Resumo:
Este artigo tem por objetivo discutir a mobilização do esporte no processo de “reconstrução” de Niterói (1895-1904), cidade que foi muito atingida pelos conflitos da Revolta da Armada. Especificamente, são abordadas as iniciativas de agremiações náuticas, com especial interesse pelas ações do Grupo de Regatas Gragoatá e do Clube de Regatas Icaraí. Debate-se também os posicionamentos de cronistas acerca dessas atividades, suas considerações sobre a importância do remo. O recorte temporal tem em conta o período em que a modalidade esportiva náutica melhor se estruturou, chamando a atenção de lideranças intelectuais e políticas. Para o alcance desse objetivo, foram utilizados como fontes periódicos publicados em Niterói e no Distrito Federal, notadamente O Fluminense, um dos jornais mais influentes do estado do Rio de Janeiro na ocasião. Espera-se lançar um olhar original não só sobre a história do esporte, argumentando-se que a prática esteve articulada com outros âmbitos no contexto em tela, como também sobre a história de Niterói, sobre a qual poucos estudos foram desenvolvidos, a despeito de sua importância, inclusive por ter sido por décadas capital da província/estado do Rio de Janeiro (entre 1835-1893 e 1903-1974).
Palavras-chave: Brasil República; Niterói; remo; história do esporte
Abstract:
This article aims to discuss the mobilization of sport during the “reconstruction” process of Niterói between 1895 and 1904, a city that was deeply affected by the conflicts of the Revolta da Armada. We will focus on the initiatives of nautical associations, with special interest in the actions of the Grupo de Regatas Gragoatá and Clube de Regatas Icaraí. We also discuss the positions of chroniclers about these activities, their considerations about the importance of rowing. The investigated period comprises the moment in which rowing is better structured, drawing the attention of intellectuals and political leaders. Newspapers published in Niterói and the Rio de Janeiro were used as sources, notably O Fluminense, at that time one of the most influent newspapers in the state of Rio de Janeiro. We seek to cast an original view on the history of the sport, trying to understand the connection with others spheres of the context, as well as on the history of Niterói, a city that, despite its historical importance - including having been the capital of the Rio de Janeiro for decades (1835-1893 and 1903-1974) -, is little investigated.
Keywords: Brazil-Republic; Niterói; rowing; sport history
1.Introdução
Vem o dia silenciosamente… A escuridão da noite - pavorosa, Traz o lúgubre moto, de repente, Outra vez se torna tormentosa! Ora ecoam, de perto, uns estampidos, E os tiros de canhão, ao longe, soam Ora se ouvem os gritos, alaridos, Das multidões que a Niterói povoam! No mar, o fumo das metralhas sobe, O desespero em terra - impetuoso, As balas cortam, de momento, os ares! O povo em massa resistir não pode, Deixa-a deserta e foge pressuroso Com a triste e dúbia luz de seus olhares. Joaquim Peixoto3Em Niterói, cidade situada na banda oriental da Baía de Guanabara, capital da província/estado do Rio de Janeiro entre os anos de 1835-1893 e 1903-1974, a primeira metade da última década do século XIX foi marcada por conflitos de ordens diversas. A proclamação da República poderia ter significado uma boa notícia para o município, já que dele eram originárias importantes lideranças envolvidas com o novo regime - tais como Benjamin Constant e Miguel de Lemos. Tinham também nele vivido e construído parte significativa de sua trajetória líderes como Silva Jardim e Quintino Bocaiúva4. De outro lado, há que se considerar que era forte “a identificação da elite fluminense com o Partido Conservador e a monarquia”5, o que motivou desconfianças por parte do governo republicano.
Nos primeiros anos da República, grassou entre as lideranças de Niterói a impressão de que o governo nacional continuava a intervir em excesso na cidade, para além das históricas e intensas influências culturais oriundas do Distrito Federal, ocorrências que dificultavam a consolidação da autonomia do estado do Rio de Janeiro. Além disso, a capital do país atraía gente influente da elite fluminense, algo que interferia na melhor estruturação da dinâmica política local.
Essas peculiaridades, decorrentes inclusive da proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, impactavam a própria construção da noção de “capitalidade” de Niterói, usualmente desqualificada como “portadora de condições para forjar a identidade fluminense e articular seus interesses regionais dentro do jogo federalista implantado com a República”6. Uma das acusações mais costumeiras era a de Niterói não ser capaz de deixar de ser uma continuidade do poder central estabelecido no Distrito Federal.
Os problemas acentuaram-se em decorrência das ações de Francisco Portela, governador do estado do Rio de Janeiro, nomeado em 1889 por Deodoro da Fonseca. A autonomia de São Gonçalo, apoiada e confirmada pelo dirigente, em 1890, deixou Niterói com apenas cerca de 1/3 de sua área original, subtraindo da cidade importantes áreas do ponto de vista econômico. Além disso, encaminhou-se a mudança da capital para Teresópolis, desencadeando um grande debate sobre qual município deveria assumir tal função7.
O pior estava por vir. Portela foi deposto quando Floriano Peixoto ascendeu à presidência da República, mas deixou suas marcas na política local, identificadas em várias ocasiões, especialmente numa rebelião do regimento policial, ocorrida em 1892. Nos dois anos seguintes (1893 e 1894), sentiu-se muito fortemente os impactos da Revolta da Armada em Niterói.
Mesmo que alguns niteroienses se posicionassem a favor dos comandados por Custódio de Melo, o município foi palco da resistência dos aliados de Peixoto. Houve combates armados pelas ruas da cidade, também alvo de bombardeios por parte de navios estacionados na Baía de Guanabara, que enfrentavam as guarnições dos fortes que se mantiveram leais a Floriano Peixoto8. Como desdobramentos, houve desabastecimento, algumas baixas e deslocamento de parte da população. Além disso, em função dos conflitos, a capital foi transferida para Petrópolis. A Revolta da Armada deixou marcas na memória de Niterói, reconhecidas, inclusive, em uma de suas alcunhas: Cidade Invicta.
Após o fim dos conflitos, em 1894, observa-se um processo de “reconstrução” de Niterói, que tinha como um dos intuitos mais anunciados o seu retorno à condição de capital. Em certa medida, foram ações que anteciparam o que anos depois foi chamado de “Renascença Fluminense”, movimento de renovação que melhor se delineou na segunda década do século XX, liderado, entre outros, por Feliciano Sodré, prefeito da cidade entre 1910 e 1914 (posteriormente governador do estado do Rio de Janeiro entre 1923 e 1927)9.
Naquela segunda metade dos anos 1890, na concepção do processo de “reconstrução” do município, percebem-se maiores preocupações tanto com sua consolidação econômica quanto com o forjar de uma identidade mais autônoma, não tão dependente do Distrito Federal. Na verdade, acentuava-se algo que, em certa medida, estava em curso desde 1835, quando houve a elevação da antiga Vila Real da Praia Grande à condição de cidade - renomeada para Niterói, no mesmo cenário em que foi indicada como capital da província do Rio de Janeiro, decisões decorrentes do Ato Adicional de 1834 (o mesmo que estabelecera o município neutro da Corte).
Naquele fin de siècle, enfatizaram-se as intenções de adesão ao ideário e imaginário da modernidade, bem expressas, entre outros aspectos, numa vida social mais dinâmica, incentivada por avanços na infraestrutura urbana (saneamento, iluminação e transporte públicos), marcada por uma melhor organização do mercado de entretenimentos, do qual fizeram parte iniciativas de maior estruturação do esporte - prática que já vinha sendo mobilizada pelas lideranças intelectuais no sentido de conformar comportamentos que apontassem para a ideia de progresso10.
Este artigo tem por objetivo discutir a mobilização do esporte no processo de “reconstrução” de Niterói (1895-1904), nos discursos e ações que foram entabuladas para recuperar a pujança da cidade e sua condição de capital do estado do Rio de Janeiro. Especificamente, são abordadas as iniciativas de agremiações náuticas, com especial interesse pelo Grupo de Regatas Gragoatá e pelo Clube de Regatas Icaraí. Debate-se também os posicionamentos de cronistas acerca dessas atividades e suas considerações sobre a importância do remo. O recorte temporal leva em conta o período em que a modalidade esportiva náutica melhor se estruturou, chamando a atenção de lideranças intelectuais e políticas.
Para alcance do objetivo, foram utilizados como fontes periódicos publicados em Niterói e no Distrito Federal, notadamente O Fluminense, um dos jornais mais influentes do estado do Rio de Janeiro na ocasião. O jornal primava por uma linha editorial política conservadora, mas esteve engajado no processo de modernização e avanço civilizacional de Niterói, na luta pelos interesses locais, inclusive no que tange ao retorno da sua condição de capital11. Nele escreveram alguns dos principais cronistas niteroienses do momento. É a partir desse viés que levaremos em conta os posicionamentos exarados, atentando-se ao que sugere Luca12 para tratar fontes dessa natureza, considerando a sua materialidade para análise e interpretação.
Espera-se lançar um olhar original não só sobre a história do esporte, argumentando-se que a prática esteve articulada com outros âmbitos no contexto em tela, como também sobre a história de Niterói, sobre a qual poucos estudos foram desenvolvidos, a despeito de sua importância13.
2. Superando os momentos difíceis, combatendo o tédio, exaltando a cidade
Logo após o fim da Revolta da Armada, alguns periodistas identificaram que um dos impactos dos conflitos foi o marasmo da vida social. Segundo Jal, cronista não identificado, “Temos tido semanas inteiras sem um só divertimento! Monotonia em toda linha. […]. Antigamente tínhamos clubes dançantes, concertantes, dramáticos, hípicos e atléticos. Hoje… nada disso”14. Desde os anos 1870, isso era uma preocupação constante. Para muitas lideranças, não era aceitável que uma capital tivesse uma cena pública apática15.
Não surpreende, assim, que o cronista tenha aproveitado a ocasião para alfinetar a, na época, sede do estado:
Em Petrópolis, apesar de ser a capital, a monotonia é maior, acompanhada de chuvas, trovoadas e garoas, para variar todos os dias. Não devemos invejar o clima, porque nosso estado sanitário é ótimo; não temos que invejar a água, porque a que temos é a de Friburgo.”16
Invertendo a crítica usual que apontava como um problema de Niterói ser uma cidade muito próxima do Distrito Federal, o cronista ironizou ao lembrar que no Rio de Janeiro havia muita diversão, longe de Petrópolis que, assim, a seu ver, ao se mostrar pouco dinâmica não demonstrava condições de se manter como capital do estado.
Outro periodista, Joaquim Ferreira, ponderou que antes mesmo da Revolta da Armada já se notava em Niterói um declínio dos divertimentos públicos17. O conflito acentuara esse esvaziamento da vida social. De toda forma, no mesmo ano, Garcia Redondo percebeu que as coisas começavam a mudar, depois de um tempo em que “a cidade não tinha um espetáculo. […] Não havia corridas de cavalos, não havia regatas na enseada”18. O esporte era citado como sinal de uma pujança perdida que, na visão de alguns, precisava ser retomada.
Desde a década de 1850, há evidências de que regatas eram organizadas no litoral de Niterói por moradores da cidade e do Rio de Janeiro19. Nos anos 1870, surgiram as primeiras tentativas de criação de uma agremiação de remo, intuito somente materializado em 1881, com a fundação do Clube de Regatas Niteroiense, sociedade que teve uma trajetória errática, mas se manteve ativa até 1884 e deixou importantes marcas na memória citadina. Ainda houve outra iniciativa que não logrou sucesso: a criação, em 1885, do Clube de Regatas Saldanha da Gama. Desde então, poucas provas náuticas foram promovidas na, à época, capital fluminense.
Em 1894, uma iniciativa náutica explicitou o quanto a cidade sentia a necessidade de se reconstruir ao fim da Revolta da Armada. Em O Fluminense, anunciou-se que seria promovida uma regata para angariar fundos para a população pobre atingida pelo conflito. Para um cronista, era uma prova de que a mocidade niteroiense era valorosa20. O evento foi, de fato, organizado por jovens que tinham lutado para defender a República, integrando o conhecido Batalhão Acadêmico, voluntários não militares que participaram de diversas formas dos combates.
Ao comentar a iniciativa, o periodista saudou um novo tempo que estava a surgir, utilizando imagens do remo: “A festa que se prepara é uma antítese do quadro hediondo que se passou há pouco - é o belo, é o riso, é o consolo que vai se deslizar por sobre as águas, nas leves embarcações que constituírem os páreos”21. No ano seguinte (1895), como sinal de que havia interesse latente pelo esporte náutico, duas agremiações foram fundadas: o Grupo de Regatas Gragoatá e o Clube de Regatas Icaraí.
O Grupo de Regatas Gragoatá foi criado em fevereiro de 1895, na praia de mesmo nome. Na verdade, desde 1893, alguns jovens niteroienses - entre os quais Erwin Voigt, Jorge Goulart e Afonso Veloso - vinham se dedicando ao remo. Em 1894, chegaram a disputar páreos promovidos pelo recém-criado Clube de Regatas Botafogo. A Revolta da Armada tinha dificultado a manutenção de suas iniciativas.Antes de organizar sua primeira regata, o clube promoveu atividades diversas, entre as quais um piquenique na Ilha do Fundão, em maio de 1895, os associados indo em barca alugada que saiu pela manhã e voltou no fim da tarde22. O cronista Jal não poupou tinta para descrever o evento. Exaltou o clima de festa e confraternização, deixando claro sua satisfação com o arranjo que exalava ares de modernidade e avanço civilizacional, marcado por uma descontração saudável.Esse tipo de evento foi muito comum na trajetória das agremiações náuticas da cidade. Era preparado com esmero, envolvendo inclusive importantes estabelecimentos comerciais para garantir a logística. A renomada Casa Pascoal, de Manoel de Carvalho23, por exemplo, foi a responsável pelo serviço de alimentação de um dos piqueniques do Clube de Regatas Icaraí24. A Companhia Cantareira era acionada para aluguel das barcas que transportavam os convidados. Sociedades musicais de Niterói animavam os festejos.O bairro onde se situava o Gragoatá representava bem a transição entre a zona central e a zona sul de Niterói, local onde habitava uma população de estrato médio do ponto de vista econômico. As regatas foram promovidas na Praia de São Domingos e os treinos nas Praias do Gragoatá, das Flechas e de Icaraí.
A primeira diretoria do Gragoatá era uma expressão dos envolvidos com as iniciativas náuticas. Ocupou a presidência o já citado Erwin Voigt, de família dinamarquesa, um dos primeiros niteroienses a incorporar o perfil de atleta, um competidor vitorioso não só no remo, como também nas corridas a pé e na natação25. Para além de sua performance esportiva, tornou-se famoso por suas “ações heroicas”, entre as quais salvar naufragados26.
Como secretário do clube atuou Afonso Pimenta Veloso, dono de um comércio de açúcar, álcool e aguardente. Domingo Moutinho Junior assumiu a condição de tesoureiro - seu pai era um empresário do ramo de transportes e apoiou muitas iniciativas esportivas no século XIX.
O grupo envolvido, enfim, pertencia a uma burguesia urbana sintonizada com as ideias de progresso, parte inclusive ligada a famílias estrangeiras estabelecidas na cidade: profissionais liberais, oficiais das forças armadas, funcionários públicos de nível superior, comerciantes e industriais.
Perfil semelhante tinham os envolvidos com o Clube de Regatas Icaraí, fundado alguns meses depois do Gragoatá, em junho de 1895, na fronteira entre as Praias de Itapuca e Icaraí. Segundo Soares27, a agremiação teria surgido de desentendimentos em uma prova de natação disputada pelos irmãos Mafra que, assim, resolveram criar outra sociedade náutica. Otávio e Celso assumiram os postos de presidente e diretor de regatas. Tratava-se de uma família há décadas ligada ao direito e ao comércio. Jorge e Jerônimo Naylor ocuparam as funções de vice-presidente e 1º secretário. Eram membros de uma família britânica proprietária de negócios comerciais.
A ideia era promover provas náuticas na enseada de Icaraí, bairro que, desde meados do século XIX, vinha se conformando como espaço da cidade considerado moderno e de entretenimento28. As arquibancadas das regatas eram usualmente montadas em frente ao Jardim de Icaraí, entre as Ruas da Constituição (atual Miguel de Frias) e Álvares de Azevedo.
Rapidamente se geraram encontros entre os jovens associados dos dois clubes, que passaram a contribuir para a retomada da vida social de Niterói. Facilitava as iniciativas em comum a localização das sedes: eram uma próxima da outra, ambas na região mais antiga e movimentada da cidade. As atividades promovidas eram interpretadas pelos cronistas como sinal de um futuro alvissareiro, indicador de um novo tempo que viria com a superação dos momentos difíceis.
Legenda: Em azul, está indicada a região onde se encontrava o Clube de Regatas Icaraí; em vermelho, a região do Grupo de Regatas Gragoatá; em amarelo, a estação das barcas.
Na narração dos eventos náuticos, era usual que os cronistas exaltassem o ar de festa. Os ingredientes de sucesso eram “comida para uma brigada, bebidas para um exército! Moças bonitas para inspirar poetas disponíveis, amabilidade e alegria para todos”29. Dança e música eram indispensáveis. A participação ativa de mulheres era destacada, considerada um sinal de que se tratava de uma atividade apropriada a todos.
Os clubes ofereciam arquibancadas e/ou barcas exclusivas para sócios e convidados, entre os quais sempre alguém da imprensa e do poder público, estratégia usada para aumentar a visibilidade e negociar apoios a suas ações. A despeito desses espaços mais restritos, enfatizava-se que as regatas eram um divertimento gratuito e acessível, podendo ser assistido das praias. Para quem tinha algum dinheiro e se dispunha a gastá-lo, havia ainda a opção de acompanhar o evento de uma embarcação estacionada na Baía de Guanabara, alternativa oferecida pela Companhia Cantareira.
Festejava a burguesia niteroiense, acompanhada pelos populares que ocupavam o litoral. Os cronistas não poupavam esforços para conclamar o público: “Parabéns ao povo de Niterói pela esplêndida festa que vão ter ocasião de apreciar e saudamos o valente Grupo que não encara sacrifícios para divertir seus associados e o povo dessa bela terra”30.
O fato de as regatas serem promovidas no mar servia para lembrar e celebrar a superação dos maus tempos da Revolta da Armada: “tristezas e recordações tristes fiquem à margem!”, sugeria o periodista de O Fluminense31. Lembremos que a praia onde se encontrava o Grupo de Regatas Gragoatá fora uma das regiões mais atingidas o Forte do Gragoatá foi um dos focos de combates. Já a primeira sede do Icaraí foi instalada em “um modesto barracão de madeira e zinco que, de 1893 a 1894, durante a Revolta da Armada, abrigara uma guarnição da Guarda Nacional e um entrepostos de gêneros”32.
Os páreos eram dedicados a diversas modalidades (baleeiras, escaleres, out ritggers), inclusive a provas de iatismo. Entre os organizadores dos eventos, além dos dirigentes dos clubes, havia gente de importância na cidade, tais como João da Costa Velho, membro de uma das famílias mais influentes do município, futuramente Major da Guarda Nacional e juiz de paz, e Alfredo Ewbank, um dos dirigentes da Fábrica de Tecidos Manufatora Fluminense, sediada no Barreto33.
As regatas envolviam gente de Niterói, mas também do Rio de Janeiro, inclusive porque remadores dos clubes da capital federal - tais como o Botafogo (criado em 1894) e o Flamengo (fundado em 1895) - constantemente aceitavam o convite para tomar parte nos páreos, ocasiões que transpiravam um sentimento de confraternização, mas também de certa rivalidade. Sobre as provas promovidas em dezembro de 1895, um cronista que assinava como “X.” sugeriu, de forma irônica, que apostaria “todo cobre na rapaziada do Gragoatá […] Não é uma questão de bairrismo, é palpite pela certa”34. As disputas eram mesmo encaradas pelas lideranças de Niterói como possibilidade de provar o valor da cidade.
No Rio de Janeiro, o momento foi, de fato, marcado por grande desenvolvimento do remo. Na segunda metade dos anos 1890, muitas agremiações foram fundadas e a modalidade foi se transformando numa verdadeira moda35. O esporte náutico começava a definitivamente se consolidar, passando por mudanças na sua concepção e representação. Seriam excluídas as apostas e a prática seria encarada como contributo para a saúde, o progresso e a moralidade pública. Nesse movimento, os clubes de Niterói rapidamente se integraram.
Em 1895, Gragoatá e Icaraí, junto com Botafogo, Union de Cantioners e Luiz Caldas, formaram a União de Regatas Fluminense, primeira tentativa de conformar uma entidade representativa da modalidade. Somente em 1897, tal iniciativa começou a funcionar efetivamente, dessa vez contando também com a participação de Flamengo, Botafogo, Veteranos de Remo e Praia Vermelha. Assumiu a presidência um dos mais importantes nomes dos primórdios do remo brasileiro, Eduardo Ernesto Midosi, oficial da Armada, à época também presidente do Icaraí. Deve-se destacar esse protagonismo de um representante de Niterói em um momento tão ímpar do esporte náutico. Isso foi identificado pelos cronistas como mais um sinal de que a cidade retomava sua pujança e se tornava-se mais reconhecida no âmbito nacional.
Houve grandes avanços com as ações da União de Regatas Fluminense, destinadas a uniformizar, controlar e difundir o esporte náutico36. Entre as iniciativas mais notáveis, podemos destacar a promoção, em 1898, do 1º Campeonato do Rio de Janeiro, uma prova única para baleeira de quatro remos com patrão, vencida por uma guarnição do Gragoatá - João Paulo Pereira da Cunha, Jorge e Arlindo Goulart, Arnaldo e Erwin Voigt - tripulando Alpha, uma das embarcações mais vitoriosas e célebres da história do remo.
A vitória do Gragoatá no campeonato de 1898 foi muito comemorada em Niterói. Associados, familiares e niteroienses exultantes receberam os vencedores na estação das barcas. Saudações e fogos de artifício marcaram a recepção. Na sede do clube, compareceram remadores e sócios do Icaraí, acompanhados de uma banda de música para celebrar a conquista da agremiação irmã38. Durante meses, houve homenagens e festejos promovidos pelos mais diversos grupos39. Uma vez mais, o remo motivava o povo a ocupar a cena pública.
Joaquim Lacerda, em nome da imprensa, saudou a “vitória dos bravos heróis de Niterói que, medindo forças com os heróis do outro lado, da luta saíram vencedores”40. O cronista tanto exaltou o valor da cidade numa disputa frente os representantes da capital federal quanto elogiou a união dos remadores niteroienses.
Como o evento teve grande repercussão no Distrito Federal, contando, inclusive, com a presença do presidente da República, entre outras autoridades do governo nacional, a conquista foi encarada como uma grande divulgação da importância de Niterói. Vale destacar que Prudente de Morais assistira as provas do lado de Alberto Martins Torres, à época governador do estado do Rio de Janeiro41, sócio do Icaraí e apreciador do esporte também por suas preocupações intelectuais com a sociedade brasileira e a unidade nacional42.
Em 1899, houve novo desafio para o remo niteroiense: o Icaraí promoveu uma regata chancelada pela União de Regatas Fluminense, um evento náutico mais grandioso dos que os que vinham sendo organizados na cidade. A ocasião foi eivada de sucesso, o que ajudou a enaltecer o nome do clube em Niterói43 e no Distrito Federal44.
Os periódicos derramaram-se em elogios à organização e animação. Exaltou-se a amistosa recepção, um aspecto que já era valorizado e posteriormente se tornou uma das marcas identitárias de Niterói, registrada em uma de suas alcunhas: Cidade Sorriso. Suspirou um cronista de Semana Sportiva: “E, hoje, quantas recordações agradáveis daquele belo dia de domingo não vão pela mente e pelo coração das jovens e dos jovens que tiveram a fortuna de assistir à festa de Icaraí! Ah! Mocidade! Mocidade!”45.
O envolvimento do Icaraí na organização de eventos e as seguidas vitórias das guarnições do Gragoatá alimentaram ainda mais a popularidade do remo e dos remadores, “os rapazes de aço: fortes e firmes”46. Tornou-se motivo de interesse público tudo o que se referia ao esporte náutico - não somente as regatas, como também os treinos; o estado físico dos atletas e a qualidade das embarcações; piqueniques; festas diversas nas sedes; batizados de embarcações; caminhadas de sócios pelas ruas; bem como passeios venezianos, um desfile de barcos à moda da cidade italiana. Não poucas vezes se promovia comparações com o que se passava no Rio de Janeiro, sempre perspectivando as possibilidades de exaltar Niterói47.
As sedes dos clubes tornaram-se importantes centros da vida pública. O Gragoatá inaugurou novas instalações em 1897, mais bem preparadas tanto para a prática do remo quanto para as atividades sociais que se tornaram cada vez mais intensas e usuais. Considerada elegante e confortável, a sede oferecia salão de baile, sala de ginástica com “barras fixas, trapézios, argolas, paralelas e outros”48 e um amplo barracão para guardar e consertar as embarcações. A sede do Icaraí somente seria reformada em 1907, mas, nos anos finais do século XIX, já estava constantemente movimentada tanto em função do cotidiano dos remadores quanto pelo frenesi das festas e bailes49.
Combater o tédio de forma saudável: esse parecia ser um ponto pacífico entre os que estimulavam o desenvolvimento do remo em Niterói. As imagens mobilizadas a todo momento exaltavam a “alegria franca e espontânea”50 dos eventos náuticos. Algazarra, burburinho e entusiasmo eram termos utilizados como elogios. A cidade constantemente exaltada “renascia” e o esporte fazia parte desse projeto. A conclamação era de que todos deveriam estar de mãos dadas para alcance desse bem maior - até mesmo por isso, havia limites que deveriam ser observados para que os intuito centrais fossem plenamente atingidos.
3. Ordenando a cidade - representações do remo e dos remadores
As atividades náuticas eram sempre celebradas pelos cronistas, mas recebiam reprimendas os comportamentos de alguns frequentadores que exageravam na animação ou tomavam posturas que feriam o que se considerava um limite de educação51. Não se deveria confundir uma vida pública mais distendida com a perda de respeito e compostura. Havia que se reafirmar o caráter familiar dos eventos para que não parecessem outros espaços socialmente controvertidos.
Uma das preocupações mais notáveis dizia respeito ao comportamento a ser adotado com as mulheres. Com a nova presença pública feminina mais descontraída, causava apreensão que os eventos tenham se tornado também ocasiões de flerte. Macambôa, pseudônimo de Alfredo Azamor52, questionou mesmo se os procedimentos de dançar adotados pelos jovens eram os mais adequados, se não seriam muito lascivos: “Eu já tenho birra com a toleima dos moços que antes querem pousar de leve a mão nos ombros das moças do que cingir-lhes com amor de suavidade a gentil cintura”53. Tratava-se de uma negociação de modos de se portar tendo em vista garantir o que se considerava “avanço civilizacional”.
Preocupava às lideranças intelectuais que se maculasse o que consideravam fins mais nobres do remo. Por exemplo, causou apreensão a rivalidade que, em determinados momentos, se acirrou entre as agremiações niteroienses. Recriando um suposto debate que teria ocorrido entre ele e um leitor, o cronista Zero ironizou as polêmicas que houve no resultado de um páreo disputado em Paquetá54:
- Estou ainda entusiasmado com a inegável e esplendorosa vitória alcançada pela… - Ah! Pela Alpha! Perfeitam… - Hein? Não senhor! Pela Marina! - O que? Pela Marina? Pois não foste! Muito boa. Alpha! - Muito boa. Marina! - Pois eu vi! Eu estava lá! - Eu também estava, por sinal na barca do Icaraí. - Ah! Então, é por isso. Foi convidado pelos icaraienses e quer retribuir a gentileza… - E o senhor, onde estava? - Eu? Na barca do Gragoatá. - Pois aí tem. Quer agradecer o convite com a afirmação de uma inverdade. […] - Foi Alpha! - Foi Marina! - Leitor! - Sr. Zero! - Eu perco as estribeiras… - E eu faço uma asneira!O assunto mereceu uma coluna em O Fluminense, em que um cronista expressou sua preocupação com a repercussão e continuidade desses debates. Para ele, “as sociedades náuticas são uma necessidade de nosso meio social”, sendo, portanto, desejável que ambas progredissem, até mesmo porque “possuem cavalheiros de fina educação e bastante critério para não se deixarem levar na onda alterosa do ódio e das paixões”55.
Para os cronistas, que iam ao encontro do que pensavam muitas lideranças do remo niteroiense e dos interesses de determinados líderes políticos engajados no processo de reformar a cidade a partir da adesão a ideais de civilização e progresso, o remo era um instrumento de formação, “uma base de verdadeira educação - o exercício saudável favorecendo a vitalidade e purificando a tempera humana”56.No seu olhar, a modalidade tinha como “efeitos morais […] a convivência benéfica amenizando os costumes, fortalecendo o afeto e o caráter e assegurando a fraternidade”57. Tratar-se-ia de uma celebração que poderia unir a elite e ter impactos positivos sobre o grande conjunto da população.Assim sendo, o batismo de uma nova embarcação do Icaraí, festejo no qual compareceram não só representantes do Gragoatá, como também dos clubes do Rio de Janeiro (Flamengo, Sul Americano, Botafogo e Praia Vermelha), foi interpretado como sinal de que havia paz entre as agremiações de Niterói, fato comemorado como demonstração de que tinham preponderado os interesses sociais58.Para a imprensa, a rivalidade poderia ser um fermento para aumentar o interesse pela modalidade, desde que se mantivesse controlada e não causasse cisões. Ao narrar a disputa que houve entre as guarnições das duas agremiações de Niterói numa regata promovida na Praia do Flamengo, um cronista fez questão de ressaltar que, a despeito do empenho de torcida e remadores, houve grande respeito frente aos resultados59. Ainda assim, o presidente do Icaraí, Dario Teixeira da Cunha, enviou ao jornal uma carta criticando as informações veiculadas, a seu ver cheia de imprecisões que prejudicavam a imagem da sociedade náutica por ele dirigida60.Para evitar esse tipo de contestação, O Fluminense passou a enviar representantes às barcas das duas agremiações, para dar a ambas espaço semelhante de cobertura e a todo momento deixar claro que não torcia em especial para uma delas, mas sim para o desenvolvimento do esporte náutico niteroiense61. Numa ocasião em que o Gragoatá organizou regatas, mas o grande vencedor foi o Icaraí, o cronista, deixando claros seus compromissos com a cidade e reforçando a ideia de que o remo deveria ser uma forma de demonstrar o valor de Niterói, apressou-se em afirmar:[…] somos muito independentes nas nossas apreciações sobre os clubes de regatas. Já o dissemos e hoje repetirei: não pendemos nem para um lado nem para outro lado, apenas entrelaçamos num mesmo amplexo os dois pavilhões e satisfeitos erguemos uma viva à vitória de Niterói sobre a capital federal.62Emblemática é uma crônica de Guil-Mar dedicada a narrar o batizado da baleeira Hycléa, assim como a Alpha, propriedade do Gragoatá e encomendada a Pedro Massieré, patriarca de uma família muito envolvida com o esporte63. O periodista não poupou elogios aos moços que, com pouca roupa e musculatura pronunciada, congraçavam e enchiam de alegria o Valonguinho, onde se encontrava o estaleiro e a cerimônia se realizou64.
Suas palavras sobre a embarcação parecem quase um desejo para Niterói, materializado naquela modalidade que transpirava vigor, marcada por desafios a serem enfrentados com posturas saudáveis e empreendedoras, com energia e fraternidade, com decisão e simpatia: “Vai, desliza Hycléa! Toma parte nessas lutas honrosas, em que há esforços dignos de homens; obtém vitórias sem lágrimas e triunfos sem ódio”65.
As embarcações, em geral, recebiam muita atenção da imprensa. Quando eram batizadas, passavam por reparos ou eram vitoriosas, ganhavam destaque. A Alpha, por sua trajetória de sucesso, recebia consideração especial. Para os cronistas, praticamente incorporava um conjunto de sentidos e significados caros aos que valorizavam o esporte náutico.
Para um cronista de O Fluminense: “Alpha era uma súplica insistente a brincar, a brincar na púrpura de uns lábios que jamais se cansam de nem dizer a Euterpe. Alpha era o grito de guerra dos sportmen desses peitos de atletas sempre prontos para o yachting”66. Para outro periodista, sua performance era complementar e similar a dos atletas, como se vida própria tivesse: “Mais além, estruturas atléticas de moços com os braços à cintura escultural das damas, pintalgando o cenário de vermelho e branco, deslizava serena e elegantemente, aos compassos harmônicos, a Alpha”67. Para Macambôa (Alfredo Azamor), “ela é hoje não a primeira letra do alfabeto, mas a primeira nessas lutas de esforço em que tanto se aplaude a mocidade, nobres lutas em que se retempera o vigor do corpo sem sombra de vício e de ganância”68.
No conjunto de representações positivas sobre o esporte náutico, ocupavam lugar de destaque os elogios aos remadores. Para um cronista: “Os moços que compõem o clube de regatas merecem da população a mais franca coadjuvação. Além de estabelecerem para si proveito exercício físico, proporcionam ao povo um dos mais belos espetáculos”70. Não eram encarados meramente como competidores, mas sim como mensageiros de um novo tempo para Niterói, marcado pela valorização da prática física que regenera a saúde e potencializa os esforços intelectuais: “É prazer vê-los, depois de longas remadas por desafio, entrarem no espaçoso barracão […] e darem-se a novos gêneros de exercícios em que o emprego da força muscular domina notavelmente”71.
Efetivamente, os rowers (“remadores”) tornaram-se figuras conhecidas da cidade, entre os quais se destacava Arnaldo Voigt, irmão do já citado Erwin, um notável atleta que depois teria uma brilhante carreira no Clube de Regatas do Flamengo. Prestava-se cada vez mais atenção nos “incansáveis e valentes rapazes” que voltavam das provas e desfilavam com “o peito cheio de medalhas”72.
Usualmente passaram a ser registrados os seus feitos, não somente suas vitórias, mas também aqueles considerados de caráter humanitário e realizados fora dos eventos náuticos, especialmente o salvamento de pessoas que naufragavam ou se afogavam, situações bastante comuns à época, sempre notificadas pela imprensa, ocasiões em que se ressaltava a coragem, disponibilidade e compromisso dos remadores com o bem social.
Legenda: Homenagem a Augusto Porto, remador do Icaraí, por ser o patrão de uma guarnição vitoriosa num importante páreo e ter salvado um homem que tentara se suicidar e estava se afogando.
Por exemplo, Arnaldo Voigt, Celso Mafra e Alvaro Murtinho foram exaltados por salvar um jovem pescador que se encontrava em apuros no mar74. Muitos outros casos semelhantes fortaleceram a fama dos rowers. Eram representados como novos heróis, supostamente dando continuidade a uma tradição de luta que em Niterói tinha se manifestado claramente na Revolta da Armada. Eram encarados como exemplos para a juventude que, se esperava, poderia conduzir a cidade e a nação ao progresso. Eram apresentados como inspiração para contrapor uma certa tendência, por alguns identificada, de abandonar diversões saudáveis para ser envolver com o jogo75, com a bebida, com mulheres “duvidosas”76.
A fama dos remadores aumentou quando começaram a tomar parte, nos anos iniciais do século XX, nas competições de outras modalidades. Nesse momento, surgiram novas agremiações. O mar definitivamente se estabeleceu como lugar de festa. Por essa projeção e por ter em conta o “lado útil e humanitário desse exercício salutar”77, um cronista sugeriu “que os poderes públicos têm o dever iniludível de amparar e impulsionar” o esporte. Os governantes, de fato, passaram a dedicar maior atenção ao remo.
4. O mar definitivamente em festa - ações do poder público
Nos anos iniciais do século XX, o remo brasileiro deu passos sólidos a caminho de sua consolidação, um processo que foi, em grande medida, protagonizado pelas agremiações fluminenses, ainda que também se desenvolvesse em outros estados, notadamente em São Paulo78. As criações do Conselho Superior de Regatas, em 1900, e da Federação Brasileira de Sociedades de Remo, em 1902, são expressões da maior estruturação da modalidade, manifesta em iniciativas de maior controle dos envolvidos, bem como de ampliar a representatividade para o cenário nacional.
Como no período anterior, as agremiações de Niterói participaram intensamente desse movimento, na organização das entidades e na promoção de provas, competindo nos páreos (inclusive nos mais importantes) e em várias ocasiões se tornando vencedoras. Os clubes niteroienses foram dos mais ativos, ainda que tenham ocorrido choques e rompimentos temporários com o Conselho e Federação79.
Pari passu com esse envolvimento nas iniciativas do Distrito Federal, em Niterói as regatas continuaram a ser celebradas, definitivamente se consolidando como um dos mais esperados entretenimentos. Não exagerou o cronista quando, identificando que o esporte já fazia parte do cotidiano da cidade, afirmou:
Para que fosse completa a lista de folguedos, era preciso também que o povo tivesse uma de suas diversões prediletas. Sumamente esportiva a população desta e da vizinha cidade correrão amanhã pressurosas à Praia da Glória assistir à luta que se vai travar entre todos os valentes grupos de regatas fluminense.80
O remo definitivamente conquistara a cidade. A cada vitória dos clubes niteroienses, a população delirava. Associados e gente do povo esperavam os remadores na estação das barcas, com banda de música, fogos de artifício e disposição para festejar81. A algazarra tomava conta das ruas com grande número de pessoas seguindo os atletas em seu desfile82. No Teatro João Caetano foi exibida uma peça em homenagem às agremiações náuticas: “O Dragão dos Mares”. Um número crescente de lojas passou a vender produtos destinados à prática do esporte; surgiu até mesmo uma especializada: “Ao Sport Náutico”, localizada na região central.
Para coroar a popularidade do remo, duas vezes mais se tornaram vitoriosas no prestigioso campeonato do Rio de Janeiro guarnições do Grupo de Regatas Gragoatá, em 1900 e 1904. Comentando uma dessas vitórias, Macâmboa (o já citado Alfredo Azamor) fez questão de, como de costume, relacioná-la com o reconhecimento do valor da cidade: “os seus louros que são os de Niterói, que amo com calma, são também os meus louros. […] Às associações de regatas niteroienses devemos nós muitas salvas e muitos atos de benemerência”83.
A participação do Gragoatá e do Icaraí continuava sendo representada como se tivesse uma dupla função, uma interna, relativa ao próprio desenvolvimento da cidade, e outra externa, a projeção do município para além de suas fronteiras: “Duplo é seu dever em vencer: manter os louros de campeã para nossa Niterói e colher os louros do incentivo desse salutar e honrado esporte - o remo”84. Frente a um resultado não positivo, o cronista consolava os clubes e torcia para que “Niterói possa na próxima regata […] sobrepujar a vizinha adversária”85.
Um grande diferencial daquele início de século foi o fato de que os clubes náuticos começaram a promover eventos atléticos que mesclavam provas náuticas com páreos de natação e corridas a pé86. Por vezes, sequer regatas eram promovidas (competições sempre mais complexas do ponto de vista estrutural)87. As agremiações assumiram definitivamente a exaltação de um certo atleticismo que vinha se delineando desde o século XIX, alinhando o esporte aos princípios modernos e civilizatórios de valorização da saúde e da higiene, uma estratégia de intervenção e controle social.
Com tamanha popularidade, não surpreende que tenham surgido outras agremiações. Em julho de 1900, Gragoatá e Icaraí ganharam a companhia do Grupo Náutico, que em setembro inaugurou com grande celebração sua sede, localizada na Praia de São Domingos, nas redondezas das outras duas. Em outubro, promoveu passeios marítimos; em dezembro, organizou sua primeira “festa íntima”, competição em que participavam apenas os sócios, cujo programa foi composto por provas de remo, natação e corridas a pé88.
O clube rapidamente se integrou ao mundo do esporte náutico, inclusive em função de algumas inovações, como a “volta da Baía da Guanabara”: uma baleeira em dois dias percorreu 100.000 metros. O feito mereceu um minucioso relato e foi muito saudado na cidade89.
No fim de 1901, o Grupo Náutico filiou-se à Federação Brasileira de Sociedades de Remo90. Houve, todavia, um problema na primeira regata na qual tomou parte, disputada na Enseada de Botafogo. Na volta para Niterói, na estação das barcas, irrompeu um ruidoso conflito entre remadores do clube e do Gragoatá91.
O fato teve grande repercussão negativa em Niterói e no Rio de Janeiro, sendo motivo de avaliação e reprimenda por parte da diretoria da Federação Brasileira de Sociedades de Remo92, afinal, maculava-se uma imagem que tanto alguns cronistas e lideranças do remo tentavam forjar93.
Destaque maior merece outra sociedade náutica que teve trajetória mais intensa e original. Em 1902, foi criado o Clube de Regatas Fluminense, presidido por Maximo Salusse Lussac, engenheiro da Light and Power, com sede na fronteira entre os bairros de Santana e Barreto.
O Clube de Regatas Fluminense parece ter tido uma formação societária distinta. Enquanto as outras agremiações tinham associados de perfil semelhante - gente da burguesia niteroiense - na agremiação de Santana/Barreto, mesmo que também estivesse envolvida gente da elite que vivia nas redondezas, havia sócios de estrato médio baixo, especialmente alguns que trabalhavam nas fábricas da região94. Mudara o mapa do remo em Niterói, estando o litoral mais preenchido pelos interessados no delírio do rowing (“remo”).
Legenda: Em azul, está indicada a região onde se encontrava o Clube de Regatas Icaraí. Em laranja, a região do Clube de Natação e Regatas do Ingá, uma agremiação de curta duração. Em vermelho, a região do Grupo de Regatas Gragoatá, em lilás, está a região do Grupo Náutico. Em amarelo, a estação das barcas, e em rosa, a região do Clube de Regatas Fluminense.
A despeito dessa diferença, o Regatas Fluminense mereceu a consideração das outras agremiações por levar o remo a uma região mais afastada da cidade, além de não lhes ser um concorrente direto. Juca Flautim, cronista de O Fluminense, chegou a compor uma peça elogiosa ao clube95:
Tivemos lá em Santana Uma regata magana, Bela festa da semana Que a todos deixou saudade. Uns páreos bem disputados, Flores, moças, convidados Que lá foram bem tratados, Na maior cordialidade.O Regatas Fluminense, de fato, investia mais nas atividades cotidianas de seus associados e nas “festas íntimas”, nas quais eram promovidas provas de remo, natação e corridas a pé. Essas ocasiões eram encaradas pelos cronistas como mais um contributo para a cidade na medida em que ofereciam uma diversão gratuita e saudável para a população96.
Ainda que tomasse parte em alguns eventos sociais e enviasse barcas de associados para as competições, o Regatas Fluminense nunca se filiou à Federação Brasileira de Sociedades de Remo. Foi mesmo um dos protagonistas da criação de uma entidade alternativa, o Conselho Nacional do Remo. Promoveu, em janeiro de 1904, a inaugural regata dessa iniciativa, ocasião que contou com grande público e presença de autoridades, entre as quais o governador do estado do Rio de Janeiro, Nilo Peçanha97.
O comparecimento do notório líder político pode ser, naquele contexto, um sinal de que havia crescente atenção governamental para o remo. À moda do que planejara e implementava Rodrigues Alves no Rio de Janeiro, em conjunto com Pereira Passos98, o governador do estado pretendia usar o esporte náutico como auxiliar no seu projeto de renovação de Niterói. A essa altura, a cidade já retornara à condição de capital (1903), graças, inclusive, ao envolvimento de Peçanha e outras importantes lideranças fluminenses.
Vale considerar que os remadores estiveram entre os que mais intensamente comemoraram o fato de Niterói voltar a ser a capital do estado. Uma das ocasiões marcantes foi quando associados do Gragoatá, liderados pelo presidente Alberto Mendonça - um dos grandes nomes do esporte náutico nacional - visitou a redação de A Capital, um periódico lançado há poucos meses, para celebrar o feito. Para o cronista, essa postura demonstrava o valor da “mocidade dos clubes náuticos, educada na observância dos princípio da higiene física e moral, mocidade que constitui a mais viva esperanças da pátria e a maior garantia do futuro da terra fluminense”99.
Nilo Peçanha já tinha alguma proximidade com a modalidade: fora o relator do projeto de lei do deputado Barros Franco Junior, apresentado à Câmara Federal, em 1901, no qual se instituía um prêmio anual a ser conferido para um páreo de remo. No decorrer do tempo, o líder político foi um dos que mais incentivou e prestigiou as agremiações náuticas de Niterói, também recebendo delas muitas homenagens, como um Diploma de Honra do Icaraí, entregue em cerimônia festiva realizada em fevereiro de 1904100. Não havia solenidade de apoio a Peçanha sem atividades ou representantes das sociedades náuticas101.
Deve-se ter em conta que as intervenções do poder público nem sempre agradaram os clubes de remo. Um exemplo é um episódio que ocorreu em 1904, quando o prefeito Paulo Alves determinou que a polícia exigisse maior pudor nas vestimentas de praia, mirando diretamente o comportamento dos rowers. Para o governante, seria mais uma ação no sentido de ordenar a cidade.
De fato, o novo modo de se vestir e a nova compleição corporal apresentavam-se como uma ruptura social, eventualmente até mesmo surgindo alguém que criticava os que exibiam “o muque dos braços, dos pescoços, das pernas, dentro de uma roupa fresca demais para uma cidade civilizada”102. Em geral, todavia, os novos comportamentos eram valorizados.
Por isso, para um cronista de O Fluminense103, tratava-se de medida desnecessária a tomada pelo prefeito, já que não houvera reclamações públicas sobre o assunto. No seu olhar, a decisão de Alves seria mais um indício de que desconhecia a cidade, uma acusação que sempre pendeu sobre o alcaide, que governou debaixo de muitas críticas, oposições e polêmicas104.
Tratou-se de uma exceção. As intervenções governamentais, em geral, incentivaram o remo. Tavares de Macedo - notório médico e liderança política, muito relacionado ao esporte -, inspirado no apoio que já se oferecera no Distrito Federal, apresentou à Câmara Municipal de Niterói um projeto de lei instituindo uma medalha de ouro para agremiação da cidade que mais vitórias obtivesse na temporada, considerando o “alcance salutar” das atividades náuticas no que tange ao “avigoramento dinâmico, útil e proveitoso”105. A deliberação foi sancionada pelo prefeito Pereira Nunes em dezembro de 1904106.
Na verdade, há indícios de que, desde os anos finais do século XIX, o governo municipal apoiava algumas atividades das agremiações náuticas. Encontramos uma evidência desse subsídio numa crônica publicada em O Fluminense em 1899107. Categoricamente, isso foi registrado no balanço financeiro da prefeitura nos anos de 1907, 1908 e 1910 a 1914 - mais um indicador de que havia mesmo interesse governamental, para além das articulações que devem ter sido feitas pelos associados mais notórios dos clubes.
O delírio do mar, assim, passara a integrar explicitamente as preocupações do poder público no que tange à reconstrução de Niterói, passando a ser vislumbrado como mais uma potencial ferramenta de modernização da cidade.
5. Conclusão
Entre 1895 e 1904, em Niterói, o remo estruturou-se e teve seu momento áureo. A partir de 1905, percebe-se que os clubes que se mantiveram abertos - exatamente os dois mais antigos, o Gragoatá e o Icaraí, diversificaram suas atividades ainda mais, sempre insistindo no discurso de que estavam dando contribuições para uma cidade que seguia passando por mudanças, argumento que legitimava a busca constante de apoio governamental.
Vejamos que, em julho de 1905, quando o Icaraí promoveu a regata inaugural da temporada da Federação Brasileira de Sociedades de Remo, a diretoria não esqueceu de elogiar os políticos que procuravam relacionar seu nome ao esporte: Pereira Passos, Pereira Nunes e Nilo Peçanha108. A prefeitura apoiou intensamente a organização do evento, inclusive com a cessão de um troféu.
Esse envolvimento de governantes com o remo seguiu usual até a década seguinte. Por exemplo, em 1912, uma regata foi promovida em homenagem a Nilo Peçanha109, evento que contou com apoio do governador do estado, Oliveira Botelho, e do prefeito Feliciano Sodré. A festa foi eivada de sucesso, tendo comparecido grande público e deixado marcas na memória de Niterói110.
Peçanha foi, de fato, um dos dirigentes mais festejados pelo remo niteroiense, graças, inclusive, a sua forte vinculação com o Clube de Regatas Icaraí. Essa intensa relação é um dos indícios de como o poder público se manteve perto do esporte náutico, uma estratégia para celebrar seus projetos de renovação social, mas também para garantir sua popularidade ao vincular sua imagem a algo tão apreciado pelo grande conjunto da população, saudado como prática saudável e moderna.
Até mesmo em função do mais constante incentivo governamental, a partir de 1905, observa-se uma estabilização do remo em Niterói. Nesse ano, o Gragoatá possuía 18 embarcações (sendo uma à vela) e cerca de 120 sócios. Já o Icaraí, 11 barcos (um à vela) e aproximadamente 100 associados111. Todavia, no cenário público grassava uma sensação pouco eufórica, como podemos perceber no olhar do cronista que assina como Latitude:
Não há dúvida de que o esporte náutico vai perdendo o entusiasmo. Ontem realizou-se uma regata e esta festa esportiva foi promovida por um clube desta cidade? Qual a barca foi fretada por clubes desta cidade? Quais os convidados dos clubes com sede em Niterói? A festa parece que foi somente para os associados.112
Que motivos haveria para tal sensação num momento em que crescentemente o cenário político niteroiense apontava para a valorização do esporte náutico? Se o remo reinou sozinho nos momentos pós Revolta da Armada, com o decorrer do tempo foram surgindo outros divertimentos e modalidades que dividiram a atenção do público. O próprio excesso de atividades e clubes náuticos pode ter também contribuído para que deixasse de ser uma novidade, num cenário que cada vez mais se valorizavam as atrações não conhecidas, algo ligado ao próprio frenesi da cidade que ia se ajustando a determinados parâmetros da modernidade.
Além disso, com o esporte mais bem estruturado no Rio de Janeiro, inclusive em função da inauguração do Pavilhão de Regatas (1906), uma das mais importantes conquistas do remo - realização articulada com as reformas urbanas pelas quais passou a capital nacional, especialmente no que tange à construção da Avenida Beira-Mar113-, as agremiações de Niterói passaram ainda mais a ser habituées da cidade vizinha, inclusive por lá promovendo suas regatas114.
De toda forma, o remo já dera suas contribuições para movimentar a cena pública, combatendo o marasmo e o tédio, na mesma medida em que ajudou a forjar novos heróis urbanos e novas representações para a cidade que passara por momentos difíceis e entabulara movimentos de reconstrução dialogando com certos parâmetros modernos.
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- WEHRS, Carlos. Niteroi, cidade sorriso: a historia de um lugar. Rio de Janeiro: Vida Domestica, 1984.
-
3
Poema publicado no jornal O Fluminense (1893, p. 3), que tematiza os impactos da Revolta da Armada em Niterói.
-
4
WEHRS, Carlos. Niterói, cidade sorriso: a história de um lugar. Rio de Janeiro: Vida Doméstica, 1984.
-
5
FERREIRA, Marieta de Moraes. Niterói poder: a cidade como centro político. In: MARTINS, Ismênia de Lima; KNAUSS, Paulo (org.). Cidade múltipla: temas de história de Niterói. Niterói: Fundação de Arte de Niterói, 1997, p. 82.
-
6
Ibidem, p. 83.
-
7
WEHRS, Carlos. Op. Cit.
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8
VASCONCELLOS, Clodomiro de. História do estado do Rio de Janeiro. São Paulo: Melhoramentos, 1928; COSTA, Sergio Corrêa da. A diplomacia do Marechal: intervenção estrangeira na Revolta da Armada. Brasília: Funag, 2017.
-
9
Cf. FERNANDES, Rui Aniceto Nascimento. Historiografia e identidade fluminense: a escrita da história e os usos do passado no estado do Rio de Janeiro entre as décadas de 1930 e 1950. 2009. Tese (Doutorado em História) - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
-
10
MELO, Victor Andrade de. Forjando a capital: as experiências dos primeiros clubes de turfe e remo de Niterói (décadas de 1870 - 1880). Tempo, Niterói, v. 26, n. 1, p. 43-66, 2020.
-
11
Para mais informações sobre o periódico, ver o verbete “O Fluminense” no Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, localizado no acervo do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC-FGV), disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo.
-
12
LUCA, Tânia Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005. p. 111-153.
-
13
MARTINS, Ismênia de Lima. Niterói histórico: a cidade e a historiografia. In: MARTINS, Ismênia de Lima; KNAUSS, Paulo (orgs.). Cidade múltipla: temas de história de Niterói. Niterói: Fundação de Arte de Niterói, 1997. p. 229-259.
-
14
O Fluminense, 18 dez. 1894, p. 1.
-
15
MELO, Victor Andrade de. Forjando a capital… Op. Cit.
-
16
O Fluminense, 18 dez. 1894, p. 1.
-
17
O Fluminense, 29 jun. 1895, p. 2.
-
18
O Fluminense, 19 dez. 1895, p. 1.
-
19
MELO, Victor Andrade de. Forjando a capital… Op. Cit.
-
20
O Fluminense, 1 jun, 1894, p. 1.
-
21
Ibidem.
-
22
O Fluminense, 28 mai. 1895, p. 1.
-
23
Para que se tenha uma ideia de sua importância, a Casa Pascoal foi a responsável por organizar a alimentação do Baile da Ilha Fiscal, conhecido como “O último do Império”.
-
24
O Fluminense, 5 nov. 1896, p. 2.
-
25
MELO, Victor Andrade de. O espetáculo que educa o corpo: clubes atléticos na cidade de Niterói dos anos 1880. História da Educação, Porto Alegre, v. 23, p. 1-34, 2019.
-
26
Ver, por exemplo, O Fluminense, 1 jun. 1895, p. 2.
-
27
SOARES, Emmanuel de Macedo. Cem anos de regatas: álbum comemorativo do centenário do Clube de Regatas Icaraí. Niterói: s.n.,1995.
-
28
MELO, Victor Andrade de. Forjando a capital… Op. Cit.
-
29
O Fluminense, 27 ago. 1898, p. 1.
-
30
O Fluminense, 28 ago. 1898, p. 1.
-
31
O Fluminense, 17 dez. 1895, p. 1
-
32
SOARES, Emmanuel de Macedo. Cem anos… Op. Cit., p. 72.
-
33
SOARES, Emmanuel de Macedo. Notas. In: BACKHEUSER, Everardo. Minha terra e minha vida: Niterói há um século. Niterói: Niterói Livros, 1994.
-
34
O Fluminense, 15 dez. 1895, p. 1.
-
35
MELO, Victor Andrade de. Cidade sportiva: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Faperj; Relume Dumará, 2001.
-
36
Ibidem.
-
37
Disponível em: https://www.clubegragoata.com.br/historia. Acesso em: 16 nov. 2020.
-
38
Alguns dias depois, os associados do Gragoatá retribuíram a visita, fazendo uma grande festa pública no caminho entre as duas sedes.
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39
O Fluminense, 26 jun. 1898, p. 1.
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40
O Fluminense, 7 jun. 1898, p. 1.
-
41
SOARES, Emmanuel de Macedo. Cem anos de regatas… Op. Cit.
-
42
Sobre Torres, c.f. JORGE, Marcos. Alberto Torres e as primeiras formulações teóricas sobre a educação e a “questão social” no Brasil (1909-1915). 1997. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1997.
-
43
O Fluminense, 17 out. 1899, p. 1.
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44
Semana Sportiva, 21 out. 1899, p. 2.
-
45
Ibidem.
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46
O Fluminense, 20 ago. 1898, p. 1.
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47
O Fluminense, 30 mai. 1899, p. 1.
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48
O Fluminense, 5 dez. 1897, p. 2.
-
49
O Fluminense, 1 nov. 1898, p. 1.
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50
O Fluminense, 8 jun. 1898, p. 1.
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51
Como se pode perceber em um comentário de Jal em sua crônica semanal publicada no folhetim de O Fluminense de 24 de outubro de 1896, p. 1.
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52
Personagem importante da intelectualidade niteroiense, abolicionista e liberal, notabilizou-se pelos desejos de contribuir para o progresso de Niterói.
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53
O Fluminense, 25 out. 1896, p. 1.
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54
O Fluminense, 19 nov. 1896, p. 1.
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55
O Fluminense, 22 nov. 1896, p. 1.
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56
O Fluminense, 27 jul. 1897, p. 1.
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57
O Fluminense, 27 jul. 1897, p. 1.
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58
O Fluminense, 24 nov. 1896, p. 1.
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59
O Fluminense, 30 mar. 1897, p. 1.
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60
O Fluminense, 3 abr. 1897, p. 1.
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61
Um bom exemplo pode ser visto em O Fluminense, 8 jun. 1898, p. 1.
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62
O Fluminense, 18 out. 1898, p. 1.
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63
MELO, Victor Andrade de. Forjando a capital… Op. Cit.; MELO, Victor Andrade de. O espetáculo… Op. Cit.
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64
O Fluminense, 26 nov. 1895, p. 1.
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65
O Fluminense, 26 nov. 1895, p. 1.
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66
O Fluminense, 9 set. 1897, p. 1.
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67
O Fluminense, 8 jun. 1898, p. 1.
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68
O Fluminense, 12 jun. 1898, p. 1.
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69
Disponível em https://www.clubegragoata.com.br/historia. Acesso em: 16 nov. 2020.
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70
O Fluminense, 22 dez. 1895, p. 1.
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71
O Fluminense, 23 jun. 1896, p. 2. Não se tinha claro exatamente as contribuições para saúde, algumas vezes exagerando-se nas suas potencialidades. Um cronista sugeriu que “consolida o esqueleto, abre o apetite, torna o sono mais profundo, facilita o respirar, favorece a digestão e por conseguinte aumenta o nosso vigor, mantém nossa saúde, cresce a nossa destreza e desenvolve a nossa coragem” (O Fluminense, 4 jun. 1899, p. 1).
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72
O Fluminense, 12 nov. 1896, p. 1.
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73
Disponível em: https://twitter.com/mengaoretro/status/1269627968130777089. Acesso em: 16 nov. 2020.
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74
O Fluminense, 3 jul. 1900, p. 3.
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75
Em várias ocasiões, o remo foi apresentado com a principal modalidade a resistir à “desmoralização do jogo” (O Fluminense, 4 jun. 1899, p. 1).
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76
Ver, por exemplo, a crônica de Mandecar publicada em O Fluminense, 18 ago. 1900, p. 1.
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77
Semana Sportiva, 31 mar. 1900, p. 2.
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78
MELO, Victor Andrade de. Cidade sportiva… Op. Cit.
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79
Ver, por exemplo, O Fluminense, 17 dez. 1901, p. 2.
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80
O Fluminense, 6 mai. 1900, p. 2.
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81
Descrições de alguns festejos encontram-se em Semana Sportiva, 18 ago 1900, p. 2; Semana Sportiva, 1 set. 1900, p. 2; A Notícia, 28 e 29 ago. 1900, p. 3; O Fluminense, 15 ago. 1904, p. 2.
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82
Ver, por exemplo, O Fluminense, 23 jun. 1901, p. 2.
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83
O Fluminense, 21 ago. 1904, p. 2. O Gragoatá voltaria a vencer esse campeonato em 1908. O Icaraí nunca o venceria, a despeito de muitas conquistas, inclusive algumas importantes provas.
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84
O Fluminense, 6 mai. 1900, p. 2.
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85
O Fluminense, 8 mai. 1900, p. 2.
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86
Ver, por exemplo, O Fluminense, 2 nov. 1900, p. 2 e O Fluminense, 7 jan. 1904, p. 2.
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87
Ver, por exemplo, evento de natação e corridas promovido pelo Icaraí, em 1904 (O Fluminense, 7 jan. 1904, p. 2).
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88
O Fluminense, 19 dez. 1900, p. 1.
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89
O Fluminense, 22 abr. 1902, p. 2.
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90
O Fluminense, 10 dez. 1901, p. 2.
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91
O Fluminense, 10 jun. 1902, p. 2.
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92
Sport Náutico - suplemento da Revista da Semana, 29 jun. 1902, p. 18.
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93
Essa rivalidade seguiu por anos, até o Náutico fechar suas portas em 1903. Ver, por exemplo, O Fluminense, 24 jun. 1903, p. 2.
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94
A sede do clube encontrava-se próxima da Fábrica de Fósforos Brilhante, da Fábrica de Fósforos Fiat Luz, das oficinas e estações da Estrada de Ferro Leopoldina, de dois armazéns de café (Hard, Raml e Cia, bem como Theodor Wille e Cia) e da Companhia Manufatora Fluminense.
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95
O Fluminense, 15 jun. 1903, p. 1.
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96
Ver, por exemplo, a crônica de Mordecar em O Fluminense, 12 dez. 1903, p. 1.
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97
O Fluminense, 25 de janeiro de 1904.
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98
MELO, Victor Andrade de. Cidade sportiva… Op. Cit.
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99
A Capital, 12 ago. 1902, p. 1.
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100
O Fluminense, 25 fev. 1904, p. 2.
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101
Ver, por exemplo, O Fluminense, 8 jan. 1905, p. 1.
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102
O Fluminense, 4 nov. 1905, p. 2.
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103
O Fluminense, 20 ago. 1904, p. 1
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104
Curiosamente, Alves, primeiro prefeito de Niterói, citou o remo em sua mensagem inaugural proferida para a Câmara Municipal em 24 de março de 1904, indicando que as regatas seriam uma alternativa para realçar as belezas naturais da cidade (ALVES, Paulo. Mensagem apresentada á Camara Municipal de Nictheroy na Sessão Inaugural do Primeiro Período Legislativo (RJ). Niterói: [s.n.], 1904. Câmara Municipal de Niterói).
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105
O Fluminense, 14 set. 1904, p. 1.
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106
A instituição de um prêmio para um páreo municipal específico, à moda do que fora instituído no Distrito Federal, somente seria observado em Niterói em 1924 (deliberação 305, de 31 de dezembro), para o remo e para a natação. No decorrer dos anos, vários outros incentivos foram concedidos às agremiações, inclusive terrenos para estabelecimento de suas sedes e isenções de impostos.
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107
O Fluminense, 7 jul. 1899, p. 3.
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108
O Fluminense, 7 jun. 1905, p. 1.
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109
O Fluminense, 20 jun. 1912, p. 1.
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110
Ver, por exemplo, O Fluminense, 22 jul. 1912, p. 2.
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111
A Lanterna, 30 abr. 1905, p. 12.
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112
O Fluminense, 16 jul. 1906, p. 3
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113
MELO, Victor Andrade de. Cidade sportiva… Op. Cit.
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114
Ver, por exemplo, O Fluminense, 12 jun. 1910, p. 2 (regata do Icaraí) e O Fluminense, 12 jun. 1911, p. 1 (regata do Gragoatá).
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
18 Dez 2020 -
Data do Fascículo
2020
Histórico
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Recebido
24 Jan 2019 -
Aceito
18 Dez 2019