Open-access AS TRAMAS POLÍTICAS EMOCIONAIS NA GÊNESE DE PROCESSOS ORGANIZATIVOS EM UMA ORGANIZAÇÃO CIRCENSE

THE WEFTS POLICIES EMOTIONAL IN THE GENESIS OF ORGANIZATIONAL PROCESSES IN A CIRCUS

Resumos

Objetivamos, neste artigo, analisar como as relações entre emoções e trabalho se estabelecem como ação política em uma organização circense localizada na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Articulamos teoricamente a abordagem contextualista de estudos das emoções com a formação de práticas organizativas no campo artístico a partir de uma pesquisa etnográfica. Os resultados evidenciam mecanismos pelos quais as emoções configuraram ações de mobilização social na gênese de organização do circo, além de práticas organizativas no circo em estudo como efeitos de disputas políticas entre o circo, empresas e o poder público da referida cidade.

Organizações; Emoções; Políticas; Circo; Etnografia


We aim in this article to analyze the relationship between emotions and work while settling political action in a circus organization located in the city of Pelotas, Rio Grande do Sul. Theoretically articulated approach to contextual study of emotions with the formation of organizational practices in the artistic field, from ethnographic research. The results suggest mechanisms by which emotions shaped social mobilization organization in the genesis of the circus, and the circus organizational practices studied as effects of political disputes between the circus, enterprises and public authorities of the city.

Organizations; Emotions; Policies; Circus; Ethnography


Introdução

Oobjetivo deste artigo foi analisar como as relações entre emoções e trabalho estabelecem-se como ação política em uma organização circense localizada na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. No intuito de desvelar os jogos que se articulam no âmbito de atuação da referida organização, optamos por embasar a discussão a partir da abordagem de estudos das emoções de Lutz e Abu-Lughod (1990), denominada de contextualista. Nessa perspectiva de análise (LUTZ; ABU-LUGHOD, 1990), as emoções são discutidas a partir da dinâmica social, tendo por foco seu processo de constituição, seu domínio por meio de práticas de discursos situados e seus efeitos com base nas disputas políticas que configuram as lógicas de ação dos sujeitos sociais.

Embora algumas pesquisas tenham avançado no entendimento das emoções para além de fenômenos individuais e irracionais (ROSEN et al., 2009; KOURY, 2006) e da psicologia cognitiva (BULGACOV; VIZEU, 2011; ANDRADE, 2009; ESSERS, 2009), ainda tem-se a limitação dos debates sobre como a estrutura social e os processos subjetivos da dimensão emocional do trabalho postulam disputas políticas no contexto organizacional. Consideramos as emoções, em sua dimensão política (LUTZ; ABU-LUGHOD, 1990), como produções socioculturais que por seus efeitos materiais e simbólicos podem desvelar relações de poder, mecanismos de resistências, performances e práticas de contextos sociais situados sócio-historicamente, o que inclui as organizações. O engajamento político emocional no ambiente de trabalho é desdobrado em práticas e comportamentos organizacionais, pelos quais se faz possível analisar os espaços de ação política das organizações na sociedade.

Nesse percurso teórico, promovemos um debate sobre a construção do campo de estudos sobre as emoções nas Ciências Sociais, conforme apresentam Lutz e Abu-Lughod (1990), e elencamos aspectos de como estas discussões têm sido apropriadas aos Estudos Organizacionais. Circunscrevemos nossas análises a uma organização circense, espaço ainda pouco explorado no campo organizacional (PARKER, 2011; COSTA, 2000). A referida organização foi fundada, em 1987, na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, sendo considerada como patrimônio cultural do Estado. No contexto de atuação desse circo, a incursão de práticas de gestão e ações pontuais do governo nas atividades artísticas tem formado um espaço de disputas organizacionais no campo artístico. Sobre o objeto analítico, consideramos o processo de constituição da sede do referido circo, onde as emoções relacionadas às disputas de sua localização mobilizaram um espaço de articulações políticas de diversos atores sociais na cidade bem como na capital gaúcha.

Em termos de método, utilizamos a etnografia. Uma das pesquisadoras deste artigo se mudou para a cidade de Pelotas, RS, em março de 2011, de forma a acompanhar o cotidiano de trabalho do circo. Para efeito das análises, consideramos a organização tal qual ela se constituía até dezembro de 2011. Foi possível desvelarmos mecanismos pelos quais expressões emocionais como, por exemplo, “a cidade morta para as artes” ou “se deixássemos Pelotas perderíamos a nossa identidade” se transformaram em práticas organizativas do circo.

Os resultados desta pesquisa são apresentados em quatro seções, além desta introdução. Primeiramente, debatemos questões ontológicas do conceito de emoções e suas apropriações nos estudos organizacionais. Enfatizamos como a abordagem contextualista das emoções pode embasar o entendimento político desse fenômeno social nas organizações. A seguir, apresentamos o método e as técnicas utilizados no campo de pesquisa, seguidos das análises dos efeitos políticos das emoções no e do Circo Alegria. Ao final, discutimos as implicações teóricas e empíricas dos debates aqui propostos.

A construção do campo de estudos sobre as emoções nas Ciências Sociais

O sujeito social comumente analisado nas Teorias Organizacionais apresenta-se constituído a partir de uma dicotomização (FINEMAN, 1998). De um lado, está o sujeito consciente e racional, cujas ações são pensadas a partir de um conjunto de elementos para a apreensão da realidade e sua tomada de decisão. De outro, está o sujeito da inconsciência, aquele que se constitui além do cálculo de suas ações voluntárias e que, por isso, é comumente analisado a partir dos mecanismos que estariam além de seu domínio, como as emoções.

Em meio a esses debates estabeleceu-se um campo de entendimento dos sujeitos sociais no espaço organizacional a partir da polarização entre razão e emoção (LUTZ; WHITE, 1986). Considerando a razão como mecanismo de apreensão da realidade, a emoção é tida como elemento de distorção do social (ROULEAU, 2009; FINEMAN, 1998). Lutz e Abu-Lughod (1990) afirmam que no Ocidente as emoções foram naturalizadas como um fenômeno individual e inconsciente. Analisadas por meio de enunciados como, por exemplo, medo, amor, tristeza, as emoções evocam aspectos relacionados à irracionalidade, a algo incontrolável, vulnerabilidade e questões de gênero voltadas ao feminino. As emoções seriam manifestações psicobiológicas e de individualidades dos sujeitos sociais (LUTZ; ABU-LUGHOD, 1990).

Contudo, as referidas autoras postulam que as emoções se configuram como mecanismos de agenciamentos de forças no cotidiano, pois elas se formam por meio das multiplicidades subjetivas as quais os sujeitos sociais se constituem. O entendimento dessa dinâmica perpassa as narrativas que envolvem questões de sociabilidade e de poder como, por exemplo, no ambiente de trabalho (ESSERS, 2009). Para Lutz e Abu-Lughod (1990), no Ocidente, os discursos referentes às emoções possuem como retórica o controle das questões ligadas ao gênero, porque implícitos nas discussões sobre o feminino estão os sinais de fraqueza das mulheres. Portanto, o discurso relativo às emoções reflete as relações de poder na sociedade.

Lutz e Abu-Lughod (1990) discutem o estatuto ontológico das emoções a partir de quatro abordagens, a saber: (1) essencialista; (2) relativista; (3) historicista; e (4) contextualista, sendo esta última uma abordagem política das emoções. O que evidenciamos, portanto, não são apenas as diferentes formas das experiências emocionais dos sujeitos sociais, mas como suas formas específicas se relacionam com categorias gerais da estrutura social (como exemplos, gênero, etnia, classe social). A seguir, discutimos essas quatro abordagens de estudo das emoções e suas implicações às análises organizacionais.

Abordagens essencialistas de estudos das emoções

Abordagens de estudos essencialistas, levando-se em conta sua concepção filosófica, possuem como eixo central o entendimento de que as coisas (fatos ou fenômenos) existem por si mesmas, pressupondo que a essência é anterior à existência. As experiências individuais dos sujeitos sociais são consideradas a partir de resultados previsíveis de processos estruturados, porque existem diferenças inatas e constitutivas de traços de personalidades persistentes nos indivíduos. Sendo assim, a essência é compreendida em separado das experiências cotidianas e de interações com os contextos sociopolíticos (LUTZ; ABU-LUGHOD, 1990).

A essencialização das emoções nas análises organizacionais pode ser observada em diversas abordagens de estudos sobre “estilos” masculinos e femininos de gerir ou de trabalhar (MIRCHANDANI, 2003). Nessas discussões, as emoções são apresentadas como essencialmente femininas. Em relação às discussões sobre gênero, tais considerações já foram foco de diversos estudos que desnaturalizaram as emoções como construtos sociais relacionados às mulheres, em especial no contexto organizacional. Destacamos, nesse sentido, os trabalhos de Rouleau (2009), Fournier e Smith (2006), Cappelle et al. (2004) e Alvesson e Billing (1997). Estudos sobre o corpo, sobre estética e artefatos (RAFAELI; VILNAI-YAVETZ, 2004) também têm apresentado as emoções de forma essencializada.

Por muitas vezes, as emoções são apresentadas por meio de rotulagens de trabalhos emocionais (PESTANA et al., 2011; MORAIS, 2010; NICKSON; KORCZYNSKI, 2009; HOCHSCHILD, 2003). Sendo as emoções essencializadas como uma forma de trabalho, esta também se perfaz como um mecanismo passível de controle e de gerenciamento. Hochschild (2003) aborda a temática do trabalho emocional com base nas posturas adotadas pelos indivíduos no que tange à vida particular e à vida profissional e conceitua o trabalho emocional como o investimento pessoal realizado pelos indivíduos no intuito de controlar e estabelecer meios que possibilitam lidar com as emoções geradas no desenvolvimento de tarefas específicas, inerentes às atividades de seu trabalho.

Abordagens relativistas de estudos das emoções

As abordagens de estudos relativistas nas Ciências Sociais se constituíram com a finalidade de desnaturalizar o entendimento da dinâmica cultural a partir de pressupostos universais, da formação de padrões culturais ou do estabelecimento de estágios de evolução das sociedades. Lutz e Abu-Lughod (1990) assinalam que os estudos relativistas discutem as implicações das emoções no tocante aos comportamentos e relações sociais partindo do ponto de vista da cultural local. Salientamos, à luz dessas considerações, os trabalhos de Geertz (1989) que consistem em uma abordagem interpretativa da cultura, preconizando que devemos buscar compreender a dinâmica social em relação às categorias de seu contexto de análise. As emoções se configuram por meio de formas culturais locais, sendo dessencializadas e entendidas a partir de sua interação com a estrutura social. Desse modo, as emoções deixam o legado de serem observadas no âmbito privado e individual para serem consideradas em seu escrutínio público (MAUSS, 2003).

Le Breton (2009) contribui com essas discussões ao propalar que não é somente a “natureza” dos indivíduos que se exprime através das emoções, mas as situações de existência social dos sujeitos que mobilizam vocabulários e discursos, se estabelecendo como formas de comunicação social. Para Lutz e White (1986), a questão central do relativismo é compreender possibilidades de transladar as emoções. O conceito de emoções se desloca da tentativa de seu estabelecimento desde um construto universalizado, bem como de suas formas de expressões corpóreas, para ser analisado em face das suas formas de experimentação e significação em relação às interações sociais.

Lutz e White (1986) apresentam as pesquisas de Michelle Rosaldo como uma das primeiras tentativas de se transladar o entendimento das emoções como problematização de estudos nas Ciências Sociais, além de seu entendimento de maneira essencializada. Rosaldo (LUTZ; WHITE, 1986) concebe as emoções como jogos de linguagens que ressoam nas experiências emocionais pré-verbais. A visão pragmática tem sido fortemente utilizada nas Ciências Sociais ocidentais como visões particulares das palavras em relação às emoções como, por exemplo, “medo”, “felicidade” ou “perigo”, configurando-se em estados emocionais verbalmente reificados (LUTZ; WHITE, 1986). A compreensão das emoções a partir de suas reificações em palavras tende a possibilitar o entendimento desse fenômeno social com base em terminologias muitas vezes inadequadas, e não transladadas, de seu contexto social ou “cenário” de enunciação (LUTZ; WHITE, 1986).

No espaço organizacional, essa abordagem de estudos das emoções apresenta-se especialmente relacionada aos estudos etnográficos como os realizados por Flores-Pereira e Cavedon (2010) sobre a incorporação das emoções ou de Bulgacov e Vizeu (2011) e Cramer (2003) relativo às emoções nas práticas de pesquisa. Entretanto, ainda são poucos os trabalhos que conceituam as emoções de forma relativizada como categoria de análise nas organizações.

Abordagens históricas de estudos das emoções

Descortinar as emoções mediante sua contextualização espaço-temporal é o objetivo das abordagens historicistas. Nessa perspectiva de análise, a formação dos discursos emocionais, a subjetividade e o escrutínio do tempo de sua construção devem ser considerados em relação ao seu momento histórico, bem como suas modificações ao longo do tempo (LUTZ; ABU-LUGHOD, 1990).

Lutz e White (1986) apresentam os trabalhos de Norbert Elias como referência dos estudos históricos sobre as emoções. Elias (1997) apresenta como a tessitura sócio-histórica produz o comportamento dos atores sociais, bem como o localiza em um espaço-tempo. Por isso, as discussões por ele entabuladas caminham para o entendimento da compreensão da relação entre indivíduo e sociedade fora da lógica de dualidade, e com base nas construções do que o referido autor denomina de figuração. O termo figuração pode ser compreendido a partir das construções das redes interdependentes tecidas pelos indivíduos, em que suas alterações remetem às mudanças nas relações sociais que são assimétricas e pautadas em relações de poder (ELIAS, 1990).

Partindo da construção da vergonha e do constrangimento, Elias (1990) discorre sobre como essas discussões são relacionadas à formação da individualização na sociedade. Em seu trabalho intitulado A sociedade dos indivíduos (2001), debate como o termo sociedade é referenciado com tendências harmoniosas, em que contradições, tensões e explosões são desconsideradas como parte do próprio fluxo social. As análises da afetividade nas relações-nós, como família e amigos, se configuram como importante lócus de estudo para descortinar como a noção de espaço-tempo influencia a estrutura social (ELIAS, 2001). A carga afetiva elevada das relações-nós requer formas de autocontrole, apresentando uma peculiar forma de habitus social (ELIAS, 2001).

É nesse sentido que o controle das emoções passa a ser relevante para os indivíduos em todas as suas redes constituídas, seja família, amigos ou no trabalho. A abordagem histórica centra suas discussões na dinâmica espaço-temporal da sociedade como mecanismo de configuração das emoções. Sendo assim, a unidade de análise é focada nos processos sociais considerados como fluxos pelos quais a dinâmica da sociedade se estabelece. Os indivíduos são pensados a partir da articulação de redes de relacionamentos, pois só existe indivíduo em sociedade.

Na vida cotidiana, as emoções são percebidas como uma categoria de análise que permite compreender os elos das relações-nós, porquanto possibilita o engajamento dos indivíduos em suas relações sociais. Na área de estudos organizacionais ainda não observamos estudos das emoções com essa perspectiva de análise; entretanto, no contexto mercadológico já foram realizadas pesquisas próximas a essa abordagem (SAUERBRONN et al., 2009).

Abordagem contextualista de estudos das emoções

Buscando aprofundar esse caráter político social, Lutz e Abu-Lughod (1990), partindo do pressuposto das emoções como processos socioculturais, propõem uma quarta estratégia de estudos que denominam contextualista. De acordo com as autoras, as emoções, no domínio público, se constroem como discursos pelos quais constituem forças de lugar e de desempenho dos sujeitos. Assim, é possível analisar como a vida social é afetada por discursos emocionais e não no estabelecimento de um processo de taxionomia das emoções (SCHEFFER, 2012).

As emoções são processos socioculturais que possibilitam aos sujeitos se constituírem socialmente em relações sociais historicamente localizáveis. Por conseguinte, não se trata de considerar as emoções na dicotomia empírico-transcendental (FOUCAULT, 2010), ou seja, das funções neurobiológicas versus a constituição do eu/self, mas dos efeitos emocionais nos processos de organização da sociedade. As emoções são ações no mundo que constituem o social. Por isso, as análises da dimensão política destacam a noção de que há uma disputa em torno de quem detém o direito de nomear as emoções (LUTZ; WHITE, 1986), de esboçá-las como objetos possíveis de estudos psiquiátricos, neurológicos, biológicos ou sociais.

Para Lutz e White (1986), o conceito de emoções é construído em meio aos sistemas de relações de poder e atua na manutenção dessas relações de forças. Se considerarmos as emoções como formas de expressão da irracionalidade humana, como algo tão somente subjetivo ou caótico, e atribuirmos às mulheres a qualificação de seres emotivos, estamos reforçando a subordinação ideológica das mulheres na sociedade (LUTZ; WHITE, 1986). Isso porque o espaço público é o lugar da razão, e o espaço privado é onde as expressões emotivas são valorizadas; com isso, a atuação das mulheres no espaço público pode ser esvaziada (LUTZ; WHITE, 1986). Portanto, Lutz e White (1986) alega que discutir emoções é enfatizar o caráter político emocional que constitui as relações de afiliação dos sujeitos, bem como debater elementos do que é considerado normalidade e desvio.

Essa abordagem de estudos distingue-se pelo seu foco sobre a constituição da emoção, seu domínio por meio da elaboração de práticas de discursos situados, e sua influência na vida social. A exploração analítica dessa abordagem se relaciona às narrativas que envolvem questões de sociabilidade e de poder com a política da vida cotidiana. O conceito de discurso baseado em Foucault (2010) é apresentado como práticas que formam sistematicamente os objetos de que tratam (LUTZ; ABU-LUGHOD, 1990).

O processo de contextualização postula que as formas de conhecer o mundo se dão por meio das práticas sociais. Os discursos são considerados como práticas, pois as falas não são apenas referências a algo externo, mas forjam o que é enunciado. Nesse âmbito, o processo emocional pode ser expresso mediante narrativas construídas em relação às elaborações subjetivas e materiais da sociedade. Lutz e Abu-Lughod (1990) definem o processo de contextualização das emoções como formas além do desnudamento de significados. As emoções não são conceituadas em sua essência humana ou formatação social subjetiva, mas como articulações materiais e simbólicas que produz, reproduz e desconstrói os efeitos “objetivos e subjetivos” na sociedade.

A presença do cotidiano das emoções desperta lembranças e memórias da dinâmica social. Esse processo evidencia articulações das demarcações na sociedade, porque são mecanismos acionados por meio de discursos que evidenciam as relações entre os sujeitos sociais. As experiências corporais em relação a uma dinâmica emocional demonstram formas de articulações entre os níveis micro e macro da sociedade ao posicionar os diversos elementos presentes nessas negociações.

Considerando as narrativas como práticas sociais, tais práticas são constitutivas das experiências e realidades em que vivemos, constituindo-se na base para a produção de outros discursos, pois essas produções atuam de forma articulada, não se configurando como categorias sociais unívocas. Reconhecer o cotidiano da sociedade como lócus contraditório permite o entendimento dos discursos não somente nas discussões referentes às relações de poder, mas como formas de sociabilidade, mediante o observar dos jogos e das disputas nesse contexto para além do que é arrogado pela sociedade (FOUCAULT, 2010).

O discurso, para Lutz e Abu-Lughod (1990), não se dá apenas por falas, mas também por práticas sociais situadas. Logo, todas as atividades produzidas para e sobre o outro podem ser consideradas formas de “entradas” para o estudo das emoções. Essas práticas, na acepção de Coelho (2010), tratam de duas questões: (1) discursos sobre emoções (científicos ou cotidianos); e (2) discursos emocionais (algum conteúdo ou efeito afetivo).

Rezende (2011) afirma que ao considerarmos as emoções em sua contextualização, faz-se necessário discutirmos o espaço em que o discurso emocional é acionado, por quem, para quem, quando, e com que propósitos. O discurso emotivo é uma forma de mobilização dos sujeitos sociais, pois produz efeitos no mundo, que, por sua vez, constituem forças do lugar de seu desempenho. A vida cotidiana é afetada pelas emoções, e estas não mantêm apenas uma relação de referência as suas externalidades (COELHO, 2010), elas podem produzir relações sociais e atuam como mecanismo de expressão, reforço ou transformações dessas multiplicidades relacionais.

Sendo assim, as emoções também atuam de forma política na sociedade, e as análises desse processo possibilitam desvendar os mecanismos instáveis que formam discursos sobre a sociedade (ESSERS, 2009). Com isso, consideramos as emoções, em sua dimensão política (LUTZ; ABU-LUGHOD, 1990), como produções socioculturais que por seus efeitos materiais e simbólicos podem descortinar relações de poder, mecanismos de resistências, performances e práticas de contextos sociais situados sócio-historicamente, o que inclui as organizações. Apresentamos os eixos metodológicos de análise das emoções dessa abordagem teórica no Quadro 1.

Quadro 1
– Eixos de pesquisa sobre emoções

No contexto organizacional, Álvarez (2011) já evidenciou como o compartilhamento das emoções postula formas de organização para o trabalho. De acordo com a autora, nessa perspectiva as emoções atuam como práticas políticas no cotidiano organizacional, e muito embora as emoções sejam tratadas como aquém de racionalidades, elas atuam concomitantemente com estas últimas. Não obstante, essa abordagem de estudos das emoções, em seus efeitos políticos, ainda permanece incipiente nas organizações, apesar de ser amplamente trabalhada nas perspectivas antropológicas de estudos das organizações sociais (ANDRADE, 2009).

Dessa maneira, o discurso emotivo tem um lugar na ação social. Como uma prática, as emoções devem ser consideradas em seu contexto social, em que suas implicações denotam jogos de poder, bem como articulações da sociedade, porque faz parte de projetos sociais que se encontram em disputas e que são revelados quando se busca o que subjaz a essas articulações.

A partir dessa proposição de desnaturalização das emoções de seus efeitos unicamente psicobiológicos, propomos avançar nessas análises nos espaços organizacionais em seu caráter político. Nosso objetivo é analisar como as emoções, em seu caráter sociocultural, postulam formas materiais na sociedade, especialmente as constituídas em mecanismos de organização social, como nas relações de trabalho.

Método

Este estudo etnográfico iniciou-se em março de 2011, e apesar de estar em andamento, circunscrevemos as análises à configuração desse campo de pesquisa até dezembro de 2011. Nesse período, uma das pesquisadoras acompanhou cotidianamente as atividades do circo em estudo, visto que no processo de negociação com os diretores do Grupo Circense para a realização da pesquisa, em novembro de 2010, foi acordado que a pesquisadora poderia participar de todas as atividades do circo. Esse processo compreendia três espaços diferentes: o Centro de Treinamentos (CT), o Ateliê e as viagens para apresentações dos espetáculos. Neste artigo, o nome do circo e dos artistas circenses são fictícios de modo a preservar a identidade dos artistas circenses.

Inicialmente, eram realizadas observações das atividades no CT, nas quais, além dos ensaios e produções de cenas, funciona uma escola de circo. Nessa escola, são ofertadas aulas gratuitas de técnicas circenses tanto para os artistas do Grupo como para os sujeitos da comunidade em geral. Durante as observações dessas aulas, os professores-artistas realizavam improvisações nas aulas de forma que a pesquisadora fosse incorporada às atividades. A partir disso, a pesquisadora começou a realizar aulas de técnicas circenses e a participar de atividades com os artistas para além do espaço organizacional.

A pesquisadora também começou a acompanhar a movimentação logística dos artistas nos três espaços que compreendiam a organização em estudo. Além do CT, no Ateliê ela começou a oferecer ajuda para a confecção dos figurinos, e nas viagens para as apresentações auxiliava no carregamento de materiais para transporte, e nos espetáculos com atividades atuava como contrarregra. Como assinala Clifford (2008), a etnografia proporciona um engajamento prático do etnógrafo com o seu campo de pesquisa, de forma que se faz possível um aprendizado do “fazer” e do “dizer” característico do campo de pesquisa.

Relatando essas atividades em diários de campo, conforme sugere o método etnográfico, a pesquisadora começou a observar narrativas sobre como a estrutura do Grupo era considerada “ótima”. Esses relatos eram ditos no cotidiano organizacional e nas atividades de lazer dos artistas das quais a pesquisadora teve a oportunidade de participar. Essa repetição de enunciados nos conduziu a incorporar a técnica de coleta de dados história de vida no intuito de compreender como essa percepção do “ótimo” do contexto organizacional foi forjado.

Fontana e Frey (2005) afirmam que as entrevistas de história de vida são provenientes da Antropologia, na qual a interação dos diálogos possibilita evidenciar as vozes e os sentimentos dos sujeitos na pesquisa. Na condução dessas entrevistas, a pesquisadora solicitava aos artistas que descrevessem a “história” do Circo Alegria de modo que fosse possível identificar os pontos de articulações em que essa percepção da estrutura organizacional se sustenta. Dos trinta e dois artistas circenses que compreendem este estudo, entrevistamos oito sujeitos que estão no Grupo circense desde sua formação.

A etnografia é um método da Antropologia já apropriado aos Estudos Organizacionais (CAVEDON, 2011; 1988; JAIME, 2002), e nossa investida se direcionou ao processo de construção da vida organizada no Grupo. Essa reconstrução histórica, mediante relatos não oficiais da organização, nos conduziu aos anos de 2010 e 2009, momentos que não faziam parte do estudo etnográfico, porém, cujos efeitos apareciam materializados na organização por ocasião da pesquisa. Essa investida histórica nos proporcionou defrontarmos-nos com mecanismos antecedentes ao processo de constituição dos atuais locais da estrutura do Circo Alegria, bem como com os jogos políticos presentes na cidade de Pelotas, RS, que delineavam a atuação dessa organização. O evento objeto de análise foi a transferência de sede da organização no ano de 2010 para o atual CT, onde agentes públicos e privados da cidade de Pelotas e de Porto Alegre, em conjunto com o Circo Alegria, formaram um campo de disputas em relação a esse processo.

Nesse entremeio, foi possível observar pelas narrativas e incursões etnográficas como a dinâmica emotiva delineava práticas organizativas no Grupo. Para além de sua oposição em relação à racionalidade, verificamos como em um espaço de disputas, as emoções e a razão são entremeadas nos processos de gestão organizacional devido ao seu caráter de inserção política em um contexto amplo de atuação na sociedade; nesse trabalho, a cidade de Pelotas. As análises desta pesquisa são interpretativas. Isso decorre do caráter da etnografia, em que o texto final do trabalho de campo se constrói como um espaço dialógico entre o teórico, o êmico e o ético.

As tramas políticas emocionais na gênese da organização

A cidade de Pelotas localiza-se a aproximadamente trezentos quilômetros ao sul da capital do Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre e a duzentos quilômetros da divisa do Brasil com o Uruguai. Essa cidade foi fundada em 1812 e até meados de 1860 era a capital econômica gaúcha. As famílias aristocráticas pelotenses enviavam seus filhos para estudar na Europa, e estes, ao retornarem à cidade, traziam consigo os hábitos e costumes do Velho Continente, especialmente os franceses. Influenciada pela maçonaria, a cidade era reconhecida por sua efervescência cultural no que tange aos espetáculos artísticos voltados para o público integrante da nobreza (ZERBIELLI, 2005).

No começo do século XX, com o fim das charqueadas, Pelotas enfrentou sua primeira crise econômica. De modo a propiciar a reinserção no mercado de consumo, a agropecuária foi estruturada como alternativa à sociedade local, particularmente na produção de frutas e legumes. Nesse período, o progresso também foi impulsionado pelo Banco Pelotense, fundado em 1906 por investidores locais, cuja liquidação, em 1931, novamente desestabilizou a economia local. A partir de então, as atividades econômicas centralizaram-se novamente na agricultura hortifrutigranjeira e na agropecuária (ZERBIELLI, 2005).

O Circo Alegria foi fundado no ano de 1987, na referida cidade, por Benjamin. Nessa ocasião, Benjamin convidara mais quatro amigos e um grupo de capoeiristas para aprenderem técnicas circenses aos finais de semana, em uma academia de ginástica, pois ele mesmo possuía formação em artes cênicas e ginástica olímpica (notas de campo). Nesse período, a cidade passava por uma crise econômica. Muitas pessoas deixavam a localidade, e a efervescência cultural da história pelotense já não era mais observada. Teatros fechados e poucos espetáculos e atividades culturais eram realizados. O que era possível observar nesse período dizia respeito ao processo de urbanização da cidade e à interferência do Estado nas políticas de ocupação do solo (PARFITT, 2010).

Como forma de financiamento de suas atividades, os integrantes do Circo Alegria realizavam circo de rua, animações em festas, confraternizações e outros eventos para os quais eram contratados. Já na década de 1990, o grupo circense realizou um processo de seleção de novos integrantes para a ampliação de suas atividades, e posteriormente, a montagem de seu primeiro espetáculo, no ano 2000, como evidencia o seguinte relato:

Foi muito forte artisticamente. Na época que o “Circo Alegria” “bombou” a cidade estava morta. A cidade não tinha nada de arte. E o teatro escola era a referência que a cidade tinha e quando ele saiu [Benjamin] meio que perdeu a força. E ele estava com esse grupo [Circo Alegria] e não deram muita credibilidade pra ele. Então ele foi meio que matando no peito, e aí chegou no dia que ele teve que estrear. O negócio estreou (Marcos, acrobata, 25 anos).

Durante a pesquisa de campo, como verificado em outros estudos (CAVEDON, 1988), a figura do “mito do fundador” era recorrente nas falas dos artistas. Entretanto, chamava atenção as articulações realizadas entre a cidade de Pelotas, Benjamin e o Circo Alegria como estruturantes em termos de estreia do espetáculo, por meio dos registros emotivos desses três sujeitos. Estes formavam uma trama de relações sociais que teciam o cotidiano organizacional, bem como a dinâmica social na qual o circo estava e está imerso. Isso pode ser observado no relato de Marcos, quando a emoção de desapontamento em relação à organização das atividades artísticas na cidade é marcada através do enunciado “morta”, forma de expressão do contexto social da cidade de Pelotas; “matar no peito” evidencia emocionalmente o confronto com a conjuntura política na atuação de Benjamin e “bombar” os efeitos de constituição do circo na sociedade, sendo que essas emoções postulam uma materialidade especialmente corpórea nesse relato.

O circo, inicialmente, realizava suas atividades em espaços cedidos na cidade de Pelotas, como escolas e teatros. Isso até o início dos anos 2000, quando conseguiram alugar um galpão e adquirir equipamentos específicos para aprendizagem das técnicas circenses. Com isso, o Grupo ampliou a formação da escola de circo oferecendo treinamentos aos artistas e acolhendo crianças e adolescentes em contraturno da escola formal; atuando na cidade, no âmbito educacional, mediante políticas públicas artísticas.

Partindo da sensação de estagnação social frente às manifestações artísticas em Pelotas, bem como da referência ao não reconhecimento do trabalho desenvolvido por Benjamin, os artistas evidenciavam o processo de constituição do Circo Alegria. Percebemos um jogo estruturalista evidenciado por Marcos no tocante à dicotomia indivíduo-sociedade. Aprofundando essas análises, observamos a necessidade de organização do campo artístico na cidade de Pelotas, destacada no relato sobre o teatro escola e o grupo circense. Era preciso transformar as emoções em processos organizacionais (ÁLVAREZ, 2011).

A centralidade da dinâmica política das emoções se mostra nas decisões de Benjamin para que a organização estreasse seu primeiro espetáculo, e em nenhum momento isso foi atrelado a ações não pensadas. Em um desses relatos, na época de estreia do primeiro espetáculo, o Circo Alegria possuía uma dívida para com uma empresa de telefonia, devido ao uso desses serviços à procura por contatos e patrocinadores. Essa dívida era equivalente aos recursos financeiros necessários para a finalização dos figurinos da apresentação cênica. A escolha sobre onde investir os recursos culminou com a compra dos materiais necessários à apresentação cênica. Posteriormente, com o retorno financeiro decorrente da apresentação foi possível pagar a conta de telefone que estava inadimplente (notas de campo).

Apesar de a literatura em gestão postular uma separação entre decisões estratégias racionais e emocionais, que é o entendimento da fragmentação dos sujeitos sociais conscientes e inconscientes, é possível observarmos que politicamente elas se entremeiam nos processos organizacionais. Nesse domínio político, as emoções não atuam como pulsões ou ações espasmódicas, mas se forjam com base nas condições sociais que possibilitam articulações de elementos para as lógicas de ação. Não se trata, portanto, de se analisar ações voluntário-involuntárias, mas dos campos de possibilidades aos quais os sujeitos estão imersos. Por isso, o contexto da cidade e a atuação social são aspectos ressaltados na produção das emoções da organização em análise. Conforme asseveram Lutz e Abu-Lughud (1990), as emoções postulam formas de objetivação na sociedade. Esse confronto emocional entre a cidade, o Circo Alegria e Benjamin foi, posteriormente, se transformando em práticas organizativas:

Uma coisa marcante pra mim foi quando a gente (silêncio). Acho que foi a vez que eu mais chorei aqui dentro [engasgou com o princípio de choro]. Quando a gente foi pro nosso primeiro centro de treinamentos [CT]. Na época a gente treinava [...], era uma sede emprestada. E aí, as coisas tavam acontecendo pra gente assim. Tudo tava acontecendo. A gente sempre pensou assim no começo: ah! A gente quer apresentar bastante. Aí, depois que a gente apresentar bastante espetáculos a gente quer viajar pelo Estado, e apresentar em todo o Estado e, depois, viajar por todo o país. E, depois, viajar pra fora do país e, depois, ter um lugar nosso. Então, assim o lugar nosso, na nossa cabeça, na minha pelo menos, e acho que na maioria também, as pessoas que tavam no começo, era a última coisa, era o último passo. A gente ainda não viajou pra fora do país assim com o espetáculo. E isso veio antes [ter um CT]. [...] E um belo dia a gente chegou [na sede emprestada], nós chegamos lá e: ninguém troca de roupa! E aí, chegou um ônibus pra nos pegar, [...] que vão gravar um negócio com vocês, assim normal, não precisa de figurinos, nada. E tá. Entramos dentro do ônibus, e quando vê a gente passou [pelo local combinado]. Para onde é que esse cara tá indo? E aí, ele parou na frente do antigo centro de treinamentos, que não tava pintado por fora ainda, e abriu o portão assim. E tava aquele lugar assim, cheio de aparelho novo, né! Um monte de coisas que a gente tem hoje aqui [no atual CT]. E, na época, a gente não tinha nada, sabe? A gente tinha muito pouca coisa. E abriram o portão assim, e aí saiu aquele monte de crianças, aquele monte de gente, já tinha entrado um monte de gente no grupo, né. Foi todo mundo correndo, e brincando naqueles brinquedos e eu fiquei parado assim. Fiquei parado em choque assim, encostado numa cama elástica. E eu olhava pra aquilo assim, e eu olhava para aquelas crianças que eram minhas alunas, e eu me lembro que eu pensava assim: meu Deus do Céu! Sabe? Tipo, a gente que proporcionou tudo isso, sabe?Foi o fato de a gente ter acreditado naquele primeiro espetáculo que está trazendo esse monte de gente aqui dentro. [...] A gente só acreditava nas coisas, mas a gente não tinha nada. Então, foi um dia feliz, digamos assim, um dos dias muito felizes (Felipe, clown, 29 anos).

A questão política emocional na articulação das práticas organizativas se materializa em ações estratégias de demandas do Circo Alegria, conforme os destaques em negritos que realizamos no relato de Felipe. Esse engajamento emocional pelo trabalho revitalizaria não somente a “cidade morta”, como possibilitaria a organização “ganhar” vida. Isso aprofunda a materialidade organizativa que se fazia necessária em relação às primeiras emoções apresentadas nos relatos, como a necessidade de uma sede. Entretanto, o sentido de organização social se sobrepunha à estrutura física do Grupo, pois as redes associativas na cidade sustentavam as suas ações coletivas. Por isso, “apresentar bastante” era considerado uma ação organizacional, interpelada por questões emotivas, mais relevantes que a estrutura física.

Essas emoções, além de gerarem ações para a obtenção de recursos financeiros no sentido de expansão das atividades do Circo Alegria, também atuaram como mecanismos através dos quais o Circo buscava se consolidar como organização artística em Pelotas. A produção desse primeiro espetáculo era um espaço de diálogo com os diversos atores sociais da cidade que até então não se mostravam afeitos a reconhecer os trabalhos desses artistas. A dimensão política emocional igualmente atuou nas lutas do grupo circense para que eles fossem aceitos pela comunidade pelotense.

Um segundo aspecto a ser considerado é que a legitimação de uma ação estratégica da organização está relacionada a um momento emocional. Por isso, a “surpresa” dos diretores do Grupo em apresentar o CT aos artistas. Conforme discute Rezende (2011), é preciso considerar o contexto no qual o discurso emocional é acionado, por quem, para quem, quando, com que propósitos. Em um primeiro momento, a cidade não deu credibilidade à atuação do Circo Alegria, e a sede seria uma marcação de confronto em relação a esse aspecto da gênese da organização em Pelotas. Portanto, não se trata de vincular esse processo tão somente às características das atividades artísticas comumente associadas à exploração do emocional, mas como isso se configura em um contexto amplo da sociedade.

Posteriormente, a conquista dessa sede e a sensação de desamparo por parte do poder público se aprofundaram. Como esse espaço físico do Circo Alegria era alugado, ele foi vendido a uma universidade com localização em Pelotas, e novamente o discurso emocional foi acionado para impedir o fechamento ou transferência do Circo para outra cidade. Analisaremos esse processo na próxima seção deste artigo.

“Se deixarmos a cidade, iremos perder nossa identidade”: o engajamento político emocional da organização com a cidade

As emoções relacionadas com a conquista de uma sede em Pelotas, ainda que alugada, também propalam uma posição política do Circo Alegria na cidade. Sendo assim, o discurso emocional produzido e acionado pela organização não enunciava mais somente os enfrentamentos, conflitos ou mesmo a sensação de abandono em relação ao espaço público da organização em si, mas da posição ocupada pelas manifestações artísticas na cidade.

No ano de 2009, o espaço do CT do Circo foi vendido a uma universidade e os artistas tiveram de deixar o local (notas de campo). Nesse momento, eles iniciaram um processo de construção de alternativas para a aquisição de uma sede. Entretanto, o circo não possuía recursos financeiros para reforma ou aquisição de algum prédio. Esse local também deveria possuir algumas especificidades de espaço, devido aos aparelhos circenses, à adequação de pelo menos um palco para a realização dos ensaios, e às atividades do Circo-Escola. Novamente, os conflitos em relação à cidade de Pelotas foram evidenciados:

A gente teve um momento difícil que foi até no ano passado assim. A gente estava sem um lugar pra treinar sabe. E aí não conseguia ninguém que ajudasse. Procurava, a gente procurava um espaço pra se manter. E não conseguia achar nada em Pelotas, e aí a gente conseguiu um grupo de arquitetos lá em Pelotas, uma ONG, e eu não vou saber dizer o nome da ONG agora, que eles ajudam algumas instituições assim. Tipo, não cobram nada pra fazer o projeto. E aí eles ajudaram. Mostraram até um projeto em um antigo prédio da Brahma que tinha lá que estava abandonado. E aí fizeram um projeto de um centro cultural, um espaço cultural né, e aí nisso, dentro desse centro cultural teria o teatro [que o circo poderia ensaiar] né. E a gente, bah! Ficou tri empolgado pro negócio dar certo. E aí, entrou na prefeitura esse projeto que foi rolando, e aí foi aprovado e tal, e aí só faltava a assinatura do prefeito. E o prefeito negou. Só faltava a assinatura assim. E o projeto ia liberar. O projeto não era tão grande, era um projeto de dois milhões. Eles gastam milhões e milhões em muitas outras coisas. [...] e essa foi uma das fases bem ruins do grupo. O grupo tem muita sorte. Tem o apoio de muita gente. Sempre quando entra projeto na LIC a gente ganha, na Rouanet também. Tem vários produtores que trabalham com a gente e conseguem fazer projetos muito legais assim. [...] e hoje em dia a gente tem um espaço muito legal e sem custo nenhum (Luís, acrobata, 25 anos).

Com esse relato, observamos um deslocamento das emoções relacionadas ao cotidiano do Circo para as maneiras de se operar organizacionalmente no espaço social. O retorno da sensação de abandono – “não conseguia ninguém que ajudasse” – mobiliza outras organizações em Pelotas, de forma a estabelecer uma rede colaborativa com a causa artística. Essa mobilização da sociedade culmina com um projeto político de ocupação do espaço urbano, o que no contexto inicial da gênese do Circo Alegria era foco do poder público para reduzir a evasão populacional na cidade.

Entretanto, esse efeito esperado do governo não contemplava especificamente o circo. Esse não reconhecimento pode ser relacionado à capacidade de mobilização emocional da organização na referida cidade, onde a falta de apoio, de maneira ampla, conduziu a uma posição crítica no tocante às políticas culturais em Pelotas, produzindo indignação frente à realidade social da cidade. Conforme discutimos anteriormente, a atuação do grupo circense já havia, de acordo com seu planejamento, extrapolado a cidade de Pelotas. Em meio a essa situação de incerteza, a organização foi convidada a deslocar a sua sede para a capital do Estado, Porto Alegre, via proposta de uma empresária dessa cidade que é considerada como “amiga” do grupo (notas de campo).

Em um estudo sobre a amizade, por meio da Antropologia das Emoções, Rezende (2002) assinala que os elementos emotivos podem figurar de diversas formas em uma relação. Isso porque a relação de amizade coloca em pauta as noções culturalmente constituídas sobre os sujeitos, o que implica as negociações em um espaço de categorias sociais como identidade, gênero, classe social. Portanto, relações de trabalho, econômicas, por exemplo, são contextos que se tornam contrapontos constantes à amizade (REZENDE, 2002).

A amizade, nesse contexto de disputa, também se refere a uma posição política. Isso decorre do fato de especificamente a “amiga” ao qual se fez referência ser uma das pessoas que tem possibilitado apresentações do Circo Alegria na cidade de Porto Alegre, como também esta pessoa ser referência nacional no âmbito do apoio às Artes Cênicas (notas de campo). Portanto, configuram-se emoções que têm como contraponto efeitos políticos e econômicos.

Em meio aos relatos dessa trama, o diretor, e fundador do grupo circense, afirma: “se deixássemos Pelotas, perderíamos a nossa identidade” (notas de campo). Com isso, houve a constituição da relação emotiva do circo com a cidade, e de Pelotas com a organização, que possibilitou a formação de um solo comum de atuação entre os sujeitos nesse campo de disputas (Pelotas, Benjamin e Circo Alegria). Isso resultou no deslocamento dos elementos emocionais que marcaram a gênese dessa relação, e consequentemente, dos conflitos do Circo Alegria com atores sociais de Pelotas.

As emoções devem ser consideradas a partir de seu contexto social, em que suas implicações denotam jogos de poder, bem como articulações da sociedade, pois faz parte de projetos sociais que se encontram em disputas e que são revelados quando se desvelam essas articulações. As emoções podem atuar como forças, porque elas mobilizam elementos do social no sentido de promover efeitos transversais na sociedade. Ao se articularem em relações com outras forças as emoções produzem pontos e as regularidades dessas articulações postulam um lugar às formas derivadas dessa dinâmica, como os processos organizacionais.

As emoções inscritas no discurso sobre a identidade do grupo e da cidade, e a oposição ao deslocamento geográfico da sede do Circo tiveram como efeito a mobilização e a adesão social em prol da organização. Isso culminou com a construção de uma imagem para o compromisso e legitimidade do circo em relação à cidade. A permanência do Circo Alegria em Pelotas não foi uma ação “impensada” de desdobramentos de emoções vivenciadas na formação inicial da organização, na qual emoções como o descrédito, o desamparo ou o abandono em relação à figura de Benjamin; mas efeito de onde se combinaram diversos atores organizacionais e sujeitos sociais que formam o campo de disputa cultural em Pelotas.

Em termos de práticas organizacionais, o Circo conquistou o apoio financeiro de outra universidade da referida cidade, não sendo a mesma que adquiriu suas antigas instalações. Essa mesma organização atuou em conjunto com o Circo Alegria de forma a buscar um local para que o circo se mantivesse na cidade, oferecendo o espaço de um galpão de sua propriedade para a realização, ainda que provisória, de suas atividades. Todavia, esse espaço era distante do bairro onde o grupo circense se localizava, a região portuária pelotense. Esse deslocamento causaria problemas logísticos para os artistas, para os membros da comunidade participantes do Circo-Escola (levado a efeito no interior da organização) e também para a universidade, visto que, devido à parceria, o Circo é o campo de projetos de pesquisas de seus alunos (notas de campo). O engajamento emocional com a comunidade pelotense é efeito das lógicas de ação política empreendidas pelo circo. A oposição ao deslocamento do grupo circense entremeou esse elemento emotivo como uma ação de protesto em relação à eminência de se “matar”, novamente, as manifestações artísticas em Pelotas.

Nesse embate político, uma empresa da cidade, localizada na região portuária de Pelotas, cedeu um galpão para a realização de suas atividades, o qual é utilizado como o atual CT do grupo. Esse era o espaço relatado pelos artistas desse estudo etnográfico como sendo “ótimo”. Portanto, o termo “ótimo” utilizado pelos artistas é efeito de um campo de disputas culturais na cidade de Pelotas, em que as emoções evidenciam o jogo político de lutas nesse espaço e posicionam a organização em meio a essas emoções que ora se mostram de animosidade, ora de aceitação, de consenso. Nesses relatos, ao contrário do observado nas lutas pela primeira sede, essas políticas emocionais não se materializaram em expressões de lágrimas, choro ou voz embargada. Mas, eram expressas por meio de sensações de angústia, olhos concentrados e entusiasmo frente a essa conquista de permanência em Pelotas e na região portuária. Após essa transferência de sede, o Circo Alegria estabeleceu um projeto em que realizariam atividades lúdicas em entidades assistenciais de Pelotas de forma a ampliar sua atuação no campo político e de emoções na cidade. Essa entrada em jogo das emoções se faz presente até hoje em diferentes âmbitos, como na mobilização social a qual atores sociais da cidade de Pelotas atualmente se engajaram para a reabertura do Teatro Sete de Abril, e que o Circo Alegria é um dos atores sociais envolvidos nessa disputa.

Considerações finais

Neste artigo, objetivamos analisar como as relações entre emoções e trabalho se estabelecem enquanto ação política em uma organização circense localizada na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul. Optamos por embasar as discussões a partir de abordagem política das emoções empreendida por Lutz e Abu-Lughod (1990). Delineamos um percurso de análise, com base nas referidas autoras, ao iniciarmos um debate de forma ampla sobre como as emoções têm sido apropriadas enquanto categoria de análise nos estudos organizacionais. E esse foi o ponto crítico das construções teóricas que realizamos. As emoções, comumente analisadas como fenômenos naturalizados, acabam suavizando tensões existentes no entendimento das racionalidades, a exemplo dos estilos de administrar, dicotomizando o entendimento das lógicas de ação dos sujeitos a partir da predominância da razão ou da emoção. Ou seja, a dimensão política das emoções acaba por ser silenciada.

Esse silenciamento das emoções tem um duplo efeito teórico. O primeiro é a manutenção das análises dos sujeitos sociais centrados no jogo entre consciência e inconsciência; e um segundo que destitui o espaço organizacional de seus aspectos subjetivos e políticos, especialmente das emoções que caracterizam certas relações de trabalho e organizacionais – como os relacionamentos amorosos ou de amizade que influenciam os processos organizacionais.

A partir de um estudo etnográfico, esboçamos emoções no cotidiano de trabalho de uma organização circense que constituíram as suas práticas organizativas. Essas práticas estabeleceram um campo de ação política do universo circense não somente em relação a outras organizações, como na cidade onde o mesmo se inscreve. Nessa investida de análise, reconstruímos relações do Circo Alegria com a cidade. Primeiramente, observamos que o declínio econômico de Pelotas foi o contexto de formação do circo e a sensação de estagnação social da cidade associada ao descrédito de atuação do fundador do grupo circense foi o embate inicial com a inscrição política da gênese dos processos organizativos. A inauguração do primeiro CT foi um espaço de expansão econômica do circo, bem como de ampliação dos vínculos emocionais com os artistas; e com Pelotas que inicialmente não “acreditava” na atuação dos artistas circenses, mas que, a partir de então, abrigava um circo que dialogava politicamente com diferentes atores sociais na cidade e além desta.

As políticas emocionais do Grupo Circense em Pelotas se intensificaram no segundo deslocamento geográfico da sede do Circo. Além de capitalizar recursos estruturais e financeiros com outras organizações, a inscrição Circo-Escola na comunidade, e os laços de amizade com sujeitos estratégicos nas artes cênicas caracterizam o imbricamento entre emoções e razão. As emoções atuaram como dispositivo do processo de identificação do Circo Alegria com a cidade, deslocando os conflitos iniciais que marcaram a gênese da organização em Pelotas articulando um consenso social de que o circo se constitui como um elemento emocional naquele contexto social. É nesse sentido que as emoções conquanto produções socioculturais são desdobradas em práticas e comportamentos organizacionais pelos quais se faz possível analisar os espaços de ação política das organizações na sociedade.

Com os resultados deste artigo, propomos avançar teoricamente nos estudos organizacionais a respeito das emoções como fenômenos socioculturais. As emoções, ao atuarem como dispositivos de processos subjetivos na sociedade intentam mecanismos de objetivação e de mobilização social. As emoções podem ainda se configurar tanto como mecanismos de clivagem e reprodução das condições de existência da sociedade como em ações de protestos frente à conjuntura socioeconômica. Por isso, as emoções impetram formas de organização dos sujeitos e práticas organizativas no cotidiano de trabalho.

Ao considerarmos emoções e razão como imbricadas, estamos destacando para análises as experiências cotidianas da vida dos sujeitos e de seus locais de trabalho, porém articulando as decisões destes com base em seu contexto social de produção. Nesse ponto também reside um avanço teórico que discutimos, a capacidade de mobilização de diferentes espaços organizacionais em um processo de construção política que também se configura como emocional, consistindo nas articulações delineadoras da legitimidade das demandas organizacionais nas cidades.

A dimensão política das emoções, ao ser desnaturalizada, possibilita compreender como as relações de poder, os conflitos ou os mecanismos de confronto, ainda que “silenciosos” ou velados, perpassam os processos e comportamentos organizacionais e a inscrição destas na sociedade. Contudo, seria relevante analisar outros contextos sociais a partir da perspectiva analítica aqui apresentada, avançando no entendimento das tramas políticas emocionais nos processos organizacionais.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2015

Histórico

  • Recebido
    11 Dez 2012
  • Aceito
    7 Jun 2013
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