Esta edição, embora sucinta, atesta pela 31ª vez a vitalidade dos estudos machadianos nos tempos que correm, a despeito dos tempos que correm.
Em “‘Luís Soares’, a escolha feminina e o novo objeto do amor”, Naiara Santana Pita e Mirella Márcia Longo Vieira Lima, da Universidade Federal da Bahia, analisam o conto “Luís Soares” em conexão com as transformações da posição da mulher na sociedade brasileira oitocentista e de suas possibilidades na escolha pelo casamento.
Marcelo Lotufo, pesquisador de pós-doutorado na Universidade Estadual de Campinas, examina as relações entre as proposições críticas de Machado de Assis no ensaio “Instinto de nacionalidade” e suas realizações nos contos “Aurora sem dia” e “A parasita azul’”, apontando a coerência entre o discurso crítico e a produção ficcional de Machado no início da década de 1870.
Em “Um narrador do segundo escalão”, o pesquisador independente André Dutra Boucinhas identifica o perfil socioeconômico do conselheiro Aires, mostrando que se tratava de um funcionário de segundo escalão na burocracia do Império, personagem construída sob medida para fazer a crítica da transição da monarquia para a república.
Os dois artigos seguintes tratam das Memórias póstumas. Em “Início e fim de Memórias póstumas de Brás Cubas: conexões com a Bíblia, a escravidão e a retórica”, Paulo Sérgio de Proença, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, examina o início e o final do romance para mostrar como o escritor, consciente do papel estratégico dessas partes da narrativa, maneja as referências nelas presentes para tratar da escravidão.
Diana Duarte Ferreira, da Universidade Nova de Lisboa, em “Mercúrio entrevado: Memórias póstumas de Brás Cubas em travessia” relê o romance por meio da discussão de pares que dariam estrutura à narrativa, tais como vida e morte, fato e metáfora, contingência e necessidade.
A edição traz ainda duas resenhas. A primeira delas, por Luís Bueno, da Universidade Federal do Paraná, trata de Escritor por escritor - Machado de Assis segundo seus pares (Imprensa Oficial, 2019), obra em dois volumes que reúne textos de mais de cem escritores brasileiros sobre Machado de Assis produzidos entre 1908 e 2008. A segunda resenha trata de Esse Aires, reunião de ensaios sobre Esaú e Jacó e Memorial de Aires organizada por Abel Barros Baptista, Clara Rowland e Pedro Meira Monteiro, apreciada por André Corrêa de Sá, da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara.
A MAEL também anuncia novidades para 2021.
A primeira delas é que a revista passa a publicar artigos de forma contínua ao longo do ano, tão logo sejam aprovados e editados, conferindo maior agilidade ao processo editorial. Assim, os artigos publicados ao longo do ano serão reunidos e indexados em um único volume.
A segunda inovação é a adoção de práticas da ciência aberta, em sintonia com recomendações do SciELO. Com isso, a MAEL passará a aceitar a submissão de manuscritos depositados previamente em servidores de preprint certificados pelo periódico e oferecerá a autores e pareceristas opções de abertura do processo de avaliação por pares, com ou sem identificação dos seus nomes.
Aos leitores e colaboradores, nossos votos de um 2021 mais sintonizado com a inteligência e a sensibilidade de Machado de Assis, que certa vez escreveu: “A literatura, como Proteu, troca de formas, e nisso está a condição da sua vitalidade.” (ASSIS, 1894)
Que assim seja também com a Machado de Assis em linha!
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Dez 2020 -
Data do Fascículo
Dez 2020