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História ferroviária e pesquisa: a consolidação da temática nas pesquisas de pós-graduação no Brasil (1972-2016)

Railway History and Academic Research: Consolidation of the Topic in Postgraduate Studies in Brazil (1972-2016)

Historia ferroviaria y investigación: la consolidación de la temática en las pesquisas de posgrado en Brasil (1972-2016)

RESUMO

Este artigo tem por objetivo apresentar em linhas gerais dissertações e teses que se dedicaram à temática ferrovia desde a criação dos programas de pós-graduação até os dias atuais, entre os anos de 1972 até 2016. Nosso intuito é problematizar mudanças e influências teóricas e metodológicas nos diversos períodos estipulados para análise e, por conseguinte, traçar um panorama geral dessa produção acadêmica, dando ênfase às fontes e bases historiográficas utilizadas, locais de produção e interpretação/abordagem da ferrovia enquanto objeto. Por fim, dissertarmos se houve ou não mudanças reais nos trabalhos ao longo do período estudado. Utilizamos como fonte as monografias, selecionando-as após uma leitura prévia e escolhendo as que traziam metodologias e problematizações ligadas à História, mesmo que de outras áreas (CNPq).

Palavras-chave:
ferrovia; pós-graduação; dissertações; teses; metodologias; fontes

ABSTRACT

The main goal of this paper is to broadly present dissertations or theses dedicated to the topic of railways from the creation of postgraduate programs in Brazil until the current days, between 1972 and 2016. Our intention is to problematize the changes and theoretical or methodological tendencies in the various periods stipulated for analysis, thus presenting an overview of these academic works, with an emphasis on the sources and historiographic foundations used, and on the places of production and interpretation/approach of the railway as an object of study. Finally, we discuss whether the railway historical studies actually changed or not throughout the studied period. As sources, we used the dissertations, which were selected after a previous reading; we then chose those that presented methodologies and problematizations regarding History, even if from other areas (CNPq).

Keywords:
railway; postgraduate studies; dissertations; theses; methodologies; sources

RESUMEN

El artículo que se presenta tiene por objetivo presentar en líneas generales monografías y tesis doctorales que se dedicaron a la temática del ferrocarril desde la creación de los programas de posgrado hasta los días actuales, entre los años 1972 y 2016. Nuestra intención es problematizar los cambios e influencias teóricas y metodológicas en los diferentes periodos estipulados para el análisis y, por consiguiente, trazar un panorama general de esa producción e interpretación/abordaje del ferrocarril como objeto de investigación. Por último, argumentamos si hubo o no mudanzas reales en los trabajos a lo largo del periodo estudiado. Utilizamos como fuente los trabajos, seleccionándolos después de una lectura previa y escogiendo los que traían metodologías y problematizaciones relacionadas a la Historia, aunque fueran de otras áreas (CNPq).

Palabras clave:
ferrocarril; posgrado; monografías; tesis; metodologías; fuentes

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Introdução

O presente artigo tem por objetivo analisar a produção historiográfica acadêmica (teses e dissertações) relativa às ferrovias no Brasil, delimitação necessária em vista da diversidade de publicações e conhecimento nestes mais de 150 anos desde a implantação das ferrovias no Brasil. Sendo assim, optamos por analisar os trabalhos historiográficos produzidos nas pós-graduações de algumas áreas das Humanidades por todo o país, desde o surgimento dos programas de História, em 1972, até 2016, a fim de apresentar um quadro geral de pesquisas e o potencial do tema ferrovia nos estudos históricos. Apesar do largo período de 44 anos, temos um corpus documental limitado de 262 trabalhos, que nos permitirá entender qual o motivo do número crescente deles na última quinzena de anos.

A bibliografia foi localizada em bases digitais virtual. Carlo Ginzburg, ao comentar sobre o sistema Orion, salienta as possibilidades do historiador ao utilizar sistemas de busca on-line, principalmente sistemas de bibliotecas. As possibilidades que se abrem à pesquisa ao “acaso” em um catálogo virtual, ao buscar algum assunto, termos ou qualquer título e/ou autor, são assustadoramente positivas. Essas buscas possibilitam uma pesquisa diferenciada, pois o termo investigado leva o pesquisador a outras temáticas relacionadas à sua proposta e, muitas vezes, apesar de algum direcionamento prévio, há a “surpresa” das diferentes possibilidades que uma pesquisa às bases on-line apresenta aos historiadores, gerando resultados possivelmente “fecundos”.2 2 GINZBURG, Carlo. Conversar com Orion. Esboços, Santa Catarina, n. 14, p. 162-170, 2007. Ginzburg ainda afirma que a

(...) preambulação do historiador através de catálogos (eletrônicos ou em papel) não é muito diferente daquela de um fotógrafo que caminha por uma cidade pronto a captar em um instantâneo uma realidade contingente e fugidia.3 3 Ibidem, p. 168.

Por isso o levantamento deve acolher a “surpresa” e considerá-la para análise. Nesse sentido, as muitas possibilidades (ou combinações de busca) a que chegamos levou-nos a construir uma metodologia. Primeiro, com um levantamento intensivo nas bases de dados da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações, na base de dados digitais das bibliotecas das universidades com programa de pós-graduação no país e na Plataforma Sucupira,4 4 Podem existir trabalhos que não estão inseridos em bases de dados digitais. Os que encontramos fora, realizamos a leitura impressa. sob as palavras-chave de assunto, proporcionando um resultado quantitativo conforme as variáveis de: ano, temas, regiões e áreas de conhecimento. Segundo, elegendo títulos para análise qualitativa quando constatado algum diferencial em relação aos demais (metodologia, fontes, objeto e objetivos) após uma leitura prévia, o que nos permitiu aprofundar os resultados anteriores em relação a: temáticas adotadas, rede de pesquisadores em que o trabalho está inserido, acesso a bibliografia e fontes. Por fim, optamos por analisar o montante de pesquisas por períodos, baseados em estudos já existentes sobre a história da pós-graduação.5 5 FALCON, Francisco Calazans. Depoimento: a pós-graduação como objeto histórico. Maracanan, Rio de Janeiro, ano I, n. 1, p. 118- 133, 2000. Tais procedimentos permitiram chegar a considerações relevantes, não apenas sobre a evolução histórica da temática ferroviária, mas também a respeito de características intrínsecas dos estudos.

Já realizamos anteriormente um primeiro levantamento bibliográfico sobre a história dos transportes ferroviários no Brasil e localizamos trabalhos de diversas áreas acadêmicas.6 6 Disponível em: <http://www.rosana.unesp.br/#!/pesquisa/laboratorio-de-patrimonio-cultural/projetos/projeto-memoria-ferroviaria-pmf/sigpmr/>. A proposta inicial utilizou as palavras-chave “ferrovia” e “estrada de ferro”, e depois “patrimônio ferroviário” e “patrimônio industrial”. Naquele primeiro levantamento, foi possível ter acesso aos trabalhos a partir dos anos 1970; ou seja, posteriores à criação dos programas de pós-graduação em história, por isso a nossa proposta temporal de análise. Em vista disso, acreditamos ser necessária a compreensão prévia a respeito do desenvolvimento das pós-graduações em História no Brasil.

A pós-graduação como tema de estudo vem ganhando espaço e destaque no meio acadêmico. Surgiu sob o foco de análise da história da historiografia, história do ensino e da história da pós-graduação no Brasil. Falcon inclusive enfatiza existir uma lacuna na análise metodológica da produção historiográfica após a cristalização da pós-graduação. As primeiras linhas de pesquisas criadas na pós-graduação seguiam o modelo tradicional de divisão clássica das disciplinas de graduação naquele momento, “calcadas na história política”.7 7 FALCON, Francisco Calazans. Depoimento: a pós-graduação como objeto histórico, op. cit., p. 122-123.

De modo geral, a “institucionalização” teve como característica histórica a consolidação do modelo norte-americano do qual derivou a estrutura curricular dos “cursos” e dos “créditos”, impostos não apenas à História, mas a todas as áreas de conhecimento, instituições e regiões. Não havia possibilidades de debates. As experiências diferentes e mais antigas, como a Universidade de São Paulo (USP), acabaram sendo cortadas. Às agências de fomento coube o papel de agente de “persuasão”, concedendo, como prêmio, bolsas aos programas que seguiam as diretrizes impostas.8 8 Ibidem, p. 123-125.

Em linhas gerais, pode-se ressaltar que os programas e as produções historiográficas tiveram similaridades em termos de bases metodológicas de influências teóricas. Desde o final dos anos 1960, a história dos Annales era referência historiográfica, e o marxismo, referencial teórico.9 9 CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997; RAGO, Margareth. A “nova” historiografia brasileira. Anos 90, Porto Alegre, v. 7, n. 11, 1999. Apenas a partir dos anos 1980 e 1990 ficam evidentes as mudanças e os questionamentos da História ou mesmo de linhas de investigação. Nesse período, por exemplo, houve um importante debate referente à quantidade de trabalhos acadêmicos que se enquadram dentro da esfera da história política. Diversos autores salientaram que o político esteve muito presente nos trabalhos acadêmicos desses anos, sendo pelo menos 60% da produção historiográfica, mesmo que modificada para tentar dar conta das novas dinâmicas sociais.10 10 BORGES, Vavy Pacheco. História política: totalidade e imaginário. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p. 151-160, 1996. CAPELATO, Maria Helena Rolin. História política. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p. 161-165, 1996; D’ALESSIO, Márcia Mansor; JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. A esfera do político na produção acadêmica dos programas de pós-graduação (1985-1994). Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p. 123-150, 1996. Isso abriu espaço para as discussões sobre história, memória e biografia, sendo que a tendência foi deixar de lado os sistemas explicativos globais e aderir a explicações de curto e médio alcance.11 11 GLEZER, Raquel (Org.). Do passado para o futuro: edição comemorativa dos 50 anos de ANPUH. São Paulo: Contexto, 2011, p. 39-42 Antonio Ferreira afirma inclusive que, principalmente em São Paulo, os trabalhos também foram marcados pelo esgotamento de algumas temáticas em função da repetição mecânica das mesmas teorias e metodologias em diferentes trabalhos.12 12 FERREIRA, Antonio Celso. A historiografia profissional paulista: expansão e descentramento. In: GLEZER, Raquel (Org.). Do passado para o futuro: edição comemorativa dos 50 anos de ANPUH, op. cit., p. 332-338. Tais considerações sobre a história da pós-graduação, inclusive a divisão em períodos, serão nossos parâmetros iniciais para análise da produção acadêmica na temática ferroviária.

Áreas e instituições

De modo geral, a primeira limitação notada é o enquadramento da temática aqui explorada dentro dos programas de pós-graduação (ver Tabela 1).

Tabela 1:
Áreas CNPq

Conforme apontado na Tabela 1, aparecem 18 áreas temáticas definidas pela CNPq. Essas áreas estão diretamente relacionadas ao orientador do trabalho e ao departamento em que ele está inserido dentro da universidade e na pós-graduação. Além disso, observamos que as pesquisas predominam na linha de História e valem-se da crítica documental e análise temporal. Aliás, a predominância dos trabalhos é de monografias de mestrado, o que acentua como a temática ganhou corpo nas orientações (ver Tabela 2).

Tabela 2:
Nível de especialização

Do ponto de vista da distribuição geográfica das instituições, percebermos o predomínio dos programas mais antigos.

Tabela 3:
Instituições

Ao analisarmos os dados, fica evidente o predomínio das instituições públicas paulistas. Juntas, Unesp (22), Unicamp (30) e USP (44) somam 96 trabalhos, ou seja, aproximadamente 35% de toda a produção sobre ferrovias ao longo do período analisado, sem contar as outras instituições também paulistas. Não por acaso, as universidades citadas estão entre as que mais produzem dissertações e teses no Brasil. No entanto, isso simplesmente não explicaria a predominância da temática ferroviária, pois nos programas de pós-graduação também são desenvolvidos trabalhos em outras temáticas. Nossa primeira hipótese é a de que, no estado paulista, a concentração da malha ferroviária foi a maior de todo o país. Isso fez com que boa parte da formação socioeconômica e mesmo cultural nessa região estivesse relacionada em algum momento com o processo de criação e/ou evolução do sistema ferroviário, o que levaria ao interesse ou à necessidade muito maior de considerar este tema sob a perspectiva das novas linhas de investigação que ascenderam na década de 1980 (como a história dos movimentos sociais ou do trabalho).

Para maior compreensão, inclusive da hipótese aventada, detalhemos a seguir as pesquisas de cada período e, posteriormente, suas fontes. No entanto, antes de iniciarmos, gostaríamos de salientar que os trabalhos citados ao longo do artigo não são todas as monografias pesquisadas. Analisamos apenas alguns títulos, que, a nosso ver, tinham componentes para destacar mudanças e/ou repetições metodológicas e teóricas. Isso não desqualifica os demais trabalhos que não referenciamos, pois extrapolaria os limites deste artigo.13 13 As referências podem ser encontradas em: <http://www.rosana.unesp.br/#!/pesquisa/laboratorio-de-patrimonio-cultural/projetos/projeto-memoria-ferroviaria-pmf/sigpmr/>.

A historiografia ferroviária

Para compreensão das pesquisas acadêmicas, devemos salientar que três trabalhos serão bases metodológicas para a grande maioria delas: História da viação pública de São Paulo (original 1903), de Adolpho Augusto Pinto,14 14 PINTO, Adolpho Augusto. História da viação pública de São Paulo. São Paulo: Governo do Estado, 1977. História de uma estrada de ferro do Nordeste, de Estevão Pinto,15 15 PINTO, Estevão. História de uma estrada de ferro do Nordeste (Contribuição para o estudo da formação e do desenvolvimento da empresa “The Great Western of Brazil Railway” e das suas relações com a economia do Nordeste brasileiro). Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1949. e Café e ferrovias, de Odilon Matos.16 16 MATOS, Odilon Nogueira de. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. São Paulo: Pontes, 1990. Adolpho Pinto, além de ter realizado importante levantamento documental, definiu a cronologia da história ferroviária no país (dividida pelo regime de concessão), consolidada pelos outros dois autores e sendo utilizada ainda hoje. Todos eles afirmam também ser a história das ferrovias um apêndice da agricultura (carga) e dos agricultores (capital).

Distribuindo por períodos os 262 trabalhos de pesquisa identificados, temos como resultado o seguinte:

Tabela 4:
Total de pesquisas

De 1972 a 1980: as primeiras pesquisas

Esses trabalhos iniciais consolidaram a divisão cronológica e a dependência agrícola da empresa ferroviária. De modo geral, serão influenciados pela metodologia da história econômica, analisando a relação da ferrovia e o avanço econômico no Brasil e as mudanças estruturais causadas por esses empreendimentos.17 17 SAES, Flavio Azevedo Marques. As ferrovias de São Paulo: 1870-1940. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1974; KROETZ, Lando Rogerio. As estradas de ferro de Santa Catarina: 1910-1960. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, 1975. Algumas pesquisas buscaram relacionar o objeto a outras temáticas, como Wilma Costa,18 18 COSTA, Wilma Peres Costa. As ferrovias e trabalho assalariado em São Paulo. Dissertação (Mestrado em História — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1976. que associa o início do trabalho assalariado no país e o princípio do capitalismo moderno às ferrovias; Saes,19 19 SAES, Flavio Azevedo Marques. A grande empresa de serviços públicos: 1850-1930. Tese (Doutorado em Sociologia) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1979. que demonstra a intrínseca relação entre o poder público e o privado nas concessões de atividades de serviços públicos, principalmente no transporte ferroviário, e José Cechin,20 20 CECHIN, José. A construção e operação das ferrovias no Brasil do século XIX. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1978. que faz a reconstrução da história do empreendimento ferroviário na Inglaterra e nos Estados Unidos a fim de demonstrar que a ferrovia teria estimulado negativamente a industrialização no Brasil.

O trabalho de Marluce Medeiros diferencia-se ao problematizar a educação industrial desenvolvida dentro de uma empresa ferroviária. Ainda que seja evidente que o princípio do ensino técnico no Brasil tenha começado a se desenvolver sistematicamente dentro das empresas férreas e suas escolas para aprendizes, tal análise só será objeto de estudo novamente no início dos anos 2000.21 21 MEDEIROS, Marluce. Estradas de ferro e ensino industrial: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Educação) — Fundação Getulio Vargas (FGV), Rio de Janeiro, 1980.

De 1981 a 1990: as relações de trabalho

No período entre 1981-1990 fica evidente a ênfase na história do trabalho. Os trabalhos de Dulce Leme e de Batistina Corgozinho refletem sobre resistência trabalhista em São Paulo e em Minas Gerais, demonstram a organização dos trabalhadores e as relações de trabalho e poder dentro das empresas. Leme dedica-se ao estudo de uma das principais greves dos ferroviários (1906). Já Corgozinho busca compreender a formação de consciência de classe, de camada social e formação familiar. Ambas usam a imprensa como fonte: enquanto a primeira toma-a para exame da imagem da greve nos periódicos, a segunda a utiliza como complemento, pois a fonte principal são relatos orais (transcritos).22 22 LEME, Dulce Maria Pompeo de Camargo. Hoje há ensaio: a greve dos ferroviários da Cia Paulista — 1906. Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1984. CORGOZINHO, Batistina Maria de Souza. Pelos caminhos da Maria Fumaça: O trabalhador ferroviário, formação e resistência pelo trabalho. Dissertação (Mestrado em Educação) — Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 1989.

Ainda nesse período é a tese de Francisco Hardman,23 23 HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: espetáculo do maquinismo na transição à modernidade. Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1986. que fará o primeiro estudo sobre a ferrovia com ênfase no imaginário e na simbologia. Baseado em teorias marxistas, ele demonstra que, ao mesmo tempo que era símbolo do progresso, a ferrovia também determinava o oposto - principalmente nos locais onde não havia trilhos. No caso brasileiro, especificamente a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, a ferrovia ficava apenas no imaginário, pois não se consolidou como projeto, transformando-se em uma “fantasmagoria”. Por fim, Lando Kroetz demonstrou-a como elemento transformador de espaços, relacionando-a com a ocupação humana não indígena da região estudada.24 24 KROETZ, Lando Rogerio. As estradas de ferro do Paraná: 1880-1940. Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1985.

De 1991 a 2000: as ferrovias de outras regiões

Entre 1991 e 2000, há um aumento significativo do número de pesquisas, totalizando 41 obras. Fica evidente a mudança de interpretações e metodologia: o marxismo (história da resistência trabalhista dos ferroviários) e a história política e social. Aparecem mais estudos sobre regiões diferentes do Sudeste e do Sul, já que boa parte das obras de todo o período se dedicará às estradas de ferro dessas regiões, como pode ser notado na tabela a seguir.

Tabela 5:
Regiões a que se dedicam as análises

As pesquisas que estudam outras regiões têm como base metodológica a historiografia paulista,25 25 QUEIROZ, Paulo R. Cimó. As curvas do trem e os meandros do poder: o nascimento da estrada de ferro Noroeste do Brasil (1904-1908). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 1992; CASTRO, Maria Ines Malta. O preço do progresso: a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil (1905-1914). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1993; GARCIA, Tânia da Costa. Memórias mato-grossenses: a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais— Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), São Carlos, 1997; MANFREDI NETO, Pascoal. O trem da morte: o imaginário do progresso na Noroeste, 1905-1930. Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo: USP, 1996; QUEIROZ, Paulo R. Cimó. Uma ferrovia entre dois mundos: a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e a construção histórica de Mato Grosso (1918-1956). Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1999. CAMELO FILHO, José Vieira. A implantação e consolidação das estradas de ferro no nordeste brasileiro. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2000. e sete foram defendidas em universidades paulistas (ver Tabela 3). Chamou-nos a atenção que, dentre elas, cinco dedicaram-se ao Nordeste. Isso porque há uma intensa história ferroviária naquela região, onde foram construídos milhares de quilômetros de trilhos, com atuação de grandes empresas, como a Great Western. Problematizam as políticas de concessões e o desempenho e desenvolvimento das empresas nordestinas, além de apresentar um balanço sobre as transformações causadas pelo desenvolvimento de políticas ferroviárias, além da temática do imaginário. 26 26 ARANHA, Gervacio Batista. Campina Grande no espaço econômico regional. Estrada de ferro, tropeiros e empório comercial algodoeiro (1907-1957). Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, 1991; SIQUEIRA, Tagore Villarim de. Expansão e estagnação do transporte ferroviário no Nordeste brasileiro no período de 1940-1958. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 1991; LIMA, Francisco Vanderlei de. A Estrada de Ferro Mossoró-Souza: do sonho econômico à miséria do discurso político. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) — Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, 1997; CAMELO FILHO, José Vieira. A implantação e consolidação das estradas de ferro no nordeste brasileiro, op. cit.; MELO, Josemir Camilo de. Modernização e mudanças: o trem inglês nos canaviais do Nordeste (1852-1902). Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2000.

Das demais, cinco dedicam-se à Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (EFNOB), sendo que duas são dissertação e tese de Paulo Queiróz.27 27 QUEIROZ, Paulo R. Cimó. As curvas do trem e os meandros do poder: o nascimento da estrada de ferro Noroeste do Brasil (1904-1908), op. cit.; QUEIROZ, Paulo R. Cimó. Uma ferrovia entre dois mundos: a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e a construção histórica de Mato Grosso (1918-1956), op. cit. Indo além da análise econômica, ele analisa a esfera política que envolveu a construção da EFNOB, principalmente a relação entre as políticas públicas direcionadas ao transporte ferroviário, empreendedores e investimentos estrangeiros.

Outra característica nos trabalhos da década de 1990 é o destaque ao imaginário e às mudanças socioculturais causadas pelo empreendimento ferroviário. As pesquisas problematizam o significado e os aspectos positivos e negativos da ferrovia para a sociedade brasileira, demonstrando que, além da ideia de modernidade, a ferrovia carrega os signos do atraso e do arcaico para os locais por onde não passará e que o avanço da “locomotiva do progresso”, muitas vezes, redundará em tragédia, fazendo diversas vítimas fatais, como os indígenas.28 28 CASTRO, Maria Ines Malta. O preço do progresso: a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil (1905-1914), op. cit.; LESSA, Simone Narciso. Trem de ferro: do cosmopolitismo ao sertão. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1993. MANFREDI NETO, Pascoal. O trem da morte: o imaginário do progresso na Noroeste, 1905-1930, op. cit.; BRITTO, Rogério Augusto Lima de. A modernidade tardia na Amazônia: da borracha à estrada de ferro. Dissertação (Mestrado em Letras) — Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 1996.

Nesse período, merece destaque a proposta de Lídia Possas, que propõe analisar a história da mulher trabalhadora, quase imperceptível nas fontes do mundo ferroviário. Valendo-se de fontes orais, ela demonstra que a mulher inicialmente exercia funções muito próximas das atividades domésticas (lavar, passar, cozinhar), mas que posteriormente ocupa outras funções no trabalho ferroviário (na administração, em cargos temporários). Possas conclui que sempre existiu resistência e disputa feminina para se tornar ativa no mercado de trabalho, confrontando as imagens de “mulheres do lar” e “mulheres públicas”.29 29 POSSAS, Lídia Maria Vianna. Mulheres, trem e trilhos: beirando a história do impossível. Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1999. Além de Possas, o trabalho de Aroldo Ferreira também é cabível referência, por problematizar a influência da ferrovia no desenvolvimento urbano e arquitetônico em Pires do Rio (Goiás), introduzindo novos materiais e tecnologia.30 30 FERREIRA, Aroldo Márcio. Urbanização e arquitetura na região da Estrada de Ferro Goiás-E. F. Goiás: cidade de Pires do Rio, um exemplar em estudo. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, 1999.

De 2001 a 2010: novas abordagens da história do trabalho e a problemática da história e da memória

A década seguinte trouxe diferenças quantitativas e qualitativas nos trabalhos acadêmicos. A partir de 2001-2010 houve um aumento expressivo de produção, correspondendo a 41% do todo analisado, evidenciando a importância e a visibilidade acadêmica que a temática assume, além de sair do polo de concentração paulista entre as três universidades públicas, USP, Unesp e Unicamp (ver Tabela 3). Entre os 109 trabalhos defendidos, destacam-se as possibilidades transversais de análise que a ferrovia assumiu.

Mantiveram-se linhas interpretativas anteriores, mas surgem novas propostas sob a ótica cultural e os “novos problemas”. Por um lado, a história do trabalho ganha destaque, principalmente os movimentos grevistas. São 28 pesquisas, com diferentes metodologias e aportes teóricos. A organização precoce dos ferroviários em relação às demais categorias brasileiras e a capacidade de mobilização desencadearam movimentos grevistas pelo país, além de contribuir para importantes conquistas trabalhistas ou mecanismos de resistência em períodos politicamente tumultuados. Referenciadas desde o ano de 1906, as greves ferroviárias são retratadas pelos autores como importante mecanismo de formação ideológica e de categoria desses trabalhadores, muitas vezes “pacíficas” e outras tantas mais acirradas e inflamadas.31 31 ZAMBELLO, Marco Henrique. Ferrovia e memória: estudo sobre o trabalho e a categoria dos antigos ferroviários da Vila Industrial de Campinas. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2005; ARAUJO NETO, Adalberto Coutinho. Entre a revolução e o corporativismo: a experiência sindical dos ferroviários da Sorocabana nos anos 30. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo 2006; SOUZA, Roberio Santos. Experiências de trabalhadores nos caminhos de ferro da Bahia: trabalho, solidariedade e conflitos (1892-1909). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2007; FRACCARO, Glaucia Cristina Candian. Morigerados e revoltados: trabalho e organização de ferroviários da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-1920). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2008; CARVALHO, Diego Francisco de. Trabalho e conflito na Noroeste do Brasil: a greve dos ferroviários de 1914. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2009; FERREIRA, Lania Stefanoni. Entroncamento entre raça e classe: ferroviários no centro-oeste Paulista 1930-1970. Tese (Doutorado em Sociologia) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2010. Os ferroviários também contribuíram para a constituição da formação das militâncias de esquerda no país, levantando a bandeira das melhores condições de trabalho e outras causas.32 32 LIMA, Rogerio Mendes de. Purgatório: crise da cultura e trajetória sindical entre os ferroviários do Rio de Janeiro. Tese (doutorado em Sociologia) — Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro; ARAUJO NETO, Adalberto Coutinho. Entre a revolução e o corporativismo: a experiência sindical dos ferroviários da Sorocabana nos anos 30), op. cit.; MOURA, Fabricio Renner de. Avante, vamos para a luta: cotidiano e militância dos trabalhadores ferroviários da cidade de Cruz Alta (1958-1964). Dissertação (Mestrado em História) — Pontifícia Universidade Católica (PUC), Porto Alegre, 2007; SOUZA, Roberio Santos. Experiências de trabalhadores nos caminhos de ferro da Bahia: trabalho, solidariedade e conflitos (1892-1909), op. cit.; MONTEIRO, Caudia. “Fora dos trilhos”: as experiências da militância comunista na rede de viação Paraná-Santa Catarina (1934-1945). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2007; MORATELLI, Thiago. Os trabalhadores da construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil: experiências operárias em um sistema de trabalho de grande empreitada (São Paulo e Mato Grosso, 1905-1914). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2009.

Com novos enfoques, algumas pesquisas dedicam-se à constituição e “modernização” do mercado de trabalho brasileiro, a relação entre trabalho assalariado livre e escravo, merecendo destaque o importante trabalho de Maria Lúcia Lamounier.33 33 LAMOUNIER, Maria Lúcia. Ferrovias, agricultura de exportação e mão de obra no Brasil no século XIX. Tese (Livre-Docência em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2008; SOUZA, Roberio Santos. Experiências de trabalhadores nos caminhos de ferro da Bahia: trabalho, solidariedade e conflitos (1892-1909), op. cit.; SANTOS, Carlos Augusto Pereira dos. Entre o porto e a estação: cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim (CE), 1920-1970. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2008; CASTILHO, Fábio Francisco de Almeida. Entre a locomotiva e o fiel da balança: a transição da mão de obra no sul de Minas (1870-1918). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), São João Del Rei, 2009. Alguns ainda problematizam a sociabilidade dentro e fora do espaço de trabalho, analisando a convivência nas oficinas ferroviárias, os trabalhadores negros, além dos mecanismos de subversão e diversão, como o futebol, além das narrativas, da memória e de como esses trabalhadores compreendiam a sociedade em que viviam.34 34 MAIA, Andréa Casa Nova. Encontros e despedidas — ferrovias e ferroviários do oeste de Minas. Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, 2002; INÁCIO, Paulo Cesar. Trabalho, ferrovia e memória. A experiência de turmeiro(a) no trabalho ferroviário. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, 2003; PEREIRA, Daniela Márcia Medina. A próxima estação: trabalho, memória e percursos dos trabalhadores aposentados da ferrovia. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, 2004. FERREIRA, Lania Stefanoni. Racismo na “família ferroviária”: brancos e negros na Companhia Paulista em São Carlos. Dissertação (Mestrado em Sociologia) ) — Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), São Carlos, 2004; ZAMBELLO, Marco Henrique. Ferrovia e memória: estudo sobre o trabalho e a categoria dos antigos ferroviários da Vila Industrial de Campinas,. op. cit.; FLÔRES, João Rodolpho Amaral. Profissão e experiências sociais entre trabalhadores da Viação Férrea do Rio Grande do Sul em Santa Maria (1898-1957). Tese (Doutorado em História). São Leopoldo: UNISINOS, 2005; PINTO, Rodrigo Márcio Souza. Do Passeio Público à ferrovia: o futebol proletário em Fortaleza (1904-1945). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Fortaleza, 2007. Podemos também destacar a mudança no referencial teórico/metodológico na pesquisa de Márcia Espig, que vale-se da micro-história para analisar os chamados “turmeiros” da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande durante o mesmo período do conflito do Contestado.35 35 ESPIG, Marcia Janete. Personagens do contestado: os turmeiros da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande (1908-1915). Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2008. As mulheres também tiveram espaço nessas pesquisas, com respeito ao processo de formação profissional e educacional das ferroviárias nordestinas.36 36 COUTO, Ludimila Brasileiro Guirra. A formação escolar das mulheres ferroviárias de Alagoinhas-BA (1950-1970). Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2007.

Por outro lado, há a inclusão das novas problemáticas, como as da memória e do patrimônio.37 37 OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Memória ferroviária e cultura de trabalho: perspectivas, métodos e perguntas interdisciplinares sobre o registro, preservação e ativação de bens ferroviários. São Paulo: Alameda, 2017. Problematizou-se a rememorização afetiva da sociedade em relação às estradas de ferro e seus espaços, a fim de compreender a formação cultural de diversas regiões. Tais pesquisas se baseiam principalmente nos Annales, investigando desde estruturas físicas, como estações e rotundas, até o próprio imaterial, sentimentos, signos e imaginários.38 38 ARANHA, Gervacio Batista. Trem, modernidade e imaginário na Paraíba e região: tramas político-econômicas e práticas culturais (1880-1925). Tese (Doutorado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2001; LIMA, Pablo Luiz de Oliveira. A máquina, tração do progresso: memórias da ferrovia no oeste de Minas, entre o sertão e civilização, 1880-1930. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2003; BRANDÃO, Hilma Aparecida. Memórias de um tempo perdido: a estrada de ferro Goiás e a cidade de Ipameri (início do século XX). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, 2005; GIFFONI, José Marcello Salles. Trilhos arrancados: história da estrada de ferro Bahia e Minas (1878-1966). Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2006; POZZER, Guilherme Pinheiro. A antiga estação da Companhia Paulista em Campinas: estrutura simbólica transformadora da cidade (1872-2002). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2007; HADLER, Maria Silvia Duarte. Trilhos da modernidade: memórias e educação urbana dos sentidos. Tese (Doutorado em Educação) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2007; CORTEZ, Ana Isabel Ribeiro Parente. Memórias descarrilhadas: o trem na cidade do Crato. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, 2008; PALLOTA, Fábio Paride. A ferrovia e o automóvel: ícones da modernidade na cidade de Bauru (1917-1939). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 2008; SANTOS, Rodrigo Amado dos. A rotunda no município de Lins: para além da materialidade, memórias e significados. Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marília, 2009. A memória da ferrovia foi referenciada enquanto elemento impulsionador da urbanização, associando-a à própria memória e à história das cidades ou mesmo à memória da própria ferrovia como patrimônio legalmente reconhecido.39 39 BRANDÃO, Hilma Aparecida. Memórias de um tempo perdido: a estrada de ferro Goiás e a cidade de Ipameri (início do século XX), op. cit.; MANTOVANI, André Luiz. Melhorar para não mudar: ferrovias, intervenções urbanas e seu impacto social em Ouro Preto (MG), 1885-1897. Dissertação (Mestrado em História) — Pontifícia Universidade Católica (PUC), São Paulo, 2007; RAMOS, Geovanna de Lourdes Alves. Entre trilhos e trilhas: vivências, cotidiano e intervenções na cidade de Uberlândia (MG), 1970-2006. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, 2007; CORTEZ, Ana Isabel Ribeiro Parente. Memórias descarrilhadas: O trem na cidade do Crato, op. cit.; PALLOTA, Fábio Paride. A ferrovia e o automóvel: ícones da modernidade na cidade de Bauru (1917-1939), op. cit.; SANTOS, Rodrigo Amado dos. A rotunda no município de Lins: para além da materialidade, memórias e significados, op. cit.; LIMA, Keite Maria Santos do Nascimento. Entre a ferrovia e o comércio: urbanização e vida urbana em Alagoinhas (1869-1929). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2010. Nesse sentido, Lucina Matos buscará compreender a luta pela preservação promovida por associações ferroviárias, o que lhe permite evidenciar a consolidação de diferentes memórias sobre a ferrovia - dentre as quais tem se destacado aquelas elaboradas por associações sociais de preservação ferroviária.40 40 MATOS, Lucina Ferreira. Estação da memória: um estudo das entidades de preservação ferroviária do estado do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em História) — Fundação Getulio Vargas (FGV), Rio de Janeiro, 2010.

Atualizam-se também as linhas tradicionais, como análise das empresas e seu desempenho, a entrada de capital estrangeiro no Brasil e sua relação com o poder público, a integração de mercados nacionais e internacionais e os reflexos e as consequências dessa exploração. Chama-nos a atenção o empreendimento ferroviário em si que se torna o foco da pesquisa, e não sua relação com outras atividades. A ferrovia ganha status de objeto particular e que merece ser compreendido por suas características intrínsecas - nesse caso, dinâmica econômica.41 41 NUNES, Ivanil. Douradense: a agonia de uma ferrovia. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, 2002; GRANDI, Guilherme. A Companhia Estrada de Ferro Rio Claro: disputas em torno da expansão ferroviária no Oeste Paulista, 1880-1903. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, 2005; GIFFONI, José Marcello Salles. Trilhos arrancados: história da estrada de ferro Bahia e Minas (1878-1966), op. cit.; OLIVEIRA, Paulo Roberto de. Entre rios e trilhos: as possibilidades de integração econômica de Goiás na Primeira República. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Franca, 2007; PEREIRA, Carlos José. O desenvolvimento do oeste catarinense. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Católica de Santos (Unisantos), Santos, 2007. Por fim, aparecem questionamentos de teses clássicas da historiografia do “café e ferrovias” ou do fim da era ferroviária no país.42 42 NUNES, Ivanil. Douradense: A agonia de uma ferrovia, op. cit., 2002. Buscou-se, por exemplo, analisar quais foram de fato as mudanças ocorridas dentro da atividade ferroviária, analisando empresas e propostas particulares e estaduais e federais.43 43 NUNES, Ivanil. Integração ferroviária sul-americana: por que não anda esse trem? Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2008.

De 2011 a 2016: novas abordagens e as narrativas da memória da ferrovia

O último período analisado, de 2011 a 2016, demonstra que a temática ganhou realmente espaço na Academia, pois foram 95 pesquisas realizadas em cinco anos, dando ainda mais destaque à problemática da história, da memória e do patrimônio. De um lado, isso ocorreu por conta do destaque nacional que tomou a preservação dos bens ferroviários com a extinção da Rede Ferroviária Nacional e atribuição de responsabilidade dos bens ferroviários ao IPHAN, depois de 2007.44 44 BRASIL. Lei 11.483, de 31 de maio de 2007. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11483.htm>. Acesso em: 20. mar. 2017. E, de outro lado, tendo em vista que a ampliação da tipologia patrimonial alcançou os estudos acadêmicos, mesmo no Brasil, passando a interpretar a preservação de bens ferroviários a partir de noções como “patrimônio industrial”, “patrimônio ferroviário” e “memória ferroviária”.45 45 Cf. OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Arquitetura industrial, patrimônio industrial e sua difusão cultural. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu; CAMPOS, Juliano Bittencourt; RODRIGUES, Marian Helen da Silva Gomes (Org.). Arqueologia pública e patrimônio: questões atuais. 1. ed. Criciúma, SC: Unesc, 2015, p. 197-226. v. 1.; MORAES, Ewerton Henrique de; OLIVEIRA, Eduardo Romero de. O patrimônio ferroviário nos tombamentos do estado de São Paulo. Revista Memória em Rede, v. 9, p. 18-42, 2017.

De modo geral, as pesquisas destacam a relação de afetividade da população com as estradas de ferro e enfatizam o sentimento de pertencimento; uma ligação de memórias históricas, mas também de criações de memórias recentes, como dos habitantes desses locais. Fica evidente que a ferrovia ainda tem forte significado na mentalidade social e também é resignificada, ganhando novo fôlego e necessidade de ser estudada e preservada, já que faz parte da constituição das cidades e da vida (do dia a dia) das pessoas de diversas localidades.46 46 GERIBELLO, Denise Fernandes. Habitar o patrimônio cultural: o caso do ramal ferroviário Anhumas-Jaguariúna. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2011; DELAGE, Raquel Gotardelo Audebert. Estrada de ferro Vitória a Minas: conversas de beira de linha. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Mackenzie, São Paulo, 2012; ANUNZIATA, Antonio Henrique Felice. O patrimônio ferroviário e a cidade: a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Campinas (1872-1971). Dissertação (Mestrado em História). — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2013. ZAMBELLO, Marco Henrique. O declínio ferroviário paulista: despojo do trabalho social e abandono racional. Tese (Doutorado) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2015. Antonio Anunziata e Denise Geribello inovam dentro da historiografia, pois fazem o levantamento do patrimônio edificado, referenciando tipologias dos edifícios e características técnicas das empresas ferroviárias, algo que não havia sido feito em pesquisas na área de Concentração da História, mas que já era comum nas pesquisas de Arquitetura, o que marca o diferencial das necessidades do objeto ferrovia enquanto proposta de pesquisa à história. Isso acontece porque retomam o debate sobre a memória social na ferrovia, mas sob a perspectiva do patrimônio industrial e das interações (simbólicas ou materiais) com o patrimônio remanescente da atividade ferroviária.47 47 ANUNZIATA, Antonio Henrique Felice. O patrimônio ferroviário e a cidade: a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Campinas (1872-1971), op. cit.; GERIBELLO, Denise Fernandes. Habitar o patrimônio cultural: o caso do ramal ferroviário Anhumas-Jaguariúna, op. cit.

Ainda nessa temática, Aline Barctus propôs-se a analisar um lugar de memória; um espaço de conflitos sobre narrativas do passado: o Museu da Companhia Paulista (já preservado), na cidade de Jundiaí, sua patrimonização e preservação pelos órgãos estaduais e federais, CONDEPHAAT e IPHAN. Ela discute sobre os conflitos para a consolidação de uma memória do local e a respeito de qual memória deveria ser preservada.48 48 BARCTUS, Aline Zandra Vieira. Memória e patrimônio ferroviário: estudo sobre o Museu da Companhia Paulista em Jundiaí (SP). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 2012. Não obstante, Lucina Matos disserta sobre o processo de formação da memória em torno da ferrovia, sua consolidação e quais as consequências da atuação do poder público para preservar os patrimônios materiais e imateriais, principalmente a atuação do IPHAN, além de fazer um importante mapeamento e questionamento dos conflitos pela constituição dessa memória por grupo e associações não governamentais e da real atuação e gestão dos órgãos federais frente à preservação do patrimônio.49 49 MATOS, Lucina Ferreira. Memória ferroviária: da mobilização popular à política pública de patrimônio. Tese (Doutorado em História) — Fundação Getulio Vargas (FGV), Rio de Janeiro, 2015.

Mantendo as propostas da história política e econômica, algumas pesquisas compreendem os impactos das empresas férreas para a consolidação e mudanças do meio urbano. A ferrovia é demonstrada como elemento de transformação material, mas como transformação da ideia, do pensamento, do imaginário, pois muitas vezes o “progresso” não era tão abrangente a ponto de modificar todo o espaço e a vida urbana. Quando havia mudanças, acabava criando um espaço limitado dentro das cidades que se tornavam foco de conflitos socioeconômicos.50 50 SCHMITZ, Maira Eveline. Nas asas do vapor: construção do espaço ferroviário em Pelotas (RS) (fim do séc. XIX início do séc. XX). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pelotas, 2013. ALMEIDA, Lucas Adriel Silva de. “Como uma flor agreste”: ferrovias, campo e cidade no interior da Bahia (1923-1937). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2014. BOTARO, Luis Gustavo Martins. Botucatu: modernização e infraestrutura urbana no interior paulista (1928-1934). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 2015. Do ponto de vista das transformações culturais, mas que destoa das demais, Fernanda Silva problematiza o conflito e a tentativa de consolidação de poder por parte dos engenheiros ferroviários que buscaram, no princípio do período republicano, se legitimar enquanto grupo e hegemonia de saber. 51 51 SILVA, Fernanda Aparecida Henrique da. Discursos de fundação: engenheiros e o progresso pelo interior de São Paulo (1890-1910). Dissertação (Mestrado em História). Assis: UNESP, 2012.

O conflito e as disputas gerados pela ferrovia também aparecem em pesquisas que se dedicaram à história das empresas e que buscaram compreender as políticas públicas e suas relações com empresas férreas e investidores (nacionais e estrangeiros), a consolidação de grandes empreendimentos e as repercussões políticas e socioeconômicas.52 52 GRANDI, Guilherme. Estado e capital cafeeiro: a Companhia Paulista de Estradas de Ferro entre 1930 e 1961. Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2011; CUNHA, Aloísio Santos da. Descaminhos do trem: as ferrovias na Bahia e o caso do Trem da Grota (1912-1976). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2011; SILVA, Marcel Pereira da. De gado a café: as ferrovias no sul de Minas Gerais (1874-1910). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2012; SILVA, André Luiz da. Um francês no interior paulista: Paul Deleuze e o caso da São Paulo Nothern Railroad Company (1909-1916). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pelotas, 2013; CORREA, Lucas Mariani. A Sorocaba Railway Company (1907-1919): a relação de uma empresa ferroviária privada com as diretrizes governamentais. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 2014. Outras pesquisas problematizaram o impacto das privatizações e a análise econômica desse processo e suas consequências. O problema da rentabilidade econômica das empresas ferroviárias, explorado por Saes, ganha uma nova atualidade, enquanto outros trabalhos enveredam na linha da política pública dos transportes.53 53 DURÇO, Fábio Ferreira. A regulação do setor ferroviário brasileiro: monopólio natural, concorrência e risco moral. Dissertação (Mestrado em Economia) — Fundação Getulio Vargas (FGV), São Paulo, 2011; MARINHEIRO, Marco Antonio de Lima. Análise setorial: o caso da privatização modal ferroviário brasileiro. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, 2012; PALERMO, Bruno Beier. Avaliações de concessões ferroviárias dentro do novo Marco Regulatório Brasileiro. Dissertação (Mestrado em Economia) — Fundação Getulio Vargas (FGV), São Paulo, 2015.

Fontes documentais

Pelo exame dos trabalhos, conseguimos traçar um panorama geral das fontes documentais utilizadas. De modo geral, todos os trabalhos utilizaram documentos oficiais das empresas, como os relatórios fiscais e, na grande maioria, os oficiais do Estado. Os relatórios fiscais são documentos produzidos pelas empresas para fiscalização e controle dos acionistas. Já os documentos oficiais, em grande parte são utilizados os documentos referentes aos ministérios e às secretarias. Tal documentação está dispersa por todo o Brasil, sendo que a maioria se concentra em arquivos públicos estaduais e municipais ou dentro de instituições de memória, museus ou mesmo arquivos privados.54 54 OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Questões sobre o reconhecimento de um patrimônio da industrialização “tardia” no Brasil. Oculum Ensaios, v. 14, p. 311-330, 2017.

Mesmo os trabalhos tidos como culturais pouco se valeram de fontes diferentes, como fotografia. Em muitos trabalhos aparecem periódicos, principalmente os de grande tiragem e de abrangência nacional. Devemos destacar que alguns estudos recentes têm se utilizado de um conjunto documental novo, tais como inquéritos policiais, jornais operários, atas de assembleia de trabalhadores sindicalizados, mas que desenvolve sua análise na forma de artigos científicos e não em monografias - que é o corpus bibliográfico que analisamos neste artigo. Alguns poucos, ainda, se utilizam de revistas especializadas, como a Revista do Club de Engenharia, do Rio de Janeiro; e a Revista Brazil Ferro-Carril.

As empresas férreas brasileiras, em sua grande maioria, foram, em algum momento, administradas por estrangeiros. Sendo assim, existe uma enorme massa documental das empresas brasileiras fora do país, sendo grande parte encontrada na Europa e também nos Estados Unidos.55 55 Em um primeiro levantamento foi possível constatar arquivos de diversas universidades dos Estados Unidos (da Califórnia, de Chicago) com documentações sobre empresas férreas brasileiras. Além desses, pode-se destacar The National Archives, em Londres, que consta com uma importante documentação das empresas que aqui se desenvolveram com capital britânico. Ver: CUELLAR, Domingo et al. Una aproximación a la historia del ferrocarril en Brasil (1850-1950): legislación, empresas y capitales británicos. Documentos de Trabajo — Asociación Española de Historia Económica, v. 1, p. 1-36, 2016. Há arquivos na França que também têm documentos relativos às ferrovias brasileiras. Por causa disso, quase nenhum trabalho utiliza essas fontes.56 56 Entre os trabalhos analisados, temos como exceção a pesquisa de GREMAUD, Amaury Patrick. O Brasil no contexto internacional de capitais, 1870-1930: o caso da Brasil Railway CO. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1992, que se vale de fontes documentais dos arquivos franceses. As mudanças de referenciais das pesquisas até aconteceram ao longo dos anos, mas as fontes são as mesmas, não inovando nesse aspecto.

Considerações finais

Visto os períodos de análise de produção acadêmica, podemos, por fim, pontuar algumas considerações sobre as pesquisas com a temática ferroviária como objeto, e, em partes, sobre a produção historiográfica das pós-graduações em geral. É possível notar, em uma primeira análise dos trabalhos, que estes seguiram a dinâmica das mudanças teóricas/metodológicas da historiografia brasileira.

Para a temática da ferrovia, podemos destacar basicamente três momentos de mudanças na forma de análise (ver Tabela 6). Em princípio, prevaleceram análises econômicas, ainda mais por se tratar de um objeto que, no país, sempre esteve associado ao desenvolvimento e à dinamização da economia de todo o território. Essas pesquisas dedicaram-se ao desempenho e à formação econômica das empresas, relacionando-se com a outra atividade econômica, a agricultura. Em um segundo momento, a partir dos anos de 1990, as novas metodologias abrem espaços às diferentes interpretações, mesmo que em números reduzidos. Aparecem novos trabalhos já na tentativa de reinterpretar as ferrovias brasileiras, demonstrando-as como um objeto mais plural, para além da compreensão pura de elemento econômico. Dentre esses trabalhos, apareceu o trabalhador, seu dia a dia, suas lutas, seus conflitos e seus costumes. A importância da oralidade foi trazer outras fontes, de outros agentes sociais, e, consequentemente, outras perspectivas, já que foge simplesmente dos números e dos discursos oficiais, tão utilizados anteriormente.

Em um terceiro momento, a ferrovia é inserida na problemática do imaginário social e da memória. As pesquisas passam a compreendê-la como algo mais amplo do que simplesmente um transporte (de carga e/ou pessoas), tornando-a ponte para a compreensão de outras problemáticas da história brasileira. Ficou evidente que a ferrovia se tornou um importante elemento criador de espaços, de cidades, de memória e imaginários sociais em determinadas regiões, além do próprio aspecto econômico, que passou a ser revisto, buscando uma releitura de teses e análises anteriores consagradas.

Tabela 6:
Divisão temática

Evidenciou-se também que o universo da ferrovia abre brechas para a compreensão de outros temas, como colonização, agricultura, desenvolvimento do capitalismo no país, consolidação de alguns grupos no poder, além da própria memória. Essas novas releituras proporcionaram o surgimento de grupos de pesquisa em história do transporte ou patrimônio ferroviário, que buscam compreender essa temática em diversas dimensões. Isso exige, como pôde ser notado nas pesquisas, metodologias diversas: análises econômicas, políticas e culturais, o que a torna um campo fértil e também de releituras historiográficas. Se, por um lado, possibilita o reaparecimento de uma história econômica, por outro, também possibilitou o diálogo entre as distintas áreas da história e, principalmente, das áreas de definição das linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação implementados pela Capes.

Se a ferrovia é agora um objeto de pesquisa plural, destacamos uma primeira limitação metodológica das pesquisas analisadas: o recurso às fontes. Como destacamos, em todo o período analisado, as fontes utilizadas foram praticamente as mesmas: relatórios das empresas ferroviárias e também documentos oficiais de repartições, secretarias e ministérios responsáveis. O que se diversifica disso se vale de periódicos e também fontes orais, porém em números bem inferiores em relação aos primeiros. Isso pode ser explicado, em partes, pelo fato de os documentos oficiais (empresa e governo) serem mais fáceis de acessar e estarem, em grande parte, disponíveis nos Arquivos Públicos e também no Arquivo Nacional.

Porém, uma informação sobre a história das ferrovias nos chama atenção e, ao nosso ver, aumenta os problemas em relação às fontes. No período da chamada “República Velha”, boa parte das empresas ferroviárias brasileiras passou por processo de concessão, sendo sua exploração cedida a grupos estrangeiros. Esses grupos produziram um grande número de documentos, sendo que grande parte foi mandada para os países de origem dos acionistas das empresas e por lá permaneceram após o processo de estatização de várias ferrovias no Brasil. Ou seja, existem ainda conjuntos documentais sobre a história das ferrovias brasileiras inexploradas em arquivos de Londres, Paris e também nos Estados Unidos. Acreditamos que se trate de uma limitação metodológica importante, pois as pesquisas, mesmo as que conseguiram inovar e ressignificar a compreensão da ferrovia enquanto objeto de pesquisa, perderam oportunidades de obterem informações a respeito de outros aspectos econômicos e tecnológicos, e consideramos inclusive outra hipótese explicativa: ainda que a facilidade de acesso às fontes seja um determinante para essa “regionalização” das pesquisas, creditamos também a um maior interesse dos orientadores e pesquisadores das universidades de outras regiões que foram compostas durante muito tempo por pesquisadores formados na USP e nas universidades do Rio de Janeiro que levaram consigo seus interesses originais (ou mesmo regionais) de pesquisa.57 57 CAPELATO, Maria Helena Rolin et al. Escola Uspiana de História. Estudos Avançados, São Paulo, v. 8, n. 22, p. 349-358, 1994.

Essa limitação metodológica (das fontes) conjuga-se ainda em uma limitação de análise: uma vez que se valeram das mesmas fontes, boa parte dos trabalhos seguiu uma base comum de compreensão - como o de Odilon Matos, mantendo assim a repetição de sua explicação historiográfica - centrada no modelo de expansão das ferrovias por demanda agrícola e de um produto, como ocorreu em São Paulo com a Companhia Paulista e a Companhia Mogiana. Infelizmente, em algumas pesquisas sem problematizações diferenciadas, foi aplicado o mesmo modelo explicativo para compreensão de empresas ou localidades diferentes. O acesso às fontes também nos permite compreender, em partes, o porquê do grande número de pesquisas dedicadas à história das empresas das regiões Sudeste e Sul: nessas regiões, a salvaguarda documental está mais facilitada e bem conservada que nas demais localidades - mesmo que ainda esteja em condições muito ruins. Isso faz com que boa parte das pesquisas fiquem limitadas à compreensão das mesmas empresas ferroviárias, salvo raras exceções em vista da quantidade de pesquisas,58 58 NUNES, Ivanil. Douradense: a agonia de uma ferrovia, op. cit. 2002; GRANDI, Guilherme. A Companhia Estrada de Ferro Rio Claro: disputas em torno da expansão ferroviária no Oeste Paulista, 1880-1903, op. cit.; CUNHA, Aloísio Santos da. Descaminhos do trem: as ferrovias na Bahia e o caso do Trem da Grota (1912-1976), op. cit.; SILVA, Marcel Pereira da. De gado a café: as ferrovias no sul de Minas Gerais (1874-1910), op. cit.; SILVA, André Luiz da. Um francês no interior paulista: Paul Deleuze e o caso da São Paulo Nothern Railroad Company (1909-1916), op. cit. deixando de lado outras empresas menores e de importâncias locais que acabaram se perdendo ao longo dos anos. Acrescente-se a isso o fato de que, atualmente, pode ser quase impossível encontrar vestígios documentais capazes de dar bases para uma pesquisa acadêmica substantiva.

Por fim, cabe apontar, de modo provocativo, as limitações institucionais. Ainda que pareça cada vez mais evidente que a história das ferrovias, na perspectiva da história do transporte, envolva uma compreensão multidisciplinar (econômica, política e também cultural), para que seja possível compreendê-la em sua real dimensão é muito difícil enquadrá-la nas determinadas linhas de pesquisas propostas pela Capes para os programas de pós-graduação em História nas diversas universidades brasileiras. As linhas acabam, de maneira forçosa, direcionando os trabalhos para suas áreas, de forma endógena, fazendo com que o pesquisador deixe de lado outras possibilidades de análise.

O efeito dessas limitações, somado às limitações descritas anteriormente, fez com que diversos trabalhos tomassem diferentes objetos de estudo, mas replicassem modelos de análises e teses. Isso incorre, em alguns casos, no que Antônio Ferreira denomina de sensação de esgotamento da temática.59 59 FERREIRA, Antonio Celso. A historiografia profissional paulista: expansão e descentramento, op. cit., p. 332-338. Haja vista a crescente produção na temática na última década, ainda que pesem as deficiências metodológicas já apontadas, acreditamos mais em um esgotamento dos modelos do que da temática ou do objeto. Além disso, existem diversas possibilidades de propostas de análises das ferrovias brasileiras aguardando a dedicação generosa dos historiadores, como, por exemplo, a análise da produção bibliográfica sobre o tema, ou mesmo com um enfoque para a questão patrimonial (o que exigiria a aceitação de estudos multidisciplinares, já que também é feito por outras áreas), ou ainda estudos que se dediquem à massa documental que continua praticamente inexplorada por brasileiros. Pouco foi realizado nesse sentido, mas esse universo está aberto aos futuros historiadores, que poderão ainda se dar ao luxo do “acaso”, como Guinzburg, se optarem por se debruçarem sobre tal.

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  • 2
    GINZBURG, Carlo. Conversar com Orion. Esboços, Santa Catarina, n. 14, p. 162-170, 2007.
  • 3
    Ibidem, p. 168.
  • 4
    Podem existir trabalhos que não estão inseridos em bases de dados digitais. Os que encontramos fora, realizamos a leitura impressa.
  • 5
    FALCON, Francisco Calazans. Depoimento: a pós-graduação como objeto histórico. Maracanan, Rio de Janeiro, ano I, n. 1, p. 118- 133, 2000.
  • 6
    Disponível em: <http://www.rosana.unesp.br/#!/pesquisa/laboratorio-de-patrimonio-cultural/projetos/projeto-memoria-ferroviaria-pmf/sigpmr/>.
  • 7
    FALCON, Francisco Calazans. Depoimento: a pós-graduação como objeto histórico, op. cit., p. 122-123.
  • 8
    Ibidem, p. 123-125.
  • 9
    CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS, Ronaldo. Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997; RAGO, Margareth. A “nova” historiografia brasileira. Anos 90, Porto Alegre, v. 7, n. 11, 1999.
  • 10
    BORGES, Vavy Pacheco. História política: totalidade e imaginário. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p. 151-160, 1996. CAPELATO, Maria Helena Rolin. História política. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p. 161-165, 1996; D’ALESSIO, Márcia Mansor; JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. A esfera do político na produção acadêmica dos programas de pós-graduação (1985-1994). Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 9, n. 17, p. 123-150, 1996.
  • 11
    GLEZER, Raquel (Org.). Do passado para o futuro: edição comemorativa dos 50 anos de ANPUH. São Paulo: Contexto, 2011, p. 39-42
  • 12
    FERREIRA, Antonio Celso. A historiografia profissional paulista: expansão e descentramento. In: GLEZER, Raquel (Org.). Do passado para o futuro: edição comemorativa dos 50 anos de ANPUH, op. cit., p. 332-338.
  • 13
    As referências podem ser encontradas em: <http://www.rosana.unesp.br/#!/pesquisa/laboratorio-de-patrimonio-cultural/projetos/projeto-memoria-ferroviaria-pmf/sigpmr/>.
  • 14
    PINTO, Adolpho Augusto. História da viação pública de São Paulo. São Paulo: Governo do Estado, 1977.
  • 15
    PINTO, Estevão. História de uma estrada de ferro do Nordeste (Contribuição para o estudo da formação e do desenvolvimento da empresa “The Great Western of Brazil Railway” e das suas relações com a economia do Nordeste brasileiro). Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1949.
  • 16
    MATOS, Odilon Nogueira de. Café e ferrovias: a evolução ferroviária de São Paulo e o desenvolvimento da cultura cafeeira. São Paulo: Pontes, 1990.
  • 17
    SAES, Flavio Azevedo Marques. As ferrovias de São Paulo: 1870-1940. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1974; KROETZ, Lando Rogerio. As estradas de ferro de Santa Catarina: 1910-1960. Dissertação (Mestrado em História) Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, 1975.
  • 18
    COSTA, Wilma Peres Costa. As ferrovias e trabalho assalariado em São Paulo. Dissertação (Mestrado em História — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1976.
  • 19
    SAES, Flavio Azevedo Marques. A grande empresa de serviços públicos: 1850-1930. Tese (Doutorado em Sociologia) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1979.
  • 20
    CECHIN, José. A construção e operação das ferrovias no Brasil do século XIX. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1978.
  • 21
    MEDEIROS, Marluce. Estradas de ferro e ensino industrial: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Educação) — Fundação Getulio Vargas (FGV), Rio de Janeiro, 1980.
  • 22
    LEME, Dulce Maria Pompeo de Camargo. Hoje há ensaio: a greve dos ferroviários da Cia Paulista — 1906. Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1984. CORGOZINHO, Batistina Maria de Souza. Pelos caminhos da Maria Fumaça: O trabalhador ferroviário, formação e resistência pelo trabalho. Dissertação (Mestrado em Educação) — Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 1989.
  • 23
    HARDMAN, Francisco Foot. Trem fantasma: espetáculo do maquinismo na transição à modernidade. Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1986.
  • 24
    KROETZ, Lando Rogerio. As estradas de ferro do Paraná: 1880-1940. Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1985.
  • 25
    QUEIROZ, Paulo R. Cimó. As curvas do trem e os meandros do poder: o nascimento da estrada de ferro Noroeste do Brasil (1904-1908). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 1992; CASTRO, Maria Ines Malta. O preço do progresso: a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil (1905-1914). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1993; GARCIA, Tânia da Costa. Memórias mato-grossenses: a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais— Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), São Carlos, 1997; MANFREDI NETO, Pascoal. O trem da morte: o imaginário do progresso na Noroeste, 1905-1930. Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo: USP, 1996; QUEIROZ, Paulo R. Cimó. Uma ferrovia entre dois mundos: a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e a construção histórica de Mato Grosso (1918-1956). Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1999. CAMELO FILHO, José Vieira. A implantação e consolidação das estradas de ferro no nordeste brasileiro. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2000.
  • 26
    ARANHA, Gervacio Batista. Campina Grande no espaço econômico regional. Estrada de ferro, tropeiros e empório comercial algodoeiro (1907-1957). Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, 1991; SIQUEIRA, Tagore Villarim de. Expansão e estagnação do transporte ferroviário no Nordeste brasileiro no período de 1940-1958. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 1991; LIMA, Francisco Vanderlei de. A Estrada de Ferro Mossoró-Souza: do sonho econômico à miséria do discurso político. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) — Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, 1997; CAMELO FILHO, José Vieira. A implantação e consolidação das estradas de ferro no nordeste brasileiro, op. cit.; MELO, Josemir Camilo de. Modernização e mudanças: o trem inglês nos canaviais do Nordeste (1852-1902). Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2000.
  • 27
    QUEIROZ, Paulo R. Cimó. As curvas do trem e os meandros do poder: o nascimento da estrada de ferro Noroeste do Brasil (1904-1908), op. cit.; QUEIROZ, Paulo R. Cimó. Uma ferrovia entre dois mundos: a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil e a construção histórica de Mato Grosso (1918-1956), op. cit.
  • 28
    CASTRO, Maria Ines Malta. O preço do progresso: a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil (1905-1914), op. cit.; LESSA, Simone Narciso. Trem de ferro: do cosmopolitismo ao sertão. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 1993. MANFREDI NETO, Pascoal. O trem da morte: o imaginário do progresso na Noroeste, 1905-1930, op. cit.; BRITTO, Rogério Augusto Lima de. A modernidade tardia na Amazônia: da borracha à estrada de ferro. Dissertação (Mestrado em Letras) — Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 1996.
  • 29
    POSSAS, Lídia Maria Vianna. Mulheres, trem e trilhos: beirando a história do impossível. Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1999.
  • 30
    FERREIRA, Aroldo Márcio. Urbanização e arquitetura na região da Estrada de Ferro Goiás-E. F. Goiás: cidade de Pires do Rio, um exemplar em estudo. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, 1999.
  • 31
    ZAMBELLO, Marco Henrique. Ferrovia e memória: estudo sobre o trabalho e a categoria dos antigos ferroviários da Vila Industrial de Campinas. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2005; ARAUJO NETO, Adalberto Coutinho. Entre a revolução e o corporativismo: a experiência sindical dos ferroviários da Sorocabana nos anos 30. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo 2006; SOUZA, Roberio Santos. Experiências de trabalhadores nos caminhos de ferro da Bahia: trabalho, solidariedade e conflitos (1892-1909). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2007; FRACCARO, Glaucia Cristina Candian. Morigerados e revoltados: trabalho e organização de ferroviários da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-1920). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2008; CARVALHO, Diego Francisco de. Trabalho e conflito na Noroeste do Brasil: a greve dos ferroviários de 1914. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2009; FERREIRA, Lania Stefanoni. Entroncamento entre raça e classe: ferroviários no centro-oeste Paulista 1930-1970. Tese (Doutorado em Sociologia) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2010.
  • 32
    LIMA, Rogerio Mendes de. Purgatório: crise da cultura e trajetória sindical entre os ferroviários do Rio de Janeiro. Tese (doutorado em Sociologia) — Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro; ARAUJO NETO, Adalberto Coutinho. Entre a revolução e o corporativismo: a experiência sindical dos ferroviários da Sorocabana nos anos 30), op. cit.; MOURA, Fabricio Renner de. Avante, vamos para a luta: cotidiano e militância dos trabalhadores ferroviários da cidade de Cruz Alta (1958-1964). Dissertação (Mestrado em História) — Pontifícia Universidade Católica (PUC), Porto Alegre, 2007; SOUZA, Roberio Santos. Experiências de trabalhadores nos caminhos de ferro da Bahia: trabalho, solidariedade e conflitos (1892-1909), op. cit.; MONTEIRO, Caudia. “Fora dos trilhos”: as experiências da militância comunista na rede de viação Paraná-Santa Catarina (1934-1945). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2007; MORATELLI, Thiago. Os trabalhadores da construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil: experiências operárias em um sistema de trabalho de grande empreitada (São Paulo e Mato Grosso, 1905-1914). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2009.
  • 33
    LAMOUNIER, Maria Lúcia. Ferrovias, agricultura de exportação e mão de obra no Brasil no século XIX. Tese (Livre-Docência em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2008; SOUZA, Roberio Santos. Experiências de trabalhadores nos caminhos de ferro da Bahia: trabalho, solidariedade e conflitos (1892-1909), op. cit.; SANTOS, Carlos Augusto Pereira dos. Entre o porto e a estação: cotidiano e cultura dos trabalhadores urbanos de Camocim (CE), 1920-1970. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, 2008; CASTILHO, Fábio Francisco de Almeida. Entre a locomotiva e o fiel da balança: a transição da mão de obra no sul de Minas (1870-1918). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ), São João Del Rei, 2009.
  • 34
    MAIA, Andréa Casa Nova. Encontros e despedidas — ferrovias e ferroviários do oeste de Minas. Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, 2002; INÁCIO, Paulo Cesar. Trabalho, ferrovia e memória. A experiência de turmeiro(a) no trabalho ferroviário. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, 2003; PEREIRA, Daniela Márcia Medina. A próxima estação: trabalho, memória e percursos dos trabalhadores aposentados da ferrovia. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, 2004. FERREIRA, Lania Stefanoni. Racismo na “família ferroviária”: brancos e negros na Companhia Paulista em São Carlos. Dissertação (Mestrado em Sociologia) ) — Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), São Carlos, 2004; ZAMBELLO, Marco Henrique. Ferrovia e memória: estudo sobre o trabalho e a categoria dos antigos ferroviários da Vila Industrial de Campinas,. op. cit.; FLÔRES, João Rodolpho Amaral. Profissão e experiências sociais entre trabalhadores da Viação Férrea do Rio Grande do Sul em Santa Maria (1898-1957). Tese (Doutorado em História). São Leopoldo: UNISINOS, 2005; PINTO, Rodrigo Márcio Souza. Do Passeio Público à ferrovia: o futebol proletário em Fortaleza (1904-1945). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Fortaleza, 2007.
  • 35
    ESPIG, Marcia Janete. Personagens do contestado: os turmeiros da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande (1908-1915). Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, 2008.
  • 36
    COUTO, Ludimila Brasileiro Guirra. A formação escolar das mulheres ferroviárias de Alagoinhas-BA (1950-1970). Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2007.
  • 37
    OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Memória ferroviária e cultura de trabalho: perspectivas, métodos e perguntas interdisciplinares sobre o registro, preservação e ativação de bens ferroviários. São Paulo: Alameda, 2017.
  • 38
    ARANHA, Gervacio Batista. Trem, modernidade e imaginário na Paraíba e região: tramas político-econômicas e práticas culturais (1880-1925). Tese (Doutorado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2001; LIMA, Pablo Luiz de Oliveira. A máquina, tração do progresso: memórias da ferrovia no oeste de Minas, entre o sertão e civilização, 1880-1930. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2003; BRANDÃO, Hilma Aparecida. Memórias de um tempo perdido: a estrada de ferro Goiás e a cidade de Ipameri (início do século XX). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, 2005; GIFFONI, José Marcello Salles. Trilhos arrancados: história da estrada de ferro Bahia e Minas (1878-1966). Tese (Doutorado em História) — Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2006; POZZER, Guilherme Pinheiro. A antiga estação da Companhia Paulista em Campinas: estrutura simbólica transformadora da cidade (1872-2002). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2007; HADLER, Maria Silvia Duarte. Trilhos da modernidade: memórias e educação urbana dos sentidos. Tese (Doutorado em Educação) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2007; CORTEZ, Ana Isabel Ribeiro Parente. Memórias descarrilhadas: o trem na cidade do Crato. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, 2008; PALLOTA, Fábio Paride. A ferrovia e o automóvel: ícones da modernidade na cidade de Bauru (1917-1939). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 2008; SANTOS, Rodrigo Amado dos. A rotunda no município de Lins: para além da materialidade, memórias e significados. Dissertação (Mestrado em Sociologia) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marília, 2009.
  • 39
    BRANDÃO, Hilma Aparecida. Memórias de um tempo perdido: a estrada de ferro Goiás e a cidade de Ipameri (início do século XX), op. cit.; MANTOVANI, André Luiz. Melhorar para não mudar: ferrovias, intervenções urbanas e seu impacto social em Ouro Preto (MG), 1885-1897. Dissertação (Mestrado em História) — Pontifícia Universidade Católica (PUC), São Paulo, 2007; RAMOS, Geovanna de Lourdes Alves. Entre trilhos e trilhas: vivências, cotidiano e intervenções na cidade de Uberlândia (MG), 1970-2006. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, 2007; CORTEZ, Ana Isabel Ribeiro Parente. Memórias descarrilhadas: O trem na cidade do Crato, op. cit.; PALLOTA, Fábio Paride. A ferrovia e o automóvel: ícones da modernidade na cidade de Bauru (1917-1939), op. cit.; SANTOS, Rodrigo Amado dos. A rotunda no município de Lins: para além da materialidade, memórias e significados, op. cit.; LIMA, Keite Maria Santos do Nascimento. Entre a ferrovia e o comércio: urbanização e vida urbana em Alagoinhas (1869-1929). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2010.
  • 40
    MATOS, Lucina Ferreira. Estação da memória: um estudo das entidades de preservação ferroviária do estado do Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em História) — Fundação Getulio Vargas (FGV), Rio de Janeiro, 2010.
  • 41
    NUNES, Ivanil. Douradense: a agonia de uma ferrovia. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, 2002; GRANDI, Guilherme. A Companhia Estrada de Ferro Rio Claro: disputas em torno da expansão ferroviária no Oeste Paulista, 1880-1903. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, 2005; GIFFONI, José Marcello Salles. Trilhos arrancados: história da estrada de ferro Bahia e Minas (1878-1966), op. cit.; OLIVEIRA, Paulo Roberto de. Entre rios e trilhos: as possibilidades de integração econômica de Goiás na Primeira República. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Franca, 2007; PEREIRA, Carlos José. O desenvolvimento do oeste catarinense. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Católica de Santos (Unisantos), Santos, 2007.
  • 42
    NUNES, Ivanil. Douradense: A agonia de uma ferrovia, op. cit., 2002.
  • 43
    NUNES, Ivanil. Integração ferroviária sul-americana: por que não anda esse trem? Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2008.
  • 44
    BRASIL. Lei 11.483, de 31 de maio de 2007. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11483.htm>. Acesso em: 20. mar. 2017.
  • 45
    Cf. OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Arquitetura industrial, patrimônio industrial e sua difusão cultural. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu; CAMPOS, Juliano Bittencourt; RODRIGUES, Marian Helen da Silva Gomes (Org.). Arqueologia pública e patrimônio: questões atuais. 1. ed. Criciúma, SC: Unesc, 2015, p. 197-226. v. 1.; MORAES, Ewerton Henrique de; OLIVEIRA, Eduardo Romero de. O patrimônio ferroviário nos tombamentos do estado de São Paulo. Revista Memória em Rede, v. 9, p. 18-42, 2017.
  • 46
    GERIBELLO, Denise Fernandes. Habitar o patrimônio cultural: o caso do ramal ferroviário Anhumas-Jaguariúna. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2011; DELAGE, Raquel Gotardelo Audebert. Estrada de ferro Vitória a Minas: conversas de beira de linha. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Mackenzie, São Paulo, 2012; ANUNZIATA, Antonio Henrique Felice. O patrimônio ferroviário e a cidade: a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Campinas (1872-1971). Dissertação (Mestrado em História). — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2013. ZAMBELLO, Marco Henrique. O declínio ferroviário paulista: despojo do trabalho social e abandono racional. Tese (Doutorado) — Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, 2015.
  • 47
    ANUNZIATA, Antonio Henrique Felice. O patrimônio ferroviário e a cidade: a Companhia Mogiana de Estradas de Ferro e Campinas (1872-1971), op. cit.; GERIBELLO, Denise Fernandes. Habitar o patrimônio cultural: o caso do ramal ferroviário Anhumas-Jaguariúna, op. cit.
  • 48
    BARCTUS, Aline Zandra Vieira. Memória e patrimônio ferroviário: estudo sobre o Museu da Companhia Paulista em Jundiaí (SP). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 2012.
  • 49
    MATOS, Lucina Ferreira. Memória ferroviária: da mobilização popular à política pública de patrimônio. Tese (Doutorado em História) — Fundação Getulio Vargas (FGV), Rio de Janeiro, 2015.
  • 50
    SCHMITZ, Maira Eveline. Nas asas do vapor: construção do espaço ferroviário em Pelotas (RS) (fim do séc. XIX início do séc. XX). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pelotas, 2013. ALMEIDA, Lucas Adriel Silva deALMEIDA, Lucas Adriel Silva de. “Como uma flor agreste”: ferrovias, campo e cidade no interior da Bahia (1923-1937). Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2014.. “Como uma flor agreste”: ferrovias, campo e cidade no interior da Bahia (1923-1937). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2014. BOTARO, Luis Gustavo Martins. Botucatu: modernização e infraestrutura urbana no interior paulista (1928-1934). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 2015.
  • 51
    SILVA, Fernanda Aparecida Henrique da. Discursos de fundação: engenheiros e o progresso pelo interior de São Paulo (1890-1910). Dissertação (Mestrado em História). Assis: UNESP, 2012.
  • 52
    GRANDI, Guilherme. Estado e capital cafeeiro: a Companhia Paulista de Estradas de Ferro entre 1930 e 1961. Tese (Doutorado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2011; CUNHA, Aloísio Santos da. Descaminhos do trem: as ferrovias na Bahia e o caso do Trem da Grota (1912-1976). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal da Bahia (UFBA), Salvador, 2011; SILVA, Marcel Pereira da. De gado a café: as ferrovias no sul de Minas Gerais (1874-1910). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2012; SILVA, André Luiz da. Um francês no interior paulista: Paul Deleuze e o caso da São Paulo Nothern Railroad Company (1909-1916). Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Pelotas, 2013; CORREA, Lucas Mariani. A Sorocaba Railway Company (1907-1919): a relação de uma empresa ferroviária privada com as diretrizes governamentais. Dissertação (Mestrado em História) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Assis, 2014.
  • 53
    DURÇO, Fábio Ferreira. A regulação do setor ferroviário brasileiro: monopólio natural, concorrência e risco moral. Dissertação (Mestrado em Economia) — Fundação Getulio Vargas (FGV), São Paulo, 2011; MARINHEIRO, Marco Antonio de Lima. Análise setorial: o caso da privatização modal ferroviário brasileiro. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araraquara, 2012; PALERMO, Bruno Beier. Avaliações de concessões ferroviárias dentro do novo Marco Regulatório Brasileiro. Dissertação (Mestrado em Economia) — Fundação Getulio Vargas (FGV), São Paulo, 2015.
  • 54
    OLIVEIRA, Eduardo Romero de. Questões sobre o reconhecimento de um patrimônio da industrialização “tardia” no Brasil. Oculum Ensaios, v. 14, p. 311-330, 2017.
  • 55
    Em um primeiro levantamento foi possível constatar arquivos de diversas universidades dos Estados Unidos (da Califórnia, de Chicago) com documentações sobre empresas férreas brasileiras. Além desses, pode-se destacar The National Archives, em Londres, que consta com uma importante documentação das empresas que aqui se desenvolveram com capital britânico. Ver: CUELLAR, Domingo et al. Una aproximación a la historia del ferrocarril en Brasil (1850-1950): legislación, empresas y capitales británicos. Documentos de Trabajo — Asociación Española de Historia Económica, v. 1, p. 1-36, 2016. Há arquivos na França que também têm documentos relativos às ferrovias brasileiras.
  • 56
    Entre os trabalhos analisados, temos como exceção a pesquisa de GREMAUD, Amaury Patrick. O Brasil no contexto internacional de capitais, 1870-1930: o caso da Brasil Railway CO. Dissertação (Mestrado em Economia) — Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 1992, que se vale de fontes documentais dos arquivos franceses.
  • 57
    CAPELATO, Maria Helena Rolin et al. Escola Uspiana de História. Estudos Avançados, São Paulo, v. 8, n. 22, p. 349-358, 1994.
  • 58
    NUNES, Ivanil. Douradense: a agonia de uma ferrovia, op. cit. 2002; GRANDI, Guilherme. A Companhia Estrada de Ferro Rio Claro: disputas em torno da expansão ferroviária no Oeste Paulista, 1880-1903, op. cit.; CUNHA, Aloísio Santos da. Descaminhos do trem: as ferrovias na Bahia e o caso do Trem da Grota (1912-1976), op. cit.; SILVA, Marcel Pereira da. De gado a café: as ferrovias no sul de Minas Gerais (1874-1910), op. cit.; SILVA, André Luiz da. Um francês no interior paulista: Paul Deleuze e o caso da São Paulo Nothern Railroad Company (1909-1916), op. cit.
  • 59
    FERREIRA, Antonio Celso. A historiografia profissional paulista: expansão e descentramento, op. cit., p. 332-338.
  • Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pelo financiamento das pesquisas em andamento que resultaram neste texto: 2016/15921-2, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
  • Como citar: CORREA, Lucas Mariani; OLIVEIRA, Eduardo Romero de. História ferroviária e pesquisa: a consolidação da temática nas pesquisas de pós-graduação no Brasil (1972-2016). Topoi. Revista de História, Rio de Janeiro, v. 19, n. 38, p. 140-168, mai./ago. 2018. Disponível em: <www.revistatopoi.org>.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Aug 2018

Histórico

  • Recebido
    15 Maio 2017
  • Aceito
    22 Set 2017
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