RESUMO
Objetivo: avaliar a autoeficácia materna para o cuidado de recém-nascido prematuro na unidade de terapia intensiva neonatal e após a alta hospitalar, e relacionar com a duração do aleitamento materno em casa.
Método: estudo longitudinal que empregou escalas de avaliação da autoeficácia de 38 mães de nascidos prematuros no período de novembro de 2020 a janeiro de 2022 na cidade de Cascavel - PR - Brasil. Dados analisados por estatística descritiva e inferencial.
Resultados: A autoeficácia materna durante hospitalização mostrou-se elevada, mantendo-se assim na avaliação após alta. A autoeficácia para a prática do aleitamento materno não teve diferenças estatísticas significativas no período da hospitalização (p=0,335) e nem no pós-alta (p=0,640). Contudo, mães com elevada autoeficácia na hospitalização e em casa, mantiveram o aleitamento materno exclusivo por mais tempo.
Conclusão: Identificar a autoeficácia materna deve ser uma rotina na prática clínica de enfermagem na hospitalização e após a alta, para potencializar a manutenção do aleitamento materno exclusivo.
DESCRITORES: Aleitamento Materno; Recém-Nascido Prematuro; Autoeficácia; Enfermagem Neonatal; Mães
ABSTRACT
Objective: to assess maternal self-efficacy for the care of premature newborns in the neonatal intensive care unit and after hospital discharge and relate it to the duration of breastfeeding at home.
Method: longitudinal study that used self-efficacy assessment scales of 38 mothers of premature newborns in the period from November 2020 to January 2022 in the city of Cascavel - PR - Brazil. Data analyzed by descriptive and inferential statistics.
Results: Maternal self-efficacy during hospitalization turned out to be high, remaining so in the assessment after discharge. Self-efficacy for breastfeeding had no statistically significant differences during hospitalization (p=0.335) and after discharge (p=0.640). However, mothers with high self-efficacy in hospitalization and at home maintained exclusive breastfeeding longer.
Conclusion: Identifying maternal self-efficacy should be a routine in nursing clinical practice during hospitalization and after discharge, to enhance the maintenance of exclusive breastfeeding.
DESCRIPTORS: Breast Feeding; Infant, Premature; Self Efficacy; Neonatal Nursing; Mothers
RESUMEN
Objetivo: evaluar la autoeficacia materna para el cuidado de recién nacidos prematuros en la unidad de cuidados intensivos neonatales y después del alta hospitalaria, y relacionarla con la duración de la lactancia materna en el hogar.
Método: estudio longitudinal que empleó escalas de evaluación de autoeficacia de 38 madres de recién nacidos prematuros en el período de noviembre de 2020 a enero de 2022 en la ciudad de Cascavel - PR - Brasil. Los datos fueron analizados por estadística descriptiva e inferencial.
Resultados: La autoeficacia materna durante la hospitalización mostró ser elevada, y se mantuvo, así, en la evaluación tras el alta. La autoeficacia para la lactancia no presentó diferencias estadísticamente significativas durante la hospitalización (p=0,335) ni tras el alta (p=0,640). Sin embargo, las madres con alta autoeficacia en la hospitalización y en el hogar mantuvieron la lactancia materna exclusiva durante más tiempo.
Conclusión: Identificar la autoeficacia materna debe ser una rutina en la práctica clínica de la enfermería en la hospitalización y seguimiento post alta, para potencializar el mantenimiento de la lactancia materno exclusivo.
DESCRIPTORES: Lactancia Materna; Recién Nacido Prematuro; Autoeficacia; Enfermería Neonatal; Madres
HIGHLIGHTS
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Avaliar a autoeficácia materna na promoção do aleitamento materno exclusivo.
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Baixa autoeficácia materna para o cuidado indica fragilidades em sua confiança.
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A avaliação da autoeficácia materna possibilita a promoção do aleitamento materno exclusivo.
HIGHLIGHTS
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Avaliar a autoeficácia materna na promoção do aleitamento materno exclusivo.
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Baixa autoeficácia materna para o cuidado indica fragilidades em sua confiança.
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A avaliação da autoeficácia materna possibilita a promoção do aleitamento materno exclusivo.
INTRODUÇÃO
O Aleitamento Materno Exclusivo (AME) consiste no ato de a criança receber leite materno direto da mama, ordenhado, ou leite humano de outra fonte. Esse ato promove a interação entre mãe e filho, repercutindo no estado nutricional da criança, em sua imunidade, fisiologia, desenvolvimento cognitivo e emocional e em sua saúde a longo prazo. Além disso, repercute também na saúde física e psíquica da mãe 1.
A fim de promover a saúde da criança, a manutenção do AME é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), juntamente com o Ministério da Saúde do Brasil (MS) até os seis meses, e o aleitamento materno continuado até os dois anos ou mais 1-2.
Quando se trata da manutenção do AME, os recém-nascidos prematuros (RNPT) são um segmento populacional vulnerável, porque os principais motivos evidenciados para o desmame total ou parcial desses bebês são de ordem cultural e educacional das mães 3, bem como psicológica relacionada à internação do recém-nascido (RN) em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Agora, as mães podem evidenciar preocupações, inseguranças, medo, tristeza, desespero e culpa pela hospitalização da criança, dificultando o ato de amamentar 4.
Algumas mães apresentam maiores recursos psicológicos de enfrentamento durante a hospitalização do RNPT, enquanto outras se mostram mais fragilizadas. Nestes casos, os aspectos negativos da hospitalização podem levar à formação não saudável da parentalidade e a crenças negativas em relação à sua capacidade de realizar os cuidados com o RNPT4.
Nesse contexto, cabe à equipe de saúde a avaliação constante da autoeficácia (AE)5 das mães de RNPT na hospitalização e após a alta hospitalar. Visto que pela utilização de escalas de AE, a enfermagem se fundamenta, para realizar um cuidado humanizado e de qualidade, contribuindo para a promoção do AME e identificando aspectos de baixa AE, permitindo detectar precocemente as fragilidades maternas em sua confiança e capacidade, tanto nos cuidados com o RNPT, quanto com o ato de amamentar 6.
Com base no exposto, objetiva-se avaliar a autoeficácia materna para o cuidado de recém-nascido prematuro na unidade de terapia intensiva neonatal e após a alta hospitalar, e relacionar com a duração do aleitamento materno em casa.
MÉTODO
Estudo quantitativo, longitudinal, desenvolvido em uma UTIN de um hospital-escola do município de Cascavel-PR e no ambulatório de seguimento do RNPT.
A amostra do estudo foi composta primeiramente por mães de RNPT hospitalizados na UTIN em estudo, no período de julho de 2020 a novembro de 2021 e por todas as que retornaram ao ambulatório de seguimento, ou responderam à pesquisa pelo aplicativo Google Forms, no período de novembro de 2020 a janeiro de 2022., da hospitalização do RNPT na UTIN foram elencados: RNPT com idade gestacional (IG) menor que 37 semanas; permanência mínima na UTIN de sete dias; ausência de malformações congênitas graves. E, como critérios de exclusão: mães adolescentes (menores de 18 anos), analfabetas, que não falavam a língua portuguesa ou que apresentassem problemas de saúde mental diagnosticados e registrados nos prontuários dos RNPT ou autorreferido e; RNPT que foi a óbito no período do estudo. No seguimento após a alta hospitalar, mantiveram-se os critérios da etapa hospitalização, acrescentando-se mais alguns critérios de exclusão: mães que não compareceram à consulta agendada no ambulatório; e mães que não retornaram contato feito no envio da escala via aplicativo de mensagem rápida após três tentativas de contato.
A autoeficácia foi avaliada por escalas validadas no Brasil: Percepção de Autoeficácia de Parentalidade Materna - PAEPM7, na UTIN e a Preterm parenting & self-efficacy checklist8, 30 dias após a alta hospitalar.
O perfil sociodemográfico e clínico compreendeu a idade, escolaridade, estado civil, vínculo empregatício, renda familiar, número de filhos e tipo de parto; data do nascimento, gênero, idade gestacional, peso ao nascer, estatura, perímetro cefálico (PC), APGAR, tempo de hospitalização, alimentação e complicações/queixas/ocorrências com a saúde e cuidado do bebê em casa, para caracterizar a amostra e identificar a prevalência do AME.
A autorização para uso de ambas as escalas se deu por meio de contato via e-mail. A pontuação final das 20 questões avaliadas na PAEMP, varia entre 20 e 80 pontos7. Classificando-se a AE em: baixa autoeficácia (20 a 39 pontos); média autoeficácia (40 a 59 pontos); elevada autoeficácia (60 a 80 pontos).
Os escores da PAEMP na UTIN são categorizados em quatro domínios: tomando cuidado, pontuação de 4 a 8 pontos (baixa autoeficácia); de 9 a 12 pontos (média autoeficácia) e de 13 a 16 pontos (elevada autoeficácia); eliciando o cuidado, a baixa autoeficácia se refere à pontuação de sete a 14; a média autoeficácia de 15 a 21 pontos e a elevada autoeficácia de 22 a 28 pontos; leitura do comportamento, escore entre seis a 12 pontos refere-se a baixa autoeficácia; 13 a 18 pontos a média autoeficácia e elevada autoeficácia de 19 a 24 pontos; crenças situacionais, baixa autoeficácia apresenta de 3 a 6 pontos; na Média autoeficácia varia de sete a nove e na elevada autoeficácia de dez a 12 pontos.
A Preterm parenting & self-efficacy checklist possui pontuação final de 36 e 252 pontos8. A classificação dos escores da escala no seguimento do primeiro mês ocorreu conforme cada um dos três domínios: autoeficácia parental - baixa autoeficácia (12 a 28 pontos); média autoeficácia (29 a 56 pontos) e Elevada autoeficácia (57 a 84 pontos); importância das tarefas, baixa autoeficácia (12 a 28 pontos); média autoeficácia (29 a 56 pontos) e elevada autoeficácia (57 a 84 pontos); competência parental autopercebida, baixa autoeficácia (12 a 28 pontos); média autoeficácia (29 a 56 pontos) e elevada autoeficácia (57 a 84 pontos). O escore total é a soma de todos os domínios, classificando-se a AE geral como: baixa (36 a 84 pontos); média (85 a 168 pontos); elevada (169 a 252 pontos).
Ressalta-se que houve perda da amostra no seguimento, no qual se observa a inclusão e exclusão das participantes no fluxograma (Figura 1).
Para comparar os valores no internamento dos RNPT e os obtidos no seguimento no primeiro mês após a alta da UTIN, transformaram-se os dados em percentis, comparando-os mediante teste não paramétrico de Wilcoxon.
Para avaliar os escores de AE materna em relação aos cuidados com a prática do AM na UTIN e seguimento durante o primeiro mês de vida, os dados foram avaliados quanto aos pressupostos de normalidade (Teste de Shapiro-Wilk) e homoscedasticidade (Teste de Levene), posteriormente analisados pela Análise da Variância Fator Único (Fator: prática do aleitamento; níveis: 1- aleitamento materno exclusivo; 2- aleitamento materno mais água, chá, fórmula ou alimentação complementar e 3- leite de fórmula), seguido do teste Tukey-HSD.
Todas as análises obedeceram ao nível de significância de 0,05 com todos os testes realizados no programa XlStat Versão 2014.
Respeitaram-se os preceitos éticos em pesquisa com seres humanos, sendo este estudo parte do projeto de pesquisa “Repercussões da prematuridade: estresse materno e programação metabólica após a alta hospitalar/estresse e papel materno após uma intervenção educativa”, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa pelo parecer 1.836.186.
RESULTADOS
Apresentam-se na Tabela 1 as variáveis relativas aos dados sociodemográficos e clínicos das mães de RNPT, tais como: idade materna, escolaridade materna, vínculo empregatício, número de filhos e tipo de parto.
Nesta mesma tabela, também são apresentadas as variáveis em relação aos dados clínicos do RNPT no mesmo período de avaliação, tais como: gênero, peso, estatura, perímetro cefálico (PC) e idade gestacional (IG).
Na internação dos RNPT, os valores médios de AE demonstraram uma situação de elevada autoeficácia materna para os domínios da escala PAEMP “tomando cuidado”, “eliciando o cuidado” e “crenças situacionais”, enquanto “leitura do comportamento”, apresentou classificação de média autoeficácia materna (Tabela 2). No seguimento pós-alta dos RNPT, observou-se valores médios calculados para o domínio Autoeficácia parental de 71 ± 9; sendo 77 ± 6 para o domínio Importância das tarefas e de 69 ± 8 para Competência parental autopercebida, indicando situação de elevada autoeficácia materna (Tabela 2).
Comparando-se os percentis totais dos diferentes períodos (hospitalização e seguimento pós-alta), houve uma percepção significativa da autoeficácia para as mães durante o seguimento, quando comparado ao período de internação dos RNPT (V = 617,00; p = 0,0004) (Figura 2).
Relação entre os valores dos percentis totais dos períodos de permanência na UTI neonatal e do seguimento pós-alta. Cascavel, Paraná, 2021
Para se correlacionar os escores de autoeficácia materna para o cuidado com o tipo de aleitamento (1- aleitamento materno exclusivo; 2- aleitamento materno mais água, chá, fórmula ou alimentação complementar e 3- leite de fórmula), os referidos escores foram avaliados conforme as práticas de aleitamento, no período de hospitalização na UTIN e no seguimento pós-alta dos RNPT (Quadro 1).
Verificou-se que não houve diferenças estatísticas significativas no período da hospitalização na UTIN (F2, 37 = 1,13; p = 0,335; quadro 1), e nem no período de pós-alta, no seguimento (F2, 37 = 0,452; p = 0,640; quadro 1).
Apesar de não haver diferença estatística significativa entre os grupos (F2, 43 = 0,539; p = 0,588), ressalta-se que mães que realizaram AME, apresentaram a menor diferença de seus escores entre os dois períodos de avaliação (Figura 3).
Percentis do escore de AE nos períodos de permanência na UTI neonatal e do seguimento pós-alta entre mães, classificadas conforme a prática de aleitamento materno. Cascavel, Paraná, 2021
DISCUSSÃO
A autoeficácia parental tornou-se de particular interesse em estudos sobre a transição para a paternidade porque está associada a uma variedade de resultados para pais e filhos, incluindo competência e afeto parental e funcionamento socioemocional e comportamental da criança. Em nosso estudo, o foco foi para a AE materna para o cuidado, a qual contribui para a formação da autoeficácia parental. Constatou-se que durante a internação na UTIN, as mães dos RNPT demonstraram situação de elevada AE. Exceto no domínio “leitura do comportamento”, que apresentou classificação de média autoeficácia materna, o que pode ser explicado pela dificuldade em reconhecer o que o filho está demonstrando. Por este motivo, é importante que mediante a avaliação inicial da AE para os cuidados com o RNPT, o profissional de saúde reconheça altas e baixas pontuações, atentando-se principalmente às percepções negativas da mãe quanto a esses cuidados. A partir dessa avaliação faz-se necessário empregar estratégias para contribuir com o aumento da AE materna para o cuidado do RNPT, sendo a intervenção educacional-comportamental uma dessas ferramentas, fortalecendo a crença das mães em si mesmas e o conhecimento sobre seus recém-nascidos e, consequentemente, eleva sua capacidade de cuidar e de interagir com o filho9.
Observou-se que, para os três domínios analisados na escala de AE durante o seguimento pós-alta dos RNPT, as mães demonstraram uma situação de elevada autoeficácia, o que se refere à alta confiança em si em prover os cuidados com os filhos em casa. Elevada AE é preditivo de bem-estar psicológico materno positivo aos três meses após a alta, bem como de redução na complexidade médica do bebê foi associada ao maior bem-estar psicológico materno.10 Nesse contexto, a literatura científica9,11 sustenta a importância e a necessidade de aumentar a autoeficácia dos pais, pois o grau de autoeficácia é efetivo na qualidade dos cuidados prestados, bem como o seu grau de satisfação com a experiência parental8. Ademais, a competência percebida no papel parental está diretamente associada aos comportamentos emocionais e parentais, à qualidade dos cuidados com o recém-nascido e aos resultados futuros do desenvolvimento do bebê12.
Ao ser comparado os escores totais de AE na hospitalização e no seguimento pós-alta, houve maior percepção da AE para as mães durante o seguimento. O que pode ser explicado pelo fato de as mães sentirem-se com mais liberdade e conforto quando estão em domicílio, sendo esta uma fase mais agradável de ser vivenciada do que o período de hospitalização, além de se sentirem mais capazes de atender às demandas e necessidades dos filhos neste ambiente13.
Ao se estabelecer a relação entre AE e aleitamento materno, observou-se que, dentre a totalidade das mães avaliadas no seguimento pós-alta, o aleitamento materno exclusivo teve menor frequência com relação ao aleitamento materno complementado e o misto, sendo que este último correspondeu a quase 50% da amostra. Os achados deste estudo diferem do encontrado no sudeste do Brasil, no qual o AME entre RNPT era de 31,0% e o artificial, de 11,9%14. Os RNPT se encontram mais vulneráveis ao desmame precoce, o que decorre das dificuldades em iniciar o aleitamento materno durante a internação devido a fatores como tempo prolongado de internação, grau de prematuridade, extremo baixo peso, gestações gemelares, ventilação mecânica invasiva, imaturidade da capacidade de sucção, entre outras15.
Ante essa vulnerabilidade inerente à prematuridade, a equipe da UTIN deve empregar estratégias que identifiquem as mães em maior risco de desmame precoce, quais sejam aquelas com maior nível de ansiedade e estresse, as que apresentam produção diminuída de leite pela falta da estimulação, as que precisam retornar ao trabalho16, e os fatores culturais e educacionais3. Assim como, aquelas mães com menor escore de AE para o aleitamento materno, bem como menor escore de AE para o cuidado, visto que ao identificar os itens de baixa AE é possível reconhecer precocemente as fragilidades maternas em sua confiança e capacidade tanto nos cuidados quanto para a amamentação do RNPT6.
Ao se comparar os escores de AE materno relacionados à prática do aleitamento materno, verificou-se que não houve diferenças estatísticas significativas no período da hospitalização na UTIN e nem no período de pós-alta durante o seguimento. Todavia, sabe-se que os RNPT são um grupo populacional vulnerável em relação à manutenção do AME como mencionado anteriormente, reforçando a necessidade de auxílio e orientações dos profissionais de saúde para as mães, em relação ao processo de amamentação e produção láctea3.
Entretanto, ressalta-se que apesar de não haver diferença estatística significativa entre os grupos, as mães que realizaram o AME apresentaram a menor diferença de seus escores entre os dois períodos de avaliação. Portanto, partindo-se da concepção de que AE é a crença que o indivíduo tem sobre a capacidade para realizar uma atividade de forma que obtenha sucesso e desse modo, essa percepção pode afetar diretamente suas escolhas e seu desempenho ao realizar determinada atividade5, cabe à equipe de saúde a avaliação constante da AE possibilitando a enfermagem um cuidado direcionado e de qualidade, promovendo o AME e detectando precocemente possíveis fragilidades maternas em sua confiança e capacidade de amamentar6.
Ainda, por meio das observações de situações de sucesso (experiências vicárias) parecidas com a sua, as mães podem aumentar a crença de que possuem capacidade e habilidades para realizar a mesma atividade que o outro de forma bem sucedida5. Para tanto, os profissionais de saúde devem desempenhar papel vital no aumento da autoeficácia parental das mães durante a gravidez, 17 assim como após o nascimento. Nos casos de hospitalizações em UTIN, devem estimular a AE nos grupos de pais de RNPT e nas reconsultas após a alta da unidade, pois essa pode ser uma estratégia para a troca de experiências das mães sobre o AM e sejam estimuladas pela experiência vicária na manutenção do AME após a alta hospitalar. Novas tecnologias, como aplicativos para smartphones, podem ser promissoras para apoiar os pais em situações difíceis e estressantes, como nos pais de RNPT, no qual estudo demonstrou que o emprego do app chamado NICU2HOME18 identificou que o uso do app contribuiu para maior autoeficácia parental na UTIN e isso continuou após a alta para casa.
A persuasão social é fonte de contribuição para a autoeficácia, pois, quando há reforço verbal de que o indivíduo possui a capacidade para realizar determinada atividade, ele se sente mais motivado e empoderado, concentrando esforços para uma atividade exitosa. Ademais, o estado emocional e somático também pode intensificar o desempenho em uma atividade, proporcionando, ou não proporcionando, fortalecimento na crença do indivíduo em suas próprias capacidades5. Assim, a comunidade, bem como a família e todos que estão à volta da mãe em processo de aleitamento materno devem reforçar positiva e verbalmente, para se empoderarem em suas habilidades e capacidades para manutenção do AME.
Destacam-se como potencialidades deste estudo, a aplicabilidade clínica das escalas empregadas para avaliação da AE materna para o cuidado, tanto no período da hospitalização como após a alta, ambas validadas para o português do Brasil. O emprego de ferramentas validades pode auxiliar o enfermeiro em seu diagnóstico clínico na prática, assistencial, possibilitando evidências ancoradas cientificamente para planejar o cuidado. Assim como, reconhecer a AE positiva como fator protetor para um cuidado adequado ao RNPT pode melhorar a confiança materna em sua habilidade para amamentar, constituindo conhecimento relevante para a enfermagem neonatal auxiliar a mãe na manutenção do AME após a alta da UTIN.
As implicações clínicas incluem direcionar a autoeficácia em programas e intervenções de apoio perinatal para mitigar os sintomas de saúde mental durante a transição para a paternidade, em especial entre mães e pais de RNPT.
O estudo, contudo, apresenta limitações relativas ao número de participantes da amostra, visto se tratar de estudo longitudinal, o qual tem como uma de suas desvantagens a perda da amostra ao longo do seguimento. Assim, não foi possível manter, no seguimento após a alta da UTIN, o total de mães e RNPT arrolados na primeira avaliação na hospitalização. Fato que pode ser decorrente do momento pandêmico vivenciado à época do estudo que impediu o maior comparecimento das mães nas consultas de seguimento. Portanto, sugere-se o desenvolvimento de estudo com a mesma população, porém, com ampliação do tempo para se obter uma amostra maior e reavaliar os resultados, pois a não significância estatística observada na relação entre o AME e os escores de AE pode ser decorrente do tamanho amostral.
CONCLUSÃO
Ao comparar os escores de autoeficácia materna em relação à prática do aleitamento materno, não houve diferenças estatísticas significativas no período da hospitalização na UTIN, e nem no período de pós-alta no seguimento, o que pode estar relacionado aos elevados escores, na maioria dos domínios das duas escalas, em ambos os momentos. Este estudo contribuiu para a área de enfermagem em neonatologia com resultados relevantes que correlacionaram a AE materna com as práticas de aleitamento materno de RNPT durante a hospitalização e após a alta, fornecendo subsídios para auxiliar os profissionais enfermeiros na construção de estratégias em âmbito hospitalar e de atenção primária, para o empoderamento de mães de RNPT, possibilitando resiliência, superação de obstáculos e dificuldades encontradas no processo de cuidado com o RNPT e de amamentação. Além de proporcionar orientações e confiança à mãe, a fim de facilitar a continuidade do AME até o sexto mês de vida da criança, bem como da amamentação continuada, reduzindo a morbimortalidade materno-infantil.
Estudos relacionados à autoeficácia materna são recentes no Brasil, dificultando a possibilidade de comparação com pesquisas individualizadas e que descrevem a autoeficácia materna conforme as escalas aplicadas neste estudo. Portanto, fazem-se indispensáveis estudos mais específicos sobre o tema.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
25 Set 2023 -
Data do Fascículo
2023
Histórico
-
Recebido
18 Ago 2022 -
Aceito
10 Fev 2023