  It has been observed an important increase regarding the interest on research activities, when comparing both scenarios. The nursing research groups reflect structural and political advances in generation of science, technology and innovation, however, the undergraduate students’ and the foreign researchers’ participation should still be encouraged.

Nursing; Research groups; Nursing research; Education, graduate; Education, higher

INTRODUÇÃO

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), foi criado em 1951 como Conselho Nacional de Pesquisas, posteriormente assumindo a denominação atual. Em 1965 foi regulamentada a pós-graduação no Brasil, sendo institucionalizado o ensino de mestrado e doutorado com 38 cursos no país1. A Enfermagem acompanhou essa evolução do ensino, com a criação do primeiro curso de mestrado em Enfermagem do país, em 1972, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro2.

O CNPq é considerado centro do planejamento estratégico da ciência no Brasil, e visa fomentar a pesquisa científica e tecnológica, atuar na formulação de suas políticas, promover a capacitação de recursos humanos para questões de relevância econômica e social, apoiar os estudos, incentivar a formação de pesquisadores brasileiros, fortalecendo o saber e colaborando para o avanço das fronteiras do conhecimento. Desse modo, contribui para valorização da produção científica brasileira e reconhecimento de pesquisadores nacionais pela comunidade científica internacional1.

Os pesquisadores brasileiros se articulam em Grupos de Pesquisa (GPs) científica e tecnológica, organizações vinculadas a universidades e outros centros de ensino superior, instituições de pesquisa científica e institutos tecnológicos. Dentro dos GPs, os integrantes são classificados como pesquisadores (membros permanentes envolvidos com as atividades de pesquisa), estudantes (de nível médio, superior e pós-graduação lato sensu e stricto sensu) e pessoal de apoio técnico. No entanto, o CNPq não interfere na identificação dos membros dos GPs, cabendo ao líder de cada grupo definir a participação de cada integrante3.

Os GPs brasileiros em atividade estão alocados dentro do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, base de dados do CNPq sobre recursos humanos, linhas de pesquisa, produção científica e tecnológica, parcerias estabelecidas e as instituições referentes aos grupos. Nesta base de dados, os atores envolvidos podem atualizar constantemente informações sobre seus grupos, sendo uma importante ferramenta para a troca de informação. Assim, a partir deste Diretório é possível caracterizar os limites e o perfil da atividade científica no país, e identificar suas fragilidades e potenciais. Para ingressar no Diretório, a instituição do GP deve ser cadastrada no Diretório de Instituições do CNPq, e a atualização periódica é necessária, no mínimo, a cada 12 meses, como critério para manutenção da certificação do grupo3.

É essencial para a Enfermagem a valorização da produção científica para o desenvolvimento de uma prática clínica baseada em evidências, permitindo maior visibilidade, reconhecimento e sua consolidação como ciência. Nesse sentido, os GPs configuram-se como importantes estratégias de qualificação da profissão, incentivando os profissionais ao pensamento crítico, reflexivo e investigativo aos profissionais desde sua formação4.

A importância da interface entre pesquisa e formação acadêmica se dá pela influência positiva da investigação científica em paralelo à prática profissional. A pesquisa em Enfermagem tem papel de produzir e aperfeiçoar saberes, buscando a qualificação do cuidado e, assim, o aumento da qualidade de vida das pessoas. O investimento em oportunidades de bolsas de Iniciação Científica (IC) estimula a participação de estudantes desde a graduação no universo da pesquisa acadêmica, o que favorece a formação de profissionais mais bem preparados para o mercado de trabalho, e encorajados à pós-graduação5.

Pesquisas relacionadas à produção científica dos GPs nacionais da área da Enfermagem têm sido produzidos com enfoque na apresentação do perfil de grupos vigente5-7. No entanto, não foram localizados estudos que apresentem a evolução do cenário, bem como a identificação dos avanços e dos desafios a serem transpostos.

O desenvolvimento de estudos científicos que caracterizem a evolução dos grupos de pesquisa em Enfermagem permite reconhecer os potenciais e fragilidades dos núcleos de produção científica. E, avaliando o direcionamento da produção de conhecimento, é possível estruturar princípios e práticas para reorientação do processo de formação do enfermeiro, favorecendo as políticas de saúde e fortalecendo a Enfermagem como ciência6.

Nesse contexto, questiona-se: Como evoluiu o cenário dos grupos de pesquisa em Enfermagem cadastrados no Diretório do CNPq em 2006 e em 2016? Este estudo teve por objetivo comparar o perfil dos grupos de pesquisa em Enfermagem cadastrados no Diretório do CNPq em 2006 e 2016.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo documental, a partir do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. A coleta de dados aconteceu em dois momentos. O primeiro foi em agosto de 2006, na página do CNPq, por consulta parametrizada, ou seja, busca textual em base corrente com o termo “Enfermagem”, aplicada aos campos: nome do grupo, nome da linha de pesquisa, repercussões do GP, palavra-chave de linha de pesquisa, e nome do pesquisador; acreditando-se que nesses tópicos dos grupos de pesquisa de área fosse citada a palavra Enfermagem. Nesta coleta foram localizados 340 GPs. Destes, 251 caracterizavam grupos de pesquisa de Enfermagem, e 89 grupos pertenciam a áreas predominantes diferentes. Vale ressaltar que os pesquisadores envolvidos neste estudo possuem um banco de dados referente a este período8, o qual não está disponível para acesso de forma completa, considerando os cruzamentos realizados pelos pesquisadores.

A segunda coleta aconteceu em abril de 2016, também com o termo de busca Enfermagem, aplicada aos campos: nome do grupo; nome da linha de pesquisa; palavra-chave da linha de pesquisa; e repercussões do grupo. Foram localizados inicialmente 846 GPs, dos quais selecionaram-se apenas aqueles que indicavam a Enfermagem como área de abrangência. Destes, 229 foram descaracterizados por apresentarem outra área de abrangência, sendo estas: Saúde Coletiva (105), Medicina (48), Educação (14), Nutrição (8), Educação Física (7), Psicologia (6), Farmácia (4), História (4), Odontologia (4), dentre outras (29). Assim, totalizando 617 grupos na área da Enfermagem.

O banco de dados foi elaborado a partir do resgate dos seguintes elementos de cada grupo: nome, situação (se certificado pela instituição, e se atualizado ou não), ano de formação, nome dos líderes, instituição, número de linhas de pesquisa, vínculo com instituições parceiras, indicadores de recursos humanos do grupo, e utilização de equipamentos e softwares relevantes. Os dados foram organizados em uma planilha do Excel, agrupados e analisados por meio de estatística descritiva (médias, amplitude mínima e máxima, porcentagem) e inferencial, apresentados em números absolutos e relativos.

Salienta-se que os pesquisadores atenderam aos princípios éticos em pesquisa, preservando a identificação dos Grupos de Pesquisa ou instituições de ensino no que se refere à estrutura e produtividade.

RESULTADOS

O primeiro GP em Enfermagem no Brasil foi o Núcleo de Estudos e Pesquisa do Idoso – NESPI, criado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1973. Após isso, em 1982 o Grupo de Estudos sobre Cuidados em Saúde de Pessoas Idosas – GESPI, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi desenvolvido. E em 1985 foram criados o Núcleo de AIDS e Doenças Sexualmente Transmissíveis – NAIDST, e o Núcleo de Estudos, Ensino e Pesquisa do Programa de Assistência Primária de Saúde Escolar – PROASE, ambos da Universidade de São Paulo (USP).

O total de grupos aumentou de 251 em 2006 para 617 em 2016, um crescimento de 146% ao longo dos anos, sendo 2010 o ano com maior destaque, com a criação de 58 novos grupos (Gráfico 1). Todos os 617 grupos atualmente em atividade encontrados são certificados, ou seja, são atualizados periodicamente pela instituição à qual pertencem. Entretanto, 174 (28%) não eram atualizados havia mais de 12 meses.

Gráfico 1
– Criação dos Grupos de Pesquisa em Enfermagem no Brasil, 1973-2016

Percebe-se que, dos 251 GPs contabilizados em 2006, 43 (17%) não constaram em 2016, o que indica o encerramento, ao longo dos anos, de parcela importante dos grupos encontrados na primeira busca.

Em 2006, 232 (92%) GPs configuravam-se entre uma e cinco linhas de pesquisa, dado que se manteve estável ao longo dos anos, uma vez que, em 2016, 571 (93%) grupos apresentam até cinco linhas de pesquisa (Gráfico 2).

Gráfico 2
– Número de Linhas de Pesquisa por Grupo de Pesquisa em Enfermagem no Brasil, 2006-2016

Os dados de 2016 evidenciaram, ainda, que 131 (21%) grupos desenvolviam seus estudos em torno de apenas uma linha de pesquisa, o que demonstra o direcionamento a novos saberes, e a sistematização da produção científica em nichos de conhecimento.

A busca de 2016 revelou que 249 (40%) grupos possuíam de 18 a 34 integrantes, e 238 (39%) apresentavam de um a 17. Esse perfil se diferencia do verificado em 2006, quando 175 (70%) apresentavam até 17 integrantes e apenas 58 (23%) possuíam de 18 a 34 participantes, o que revela importante crescimento dos grupos e aumento do interesse pela participação no cenário de pesquisa (Gráfico 3).

Gráfico 3
– Número de Integrantes por Grupo de Pesquisa em Enfermagem no Brasil. 2006- 2016

A busca de 2016 evidenciou que na maioria os pesquisadores eram doutores (64%), seguidos de mestres (26%), especialistas (6%), graduandos (2%), e outros (2%). Em 2006, 184 (73%) grupos possuíam até oito pesquisadores e 56 (22%) contavam com nove a 16. Em 2016 observou-se aumento importante do número de pesquisadores por grupo, sendo que 341 (55%) contavam com até oito pesquisadores, e 211 (34%) de nove a 16 (Gráfico 4 ).

Gráfico 4
– Número de Pesquisadores por Grupo de Pesquisa em Enfermagem no Brasil. 2006-2016

Gráfico 5
– Número de Estudantes por Grupo de Pesquisa em Enfermagem no Brasil, 2006- 2016

Verificou-se significativa participação dos estudantes nos GPs em 2016, uma vez que a composição dos grupos foi em média de 59% estudantes, 36% de pesquisadores, 4% de técnicos, e 1% de colaboradores estrangeiros.

Segundo os dados de 2016, 32% dos estudantes eram alunos de graduação, e 37% foram indicados como outros, inviabilizando uma análise precisa sobre a proporção de cada nível de treinamento. Além destes, 14% eram apresentados como estudantes de doutorado; 12%, como de mestrado; e 6%, de especialização. Em 2006, 244 (97%) grupos contavam com até 21 estudantes em sua formação, e em 2016 esta proporção reduziu para 488 (79%) grupos. Em 2006 nove (4%) grupos possuíam mais de 22 estudantes, número que cresceu para 130 (21%) grupos em 2016, o que revela aumento do número de estudantes por grupo.

Registra-se, ainda, que 27 (4%) GPs do banco de dados de 2016 não contavam com estudante dos diferentes níveis de formação em sua composição, frente a 50 (20%) que se encontravam na mesma situação em 2006, o que representa uma redução de 46% de grupos nesta situação. Entretanto, 134 (22%) grupos ainda não apresentavam alunos de graduação entre seus integrantes, demonstrando prejuízo para a formação do enfermeiro, tendo em vista a importância da integração entre ensino e pesquisa para a formação profissional, e do incentivo à formação de novos mestres e doutores.

Houve, ainda, um maior detalhamento das informações disponibilizadas pelo CNPq referentes aos grupos de pesquisa. Em 2016, a nova estrutura da plataforma permitiu identificar que 30 (5%) grupos possuíam softwares relevantes utilizados nas atividades de pesquisa e desenvolvimento, que eram aqueles já cadastrados pelo CNPq ou de desenvolvimento próprio do GP. Apenas quatro (1%) informaram utilizar equipamentos próprios com valor superior a R$ 100 mil, sendo estes: microcomputadores, software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), software High-Performance Liquid Chromatography (HPLC), Estruturação da Clínica de Insuficiência Cardíaca, Laboratório Interdisciplinar de Gerontologia, e Laboratório de Reparos de Feridas.

Ainda, os dados referentes ao ano 2016 revelaram que 151 (24%) grupos possuíam pelo menos uma instituição parceira, sendo totalizadas 313 instituições registradas. Desses convênios, 217 (69%) eram estabelecidos com universidades; 40 (13%), com hospitais e instituições de assistência clínica; e 19 (6%), com órgãos governamentais, como prefeituras e secretarias municipais e estaduais, entre outras (37 – 12%). Dentre as universidades parceiras, vale ressaltar que um número significativo (37 – 17%) era de estrangeiras, o que tende a fortalecer a visibilidade das pesquisas da Enfermagem nacional.

Com relação à participação de colaboradores estrangeiros, 40 (6%) grupos contavam com 65 pesquisadores. Estes eram oriundos majoritariamente de Portugal (19; 29%), cujo interesse pode ser justificado pelo conhecimento do idioma, seguido pelos Estados Unidos (10; 16%), Peru (8; 12%), México e Itália (5; 8% cada), França, Canadá e Espanha (4; 6% cada), dentre outros (6; 9%).

DISCUSSÃO

De acordo com dados de 2012, 49% dos grupos de pesquisa em Enfermagem no Brasil cadastrados no CNPq não estavam atualizados. Observa-se uma importante melhora deste indicador, uma vez que, em 2016, esse número se reduziu aproximadamente pela metade. A atualização dos grupos na plataforma a cada 12 meses é uma exigência do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq desde a criação do GP. Após este período, o grupo consta como não atualizado e não certificado, e pode ser excluído da base5.

O crescimento dos GPs da área da Enfermagem nos últimos 10 anos acompanha o avanço dos programas de pós-graduação da área, bem como do número de pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa do CNPq4. Um estudo sobre os grupos de pesquisa da História da Enfermagem brasileira constatou que em 1998 havia 14 programas de pós-graduação em Enfermagem no país, e em 2010 este número foi ampliado para 397. Em 2016, tínhamos 70 programas de pós-graduação da área básica da Enfermagem em funcionamento9, o que revela importante avanço. Este crescimento é considerado reflexo da política de incentivo liderada pelos representantes de área no CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), dos esforços de doutores em Enfermagem na demanda de fomento em pesquisa, e de avanços na estrutura dos programas de pós-graduação da área4.

As universidades e outras instituições de educação superior são facilitadoras para a articulação com pesquisadores internacionais, o que permite a consolidação da Enfermagem de práticas avançadas, por meio do fortalecimento de habilidades para a tomada de decisão, conhecimentos especializados e competência clínica10. Nesse contexto, as atividades de pesquisa e produção de novos conhecimentos desenvolvidas em grupos incentivam a setorização por áreas de interesse, bem como agregam pesquisadores e profissionais experts, alunos e outros membros interessados na temática, incitando o aprofundamento teórico e domínio da prática no seu campo de saber4. Assim, a definição das linhas de pesquisa de um GP configura um guia para seus estudos e pesquisas11.

Na Espanha existem poucos programas de pós-graduação específicos da área da Enfermagem. No entanto, o direcionamento das áreas temáticas por meio de linhas de pesquisa bem definidas contribui para o fortalecimento da profissão e melhoria de vida da população12.

A articulação entre múltiplos grupos investigativos de diferentes instituições, assim como variados sujeitos, dentre profissionais assistentes, alunos e professores/pesquisadores, com objetivos de estudos convergentes, oportuniza o intercâmbio intelectual, enriquece o conhecimento produzido e facilita a aproximação entre a produção científica e a prática profissional11,13.

O processo de produção de conhecimento deve se dar de modo coletivo, integrado, dinâmico, contínuo e complementar, o que fundamenta o trabalho dos GPs, que se organizam para a realização de atividades compartilhadas de produção de conhecimentos. Essa construção coletiva, por meio da interação e troca de saberes entre os membros do GP ou integrantes de diversos grupos, configura-se como um novo modo de produzir ciência4.

A preparação do enfermeiro para atuar frente aos problemas de saúde de âmbito global pressupõe parcerias e esforços institucionais para além das fronteiras locais e nacionais, bem como investimentos suficientes para a promoção de tais conexões. A parceria entre instituições de ensino de Enfermagem permite ao estudante, já durante a formação profissional, a compreensão para além da sua realidade, expandindo suas possibilidades de reflexão e atuação14.

No setor de saúde espanhol, destacam-se os investimentos em intercâmbios entre instituições de pesquisa nacionais e internacionais, bem como os incentivos à participação dos enfermeiros em equipes de pesquisa avançada, oportunizando a promoção da prática baseada em evidências12.

Os GPs se estruturam por equipes de pesquisadores dirigidos por um ou dois coordenadores, que mantêm a liderança acadêmica e intelectual neste cenário. É importante considerar o perfil do doutor em Enfermagem preconizado para que se alcance a pesquisa e prática de excelência, uma vez que os GPs investem constantemente na busca de financiamento e gerência dos recursos financeiros, o que demanda um perfil empreendedor e de liderança dos seus coordenadores4.

Um estudo de 2012 verificou que 87,5% dos pesquisadores em História da Enfermagem no Brasil possuíam título de doutor ou mestre, seguindo a mesma proporção dos achados deste estudo. A forte presença de pesquisadores com formação stricto sensu implica em maior qualificação das atividades desenvolvidas, especialmente na orientação de estudantes e condução das pesquisas dos grupos7.

Estabilizar-se como pesquisador é um desafio que exige do profissional enfermeiro esforço, comprometimento, paciência, além de importante investimento de tempo. Os pesquisadores precisam construir suas carreiras desde a graduação para adquirir logo cedo competências em pesquisas. Isso é fundamental para estabelecer sua credibilidade como pesquisador e possibilitar-lhe empreender em pesquisas que influenciarão políticas e práticas em saúde15.

A qualificação dos GPs e consequentemente dos Programas de Pós-Graduação aos quais são vinculados é resultado de suas produções científicas e crescimento das publicações de alto impacto. O fortalecimento dos GPs agrega valor aos cursos de graduação, mestrado e doutorado, fomentando o desempenho de excelência4.

A participação significativa de estudantes integrantes dos GPs acompanha o incentivo e direcionamento da produção do conhecimento, considerando as diretrizes curriculares que preconizam a articulação entre ensino, pesquisa e extensão. No entanto, é preocupante a manutenção de grupos que não contam com a participação de estudantes, tendo em vista o potencial de recrutamento e identificação de futuros pesquisadores, refletindo benefícios ao ensino e à produção da ciência. Ainda, há um crescente interesse dentre os alunos em participar das atividades de pesquisa, o que exige motivação e encorajamento pelos professores/pesquisadores5.

Dentre as atividades de fomento à pesquisa na graduação destaca-se a IC, principal estratégia para estimular novos talentos e a formação de novos pesquisadores. A inserção em GPs permite ao graduando articulação com colegas mais experientes e professores orientadores, oportunizando o compartilhamento do conhecimento produzido4. A produção de alunos de graduação em Enfermagem, quer na atividade de IC por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) ou pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI), quer na realização dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) em universidades públicas que possuem programas de pós-graduação, aparece registrada nos relatórios dos referidos programas, especialmente no portal de coleta da Capes16, o que justifica a importância de se investir no registro da participação destes alunos nos GPs da Enfermagem.

Salienta-se a importância de encorajar nos estudantes, enquanto futuros profissionais e pesquisadores, a consciência de que suas ações de cuidado devem ser acompanhadas por pensamentos críticos e reflexivos, no intuito de dar significado a essas ações, para que sirvam de guia para orientar a prática profissional7,17.

A produção de conhecimento de qualidade em Enfermagem e saúde pressupõe investimentos em políticas, gerência e inovação, o que traz reconhecimento ao GP, seus pesquisadores e suas produções. Para alcançar a alta produtividade e atividades de excelência, é necessário dispor de estrutura física adequada, em uma conjuntura favorável à produtividade4.

O desenvolvimento das atividades de produção científica de um grupo de pesquisa requer infraestrutura suficiente que conte com equipamentos e tecnologias avançadas e adequadas aos objetos de estudos e linhas de pesquisa do GP4. O uso de tecnologias em ensino e pesquisa é reconhecido como estratégia inovadora e diferenciada, com importante potencial de contribuição para o pensamento crítico e decisões complexas18.

Entretanto, a utilização de tecnologias para incremento das pesquisas ainda é pouco frequente na Enfermagem. Menos de 2% das teses e dissertações de programas de pós-graduação em Enfermagem no Brasil de 2001 a 2013 utilizaram tecnologias não convencionais de coleta de dados, que compreendem técnicas, produtos e testes criativos e inovadores de coleta de dados, o que revela a limitada produção de estudos que façam uso de tecnologias na área18.

Comparativamente, nos últimos 10 anos, os grupos de pesquisa em Enfermagem avançaram de forma substancial na expansão em número de grupos, de participantes e de estudantes de graduação, mantendo seus esforços concentrados no desenvolvimento de expertise temática, demonstrado pelo número linhas de pesquisa. Apesar da valorização crescente da informação e interesse pelo desenvolvimento de pesquisa, ainda é incipiente o processo de translação do conhecimento na Enfermagem e saúde, o que significa, ao mesmo tempo, necessidade e desafio na realidade brasileira. Apontando, desta forma, como fragilidades os reduzidos números de parcerias interinstitucionais, de participantes estrangeiros e recursos tecnológicos. A dificuldade em identificar problemas de pesquisa relevantes à prática, pouco envolvimento dos usuários do conhecimento nos processos de investigação, baixos investimentos em estudos sobre a temática pelas agências de financiamento são barreiras a serem enfrentadas para se qualificar e incorporar os resultados das pesquisas científicas na prática profissional, indispensável para a promoção da enfermagem baseada em evidências19.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo apresentou a caracterização do perfil dos GPs da área da Enfermagem disponíveis no Diretório dos Grupos de Pesquisa na página do CNPq nos anos 2006 e 2016. A comparação entre os dois cenários possibilitou verificar, na trajetória dos grupos de pesquisa da enfermagem nacional, importantes núcleos de desenvolvimento de estudos e pesquisas acadêmicas, denotando os esforços na construção do conhecimento em Enfermagem e saúde ao longo de uma década.

Os grupos de pesquisa em Enfermagem refletem seus avanços estruturais e políticos na geração de ciência, tecnologia e inovação da área, entretanto ainda deve ser incentivada a participação de alunos de graduação e pesquisadores estrangeiros, bem como a ampliação de recursos tecnológicos e das parcerias interinstitucionais.

Este estudo apresenta limitações relacionadas à oscilação do número de GPs disponibilizados no portal do CNPq, próprias de investigações que se utilizam de dados secundários. Isso se dá pela possibilidade constante de inserção de novos grupos, bem como eventuais exclusões de grupos não atualizados há mais de 12 meses.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    26 Out 2016
  • Aceito
    18 Abr 2017
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