Open-access Novo Modelo de Armadilha para Captura de Scolytinae e Platypodinae (Insecta, Coleoptera)

A New Trap Model for Scolytinae and Platypodinae (Insecta, Coleoptera)

RESUMO

O monitoramento de insetos é atividade relevante no processo de avaliação da sanidade de povoamentos florestais, bem como em estudos ecológicos. Dessa forma, geralmente, os levantamentos são realizados utilizando-se armadilhas de captura. Em especial para os grupos Scolytinae e Platypodinae, são empregadas armadilhas de impacto, iscadas com álcool 96 ºGL. Sendo assim, este trabalho tem o objetivo de descrever um novo modelo desse tipo de equipamento, denominado SEMIFUNIL. O projeto propõe o uso de materiais alternativos na fabricação da armadilha: garrafa PET de 2000 mL, mangueira plástica, prato plástico e arame, buscando com isso redução de custos.

Palavras-chave:  monitoramento de insetos; insetos xilófagos; entomologia florestal

ABSTRACT

The insect monitoring is a relevant activity in the process of assessing forest stands health, as well as in ecological studies. Thus, in general, surveys are conducted using capture traps; for the Scolytinae and Platypodinae especially, groups impact traps are used, baited with alcohol 96 ºGL. This paper aims to describe a new trap model, denominated SEMI-FUNNEL. The project suggests the use of alternative materials in the trap manufacturing: 2000 mL PET bottle, plastic hose, plastic plate and wire, thereby seeking the reduction of costs.

Keywords:  insect monitoring; xylophagous insects; forest entomology

O estudo da ocorrência de insetos é prática importante no monitoramento da sanidade de povoamentos florestais, bem como em estudos ecológicos. Essa atividade, geralmente, é realizada utilizando-se armadilhas para captura de insetos (Carvalho, 1998).

Nesse contexto, as coleobrocas pertencentes às subfamílias Platypodinae e Scolytinae são consideradas, dentre os insetos monitorados em povoamentos florestais, os grupos mais relevantes. Embora no Brasil sejam pragas secundárias em reflorestamentos, proporcionam danos expressivos na madeira de toras recém-abatidas quando no campo expostas.

O aumento da população desse grupo de insetos em um povoamento florestal, que pode ser detectado pelo uso de armadilhas etanólicas, sugere que as árvores estão sob estresse, o que gera condições para a atração desses insetos. Nesse contexto, Penteado et al. (2011) relataram essa situação em reflorestamento de Azadirachta indica A. Juss (Meliaceae), tendo considerado Scolytinae como bioindicador do declínio das árvores.

Mediante ao exposto, entende-se que a armadilha etanólica, quando utilizada nesse contexto, é componente importante dessa atividade. Desse modo, implementar projetos desse tipo de equipamento, que proponham armadilhas baratas, eficientes e práticas, ou mesmo trabalhos que avaliem condições de uso desses equipamentos, são informações almejadas nas pesquisas que versam sobre o aprimoramento das etapas do monitoramento de insetos. Concernente a essas pesquisas, há trabalhos que propõem um modelo de armadilha que explora a atração primária de toras à Scolytinae (Flechtmann & Gaspareto, 1997), armadilha etanólica (Berti-Filho & Flechtmann, 1986), análises da influência da cor e da altura de instalação de armadilhas na captura de Scolytinae (Strom & Goyer, 2001; Chen et al., 2010), projetos que propõem o uso de materiais reciclados na fabricação desses equipamentos (Moser & Browne, 1978; Carvalho, 1998; Murari et al., 2012; Steininger et al., 2015) e, por fim, pesquisas que analisam a eficiência de captura de diferentes modelos de armadilha (Carrano-Moreira et al., 1994; Flechtmann et al., 2000).

No trabalho de Carvalho (1998), em que é descrito o projeto da armadilha Carvalho-47, fabricada, entre outros materiais, com uma garrafa PET, é apresentado o primeiro modelo brasileiro com esse tipo de material, cuja estrutura é toda feita com materiais reciclados. Iniciativa essa que viabilizou uma armadilha barata, prática e com eficiência comprovada em diversas pesquisas (Carvalho et al., 1996; Ferraz et al., 1999).

Diante dessa conjectura, este trabalho descreve o modelo de uma nova armadilha, denominada SEMIFUNIL. A construção desta armadilha é realizada utilizando-se materiais alternativos: garrafa PET de 2000 mL, um pote com tampa plástica, prato plástico, mangueira de 5 mm de diâmetro por 31 cm de comprimento e arame, de acordo com as seguintes etapas:

  1. 1
    Corte as porções correspondentes ao fundo e ao gargalo da garrafa, utilizando como guia ao corte a própria marcação presente na garrafa. O gargalo será transformado em funil coletor (Figura 1c). Descarte a porção do fundo e reserve o corpo da garrafa.
    Figura 1
    Vista frontal: (a) Prato protetor; (b) Painel interceptador “semifunil”; (c) Funil coletor; (d) Frasco armazenador; (f) Mangueira porta-isca; (e) Arame fixador.
  2. 2

    O corpo da garrafa, que nesta etapa apresenta-se como um segmento cilíndrico, deve ser cortado em duas partes simétricas. A marcação para realização do corte simétrico é obtida pelo achatamento do cilindro. Após o corte, posicione essas duas peças de costas uma para a outra, grampeando-as na extremidade superior. Após grampeamento, dobre as pontas da parte inferior de cada peça até que se cruzem. Utilizando um arame aquecido (Figura 1e), fure as pontas cruzadas, originando um “semifunil” na parte inferior de cada painel (Figura 1b).

  3. 3
    Instale a mangueira plástica entre os dois painéis já fixados pelo grampeamento, de modo que uma ponta fique posicionada na parte frontal superior esquerda de um dos painéis, e a outra na parte frontal superior direita do outro painel. Ambas fixadas por orifício previamente feito em cada painel (Figuras 1f, 2f e 3).
    Figura 2
    Vista lateral das peças : (b) Painel interceptador; (e) Arame fixador; (f) Mangueira porta-isca; (d) Frasco armazenador.
    Figura 3
    Vista lateral da armadilha: (e) Eixo fixador (arame rígido).
  4. 4

    O mesmo arame que origina os “semifunis” dos painéis serve para fixar ambos no funil coletor, funcionando como um eixo fixador (Figuras 1e, 2e e 3e). Esse eixo também é obtido pelo aquecimento do arame com posterior furação no funil coletor (Figura 3e).

  5. 5

    Fure a tampa do frasco coletor utilizando um cano de metal aquecido, de dimensões suficientes para que o orifício produzido sirva de encaixe para a rosca do funil coletor (Figura 1d, 2d). Obs.: Deve-se usar a tampa da garrafa PET, tendo o fundo sido retirado previamente, como elemento de fixação da tampa do frasco coletor na rosca do funil coletor.

  6. 6

    Fixe o prato plástico na parte superior da armadilha, utilizando-se de um arame flexível e de um orifício nele produzido (Figura 1a). O arame deve ser dobrado na parte superior do prato, garantindo assim sua amarração.

Para utilização da armadilha no campo, a mangueira deve ser abastecida com álcool 96º GL, adotando-se uma seringa para esse procedimento. No frasco armazenador, a mesma substância deve ser empregada como conservante para os insetos capturados. Recomendam-se amostragens semanais ou quinzenais para levantamentos de coleobrocas, renovando-se o álcool a cada coleta.

Avaliando a eficiência de captura de quatro armadilhas, Bossões (2011) registrou que os modelos SEMIFUNIL, Marques-Pedrosa, Carvalho 47 e Carvalho-47 adaptada, coletaram, em números percentuais: 39,65; 24,91; 19,81; e 15,6, respectivamente, do total de escolitíneos, em monitoramento realizado durante um ano. O autor relata ainda que o número médio de escolitíneos capturados pela armadilha SEMIFUNIL (47±53), demonstrou-se igual estatisticamente quando comparado com os valores fornecidos pelas armadilhas Marques-Pedrosa (30±25) e Carvalho-47 (24±24), diferindo apenas da Carvalho-47 adaptada (19±17), pelo teste de Kruskal-Wallis a 5% de significância. Porém, o autor informa também que mesmo não possuindo a maior área interceptadora de insetos, 480 cm2, a armadilha SEMIFUNIL demonstrou-se com eficiência de captura análoga ao modelo Marques-Pedrosa, que possui maior área interceptadora, 1495 cm2, no entanto, não possui as vantagens de ser confeccionada com material reciclado e coletar menos resíduos. Em relação à comparação com o modelo Carvalho-47, Bossões (2011) ainda observou que embora a eficiência de captura também tenha sido similar estatisticamente ao equipamento descrito neste trabalho, a Carvalho-47 foi a única armadilha que forneceu valores médios estatisticamente iguais aos valores da armadilha Carvalho-47 adaptada, modelo este que se demonstrou estatisticamente menos eficiente na captura dos escolitíneos.

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015
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