Open-access Questões ontológicas em Freud

Ontological issues in Freud

Cuestiones ontológicas en Freud

Resumo

A reflexão ontológica está relacionada com a direção de uma prática psicoterápica, pois toda teoria impõe uma forma ao material empírico da clínica. O presente artigo tem por objetivo argumentar que os textos freudianos tocam em importantes temas ontológicos e, para isso, o procedimento adotado foi o de abordar um conjunto destes textos por meio de sete categorias de análise: 1) modalidades de existência; 2) incertezas na fundamentação teórica; 3) experiência de mundo assentada na precariedade da consciência de um sujeito; 4) o desejo e sua função na construção da realidade; 5) concepção não linear de tempo; 6) a transitoriedade; e 7) a presença de um âmbito negativo da existência. A partir dessas categorias, são indicados alguns pontos de vizinhança com a analítica existenciária de Heidegger e afirmada a importância da discussão ontológica para que a redução metodológica da técnica analítica não se converta em um reducionismo ontológico.

Palavras-chave: psicanálise; Freud; ontologia; analítica existenciária; Heidegger

Abstract

This paper aims to argue that Freudian texts address complex ontological themes. First, we argue that the ontological discussion is related to the direction of the clinical practice, since every theory imposes a form on the empirical material of clinical experience. In order to indicate that Freud approaches ontological themes, some of his texts are regarded here by means of seven categories of analysis: 1) modes of existence; 2) uncertainties in the theoretical basis; 3) world experience based on the precariousness of a subject’s awareness; 4) desire and its function in the construction of reality; 5) non-linear design of time; 6) transience; and 7) the presence of a negative scope of existence. From these categories, some points of proximity to Heidegger’s existential analytic are pointed out, and the importance of the ontological discussion is stated for the methodological reduction of the analytical technique not to become ontological reductionism.

Keywords: psychoanalysis; Freud; ontology; existential analytic; Heidegger

Resumen

La reflexión ontológica se relaciona con la dirección de una práctica psicoterapéutica, ya que toda teoría impone una forma al material empírico clínico. El propósito de este artículo es argumentar que los textos freudianos tocan temas ontológicos importantes y para ello el procedimiento adoptado fue abordar un conjunto de estos textos a través de siete categorías de análisis: 1) modalidades de existencia; 2) incertidumbres en la base teórica; 3) experiencia del mundo basada en la precariedad de la conciencia del sujeto; 4) el deseo y su papel en la construcción de la realidad; 5) concepción no lineal del tiempo; 6) fugacidad y 7) presencia de un ámbito negativo de la existencia. A partir de estas categorías, se señalan algunos puntos de vecindad con el análisis existencial de Heidegger y se afirma la importancia de la discusión ontológica para que la reducción metodológica de la técnica analítica no se convierta en un reduccionismo ontológico.

Palabras clave: Psicoanálisis; Freud; Ontología; analítica existencial; Heidegger

Introdução

Se, por um lado, podemos afirmar que não existe uma discussão nomeadamente ontológica nos textos freudianos, por outro, é necessário reconhecer que seus textos carregam temas que são por sua natureza ontológicos. As questões ontológicas são cruciais para a condução de um tratamento, pois têm efeitos sobre a clínica. Os problemas referentes à ontologia na psicanálise não estão resolvidos e são problemas que estão diretamente relacionados aos princípios da direção de um tratamento, pois é uma tarefa intransferível a toda clínica criticar as decisões ontológicas subjacentes às construções teóricas que sustentam a prática. Em última instância, sempre subjaz uma ontologia às decisões de ordem clínica, seja esta ontologia uma posição problematizada ou, pelo contrário, uma posição sobre a qual se opera inadvertidamente.

Assim, por exemplo, é a adesão à determinada concepção de realidade, pois sempre operamos com uma, sendo ela tematizada ou não. A adesão irrefletida a uma concepção na qual pode haver um acesso límpido a uma realidade unificada que está aí para ser descoberta pela observação cuidadosa, somada à convicção de que aquilo que foi descoberto pode ser verificado posteriormente, engendra, no âmbito das práticas psicoterápicas, a figura de um técnico que opera no campo da certeza e que irá impor ao material clínico suas próprias convicções. Deste modo, esse clínico terá dificuldades em manter a abstinência necessária em seu saber para sustentar um regime de abertura para a alteridade de seu paciente.

Freud (1924a/1996) afirmou que pode haver um proveitoso retorno do cinza das formações teóricas ao eterno verdejar da experiência,1 mas essa relação entre o campo empírico da clínica e a teoria psicanalítica é uma relação complexa e de dupla via. Freud (1915a/1996) afirmou que, mesmo que pareça em nossas observações que estamos colhendo algo da realidade na forma do conceito, na verdade sempre há o caminho inverso. Levamos nossa teoria até a realidade para recortá-la. Não existe experiência de não-teoria, em que ocorreria uma espécie de contato puro com a realidade sobre a qual se constrói teoria. Sempre que um sujeito aborda uma realidade, já é uma realidade recortada. Então poderíamos afirmar que, se o produto do recorte é o conceito, o que preside o corte são decisões de cunho ontológico. Mesmo que os conceitos pareçam derivar diretamente da experiência, na verdade eles são convenções que orientam a abordagem da experiência. Sempre há uma imposição de saber sobre o material clínico, e por isso a questão do poder está relacionada com a ontologia.

Não discutir ontologia coloca uma clínica no iminente risco de decair em um realismo ingênuo, que pode sustentar uma ideia de verdade baseada na verificação com o consequente encaminhamento metodológico assentado na observação como acesso transparente à realidade.2 O efeito político desta ontologia irrefletida tem como consequência uma assimetria no tratamento, na qual a posição de sujeito recai sobre o terapeuta como aquele que está em posição de acessar a verdade. Neste sentido, as concepções de verdade e de realidade com que se opera é de fundamental importância.

Por esse motivo, e com o objetivo de indicar a importância dessas discussões, gostaríamos de mostrar que importantes temas ontológicos estão, desde o princípio, presentes na obra de Freud e que sua teorização sobre o aparelho psíquico demonstra que não pode haver uma relação transparente com a realidade. A teoria freudiana toca em complexos temas ontológicos que podem ser delimitados a partir de uma análise. Para indicar isto, nosso procedimento, neste artigo, será o de abordar alguns dos textos do autor por meio de sete categorias de análise: 1) a discussão sobre diferentes modalidades de existência; 2) as incertezas com que se lida na fundamentação da teoria psicanalítica; 3) a formalização de uma experiência de mundo assentada na precariedade da consciência de um sujeito; 4) o desejo e sua função na construção da realidade; 5) a concepção não linear de tempo; 6) a transitoriedade; e 7) a presença de um âmbito negativo da existência.

1) Diferentes modalidades de existência

Para discutir essa categoria de análise, lembramos que Aristóteles (2001, p. 131) afirma que “o ser se diz em múltiplos significados”. Nesse sentido, podemos indicar que Freud opera com esta noção de haver diferentes modos de ser, diferentes modalidades de existência. A psicanálise surge justamente nos impasses criados diante da impossibilidade de localizar um referente material para a etiologia dos sintomas no quadro de histeria. Houve um momento em que Freud (1893/1996) assinalou que alguns fenômenos da histeria quebravam a lógica do paralelismo entre o substrato orgânico e os sintomas clínicos. O fenômeno da “delimitação precisa” nas paralisias histéricas fez com que o autor percebesse que os sintomas não respondiam ao desenho das fibras nervosas, mas às palavras que em determinada língua veiculavam o significado de um membro ou órgão do corpo. Ou seja, as paralisias e anestesias histéricas não possuíam um referente material de tipo orgânico, mas eram um fenômeno que respondia a um regime de existência de outra natureza, que é a linguagem.

Outro exemplo está nas representações gráficas presentes na Interpretação dos sonhos (FREUD, 1900-1901/1996), conhecidas como os esquemas do pente invertido. Esses desenhos representam o funcionamento do aparelho psíquico; neles, Freud subverte o modelo biológico do arco-reflexo, afirmando que não é necessário que os sistemas psíquicos sejam pensados numa disposição espacial, mas que poderiam ser pensados em termos de sucessão temporal. E, mais adiante, no mesmo texto (no item C, capítulo VII), utilizando a mesma estrutura gráfica, demarca como o elemento mais significativo do desenho que representa a moção do desejo, a lacuna existente entre os dentes do pente. Freud (1900-1901/1996, p. 594-595) conceitua o desejo como o movimento produzido pelo hiato que existe entre a percepção da necessidade e a marca mnêmica deixada por uma experiência originária de satisfação. Esses desenhos apontam para um regime de existência que precisa ser pensado em sua dimensão temporal e que se organiza ao redor de lacunas. Ainda na Interpretação do Sonhos, Freud (1900-1901/1996. p. 644) argumenta que existem diferentes modos de existência3 e que “a realidade psíquica é uma forma especial de existência que não deve ser confundida com a realidade material” (grifos do autor).

Um momento importante para a psicanálise, no qual poderíamos dizer que surge algo de fundamental à especificidade de sua orientação clínica, é o momento do abandono da teoria da sedução. O abandono desta teoria teve como consequência a assunção de uma outra ordem de realidade, que é a ordem da fantasia. Em uma carta datada de 21 de setembro de 1897, Freud (1986) contou ao seu amigo Fliess que estava renunciando à teoria em que considerava um acidente traumático real, ocorrido no passado, como fator etiológico para os sintomas histéricos. Freud havia se convencido de que suas pacientes estavam “inventando” cenas de sedução na infância. No entanto, esta invenção não consistia em uma mentira, era uma criação em outra ordem de realidade. A consequência teórica é que não era possível generalizar o trauma da sedução como um fator etiológico universal. Além disso, a teoria psicanalítica circunscreveu a fantasia inconsciente como possuidora um regime de existência mais efetivo do que a realidade para a explicação dos fenômenos psicopatológicos.

2) Incertezas na fundamentação da teoria psicanalítica

Quanto aos limites com que se lida na fundamentação teórica, no capítulo VII, item F da Interpretação do Sonhos, Freud (1900-1901/1996, p. 635) afirma que “temos de estar sempre preparados para abandonar nosso arcabouço conceitual se nos sentirmos em condição de substituí-lo por algo que se aproxime mais de perto da realidade desconhecida” (grifo nosso). Aqui, ao falar da provisoriedade das construções teóricas, Freud explicita o tipo de concepção de realidade com a qual opera, que não é uma realidade transparente. Ao lermos o prelúdio do texto sobre as pulsões, podemos ver Freud (1915a/1996) ressaltar a fragilidade e a provisoriedade da construção conceitual no âmbito da experiência psicanalítica, quando trata de conceitos como o de pulsão, que se situa numa espécie de limbo, zona fronteiriça entre o corpo e o psiquismo. No texto sobre “O inconsciente”, o direito de existência desta dimensão da experiência humana é defendido por Freud (1915b/1996, p. 172) em uma abordagem pela via negativa, como uma hipótese justificada e necessária para explicar justamente as descontinuidades e os tropeços no desenrolar da vida psíquica: “Porque os dados da consciência apresentam um número muito grande de lacunas”.

Esses exemplos demonstram as dificuldades inerentes à construção de fundamentação para os fenômenos menores da vida psíquica dos quais a experiência psicanalítica se ocupa. Os sintomas, os sonhos e os atos falhos constituem objetos de caráter fugidio. Nos fenômenos abordados pela psicanálise sempre há algo que escapa, algo impossível de ser analisado. Podemos tomar como exemplo o que o autor nomeia como o “umbigo do sonho”, que se refere ao insondável presente em toda formação onírica, no qual se faz ponto de contato com o desconhecido. Na Interpretação dos Sonhos, Freud (1900-1901/1996, p. 556) afirma:

Mesmo no sonho mais minuciosamente interpretado, é frequente haver um trecho que tem de ser deixado na obscuridade; é que, durante o trabalho de interpretação, apercebemo-nos de que há nesse ponto um emaranhado de pensamentos oníricos que não se deixa desenredar e que, além disso, nada acrescenta a nosso conhecimento do conteúdo do sonho. Esse é o umbigo do sonho, o ponto onde ele mergulha no desconhecido (grifo do autor).

3) Experiência de mundo centrada na precariedade do sujeito

Quanto à formalização da experiência de mundo centrada na precariedade do sujeito, Freud (1900-1901/1996, p. 636) afirma que tudo o que pode ser objeto de uma percepção acerca do mundo externo é a criação de um “virtual”, semelhante à imagem produzida no telescópio pela passagem da luz. Esse facho de luz que é a experiência da atividade consciente, é uma espécie de criação imperfeita que extrai sua matéria de duas fontes: dos dados fragmentários provenientes da realidade desconhecida e desta outra realidade que é a vida anímica inconsciente. Pois a consciência, de acordo com o autor, é uma pequena ilha dentro de uma esfera maior, que é o inconsciente.

O inconsciente é a verdadeira realidade psíquica; em sua natureza mais íntima, ele nos é tão desconhecido quanto a realidade do mundo externo, e é tão incompletamente apresentado pelos dados da consciência, quanto o é o mundo externo pelas comunicações de nossos órgãos sensoriais (FREUD, 1900-1901/1996, p. 637, grifo do autor).

Freud (1900-1901/1996, p. 640) afirma que é delegado à consciência o papel de ser apenas “um órgão sensorial para a percepção de qualidades psíquicas”, sendo que a parte do aparelho psíquico que se volta para o exterior (aparelho perceptivo) é, ela mesma, a realidade externa para o órgão sensorial da consciência. Deste modo, a consciência é composta por duas superfícies de contato. Recebe, por um lado, as excitações provenientes do aparelho perceptivo, as quais traduz em termos de qualidades que podem se tornar uma sensação consciente; por outro lado, recebe do interior do próprio psiquismo. Em Uma nota sobre o ‘bloco mágico’, Freud (1925a/1996, p. 257) postula que o aparelho perceptual do psiquismo possui duas camadas; a primeira é um “escudo protetor contra estímulos”, que tem a função de proteger a vida psíquica da intensidade dos estímulos do mundo. A segunda é uma superfície receptora dos estímulos, que é denominada sistema percepção-consciência. Nesta segunda camada, por força dos investimentos e desinvestimentos provenientes do interior do aparelho psíquico, isto é, do inconsciente com suas moções de desejo, é que se dá o fenômeno do “bruxuleio e a extinção da consciência no processo da percepção” (FREUD, 1925a/1996, p. 258).

Nessa metáfora utilizada por Freud (1900-1901/1996), o bruxuleio da atividade consciente é uma imagem criada no hiato entre as superfícies das duas lentes de um telescópio. Tal como o telescópio, não temos acesso à realidade em si, mas a uma imagem criada entre duas superfícies por um artifício de captura. O que Freud afirma em última instância é que a única realidade a que a consciência tem acesso é aquela criada pelo aparelho perceptivo. A realidade criada pelo artifício das lentes não necessariamente é a mesma dos objetos no espaço. Pelo artifício do telescópio observamos os corpos celestes como se fossem objetos subsistentes. Tal como na substância aristotélica, facilmente podemos perder de vista a dimensão temporal desses objetos. Podemos observar uma constelação em que contamos com a luz de um de seus astros que tenha se extinguido há milênios.

Por fim, na representação gráfica que faz do aparelho psíquico em A dissecção da personalidade psíquica, Freud (1933/1996, p. 83) desenha como aberto o lado do aparelho psíquico ligado ao corpo. Já o lado do psiquismo voltado ao mundo externo é representado como tamponado por uma membrana, que é o escudo protetor contra os estímulos exteriores. Ou seja, na doutrina freudiana não há um realismo imediato e transparente, não há via direta de acesso à realidade.

4) O desejo e sua função na construção da realidade

Quanto ao desejo e sua função na construção da realidade, podemos ver a figura conceitual do desejo moldando, distorcendo e orientando a reconstrução da realidade de diversas formas. Primeiro, no campo do conhecimento, o desejo aparece em O instinto e suas vicissitudes (FREUD, 1915a/1996) como uma instância que concede um colorido anímico aos nossos andaimes teóricos, que para o autor são pontos de apoio no processo de construção dos conceitos sobre a realidade. Freud (1915a/1996, p. 123) afirma que, rigorosamente falando, as ideias escolhidas para a construção dos conceitos científicos “são determinadas por terem relações significativas com o material empírico, relações que parecemos sentir antes de podermos reconhecê-las e determiná-las claramente”. Entendendo o desejo como o sentido destas relações significativas, o que o autor postula aqui é a projeção do desejo no plano da construção conceitual acerca da realidade. Na doutrina freudiana, atividade científica de produção conceitual é apenas um modo especializado do trabalho psíquico da construção da realidade.

Assim, em Neurose e psicose, Freud (1924a/1996, p. 169) argumenta que a perda da realidade que se observa nos quadros de psicose é produzida por uma grave frustração de um desejo, ou seja, pela “não-realização de um daqueles desejos de infância que nunca são vencidos”. Essa dissociação da realidade, de acordo com o autor, demonstra a existência de um “mundo interno” na psicose. Mas, em A perda da realidade na neurose e na psicose, Freud (1924b/1996), argumenta que as distinções entre a neurose e psicose não são tão claras quanto ao quesito da perda de realidade. Também na neurose existe um mundo interno onde abundam as tentativas de substituir a realidade por outra mais conforme ao desejo do indivíduo. Neste mundo interno o autor situa a fantasia. A fantasia funciona como uma espécie de fuero, segundo a expressão utilizada por Freud (1886/1996) na “Carta 52”, ou seja, um território autônomo que ficou de fora do novo regime de leis implantado de forma organizada em um território mais amplo. Na introdução do princípio de realidade, a fantasia sustenta para o sujeito uma certa “reserva”, um refúgio para as pesadas exigências da vida. Nesta modalidade de realidade, que é o mundo da fantasia, o que preside a organização é o desejo.

5) Concepção não linear de tempo

Quanto à concepção não linear de tempo, na “Carta 52”4 Freud (1886/1996) apresenta a ideia de que o funcionamento psíquico opera por um mecanismo de sucessivas estratificações, que vão sofrendo rearranjos de modo a se adaptar às novas circunstâncias que vêm ao seu encontro. Para o autor, são alterações que consistem em uma “re transcrição” (FREUD, 1886/1996, p. 281). Essas estratificações comportam a ideia de que a memória se desdobra em vários tempos e se organiza em qualidades diferentes de registro. Esses diferentes modos de registro consistem na realização, ao nível do psiquismo, de etapas sucessivas da vida. Na fronteira entre uma etapa e outra é necessário haver a tradução do material, que funcionava ao modo próprio de um registro e que deve agora passar a funcionar ao modo próprio de outro. Freud afirma nesta carta que determinados materiais, carregados de intensidade, como as lembranças de ordem sexual, não são traduzidos, ou seja, ocorre uma “falha na tradução” (FREUD, 1886/1996, p. 283). O resultado desta falha é que o material absorvido no novo registro funciona de modo anacrônico, segundo as vias abertas pelo registro anterior. Deste modo, algumas inscrições (Niederschrift) conservam um grau de investimento tão grande que faz com que a lembrança se comporte de modo semelhante a um evento atual da realidade. O que é afirmado aqui é que, na experiência do mundo humano, registros mnêmicos podem gozar de mais importância do que percepções atuais. Na experiência de mundo, o passado de um sujeito produz uma temporalização no presente, subvertendo toda uma lógica do tempo cronológico.

Embora Freud tenha insistido no caráter “atemporal” do inconsciente, o desejo no sonho apresenta uma determinada concepção de tempo. Entendemos que quando o autor afirma o caráter atemporal daquilo que há de indestrutível no desejo infantil, ele na verdade está afirmando uma temporalidade radicalmente diferente do tempo cronológico. Nesse sentido, Izcovich (2018, p. 21) esclarece: “O inconsciente freudiano não inclui a medida do tempo” (grifo nosso). Freud (1900-1901/1996. p. 645) afirma que “esse futuro, que o sonhador representa como presente, foi moldado por seu desejo indestrutível à imagem e semelhança do passado”. Do mesmo modo, em Uma nota sobre o ‘bloco mágico’, Freud (1925a/1996, p. 259) escreve que este efeito de descontinuidade do bruxuleio do fenômeno da consciência, onde as percepções são investidas e desinvestidas de acordo com as moções de desejo provindas dos estratos do inconsciente, “jaz no fundo da origem do conceito de tempo”.5

Do mesmo modo, podemos encontrar no autor um valor ontológico na finitude. No texto Sobre a transitoriedade, Freud (1915c/1996, p. 317) afirma que há um valor intrínseco na fruição da beleza e que esta é potencializada na tensão com a sua efemeridade: “A limitação da possibilidade de uma fruição eleva o valor dessa fruição”. Diante da apreensão estética do mundo, o homem se depara com “uma antecipação de luto pela morte desta mesma beleza” (FREUD, 1915c/1996, p. 318). Nesta antecipação o homem tem dois caminhos: ou assume a morte como intrínseca à fruição da beleza do mundo ou recua diante do que é doloroso de assumir. Não há como não ver ressonâncias entre esta posição de assumir a transitoriedade como um potencializador do valor da fruição da beleza do mundo e o que articula um filósofo em sua ontologia em um texto escrito 12 anos depois: em Ser e Tempo, Heidegger (1927/2012) concede uma importância ontológica central ao ato de assumir como própria a possibilidade de extinção de todas as possibilidades de fruição. Ao assumir a morte como a mais própria, intransferível e indeterminada possibilidade, é possível abandonar uma posição de existência inautêntica e sustentar aquelas possibilidades mais próprias, aquelas que são mais caras a cada um no escasso tempo que lhe cabe.

6) Abordagem da existência em sua dimensão negativa

Quanto à abordagem da existência em uma dimensão negativa, Freud (1920/1996) descreve, em Além do Princípio do Prazer, uma brincadeira que seu neto realizava com um carretel de linha na falta de sua mãe. O menino jogava o carretel e enunciava Fort (longe), e quando o puxava para perto de si enunciava Da (aí). A leitura de Freud desta brincadeira é a de que, deste modo, seu neto elaborava a ausência de sua mãe, assumindo um poder ativo sobre a situação que antes experimentava passivamente. Essa brincadeira não era um mero jogo, mas a própria assunção de um novo modo de existência que carrega a possibilidade de tornar presente o ausente pela via da simbolização. Através do Fort-Da, enunciado como uma canção,6 uma espécie de ode à existência da mãe - que neste momento é mais que o mundo - sobre o pano de fundo de sua ausência, o menino traça um círculo que faz contorno ao desamparo no momento do advento da simbolização. Pois este par simples de oposição carrega todas as possibilidades virtuais do simbólico.

Freud antevê na repetição desta canção uma aderência a repetir jogos ao redor da angústia, tal como diversos exemplos de repetição nas atividades humanas que não se aplicam a uma economia psíquica ordenada pelo escoamento do desprazer. Esta compulsão à repetição aponta para a existência de algo que está para além do funcionamento psíquico regido pelo princípio do prazer. Este princípio era facilmente justificável dentro do quadro epistemológico de um darwinismo funcionalista, pois evitar o desprazer guia o organismo em direção à sobrevivência em sua relação com o mundo ambiente. Mas, para abordar a repetição que faz borda à angústia, Freud recorre a uma espécie de aporia ao propor um instinto - que por concepção teria a função de preservar a vida -, mas um instinto de morte. Utilizando uma linguagem biológica, Freud ingressa em um campo de determinação fora da biologia, que só é possível pensar sob um regime de existência que tem seus contornos dados pelo simbólico. Quando conceitua a pulsão de morte, Freud nomeia algo que está presente nas diversas formulações do aparelho psíquico, que sempre tem a função de escoar as excitações, de conduzir tudo ao silêncio do inanimado. O princípio do prazer trabalha no sentido do escoamento das perturbações da vida, de tudo aquilo que perturba a pureza do não-ser, como diz o poema de Valéry (1921/1984).

Freud (1925b/1996) postula, em A negativa, que a construção da fronteira demarcatória entre um mundo interno e um mundo externo se dá por meio da função do julgamento. O autor discorre sobre dois tipos de juízo, que são o juízo de atribuição e o juízo e existência.7 O juízo de atribuição se refere ao julgamento sobre se determinados atributos pertencem ou não ao sujeito. Este juízo seria modulado pelo modo mais primitivo do funcionamento psíquico, que é o modo regido pelo predomínio das pulsões orais. Nesse regime, dentro e fora vão sendo construídos pela lógica da escolha que seria enunciada em termos verbais deste modo: uma decisão entre o “gostaria de comer isso” e o “gostaria de cuspi-lo fora” (FREUD, 1925b/1996, p. 266-267). O juízo de existência se refere à decisão sobre se algo existe de fato no mundo externo. É interessante notar que, de acordo com o autor, o que instaura o teste de realidade, que é a essência deste juízo, é a perda de um objeto de inestimável valor, que o sujeito busca reencontrar. Ou seja, o que Freud propõe aqui é que a estrutura da falta do objeto do desejo instaura o juízo de existência.

Discussão

Analisando as categorias propostas, é possível afirmar que a psicanálise freudiana toca em importantes problemas ontológicos em suas teorizações sobre o aparelho psíquico. A discussão sobre diferentes modalidades de existência e sobre os limites com que se lida no trabalho de fundamentação da teoria psicanalítica; a formalização de uma experiência de mundo assentada na precariedade da consciência de um sujeito; a afirmação de que as construções acerca da realidade são sempre moduladas pela ação das moções de desejo; a concepção não linear de tempo que acompanha as teorizações do desejo, como a projeção de um futuro que se lança em busca de um momento anterior; as reflexões sobre a importância da transitoriedade na captura da fruição da experiência estética da existência; e a proposição de um regime negativo de existência que se dá sob a presença de uma ausência demonstram, por um lado, que houve decisões de natureza ontológica que presidiram a formação dos conceitos freudianos; por outro, que a obra freudiana toca em pontos fundamentais da experiência humana que carregam consigo um peso ontológico. São pontos que colocam em xeque posições realistas acríticas e demonstram a precariedade da experiência de mundo do sujeito.

Nesse sentido, ontologias como a presente em Ser e Tempo de Heidegger (1927/2012) podem vir ao auxílio da leitura dos problemas ontológicos da psicanálise. A analítica existenciária compõe uma crítica à doutrina da substância ao propor o modelo da diferença ontológica para pensar a história da metafísica e ao abordar o homem por suas estruturas existenciárias, evitando assim as categorias aristotélicas. Já havíamos apontado anteriormente uma zona de avizinhamento da analítica existenciária com a teoria freudiana, quando aproximamos a transitoriedade como potencializador da fruição estética da existência em Freud do ser para a morte em Heidegger.

Do mesmo modo, quando Freud propõe a precariedade da relação com o mundo forjada pelos limites da consciência humana, Heidegger (1927/2012) propõe abordar a pergunta pelo sentido do ser tomando como ponto de partida a situação fática do homem. O modo do existir humano, modo do ser-em-o-mundo do Dasein,8 na linguagem do autor, é o modo do ser lançado (Geworfenheit), jogado na existência sem fundamento ou conhecimento algum de suas raízes. Ao estar lançado ao mundo, o homem é, desde o início, inserido numa espécie de estrada para a morte, porque ele é, por constituição e pelo horizonte de seu tempo, finito. O homem existe de modo finito, não apenas no tempo, mas também em sua relação com a verdade e na realização de suas possibilidades.

Da mesma forma, na analítica existenciária podemos encontrar um modo de pensar o tempo fora do modelo da medida cronológica. Em Ser e Tempo o fenômeno primordial do tempo é o futuro, que ganha consistência pelo ponto final. A partir de Heidegger (1927/2012), podemos pensar o tempo como algo que comporta diferentes modos de temporalização. O tempo é o horizonte pelo qual se pode abordar a pergunta pelo ser, e trata-se da única substância que se pode atribuir ao homem. Graças aos poderes de recolhimento da linguagem, o Dasein torna presente, presenta, abrindo um horizonte estático onde se condensam as três modalidades de temporalização: porvir, ser-sido e presentar. Esta atividade recolhedora da linguagem torna possível a duração reunidora da retração das três modalidades de temporalização, que o autor chama de três estases temporais (o porvir, o ser-sido e o presentar) e que se expandem umas sobre as outras. Nesse sentido, a experiência humana do tempo é uma espécie de plissamento das três modalidades de temporalização. Essa é uma concepção de tempo para pensar os fenômenos temporais do inconsciente, que não podem ser compreendidos pelo modelo da cronologia.

Por fim, a analítica existenciária comporta uma concepção de verdade que é importante para a prática analítica. Na concepção de verdade de Heidegger (1927/2012), a linguagem no homem é o advento que ao mesmo tempo ilumina e vela o ser. Não existe uma verdade total, pois toda verdade lança luzes ao mesmo tempo que gera sombras. Opondo-se à concepção de verdade como adequação da ideia à coisa,9 Heidegger propõe a verdade como ἀλήθεια (desvelamento).10 Por conseguinte, o oposto da verdade não é o erro ou a mentira. Estes ainda estão no âmbito da verdade, pois sempre revelam algo por aquilo que ocultam. A verdade é bifronte, composta pelo jogo do revelado e do oculto. Em vista disso, a verdade pode ser concebida por meio de uma metáfora ótica. Ao revelar uma superfície, imediatamente o facho de luz torna oculto o perímetro fora do foco. Este é um ponto que aproxima a analítica existenciária da psicanálise, e é uma concepção interessante para pensar a verdade no inconsciente freudiano. Como afirmamos no início deste artigo, a concepção de verdade tem efeitos de poder e é um conceito ontológico importante para pensar a premissa técnica da abstinência. A concepção de verdade como desvelamento não permite que o clínico opere no campo da certeza. Neste sentido, a premissa técnica da abstinência assume o valor ético de uma abertura à alteridade do paciente e o valor epistemológico de manter vivo o espírito de pesquisa presente na obra freudiana.

Neste artigo indicamos algumas zonas de aproximação, porque em nosso entender a analítica existenciária pode ajudar a encaminhar as questões ontológicas levantadas pela psicanálise e pode trazer concepções úteis para a tarefa clínica do analista. Por fim, ao analisar esses temas ontológicos presentes nos textos freudianos, é preciso reconhecer que a psicanálise apresenta uma novidade para a filosofia e traz uma tarefa para o pensamento, quando formaliza o desejo como uma força propulsora na criação da realidade humana e quando afirma que a realidade, de certo modo, está moldada pela projeção desejante.

Considerações finais

Em suas teorizações, Freud tinha a clara intensão de inscrever a psicanálise no estatuto científico de uma Naturwissenschaft.11 No entanto, a matéria que lhe vem de encontro na clínica, é uma matéria indócil para a construção de uma ciência que opera por um regime positivo de objetivação, ou seja, por uma ontologia que proponha a observação como acesso transparente à realidade e a verificação como modelo de verdade. Ao não discutir ontologia, operamos com um realismo ingênuo que provoca problemas técnicos que decaem, inevitavelmente, em efeitos irrefletidos de poder. Além disso, ficamos sem ferramentas para criticar o modo como a tradição da metafísica possa ter incidido nos modos como foram construídos os conceitos psicanalíticos.

Em nosso entender, quando Freud (1900-1901/1996) afirma que devemos dar livre curso às nossas especulações para que possamos edificar nossas construções, mas alerta que devemos cuidar para não tomar os andaimes pelo edifício, isso pode ser interpretado como a indicação de uma tarefa: se não discutirmos ontologia tomaremos a imagem do método como a natureza da realidade em si. Ou seja, não apenas nos fixaríamos em representações provisórias da realidade desconhecida como também cairíamos em um reducionismo ontológico a partir de nosso reducionismo metodológico. Tomaríamos a imagem do telescópio como a realidade em si.

Referências

  • ARISTÓTELES. Metafísica. Notas e comentários de Giovanni Reale. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2001.
  • FREUD, Sigmund. Carta 52 (1886). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 1, p. 281-287. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. Algumas considerações para um estudo comparativo das paralisias motoras orgânicas e histéricas (1893). In : SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 1, p. 203-216. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. Carta de 21 de setembro de 1897. In: MASSON, Jeffrey Monssaieff (Ed.). A correspondência completa de Sigmund Freud para Wilhelm Fliess 1887-1904 Rio de Janeiro: Imago, 1986. p. 265-268.
  • FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos (1900-1901). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 4 e 5. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. Instinto e suas vicissitudes (1915a). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 14, p. 123-144. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. O inconsciente (1915b). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 14, p. 165-222. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. Sobre a transitoriedade (1915c). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 14, p. 317-319. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. Além do princípio do prazer (1920). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 18, p. 12-75. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. Neurose e psicose (1924a). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 19, p. 165-171. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. A perda da realidade na neurose e psicose (1924b) In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 19, p. 203-209. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. Uma nota sobre o ‘bloco mágico’ (1925a). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 19, p. 253-259. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. A Negativa (1925b). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 19, p. 263-269. Edição Standard Brasileira.
  • FREUD, Sigmund. Conferência XXXI: A dissecção da personalidade psíquica (1933). In: SALOMÃO, Jayme (Org.). Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 22, p. 63-84. Edição Standard Brasileira.
  • GOETHE, Johann Wolfgang von, 1749-1832. Fausto: uma tragédia (1808). Primeira Parte. Trad. Jenny Klabin Segall. Apresentação e Comentários: Marcos Vinícios Mazzari. Ilustrações: Eugène Delacroix. São Paulo: Editora 34, 2013.
  • HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo (1927). Tradução, organização e notas de Fausto Castilho. Campinas, SP: RJ: Vozes, Unicamp/Petrópolis, 2012.
  • IZQUIERDO, Ivan. ‘Estudos de neurociência superaram a psicanálise’, diz pesquisador brasileiro. Entrevista concedida a Juliana Cunha. Folha de S. Paulo, 18 de junho de 2016. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/06/1783036-estudos-de-neurociencia-superaram-a-psicanalise-diz-pesquisador-brasileiro.shtml Acesso em: 25 jun. 2016.
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  • IZCOVICH, Luis. As marcas de uma psicanálise Trad. Elisabeth Saporiri e Inesita Machado. São Paulo: Aller, 2018.
  • MELLO, Maria Helena Ricardo Libório Barbosa. Apontamentos de leituras: o encantamento do jogo (Entre Fort e Da). Reverso, Belo Horizonte, v. 35, n. 65, p. 73-76, 2013. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952013000100009&lng=pt&nrm=iso Acesso em: 23 jun. 2019.
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  • VALÉRY, Paul. Esboço de uma serpente (1921). Trad. Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto de (Org). Paul Valéry: a serpente e o pensar. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 27-57.
  • 1
    Freud aqui faz referência à fala de Mefistófeles ao estudante, na cena do “Quarto de Trabalho”, da primeira parte da tragédia do Fausto: “Gris, caro amigo, é toda teoria, e verde a áurea árvore da vida” (GOETHE, 1808/2013, p. 195).
  • 2
    Só na ausência de uma discussão ontológica pode surgir uma afirmação ingênua como a de Ivan Izquierdo (2016, n.p.): “Mas a psicanálise foi superada pelos estudos de neurociência, é coisa de quando não tínhamos condições de fazer testes, ver o que acontecia no cérebro. Hoje a pessoa vai falar em inconsciente? Onde fica? ”. Esta afirmação carrega implícita uma ontologia que advoga que só pode ser considerado no plano da existência aquilo que pode ser localizado e observado.
  • 3
    De acordo com uma nota de James Strachey, esta frase apareceu pela primeira vez em 1914, com a diferença de que a palavra factual estava no lugar da palavra material. Antes desta frase, Freud, em 1909, afirmou que “a realidade psíquica tem mais de uma forma de existência”. A expressão modos de existência coloca estas teorizações sobre o aparelho psíquico em uma discussão de caráter inegavelmente ontológico.
  • 4
    Datada de 06 de dezembro de 1986.
  • 5
    O autor faz uma afirmação semelhante em A dissecção da personalidade psíquica (FREUD, 1933/1966, p. 80).
  • 6
    De acordo com a argumentação de Mello (2013).
  • 7
    No aristotelismo o juízo de atribuição se refere aos acidentes, e o juízo de existência se refere à substância.
  • 8
    Dasein é uma expressão que une a palavra alemã “Sein” com a partícula “Da”. Nas traduções para as línguas neolatinas é proposto como “ser-aí”, “être-là” e “esser-ci”. Fausto Castilho, em sua tradução, optou por deixar como no original do texto de Heidegger (1927/2012), com exceção de quando há um hífen entre as palavras, situação em que o autor traduz como “ser-aí”.
  • 9
    Adaequatio intelectos et rei.
  • 10
    ἀλήθεια (Alétheia), palavra grega que o autor traduz por desvelamento.
  • 11
    Naturwissenschaft é um termo alemão que se opõe à Geisteswissenschaft e que se refere, de modo aproximado, à oposição que costumamos fazer entre as ciências exatas e as ciências humanas.

Editado por

  • Editora responsável pelo processo de avaliação:
    Cláudia Castanheira de Figueiredo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Out 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    01 Jul 2019
  • Revisado
    03 Maio 2023
  • Revisado
    28 Maio 2023
  • Aceito
    21 Jul 2023
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