Resumo
Apresenta-se uma história da escola rural mista inicialmente chamada “Escola de São Francisco” (1955-1974), e, por fim, como “Escola Francisco de Assis” (1974-2003). O recorte temporal abordado é de 1955, quando a escola foi fundada pelos religiosos franciscanos, a 1983, quando as Irmãs Catequistas Franciscanas, atuantes na escola desde 1964, deixaram essa instituição. O texto, inicialmente, aborda o período em que a escola foi caracterizada pelo trabalho dos professores leigos, contratados pelos franciscanos (1955-1963) e, em um segundo momento, pelo trabalho desenvolvido pelas Irmãs (1964-1983). Do ponto de vista teórico-metodológico, para o desenvolvimento da pesquisa, buscou-se respaldo na História Cultural e História Oral Temática. Os resultados indicam que as religiosas fizeram um trabalho de evangelização, fomentando a construção de uma ordem social moralizante por meio de suas práticas diárias com a comunidade, dedicando-se à missão de trabalhar a construção de valores cívicos e morais.
Palavras-chave: Professor leigo; ordens religiosas; ensino rural; Sul de Mato Grosso
Resumen
Presenta una historia de la escuela rural mixta inicialmente denominada “Escuela de São Francisco” (1955-1974), y, finalmente, como “ESCUELA FRANCISCO de ASSIS” (1974-2003). El marco temporal abordado es desde 1955, cuando el colegio fue fundado por religiosas franciscanas, hasta 1983, cuando las hermanas franciscanas catequistas, activas en el colegio desde 1964, abandonaron esta institución. El texto aborda inicialmente el período en el que la escuela se caracterizó por el trabajo de los maestros laicos, contratados por los franciscanos (1955-1963) y, en un segundo momento, por el trabajo realizado por las hermanas (1964-1983). Desde el punto de vista teórico-metodológico, para el desarrollo de la investigación se buscó apoyo en la historia cultural y la historia oral. Los resultados indican que los religiosos realizaron una labor de evangelización, promoviendo la construcción de un orden social moralizador a través de sus prácticas cotidianas con la comunidad, dedicándose a la misión de trabajar en la construcción de valores cívicos y morales.
Palabras clave: Maestro laico; órdenes Religiosas; Educación rural; Sur de Mato Grosso
Abstract
It presents a history of the mixed rural school initially called “São Francisco School” (1955-1974), and, finally, as “Francisco de Assis School” (1974-2003). The time frame addressed is from 1955, when the school was founded by franciscan religious, to 1983, when the franciscan catechist sisters, active in the school since 1964, left this institution. the text initially addresses the period in which the school was characterized by the work of lay teachers, hired by the franciscans (1955-1963) and, in a second moment, by the work carried out by the sisters (1964-1983). From the theoretical-methodological point of view, for the development of the research, support was sought in cultural history and oral history. The results indicate that the religious carried out an evangelization work, promoting the construction of a moralizing social order through their daily practices with the community, dedicating themselves to the mission of working on the construction of civic and moral values.
Keywords: Lay teacher; religious orders; rural education; Southern Mato Grosso
Résumé
Il présente une histoire de l'école rurale mixte initialement appelée « École São Francisco » (1955-1974), et, enfin, comme « École Francisco de Assis » (1974-2003). La période visée va de 1955, date à laquelle l'école a été fondée par des religieux franciscains, à 1983, date à laquelle les sœurs franciscaines catéchistes, actives dans l'école depuis 1964, ont quitté cette institution. Le texte aborde d'abord la période où l'école se caractérise par le travail des enseignants laïcs, engagés par les Franciscains (1955-1963) et, dans un second temps, par le travail réalisé par les Sœurs (1964-1983). Du point de vue théorique et méthodologique, pour le développement de la recherche, un soutien a été recherché dans l'histoire culturelle et l'histoire orale. Les résultats indiquent que les religieux ont réalisé un travail d'évangélisation, favorisant la construction d'un ordre social moralisateur à travers leurs pratiques quotidiennes avec la communauté, se consacrant à la mission de travailler à la construction des valeurs civiques et morales.
Mots-clés: Enseignant laïc; ordres religieux; éducation rurale; sud du Mato Grosso
INTRODUÇÃO
Nada na vida de uma instituição escolar acontece, ou aconteceu, por acaso, tanto o que se perdeu ou transformou, como aquilo que permaneceu. [...]. É mediando entre as memórias e o(s) arquivo(s) que o historiador entretece uma hermenêutica e um sentido para o seu trabalho e dessa dialética nasce o sentido para a história das instituições educativas (MAGALHÃES, 2004, p. 155)
Este artigo1 tem como escopo apresentar uma história da escola rural mista inicialmente chamada “Escola de São Francisco” (1955-1974), e, por fim, como “Escola Francisco de Assis” (1974-2003). O recorte temporal abordado aqui é de 1955, quando a escola foi fundada pelos religiosos franciscanos, a 1983, quando as Irmãs Catequistas Franciscanas, atuantes na escola desde 1964, deixaram essa instituição.
Como objetivos específicos, o texto, inicialmente, aborda o período em que a escola foi caracterizada pelo trabalho dos professores leigos, contratados pelos franciscanos (1955-1963) e, em um segundo momento, pelo trabalho desenvolvido pelas Irmãs Catequistas Franciscanas (1964-1983). Dessa forma, para analisar a instituição escolar, buscaram-se respostas para o problema central da pesquisa, a saber: como se deu o processo de criação e instalação da Escola Francisco de Assis e quais foram as transformações ocorridas, tendo em vista os nexos estabelecidos com a comunidade local no período de 1955 a 1983? Espera-se, assim, contribuir para a História da Educação escolar do Sul de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul (SMT/MS) 2, bem como com os estudos sobre instituições escolares rurais (CHALOBA; CELESTE FILHO; MESQUITA, 2020; CHALOBA; LIMA), assumidas, pelo menos em um período de sua existência, por congregações religiosas católicas (BORBA, 2019; KANTOVITZ; OTTO, 2016; RODELINI, 2022). Antes, porém, são apresentados alguns antecedentes desta escola, bem como a abordagem metodológica, a fim de possibilitar a compreensão da narrativa historiográfica.
ANTECEDENTES HISTÓRICOS
A então denominada “Escola de São Francisco” foi fundada, em 1955, por padres franciscanos na cidade de Itaporã - SMT/MS, constituindo-se, de início, em uma iniciativa religiosa e particular na educação primária e rural dessa localidade, instalada precisamente no “Lote dos padres”, no Bairro São Francisco. Esse lote referia-se a uma área inicial de 40 hectares de terra recebida pelos franciscanos, em 1950, como doação da Colônia Municipal de Dourados (CARLI, 2008), a qual, por sua vez, deu origem, em 1953, ao município de Itaporã (Cf. JANCZESKI, 2023; FREIRE et al., 2006). Vindos da Alemanha, após perseguições nazistas (1933-1945) (MARIN, 2011, 2012), os franciscanos tinham se instalado no sul de Mato Grosso desde 1938 (KNOB, 1988), inicialmente em Entre Rios, atual Rio Brilhante - MS.
Knob (1988) ressalta que o Lote dos Padres, chamado pelos franciscanos de Chácara de São Francisco, se tornou uma casa filial da residência fixada pertencente ao Comissariado franciscano de Mato Grosso, primeiro de Campo Grande, e, a partir do ano de 1970, de Dourados. O autor relata sobre o propósito da Chácara São Francisco e as principais construções feitas pelos franciscanos na localidade até 1970:
[...] foi organizada [a chácara] para garantir o sustento do Seminário Franciscano em Rio Brilhante. Constava de uma área de 120 ha de terra boa3. Aí foram construídos: a capela de S. Francisco das Chagas, residência dos Franciscanos, escola rural, olaria e diversas casas para os agregados. (KNOB, 1988, p. 103).
Como a administração religiosa da Chácara de São Francisco estava sob a responsabilidade dos padres franciscanos, que já tinham como missão evangelizar a população com o catolicismo, a educação poderia ser um complemento à disseminação da fé católica. Em mensagem escrita aos confrades, Frei Eucário Shmitt, superior responsável pela missão franciscana em Mato Grosso, demonstrava a intenção de criar escolas para conversão com base na religiosidade. Na mensagem, ele explica que era mais fácil influenciar pela escola, pois segundo sugere, saber ler e escrever facilitaria no catecismo. Knob (1988) assim descreve a mensagem do frade franciscano:
Não há que se duvidar: precisamos de escolas que estejam sob nossa influência. Elas são uma condição prévia para uma atividade frutuosa. Por isso vamos fundar em todos os lugares um colégio, uma escola paroquial de ensino primário, de 5 anos, para meninos e meninas, com internato para meninas. Essa escola será inteiramente confiada às irmãs, nós mesmos não teremos nada a ver com ela [...] não interessa, porém, nenhum estabelecimento de ensino secundário. (KNOB, 1988, p. 73).
Em toda a localidade do Lote dos Padres não havia escola e os moradores não tinham como levar e buscar os filhos e agregados para estudarem na sede do município, em Itaporã, visto a dificuldade de locomoção e o tempo que os pais não disponibilizavam, pois estavam se dedicando ao trabalho na terra. Dessa forma, os moradores cujos filhos estavam em idade escolar sentiam a necessidade de um ensino primário para as crianças. O anseio pela escola só aumentava de acordo com o número de famílias de colonos que chegavam à região, em um período conhecido pela “marcha para o oeste”, que fora impulsionado pelo Estado Novo (1937-1945) (NAGLIS, 2014).
Assim, criou-se a escola rural mista na Chácara dos Padres. Atendida por professores leigos durante seus primeiros anos (1955-1963), contratados pelos padres franciscanos, com alguma subvenção pública, a escola tornou-se municipal (1974-1981) e, por fim, instituição escolar estadual (1981-2003), quando foi desativada. As primeiras aulas ocorreram de forma improvisada, na capela que fora construída pelos franciscanos em seu lote. Em seguida, ainda na década de 1950, com a ajuda dos padres e da comunidade, além do auxílio do governo estadual, foi construída uma pequena escola rural de madeira (REBEQUE, 2022). Os professores leigos aí ministraram suas aulas até a chegada das Irmãs Franciscanas Catequistas, em 1964, o que se torna relevante compreender como parte da história da educação escolar do SMT/MS, haja vista os objetivos “civilizatórios” e catequéticos da Igreja Católica na região. Por fim, o prédio de alvenaria só foi construído em 1980, demonstrando, na materialidade, o avanço e a relevância que a instituição alcançou no local.
ABORDAGEM HISTORIOGRÁFICA
Do ponto de vista teórico-metodológico, para o desenvolvimento da pesquisa, buscou-se respaldo na História Cultural (CHARTIER, 1990). Esta permite que os olhares se voltem para as especificidades humanas e que o pesquisador busque novas abordagens, aproximando-se dos indivíduos de uma sociedade, no desenvolvimento de suas múltiplas práticas e representações cotidianas, na forma como leem seu mundo e a ele dão sentido. “Essas maneiras de fazer constituem as mil práticas pelas quais usuários se apropriam do espaço organizado pelas técnicas de produção sócio-cultural” (CERTEAU, 1998, p. 41).
O trabalho se ancorou também na abordagem da História Oral Temática como ferramenta metodológica de investigação, que permite ao historiador ampliar os modos de problematizar e interpretar o objeto pesquisado, além de possibilitar a abordagem de diferentes grupos sociais. Afirma Branco (2020, p.12), “Em se tratando da História Oral Temática, busca-se, a partir de um assunto específico, a narrativa de um entrevistado sobre evento definido, preestabelecido. Os detalhes da vida do narrador e as experiências pessoais adquirem interesse à medida que revelam aspectos vinculados à temática central”.
Nesse sentido, a História Oral, de modo amplo, viabiliza a produção de uma documentação histórica que foge da rigidez dos documentos oficiais, permitindo a investigação e questionamentos para além do já produzido. Esses documentos são singulares, pois são frutos dos diálogos ocorridos entre o pesquisador e o participante da pesquisa (FERREIRA; AMADO, 2006), tendo-se como mote, neste caso, a história da escola. No Quadro 1, são listados os nomes dos participantes da pesquisa que colaboraram com depoimentos orais sobre a história da referida instituição.
Os participantes foram esclarecidos sobre as condições éticas e propósitos da pesquisa mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)4, o qual foi assinado por eles, expressando sua concordância e participação voluntária. A partir daí, foram iniciados os diálogos, sendo alguns realizados de forma presencial e outros por meio de mensagens de voz e de texto em aplicativos de mensagens, além de informações escritas por correspondência. As entrevistas foram gravadas em áudio e armazenadas digitalmente em um banco de dados. Todos os participantes citados no Quadro 1 aceitaram ter seus nomes revelados na pesquisa, portanto, não há nomes fictícios neste estudo.
Recorreu-se a arquivos pessoais de ex-alunos e ex-diretores, por meio dos quais se obteve acesso a alguns documentos da escola, como com a ex-professora e ex-diretora Marlene Barbosa Sampaio, nascida no ano de 1950, que atuou na escola como diretora a partir do ano de 1983 até 1993. Ela organizou os documentos em uma pasta catálogo com a finalidade de conservá-los, preservando a memória da instituição. Também foi possível localizar com o senhor Milton Rebeque, ex-aluno e ex-morador do Bairro São Francisco, alguns livros de registros escolar, os quais estão nomeados em sua capa como: República dos Estados Unidos do Brasil - Convênio de Estatísticas Educacionais de 1931 e Registro Escolar: matrícula, frequência diária e aparelhamento escolar5.
Ainda em busca de documentos para a pesquisa histórica, foram exploradas fontes iconográficas de arquivos pessoais de ex-alunos(as), pais de ex-alunos(as), ex-professoras e ex-diretora. Essas pessoas foram fundamentais para o enriquecimento das fontes históricas, o que possibilitou a pesquisa de fotografias relacionadas à Escola Francisco de Assis, em diferentes momentos dessa instituição escolar, desde quando as Irmãs estavam na direção da escola. Para Mauad (1996, p. 10), “Do ponto de vista temporal, a imagem fotográfica permite a presentificação do passado, como uma mensagem que se processa através do tempo [...]”.
A autora explicita que a fonte histórica pode ser vista como monumento fabricado pela sociedade, um produto cultural que pode carregar interesses de despertar certos comportamentos e representações de classe nos grupos sociais. Por trás de uma fotografia existe um fotógrafo que escolheu o melhor ângulo e a melhor cena, movido pelo seu interesse ou pelo interesse do contratante, objetivando transmitir ideias, comportamentos, modos de vida, entre outros propósitos (MAUAD, 1996). A fotografia pode apresentar intencionalidades, ser manipulada com intuito de beneficiar uma causa, propagar valores, ideologias, tradições etc. Por isso, a fonte iconográfica deve passar por questionamentos e interpretações para que seja analisada.
A Irmã Anita David, secretária da Província6 Santa Tereza do Menino Jesus, em Mato Grosso, onde também residia, à época da escrita deste texto (2022-2023), a Irmã Feliciana, uma das primeiras Irmãs da Congregação Catequistas Franciscanas a chegarem ao município de Itaporã, contribuiu com informações dos arquivos da secretaria dessa Província, em Rondonópolis-MT. Essas informações foram enviadas, pela religiosa, junto a correspondências escritas, com o documento Histórico-Itaporã (DAVID, 2022), além de escritos enviados por ela mediante mensagem eletrônica via e-mail, que esclareceram sobre a presença das religiosas na instituição escolar visada.
OS PROFESSORES LEIGOS
Em Mato Grosso, na década de 1950, o sistema educacional se desenvolvia lentamente. A situação era delicada quanto à formação de professores e a extensão territorial acentuava o problema. O ensino primário contava com quase 80% de professores leigos. Frente à alta demanda em busca do ensino primário, o Estado não poderia se abster dos professores leigos, que era uma opção para amenizar a falta de docentes diplomados. Um agravante é que muitos dos professores leigos não possuíam nem o curso primário completo, acentuando, assim, a deficiência do ensino (ALMEIDA; PINTO, 2018).
A situação em Itaporã, no então sul de Mato Grosso, era essa, de modo que, no Bairro São Francisco, a contratação de professores era um desafio. Além de todos esses fatores, o lugar era distante da sede do município e apresentava estradas pouco acessíveis para a locomoção, principalmente quando chovia, devido às estradas de terra que formavam muito barro e podiam ficar intransitáveis. Esses empecilhos contribuíam para que os padres encontrassem dificuldades para contratar professores, mesmo leigos, interessados em ministrar aulas na localidade ou nela permanecer.
O professor que ficou mais tempo na escola, nesse período, foi o Sr. Ismar, migrante de São Paulo. Segundo ele, sua formação foi somente o primeiro ano da Escola Técnica de Comércio em São Paulo (MOREIRA; 2022; MOREIRA, I. 2022). O Sr. Ismar ainda é muito lembrado pelas pessoas da região por ter trabalhado por alguns anos na escola, conforme consta em seu contrato, que gentilmente ele apresentou de seu arquivo pessoal. Verifica-se, no documento, o acordo para que o Sr. Ismar Moreira ministrasse aulas desde 1º de março do ano de 1958 até o último dia do mês de fevereiro do ano de 1962 (Figura 1).
O contrato se apresenta como locação de serviço de ensino no curso primário para ambos os sexos de uma Escola Mista particular onde a Diretoria da Sociedade São Francisco de Assis, tendo como diretor o Frei Antonino Schwenger, contrata Ismar Moreira7 para atuar como professor. Segundo o documento, as aulas aconteceriam em dois turnos: diurno e noturno. O professor Ismar possuía poder de nomear uma outra pessoa para trabalhar na escola em um dos períodos, sendo isso de sua responsabilidade. O professor Ismar trabalhou com alunos em sala multisseriada em um período. Sua esposa, em outro período, com o primeiro ano de alfabetização, e, no noturno, o professor trabalhava com o curso adulto, pois Frei Antonino queria muito que os adultos aprendessem a ler e a escrever (MOREIRA, 2022; MOREIRA, I. 2022).
De acordo com a Lei Orgânica (do ensino primário de Mato Grosso) nº 452/1951:
Artigo 2º - O ensino primário abrangerá duas categorias de ensino:Artigo 3º - O ensino primário fundamental será ministrado em dois cursos sucessivos: o elementar e o complementar. Artigo 4º - O ensino primário supletivo terá um só curso o supletivo. (MATO GROSSO, 1951, n.p.).
o ensino primário fundamental, destinado às crianças de sete a doze anos;
o ensino primário supletivo, destinado aos adolescentes e adultos.
Nos escritos do livro de Registro Escolar: matrícula, frequência diária e aparelhamento escolar, consta o nome da esposa do professor Ismar, Sra. Iraildes Moreira, que assina como professora. Essa informação vem ao encontro da fala de Ismar e é confirmada pela Sra. Iraildes, cuja formação era somente no ensino primário, sendo, portanto, professora leiga (MOREIRA, 2022; MOREIRA, I., 2022). Sobre o pagamento ao professor, de acordo com o contrato, interpreta-se que a Diretoria da Sociedade São Francisco de Assis receberia ajuda de custo do Governo; porém, ela era a responsável por cumprir o valor combinado e, caso houvesse falha no pagamento por parte do Estado, a Diretoria ficava na obrigação de realizar o pagamento total. Ainda no contrato, o Frei Antonino, como diretor, constava como responsável por ceder o local, móveis, utensílios e iluminação para o funcionamento da escola, bem como moradia para o professor, que, por sua vez, deveria zelar pelos bens da escola e manter boa disciplina escolar.
Assim, o Sr. Ismar lecionou por anos na Escola de São Francisco, onde ficou muito conhecido e, atualmente, ainda é lembrado pela rigidez na disciplina e cuidado com a instituição, como lembra a Sra. Marlene, ex-professora e ex-diretora da escola nas décadas de 1980 e 1990:
[...] tinha, na época, na escola, que o povo falava muito, era o professor e o responsável pela escola, o Sr. Ismar. O povo falava que ele era bravo, bravo, bravo, mais bravo do que eu. O seu Ismar era muito famoso ali [...]. Bravo, ele cobrava essa tarefa. (SAMPAIO, 2022).
Após o professor Ismar se mudar da localidade, quem assumiu as aulas no Bairro São Francisco foi o Sr. Reinaldo Doreto, então contratado pelo frei Liberato, como ele próprio relata, afirmando que foi professor na localidade do Bairro São Francisco. O entrevistado lembra que o frade o procurou com a intenção de contratá-lo para ministrar aulas no Bairro São Francisco, mas ele já estava lecionando na sede do município de Itaporã. Ademais, para aceitar o trabalho, o professor precisava morar no Lote dos Padres, devido à dificuldade de locomoção, e, nessa época, já havia 120 crianças estudando. Doreto considerava, portanto, uma responsabilidade muito grande lecionar para tantos alunos, por mais que sua esposa o ajudasse, pois ela também ministrava aulas. A princípio, o professor negou o trabalho.
Segundo Doreto (2022) rememora, o problema era que o professor Ismar e sua esposa, ambos ministrantes de aulas na localidade, estavam decididos a se mudar, e, por isso, o frade precisava muito de um professor para atender a clientela de 120 alunos. O franciscano, em decorrência disto, lhes propôs dois salários, um para ele e um para sua esposa, mais um salário de bonificação para que o professor se mudasse para a localidade e ministrasse as aulas. Só então Reinaldo aceitou a proposta e deslocou-se para o Bairro São Francisco.
É, precisava morar lá, porque de Itaporã [até] lá é muito longe8, é quase dezessete ou dezoito quilômetros, não sei [...]. Então, para ir dois professores todo dia lá, era muito difícil, ou três professores. Então, como eu era casado, aproveitou o meu serviço. [...] Era só eu e minha esposa. Ela assumiu uma classe do segundo ano. Ah, primeiro, eu fiz uma classe do segundo ano, no primeiro horário; no segundo horário já peguei uma classe só de primeiro ano e, na outra classe, eu peguei terceiro e quarto ano. (DORETO, 2022).
O entrevistado também se lembra que, na época, ele e sua esposa foram morar na escola, pois não havia casa na localidade capaz de abrigá-los: “É, fui pra lá. Ah, a nossa casa era... A metade era a escola e a metade era residência, só tinha um espaço no meio” (DORETO, 2022). Assim, a escola foi se desenvolvendo e ficando cada vez mais popular; a quantidade de alunos crescia a cada ano. Se em 1955 havia 37 alunos, em 1962, conforme conta o Sr. Reinaldo, esse número era 120. Embora enfrentassem dificuldades para chegar até a escola, os pais de alunos não mediam esforços para que seus filhos estudassem no Bairro São Francisco. O diálogo com os participantes da pesquisa complementa o exposto. Eles relatam que a escola ficou na memória, pois era muito boa e que na região não houve uma escola tão significativa quanto a do Bairro São Francisco. Nesse caso, como lembra Magalhães (2004, p. 127, grifo nosso), é necessário ponderar que:
As instituições educativas, como as pessoas, são portadoras de uma memória e de memórias. Essas memórias-representação, frequentemente assentes na transmissão oral, revelam-se fixistas, cíclicas, fruto de olhares particulares e consubstanciam-se em relatos dispersos, memórias factuais e justificativas de destinos de vida, marcadas não raro por arbítrios e exageros de vária ordem.
Rebeque (2022) fala orgulhoso da escola em que estudou: “É, ela [a escola] ajudou muita gente e todo mundo admirava. Os alunos lá da escola, lá do Bairro, eram os alunos mais educados e mais inteligentes” (REBEQUE, 2022). Percebe-se que a lembrança da escola ficou registrada na memória do entrevistado como um legado, uma recordação positiva, que se pretende perpetuar. “A narrativa de determinados acontecimentos e situações cristaliza realidades que são condensadas e carregadas de sentido” (ALBERTI, 2008, p. 186). Lembranças estimuladas pela memória são constituídas pelo sentimento de pertencimento à escola e à sociedade em que se vive. Quando o Sr. Sebastião relembra da escola, percebe-se que suas recordações são carregadas de significados e vivências pessoais, mas também de memórias formadas coletivamente ao longo do tempo (LUCHESE; GRAZZIOTIN, 2015).
Conforme conta o professor Reinaldo (2022), na época inicial, a escola era composta apenas pelos professores e alunos. Quando questionado sobre funcionários, como, por exemplo, merendeira e outros, o entrevistado afirma:
Não, não, era só nós mesmo. Quando tinha que fazer algum serviço na escola, a gente convocava a meninada e eles faziam. Colocava os alunos pra fazer, pra carpir [sic - referindo-se a capinar], pra limpar tudo; a gente colocava os alunos. [...] Não, não tinha merendeira, não tinha nada. Só tinha um livro pra chamada dos alunos. (DORETO, 2022).
Ainda em relação às aulas, o entrevistado explica seu trabalho com três turnos de aula: “Ah, eu pegava uma turma das seis às dez com quinze minutos de recreio, das dez às duas com quinze minutos de recreio, das duas às dezoito com quinze minutos de recreio” (DORETO, 2022). O Sr. Doreto foi o último professor desse primeiro momento a trabalhar na escola antes da chegada das Irmãs Catequistas Franciscanas.
AS IRMÃS CATEQUISTAS FRANCISCANAS NA ESCOLA DO BAIRRO SÃO FRANCISCO
As duas primeiras Irmãs da Congregação Catequistas Franciscanas a chegarem ao município de Itaporã foram as Irmãs Feliciana Bento e Reinildes Reisdoerfer, tendo isso ocorrido no dia 25 de fevereiro de 1964 (KNOB, 1988). A Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas emergiu no contexto católico, buscando suprir as necessidades de educação, saúde, assistência social. Assim, as religiosas assumiram como missão viver no meio do povo, tendo a identidade professoral centrada em crenças da Igreja católica. Os imigrantes italianos foram os criadores da Congregação, porém, essa companhia emergiu junto aos princípios franciscanos alemães. A Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas foi oficializada em 14 de janeiro de 1915, na cidade de Rodeio-SC, e teve como fundador o frei Polycarpo Schuhen e três jovens: Amábile Avosani, Maria Avosani e Liduína Venturi (KANTOVITZ; OTTO, 2016).
Essas missionárias, ainda no ano de 1964, iniciaram sua contribuição na então Escola de São Francisco, no Lote dos Padres. Além disso, também estavam presentes na catequese, na liturgia da Igreja e em visitas pela localidade e região, como registrado no documento: Histórico-Itaporã - Obras e serviços anexos-escola primária e pastoral paroquial:
Casa Madre Avosani foi estabelecida a pedido dos padres franciscanos, na pessoa de frei Liberato, os quais doaram às Irmãs a casa mobilada e escola. As pioneiras Irmãs Feliciana Bento e Reinildes Reisdorfer, assumiram a direção da escola e a Pastoral da Comunidade (DAVID, 2022, n.p.).
Abaixo, no Quadro 2, consta o nome dos professores dessa época (1964-1980) baseada nos documentos pesquisados e analisados e nas informações obtidas com os participantes da pesquisa que colaboraram por meio de suas memórias. Ainda assim é possível que algum nome não conste devido à dificuldade de se obter todas as informações da época. Também não foi possível precisar o período durante o qual cada professor(a) trabalhou na escola. Dessa maneira, os nomes foram escritos em ordem alfabética da esquerda para a direita. Fica patente que, em relação aos professores, além das Irmãs Catequistas que trabalharam na escola lecionando e administrando a instituição desde o ano de 1964, outros educadores contribuíram com a escolarização ofertada durante os anos em que as Irmãs estiveram por ali. A centralidade, porém, era o trabalho das religiosas nesse momento.
A missão exercida pelas Irmãs Catequistas no Bairro São Francisco foi acompanhada de dedicação e esforços em favor de uma comunidade que enfrentava os desafios da colonização. O início de uma vida no interior do sul de Mato Grosso, com carência de recursos, não era fácil, mas os moradores foram amparados pelos missionários que tentavam se organizar da melhor forma para atender as necessidades educativas, religiosas e de saúde da comunidade. Segundo o documento enviado pela Irmã Anita David, no ano de 1969, uma das Irmãs ficou responsável pela Pastoral da Catequese em mais de vinte escolas da Paróquia de Itaporã, e, para ajudar no deslocamento, as religiosas receberam “[...] da Missão Franciscana um carro ‘Jeep’ com o custeio do combustível” (DAVID, 2022). Ainda conforme seu relato, naquele referido ano, as Irmãs não tiveram salário, mas no ano de 1970 passaram a receber pagamento da prefeitura. No ano de 1971, com ajuda da Alemanha, trocaram de carro e compraram uma Rural, para que o seu deslocamento fosse melhorado e o seu trabalho, facilitado. As Irmãs Feliciana Bento e Reinildes Reisdorfer foram as pioneiras em assumir a direção da Escola Francisco de Assis, além da Pastoral da Comunidade.
A Irmã Feliciana Bento, nascida no ano de 1933, em Pedras Grandes, no município de Tubarão-SC, cursou o primário em sua cidade natal e, mais tarde, cursou o magistério em Rondonópolis, Mato Grosso, Licenciatura curta em Administração Escolar em Corumbá-MS9 e Licenciatura Plena em Barretos-SP. Além disso, a religiosa fez cursos na área da catequese. A Irmã Clélia Maria Cattoni, também missionária integrante do grupo de professoras/diretoras da escola, nasceu em 1932, no atual município de Rio dos Cedros-SC. A Irmã escreveu sobre seus estudos e contou que cursou o primeiro grau em seu estado; depois, fez o Normal Regional e o magistério em Rondonópolis-MT e iniciou a faculdade de Ciências em Glória de Dourados-MS10. Sobre a vida religiosa, a Irmã Clélia conta que sempre prezou pela vida fraterna e relembra que:
Quando o diretor da Congregação fez o apelo convidando irmãs que se candidatassem à missão em Mato Grosso, me tocou profundamente, no terceiro convite eu criei coragem e disse SIM. Vim então para o Mato Grosso em companhia de Irmã Rosa Vavassori, no início de fevereiro do ano 1954. (CATTONI, 1999).
A religiosa rememora que saía nas comunidades para evangelizar o povo, e trabalhou com catequese, liturgia, cantos, e que gostava muito de trabalhar em escola. Sobre o período durante o qual ficou no Bairro São Francisco, a Irmã escreve: “A Chácara São Francisco, em Itaporã-MS, foi um lugar que me marcou muito. Lá fui professora e diretora da Escola durante oito anos, gostava do jeito do povo e da forma de desenvolver a missão” (CATTONI, 1999). Ela comenta as dificuldades que as religiosas passaram nos “[...] primeiros anos da missão no Mato Grosso: povo isolado nas fazendas, estradas de difícil acesso, medo das onças e cobras, povo sedento de evangelização” (CATTONI, 1999).
A Irmã Maria Caetana Fachini, que também contribuiu com a educação na localidade do Bairro São Francisco, assim como a Irmã Clélia, nasceu em Santa Catarina. Ambas receberam educação religiosa por parte das Irmãs Catequistas Franciscanas. A Irmã Maria chegou ao Mato Grosso no ano de 1970 como missionária, assumiu a direção de escolas e atuou nas pastorais das comunidades. Segundo escritos da Irmã David, a Irmã Maria Caetana Fachini sempre:
Durante vinte anos assumiu a missão de educadora, como professora e diretora de escolas em comunidades dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em 1970 veio como missionária ao Mato Grosso, assumindo a direção de escolas e o magistério escolar por 10 anos nas escolas de Santa Elvira e Itiquira no Mato Grosso e Itaporã e Caarapó no Mato Grosso Sul. Sempre assumiu a vida profissional com muito amor e carinho, sem nunca deixar de atuar também nas pastorais das comunidades. Zelou pela sua formação na área profissional, cursando Administração Escolar, bem como no campo pastoral e da vida religiosa, através de cursos de longa duração, como: Curso de Ciências religiosas, Curso de Atualização Religiosa e Teológica, CERNE (Curso de Renovação Espiritual) Metodologia Catequética, Universidade da Terceira Idade e outros. (DAVID, 2019, on-line).
A ex-professora e ex-diretora Marlene Barbosa Sampaio, entrevistada para a pesquisa, rememora que, no ano de 1968, começou a auxiliar as Irmãs Catequistas durante as aulas. No período matutino, realizava os deveres de sua casa e, no período vespertino, auxiliava as Irmãs com as aulas na escola. Durante muitos anos, Marlene esteve envolvida com a instituição escolar, começou cedo e ficou por muito tempo prestando ajuda às Irmãs. Ela conta sobre seu envolvimento com a Escola Francisco de Assis, na qual exerceu algumas funções:
Eu fui agente administrativo, que eles falam né. Eu fui professora primeiro, trabalhei dez anos na sala de aula, depois eu fui para secretaria. Eu tinha um sonho ser secretária, parecia que era o cargo mais bonito. Aí, eu fui agente administrativo que é abaixo da secretária, e depois eu fui secretária e cheguei à direção da escola. (SAMPAIO, 2022).
Segundo Marlene, na época em que auxiliava as Irmãs Catequistas, as salas eram lotadas de alunos, eram multisseriadas. Não demorou muito para ela também se “tornar professora”, mesmo sem formação adequada: “Então, depois disso, passei a ser professora. Não era formada ainda, mas, naquela época, ainda tudo se podia, né?” (SAMPAIO, 2022). Ela ainda explicita que “[...] as Irmãs eram muito exigentes [...], o conteúdo tinha que ser estudado, decorado [...]” (SAMPAIO, 2022). A entrevistada Rosa, que foi aluna na escola na época das Irmãs Catequistas, reforça a informação tratando do método tradicional a partir do qual as Irmãs trabalhavam os conteúdos, à base de decorar as atividades. Segundo esta participante, “[...] estudava[-se] bastante pra memorizar [...]” (ANDRADE, 2022).
Marlene complementa afirmando que cantar hinos fazia parte da rotina escolar; era comum toda semana cantar o hino nacional, o hino da bandeira, o hino da liberdade11. Lembra, ainda, da escola com muito orgulho: “[...] A nossa escola sempre foi organizada, sempre era pontual, era uma escola sempre ativa. [...] Ela era muito... famosa, como diz o outro. Nós recebíamos alunos de Montese, de Santa Terezinha, da Malária, de Piraporã12 (SAMPAIO, 2022).
A participação dos pais era ativa, segundo a Senhora Marlene, e a escola sempre realizava comemorações, nas quais os alunos eram participativos e tinham o apoio da família:
[...] se era um teatro do dia das mães, estava todo mundo lá; se era 7 de setembro, estava todo mundo lá [...]. Qualquer homenagem a comunidade estava lá. Se fosse religiosa e tinha uma missa, a comunidade estava, porque lá nós tínhamos só uma família evangélica: os Lázaro. (SAMPAIO, 2022).
Ainda de acordo com as lembranças da participante Marlene, as comemorações e festividades aconteciam assiduamente, os alunos do Bairro São Francisco realizavam apresentações na localidade e também na sede do município, muitas eram as datas e razões para comemorar. A entrevistada lembra: “Às vezes, as escolas daqui [Itaporã - escolas urbanas] ninguém queria; o bairro vinha, você podia ir lá na semana da pátria, a semana inteira era de atividade” (SAMPAIO, 2022). E continua:
Nós fazíamos festa para a escola, a festa dava mais que para a Igreja [...]. Olha, comemoração, eu falo assim, que a escola não tinha uma data cívica que não fosse comemorada. [...] Era dia da árvore, era dia... [...] era dia da bandeira, era dia da Proclamação da República, 7 de setembro, dia das mães. Nossa! Tinha tanto teatro, tanta coisa, sabe? E a gente vivia. (SAMPAIO, 2022).
Em relação aos professores, a senhora Marlene recorda que eram muito dedicados e trabalhavam com prazer. Ela se lembra do professor de Educação Física, Adilvo Mazzini, o qual, segundo a participante, trabalhava muito bem com os alunos e, dentre várias atividades que ele aplicava, uma delas era a pirâmide humana (Figura 2) . O professor ensaiava os alunos para as apresentações e a da Pirâmide Humana foi uma apresentação que ficou na memória de muitas pessoas. Os alunos apresentaram-na tanto na comunidade rural como também na sede do município. Como conta a entrevistada: “Uma época, o professor Adilvo Mazzini fez uma pirâmide lá [na sede], ficou linda, linda” (SAMPAIO, 2022).
A Figura 2 apresenta, ao fundo, uma parte da escola de madeira, construída pelos frades franciscanos. Na frente do prédio, há o palco onde aconteciam as apresentações. Já no pátio estão as alunas ensaiando para a apresentação da Pirâmide Humana citada por Marlene. Já a Figura 3 representa os alunos da Escola Francisco de Assis realizando apresentação na sede de Itaporã, na comemoração de 7 de setembro. É emblemático o modo como a foto foi feita, com a apresentação realizada na frente da Igreja Católica São José de Itaporã, evidenciando a unidade cultural entre civismo e religiosidade. Práticas educacionais eivadas, portanto, de representações e sentidos (CHARTIER, 1990) sobre a própria escolarização e seu papel instituinte (MAGALHÃES, 2004) de modos de ser e de fazer.
A Figura 4 permite visualizar alunas uniformizadas junto ao professor de Educação Física, Adilvo Mazzini, situado à direita. A localidade do registro é o Bairro São Francisco, onde as alunas faziam apresentações. Ao fundo, denota-se a escola de madeira, além de alguns jovens e crianças como parte do público. Conforme as narrativas dos participantes da pesquisa, a Escola Francisco de Assis sempre se envolvia e participava das comemorações com suas apresentações. Percebe-se que o professor Adilvo Manzini fez um diferencial em sua disciplina, Educação Física, treinando os estudantes para a apresentação da Pirâmide Humana. Tais práticas estavam incorporadas à cultura escolar. Conforme Julia (2001, p. 10-11, grifos no original),
[...] poder-se-ia descrever a cultura escolar como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização). Normas e práticas não podem ser analisadas sem se levar em conta o corpo profissional dos agentes que são chamados a obedecer a essas ordens e, portanto, a utilizar dispositivos pedagógicos encarregados de facilitar sua aplicação, a saber, os professores primários e os demais professores.
Desse modo, com o passar do tempo, a instituição escolar foi constituindo sua própria cultura, por meio da diversidade de suas práticas e seus modos de atuar, exercidos pelos seus integrantes. No Bairro São Francisco, por ser uma região rural, na época povoada por colonos agricultores, pessoas que plantavam, cuidavam e colhiam da terra, a lavoura era um meio de sobrevivência e fator de identificação comunitária. Tal motivo levava os professores a organizarem homenagens em datas comemorativas para esses trabalhadores do campo, conforme se vê na Figura 5, a partir da roupa da aluna de azul.
A Figura 5 registra a Irmã Catequista Clélia Cattoni, à direita, e duas alunas, à sua esquerda. Ao fundo, há algumas árvores, apresentando um lugar possivelmente rural. A roupa e os adereços da aluna à esquerda, com vestido azul, bordado com vagem de amendoim, retrata uma homenagem aos agricultores. Além disso, ela usa uma pulseira também de vagens, uma homenagem à cultura da época, o amendoim, muito plantado na região na década de 1970.
A Figura 6 registra mais uma cena do desfile de 7 de setembro, onde os alunos da escola homenageiam os agricultores da região. As cestas e roupas das alunas estão decoradas com legumes e verduras. A menina situada no primeiro plano, bem à direita, possui em seu chapéu um cacho de uva. A região, por ser agrícola, recebia homenagens, assim também como os produtores. Ainda na mesma imagem, há meninos com camisas de times de futebol. Nesse sentido, o desenvolvimento da cultura social, no Bairro São Francisco, ocorreu pela convivência entre os(as) religiosos(as) franciscanos(as), se entrelaçando com o pluralismo populacional na região. A partir dessa vivência em comunidade surgiam os desafios dos objetivos a serem alcançados, as relações e discussões em benefício da melhoria da educação na região.
O Senhor Sebastião relembra algumas de suas ações para colaborar com o desenvolvimento da escola: “[...] Lá, quando eu não era presidente, eu era vice, trocava, porque o que tinha de fazer na escola manutenção, água, energia, eu que fazia tudinho” (REBEQUE, 2022). O participante ainda complementa dizendo:
E tinha muita coisa que faltava na escola e demorava o Estado dar. Aí, a Marlene, já a Irmã Maria Fackine, ela era a diretora. Aí eu falava “compra, que eu pago”. Comprei mesa, comprei armário, comprei o arquivo para os professores, tudo com dinheiro meu. O que tem ali de material na secretaria, eu que dava. (REBEQUE, 2022).
O participante Rebeque ativa uma lembrança de um conflito vivido na época em relação ao consumo de energia elétrica para a escola. Segundo Seu Sebastião, os padres haviam colocado energia elétrica na localidade, porém, quando arrendaram as terras, os arrendatários passaram a reclamar que a escola usava a energia, um gasto que deveria, segundo os reclamantes, ficar por conta do Governo. Ele ainda relembra: “Aí, eu, como já tinha muita amizade e tudo, e mexia, vim direto aqui na CERGRAND13 e falei com o presidente” (REBEQUE, 2022).
Porém, segundo o antigo morador, o presidente da concessionária de energia se ofereceu para transferir a titularidade da energia elétrica para o seu nome; então, o Sr. Sebastião, que na época era presidente da Associação de Pais e Mestres (APM), respondeu: “[...] no meu nome eu não quero, porque hoje eu sou presidente, amanhã eu posso não ser nada” (REBEQUE, 2022). A sugestão foi passar para o nome do Estado e ainda assim ele respondeu: “Eu também não concordo”, tendo sugerido transferir para o nome da Igreja e usar para a escola. Sebastião ainda complementa: “O diretor daqui, o presidente, falou: ‘Então eu vou doar a energia, eu vou fazer uma doação aí no nome da igreja’” (REBEQUE, 2022). Sua resposta foi esta: “A Igreja, se Deus quiser, vai permanecer [...]. A escola, pode ser que o dia de amanhã ela feche e aí está no nome do Estado, então vamos pôr no nome da Igreja. Que está até hoje” (REBEQUE, 2022). Porém, a doação não foi integral e o Estado participou com uma porcentagem na contribuição do pagamento referente à energia elétrica fornecida para a escola.
Em documentações, consta que a Irmã Maria Caetana Fachini, diretora, solicitou para o agente regional de educação, por meio do Ofício nº 21/81, providência junto ao Estado para ligação e manutenção da rede de energia elétrica na escola. Oito dias após essa solicitação foi respondida afirmando que CERGRAND procederia a ligação de energia elétrica na instituição e que as despesas decorrentes do consumo mensal de energia poderiam ser enviadas ao Núcleo de Serviços Gerais da Secretaria de Educação. Assim, no dia 01 de dezembro de 1981, foi encaminhado à já denominada Escola Estadual de 1º grau “Francisco de Assis”14, em nome da Irmã Maria Caetana Fachini, a autorização para que a CERGRAND realizasse a ligação da energia elétrica.
A religiosa se responsabilizou por assinar, como diretora, os documentos referentes à Escola Francisco de Assis desde o ano de 1964 até 1982, conforme as atas de resultados finais da instituição. Deles é possível entrever que esse foi, por conseguinte, o tempo durante o qual as Irmãs Catequistas administraram a escola localizada na Chácara do Bairro São Francisco. Em meio às entrevistas, alguns dos participantes lembraram que a Irmã Feliciana e a Irmã Clélia também dirigiram a escola, a exemplo da Sra. Marlene: “[...] a primeira diretora foi a Irmã Feliciana. Quando as Irmãs vieram pra Itaporã, ela veio e foi a primeira diretora da escola [...], depois foi a Irmã Clélia, é Clélia Maria Cattoni. Depois da Irmã Clélia veio a Irmã Maria” (SAMPAIO, 2022). A imagem do certificado também oportuniza visualizar o nome da Irmã Clélia Maria Cattoni como diretora e professora em dois documentos referentes à escola, possibilitando, pois, o entendimento de que as Irmãs dirigiam a escola e ministravam aulas em conjunto ou que a Irmã Maria Caetana Fachini chegou à localidade um pouco mais tarde, porém, ficou responsável pelas assinaturas dos documentos oficiais relacionados à instituição (Figuras 7 e 8).
Durante a pesquisa foi possível verificar a grade curricular da escola na década de 1970, por meio dos boletins da Sra. Clarice Remedes Rodrigues e do Sr. Cícero José Ferreira. Nas Figuras 9, 10 e 11 consta a grade curricular fixada nos boletins dos referidos ex-alunos:
Quando observados os boletins, denota-se, no caso da ex-aluna, que a disciplina Técnicas Comerciais foi substituída por Práticas do Lar e que o Comportamento era avaliado como se fosse uma disciplina, pois consta nota no boletim. A disciplina Organização Social e Política Brasileira15 não foi avaliada. Outra alteração observável é em relação à disciplina Técnicas Comerciais que, no boletim do Sr. Cícero José Ferreira, foi alterada para Técnicas Agrícolas, o que estava consoante às demandas locais. Além disso, a disciplina de Organização Social e Política Brasileira está avaliada e a de Educação Moral e Cívica16, não;ao contrário do boletim, do mesmo ano de 1977, da Sra. Clarice.
Assim, por quase duas décadas a Escola Francisco de Assis foi dirigida pelas Irmãs Catequistas Franciscanas, que se dedicaram ao cumprimento de sua missão. No mês de março do ano de 1983, a Irmã Maria Fachini se aposentou e decidiu sair da localidade. Dessa forma, a Casa “Madre Avosani” foi fechada, evento ocorrido em 7 de junho de 1983. O motivo da saída das Irmãs da Chácara São Francisco e o fechamento da Casa é justificado nos escritos das Irmãs da seguinte forma: “A comunidade caminha bem com próprias lideranças. Necessidade de abrir novas frentes em áreas mais carentes” (DAVID, 2022). A Irmã Maria Caetana Fachini viu em sua aposentadoria uma oportunidade para continuar exercendo sua missão em outras comunidades carentes. Diante da saída das Irmãs da localidade do Bairro São Francisco, a casa e o terreno que os frades franciscanos haviam doado para as religiosas foram devolvidos por elas para a Missão Franciscana: “A casa foi devolvida à Missão Franciscana, bem como terreno” (DAVID, 2022). Vale destacar que a saída também pode ter sido motivada pelo fato de que, desde 1981, a escola fora definitivamente incorporada à rede estadual de ensino, vivenciando um processo de laicização.
Com a partida das religiosas, a escola passou a ser dirigida pela ex-professora e ex-funcionária, a senhora Marlene Barbosa Sampaio, que, de acordo com as atas de resultados finais, desde o ano de 1982 já assinava como diretora da instituição escolar, por meio da Portaria nº 173/83/ARE17. Ela era uma pessoa com experiência de trabalho junto às Irmãs Catequistas, motivo que a levou a assumir a função de diretora da Escola Francisco de Assis. A escola continuou funcionando, sob direção não religiosa, até 2003, quando, enfim, foi desativada.
Considerações finais
Após o trabalho dos professores leigos, com a chegada das Irmãs Catequistas Franciscanas aumentou-se o fôlego em busca do desenvolvimento educacional na zona rural de Itaporã, em particular no Bairro São Francisco. Além disso, as religiosas fizeram um trabalho de evangelização por meio da catequese que desempenhavam na localidade e também em comunidades vizinhas, cooperando para a construção de uma ordem social moralizante por meio de suas práticas diárias com a comunidade, dedicando-se à missão de trabalhar questões de construção de valores cívicos e moral. Elas ocuparam um lugar de acolhimento e, ao mesmo tempo, trabalhavam a disciplina, além de missionar o catolicismo. A disciplina era exigida em todas as esferas do trabalho. Enquanto ensinavam, conviviam de forma carismática, com seu jeito franciscano, entre o disciplinar, o educar e o amar. Diante do trabalho realizado entre escola, alunos e comunidade, as Irmãs Catequistas Franciscanas se tornaram colaboradoras fundamentais para o avanço da escolarização na região e o desenvolvimento da Escola Francisco de Assis.
O desenvolvimento da instituição pesquisada foi permeado por relações de poder que a acompanharam desde o início de sua trajetória. No espaço educacional, a presença religiosa sempre teve força marcante e as relações de hierarquia foram estabelecidas, os alunos disciplinados aos moldes religiosos da Igreja Católica e a maioria da comunidade apoiando e aprovando o catolicismo. Pôde-se perceber que os participantes entrevistados possuem muita estima por essa instituição escolar e falam de lembranças boas, além de referenciarem o legado que a mesma deixou na região como forma de uma educação disciplinar exemplar. Relembram com orgulho de terem feito parte da história e afirmam, com convicção, ter sido, para eles, a melhor escola. Os poderes estadual e municipal e a Igreja foram aliados no desenvolvimento da Escola Francisco de Assis. Os governos possuíam a obrigação de ofertar a escolarização, e a Igreja Católica, com a missão de evangelizar, viu na educação um caminho para isso, pois os religiosos estariam presentes no dia a dia da comunidade. Destarte, assumiram a responsabilidade de contribuir com a escolarização da localidade, contando com a colaboração dos governantes que apoiavam a Igreja e ofertavam parte dos custeios para tal “missão” educacional-catequética.
É válido afirmar que ainda há muito para se aprofundar sobre a Escola Francisco de Assis. Dessa forma, finalizar este trabalho não significa que se esgotaram as possibilidades de novos questionamentos e problematizações em relação ao objeto pesquisado; este ainda pode e deve ser problematizado em novas pesquisas e dimensões de estudo. Ademais, quando se sabe que a Escola Francisco de Assis permaneceu ativa por mais vinte anos após a saída das Irmãs Catequistas Franciscanas da localidade, no ano de 1983, prolongando-se até 2003, conclui-se que há muita história para se contar. A partir de novos olhares é possível abrir novas perspectivas de investigações, e este trabalho pode ser um suporte para tais pesquisas, novos caminhos e maneiras de questionamentos no campo temático das Instituições Escolares. Por fim, apesar de eventuais limitações deste texto e de lacunas que permeiam a pesquisa histórica, foram exploradas, portanto, informações que contribuíram para o desenrolar da investigação, de modo a se avançar na produção historiográfica sobre a História da Educação no Sul de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul, mais precisamente em Itaporã. Em síntese, isso possibilitou verificar que a Escola Francisco de Assis foi relevante para o processo de escolarização dos indivíduos que a frequentaram e, por conseguinte, culturalmente influente na vida das pessoas que moraram na localidade e vizinhança.
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MARIN, Jérri Roberto. Os Franciscanos Alemães em Mato Grosso: Vivências e Identidades. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA, 5., 2011. Anais [...]. Maringá-PR: Universidade Estadual de Maringá, 2011. P. 334-344. Disponível em: http://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/115.pdf Acesso em: 01 mar. 2023.
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MAUAD, Ana Maria. Através da Imagem: fotografia e história interfaces. Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 73-98,1996. Disponível em: https://codecamp.com.br/artigos_cientificos/ATRAVESDAIMAGEMFOTOGRAFIA.pdf Acesso em: 23 jul. 2021.
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PROVÍNCIA. In: Dicionário Online de Português. 2023. Disponível em: https://www.dicio.com.br/provincia/ Acesso em: 17 fev. 2023.
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RODELINI, Claudiani Ferreira da Cunha. A Congregação das Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã e sua atuação na educação escolar em Itaporã-MT (1958-1972). 2022. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2022. Disponível em: https://files.ufgd.edu.br/arquivos/arquivos/78/MESTRADO-DOUTORADO-EDUCACAO/Teses%20Defendidas/claudianiferreiradacunharodelini%20-%20Tese.pdf Acesso em: 20 jan. 2024.
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Entrevistas e Relatos
- ANDRADE, Rosa dos Santos. Entrevista [25 mai. 2022]. Entrevistadora: Vanessa Zanquini Janczeski. Itaporã - MS, 2022. Arquivo mp3 [59 min.].
- DAVID Anita. [Correspondência]. Destinatário: Vanessa Zanquini Janczeski. Rondonópolis, 28 jun. 2022. 1 Histórico Itaporã - Obras e serviços anexos-escola primária e pastoral paroquial.
- DORETO, Reinaldo. Entrevista [08 jun. 2022]. Entrevistadora: Vanessa Zanquini Janczeski. Itaporã - MS, 2022. Arquivo mp3 (23min.).
- IRMÃ CRISTINA. [Memorial da Irmã Clélia Maria Cattoni, 1999]. whatsapp. 29 nov. 2022. 14:49. 1 mensagem de whatsapp.
- MOREIRA, Ismar; MOREIRA, Iraildes Moura. [Escola do Bairro São Francisco]. whatsapp. 22 jul. 18h10min. Mensagem de verbal de whatsapp.
- MOREIRA, Ismar; MOREIRA, Iraildes Moura. [Escola do Bairro São Francisco]. whatsapp. 31 jul. 2022, 13h57min. Mensagem verbal de whatsapp.
- REBEQUE, Sebastião. Entrevista [11 mai. 2022]. Entrevistadora: Vanessa Zanquini Janczeski. Itaporã - MS, 2022. Arquivo mp3 [40min.].
- SAMPAIO, Marlene Barbosa. Entrevista [18 mai. 2022]. Entrevistadora: Vanessa Zanquini Janczeski. Itaporã - MS, 2022. Arquivo mp3 [1h].
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Este artigo é resultante da dissertação de mestrado denominada Escola “Francisco de Assis” (1955-1983): nexos entre ocupação populacional, religião e educação em Itaporã- MT/MS, defendida em 2023, pela primeira autora, sob orientação do segundo autor.
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Utiliza-se, neste artigo, a denominação Sul de Mato Grosso referindo-se ao atual estado de Mato Grosso do Sul, devido ao fato de o recorte temporal aqui adotado abranger o período anterior à divisão territorial do antigo estado de Mato Grosso, que aconteceu em 11 de outubro de 1977, oficializada pela Lei Complementar nº 31 e sancionada pelo então presidente da República Ernesto Geisel (BRASIL, 1977). A partir do ano de 1977, surgiu a unidade federativa de Mato Grosso do Sul.
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Segundo o entrevistado, Sr. Sebastião Rebeque, a princípio o “Lote dos Padres” era só de 40 hectares, mas depois os franciscanos foram adquirindo mais terras; por isso 120 hectares.
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A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Grande Dourados (CEP/UFGD), pelo parecer n. 5. 388. 695, CAEE: 55695121.2.0000.5160.
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Aparelhamento Escolar refere-se a mobiliários, utensílios e material didático de uso permanente.
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Província: reunião dos conventos ou ordens religiosas de um país (PROVÍNCIA, 2023).
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No dia que o Sr. Ismar assinou o contrato seu estado civil era solteiro, mas no dia 8 de maio se casou com a Sra. Iraildes Moura.
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A afirmação do entrevistado, ao dizer que era muito longe, está relacionada às dificuldades de locomoção da época, visto que a região é formada por terra vermelha e, quando chovia, tornava-se um lamaçal, um barro pegajoso, ficando penoso para a população se deslocar, pois as estradas não eram pavimentadas nesse tempo.
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À época, MT.
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À época, MT.
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Provavelmente, hino da Proclamação da República.
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Distritos de Itaporã.
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Cooperativa de Energização e Desenvolvimento Rural da Grande Dourados. Era a antiga concessionária de energia elétrica na região.
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Designação dada a partir de 1974, em observância à lei 5.692/71.
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O Conselho Federal de Educação (CFE) criou a disciplina escolar: Organização Social e Política Brasileira - OSPB, no ano de 1962, a ser ministrada no ensino secundário, como parte complementar do currículo. Essa disciplina estudaria a realidade social e política brasileira (FILGUEIRAS, 2007).
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A disciplina de Educação Moral e Cívica - EMC, como prática educativa, se tornou obrigatória nas escolas brasileiras de todos os graus e modalidades de ensino, por meio do Decreto-lei nº. 869/69. A disciplina visava preparar os alunos para o exercício da cidadania (FILGUEIRAS, 2007). O Artigo 7º do Decreto nº 68.065/71, que regulamentou o Decreto-lei nº 869, de 1969 (BRASIL, 1969), estabeleceu que “a disciplina Educação Moral e Cívica deverá integrar o currículo de, ao menos, uma das séries de cada ciclo do ensino de grau médio e de uma série do curso primário” (BRASIL, 1971, on-line). Ainda vale mencionar que “Como disciplina escolar, a EMC, incorporou o conteúdo de formação política proposto para OSPB e acrescentou conteúdos morais ligados a religião católica”. (FILGUEIRAS, 2007, p. 8).
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ARE: Agência Regional de Educação
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
10 Jun 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
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Recebido
17 Jul 2023 -
Aceito
14 Fev 2024