RESUMO
Objetivo identificar a produção científica brasileira acerca do ensino da consulta de enfermagem na formação do enfermeiro.
Método estudo descritivo de natureza bibliométrica, realizado no portal da Biblioteca Virtual em Saúde e na PubMed, de abril a maio de 2021, tendo como critérios de inclusão: artigos completos, em português ou inglês, publicados de 2009 a 2020.
Resultados identificaram-se 13 estudos, sendo quatro publicados em um periódico B2 da região do Nordeste, contudo, oriundos predominantemente da Região Sul (38,46%), destacando-se os do tipo relato de experiência. As temáticas mais observadas relacionavam-se às metodologias de ensino, sobretudo, as ativas e com uso de ferramentas tecnológicas. A consulta de enfermagem não foi revelada como uma das palavras-chave mais frequentes.
Conclusão ao constatar a incipiência da produção relativa à temática, este estudo fornece subsídios para ampliação desta área do conhecimento, reverberando em melhorias no ensino da consulta de enfermagem e na formação do enfermeiro.
DESCRITORES: Educação em Enfermagem; Ensino; Enfermagem no consultório; Bibliometria; Enfermagem
ABSTRACT
Objective to identify the Brazilian scientific production about Nursing consultation teaching in nurses’ training.
Method a descriptive study of a bibliometric nature conducted in the portal of Biblioteca Virtual em Saúde and in PubMed from April to May 2021, with the following inclusion criteria: full articles, in Portuguese or English, published from 2009 to 2020.
Results a total of 13 studies were identified, of which four were published in a B2 journal from the Northeast region, although with predominance of papers from the South region (38.46%), with the experience report type standing out. The most frequently observed themes were related to the teaching methodologies, especially the active ones with use of technological tools. “Nursing consultation” was not found to be one of the most frequent keywords.
Conclusion by verifying the incipience of the production on the theme, this study provides subsidies for expanding this knowledge area, reverberating in improvements in Nursing consultation teaching and in nurses’ training.
DESCRIPTORS: Education in Nursing; Teaching: Nursing in the Office; Bibliometrics; Nursing.
RESUMEN
Objetivo identificar la producción científica de Brasil sobre la enseñanza de la Consulta de Enfermería en la formación de enfermeros.
Método estudio descriptivo de carácter bibliométrico realizado en el portal de la Biblioteca Virtual en Salud y en PubMed de abril a mayo de 2021, con los siguientes criterios de inclusión: artículos completos, en portugués o inglés y publicados entre 2009 y 2020.
Resultados se identificaron 13 estudios, publicados en una revista académica B2 de la región Noreste, aunque predominantemente provenientes de la región Sur (38,46%), destacándose los del tipo informe de experiencia. Las temáticas más observadas estuvieron relacionadas con las metodologías de enseñanza, especialmente las activas y con utilización de herramientas tecnológicas. “Consulta de Enfermería” no figuró entre las palabras clave más frecuentes.
Conclusión al constatar el carácter incipiente de la producción sobre la temática, este estudio proporciona puntos de apoyo para ampliar esta área del conocimiento, con repercusiones en mejoras en la enseñanza de la Consulta de Enfermería y en la formación de enfermeros.
DESCRIPTORES: Educación en Enfermería; Enseñanza; Enfermería en el Consultorio; Bibliometría; Enfermería.
INTRODUÇÃO
A essência da Enfermagem baseia-se no cuidado e no relacionamento interpessoal e se concretiza nos ambientes diversos a partir de interações múltiplas permeando a incerteza, a variabilidade, o inesperado e o imprevisível1. Assim, o fazer da Enfermagem envolve ação, reação, interação e transação entre grupos e indivíduos em um dado sistema social que visa alcançar objetivos de saúde, e, para que seja eficiente, é necessária uma metodologia de trabalho embasada no método científico2.
Contudo, apesar de o conhecimento científico em Enfermagem apresentar origem diversa, é na ação clínica que ele acontece e se estrutura, já que se caracteriza pela racionalidade prático-reflexiva, não de forma linear, mas de modo dinâmico e contínuo, como uma espiral, visto que é a partir do conhecimento prévio que se elabora uma compreensão que conduz à interpretação e, consequentemente, a uma nova compreensão/ação, reverberando em um saber próprio do campo da enfermagem que se diferencia de outros saberes disciplinares1.
Nesse contexto, destaca-se o Processo de Enfermagem (PE), caracterizado pela dinâmica das ações sistematizadas e inter-relacionadas que objetivam a assistência e cuidado ao ser humano2.Nessa perspectiva, o PE é um instrumento metodológico que orienta o cuidado e a documentação da prática profissional3.
De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) no358, o Processo de Enfermagem deve ser realizado de forma sistemática e deliberada em todos os ambientes onde há o cuidado profissional de enfermagem e, quando realizado em instituições prestadores de serviços ambulatoriais de saúde, domicílios e escolas, corresponde à Consulta de Enfermagem (CE)4. Esta, por sua vez, deve ser norteada pelo princípio da integralidade e pela prática baseada em evidências, possibilitando um exercício sistematizado que seja capaz de contribuir para a melhoria da qualidade da assistência prestada5.
Nessa tônica, a consulta de enfermagem representa uma estratégia tecnológica de cuidado resolutiva, respaldada por lei, privativa do enfermeiro, e que resulta em benefícios na assistência prestada, favorecendo a promoção da saúde, o diagnóstico e o tratamento precoce, além da prevenção de situações evitáveis6-7.
Historicamente, a entrevista realizada pelo enfermeiro em 1920 é considerada precursora da consulta de enfermagem, recebendo essa denominação em 19688. Ressalta-se que a regulamentação da CE no Brasil deu-se pela Lei nº 7.498/867 e pelo Decreto nº 94.406/879. Entretanto, em 1993 a Resolução nº 159 do COFEN preconizou a obrigatoriedade da CE durante o desenvolvimento da assistência de enfermagem em todos os níveis de atenção à saúde10. Tal normativa foi revogada em 2017 pela Resolução do COFEN nº 54411. Todavia, a consulta de enfermagem é tratada na Resolução nº 358 do COFEN, ainda vigente, que dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem4.
Sublinha-se que a consulta de enfermagem favorece o trabalho do enfermeiro, contemplando as etapas do Processo de Enfermagem2,4. Essas etapas foram reconhecidas pelo COFEN em 2009 e consistem na coleta de dados ou histórico de enfermagem, diagnóstico, planejamento, implementação e avaliação4. Assim, a CE deve ser guiada pela Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), a qual organiza o trabalho profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos, tornando possível a operacionalização do Processo de Enfermagem, repercutindo em um cuidado de enfermagem adequado, individualizado e efetivo12.
Sendo assim, a CE representa uma estratégia efetiva para o alcance da responsabilidade dos enfermeiros de facilitar, potencializar e restaurar a capacidade que o ser humano apresenta de se autocuidar, vislumbrando a independência com relação a outros sistemas, conduzindo, então, o indivíduo à compreensão ecológica necessária para os cuidados1. Mas, para isso, a CE requer uma articulação teórico-prática, constituindo-se em um dos pilares da formação do enfermeiro de maneira específica e sistemática.
Diante da importância da consulta de enfermagem, e por considerar o processo de formação preponderante para sua prática de maneira crítica, reflexiva e assertiva, tem-se a seguinte questão de pesquisa: Qual a produção de literatura brasileira realizada sobre o ensino da consulta de enfermagem na formação do enfermeiro a partir de 2009? Frente ao exposto, este estudo tem por objetivo identificar a produção científica brasileira acerca do ensino da consulta de enfermagem na formação do enfermeiro.
Esta pesquisa justifica-se devido à carência de estudos acerca da temática e espera-se, a partir dos achados desta investigação, contribuir para o fortalecimento do ensino da CE nos cursos de graduação em enfermagem, bem como ampliar a divulgação da temática e suscitar reflexões sobre o processo de ensino da consulta de enfermagem no Brasil.
MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa descritiva, com abordagem quantitativa e natureza bibliométrica, a qual visa a auxiliar na identificação de tendências de ampliação do conhecimento em determinada disciplina, dispersão e obsolescências de campos científicos, autores e instituições mais produtivas, além de evidenciar os periódicos mais utilizados na divulgação de pesquisas em determinada área do conhecimento13.
Este estudo seguiu cinco etapas: definição do objetivo da pesquisa, delineamento do protocolo, coleta dos dados, análise, e síntese com apresentação dos resultados. Na primeira etapa, foi realizada a definição do tema, além da elaboração do objetivo e da questão norteadora da pesquisa, já apresentada na introdução.
Na segunda etapa (Figura 1), denominada de protocolo de pesquisa, inicialmente foi realizada uma busca exploratória por artigos sobre a temática para identificação dos possíveis descritores, sendo selecionados os mais frequentes e, em seguida, verificados no DeCS/MeSH, com a finalidade de averiguar se a definição estava adequada ao estudo proposto.
Tendo em vista a necessidade de utilizar a definição mais fidedigna e robusta, foram empregados os termos alternativos de “Capacitação de Recursos Humanos em Saúde” e “Enfermagem no Consultório”, respectivamente, “Formação Profissional em Saúde” e “Consulta de Enfermagem”. Posteriormente fez-se a validação dos descritores em inglês, através da busca no DeCS/MeSH e no corpo de artigos já publicados, sendo, então, definidas as estratégias de busca, bem como as fontes de dados, utilizando-se o portal BVS (Biblioteca Virtual de Saúde), o qual integra múltiplas fontes de informação e compreende diversas bases de dados, como a LILACS, MEDLINE, BDENF, entre outras. Além disso, foi utilizada também a base PubMed, que possibilita o acesso à literatura biomédica do MEDLINE, a periódicos de ciências da vida e a livros online.
A estratégia de busca foi delineada a partir da combinação dos descritores com os operadores booleanos OR e AND, resultando em uma estratégia restrita, conforme apresentada na Figura 1.
Protocolo de pesquisa - definição dos descritores e estratégias de busca. Salvador, Bahia, Brasil, 2021
Na terceira etapa (Figura 2), denominada de coleta de dados, foi realizada a busca na BVS e PubMed, no período de abril a maio de 2021, tendo como critérios de inclusão: artigos completos, nos idiomas português ou inglês, e publicados no período de 2009 a 2020. O recorte temporal levou em consideração o ano de publicação da Resolução COFEN nº 358/20094. Ainda nesta etapa, foi construído o banco de dados, através do Programa Microsoft Excel® (versão 2016), incluindo título do artigo, objetivo, conclusão e ano de publicação. Após a leitura dos resumos, foram excluídos os artigos não relacionados ao objeto de estudo, repetidos e de origem não brasileira.
Durante a quarta etapa, a análise dos dados, foi construída a matriz de análise no Programa Microsoft Excel® (versão 2016), que incluiu os seguintes dados: base de dados, título do artigo, autores, instituição/afiliação, estado, região, idioma, ano, título do periódico e palavras-chave. A frequência das palavras-chaves presentes nos artigos foi obtida através do SoftwareAntconc (AntConc corpus analysis toolkit) versão 3.5.8.0.
Em seguida, o arquivo em formato .CSV com as palavras selecionadas, juntamente com a frequência com a qual apareceram, foi lançado no site de uso gratuito WordClouds.com, resultando na criação da nuvem de palavras. Além disso, os dados também foram analisados por meio do cálculo das frequências absoluta e relativa. Na última etapa do estudo, para apresentação dos resultados, optou-se pela utilização de quadros e figuras.
Ressalta-se que, por se tratar de um estudo que utiliza apenas dados documentais disponíveis nas bases, foi desnecessária a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), de acordo com a Resolução nº 510/201614, contudo, todos os aspectos éticos e autorais foram respeitados.
RESULTADOS
Coleta de dados - busca de artigos conforme os critérios e interesses do estudo. Salvador, Bahia, Brasil, 2021
Da análise, resultaram 13 artigos sobre o ensino da consulta de enfermagem na formação do enfermeiro, publicados de 2010 a 2020, em sete periódicos, e afiliados a 18 instituições distribuídas em dez estados brasileiros, em dois casos, associadas a instituições no exterior (Portugal).
A Figura 3 ilustra a distribuição das publicações no território brasileiro. Dos 13 artigos, quatro ocorreram através da parceria de instituições nacionais entre os estados do Amazonas e Pará, Rio Grande do Norte e Paraíba, Rio Grande do Norte e Mato Grosso do Sul, e entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em relação à distribuição entre as regiões, há destaque para o Sul com cinco (38,46%) das publicações disponíveis, predominando sobre as outras regiões.
Quanto aos principais periódicos que publicaram artigos sobre a temática, destacaram-se a Revista de Enfermagem UFPE online, com quatro artigos, Revista Brasileira de Enfermagem, com três, e a Revista de Pesquisa (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Online) com duas publicações. No tocante aos anos de publicação, há um equilíbrio entre o ano de 2020 e 2018, ambos com três artigos, seguidos por 2011 e 2010, cada um com dois artigos. O Quadro 1 apresenta a Produção brasileira sobre o ensino da consulta de enfermagem na formação do enfermeiro no Brasil de 2009 a 2020.
Produção brasileira sobre o ensino da consulta de enfermagem na formação do enfermeiro de 2009 a 2020. Salvador, Bahia, Brasil, 2021
Todos os artigos encontrados possuíam versão no idioma português. Nenhum autor esteve presente em mais de um artigo. O tipo de estudo predominante dentre as publicações foi o relato de experiência (cinco), seguido pelos estudos descritivos (três).
Quanto às temáticas mais incidentes, houve destaque para a abordagem da metodologia ou estratégia de ensino, correspondendo a sete (53,84%) das publicações. Em relação às palavras mais citadas como palavras-chave nos artigos, notou-se a ausência de “consulta de enfermagem”, conforme pode ser observado na Figura 4.
Frequência das palavras mais citadas nas palavras-chave dos artigos. Salvador, Bahia, Brasil, 2021
DISCUSSÃO
O reconhecimento da enfermagem como ciência exige a utilização da consulta de enfermagem, uma vez que, ao utilizar ações sistematizadas e inter-relacionadas, representa a essência da enfermagem15. Todavia, este estudo evidenciou um quantitativo reduzido de publicações sobre o ensino da consulta de enfermagem, desvelando baixa visibilidade sobre a temática, e corroborando com o pensamento da subutilização da CE pela enfermagem brasileira como tecnologia para o cuidado15.
Ainda nessa perspectiva, é notório o desequilíbrio da distribuição das produções, com concentração mais expressiva na Região Sul, reforçando o eixo Sul-Sudeste como polo produtor de conhecimento. Nessa tônica, esse achado pode ser decorrente da centralização dos cursos de pós-graduação na área da saúde nas Regiões Sudeste e Sul16-17.
Não houve reincidência dos autores nos artigos, o que fornece indicativos da escassez de grupos de pesquisa voltados para essa área do conhecimento. Todavia, destacam-se as parcerias institucionais estabelecidas, inclusive em duas instituições do exterior, demonstrando uma tentativa de articulação entre os autores, e revelando uma incipiente preocupação sobre o processo de ensino da CE.
Apesar de a produção ser predominante da Região Sul, destaca-se que o periódico com mais publicações sobre o ensino da CE foi a Revista de Enfermagem UFPE online, com qualis B2 de acordo com a classificação do quadriênio 2013-2016 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Esse periódico foi fundado em 2006, e atualmente é editado pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco. Infere-se, a partir desse achado, que aspectos relativos ao Processo de Enfermagem, sobretudo à CE, representam uma linha de destaque dentro do escopo dessa revista. Ademais, ao avaliar os qualis dos periódicos das publicações evidenciadas, percebe-se que as produções existentes foram publicadas em revistas com qualis estrato A e B. Desse modo, pondera-se que, apesar do reduzido quantitativo de estudos, esses apresentam robustez metodológica e científica, tendo em vista o qualis do periódico, e por isso, reverberam em contribuições importantes para o trabalho de enfermagem. Frisa-se que o qualis avalia a qualidade do periódico e, neste estudo, foi utilizada a última classificação publicizada na plataforma da CAPES, a qual está dividida em oito estratos em ordem descrentes de valor: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C. Contudo, cabe salientar que já existe uma nova classificação que, entretanto, ainda não foi legitimada e publicada na plataforma CAPES.
O principal método de estudo observado foi o relato de experiência, que se relaciona e favorece a construção de conhecimento na área a partir de descrições reais e contextualizadas. Assim, depreende-se que a preponderância desse método se apoia no caráter prático do ensino da CE, potencializado por ser uma área de investigação ainda pouco explorada, dessa forma, o compartilhamento de experiências viabiliza e contribui para o desenvolvimento do conhecimento. Em virtude disso, os relatos de experiência apresentam relevância para a prática profissional e fornecem subsídios para reflexões e aplicações na práxis do ensino da CE. Ainda nessa perspectiva, compreende-se que a notoriedade das estratégias de ensino permeadas pela articulação teórico-prática tem o intuito de fortalecer o processo de aprendizado, bem como o desenvolvimento de habilidades através da participação, engajamento e vivência da profissão.
Quanto às palavras-chave mais frequentes, percebeu-se a ausência de “consulta de enfermagem”, reiterando sua invisibilidade. Entretanto, há de se destacar que o DeCS/MeSH apresenta como conceito para esse descritor “Prática de enfermagem limitada a um consultório”, restringindo sua definição e aplicação. Assim, a partir da não utilização como descritor nos artigos, infere-se que se trata de uma estratégia dos autores para o uso da CE como um termo amplo e não restrito apenas a consultórios, uma vez que a CE está presente em todos os ambientes onde existe assistência de enfermagem. Ressalta-se que a CE, além de respaldar a tomada de decisão do enfermeiro, interferindo positivamente no processo saúde/doença, evidencia a cientificidade do trabalho dessa profissão e, dessa forma, não pode ser reduzida a um conceito minimalista15.
No tocante às temáticas mais frequentes, houve predomínio da abordagem quanto à metodologia e estratégia de ensino, com realce da metodologia ativa e uso da tecnologia como ferramenta de aprendizagem. Ressalta-se que é fundamental que as estratégias de ensino acompanhem os avanços teórico-científicos e tecnológicos da profissão, através de práticas interdisciplinares inovadoras e metodologias ativas. As principais estratégias encontradas foram a simulação, o caso clínico e o uso de ferramentas virtuais18.
A CE é uma estratégia tecnológica do cuidado que se fundamenta em princípios científicos, através do emprego de método próprio, constituindo o Processo de Enfermagem, o qual sistematiza a assistência de enfermagem19-20. Assim, o ensino da CE não deve acontecer de maneira tecnicista e automatizada, sobretudo, diante de seu cerne de oportunizar a realização do cuidado integral.
Este artigo apresenta como limitação a falta de aprofundamento quanto às questões qualitativas das produções, contudo, suscita reflexões sobre o ensino da CE na formação do enfermeiro, sendo necessárias mais investigações sobre a temática.
CONCLUSÃO
A incipiente produção acerca do ensino da consulta de enfermagem presente na literatura, evidenciada neste estudo, devido ao reduzido número de publicações científicas, reflete a invisibilidade da CE nos serviços, ocorrendo muitas vezes de maneira complementar à consulta médica ou vista como algo prescindível. Já que não é tida como um espaço dialógico, de educação em saúde e orientador da tomada de decisões do enfermeiro, que acontece através de fases sistemáticas pautadas na fundamentação científica.
Cabe salientar o papel das instituições de ensino superior na mudança desse cenário, que devem esforçar-se para ensinar a CE através de metodologias que integrem teoria e prática, e favoreçam a capacidade crítica reflexiva dos discentes, minimizando tendências tecnicistas e automatizadas. E, para isso, é oportuno acrescentar que é essencial fomentar novos estudos sobre a temática, em especial, nos lugares em que a produção científica sobre o ensino da CE ainda se encontra embrionária ou ausente.
Destarte, este artigo, ao descortinar a produção científica relativa ao ensino da CE, fornece subsídios para reflexões que poderão impulsionar novas investigações acerca do tema, com o intuito de transformar o panorama evidenciado. Assim, contribuindo para a visibilidade e expansão dessa área do conhecimento e, consequentemente, para avanços no ensino da consulta de enfermagem que, por sua vez, repercutirão positivamente na formação do enfermeiro e em sua prática profissional.
AGRADECIMENTO
Ao apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Brasil, referente ao código de financiamento 001 e ao processo nº 88887.643413/ 2021-00.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) referente à Bolsa de Produtividade em Pesquisa (PQ) sob o Processo no 205736/2018-1. Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (Processo 23806.250710.2021-41).
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» https://doi.org/10.15446/rsap.V21n3.70291
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Editora associada: Dra. Luciana Kalinke
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
04 Nov 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
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Recebido
29 Jan 2022 -
Aceito
17 Jul 2022