Resumos
O objetivo deste estudo foi construir e validar de forma preliminar um instrumento de avaliação do desempenho técnico-tático individual nas categorias de formação do basquetebol (IAD-BB). A elaboração dos indicadores baseou-se na literatura e em instrumentos de avaliação de desempenho. O processo de validação de conteúdo foi efetivado por 10 profissionais de Educação Física, especialistas da área dos esportes coletivos. A fidedignidade intra-avaliador e interavaliadores foi testada a partir da observação das ações de jogo desempenhadas por duas atletas. A análise dos dados ocorreu por meio de percentual, coeficientes de correlação (Spearman, intraclasse) e índices de concordância (Kappa). Os resultados apresentaram elevados percentuais de aceitação entre os avaliadores, tanto nos indicadores das ações quanto nas componentes técnico-táticos. Os dados de fidedignidade intra e interavaliadores evidenciaram índices de correlação e concordância considerados satisfatórios. Conclui-se que o IAD-BB revelou-se um instrumento cientificamente válido e útil como técnica de avaliação dentro dos estudos da análise do jogo.
Esporte; Validação; Desempenho
The present study aimed to develop and validate preliminarily a Basketball individual technical-tactical performance assessment instrument in the initial Basketball categories (IAD-BB). The items selection was based upon specific literature and other performance assessment instruments. Ten Physical Education professionals have validated the instrument content. The intra-rater and inter-raters reliabilities were tested through two players games' actions observation. Data analysis included percentage calculation, correlation coefficients (Spearman, intra-class) and Kappa's inter-raters agreement index. Results presented high inter-raters agreement percentage both in action items and in technical-tactical components. The intra and inter-raters reliability data presented satisfactory correlation and agreement indexes. It was possible to conclude that the IAD-BB revealed itself to be a scientific valid instrument and an useful assessment technique in the game analysis researches.
Sports; Validation; Performance
INTRODUÇÃO
O aperfeiçoamento dos fundamentos técnicos e da capacidade tática, na busca de melhores resultados esportivos, tem elevado à necessidade de meios que permitam o entendimento e a compreensão da dinâmica do jogo, em nível tanto individual quanto coletivo (DE ROSE JÚNIOR; GASPAR; ASSUMPÇÃO, 2005DE ROSE JÚNIOR, D.; GASPAR, A. B.; ASSUMPÇÃO, R. M. Análise estatística do jogo. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRICOLI, V. Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005. p. 123-143.). Nesse sentido, treinadores e investigadores têm demonstrado interesse em observar e entender mais profundamente o jogo, ampliando o conhecimento sobre os fatores que concorrem para sua qualidade (TAVARES, 2001TAVARES, F. Sistematização de estudos sobre observação e análise do jogo em basquetebol. JANEIRA, M. A.; GRAÇA, A.; PINTO, D.; BRANDÃO, E. Tendências actuais de investigação em basquetebol. Porto: FADEUP, 2001. p. 9-15.).
Nos jogos esportivos coletivos, instrumentos de avaliação do jogo vêm se revelando como meios imprescindíveis para aferir a caracterização das exigências específicas requeridas dos jogadores em situação competitiva. Na literatura, esse tipo de estudo é encontrado por meio de diferentes nomenclaturas, como observação do jogo, análise notacional e análise do jogo (AMORIM, 2001AMORIM, J. Relação entre as variáveis técnico-táticas e a classificação final: um estudo na Liga Portuguesa de Basquetebol. In: JANEIRA, M. A.; GRAÇA, A.; PINTO, D.; BRANDÃO, E. Tendências actuais da investigação em basquetebol. Porto: Universidade do Porto, 2001. p. 80-89.; TAVARES, 2001TAVARES, F. Sistematização de estudos sobre observação e análise do jogo em basquetebol. JANEIRA, M. A.; GRAÇA, A.; PINTO, D.; BRANDÃO, E. Tendências actuais de investigação em basquetebol. Porto: FADEUP, 2001. p. 9-15.; DE ROSE JÚNIOR; GASPAR; ASSUMPÇÃO, 2005DE ROSE JÚNIOR, D.; GASPAR, A. B.; ASSUMPÇÃO, R. M. Análise estatística do jogo. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRICOLI, V. Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005. p. 123-143.). Enquanto a observação do jogo e a análise notacional se referem aos registros realizados durante as partidas em tempo real, a análise do jogo se refere à observação e coleta de dados após a realização do evento, a partir da análise de vídeos (DE ROSE JÚNIOR; GASPAR; ASSUMPÇÃO, 2005DE ROSE JÚNIOR, D.; GASPAR, A. B.; ASSUMPÇÃO, R. M. Análise estatística do jogo. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRICOLI, V. Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005. p. 123-143.). A utilização do vídeo permite a apresentação de situações de jogo mais próximas da realidade (situações reais de jogo), possibilitando observar a evolução das ações dos jogadores com maior tranquilidade e eficácia (TAVARES; VICENTE, 1991TAVARES, F. Sistematização de estudos sobre observação e análise do jogo em basquetebol. JANEIRA, M. A.; GRAÇA, A.; PINTO, D.; BRANDÃO, E. Tendências actuais de investigação em basquetebol. Porto: FADEUP, 2001. p. 9-15.).
A investigação centrada na análise do jogo tem contribuído de modo substancial para o conhecimento das características, regularidades e particularidades dos comportamentos assumidos pelas equipes, de forma geral, e pelos jogadores, de forma específica (MARCELINO; SAMPAIO; MESQUITA, 2011MARCELINO, R.; SAMPAIO, J.; MESQUITA, I. Investigação centrada na análise do jogo: da modelação estática à modelação dinâmica. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, Porto, v. 11, n. 1, p. 481-499, 2011.), possibilitando avanços consideráveis tanto ao nível conceitual quanto metodológico. As primeiras análises realizadas eram feitas sem qualquer suporte teórico, com predomínio de técnicas rudimentares (papel e lápis) para obtenção das informações, anotando-se apenas as frequências de acerto ou erro em determinados fundamentos, no decorrer das próprias partidas. Progressivamente, os investigadores das Ciências do Esporte começaram a marcar presença nessa linha de pesquisa, objetivando análises mais robustas dos dados recolhidos no contexto esportivo (BARROS et al., 2002BARROS, R. M. L.; BERGO, F. G.; ANIDO, R.; CUNHA, S. A.; LIMA FILHO, E. C.; BRENZIKOFER, R.; FREIRE, J. B. Sistema para anotação de ações de jogadores de futebol. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 10, n. 2, p. 7-14, abr. 2002.; TAVARES, 2006TAVARES, F. J. S. Analisar o jogo nos esportes coletivos para melhorar a performance: uma necessiade para o processo de treino. In: DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 60-67; MARCELINO; SAMPAIO; MESQUITA, 2011MARCELINO, R.; SAMPAIO, J.; MESQUITA, I. Investigação centrada na análise do jogo: da modelação estática à modelação dinâmica. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, Porto, v. 11, n. 1, p. 481-499, 2011.).
Gradativamente, a análise do jogo passou a ser referida como importante e decisiva no processo de preparação nos jogos esportivos coletivos, permitindo a identificação e a compreensão dos princípios estruturais do jogo, dos critérios de eficácia de rendimento individual e coletivo, bem como da adequação dos modelos de preparação a partir de marcos teóricos reconhecidos na literatura especializada (MOUTINHO, 1991MOUTINHO, C. A. A importância da análise do jogo no processo de preparação desportiva nos jogos desportivos colectivos: o exemplo do voleibol. In. BENDO, J.; MARQUES, A. As ciências do desporto e a prática desportiva. Porto: FADEUP, 1991. p. 265-275.). Além disso, passou-se a reconhecer que um jogador não pode ser avaliado simplesmente em função do número de pontos, acertos ou erros que comete durante uma partida (DE ROSE JÚNIOR; GASPAR; ASSUMPÇÃO, 2005DE ROSE JÚNIOR, D.; GASPAR, A. B.; ASSUMPÇÃO, R. M. Análise estatística do jogo. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRICOLI, V. Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005. p. 123-143.), constituindo-se a avaliação do desempenho esportivo, por meio de diferentes indicadores (físico, técnico, tático, psicológico) de jogo, em um método válido, objetivo e fidedigno (SAMPAIO, 1998SAMPAIO, A. J. Los indicadores estadísticos más determinantes en el resultado final en los partidos de basquetbol. Lecturas en Educación Física y Deportes, Buenos Aires, n. 11, 1998. Disponível em: <http://www.efdeportes.com>. Acesso em: 5 jun. 2013.
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; BRANDÃO, 2001BRANDÃO, E. As habilidades técnicas e a performance em jovens basquetebolistas. In: JANEIRA, M. A.; GRAÇA, A.; PINTO, D.; BRANDÃO, E. Tendências actuais da investigação em basquetebol. Porto: Universidade do Porto, 2001. p. 75-79.).
No basquetebol, o jogo pode ser analisado sob o ponto de vista técnico (desempenho de um ou mais jogadores, determinando-se o nível das ações - eficiência e eficácia da execução dos seus fundamentos) e o ponto de vista tático (tomadas de decisões e adaptações realizadas em função da situação imposta pelo jogo). Ambas as análises podem ser realizadas de forma objetiva (quantificação de determinada ação) ou subjetiva (observação qualitativa das execuções técnicas ou das ações conjuntas realizadas pelos atletas envolvidos) (DE ROSE JÚNIOR; GASPAR; SINISCALCHI, 2002DE ROSE JÚNIOR, D.; GASPAR, A.; SINISCALCHI, M. Análise estatística do desempenho técnico coletivo no basquetebol. Lecturas en Educación Física y Deportes, Buenos Aires, v. 8, n. 49, Jun. 2002. Disponível em: <http://www.efdeportes.com>. Acesso em: 18 maio 2013.
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). No entanto, para que qualquer processo de análise tenha fidelidade e validade, é necessário desenvolver sistemas e métodos de observação que possibilitem o registro de todos os fatos relevantes do jogo, produzindo-se, desse modo, informação objetiva, quantificável, consistente e confiável (DE ROSE JÚNIOR; GASPAR; ASSUMPÇÃO, 2005DE ROSE JÚNIOR, D.; GASPAR, A. B.; ASSUMPÇÃO, R. M. Análise estatística do jogo. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRICOLI, V. Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005. p. 123-143.).
Na tentativa de contribuir para a reflexão em torno da análise do jogo esportivo coletivo, nomeadamente o basquetebol, para além da eficácia técnica e valorizando-se a tomada de decisão e a adaptação dos atletas às situações reais de jogo, o objetivo deste estudo foi construir e validar de forma preliminar um instrumento de avaliação do desempenho técnico-tático individual nas categorias de formação do basquetebol (IAD-BB).
A apresentação deste instrumento de análise do jogo do basquetebol, na sua dimensão técnica (eficácia) e tática (adaptação e tomada de decisão), visa integrar-se aos estudos que pretendem predizer as soluções criadas pelos atletas para um problema de jogo, apoiadas nas ações mecânicas que permitem maior eficácia em cada situação de jogo (IBÁÑEZ; LOZANO; MARTÍNEZ, 2001IBÁÑEZ, S.; LOZANO, A.; MARTÍNEZ, B. Lineas de investigación en el análisis de las acciones de juego en baloncesto. In: CONGRESO IBÉRICO DE BALONCESTO, 1., 2001. Cáceres. Anales... Cáceres: CIB, 2001. p. 137-147.). Além disso, a vinculação da sua construção em torno das categorias de formação se deve ao fato de que, como revelam García et al. (2008)GARCÍA, J.; IBÁÑEZ, S. J.; FEU, S.; CAÑADAS, M.; PAREJO, I. Estudio de las diferencias en el juego entre equipos ganadores y perdedores en etapas de formación en balonmano. Cultura, Ciencia y Deporte, Múrcia, v. 5, n. 9, p. 195-200, 2008., a maioria dos trabalhos de desempenho esportivo é realizada com equipes adultas, de alto rendimento, sendo escassos os trabalhos que analisam as ações de jogo nas categorias de base, conhecimento que, nessa fase de preparação esportiva, permite planejar melhor o processo de treinamento e formação de jovens atletas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Construção do instrumento
O instrumento elaborado é composto pelos Indicadores de observação que correspondem a cada ação de jogo desempenhada pelos atletas de basquetebol, os quais estão relacionados aos Componentes do desempenho técnico-tático nas modalidades coletivas. Nesse sentido, as ações de jogo avaliadas compreendem os seguintes fundamentos ofensivos e defensivos da modalidade de basquetebol:
- Ataque: passe, recepção, drible, arremesso, desmarcação, corta-luz, bloqueio de rebote ofensivo, rebote ofensivo;
- Defesa: marcação ao adversário sem bola (individual e zona), marcação ao adversário com bola, bloqueio de rebote defensivo, rebote defensivo.
Por sua vez, os três componentes do desempenho técnico-tático no basquetebol correspondem a:
- Adaptação: capacidade de adaptação dos movimentos, a partir da observação e análise do jogo, envolvendo movimentações que precedem ou sucedem o contato direto com a bola (SAAD, 2012SAAD, M. A. A formação técnico-tática de jogadores de futsal nas categorias sub-13 e sub-15: análise do processo de ensino-aprendizagem-treinamento. 2012. 164f. Tese (Doutorado em Educação Física)-Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.). Ações sem a posse de bola em termos de local, postura e velocidade/sincronização/antecipação do jogador;
- Tomada de decisão: conjunto de processos de seleção e escolha de uma determinada ação com o intuito de resolver a situação problema com a qual o jogador se defronta (TAVARES, 1999TAVARES, F. A investigação da componente táctica nos jogos desportivos: conceitos e ilustrações. In: TAVARES, F. Estudos dos jogos desportivos: concepções, metodologías e instrumentos. Porto: Multitema, 1999. p. 7-13);
- Eficácia: resultado obtido em decorrência da execução das habilidades fundamentais do jogo (RINK, 1993RINK, J. E. Teaching physical education for learning. St. Louis: Mosby, 1993.; OSLIN; MITCHELL; GRIFFIN, 1998OSLIN, J.; MITCHELL, S.; GRIFFIN, L. The game performance assessment instrument (GPAI): development and preliminary validation. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 17, n. 2, p. 231-243, 1998.; MESQUITA; MARQUES; MAIA, 2001MESQUITA, I.; MARQUES, A.; MAIA, J. A relação entre a eficiência e a eficácia no domínio das habilidades técnicas em Voleibol. Revista Portuguesa Ciências do Desporto, Porto, v. 1, n. 3, p. 33-39, 2001.), em função de erro individual, erro provocado pelo adversário ou êxito individual.
Os indicadores e os componentes de observação foram determinados a partir de consulta a literatura especializada (BAYER, 1994BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994.; ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.; DE ROSE JÚNIOR, 2006DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas: o basquetebol. In: DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 113-127.) e baseados em instrumentos de avaliação de desempenho já existentes (OSLIN; MITCHELL; GRIFFIN, 1998OSLIN, J.; MITCHELL, S.; GRIFFIN, L. The game performance assessment instrument (GPAI): development and preliminary validation. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 17, n. 2, p. 231-243, 1998.; MESQUITA et al., 2005MESQUITA, I.; GRAÇA, A.; GOMES, A. R.; CRUZ, C. Examining the impact of a step game approach to teaching volleyball on student tactical decision making and skill execution during game play. Journal of Human Movement Studies, Edinburgh, v. 48, n. 6, p. 469-492, 2005.; WRIGHT et al., 2005WRIGHT, S.; McNEILL, M.; FRY, J.; WANG, J. Teaching teachers to play and teach games. Physical Education and Sport Pedagogy, Abingdon, v. 10, n. 1, p. 61-82, 2005.; COLLET et al., 2011COLLET, C.; NASCIMENTO, J. V.; RAMOS, V.; STEFANELLO, J. M. Construção e validação do insturmento de avaliação do desempenho técnico-tático no voleibol. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 43-51, 2011.; SAAD, 2012SAAD, M. A. A formação técnico-tática de jogadores de futsal nas categorias sub-13 e sub-15: análise do processo de ensino-aprendizagem-treinamento. 2012. 164f. Tese (Doutorado em Educação Física)-Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.). Além da elaboração dos indicadores e das componentes de avaliação, foram determinados os critérios de pontuação a serem utilizados na avaliação do instrumento para auxiliar na determinação do nível de desempenho técnico-tático dos atletas de basquetebol.
Processo de validação de conteúdo do instrumento
Inicialmente, o instrumento passou pelo processo de validação de conteúdo, avaliação realizada por 10 profissionais de Educação Física especialistas da área de esportes coletivos, em termos de: clareza de linguagem (linguagem utilizada para determinar cada indicador); pertinência prática (importância do que o indicador se propõe a avaliar); e relevância teórica (nível de associação entre o indicador e a teoria), determinando assim o nível de adequação de cada indicador (escala Likert de 1 a 5) a proposta do instrumento.
Testagem do instrumento
Após a validação de conteúdo, o instrumento passou pela verificação da fidedignidade interavaliadores e intra-avaliador (PASQUALI, 1999PASQUALI, L. Instrumentos psicológicos: manual prático de elaboração. Brasilia: IBAPP, 1999.). A testagem interavaliadores foi verificada por três pesquisadores que foram treinados para aplicação do instrumento. A avaliação do instrumento foi realizada de forma individual por cada avaliador a fim de testar se os indicadores eram representativos das ações e componentes observados. A testagem do instrumento ocorreu por meio da observação (vídeo) de todas as ações com e sem bola de uma atleta (16 anos) de basquetebol da equipe campeã do campeonato catarinense infanto-juvenil de 2011. A escolha desta atleta ocorreu pelo maior número de ações executadas durante o jogo analisado, com base em registros de análise de desempenho técnico da referida equipe. No entanto, como a atleta atua na posição de armadora, acabou não realizando ação alguma de corta-luz, sendo necessário avaliar a jogadora pivô (15 anos) da equipe que executou o maior número deste fundamento na mesma partida. A fidedignidade intra-avaliador foi realizada pelo método teste-reteste, por um dos pesquisadores treinados, com intervalo de duas semanas entre as aplicações.
Os cuidados éticos para captura das imagens foram adotados a partir do consentimento dos dirigentes e treinadores da equipe, além da aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos de uma universidade pública no Brasil (parecer 1170/2010) e da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos pais ou responsáveis pelas atletas.
Análise dos dados
Os dados da validação de conteúdo foram agrupados e analisados com base no percentual de aceitação específica e geral dos indicadores e dos componentes do instrumento de desempenho técnico-tático individual no basquetebol, sendo considerados válidos quando apresentaram índices gerais iguais ou superiores a 80% (CASSEPP-BORGES, BALBINOTTI; TEODORO, 2009CASSEPP-BORGES, V.; BALBINOTTI, M. A. A.; TEODORO, M. L. M. Tradução e validação de conteúdo: uma proposta para a adaptação de instrumentos. In: PASQUALI, L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed, 2009. p. 506-520.).
Na verificação de fidedignidade, os índices de correlação de Spearman(intra-avaliador) e correlação intraclasse (interavaliadores) foram classificados em correlação fraca (0,20 a 0,40), moderada (0,41 a 0,60) e forte (valores acima de 0,61) (MITRA; LANFORKD, 1999MITRA, A.; LANFORKD, S. Research methods in park, recreation and leisure services. Champaign: Sagamore Publishing, 1999.), enquanto os índices de concordância Kappa (intra-avaliador) foram classificados em concordância ruim (valores inferiores a 0,20), fraca (0,21 a 0,40), moderada (0,41 a 0,60), boa (0,61 a 0,80) e excelente (0,81 a 1,0) (LANDIS; KOCH, 1977LANDIS, J. R.; KOCH, G. G. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics, Arlington, v. 33, n. 1, p. 159-74, 1977.).
Os dados obtidos na validação de conteúdo e testagem do instrumento foram cadastrados na planilha Excel 2007 e analisados estatisticamente no programa SPSS versão 17,0. O nível de significância utilizado foi de p<0,05.
RESULTADOS
Instrumento de avaliação do desempenho técnico-tático individual no basquetebol (IAD-BB)
A avaliação de cada uma das ações (ofensivas e defensivas), específicas do jogo de basquetebol, realizada com o auxílio do IAD-BB ocorre a partir da observação de três indicadores específicos, os quais dependem do componente a ser analisado (Quadro 1).
Instrumento de avaliação do desempenho técnico-tático individual no basquetebol - IAD-BB. Fonte: Elaborado pelos autores.
Na determinação do nível de desempenho geral dos atletas, utiliza-se a análise de todos os componentes do instrumento. Contudo, o instrumento permite também a análise de cada um dos componentes ou de cada ação individualmente, fornecendo assim informações importantes acerca da identificação do nível de desempenho específico do jogador. Para auxiliar na avaliação do instrumento foram gerados critérios para pontuação de cada ação em um determinado componente (Quadro 2) e equações para determinação do nível de desempenho a serem utilizados durante a aplicação do instrumento, considerando-se as características de cada componente.
Ao considerar que nem todas as ações de jogo fazem parte dos três componentes do instrumento, as equações do desempenho por ação foram determinadas de acordo com o número de componentes a que cada ação corresponde (1 componente, 2 componentes, 3 componentes). Nesse sentido, o nível de desempenho técnico-tático individual dos atletas corresponde ao somatório de pontos obtidos durante a avaliação, sendo as equações determinadas com base na ponderação entre os valores mínimos e máximos que o jogador pode obter em determinada ação de jogo (DEA - Desempenho Específico por Ação) ou determinado componente (DEC - Desempenho Específico por Componente). O Desempenho Geral (DEG) é determinado pelo cálculo da média ponderada do desempenho específico nos três componentes (Quadro 3).
A partir do resultado das equações acima, o nível de desempenho técnico-tático individual dos jogadores corresponde ao resultado obtido no DEA, DEC ou DEG, podendo ser classificado de acordo com o Quadro 4.
Classificação do desempenho técnicotático individual dos atletas Fonte: Elaborado pelos autores.
PADRONIZAÇÕES E LIMITAÇÕES DO INSTRUMENTO
O processo de testagem do IAD-BB demonstrou a necessidade de padronização no momento de avaliação de determinadas ações e a visualização de algumas limitações quanto às ações sem bola dos jogadores, quanto à decisão de quando avaliar ou não determinada ação. Para tanto, algumas padronizações foram realizadas no intuito de facilitar a decisão dos pesquisadores com relação ao momento de avaliar ou não avaliar a ação de determinado jogador (Quadro 5).
Outra limitação na utilização do instrumento corresponde ao componente tomada de decisão da ação de arremesso, quando esse ocorrer de forma pressionada em local inadequado (mesmo que convertido) nas situações de final de 14 segundos, 24 segundos, final de quarto do jogo e final de jogo. Mesmo sendo visualizada como uma alternativa adequada para o momento, o instrumento avaliará essa decisão como em qualquer outro arremesso, sendo atribuído apenas 1 ponto para o jogador (arremesso com marcação pressionada e/ou em local inadequado).
Destaca-se também a preocupação em esclarecer questões com relação à avaliação dos três indicadores da eficácia do arremesso quando esse se tratar de lance livre. Considerando-se que não existe a possibilidade da interceptação desse arremesso pelo adversário, o mesmo deve ser avaliado somente a partir dos indicadores 1 (arremesso não convertido) e 3 (arremesso convertido).
PROCESSO DE VALIDAÇÃO DE CONTEÚDO
O processo de validação de conteúdo do IAD-BB apresentou índice geral de 92,4%, sendo considerado assim um instrumento cientificamente válido (Tabela 1). No que tange a avaliação de cada componente, verificou-se que todos os valores foram considerados satisfatórios, revelando-se a eficácia como o componente melhor avaliado (93,9%), seguido da tomada de decisão (92,3%) e, por último, da adaptação (91,0%).
Na Tabela 2, observa-se os valores da validação de cada ação considerando-se os três indicadores de cada uma. Constata-se que a maioria das ações obteve índices gerais e por componente acima de 90,0%, com exceção do bloqueio de rebote ofensivo, o qual obteve índice geral de 80,3%.
FIDEDIGNIDADE INTRA-AVALIADOR
Na testagem da fidedignidade intra e interavaliadores, foram realizadas observações de todas as ações ofensivas e defensivas realizadas, sendo observadas 545 ações, 79 na componente adaptação, 183 na tomada de decisão e 283 na eficácia (Tabela 3). Desse total, 502 (92,1%) ações foram avaliadas iguais e 43 diferentes, na componente adaptação 73 das 79 (92,4%), na componente tomada de decisão 157 das 183 (85,8%) e na componente eficácia 272 das 283 (96,1%) ações foram avaliadas de forma igual.
No que se refere ao nível de concordância intra-avaliador (Spearman), todas as ações e componentes obtiveram correlação forte, sendo que as ações ofensivas de recepção, corta-luz, desmarcação e rebote ofensivo apresentaram correlação perfeita (1,000), enquanto as ações de passe e rebote defensivo demonstraram os menores índices de correlação (MITRA; LANFORKD, 1999MITRA, A.; LANFORKD, S. Research methods in park, recreation and leisure services. Champaign: Sagamore Publishing, 1999.).
Os índices de Kappa também apresentaram concordância excelente para a maioria das ações, sendo que apenas as ações de passe e marcação sem bola zona evidenciaram concordância boa; os fundamentos defensivos de rebote e marcação sem bola individual indicaram concordância moderada entre as avaliações. Além disso, destaca-se que as componentes adaptação e eficácia obtiveram concordância excelente e a componente tomada de decisão, boa concordância entre as avaliações (LANDIS; KOCH, 1977LANDIS, J. R.; KOCH, G. G. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics, Arlington, v. 33, n. 1, p. 159-74, 1977.).
Fidedignidade interavaliadores
Os valores apresentados na Tabela 4 demonstram que os índices de correlação intraclasse, comparando a avaliação dos três pesquisadores, obtiveram correlação boa e significativa, com coeficientes acima de 0,942 e correlação geral de 0,968.
DISCUSSÃO
Uma tendência no esporte atual é a utilização de diversificados instrumentos para a obtenção de informações sobre o desempenho técnico-tático dos atletas ou das equipes para melhor subsidiar decisões tanto no decorrer das partidas quanto nas fases de planejamento do treinamento esportivo. Além disso, o desempenho cada vez mais se torna alvo de pesquisas científicas ligadas a Pedagogia do Esporte, incentivando o desenvolvimento de sistemas para coleta e análise de dados em situações reais de jogo (BARROS et al., 2002BARROS, R. M. L.; BERGO, F. G.; ANIDO, R.; CUNHA, S. A.; LIMA FILHO, E. C.; BRENZIKOFER, R.; FREIRE, J. B. Sistema para anotação de ações de jogadores de futebol. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 10, n. 2, p. 7-14, abr. 2002.).
Ao buscar contribuir para o avanço em torno dos sistemas para análise do jogo, elaboraram-se os indicadores de observação do IAD-BB a partir dos fundamentos técnico-táticos e das características dos jogadores das categorias de formação da modalidade de basquetebol. De modo similar, os componentes de jogo foram elaborados considerando-se as dimensões do desempenho técnico-tático, como as movimentações sem bola - Adaptação (SAAD, 2012SAAD, M. A. A formação técnico-tática de jogadores de futsal nas categorias sub-13 e sub-15: análise do processo de ensino-aprendizagem-treinamento. 2012. 164f. Tese (Doutorado em Educação Física)-Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.), a seleção do modo de agir, de acordo com as circunstâncias do jogo - Tomada de decisão (BIANCO, 2006BIANCO, M. A. Capacidades cognitivas nas modalidades esportivas coletivas. In: DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 24-38.) e o resultado da ação motora - Eficácia (RINK, 1993RINK, J. E. Teaching physical education for learning. St. Louis: Mosby, 1993.).
Os indicadores dos fundamentos do basquetebol foram elaborados a partir de dois grandes grupos (FERREIRA; DE ROSE JÚNIOR, 2003FERREIRA, A. E. X.; DE ROSE JÚNIOR, D. Basquetebol, técnicas e táticas: uma abordagem didático-pedagógica. São Paulo: EPU, 2003.; DE ROSE JÚNIOR; TRÍCOLI, 2005DE ROSE JÚNIOR, D.; TRÍCOLI, V. Basquetebol: conceitos e abordagens gerais. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRÍCOLI, V. Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005. p. 123-143.; DE ROSE JÚNIOR, 2006DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas: o basquetebol. In: DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 113-127.):
- Ataque: ações executadas com bola e sem bola, com objetivo principal de obtenção da cesta (passe, recepção, drible, arremesso, desmarcação, bloqueio de rebote, rebote, corta-luz);
- Defesa: realizados sem bola (exceto rebote), visando à recuperação da sua posse para iniciar a ação ofensiva (marcação ao atacante com ou sem bola, bloqueio de rebote, rebote).
O IAD-BB compreende ainda a tática individual como a capacidade de o atleta executar os fundamentos, considerando as condições e as possibilidades de decisão oferecidas na situação, tanto ofensiva quanto defensiva. Na tática individual de ataque, o atleta pode utilizar-se dos fundamentos possíveis nesta situação, criando condições para conduzir a bola para regiões propícias para execução de passes e arremessos, enquanto na tática individual de defesa ele deve provocar o erro do atacante, utilizando-se de habilidades defensivas. Nesse caso, se o atacante estiver sem bola, dificultar a recepção desta, e, se estiver com posse de bola, tentar conduzi-lo para regiões da quadra onde sua ação seja dificultada (DE ROSE JÚNIOR, 2006DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas: o basquetebol. In: DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 113-127.).
Os indicadores de jogo na componente Adaptação foram estruturados levando-se em consideração que, nos estudos de abordagens táticas, as medidas de performance de jogo devem incluir, além das habilidades e decisões com bola, os movimentos realizados sem esta, tanto pelos atacantes quanto pelos defensores, para assim considerar a grande fração do jogo que decorre longe da bola (OSLIN; MITCHELL; GRIFFIN, 1998OSLIN, J.; MITCHELL, S.; GRIFFIN, L. The game performance assessment instrument (GPAI): development and preliminary validation. Journal of Teaching in Physical Education, Champaign, v. 17, n. 2, p. 231-243, 1998.).
A elaboração dos indicadores de jogo na componente Tomada de decisãobuscou atender aos princípios operacionais de jogo (BAYER, 1994BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994.), tanto de ataque (conservação da bola, progressão dos jogadores e da bola ao alvo adversário, finalização) quanto de defesa (recuperação da bola, impedimento da progressão dos adversários e da bola). Por fim, os indicadores do componente Eficácia levaram em consideração o resultado dos fundamentos técnicos utilizados (MESQUITA, 2000MESQUITA, I. A pedagogia do treino: a formação em jogos desportivos coletivos. 2. ed. Lisboa: Livros Horizonte, 2000.; COLLET et al., 2007COLLET, C.; NASCIMENTO, J. V.; RAMOS, M. H. K. P.; DONEGÁ, A. L. Processo de ensino-aprendizagem-treinamento no voleibol infantil masculino em Santa Catarina. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 18, n. 2, p. 147-159, 2007.).
No que se refere às ações de jogo, os indicadores foram estruturados considerando-se às características dos diferentes fundamentos técnico-táticos do basquetebol. A avaliação da Recepção foi elaborada compreendendo esta como o ato de segurar a bola, fazendo parte, portanto, apenas da componente eficácia, uma vez que os atletas devem buscar mantê-la sob seu domínio. Neste contexto, compreende-se que para realizar qualquer outra ação subsequente o atleta deve ser capaz de dominar a bola após recebê-la, implicando assegurar a sua posse e manter o equilíbrio corporal, requisito que possibilitará que na sequência ele se oriente na direção da cesta, assumindo postura para ler o jogo e decidindo a intencionalidade ofensiva posterior: passar, driblar ou arremessar (BARRETO, 2001BARRETO, H. Ensino do basquetebol no ambiente de jogo. In: JANEIRA, M. A.; GRAÇA, A.; PINTO, D.; BRANDÃO, E. Tendências actuais da investigação em basquetebol. Porto: Universidade do Porto, 2001. p. 195-202.).
Os indicadores do Passe e do Drible são entendidos como ações fundamentais para fazer avançar ou progredir a bola. No entanto, para que ambos cumpram seu objetivo ofensivo, devem ser utilizados em momentos adequados, em decorrência da leitura das diferentes situações que enfrentam no jogo (BARRETO, 1991BARRETO, H. O ensino dos desportos de equipa, o treino das técnicas integrado no acto tático. In: BENTO, J.; MARQUES, A. As ciências do desporto e a prática desportiva. Porto: FADEUP, 1991. v. 2. p. 165-171.). Por sua vez, os indicadores de avaliação do fundamento de Arremesso respeitaram uma descrição geral, independente do tipo de arremesso (jump, bandeja, gancho, na obtenção de 3 pontos, 2 pontos, lance livre,) e respeitando critérios de escolha do momento adequado (local e adversário) para sua execução.
As ações de Bloqueio de rebote ofensivo e defensivo foram definidas a partir dos conceitos de antecipação (antecipar a ação do adversário em direção do rebote após arremesso à cesta) e posição forte (posição relativa entre o adversário e a tabela, reagindo rapidamente para bloqueá-lo e assumindo uma base de sustentação alargada e forte, de forma equilibrada) (ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.). Além disso, o instrumento considera que na situação defensiva esta ação deve ser realizada por todos os jogadores, dificultando assim a aproximação dos atacantes na tentativa de recuperar a bola arremessada (VILLAS BÔAS, 2004VILLAS BÔAS, M. S. Basquetebol: brincando e aprendendo - da iniciação ao aperfeiçoamento. Maringá: Dental Press, 2004.).
Na avaliação dos Rebotes ofensivos e defensivos, reflete-se a importância destes na redução do número de posses de bola para a equipe adversária, conduzindo a equipe defensora a possibilitar à atacante um menor número de situações de arremessos e permitindo utilizar com mais frequência os contra-ataques, bem como oferecendo à equipe atacante possibilidade de segundos ou terceiros arremessos (ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.; RUANO et al., 2007RUANO, M. A. G.; CALVO, A. L.; TORO, E. O.; ZAFRA, A. O. O. Diferencias de los indicadores de rendimiento en baloncesto femenino entre ganadores y perdedores en función de jugar como local o como visitante. Revista de Psicología del Deporte, Barcelona, v. 16, n. 1, p. 41-54, 2007.). Assim como na ação de recepção, esse fundamento é avaliado somente na componente eficácia, sendo caracterizado apenas pela ação de obter a posse de bola após um arremesso não convertido (DE ROSE JÚNIOR; GASPAR; ASSUMPÇÃO, 2005DE ROSE JÚNIOR, D.; GASPAR, A. B.; ASSUMPÇÃO, R. M. Análise estatística do jogo. In: DE ROSE JÚNIOR, D.; TRICOLI, V. Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. Barueri: Manole, 2005. p. 123-143.).
Os indicadores da ação ofensiva de Desmarcação foram redigidos considerando-se que o jogador sem bola deverá libertar-se de possíveis intervenções dos defensores, colocando-se adequadamente em relação aos adversários e aos parceiros, além de buscar os espaços livres para criar linhas de passe (BAYER, 1994BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994.; ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.). Por sua vez, o corta-luz ao exigir contato do atacante no defensor para atrasar a ação deste, em benefício próprio ou do companheiro, deve ser avaliado tanto nas situações de bloqueio direito (realizado para beneficiar o companheiro com bola) quanto nas situações de bloqueio indireto (em prol de um colega sem bola) (DE ROSE JÚNIOR, 2006DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas: o basquetebol. In: DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 113-127.).
Os conceitos básicos de defesa indicam que se deve pressionar e condicionar a movimentação do atacante com e sem bola, evitando que os adversários atinjam o objetivo a que se propõem (ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.). Nesse sentido, os indicadores correspondentes às ações de Marcação sem bola determinam que o defensor crie zonas de interceptação, ou seja, busque impedir o passe, criando situações de alinhamento (ter no campo de visão tanto o portador quanto o não portador da bola), para persuadir o atacante com bola a não realizar o passe ou para interceptar este caso ocorra (BAYER, 1994BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994.; ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.).
Na componente Tomada de decisão, os princípios de defesa sem bola foram redigidos considerando os aspectos das defesas zona e individual. A defesa zona privilegia determinadas áreas do campo em que os defensores se deslocam em função da bola (flutuação) e possuem a responsabilidade de defender todos atacantes que penetrarem na área (setor da quadra) pela qual é responsável (BAYER, 1994BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994.; ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.; DE ROSE JÚNIOR, 2006DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas: o basquetebol. In: DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 113-127.). Por sua vez, a defesa individual preconiza uma defesa centrada essencialmente no atacante (portador ou não da bola), que de acordo com a importância atribuída ao elemento bola, pode evoluir para uma defesa com flutuação e/ou troca - ajuda defensiva (BAYER, 1994BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994.).
Nesse caso, uma ajuda defensiva é visualizada nos casos em que os defensores responsáveis pela marcação dos atacantes sem bola tomam posições defensivas de ajuda sobre o lado da bola, buscando anular um corta-luz ou congestionar a região central do garrafão (ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.; DE ROSE JÚNIOR, 2006DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas: o basquetebol. In: DE ROSE JÚNIOR, D. Modalidades esportivas coletivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 113-127.). Além disso, na avaliação das ações de defesa, deve-se observar a tática coletiva da equipe quanto ao espaço da quadra onde vão iniciar a ação defensiva (quadra toda, meia quadra, 3/4 da quadra) (VILLAS BÔAS, 2004VILLAS BÔAS, M. S. Basquetebol: brincando e aprendendo - da iniciação ao aperfeiçoamento. Maringá: Dental Press, 2004.).
A avaliação das ações de Marcação com bola considera que os defensores devem ser ativos (sem serem agressivos), agindo e impondo-se durante todo o período de ataque dos adversários, retardando a progressão da bola e levando os atacantes para caminhos desviados e menos perigosos, na aproximação que estes tentam fazer em relação à cesta (BAYER, 1994BAYER, C. O ensino dos desportos colectivos. Lisboa: Dinalivro, 1994.; ARAÚJO; PINTO; LEITE, 2004ARAÚJO, J. M.; PINTO, C.; LEITE, M. Basquetebol: modelo de jogo. Lisboa: Editorial Caminho, 2004.).
No que se refere aos índices de validade de conteúdo do IAD-BB, o instrumento apresentou elevados percentuais de aceitação entre os especialistas consultados, tanto na análise dos indicadores das ações quanto dos componentes técnico-táticos, sendo que apenas a ação de bloqueio de rebote ofensivo evidenciou índices abaixo de 90% (80,3%). A avaliação dessa ação foi menor do que as demais devido ao fato de dois avaliadores a considerarem como um fundamento de defesa e não de ataque. No entanto, como os demais pareceristas consideraram válida e importante a sua presença no instrumento, a mesma foi mantida.
Os resultados da avaliação dos especialistas por componente e ação se assemelharam aos valores atribuídos para a validação do instrumento do desempenho técnico-tático individual no voleibol - IAD-VB (COLLET et al., 2011COLLET, C.; NASCIMENTO, J. V.; RAMOS, V.; STEFANELLO, J. M. Construção e validação do insturmento de avaliação do desempenho técnico-tático no voleibol. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 43-51, 2011.) e superiores ao da modalidade de futsal - IAD-Futsal (SAAD, 2012SAAD, M. A. A formação técnico-tática de jogadores de futsal nas categorias sub-13 e sub-15: análise do processo de ensino-aprendizagem-treinamento. 2012. 164f. Tese (Doutorado em Educação Física)-Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.).
Na fidedignidade intra-avaliadores, os indicadores do desempenho técnico-tático propostos para o IAD-BB revelaram índices de correlação e concordância satisfatórios, alcançando forte correlação, bem como concordância de moderada a excelente em todas as ações e componentes. Além disso, os índices de correlação intraclasse (interavaliadores) também evidenciaram valores considerados de forte correlação. Os índices da fidedignidade intra e interavaliadores alcançados pelo IAD-BB revelaram valores superiores aos encontrados nas validações dos instrumentos IAD-VB e IAD-futsal (COLLET et al., 2011COLLET, C.; NASCIMENTO, J. V.; RAMOS, V.; STEFANELLO, J. M. Construção e validação do insturmento de avaliação do desempenho técnico-tático no voleibol. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 13, n. 1, p. 43-51, 2011.; SAAD, 2012SAAD, M. A. A formação técnico-tática de jogadores de futsal nas categorias sub-13 e sub-15: análise do processo de ensino-aprendizagem-treinamento. 2012. 164f. Tese (Doutorado em Educação Física)-Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2012.).
Por fim, o processo de construção e validação apresenta como limitações, além daquelas apresentadas na Padronização e Limitações do Instrumento, o tempo a ser gasto para avaliar cada jogador individualmente; as dificuldades para avaliar a auto-regulação do jogo a partir das frequentes substituições de jogadores; a não computação de faltas recebidas e cometidas; e a dificuldade de avaliar várias ações seguidas realizadas por um mesmo jogador em poucos segundos. Esta última limitação se deve a própria dinâmica e imprevisibilidade do jogo de basquetebol, as quais exigem que o avaliador veja a mesma cena várias vezes para assim computar todas as ações realizadas (exemplo: desmarcação, recepção, drible, passe, desmarcação, corta-luz, entre outras).
CONCLUSÕES
O IAD-BB foi elaborado com a finalidade de avaliar o nível de desempenho técnico-tático de atletas de categorias de base do basquetebol, levando-se em consideração os fundamentos e os componentes de jogo dessa modalidade. Além disso, o interesse foi de contribuir para o aprimoramento dos meios e das técnicas de análise do jogo, em situações reais vivenciadas pelos jogadores durante as partidas.
O processo de construção do instrumento estabeleceu indicadores de avaliação para as ações ofensivas e defensivas do basquetebol e dos componentes técnico-táticos das modalidades esportivas coletivas (adaptação, tomada de decisão e eficácia), pautados nos marcos teóricos da literatura pertinente a Pedagogia do Esporte.
O IAD-BB apresentou percentuais de avaliação de conteúdo, bem como índices de correlação e concordância intra e interavaliadores satisfatórios, demonstrando-se assim um instrumento válido preliminarmente e utilizável como técnica de avaliação dentro dos estudos da análise do jogo.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jul-Sep 2014
Histórico
-
Recebido
14 Mar 2014 -
Revisado
14 Jun 2014 -
Aceito
17 Jul 2014