Resumos
A hipotensão pós-exercício tem sido alvo de diversas investigações. Todavia, não é consenso que exercícios resistidos induzam este fenômeno. O propósito deste trabalho foi, através de revisão da literatura, apresentar os principais achados no que tange à Hipotensão Pós-Exercício Resistido (HPER) e seus possíveis mecanismos. Os resultados dos estudos analisados apresentam controvérsias, possivelmente pelos diferentes delineamentos metodológicos e protocolos de exercício adotados para análise da HPER. Controvérsias na literatura podem também estar relacionadas ao nível da PA em repouso, uma vez que pessoas com valores basais mais elevados apresentam reduções mais importantes após o exercício. Futuras pesquisas são necessárias para melhor elucidar os mecanismos responsáveis pela HPER. Contudo, a HPER parece factível, especialmente em hipertensos, pelo menos nos primeiros 60 a 90 min de recuperação pós-sessão. Essas informações são importantes para a prescrição do exercício.
Exercício resistido; Pressão arterial; Hipotensão
Post-exercise hypotension (PEH) has been the subject of several investigations. However, there is no consensus that resistance exercise promotes this phenomenon. The purpose of this work was to present, through a literature review, the main findings regarding post-resistance exercise hypotension and its possible mechanisms. The results of the studies are conflicting, which may be due to different methodological designs and exercise protocols adopted. Controversies may also be related to the level of blood pressure (BP) at rest, since people with higher baseline levels usually have more important reductions after exercise. Future researches are important to elucidate the physiological mechanisms that induce PEH. Although some studies have failed to report it, this phenomenon seems feasible, especially in hypertensive patients, at least in the first 60 to 90 minutes after a resistance exercise session. This information is important for exercise prescription.
Resistance exercise; Blood pressure; Hypotension
ARTIGOS DE REVISÃO
Hipotensão pós-exercício resistido: uma revisão da literatura
Hypotension after resistance exercise: a literature review
Maurílio Tiradentes DutraI; Ricardo Moreno LimaII; Márcio Rabelo MotaIII; Pedro Ferreira Alves de OliveiraIV; João Henrique Carneiro Leão VelosoV
IProfessor do Centro de Educação Profissional de Saúde de Planaltina/DF, Brasília-DF, Brasil
IIDoutor. Professor da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília - UnB, Brasília-DF, Brasil
IIIDoutor. Professor da Faculdade de Ciências da Saúde do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, Brasília-DF, Brasil
IVEspecialista. Professor do Instituto Federal de Brasília - IFB, Brasília-DF, Brasil
VMestre em Educação Física pela Universidade de Brasília - UnB, Brasília-DF, Brasil
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Maurílio Tiradentes Dutra Rodovia BR 020 Km 03 CEP: 73.251.904, Condomínio GranVille, Sobradinho, DF E-mail: mtd71@excite.com
RESUMO
A hipotensão pós-exercício tem sido alvo de diversas investigações. Todavia, não é consenso que exercícios resistidos induzam este fenômeno. O propósito deste trabalho foi, através de revisão da literatura, apresentar os principais achados no que tange à Hipotensão Pós-Exercício Resistido (HPER) e seus possíveis mecanismos. Os resultados dos estudos analisados apresentam controvérsias, possivelmente pelos diferentes delineamentos metodológicos e protocolos de exercício adotados para análise da HPER. Controvérsias na literatura podem também estar relacionadas ao nível da PA em repouso, uma vez que pessoas com valores basais mais elevados apresentam reduções mais importantes após o exercício. Futuras pesquisas são necessárias para melhor elucidar os mecanismos responsáveis pela HPER. Contudo, a HPER parece factível, especialmente em hipertensos, pelo menos nos primeiros 60 a 90 min de recuperação pós-sessão. Essas informações são importantes para a prescrição do exercício.
Palavras-chave: Exercício resistido. Pressão arterial. Hipotensão.
ABSTRACT
Post-exercise hypotension (PEH) has been the subject of several investigations. However, there is no consensus that resistance exercise promotes this phenomenon. The purpose of this work was to present, through a literature review, the main findings regarding post-resistance exercise hypotension and its possible mechanisms. The results of the studies are conflicting, which may be due to different methodological designs and exercise protocols adopted. Controversies may also be related to the level of blood pressure (BP) at rest, since people with higher baseline levels usually have more important reductions after exercise. Future researches are important to elucidate the physiological mechanisms that induce PEH. Although some studies have failed to report it, this phenomenon seems feasible, especially in hypertensive patients, at least in the first 60 to 90 minutes after a resistance exercise session. This information is important for exercise prescription.
Key words: Resistance exercise. Blood pressure. Hypotension.
INTRODUÇÃO
A Hipotensão Pós-Exercício (HPE) tem sido alvo de diversas investigações, em especial aquelas que se utilizam dos exercícios aeróbios (LIZARDO et al., 2007; FORJAZ et al., 1998a.; MACH et al., 2005; MACDONALD et al., 2001; DUTRA et al., 2008). Este fenômeno é definido como o decréscimo da Pressão Arterial (PA) abaixo dos valores de repouso após uma sessão de exercício dinâmico, e tem sido sugerido como forma de prevenção, controle e tratamento não farmacológico da hipertensão arterial (KENNEY; SEALS, 1993; LIZARDO; SIMÕES, 2005). Embora seja mais evidente em hipertensos, a HPE é também relatada em normotensos, homens e mulheres, podendo durar de 60 min até mais de 13h, apresentando magnitude variada (FAGARD, 2001; PESCATELLO; KULIKOWICH, 2001; KENNEY; SEALS, 1993; FORJAZ et al., 1998b).
São conhecidas as evidências de que a PA pode sofrer expressivos aumentos durante o Exercício Resistido (ER), sobretudo quando executado até a fadiga, sem, no entanto, causar danos ao sistema cardiovascular (MACDOUGALL et al., 1985). Ademais, a prática do ER tem sido recomendada para reduzir o risco de acometimentos cardiovasculares tanto em normotensos como em hipertensos (RATAMESS et al, 2009; PESCATELLO et al., 2004; WILLIAMS et al., 2002). Todavia, ainda são relativamente escassos e controversos, embora crescentes, trabalhos sobre a resposta da PA após a realização de ER. Alguns estudos relataram elevação, redução, ou até mesmo, manutenção da PA após ER em relação aos valores pré-exercício. Assim, ainda não é consenso na literatura que os ER promovam redução subaguda da PA, particularmente em populações normotensas (O'CONNOR et al., 1993; BROWN et al., 1994; FOCHT; KOLTYN, 1999; QUEIROZ et al., 2009; FISHER, 2001; MACDONALD et al., 1999; MEDIANO et al., 2005; SIMAO et al., 2005; SOUTO MAIOR et al., 2007; MORAES et al., 2007; RAGLIN; TURNER; EKSTEN, 1993; ROLTSCH et al., 2001).
Destarte, o propósito deste trabalho é fazer uma revisão da literatura no que tange à ocorrência da HPE resistido e seus possíveis mecanismos. Para tanto, procedeu-se a busca de artigos nacionais e internacionais sobre o tema publicados até setembro de 2012 nas seguintes bases de dados: SciELO (ScientificElectronic Library Online), MEDLINE (National Library of Medicine) e Google Acadêmico. As palavras-chave utilizadas para a busca foram: hipotensão pós-exercício; hipotensão pós-exercício resistido; treinamento resistido e respectivas traduções para o idioma inglês. Foram encontrados por volta de 50 trabalhos, dos quais 43 foram selecionados para compor a presente revisão. Artigos com tempo de monitorização pós-esforço inferior a 30 min não foram selecionados.
DESENVOLVIMENTO
Mecanismos
Ainda não estão claros os mecanismos responsáveis pela HPE resistido. Possivelmente, incluem decréscimo no débito cardíaco mediado por decréscimo no Volume Sistólico (VS) (REZK et al., 2006). Esta queda no VS é compensada por aumento da Frequência Cardíaca (FC) promovido por aumento da atuação simpática e redução parassimpática no coração.
Mecanismos bioquímicos também são especulados. Entre eles, a vasodilatação mediada pela ação do sistema kalicreína/cinina. As cininas são vasodilatadores gerados em diversos tecidos e contribuem na homeostase da PA. Sua concentração é aumentada após ER (MORAES et al., 2007). Especula-se, ainda, que a concentração sanguínea de lactato interfere na resposta pressórica pós-exercício (SIMOES et al., 2010). Sobre este tema, Moreno et al. (2009) avaliaram a concentração de lactato após duas sessões de exercício resistido realizadas a 30 e 75% de uma repetição máxima (1RM), antes a após suplementação de creatina. Os autores observaram efeito hipotensivo similar decorrente das duas sessões. Contudo, os achados mostraram que a suplementação de creatina suprime a resposta hipotensiva. Em adicional, na intensidade mais alta há maior concentração de lactato sanguíneo, que é atenuada com a suplementação oral de creatina. Os autores sugerem que o acúmulo de lactato está envolvido no decréscimo da resistência vascular e, por conseguinte, na indução da HPE resistido.
Além disso, o envolvimento do hormônio Peptídeo Natriurético Atrial (ANP) na HPE resistido foi analisado por MacDonald et al. (1999). No entanto, os autores não observaram mudança significativa na concentração de ANP após a sessão avaliada de exercício resistido.
De fato, os mecanismos da HPE resistido foram pouco estudados e não são conhecidos de forma consistente. O que parece consenso é que ocorra, principalmente, pela redução do débito cardíaco e da resistência vascular periférica total por vasodilatação na musculatura ativa e inativa. Na Tabela 1 são apresentados estudos que investigaram mecanismos da HPE resistido.
Variáveis do ER e efeito hipotensor
A prescrição do treinamento resistido inclui o controle de diversas variáveis que, supostamente, podem interferir na resposta pressórica pós-esforço. Alguns exemplos são a intensidade, o volume de trabalho, o intervalo de recuperação entre séries, o método de treino adotado e a escolha dos exercícios.
Sobre a intensidade, Rezk et al. (2006) compararam exercícios resistidos a 40 e 80% de 1RM, observando redução significativa na Pressão Arterial Sistólica (PAS) em ambas as intensidades e na Pressão Arterial Diastólica (PAD) apenas na intensidade mais baixa durante 90 min de repouso pós-sessão. Polito et al. (2003) compararam intensidades diferentes sob o mesmo volume de trabalho. Os autores recrutaram 16 jovens, que realizaram três séries de 6RM em seis exercícios na primeira sessão e três séries de 12 repetições com carga de 50% de 6RM na segunda sessão. Foi observada redução significativa na PAS em ambas as sessões, sem diferença entre elas, sendo a duração do efeito hipotensivo maior na sessão de maior intensidade. No entanto, apenas a sessão com carga mais leve resultou em redução significativa da PAD. Os autores concluem que a intensidade do treinamento de força pode influenciar a duração do efeito hipotensivo, mas não a magnitude da redução.
Recentemente, Simões et al. (2010) compararam as respostas da PA de indivíduos adultos diabéticos e não diabéticos após duas sessões distintas de ER. Uma delas realizada a 23% de 1RM e outra a 43% de 1RM. Os resultados mostraram efeito hipotensivo significativo somente após a sessão mais intensa nos dois grupos.
Focht e Koltyn (1999) testaram 84 indivíduos em 50 e 80% de 1RM, com efeito hipotensivo apenas na PAD por período de 20 min, sem qualquer resposta hipotensiva na PAS. Os intervalos longos utilizados para as medidas podem ter escondido algum efeito hipotensivo (20, 60, 120 e 180 min após o exercício). De forma similar, o estudo de Brown et al. (1994) não observou qualquer efeito hipotensivo após ER de menor (40% de 1RM) ou maior intensidade (70% de 1RM). Em consonância com os estudos de Brown et al. (1994) e Focht e Koltyn (1999), está o de O`Connor et al. (1993). Neste trabalho, 14 mulheres realizaram três sessões de ER, sob intensidade de 40, 60 e 80% da carga de 10RM em seis exercícios e não houve redução da PA. Adicionalmente, atletas universitários foram avaliados em outro estudo e os autores não observaram redução significativa da PA pós ER (RAGLIN; TURNER; EKSTEN, 1993).
No que diz respeito ao volume de treino, Mediano et al. (2005) recrutaram 20 idosos hipertensos no intuito de avaliar a influência de uma versus três séries na resposta pressórica após ER. Os voluntários realizaram em dias não consecutivos quatro exercícios, até dez repetições à exaustão com carga de 10RM, uma série em um dia, três séries no outro, em ordem aleatória. O protocolo de uma série induziu HPE somente na PAS, enquanto o protocolo de três séries induziu queda tanto na PAS (mais evidente), quanto na PAD. De acordo com os autores, maiores volumes de treino estariam associados à liberação de substâncias vasodilatadoras e menor resistência vascular periférica.
No intuito de verificar se o Intervalo de Recuperação (IR) entre séries exerce influência na resposta pressórica pós-esforço, Souto Maior et al. (2007) avaliaram 15 homens normotensos experientes em treinamento resistido em duas ocasiões. Na primeira, os voluntários realizaram seis exercícios, três séries de dez repetições a 70% da carga de 5RM adotando IR de 1 min entre séries e exercícios. Na ocasião seguinte, o mesmo protocolo foi realizado com IR de 2 min. Os autores observaram redução na PAS e PAD em relação ao repouso, porém, sem diferença entre os IR adotados. De forma similar, Veloso et al. (2010) não observaram diferenças entre protocolos de 1, 2 e 3 min de IR entre séries nas respostas agudas da PA de 16 homens jovens normotensos sedentários, avaliados por 90 min após as sessões.
Todavia, Salles et al. (2010) apresentaram resultados diferentes em 17 homens idosos que realizaram duas sessões de ER a 70% da carga de 10RM com IR de 1 e 2 min em cada sessão. HPE significativa de PAS e PAD foi observada em todo o período de recuperação analisado sem diferença entre os IR. Porém, a análise do "tamanho do efeito" (effectsize) mostrou que o IR de 2 min foi mais eficiente do que 1 min na indução de HPE. Os autores especulam que um IR maior aumenta a magnitude da HPE por aumentar a duração total da série. Assim, especula-se que o sistema cardiovascular de idosos pode responder de forma diferente à variação no IR entre séries em comparação a jovens.
Poucos estudos compararam a resposta subaguda da PA a diferentes métodos de ER. Rodriguez et al. (2008) recrutaram 30 homens jovens experientes em ER e os dividiram em três grupos com dez voluntários cada. Um grupo controle (sem exercício), um grupo realizou ER tradicional e o terceiro grupo realizou o método Tri-set. Este método consiste em executar três exercícios para o mesmo grupo muscular em sequência, sem intervalo entre eles. Todavia, não houve decréscimo significativo da PA após nenhuma das condições estudadas. Os autores discutem que a não ocorrência de HPE pode estar relacionada à posição sentada no período de recuperação. Este efeito parece estar relacionado ao estresse ortostático causado pela posição sentada. Outra possível razão é a ausência de exercícios para os membros inferiores nos protocolos adotados. Segundo os autores, a realização de exercícios para membros inferiores poderia induzir redução da resistência vascular periférica e, por conseguinte, redução da PA.
Outro estudo apresenta resultados diferentes (SIMAO et al., 2005). Os autores dividiram 14 homens jovens em dois grupos. Os voluntários do grupo 1 realizaram, no primeiro dia, cinco exercícios para membros superiores e inferiores com três séries de 6RM cada, no método tradicional de treino. No segundo dia, os mesmos exercícios com três séries de 12 repetições a 50% da carga de 6RM no formato circuito. Os voluntários do grupo 2 realizaram um exercício a mais no primeiro dia e não utilizaram o formato em circuito no segundo, treinando apenas o método tradicional. O grupo 1 apresentou redução sistólica significativa nos dois dias por até 50 min, sem diferença entre o método tradicional (de maior intensidade) e o circuito (de intensidade mais baixa). O grupo 2, que treinou um exercício a mais, apresentou decréscimo significativo de PAS de 60 min após a sessão mais intensa (6RM) e de até 40 min após a sessão de menor intensidade. Não houve diferença na magnitude da redução sistólica entre os grupos. Os autores discutem que o volume da sessão de ER pode afetar a duração da HPE quando o treino é realizado com maior intensidade, e concordam com Polito et al. (2003) ao sugerirem que a intensidade do treino resistido pode influenciar a duração, mas não a magnitude da HPE.
Os protocolos de treinamento de força fracionado e contínuo também foram estudados (SOUTO MAIOR et al., 2009). O primeiro protocolo consistiu na adoção de intervalo de 3 segundos entre cada repetição, e o segundo consistiu na mesma sequência de treinamento, porém sem o intervalo entre as repetições. Os 20 voluntários eram normotensos e a PA foi avaliada aos 12, 24, 36 e 48 min pós-esforço. Os resultados mostraram efeito hipotensivo significativo para PAS nas duas sequências, sem diferença entre elas.
A influência da realização da manobra de valsalva na resposta hipotensora após ER foi avaliada por Krings, Skibness e Kasuboski (2007). Dez jovens realizaram ER em duas ocasiões. Na primeira utilizaram ritmo normal de respiração. Na segunda, manobra de valsalva. De forma interessante, a ocasião manobra de valsalva apresentou queda de PAS significativa em relação à ocasião respiração normal no 30º min pós-sessão. Este resultado deve ser observado com cautela, pelo potencial efeito hipertensivo causado pela realização da manobra de valsalva durante a execução de ER.
Em síntese, a manipulação das variáveis de treino pode induzir respostas pressóricas diferentes após o ER. Além disso, diferentes populações podem apresentar respostas também diferentes à manipulação das variáveis do ER.
PROTOCOLOS EM CIRCUITO E COMPARAÇÃO COM EXERCÍCIOS AERÓBIOS
No estudo de Fisher (2001), mulheres normotensas e hipertensas realizaram três circuitos, 15 repetições a 50% de 1RM em cinco exercícios. Os resultados apontaram redução significativa da PAS no período de recuperação pós-exercício apenas em relação à sessão controle nos dois grupos. Já Saccomani et al. (2008) utilizaram o formato de circuito para avaliar a PA pós-exercício de meninos e meninas sem experiência em ER. Quinze adolescentes normotensos realizaram duas passagens de 12 repetições em oito exercícios. Os autores observaram redução significativa de PAS e PAD durante o período de 1h analisado em relação ao valor de repouso.
Moraes et al. (2007) utilizaram um circuito de ER para comparar com uma sessão de 35 min em cicloergômetro realizada a 70% da FCres. Para tanto, recrutaram normotensos e hipertensos. Nos normotensos, os autores observaram redução da PAS aos 45 e 60 min após as duas sessões, mas a PAD foi reduzida apenas aos 45 min após o cicloergômetro. Nos voluntários hipertensos, a PAS apresentou queda também aos 45 e 60 min após as duas sessões em relação ao repouso. Já a PAD apresentou queda aos 5, 10 e 60 min após o circuito de musculação e apenas aos 60 min após o cicloergômetro. Recentemente, Anunciação et al. (2012) observaram que o ER realizado em formato de circuito com maior volume de trabalho (3 séries) provoca maior efeito hipotensivo do que o circuito realizado com menor volume, bem como do que o ER realizado de forma convencional. Em contrapartida, os voluntários desse estudo (10 homens normotensos) apresentaram também maior estresse cardíaco, avaliado pela variabilidade da FC, após esforço em circuito com maior volume. Diante desse resultado, os autores sugerem que, talvez, a melhor estratégia para a prescrição de ER voltada para a prevenção e/ou tratamento da PA elevada seja a realização de séries múltiplas realizadas de forma convencional.
Foram encontrados, ainda, outros estudos que compararam exercícios aeróbios vs exercícios de força. Tomasi, Simão e Polito (2008) não observaram efeito hipotensivo após uma sessão de treino de força em relação ao exercício em esteira. Contudo, em análise similar, oito homens e quatro mulheres hipertensos realizaram 20 min de exercício aeróbio em esteira e duas séries de 15 repetições em cinco exercícios com carga moderada (POLITO et al. 2009). Foi observado efeito hipotensivo na PAS similar em magnitude para as duas sessões de exercício. Em contrapartida, Morais e colaboradores observaram que, em homens e mulheres diabéticos tipo 2, o ER realizado em circuito a 70% de 1RM pode ser mais efetivo em induzir a HPE por período ambulatorial (24h) do que o exercício aeróbio realizado em cicloergômetro na intensidade correspondente a 90% do limiar de lactato quando essas sessões de exercício são comparadas a uma sessão controle. Segundo os autores, esse resultado pode estar relacionado com possível maior acúmulo de metabólitos no ER (MORAIS et al., 2011).
INFLUÊNCIA DOS GRUPOS MUSCULARES ENVOLVIDOS E DA ORDEM DE EXECUÇÃO DOS EXERCÍCIOS
Aparentemente, redução mais evidente da PA pode ocorrer quando grupos musculares maiores são recrutados. Lizardo e Simões (2005) avaliaram homens jovens em quatro diferentes sessões de exercícios resistidos: 30% de 1RM; 80% de 1RM; 30% de 1RM somente membros superiores e 30% de 1RM somente membros inferiores. As quatro variações estudadas resultaram em HPE, sendo mais significativas após as sessões de 30% de 1RM e somente membros inferiores. Embora não tenha sido evidenciada influência da quantidade de massa muscular na magnitude da HPE aeróbio, Lizardo e Simões (2005) atribuem o maior efeito hipotensivo observado na sessão apenas para membros inferiores a uma maior vasodilatação, supostamente pela maior massa muscular envolvida nesta sessão (MACDONALD; MACDOUGALL; HOGBEN, 2000). Outra especulação é que após ER para membros inferiores, o retorno venoso diminui, contribuindo para um menor débito cardíaco e PA. Resultados comparáveis foram observados por Santos e colaboradores em 2007. Esses autores relataram maior redução pressórica de PAS após a realização de seis séries de 8RM do exercício legpress quando comparado com seis séries de rosca bíceps realizada na mesma intensidade por 11 indivíduos adultos saudáveis (SANTOS et al., 2007).
Análise similar foi conduzida por Dias, Simão e Novaes (2007). Os autores recrutaram dez homens jovens treinados e os submeteram a duas sequências de mesmo volume e intensidade de ER. Na sequência A, os indivíduos realizaram três exercícios somente para membros superiores. Na B, somente membros inferiores. Neste estudo, porém, houve redução significativa da PAS em relação ao repouso após as duas sequências.
Análise interessante foi conduzida por Jannig et al. (2009). Estes autores investigaram a resposta subaguda da PA de oito indivíduos idosos hipertensos de ambos os sexos. A amostra foi submetida a três sessões de ER realizadas em diferentes ordens de execução dos exercícios. No primeiro dia, foram realizados primeiramente os exercícios de membros inferiores e depois os de membros superiores. No segundo dia, a sequência foi realizada em ordem inversa, e no terceiro, os exercícios foram realizados em ordem alternada por segmento. Somente o programa alternado por segmento induziu redução significativa da PAS e da PAD em relação aos valores de repouso. Estes resultados contrastam outro estudo, que ao avaliar indivíduos jovens normotensos, observou efeito hipotensivo mais prolongado utilizando-se a ordem localizada por segmento corporal (ROMERO; CAPERUTO; COSTA ROSA, 2005). Entretanto, comparações entre estes estudos são restritas novamente pelas diferentes populações estudadas.
Relevância clínica
O fenômeno da HPE aeróbio tem grande relevância clínica para indivíduos hipertensos, uma vez que sua duração pode chegar a 22h (BRANDAO RONDON et al., 2002). Quanto ao ER, estudos que avaliaram a resposta pressórica ambulatorial por até 24h apresentam resultados controversos.
Roltsch et al. (2001) não observaram redução significativa da PA no período de 24h pós-sessão de ER em jovens normotensos. Bermudes et al. (2003) também recrutaram normotensos para análise da PA por 24h após uma sessão de ER com carga de 40% de 1RM. Os resultados não mostraram decréscimo significativo da PA no período de vigília analisado. Queiroz et al. (2009) observaram redução significativa na PAS e PAD durante 1h de recuperação pós ER em relação à sessão controle em homens e mulheres normotensos. Contudo, esta redução da PA não persistiu quando os voluntários retornaram às atividades do dia a dia. Em contrapartida, nos achados de Queiroz et al. (2009), quanto maior o nível basal da PA, maior foi a redução pós-esforço, fato que, segundo os autores, aumenta a relevância clínica da HPE resistido, uma vez que é mais importante reduzir a PA quando ela é alta.
Indivíduos moderadamente hipertensos (24 homens sedentários) foram avaliados por Hardy e Tucker (1998). Os autores observaram redução importante da PAS apenas na primeira hora após a sessão de exercício resistido realizado na intensidade de 8 a 12RM, não havendo manutenção do efeito nas 23h subsequentes. Apesar disso, outros estudos verificaram que uma sessão de ER pode ter importante implicação ambulatorial para indivíduos hipertensos.
Um desses estudos é o de Melo et al. (2006), que avaliaram 12 mulheres hipertensas controladas com medicamento inibidor da enzima conversora de angiotensina. As voluntárias realizaram uma sessão controle e uma sessão de ER de baixa intensidade. A redução pressórica alcançou 12 mmHg na PAS e 6 mmHg na PAD após a sessão de ER. Em adicional, a hipotensão em relação à sessão controle foi observada por 10h após o treino, enquanto as voluntárias realizavam suas atividades diárias.
Estudo similar observou em hipertensos que a PAS pode apresentar-se reduzida após um treino resistido de baixa intensidade em relação a um dia sem exercício, e que esta redução pode persistir por até 420 min (MOTA et al., 2009).
A literatura ainda carece de dados acerca da resposta hipotensiva pós-exercício na população idosa. O efeito benéfico crônico do treinamento resistido sobre a PA de idosas hipertensas já foi demonstrado (TERRA et al., 2008). Adicionalmente, um estudo recente demonstrou que a PA de idosos com claudicação intermitente e sob uso de medicação anti-hipertensiva é significativamente reduzida por 60 min após uma sessão de exercício resistido (CUCATO et al., 2011). Na presente revisão, foram encontrados ainda quatro trabalhos que recrutaram homens idosos e avaliaram o efeito subagudo do exercício (MEDIANO et al., 2005; SALLES et al., 2010; JANNIG et al., 2009; MUTTI et al., 2010). Todos observaram efeito hipotensivo significativo. No entanto, nenhum destes estudos analisou a resposta ambulatorial. O único trabalho encontrado que avaliou a PA por 22h após uma sessão somente de ER foi o de Oliveira et al. (2011). Os autores analisaram dez idosos hipertensos ativos em duas ocasiões diferentes, sendo uma com ER realizado a 80% da carga de 10RM e a outra com carga de 100% de 10RM. Os resultados mostraram HPE tanto no período de vigília, quanto no período de sono, sendo mais evidente na intensidade 80% de 10RM. Os autores ressaltam a segurança da menor intensidade estudada e seu maior efeito hipotensivo, o que pode ser importante na prescrição de ER para idosos hipertensos.
Na Tabela 2 são apresentados os estudos encontrados que investigaram o fenômeno da HPE resistido e sumariza seus principais resultados.
Na Tabela 3 são apresentados os estudos encontrados que investigaram o fenômeno da HPE resistido na população idosa.
Considerações e aplicações
Notadamente, a presente revisão corrobora o que foi apresentado por Polito e Farinatti (2006) em sua revisão sistemática sobre este mesmo tema, adicionando os avanços ocorridos desde então no estudo dos mecanismos propostos para a manifestação do fenômeno, bem como sua relevância clínica e seu estudo na população idosa.
Em adicional, o controle crônico da PA de adultos através do ER foi demonstrado anteriormente por Kelley e Kelley (2000), e também por meio do exercício resistido de contração isométrica manual por Ray e Carrasco (2000). Possivelmente, o controle crônico da PA em repouso está relacionado aos efeitos agudos de uma única sessão de exercício (HAMER, 2006). Resultados recentemente publicados por Moraes et al. (2011) demonstram que o efeito hipotensor do ER é atenuado após 12 semanas de treinamento em homens adultos hipertensos, fato que pode ser atribuído à redução dos valores de repouso (-16 mmHg na PAS e -12 mmHg na PAD) observados após o período de treino. Neste sentido, apesar de alguns resultados conflitantes, os estudos mais recentes apontam que a redução da PA após uma sessão de ER parece factível, especialmente nos indivíduos hipertensos, que são os maiores beneficiários da HPE.
As informações apresentadas na literatura e revisadas no presente trabalho podem auxiliar os profissionais da área que tenham por objetivo potencializar a HPE. Contudo, é evidente a necessidade de futuras pesquisas sobre esta temática para melhor elucidar os mecanismos que induzem a manifestação deste fenômeno em diferentes populações.
Recebido em 24/04/2012
Revisado em 20/11/2012
Aceito em 15/12/2012
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
20 Ago 2013 -
Data do Fascículo
Mar 2013
Histórico
-
Recebido
24 Abr 2012 -
Aceito
15 Dez 2012 -
Revisado
20 Nov 2012