RESUMO
Campylocentrum Benth. possui distribuição neotropical e cerca de 73 espécies arranjadas em cinco seções. No Brasil, está representado por 38 espécies (24 endêmicas), concentradas, sobretudo, na Mata Atlântica. Com intuito de contribuir com o conhecimento taxonômico do gênero em áreas de Cerrado do Brasil Central, onde o mesmo não é estudado, fornecemos um tratamento taxonômico às espécies ocorrentes no Distrito Federal e no Estado de Goiás. Foram registrados cinco taxa arranjados em três seções: C. kuntzei Cogn. ex Kuntze, C. mattogrossense Hoehne (C. sect. Campylocentrum Cogn.), C. neglectum (Rchb. f. & Warm.) Cogn. (C. sect. Laevigatum E. Pessoa & M. Chase), C. fasciola (Lindl.) Cogn. e C. pachyrrhizum (Rchb. f.) Rolfe (C. sect. Dendrophylopsis Cogn.). Destes, C. fasciola constitui uma nova ocorrência para a flora de Goiás. São apresentados uma chave de identificação, descrições, comentários taxonômicos e de distribuição geográfica, além de imagens e ilustrações.
Palavras-chave: Angraecinae; Cerrado; Flora; Taxonomia; Vandeae
ABSTRACT
Campylocentrum Benth. has a neotropical distribution and about 73 species arranged in five sections. In Brazil, it is represented by 38 species (24 endemic), concentrated mainly in the Atlantic Forest. In order to contribute to the taxonomic knowledge of the genus in Cerrado areas of Central Brazil, where it is not studied, we provide a taxonomic treatment for species occurring in the Federal District and in the Goiás State. Five taxa were recorded arranged in three sections: C. kuntzei Cogn. ex Kuntze, C. mattogrossense Hoehne (C. sect. Campylocentrum Cogn.), C. neglectum (Rchb.f. & Warm.) Cogn. (C. sect. Laevigatum E. Pessoa & M. Chase), C. fasciola (Lindl.) Cogn. and C. pachyrrhizum (Rchb.f.) Rolfe (C. sect. Dendrophylopsis Cogn.). Of these, C. fasciola constitutes a new occurrence for the flora of Goiás. Here we provide an identification key, descriptions, taxonomic and geographic distribution comments, in addition to images and illustrations are presented.
Keywords: Angraecinae; Flora; Savannas; Taxonomy; Vandeae
Introdução
Campylocentrum Benth. é monofilético, possui distribuição neotropical (Kolanowska 2014, Pessoa et al. 2018) e emerge como o segundo maior gênero da subtribo Angraecinae Summerh. (Vandeae Lindl.), com cerca de 73 espécies arranjadas em cinco seções: C. sect. Campylocentrum Cogn., C. sect. Dendrophylopsis Cogn., C. sect. Laevigatum E. Pessoa & M. Chase, C. sect. Pseudocampylocentrum Cogn. e C. sect. Teretifolium E.M. Pessoa & M.W. Chase (Pridgeon et al. 2014, Pessoa & Alves 2018, Pessoa et al. 2018). No Brasil, representa-se por 38 espécies, 24 delas endêmicas, concentradas, sobretudo, na Mata Atlântica (Pessoa 2020).
O gênero reúne plantas majoritariamente epífitas, áfilas, com folhas desenvolvidas ou escamiformes com ápice usualmente assimétrico; raízes cilíndricas ou achatadas, por vezes, assumindo a função fotossintética das folhas; caules alongados ou encurtados; flores diminutas, calcaradas, esbranquiçadas, amareladas ou alaranjadas, dispostas disticamente em racemos laterais encurtados; sépalas e pétalas 1-multinervadas; labelo inteiro ou 3-lobado; calcar alongado ou encurtado de morfologia diversa; polinário com duas polínias globosas apendiculadas e cápsulas com ou sem costas (Pessoa & Alves 2015b, 2016a, b, 2018, 2019).
No Brasil, dentre os estudos mais relevantes, podemos citar os trabalhos clássicos de Cogniaux (1906), Hoehne & Schlechter (1922), Schlechter & Hoehne (1926), Mansfeld (1928), Hoehne (1938), Brade (1941) e Hoehne (1941), os quais subsidiaram os estudos taxonômico-revisionais mais recentes (ex., Pessoa & Alves 2015b, c, Pessoa et al. 2015, Pessoa & Alves 2016a, b, 2018, 2019), em que diversos dos problemas taxonômico-históricos e infragenéricos foram sanados. A somatória desses estudos norteou a descrição de novas espécies (vide Pessoa & Alves 2015a, d, Pessoa et al. 2015, 2016, Siqueira et al. 2015), da mesma forma que estudos de modelagem de nicho ecológico (Kolanowska 2014), biogeográficos e filogenéticos (Pessoa et al. 2018).
Trabalhos de cunho taxonômico direcionados a Campylocentrum na região Centro-Oeste (RCO) inexistem. No entanto, espécies deste gênero ocorrentes nesta região, são citadas nos estudos supracitados e em listagens florísticas sobre Orchidaceae Juss. e outras Angiospermas (vide Walter et al. 1999, Felfili et al. 2001, Batista & Bianchetti 2003, Batista et al. 2005, Tomazini 2007, Petini-Benelli 2009, Rodriguez et al. 2009, Rech et al. 2011, Petini-Benelli 2012, Oliveira 2013, Chacon et al. 2014, Lima 2014, Oliveira & Arcela 2014, Petini-Benelli 2014, Fernandes & Petini-Benelli 2016, Barros et al. 2018).
Considerando a inexistência de estudos taxonômicos com chaves, imagens e ilustrações direcionados às espécies de Campylocentrum na RCO, apresentamos o tratamento taxonômico aos taxa do referido gênero ocorrentes no Distrito Federal (DF) e no Estado de Goiás (GO), Brasil.
Material e Métodos
Foram feitas excussões entre outubro de 2018 e junho de 2021, segundo as recomendações de Mori et al. (1989), em diferentes fitofisionomias do Estado de Goiás (ca. 340.086,7 km2) e do Distrito Federal (ca. 5.801,9 km2) (figura 1), visando a coleta, a obtenção de fotografias e a observação das espécies em campo. Da mesma maneira, foram estudadas aproximadamente 55 espécimes provenientes de 10 herbários: BHCB, CEN, HEPH, HJ, HUEFS, IBGE, NY, SP, UB e UFG (Thiers 2021, continuamente atualizado), as quais subsidiaram a correta identificação das espécies juntamente com as literaturas especializadas (Pessoa & Alves 2015b, 2016b, 2018, 2019), e incrementaram as descrições delas, assim como os comentários sobre suas preferências ambientais. As informações contidas nas etiquetas das exsicatas foram utilizadas para a confecção do mapa de distribuição geográfica das espécies, elaborado através do software QGIS version 2.8.1. (Quantum GIS Development Team). Todo material coletado encontra-se disposto no acervo do Herbário UFG.
Mapa com os pontos de coleta das espécies de Campylocentrum Benth. no Estado de Goiás (GO) e no Distrito Federal (DF). Outros Estados: Bahia (BA), Minas Gerais (MG), Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS), Tocantins (TO).
Resultados e Discussão
Campylocentrum Benth. J. Linn. Soc., Bot. 18: 337. 1881.
Ervas epífitas, áfilas ou com folhas desenvolvidas planas, conduplicadas ou cilíndricas de margem inteira, ápice 2-lobado e assimétrico, verdes; ou ainda, reduzidas a escamas aclorofiladas escariosas. Cauloma não intumescido em pseudobulbos, cilíndrico, alongado ou encurtado, ramificado ou não. Raízes cilíndricas ou achatadas, esverdeadas, esbranquiçadas ou acinzentadas, por vezes, assumindo a função fotossintética das folhas, lisas ou granulosas. Brácteas do escapo reunidas na base, imbricadas, escariosas, margem ligeiramente erosa ou papilosa, castanhas. Brácteas florais ovais, triangulares e deltoides, frequentemente escariosas; flores calcaradas, diminutas, amareladas, esbranquiçadas, esverdeadas ou alaranjadas, dispostas disticamente em racemos usualmente opostos às folhas, laterais, encurtados, laxos ou congestos. Ovário pedicelado com ou sem papilas ou tricomas, envoltos, parcial ou completamente pelas brácteas florais. Pétalas e sépalas membranáceas, 1-multinervadas. Labelo inteiro ou 3-lobado. Calcar alongado ou encurtado, cilíndrico, clavado, elipsoide, obovoide ou sub-cônico, reflexo, patente, reto ou curvado. Coluna encurtada. Polinário composto por 2 polínias globosas apendiculadas, amarelas. Cápsulas globosas, obovoides, oblongoides ou elipsoides, costas ausentes ou presentes; sementes numerosas.
Campylocentrum, no Estado de Goiás e no Distrito Federal (figura 1), mostrou-se representado por cinco espécies arranjadas em três seções: C. kuntzei Cogn. ex Kuntze, C. mattogrossense Hoehne (C. sect. Campylocentrum Cogn.), C. neglectum (Rchb. f. & Warm.) Cogn. (C. sect. Laevigatum E. Pessoa & M. Chase), C. fasciola (Lindl.) Cogn. e C. pachyrrhizum (Rchb. f.) Rolfe (C. sect. Dendrophylopsis Cogn.). Dos taxa registrados, C. neglectum é o único compartilhado pelas duas UFs, enquanto C. fasciola configura uma nova ocorrência para o Estado de Goiás.
Os taxa registrados podem ser encontrados como epífitos, sobretudo, em formações florestais (ex., matas ciliares, de galeria, secas e cerradão), crescendo em meio aos ramos (no dossel) de árvores e sobre lianas, junto a fungos liquenizados e briófitas (musgos), costumeiramente, nas proximidades de corpos d´água. Eles se diferenciam, especialmente, pela presença de folhas desenvolvidas ou reduzidas a escamas (suas formas e ápices); comprimento do caule; aspectos das raízes (se cilíndricas ou achatadas); arranjo das flores na inflorescência; relação do comprimento das brácteas florais com o ovário pedicelado; dimensões, formas e disposição de suas peças florais; número de nervuras das sépalas e pétalas (incluindo o labelo); formato do ápice das anteras e pela presença ou ausência de costas em suas cápsulas.
Chave para as espécies de Campylocentrum Benth. ocorrentes em DF e GO
1. Plantas com folhas desenvolvidas, conspícuas, verdes; caule alongado
2. Folhas oblongo-elípticas, elípticas e oblanceoladas; flores ≥ 7 mm compr.; ovário sem papilas ou tricomas; cápsulas com costas
3. Lobos das folhas agudos; flores creme-esbranquiçadas; sépalas externamente pilosas; calcar curvado; ápice da antera arredondado ...................................................................... C. kuntzei
3. Lobos das folhas arredondados e obtusos; flores discretamente alaranjadas; sépalas glabras; calcar reto; ápice da antera truncado ............................................................... C. mattogrossense
2. Folhas oblongas; flores ≤ 6 mm compr.; ovário com papilas e tricomas; cápsulas sem costas ........................................................................................................................... C. neglectum
1. Plantas com folhas escamiformes, inconspícuas, marrons; caule encurtado
4. Raízes cilíndricas; inflorescências laxas; brácteas florais cobrindo apenas a base do ovário pedicelado; flores brancas; sépalas e pétalas 1-nervadas; calcar reto ou ligeiramente curvado, verde-claro ....................................................................................................................... C. fasciola
4. Raízes achatadas; inflorescências congestas; brácteas florais cobrindo completamente o ovário pedicelado; flores cremes; sépalas e pétalas 3-nervadas; calcar conspicuamente curvado, creme-esbranquiçado ........................................................................................................ C. pachyrrhizum
1. Campylocentrum fasciola (Lindl.) Cogn. Fl. Bras. 3(6): 520. 1906.
Campylocentrum fasciola (Lindl.) Cogn. (I.S. Santos, M.J. Silva & A.A. Alonso 1012, UFG). a. Hábito. b. Detalhe da inflorescência. c. Bráctea floral. d. Flor em vista lateral. e. Peças florais. f. Labelo e calcar em vista lateral. g. Antera em vista dorsal e ventral. h. Cápsula. Ilustrações de Igor Soares dos Santos.
Erva epífita, 4-6 cm alt. Raízes 1-1,2 mm diam., cilíndricas, lisas, verde-esbranquiçadas ou levemente amareladas. Caule 0,2-0,6 cm compr., encurtado, cilíndrico, não ramificado. Folhas 2-3 × 1 mm, escamiformes, lanceoladas, margem discretamente ciliada, ápice agudo, marrons. Racemos 3,5-5,4 cm compr., laxos com 16-28 flores; pedúnculo 0,6-1 cm compr., raque 2,5-3,7 cm compr., ambos pilosos e ocres. Brácteas florais 1,2-1,3 × 1-1,1 mm, ovais, cobrindo apenas a base do ovário pedicelado, margem discretamente ciliada, ápice agudo, castanhas. Flores 2-3 mm compr., brancas; ovário + pedicelo 1-1,5 mm compr., com papilas e tricomas discretos, esverdeados. Sépalas e pétalas 1-nervadas, membranáceas, margem inteira; sépala dorsal 1,4-1,5 × 0,7-1 mm, oblongo-elíptica, glabra, ápice obtuso e arredondado; sépalas laterais 1,5-1,6 × 0,7-1 mm, oblongo-elípticas, glabras, ápice agudo; pétalas 1-1,1 × 0,4-0,5 mm, elípticas, glabras, ápice obtuso; labelo 1,5-1,7 × 1,2-1,3 mm, 3-lobado, 7-nervado, glabro, membranáceo, margem inteira; lobos laterais 0,5-0,9 × 0,3-0,4 mm, sub-deltoides, ápice truncado e arredondado; lobo mediano 0,4-0,6 × 0,5-0,7 mm, deltoide, ápice obtuso; calcar 1-1,5 × 0,6-0,8 mm, reto ou ligeiramente curvado, glabro, ápice arredondado, verde-claro; coluna 0,3-0,4 mm compr., glabra, esverdeada; antera ca. 0,2-0,3 × 0,2-0,3 mm, glabra, ápice retuso, esbranquiçada. Cápsulas 3,4-5 × 2,2-3 mm, elipsoides, sem costas, discretamente pilosas, verde-amareladas.
Táxon distribuído pela Região Neotropical: Belize, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Guianas, Honduras, Jamaica, Martinica, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Suriname, Trindade e Tobago, e Venezuela (Pessoa & Alves 2016b). No Brasil, se distribui pelas regiões Centro-Oeste (MT), Nordeste (PE) e Norte (AM, PA, RO), habitando a Floresta Amazônica, Mata Atlântica e o Cerrado, respectivamente (Pessoa & Alves 2016b, Pessoa 2020).
Neste estudo, C. fasciola configura uma nova ocorrência para a flora de Goiás. Foi encontrada na Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável (RPDS) Legado Verdes do Cerrado (Núcleo Engenho), no município de Niquelândia, crescendo como epífita, em matas secas e de galeria, com flores e frutos entre março e junho.
Campylocentrum fasciola é facilmente diagnosticada por ser a única, dentre as espécies estudadas, com folhas escamiformes, raízes cilíndricas e inflorescências laxas. Relaciona-se a C. pachyrrhizum pelas folhas escamiformes, inconspícuas, marrons e caule encurtado. Contudo, diferencia-se pelas raízes cilíndricas, verde-esbranquiçadas (vs. achatadas e verde-escuras em C. pachyrrhizum), inflorescências laxas (vs. congestas), flores brancas com peças menores (vs. creme, maiores); ovário pedicelado coberto pelas brácteas florais apenas na base (vs. por toda extensão), sépalas e pétalas 1-nervadas (vs. 3-nervadas) e calcar reto ou discretamente curvado, verde-claro (vs. curvado, creme-esbranquiçado).
Material examinado: BRASIL. Goiás: Niquelândia, Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável Legado Verdes do Cerrado (RPDS - LVC), Núcleo Engenho, na altura do Córrego da Sociedade, próximo a ponte, de ambos os lados, 26-III-2021, fl., I.S. Santos, M.J. Silva & A.A. Alonso 1012 (UFG); idem., 23-VI-2021, fr., I.S. Santos, J.O. Costa & M.J. Silva 1076 (UFG).
2. Campylocentrum kuntzei Cogn. ex Kuntze Revis. Gen. Pl. 3: 298. 1898.
Campylocentrum kuntzei Cogn. ex Kuntze (I.S. Santos, J.O. Costa & M.J. Silva 1093, UFG). a. Hábito. b. Detalhe da inflorescência. c. Bráctea floral. d. Flor em vista lateral. e. Peças florais. f. Labelo e calcar em vista lateral. g. Antera em vista dorsal e ventral. h. Cápsula. Ilustrações de Igor Soares dos Santos.
Erva epífita, 17-35,7 cm alt. Raízes 1-2 mm diam., cilíndricas, lisas, verde-esbranquiçadas. Caule 9-30 cm compr., alongado, cilíndrico, não ramificado. Folhas 6,3-11,5 × 0,9-2 cm, desenvolvidas, oblongo-elípticas, elípticas e oblanceoladas, margem inteira, ápice 2-lobado, lobos agudos, verdes. Racemos 2,5-3,3 cm compr., congestos com 18-26 flores; pedúnculo 0,2-0,4 cm compr., raque 2-2,1 cm compr., ambos glabros e esverdeados. Brácteas florais 1-2 × 1-1,4 mm, deltoides, cobrindo apenas a base do ovário pedicelado, margem discretamente ciliada, ápice agudo, castanhas. Flores 8-9,5 mm compr., creme-esbranquiçadas; ovário + pedicelo 0,8-1,1 mm compr., sem papilas ou tricomas, esverdeado. Sépalas e pétalas 3-nervadas, membranáceas, margem inteira; sépala dorsal 3,6-5 × 1-1,2 mm, oblonga, externamente pilosa, ápice agudo; sépalas laterais 4,4-6 × 1-1,3 mm, oblongas ou oblongo-subfalcadas, externamente pilosas, ápice agudo; pétalas 3,8-5 × 0,7-1 mm, oblongas, glabras, ápice agudo; labelo 5,2-6 × 1,1-2 mm, 3-lobado, 7-9-nervado, glabro, membranáceo, margem inteira; lobos laterais 1,3-1,6 × 0,2-0,4 mm, oblongos, ápice obtuso; lobo mediano 3,1-4 × 1 mm, estreitamente lanceolado, ápice agudo; calcar 5-6,1 × 1-1,2 mm, cilíndrico-clavado, curvado, esparsamente piloso, ápice arredondado, creme; coluna ca. 0,6 mm compr., glabra, esverdeada; antera ca. 0,3 × 0,3 mm, glabra, ápice arredondado, esbranquiçada. Cápsulas 9-13 × 3,1-4,3 mm, oblongoides e elipsoides, costadas, verdes.
Campylocentrum kuntzei ocorre na Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Brasil, sendo neste último encontrada nas regiões Centro-Oeste (GO, MT) e Norte (AC, RO), nos domínios fitogeográficos Amazônia e Cerrado (Pessoa & Alves 2015b, Pessoa 2020).
De acordo com Pessoa et al. (2015), C. kuntzei faz parte do Complexo C. micranthum, que reúne cerca de sete espécies com racemos encurtados e congestos, das quais, quatro são reportadas para o Brasil (C. huebneri Mansf., C. kuntzei, C. mattogrossense e C. micranthum (Lindl.) Maury).
Dentre as espécies estudadas, C. kuntzei relaciona-se morfologicamente com C. mattogrossense por compartilharem do caule alongado e cilíndrico; das raízes cilíndricas, branco-esverdeadas; das folhas oblongo-elípticas, elípticas e oblanceoladas com ápice 2-lobado, além das flores com ovário pedicelado desprovido de papilas com sépalas e pétalas 3-nervadas, e labelo 7-9-nervado. Entretanto, C. kuntzei possui folhas com lobos agudos (vs. arredondados e obtusos em C. mattogrossense), flores creme-esbranquiçadas (vs. discretamente alaranjadas), sépalas externamente pilosas (vs. glabras), calcar curvado, esparsamente piloso e creme (vs. reto, glabro, discretamente alaranjado), e antera com ápice arredondado (vs. truncado). Foi encontrada como epífita em matas ciliares e de galeria na região Centro-Nordeste do Estado de Goiás, com flores e frutos entre junho e novembro.
Material examinado: BRASIL. Goiás: Alexânia, margem direita do Lago Corumbá IV, 16°12'05''S, 48°27'18''W, 830 m, 7-VI-2005, fl., G. Pereira-Silva et al. 10114 (CEN); Corumbaíba, Córrego Libórea, 14-XI-1997, fl., S.P.C. Silva et al. 730 (CEN); Niquelândia, Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável Legado Verdes do Cerrado (RPDS - LVC), Núcleo Engenho, região do Romão, ca. de 4 km após a porteira de entrada, próximo ao córrego, 24-VI-2021, fr., I.S. Santos, J.O. Costa & M.J. Silva 1092, 1093 (UFG); Pirenópolis, Santuário de Vida Silvestre Vaga Fogo, 15°49'19''S, 48°59'39''W, 760 m, 27-XI-2002, fl., M.L. Fonseca, D. Alvarenga & E. Cardoso 3856 (CEN, IBGE, SP).
3. Campylocentrum mattogrossenseHoehne Arq. Bot. Estado São Paulo. 1(3): 62. 1941.
Campylocentrum mattogrossense Hoehne (J.A.N. Batista 375, CEN). a. Hábito. b. Detalhe da inflorescência. c. Bráctea floral. d. Flor em vista lateral. e. Peças florais. f. Labelo e calcar em vista lateral. g. Antera em vista dorsal e ventral. h. Cápsula. Ilustrações de Igor Soares dos Santos.
Erva epífita, 49,5-50 cm alt. Raízes 1,5-2 mm diam., cilíndricas, lisas, verde-esbranquiçadas. Caule 32-32,6 cm compr., alongado, cilíndrico, não ramificado. Folhas 4-9,6 × 0,7-2 cm, desenvolvidas, oblongo-elípticas, elípticas e oblanceoladas, margem inteira, ápice 2-lobado, lobos arredondados e obtusos, verdes. Racemos 1-2,4 cm compr., congestos com 13-20 flores; pedúnculo 0,2-0,4 cm compr., raque 1-2,1 cm compr., ambos glabros e esverdeados. Brácteas florais 1-1,5 × 7-9 mm, oblongo-deltoides, cobrindo apenas a base do ovário pedicelado, margem discretamente ciliada, ápice agudo, castanhas. Flores 7-10 mm compr., discretamente alaranjadas; ovário + pedicelo 0,7-2 mm compr., sem papilas ou tricomas, esverdeado. Sépalas e pétalas 3-nervadas, membranáceas, margem inteira; sépala dorsal 4,6-5 × 0,8-1 mm, oblonga, glabra, ápice agudo; sépalas laterais 4,8-5 × 0,8-1 mm, oblongas, subfalcadas, glabras, ápice agudo; pétalas 4,6-5 × 0,7-0,8 mm, oblongas, glabras, ápice agudo; labelo 5 × 2-2,3 mm, 3-lobado, 7-9-nervado, glabro, membranáceo, margem inteira; lobos laterais 1,8-2 × 0,4-0,5 mm, oblongos, ápice arredondado; lobo mediano 3-3,2 × 0,8-1 mm, estreitamente lanceolado, ápice agudo; calcar 5 × 1-1,2 mm, cilíndrico-clavado, reto, glabro, ápice arredondado, discretamente alaranjado; coluna ca. 0,7 mm compr., glabra, esverdeada; antera ca. 0,3-0,4 × 0.4 mm, glabra, ápice truncado, esbranquiçada. Cápsulas 7,2-9 × 2-3 mm, oblongoides, costadas, verdes.
Campylocentrum mattogrossense é registrado para a Bolívia, Guianas e Brasil (Pessoa & Alves 2015b, 2018). No Brasil distribui-se pelas regiões Centro-Oeste (GO, MT), Nordeste (MA) e Norte (AM, PA, RO, TO), crescendo em áreas da Amazônia e do Cerrado (Pessoa & Alves 2015b, 2018, Pessoa 2020).
Segundo Pessoa et al. (2015), C. mattogrossense integra o Complexo C. micranthum, o qual compreende aproximadamente sete taxa com flores dispostas em racemos congestos e encurtados, dos quais, quatro são registrados para o Brasil (C. huebneri, C. kuntzei, C. mattogrossense e C. micranthum).
Dentre as espécies estudadas, C. mattogrossense pode ser confundida com C. kuntzei, por ambas compartilharem do caule alongado e cilíndrico; das raízes cilíndricas branco-esverdeadas; das folhas oblongo-elípticas, elípticas e oblanceoladas com ápice 2-lobado; do ovário pedicelado sem papilas; das sépalas e pétalas 3-nervadas, e do labelo 7-9-nervado. Todavia, C. mattogrossense possui lobos foliares arredondados e obtusos; flores discretamente alaranjadas; sépalas glabras; calcar reto, glabro, discretamente alaranjado e ápice das anteras truncado. Por sua vez, C. kuntzei possui folhas com lobos agudos; flores creme-esbranquiçadas; sépalas externamente pilosas; calcar curvado, esparsamente piloso, creme e anteras com ápice arredondado. Foi coletada em matas ciliares com flores em janeiro.
Material examinado: BRASIL. Goiás: Paraúna, Ponte de Pedra, 10-I-1993, fl., J.A.N. Batista 375 (CEN).
4. Campylocentrum neglectum (Rchb. f. & Warm.) Cogn. Bull. Herb. Boissier, sér. 2, 1: 425. 1901.
Campylocentrum neglectum (Rchb. f. & Warm.) Cogn. (I.S. Santos et al. 591, UFG). a. Hábito. b. Detalhe da inflorescência. c. Bráctea floral. d. Flor em vista lateral. e. Peças florais. f. Labelo e calcar em vista lateral. g. Antera em vista dorsal e ventral. h. Cápsula. Ilustrações de Igor Soares dos Santos.
Erva epífita, 7-65 cm alt. Raízes 1,4-2,3 mm diam., cilíndricas, lisas, esbranquiçadas. Caule 10-19,5 cm compr., alongado, cilíndrico, não ramificado. Folhas 3,5-6 × 0,5-0,7 cm, desenvolvidas, oblongas, margem inteira, ápice 2-lobado, lobos arredondados, verdes. Racemos 2-2,5 cm compr., congestos com 15-20 flores; pedúnculo 0,2-0,3 cm compr., raque 1-1,6 cm compr., ambos discretamente pilosos, verde-amarelados. Brácteas florais 0,8-1,5 × 1-1,2 mm, deltoides, cobrindo apenas a base do ovário pedicelado, margem discretamente ciliada, ápice obtuso, castanho-esverdeadas. Flores 4-6 mm compr., creme-esbranquiçadas; ovário + pedicelo 1,3-2 mm compr., com papilas, piloso, esverdeado. Sépalas e pétalas 3-nervadas, membranáceas, margem inteira; sépala dorsal 2,5-3,1 × 0,8-1,2 mm, oblonga, glabra, ápice agudo; sépalas laterais 2,8-3,3 × 0,7-0,9 mm, subfalcadas, glabras, ápice agudo; pétalas 2,5-3 × 0,6-0,8 mm, elíptico-oblongas, glabras, ápice agudo; labelo 2,5-2,9 × 1,5-1,6 mm, 3-lobado, 9-nervado, glabro, membranáceo, margem inteira; lobos laterais 1,3-1,6 × 0,4-0,5 mm, oblongos, ápice arredondado; lobo mediano 1-1,3 × 0,5-0,6 mm, lanceolado, ápice agudo; calcar 2,2-3 × 0,8-1 mm, cilíndrico-clavado, curvado, glabro, ápice arredondado, discretamente alaranjado; coluna ca. 0,6 mm compr., glabra, esverdeada; antera ca. 0,2-0,3 × 0,3 mm, glabra, ápice retuso, esbranquiçada. Cápsulas 6-10 × 1,4-2 mm, elipsoides e oblongoides, sem costas, verdes.
Campylocentrum neglectum foi referido por Pessoa & Alves (2019) para a Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai. No Brasil, segundo Pessoa & Alves (2019) e Pessoa (2020), distribui-se pelas regiões Centro-Oeste (DF, GO, MS), Nordeste (BA) e Sudeste (MG), habitando o Cerrado e a Mata Atlântica.
Espécie diferenciada das demais congêneres estudadas pelas folhas majoritariamente oblongas, flores com 4-6 mm compr., peças florais menores, ovário pedicelado com papilas e cápsulas desprovida de costas. Foi encontrada, em ambas as áreas estudadas, habitando matas ciliares, secas e de galeria, com flores e frutos entre setembro e maio, sendo os frutos mais comuns a partir de dezembro.
Material examinado: BRASIL. Distrito Federal: APA Gama - Cabeça de Veado, R.A. Lago Sul (fundos da Q 24 - SMPW), Fazenda Água Limpa (FAL - UnB), 15°54'01,5''S, 47°54'46,2''W, 985 m, 23-X-2002, fl., M.L. Fonseca et al. 3745 (CEN); Catetinho, 28-XII-1973, fl., E.P. Heringer 13050 (UB); Córrego do Bananal near bridge at highway BR-020, 15°44'S, 47°54'W, 1000-1040 m, 6-IV-1980, fr., T. Plowman 10028 (NY, UB); DF-205, cerca de 3 km após o Centro Educacional FERCAL, em direção a Padre Bernardo, 28-XI-2001, fr., A.A. Santos 1001 (CEN); idem., DF-100, ponte sobre o Rio Jardim, à esquerda, sentido PADF-Formosa, 15°58'51''S, 47°24'36''W, 7-XI-2002, fl., fr., A.A. Santos et al. 1591 (CEN); idem., sentido BsB-Formosa, Fazenda Manga, 15°57'36''S, 47°22'43''W, 27-XI-2002, fr., A.A. Santos, J.B. Pereira & J.M. Rezende 1699 (CEN); Fazenda Água Limpa, 15°55'54''S, 47°54'19''W, 1080 m, 24-II-2009, fr., T.E.C. Meneguzzo, A.K. Peres Júnior & M.S.I. Escobar 62 (UB); Córrego Taquara, 15°55'28''S, 47°54'56''W, 18-XI-2012, fr., R.P.Oliveira & V. Arcela 51 (CEN); idem., Córrego Capetinga, 15°57'16''S, 47°56'29''W, 17-II-2013, fr., R.P. Oliveira & V. Arcela 100 (CEN, UB); Fazenda Dois Irmãos, mata da “Parcela 9”, 18-XII-2002, fl., K.F. Pellizzaro et al. 37 (CEN); Fazenda do Dr. Sebastião, localizada à direita da DF-205, sede à 63 km do CENARGEN/EMBRAPA, ponto de coleta à esquerda, a 2 km da sede, 15°32'00''S, 47°57'00''W, 22-VII-1993, fr., T.A.B. Dias et al. 608 (CEN); Fazenda Sucupira (CENARGEN/EMBRAPA), entre os bairros do Riacho Fundo e o Recanto das Emas, mata do Riacho Fundo, trecho de mata um pouco acima da ponte e da área de lazer com as churrasqueiras, 14-XI-1999, fl., J.A.N. Batista & K. Proite 957 (CEN); 15°55'27''S, 48°02'00''W, 1080 m, 22-IX-1997, fr., A.B. Sampaio, B.M.T. Walter & A.A. Santos 136 (CEN); 15°54'21''S, 48°00'41''W, 7-X-2010, fr., R.P. Oliveira & J.B. Pereira 20 (CEN); idem., 15-XI-2010, fl., fr., R.P. Oliveira & J.B. Pereira 30 (CEN); Margem direita do Rio Preto, cerca de 1 km montante da ponte de concreto do Rio Preto, 16°02'21''S, 47°19'32''W, 900 m, 15-X-2002, fl., fr., J.M. Rezende, G.A. Moreira & J.B. Pereira 619 (CEN, HUEFS); mata de galeria sobre o Córrego do Bragueto, proximidades da Fundação Zoobotânica, ao norte de Brasília, 19-X-1982, fl., C.M. Maury 280 (CEN, HEPH); região da FERCAL, estrada para o Rio Salinas, próximo ao morro da Pedreira, 15°29'49''S, 47°57'59''W, 781 m, 23-III-2012, fr., J.E.Q. Faria & M.R.V. Zanatta 2454 (UB); Rio Torto, ca. 10 km N. de Brasília, 1000 m, 8-VII-1966, fr., H.S. Irwin et al. 18084 (NY); São Bartolomeu, 5-X-1972, fl., E.P. Heringer 12989 (UB); Santuário Ecológico do Riacho Fundo, 15°51'00''S, 47°57'00''W, 1020 m, 4-X-1994, fr., R.S. Oliveira 9 (UB); idem., 1-II-1995, fr., R.S. Oliveira 66 (UB); Goiás: Alto Paraíso de Goiás, Fazenda do Sr. Denezinho, 12-XI-1996, fr., Mendonça et al. 2937 (IBGE); Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, próximo à Fazenda Escola Bona Espero, do lado esquerdo, sentido Alto Paraíso, 14°09'37,5''S, 47°37'54,1''W, 1125 m, 27-X-2018, fl., fr., I.S. Santos et al. 591 (UFG); Caiapônia, 30 km South of Caiapônia Florest, 24-X-1964, fl., G.T. Prance & N.T. Silva 59630 (NY); Cristalina, em mata à esquerda da ponte (margem direita), que dá acesso à guarita da saída para Palmital, 16°12'35''S, 47°20'24''W, 15-V-2002, fr., A.A. Santos et al. 1161 (BHCB, CEN); Mambaí, Sítio d’Ábadia, Represa Mambaí, 14°41'22''S, 46°18'38''W, 681 m, 17-VII-2009, fr., A.K. Peres Júnior 20 (UB); São Gabriel, 7-XI-2001, fl., F. Chagas s.n. (HEPH24443).
5. Campylocentrum pachyrrhizum (Rchb. f.) Rolfe Orchid Rev. 11(128): 246. 1903.
Campylocentrum pachyrrhizum (Rchb. f.) Rolfe (I.S. Santos, A.A. Alonso & M.J. Silva 1013, UFG). a. Hábito. b. Detalhe da inflorescência. c. Bráctea floral. d. Flor em vista lateral. e. Peças florais. f. Labelo e calcar em vista lateral. g. Antera em vista dorsal e ventral. h. Cápsula. Ilustrações de Igor Soares dos Santos.
Espécies de Campylocentrum Benth. encontradas no Distrito Federal e no Estado de Goiás, Brasil. a-c. C. fasciola (Lindl.) Cogn. d-f. C. kuntzei Cogn. ex Kuntze. a-d. Hábito. a, b. Planta com flores. c, e, f. Planta com cápsulas (note o detalhe das folhas em c - cabeça de seta). f. Detalhe das cápsulas. Fotografias de Igor Soares dos Santos.
Espécies de Campylocentrum Benth. encontradas no Distrito Federal e no Estado de Goiás, Brasil. a-c. C. neglectum (Rchb. f. & Warm.) Cogn. d-f. C. pachyrrhizum (Rchb. f.) Rolfe (note o detalhe das folhas em f - cabeça de seta). a, d, e. Hábito. b, f. Detalhe da inflorescência. c. Detalhe da cápsula. Fotografias de Igor Soares dos Santos.
Erva epífita, 2-3,4 cm alt. Raízes 2-4 mm diam., achatadas, lisas, verde-escuras. Caule 0,7-1 cm compr., encurtado, cilíndrico, não ramificado. Folhas 2-3 × 1 mm, escamiformes, lanceoladas, margem discretamente ciliada, ápice agudo, marrons. Racemos 1-3,5 cm compr., congestos com 7-15 flores; pedúnculo 0,3-0,6 cm compr., raque 1-2,1 cm compr., ambos pilosos e castanhos. Brácteas florais 2,5-3 × 3-3,6 mm, ovais, cobrindo completamente o ovário pedicelado, margem discretamente eroso-ciliada, ápice acuminado, castanhas. Flores 4-6,2 mm compr., creme; ovário + pedicelo 1-2 mm compr., com papilas, piloso, castanho. Sépalas e pétalas 3-nervadas, membranáceas, margem inteira; sépala dorsal 3,4-5 × 1-1,5 mm, oblongo, externamente pilosa, ápice agudo; sépalas laterais 4,2-5 × 1-1,5 mm, lanceoladas ou subfalcadas, externamente pilosas, ápice agudo; pétalas 3-4,5 × 0,8-1 mm, oblongo-elípticas, glabras, ápice agudo; labelo 3-4,2 × 1,3-2 mm, 3-lobado, 7-nervado, glabro, membranáceo, margem inteira; lobos laterais 1-1,3 × 0,4-0,5 mm, oblongos, ápice truncado; lobo mediano 2 × 0,5-0,8 mm, estreitamente triangular, ápice agudo; calcar 2-3 × 0,7-0,9 mm, cilíndrico-clavado, curvado, externamente piloso, ápice arredondado, creme-esbranquiçado; coluna ca. 0,3 mm compr., glabra, esverdeada; antera ca. 0,2 × 0,2 mm, glabra, ápice arredondado, esbranquiçada. Cápsulas 5-7,4 × 3,5-4,6 mm, oblongo-elipsoides, sem costas, verdes.
Pessoa & Alves (2016b) citaram a distribuição de C. pachyrrhizum desde os Estados Unidos até o Brasil, sendo neste último país, encontrada nas regiões Centro-Oeste (GO, MT), Nordeste (PE, SE) e Norte (AM, PA), habitando os domínios fitogeográficos Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica (Pessoa & Alves 2016b, Pessoa 2020).
Campylocentrum pachyrrhizum e C. fasciola são as únicas, dentre as espécies estudadas, cujas folhas são escamiformes e as raízes esverdeadas. Contudo, a primeira apresenta raízes verde-escuras e achatadas, enquanto a segunda têm raízes verde-esbranquiçadas e cilíndricas. Adicionalmente, a primeira possui inflorescências congestas (vs. laxas em C. fasciola), flores creme e peças florais maiores, com ovário pedicelado completamente coberto pelas brácteas florais (vs. brancas, menores, coberto apenas na base pelas brácteas florais), sépalas e pétalas 3-nervadas (vs. 1-nervadas) e calcar curvado, verde-claro (vs. reto ou ligeiramente curvado, creme-esbranquiçado), o que a torna facilmente reconhecível. C. pachyrrhizum foi encontrada como epífita em matas ciliares, secas e de galeria, crescendo nas proximidades de cursos d’água. Floresce e frutifica entre os meses de outubro e março.
Material examinado: BRASIL. Goiás: Aparecida do Rio Doce, PCH Irara, 7-III-2007, fl., fr., F.A.G. Guilherme, W.P. Bernasol & N.T.F. Batista 564 (HJ, UB); Catalão, Fazenda Barra, s.d., Salles et al. 2651 (HEPH); Iporá, Fazenda Jacuba, 16°29'15''S, 51°12'11''W, 514 m, 11-X-2008, fr., T.E.C. Meneguzzo et al. 12 (UB); Minaçu, abaixo da linha de transmissão que liga Niquelândia a Serra da Mesa, entrada a 2 km da entrada sul do canteiro, 13°50'S, 48°18'W, 360 m, 12-XII-1991, B.M.T. Walter et al. 1093 (CEN); Niquelândia, Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável Legado Verdes do Cerrado (RPDS - LVC), Núcleo Engenho, próximo a Caverna do Tarzan, perto do córrego que passa pelo interior da mata, 26-III-2021, fl., I.S. Santos, A.A. Alonso & M.J. Silva 1013 (UFG).
Agradecimentos
Os autores agradecem à Universidade Federal de Goiás (UFG), pelas instalações e transportes; à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão das bolsas de Mestrado ao primeiro Autor e de Produtividade em Pesquisa ao segundo; ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPG-CIAMB), pelo apoio com as despesas durante a realização das coletas botânicas, e aos revisores pelas contribuições dadas à qualidade do manuscrito.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
28 Nov 2022 -
Data do Fascículo
2022
Histórico
-
Recebido
25 Out 2021 -
Aceito
11 Out 2022 -
Preprint postado em
14 Out 2022
10.1590/2236-8906-76/2021