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Open-access A “Inscrição do Harém” de Xerxes (XPf): introdução crítica, tradução de XPf/OP para o português, comparação com XPf/AB e comentários

Xerxes’ “Harem Inscription”: Critical Introduction, Translation of XPf/OP to Portuguese Language, Comparison with XPf/AB and Commentary

La “Inscripción del Harén” de Xerxes(XPf): introducción crítica, traducción de XPf/OP para el portugués, comparación con XPf/AB y comentarios

Introdução

No âmbito da expedição do Oriental Institute of Chicago em Persépolis, liderada por Ernst Herzfeld, foi descoberta, em 3 de novembro de 1931, uma inscrição em persa antigo, gravada em uma pedra de dimensões 52x58x11 cm, sob os muros da fundação do Palácio Sudeste (o chamado “harém” de Xerxes; ver discussão abaixo)1 (MOUSAVI, 2020, p. 74). A descoberta se deu a partir da sugestão do arquiteto da expedição, Friedrich Kefter, de renovar uma parte da antiga fundação da estrutura. Mais tarde, em 26 de junho de 1935, a expedição, então liderada por Eric Schmidt, encontrou mais quatro cópias de XPf, três em persa antigo (XPf/OP) e outra em acadiano babilônico (XPf/AB), acompanhadas de algumas cópias da famosa “inscrição dos Daivā” de Xerxes (XPh) (ABDI, 2006-2007, p. 46; HUAYNA ÁVILA, 2020, p. 121; MOUSAVI, 2020, p. 78).2 Supõe-se que tenha existido uma versão elamita de XPf (*XPf/AE), mas ela não foi recuperada. Curiosamente, as últimas cópias da inscrição a serem descobertas estavam fora de seu contexto de origem, na Sala 16 dos “Aposentos da Guarnição” (Cf. SCHMIDT, 1939; SCHMIDT, 1953, fig. 82 e pl. 21A e B). O motivo de textos fundacionais tão importantes terem sido encontrados fora de seu contexto original, bem como a razão de seu reúso profano, não foram devidamente explicados até os dias de hoje (MOUSAVI, 2020, p. 78).3

A composição da inscrição é atribuída ao rei Xerxes,4 o filho de Dario I, que reinou entre 486 e 465 a.C., e um dos mais memoráveis monarcas do Império Aquemênida (559-330 a.C.)5 (MOUSAVI, 2020, p. 73-74). Maldito pela tradição clássica, de Ésquilo a Heródoto, em particular por ter invadido e destruído a acrópole de Atenas, esse rei foi também alvo de grande depreciação em tempos recentes, graças, sobretudo, à adaptação cinematográfica dos “300” de Frank Miller (cf. BRIDGES, 2015). Por isso, XPf é especial ao nos fornecer uma perspectiva diferente sobre o rei, aquela que a própria chancelaria real quisera nos transmitir, num contraponto às visões predominantes na tradição ocidental.

Apesar do nome popular de “Inscrição do Harém”, é bastante improvável que o texto guardasse qualquer relação com um aposento de reclusão das mulheres reais. Na Antiga Mesopotâmia, em geral, é debatível se tal instituição de segregação das mulheres teria existido, à semelhança das ulteriores cortes Otomana e Abássida (PIRNGRUBER, 2011, p. 293; SVÄRD, 2015, p. 39-143; contra PARPOLA, 2012; STOL, [2012] 2016, p. 529-548). Muitos autores também discordam que se possa usar o termo árabe “harém” (ḥarīm) retroativamente para designar realidades pré-islâmicas (WESTENHOLZ, 1990, p. 515; KUHRT, [1995] 2002, p. 526-528; VAN DE MIEROOP, 1999, p. 137-158; BAHRANI, 2001, p. 16; PIRNGRUBER, 2011, p. 293; SVÄRD, 2015, p. 110; BRIANT, 1996, p. 295-297; WIESEHÖFER, 2015, p. 168, n. 2; LENFANT, 2020; contra ZIEGLER, 1999, p. 5-8; PARPOLA, 2012; STOL, [2012] 2016, p. 459; LLEWELLYN-JONES, 2002, p. 25-30; 2013, p. 97; SHAHBAZI, [2003] 2012). Por fim, a associação de estruturas arqueológicas a espaços generificados é metodologicamente falha e de difícil comprovação (KERTAI, 2015, p. 4, p. 247; SVÄRD, 2015, p. 109-120).

No caso específico do “harém” de Persépolis, tal atribuição, relacionada a uma estrutura em forma de “L” no complexo local, foi consagrada a partir da configuração uniforme de numerosos aposentos lá encontrados (SCHMIDT, 1939, p. 2-3, fig. 5, p. 89; 1953, p. 255). Embora alguns autores tenham tentado corroborar, recentemente, essa identificação, fazendo menção ao acesso privilegiado do rei ao suposto recanto das mulheres, ou, por exemplo, ao caráter isolado da área (SHAHBAZI, [2003] 2012; LLEWELLYN-JONES, 2013, p. 106-109), a verdade é que não existe nenhum conjunto de achados arqueológicos que nos ajude a classificar tal estrutura como um ambiente de reclusão feminina. Assim, e à luz dos inúmeros problemas da nomenclatura “harém”, o ideal é resgatar a denominação anterior de “Palácio Sudeste”, atribuída por Herzfeld, e evitar pressuposições potencialmente anacrônicas (MOUSAVI, 2020, p. 74; cf. RAZMJOU, 2010, p. 243).

O conteúdo de XPf/OP é simples: no §1º, há um prólogo cosmogônico, típico das inscrições reais Aquemênidas, louvando o deus Ahura Mazda e sua criação; no §2º, temos a titulatura de Xerxes; no §3º, encontra-se uma espécie de genealogia de Xerxes, que fala da ascensão de Dario ao trono; no §4º, que é o núcleo da proclamação, temos a versão da (inusual) indicação de Xerxes à sucessão; no §5º, há fórmulas apotropaicas, em que se pede a proteção de Ahura Mazda à obra de Xerxes e de seu pai.

Embora o §4º não pareça guardar qualquer relação com um suposto harém, ele poderia ter algo a nos dizer sobre a história das mulheres reais Aquemênidas.6 Afinal, as Histórias de Heródoto narram a intervenção da rainha Atossa, filha de Ciro, o Grande, e esposa de Dario, em favor da designação de seu filho, Xerxes, como sucessor (Hdt. 7.2-3). Da mesma forma, o §4º de XPf parece comprovar que a sucessão do rei não teria sido obtida sem contestação, pois menciona a existência de outros príncipes rivais. Xerxes não era o filho mais velho de Dario e, ao que parece, sua escolha fora excepcional (BRIANT, 1996, p. 534-538). No entanto, a maioria dos autores prefere descartar essa correlação, entendendo que a proeminência de Atossa é um clichê sexista helênico sobre as “mulheres poderosas” da Ásia, ou ressaltando que Xerxes não faz menção à mãe ou ao avô materno nesse documento. Além disso, os autores sugerem outras razões práticas que teriam motivado Dario a optar por Xerxes no lugar do primogênito Artabarzanes e apontam para a rara ocorrência do nome de Atossa nos tabletes administrativos de Persépolis (SANCISI-WEERDENBURG, [1983] 1993, p. 22; BRIANT, 1996, p. 536; BROSIUS, 1996, p. 48-49; HENKELMAN, 2010; cf. também HYLAND, 2018).

Essa reação é contraintuitiva e exagerada e, a meu ver, o documento tem relevância para a história das rainhas persas. O fato de Xerxes não mencionar a mãe ou o avô materno numa inscrição oficial simplesmente reflete expectativas do que seria apropriado nesse gênero de documento. Aliás, em mais de uma narrativa – notoriamente, naquela que explica o início das Guerras Médicas (Hdt. 3.133-134) –, Heródoto deixa muito claro que a influência de Atossa era exercida no âmbito privado e doméstico, e não através de qualquer espécie de faculdade “institucional”. O nome de Atossa figura nos tabletes administrativos de Persépolis, ao contrário do que imaginavam Sancisi-Weerdenburg ([1983] 1993, p. 22) e Brosius (1996, p. 48-49); sua relativa ausência talvez se deva à possibilidade de ela ter residido em Susa (SAFAEE, 2016-2017, p. 115-116). A meu ver, a sucessão de Xerxes teria se integrado ao projeto de legitimação de Dario após sua conturbada ascensão ao poder, e o casamento com Atossa, filha de Ciro, implicaria um compromisso de unificar duas linhagens reais. Ademais, é possível que a influência pessoal de Atossa tenha representado um elemento importante para a determinação do príncipe herdeiro, e, portanto, usar o juízo enviesado dos gregos como fundamento de recusa da agência política feminina é bastante problemático – ou, em outras palavras, se a literatura helênica reprova o poder das rainhas, isso não implica que tenha “criado” ex nihilo a mesma situação que reprova.

Em termos de edições críticas, contamos, felizmente, com uma série de contribuições de renomados especialistas. O texto de XPf/OP foi primeiramente estabelecido e traduzido para o inglês (1932), e, mais tarde, junto de XPf/AB, para o alemão (1938), por Ernst Herzfeld. Roland Kent examinou a inscrição e as hipóteses levantadas por Herzfeld em 1933, fornecendo uma nova normalização de XPf/OP, bem como uma tradução em inglês. Em sua gramática do persa antigo, o autor também traz uma normalização e tradução da inscrição7. Rüdiger Schmitt fornece uma versão do persa antigo transliterada, normalizada e vertida ao inglês em sua edição crítica standard8 e, mais recentemente, faz o mesmo em sua editio minor das inscrições reais persas, em alemão9. Pierre Lecoq traz uma tradução do texto veteropersa para o francês, comparando-a à versão acadiana, mas sem os originais10. O texto acadiano foi transliterado pela última vez por Steve, que também o traduziu para o francês11. Por fim, o leitor pode encontrar uma versão em inglês do texto persa em Kuhrt12. Abaixo, empregamos a normalização de Schmitt13 para a versão persa e, quando citamos a versão acadiana, além da transliteração (sinal por sinal) de Steve (1975), mencionamos a transliteração (com convenções atualizadas) do Achaemenid Royal Inscriptions online (doravante “ARIo”14), projeto do Open Richly Annotated Cuneiform Corpus (ORACC), adaptada, lematizada e traduzida por Heitmann-Gordon.15 Fornecemos, ademais, a nossa própria tradução em português do texto persa.

Quanto às quatro unidades epigráficas do texto persa, todas possuem o mesmo conteúdo, as mesmas idiossincrasias e os mesmos erros escribais, com apenas pequenas divergências “ortográficas” no cuneiforme. Dessa forma, podemos assegurar que todas elas emergiram de um mesmo texto original16.

Em relação às passagens de XPf/AB que colacionaremos para comparação, o leitor familiarizado com o acadiano precisa se atentar ao fato de que o dialeto empregado nas inscrições Aquemênidas não corresponde exatamente ao Late Babylonian (“Babilônio Tardio”) usado na documentação cotidiana da Babilônia sob controle persa, nem mesmo ao Standard Babylonian (“Babilônio Clássico”) que encontramos nas inscrições reais neoassírias. Trata-se, efetivamente, de um “dialeto” próprio, Achaemenid Babylonian, empregado pela chancelaria real exclusivamente nesse tipo de documento, e marcado por diversas idiossincrasias estilísticas, lexicais e gramaticais (MALBRAN-LABAT, 1994, p. 15-92; STOLPER, 2005, p. 21; BEAULIEU, 2006, p. 203). As discussões sobre as particularidades dessa versão literária do acadiano, sua origem e significado (seria uma rejeição consciente da tradição pregressa e do babilônio clássico? Um dialeto que existia fora das fronteiras da Mesopotâmia? O resultado da dificuldade em se transpor o persa em acadiano?), ainda não encontraram respostas categóricas (MALBRAN-LABAT, 1994, p. 33-34; BEAULIEU, 2006, p. 203-204; DANESHMAND, 2015, p. 326-327; p. 331-333).

Tradução de XPf/OP para o português

§1º baga vazr̥ka17 Auramazdā,18 haya imām būmim adā, haya avam asmānam adā, haya martiyam adā, haya šiyātim adā martiyahyā, haya Xšayar̥šām xšāyaθiyam akunauš, aivam parūnām xšāyaθiyam, aivam parūnām framātāram.19

§1º Um grande deus (é) Ahura Mazda, que criou esta terra, que criou aquele céu, que criou o homem, que criou a felicidade para o homem, que fez Xerxes rei, um rei de muitos, um comandante de muitos.

§2º adam Xšayar̥šā, xšāyaθiya vazr̥ka, xšāyaθiya xšāyaθiyānām, xšāyaθiya dahyūnām paruzanānām, xšāyaθiya ahyāyā būmiyā vazr̥kāyā dūrai api, Dārayavahauš xšāyaθiyahyā puça, Haxāmanišiya.

§2º Eu (sou) Xerxes, grande rei, rei dos reis, rei dos países de muitas estirpes, rei nesta terra grande e também distante, filho do rei Dario, um Aquemênida.

§3º θāti Xšayar̥šā xšāyaθiya: manā pitā Dārayavauš, Dārayavahauš pitā Vištāspa nāma āha, Vištāspahyā pitā R̥šāma nāma āha; utā Vištāspa utā R̥šāma, ubā ajīvatam; aci Auramazdām avaθā kāma āha: Dārayavaum, haya manā pitā, avam xšāyaθiyam akunauš ahyāyā būmiyā; yaθā Dārayavauš xšāyaθiya abava, vasai taya fraθaram akunauš.

§3º Diz Xerxes, o rei: meu pai (foi) Dario; Dario tinha um pai de nome Histapes; Histapes tinha um pai de nome Arsames; Histapes e Arsames, ambos eram vivos; no entanto, assim era o desejo de Ahura Mazda: Dario, o meu pai, àquele ele fez rei nesta terra; quando Dario se tornou rei, ele fez muito que (é) excelente.

§4º θāti Xšayar̥šā xšāyaθiya: Dārayavahauš puçā aniyaici āhantā; Auramazdām avaθā kāma āha: Dārayavauš haya manā pitā pasā tanūm mām maθištam akunauš; yaθāmai pitā Dārayavauš gāθāvā ašiyava, vašnā Auramazdahā adam xšāyaθiya abavam piça gāθāvā; yaθā adam xšāyaθiya abavam, vasai taya fraθaram akunavam; tayamai piça kr̥tam āha, ava adam apayai, utā aniya kr̥tam abījavayam; tayapati adam akunavam utamai taya pitā akunauš, ava visam vašna Auramazdahā akumā.

§4º Diz Xerxes, o rei: Dario tinha outros filhos; (mas) assim era o desejo de Ahura Mazda: Dario, o meu pai, me fez o maior depois de si; quando meu pai, Dario, partiu para o (seu) lugar, pela vontade de Ahura Mazda, eu me tornei rei no lugar de (meu) pai; quando eu me tornei rei, eu fiz muito que (é) excelente; o que fora feito por meu pai, aquilo eu protegi, e outra obra mais acrescentei; o que eu ora fiz e o que meu pai fez, tudo isso nós fizemos pela vontade Ahura Mazda.

§5º θāti Xšayar̥šā xšāyaθiya: mām Auramazdā pātu utamai xšaçam; utā taya manā kr̥tam utā tayamai piça kr̥tam, avašci Auramazdā pātu.

§5º Diz Xerxes, o rei: que Ahura Mazda me proteja, e ao meu império; e aquilo que (foi) feito por mim, e aquilo que (foi) feito pelo meu pai, isso também Ahura Mazda proteja.

Comentários e comparação XPf/AB20

§1º. baga vazrka. Grande (vazr̥ka, adj. nom. sing. m.) deus (baga, subs. nom. sing. m.) (SCHMITT, 2014, p. 149; p. 278).21 É um título atrelado exclusivamente a Ahura Mazda nas inscrições reais. A palavra “baga” não é normalmente usada para “deus” no Avesta (SKJÆRVØ, 1999, p. 10). Como o persa antigo não tem artigos definidos ou indefinidos, a tradução pode ser tanto “o” grande deus quanto “um” grande deus. Há quem opte pela primeira formulação22 (cf. BASELLO et al., 2012, p. 35-36). A maioria dos autores, ademais, prefere traduzir a sequência como uma predicação com o verbo de ligação implícito (“um grande deus [é] (...)”), mas argumentou-se também por sua tradução como uma aposição (“grande deus, (...)”) (BASELLO et al., 2012, p. 36). Na versão acadiana babilônica, Steve23 translitera DINGIR (ilu) como determinativo, i.e., de forma sobrescrita (drabū-ú), mas trata-se antes do substantivo “deus” (ilu rabû, i.e., “grande deus”)24 (cf. ARIo). Para o aleph final no nome da-ḫu-ru-ma-az-da-ʾ25 e em outras palavras do AB, cf. MALBRAN-LABAT (1994, p. 22-26). Auramazdā. O “Sábio Senhor” ou o “Senhor Sabedoria” (MACEDO, 2020, p. 42-43; HENKELMAN, 2021, p. 1.224). Uma deidade iraniana antiga, a mais importante nas inscrições Aquemênidas e no Avesta, livro sagrado do zoroastrismo (BRIANT, 1996, p. 105-106; SKJÆRVØ, 1999, p. 7), mas raramente mencionada nos tabletes administrativos de Persépolis (HENKELMAN, 2008, p. 216-228). haya... adā. Ahura Mazda é um deus criador (SKJÆRVØ, 1999, p. 36). Uma série de orações relativas enumeram a criação do deus: ele é, por exemplo, aquele (haya, pron. nom. sing. m.) que criou (adā, v. dā- “fazer, criar”, 3ª p. sing. aor. atv.; cf. SCHMITT, 2014, p. 160-161) esta (imām; pron. de dêixis próxima, ac. sing. f.; cf. SCHMITT, 2014, p. 194-195) terra (būmim; subs. ac. sing. f.) e aquele (avam; pron. de dêixis distante, ac. sing. m.) céu (asmānam; subs. ac. sing. m.26). O interessante nessa passagem é o uso do aor. radical adā, em vez do ipf. adadā. Aoristos são raros em persa antigo27 e, nessa fórmula, seu uso aponta para uma possível emulação de um equivalente avéstico antigo (SKJÆRVØ, 1999, p. 36-38). O texto acadiano (ARIo: šá qaq-qa-ru a-ga-ʾ id-din-nu šá AN-e an-nu-ú-tu id-din-nu), muito próximo do que vimos em persa, traz características próprias do dialeto idiossincrático que é o “babilônio Aquemênida” (AB). O pronome demonstrativo agâ é mais comum em textos tardo-babilônicos (MALBRAN-LABAT, 1994, p. 40; DANESHMAND, 2015, p. 326; CAD28, a/1, p. 137; CDA29, p. 5); o verbo nadānum (iddinu: 3ª p. sing. m. pret. subj. tema G)30 só tem o sentido de “criar”, com o qual é aqui empregado, nas inscrições reais Aquemênidas (CAD, n/1, p. 42). Algumas desinências de casos nominais do acadiano, que seriam esperadas em outros dialetos, deixam de ser marcadas nesse período; o -u, por exemplo, deixa de ser a marca exclusiva do nominativo, “invadindo os outros casos” (MALBRAN-LABAT, 1994, p. 28). martiyam adā, haya šiyātim adā martiyahyā. O termo persa martiya- (subs. sing. m., que aqui aparece no ac. martiyam, e dat.-gen. martiyahyā) pode significar tanto “ser humano” quanto “homem”, e é parte da criação de Ahura Mazda (SCHMITT, 2014, p. 212). Junto do ser humano, o deus teria criado a felicidade terreal para o homem (šiyātim; subs. ac. sing. f.; cf. SCHMITT, 2014, p. 248). Em acadiano (ARIo: šá a-me-lu-ú-tú id-din-nu šá dum-qí a-na LÚ.UN.meš id-din-nu)31, a primeira criação (amēlūtu, cf. CAD, a/2, p. 57-61) carrega o sufixo de abstrações (HUEHNERGARD, [1997] 2015, p. 124-125), significando “humanidade” em vez do persa “ser humano / homem”32. A criação seguinte, dumqi, pode ser traduzida como “bem-aventurança” ou “prosperidade” (CAD, d, p. 180-183; CDA, p. 57), um sentido similar ao do termo veteropersa. Para a grafia dum-qí nas inscrições reais Aquemênidas, cf. Basello et al. (2012, p. 38). Essa criação tem como destinatário UN.meš (logograma para nišū seguido do sinal de pluralidade: “povos, populações”; cf. CAD, n/2, p. 283-297; SCHRAMM, 2010, p. 158). Xšayar̥šām xšāyaθiyam akunauš. Ahura Mazda é quem “fez” (akunauš; v. “kar-”, 3ª p. sing. ipf. atv.33) Xerxes “rei” (xšāyaθiyam; subs. ac. sing. m.34). Em acadiano, “aquele que fez Xerxes rei” (ARIo: šá a-na mḫi-ši-ʾ-ar-ši LUGAL ib-nu-ú35). Essa fórmula (ana NP LUGAL banû) não é atestada em outros dialetos acadianos, apenas em AB. A prep. ana é frequentemente usada como marcador do objeto direto em AB – uma das diversas formas de evitar a ambiguidade que seria provocada pela queda das desinências de caso nesse dialeto (MALBRAN-LABAT, 1994, p. 29; p. 32-33; DANESHMAND, 2015, p. 329). O v. ibnû é a forma da 3ª p. sing. m. pret. subj. tema G. aivam parūnām xšāyaθiyam, aivam parūnām framātāram. “Um” ou “o único” (aivam; adj., ac., sing., m.; o numeral correspondente não é usualmente grafado de forma silábica, mas mediante o sinal exclusivo de número36) (cf. SCHMITT, 2014, p. 128) “rei” (para xšāyaθiya-, cf. acima) “de muitos” (parūnām, adj., gen., pl., m.; cf. SCHMITT, 2014, p. 228), “um comandante” (framātāram) “de muitos”. framātār- “comandante” (subs., ac., sing., m., tema “r”; cf. SCHMITT, 2014, p. 176) é usado na documentação antiga para chefes militares, chefes da administração e até para o oficiante do ritual do lan. Em acadiano a formulação é similar (ARIo: iš-ten a-na LUGAL.meš ma-du-ú-tu iš-ten mu-te-ʾ-e-mu ma-du-ú-tu37), “um” ou “primeiro” entre “muitos reis”, “primeiro de muitos governantes” (para o subs. muṭeʾemu “legislador, governante”, e também para essa fórmula inteira, cf. CAD, m/2, p. 319-320; BASELLO et al., 2012, p. 38; cf. também CDA, p. 224).

§2º. adam Xšayar̥šā. “ Eu” (adam, pron. pessoal 1ª pes. sing. nom.; cf. SCHMITT, 2014, p. 125) “(sou)” (para a omissão do verbo “ser/estar” (v. ah-) na cópula do pres., cf. SKJÆRVØ, 2009, p. 134) “Xerxes”, Tronname do rei, cuja etimologia “herói sobre reis”38 foi recentemente corrigida para “aquele que reina sobre heróis” (SCHMITT, 2014, p. 285-286). No acadiano (ARIo: a-na-ku mḪi-ši-iʾ-ar-ši39), temos também uma cláusula nominal, com o pronome independente anāku, cujo uso é frequente no AB, inclusive cumprindo função de objeto indireto ou mesmo após a preposição ana (MALBRAN-LABAT, 1994, p. 21, p. 34-36). xšāyaθiya vazr̥ka, xšāyaθiya xšāyaθiyānām. “Grande rei, rei dos reis”. Esses termos já foram objeto de exame lexical e morfológico acima. Em acadiano a titulatura é análoga, expressa uma pretensão imperial e tem antecedentes mesopotâmicos (ARIo: LUGAL GAL, LUGAL LUGAL. MEŠ40). xšāyaθiya dahyūnām paruzanānām, xšāyaθiya ahyāyā būmiyā vazr̥kāyā dūrai api. “Rei” de “países” (dahyūnām; subs. gen. pl. f.41; dahyu- é termo técnico para as circunscrições administrativas do império, cf. GNOLI, 2011 [1993]) “de muitos tipos de homens”42 ou “de muitas origens” (paruzanānām, adj. gen. pl. f.; esse termo é usado apenas nas inscrições de Xerxes; cf. SCHMITT, 2014, p. 229). Xerxes também é rei “nessa” (ahyāyā; pron. loc. sing. f.; cf. SCHMITT, 2014, p. 194) “terra” (būmiyā; subs. f. sing. loc; para léxico, cf. acima) “grande” (vazr̥kāyā; adj. f. sing. loc.) e “também” (api; adv.; cf. SCHMITT, 2014, p. 133) “distante” (dūrai; adv. formado a partir do adj. dūra- no loc. sing.; cf. SKJÆRVØ, 2009, p. 80; SCHMITT, 2014, p. 172). Em acadiado a ênfase é diferente, pois se fala do rei dos países (ARIo: LUGAL KUR.KUR.meš) que são “da totalidade de línguas” (ARIo: šá nap-ḫa-ar li-šá-nu.meš43; CDA, p. 183, p. 238-239). Essa é uma concepção singular dos escribas da versão acadiana para o conceito OP de paruzana- (DANESHMAND, 2015, p. 330). Dārayavahauš xšāyaθiyahyā puça. “Filho” (puça, subs. nom. sing. m.44) do rei “Dario” (Dārayavahauš; subs. gen. sing. m.; etimologia: “aquele que segura firme os bens”45; cf. MACEDO, 2020, p. 43). Em acadiano, a versão tem sentido similar46. O rei enfatiza, sim, sua linhagem patrilinear, mas ele o faz em razão da trajetória e posição de seu pai (notar menção ao título). Haxāmanišiya. Essa palavra, derivada do nome pessoal Haxāmaniš (Aquêmenes), com acréscimo do sufixo de pertencimento -iya, deve ser traduzida como título dinástico: “Aquemênida” (SCHMITT, 2014, p. 192). A etimologia é debatida (SKJÆRVØ, 1999, p. 35; SCHMITT, 2014, p. 192).

§3°. Em relação a esse parágrafo, é imprescindível notar o paralelismo que o texto traça entre a ascensão de Dario e a ascensão de Xerxes47. Qualquer análise do texto que ignore esse aspecto está fadada a uma leitura equivocada. Xerxes destaca que o pai e o avô de Dario estavam vivos quando ele se tornou rei. Esse expediente não é fortuito. Xerxes quer ressaltar que o avô e bisavô teriam, do ponto de vista genealógico, precedência sucessória.48 No entanto, pelo desejo divino, pela vontade do deus supremo Ahura Mazda, Dario foi feito rei. Uma situação similar se repetirá, depois, com o próprio Xerxes: Dario tinha outros filhos mais velhos, mas o deus optou por fazer Xerxes rei. É a escolha divina que legitima rupturas no “protocolo” de sucessão. Vamos agora ao exame analítico do parágrafo. θāti Xšayar̥šā xšāyaθiya. “Diz” (v. θā-, 3ª p. sing. ind. pres. atv.; cf. MACEDO, 2020, p. 44) o rei Xerxes. Essa é a fórmula de ditado real com topicalização do verbo, peculiar de um estilo solene, e uma Redeeinleitungsformel das inscrições persas (SCHMITT, 2014, p. 256). A fórmula acadiana correspondente, “NP (kī am) qabûm” (ARIo: mḫi-ši-ʾ-ar-ši LUGAL i-qab-bi), não é comum nas inscrições reais mesopotâmicas (DANESHMAND, 2015, p. 327). manā pitā Dārayavauš. A primeira palavra é o pron. pessoal da 1ª p. no gen. sing., indicando posse, “meu”49 “pai” (pitā sendo a forma nom., sing., m. do subs. pitar-; cf. SCHMITT, 2014, p. 234). No acadiano, o uso da construção “o meu próprio pai” (ARIo: AD-ú-a at-tu-ú-a), com o subs. + sufixo pron. possessivo seguido do pron. pessoal com o mesmo sufixo (CAD, a/2, p. 514; CDA, p. 31; cf. MALBRAN-LABAT, 1994, p. 38) é diferente do que seria esperado, isto é, apenas o substantivo com o sufixo pronome possessivo da 1ª pessoa do singular. Não equivale nem sequer a uma tradução literal no persa (onde temos apenas “meu pai”; cf. DANESHMAND, 2015, p. 327-328). Dārayavahauš pitā Vištāspa nāma āha, Vištāspahyā pitā R̥šāma nāma āha. Aqui temos um caso da famosa fórmula veteropersa conhecida como “naming phrase” – um meio de indicar o nome da pessoa, acompanhado de nāma (m.) ou nāmā (f.), sempre no nominativo, independentemente da função sintática cumprida na oração50 –, com o verbo “ser/estar” (v. ah-, 3ª p. sing. ipf. atv.; cf. SCHMITT, 2014, p. 126) ao final. Algo como “para Dario havia um pai de nome Hístapes, para Hístapes havia um pai de nome Arsames” ou, conforme Schmitt, “o pai de Dario era (um homem) de nome Hístapes, o pai de Hístapes era (um homem) de nome Arsames”51. Em acadiano, há uma construção análoga com a aposição de MU-šú ao NP (i.e., šumšu, i.e., šumum com suf. pron. possessivo da 3ª p. m. sing.; cf. MALBRAN-LABAT, 1994, p. 18) – “Hístapes, o nome dele (era)”. utā Vištāspa utā R̥šāma. A construção utā ... utā é uma forma de coordenar palavras: “tanto Hístapes quanto Arsames”, “Hístapes e Arsames”, ou “ambos Hístapes e Arsames” (SKJÆRVØ, 2009, p. 149). Os nomes Vištāspa e R̥šāma têm ressonâncias avésticas (SKJÆRVØ, 1999, p. 36). ubā ajīvatam. “ambos viviam” (o v. é a forma de jīv-, “viver”, na 3ª pes. dual imp. atv, portanto, “os dois viviam”; cf. SCHMITT, 2014, p. 197). aci Auramazdām avaθā kāma āha. A partícula aci é um hápax legómenon, mas seu sentido adversativo é claro52 (SCHMITT, 2014, p. 125): Histapes e Arsames estavam vivos, “mas” Ahura Mazda desejou fazer Dario rei (SKJÆRVØ, 2009, p. 152; em acadiano, o correspondente é al-la- “mas, em vez disso”; cf. CAD, a/1, p. 350; CDA, p. 12). “Assim” (avaθā; adv. cf. SCHMITT, 2014, p. 146) “o desejo” (kāma; subs., n., sing., m.; cf. SCHMITT, 2014, p. 198) “era” (āha) “para Ahura Mazda” (no ac). Para essa construção impessoal do substantivo com cópula e ac. pessoal, cf. SKJÆRVØ (2009, p. 106). Dārayavaum haya manā pitā, avam xšāyaθiyam akunauš ahyāyā būmiyā. “A Dario, o meu pai, àquele ele [= Ahura Mazda] fez rei nesta terra” (para essa oração relativa, cf. SKJÆRVØ, 2009, p. 159). Já tivemos a oportunidade de analisar a semântica e a morfologia da maioria desses elementos. yaθā Dārayavauš xšāyaθiya abava, vasai taya fraθaram akunauš. “Quando” (yaθā; cf. SCHMITT, 2014, p. 292) Dario (grafado no original com uma adição equivocada: da-a-ra-ya-va-{ha}-u-ša,53 provavelmente uma correção dos escribas no lugar errado, uma vez que o ha que se esperaria no gen. está faltando no §4º 54) “se tornou” (v bav- na 3ª p. sing. ipf. atv.; cf. SCHMITT, 2014, p. 153) rei, ele fez “muito” (adv. vasai, cf. SCHMITT, 2014, p. 276) “o que” (taya-, pron. relativo sing. nom. n.; cf. SCHMITT, 2014, p. 192-193) (é) “excelente” (fraθara-, adj. comparativo formado com o acréscimo do sufixo -tara, aqui no nom. sing. n.; “superior”; cf. SKJÆRVØ, 2009, p. 79-80; SCHMITT, 2014, p. 177-178; cf também MACEDO, 2020, p. 52; pace55, que o interpretou como ac; usado para qualificar construções56). Em acadiano, o equivalente é bab-ba-nu-ú (ARIo), “coisas excelentes”, “de boa qualidade”, em referência, aqui também, a edificações erigidas pelos reis (CAD, b, p. 8). A expressão acadiana para “tornar-se rei” (mda-a-ri-ia-a-muš a-na LUGAL i-tu-ru), com o verbo târu, é uma das peculiaridade do AB, na tentativa de emular a estrutura do OP (DANESHMAND, 2015, p. 328).

§4º. Esse parágrafo é o de maior destaque nesta inscrição, pois trata da incomum sucessão de Xerxes (BROSIUS, 2021, p. 137). Herzfeld entendeu, numa leitura pioneira, que Xerxes teria sido transformado em corregente ao lado do pai, o qual, a seguir, teria abdicado do trono em favor do filho (1932; notar que gāθu-, em persa antigo, também significa “trono”). No entanto, a compreensão de que o trecho gāθāvā ašiyava denotaria, simplesmente, o falecimento do rei, refutou essa teoria. Ademais, isso encerrou um debate sobre a possibilidade de Dario estar vivo no momento da composição de XPf 57. Não só o primogênito poderia competir com Xerxes pelo poder. Talvez outros irmãos de mesma mãe tivessem uma reivindicação legítima58. A violenta disputa de Xerxes e Masistes (BRIANT, 1996, p. 535), por exemplo, se refletirá nas narrativas literárias de Heródoto sobre as intrigas da corte (Hdt. 9.109-111; cf. LLEWELLYN-JONES, 2020, p. 363-365). Para as discussões sobre a relação de XPf com Atossa, o “harém” e outros aspectos, cf. nossa Introdução. Dārayavahauš puçā aniyaici āhantā. “Havia outros filhos para Dario”. Notar a forma média do v. ah-(SCHMITT, 2014, p. 126). O NP está grafado com um erro, sem o ha esperado na forma do gen.-dat. da-a-ra-ya-va-<ha>-u-ša (ver comentário acima59). Como já foi apontado pelos especialistas, esse trecho inicial é um topos da literatura próximo-oriental (SKJÆRVØ, 1999, p. 17). Assaradão, que teve uma sucessão conturbada, fala em termos similares de sua escolha dentre os filhos de Senaqueribe (mesmo sendo o filho mais novo), decisão que credita à vontade dos deuses do panteão assírio60. Auramazdām avaθā kāma āha, Dārayavauš haya manā pitā pasā tanūm mām maθištam akunauš. Como vimos acima, mais uma vez, “assim como era a vontade de Ahura Mazda”, algo especial ocorre. Dario fez de Xerxes pasā tanūm (“depois dele mesmo”, prep. que pede ac; com tanū-; cf. SCHMITT, 2014, p. 229, p. 250; “o maior depois de si mesmo”61; “o maior”, nesse caso, denota, especificamente, o príncipe herdeiro (maθišta- é um adj. superlativo, aqui no ac. sing. m.; SCHMITT, 2014, p. 213-214). Em acadiano, “Dario, o meu próprio pai, me nomeou grande depois dele próprio” (ARIo: mda-a-ri-ia-a-muš AD-ú-a at-tu-ú-a ár-ki ra-ma-an-ni-i-šú a-na-ku GAL-ú il-ta-kan-an-ni). yaθāmai pitā Dārayavauš gāθāvā ašiyava. Essa expressão, com o verbo šiyav (“mover-se”, aqui na forma da 3ª p. sing. ipf. atv.; cf. SCHMITT, 2014, p. 248) e o loc. de gāθu- (“lugar, trono”; cf. SCHMITT, 2014, p. 181), significa, basicamente, morrer, ou, conforme elucida Schmitt, “ir para o seu lugar (no além-morte)” (2014, p. 181, p. 248). Isso fica ainda mais claro pela versão acadiana, que emprega a tradicional expressão ana šīmtim alākum “ir para o (seu) destino” (ARIo: ul-tu muḫ-ḫi šá AD-ú-a mda-a-ri-ia-a-muš ši-im-it il-li-i-ki). vašnā Auramazdahā. Para Skjærvø “pela grandeza” (1999, p. 39), para Schmitt, “pela vontade”, em especial em razão de uma construção conhecida de DPd §2, em que se associa a vašna – ao próprio Dario (2014, p. 277; vašnā, subs. instr. sing. m.), construída com o gen. de Ahura Mazda. Para o correspondente acadiano (ARIo: ina GIŠ. MI šá da-ḫu-ru-ma-az-da-, “sob a sombra (protetora) de Ahura Mazda”, cf. MALBRAN-LABAT, 1994, p. 63-64). adam xšāyaθiya abavam piça gāθāvā; yaθā adam xšāyaθiya abavam, vasai taya fraθaram akunavam. Xerxes afirma ter se tornado rei no lugar do pai após sua morte, e feito, como o pai, “muito que é excelente”. tayamai piça kr̥tam āha, ava adam apayai. Aquilo que “havia sido feito” (kr̥tam āha, um “perf. perifrástico”, no tempo mais-que-perfeito, formado pelo part. pass. com sufixo -ta, kr̥tam, nom. sing. n., v. kar-, e o verbo ser/estar no ipf, āha; cf. SKJÆRVØ, 2009, p. 94; SCHMITT, 2014, p. 201) pelo “meu pai” (no gen.-dat. de agente, WINDFUHR, 2009, p. 32; SKJÆRVØ, 2009, p. 145, aqui construído junto da enclítica -mai, 1ª p. sing. gen., posposta ao pronome relativo62), “aquilo” (ava-, pron. demonstrativo, dêixis distante, nom. sing. n.; cf. SCHMITT, 2014, p. 191) eu “protegi” apayai (v. pā, 1ª p. sing. ipf. médio63, cf. SCHMITT, 2014, p. 223). Argumenta-se que, embora as construções perifrásticas sejam formalmente passivas em razão do sentido passivo do part. pass., elas poderiam ser traduzidas na voz ativa quando ocorrem com verbos transitivos e um agente, dado que inexiste uma construção ativa correspondente (SKJÆRVØ, 2009, p. 144). utā aniya kr̥tam abījavayam. E “outro” (aniya-, adj. sing. nom. n.; cf. SCHMITT, 2014, p. 130) “feito (obra)”; “eu acrescentei” (v. gav, 1ª p. sing. ipf. atv; cf. SCHMITT, 2014, p. 183). Esse discurso do rei que excede seus antecessores também é um topos mesopotâmico (SKJÆRVØ, 1999, p. 15). tayapati adam akunavam utamai taya pitā akunauš, ava visam vašna Auramazdahā akumā. Aquilo que “agora” (para o adv. pati, cf. SCHMITT, 2014, p. 231) “eu fiz”, bem como aquilo que o “meu pai fez”, “aquilo” (ava-; cf. acima) “tudo” (visa-, adj. sing. ac. n.64; SCHMITT, 2014, p. 279) “pelo favor de Ahura Mazda” (cf. acima) “nós fizemos” (akumā possivelmente um aor. radical, 3ª p. plur. atv. do verbo kar-; cf. SCHMITT, 2014, p. 200)

§5º. Esse parágrafo traz uma fórmula de proteção que é comum nas inscrições reais Aquemênidas, a qual, ademais, também encontra paralelos estruturais em diversos textos avésticos (SKJÆRVØ, 1999, p. 29-32). Rüdiger Schmitt sistematizou, em 1992 (p. 151-153), todas as variantes conhecidas nas inscrições régias, sendo que, em XPf, apenas a parte final (“utā tayamai piça kr̥tam, avašci Auramazdā pātu”) é, por assim dizer, mais rara e característica de certas inscrições de Xerxes. mām Auramazdā pātu. A fórmula Ahura Mazda (Auramazdā, subs. nom. sing. m.65) me (mām, pron. pessoal 1ª p., ac. sing. m.66) proteja (pātu, v. pā- “proteger”, 3ª p. sing., ipv.67) é vertida ao acadiano como a-na-ku dA-ḫu-ruma-az-da-a li-iṣ-ṣur-an-ni68 (ARIo; v. naṣārum, aqui conjugado na 3ª p. m. sing. prec. tema G, com terminação do ventivo e sufixo pron. 1ª p. ac. comum). O objeto direto é enfatizado nas duas línguas – em persa antigo, mediante a topicalização do objeto, já que seu local esperado seria após o sujeito69 (SKJÆRVØ, 2009, p. 96-98); no acadiano, pelo uso do pronome independente anāku numa “topicalização por preposição”, em que o pronome é dissociado da oração e aparece no caso nominativo (às vezes chamado de “nominativo absoluto”) (HUEHNERGARD, 2015 [1997], p. 211-212; BASELLO et al., 2012, p. 86). utamai xšaçam. Além do próprio rei, pede-se proteção ao império (xšaçam, subs., ac., sing., n., qualificado pela enclítica da 1ª p. sing, “-mai”; esse termo é frequentemente usado para denotar o conjunto dos territórios sob controle do rei; cf. TANCK, 1997, p. 231). Em acadiano, a construção é com a prep. itti e o subs. abstrato para “reino”, acrescido do sufixo pronominal possessivo da 1ª p. sing. comum (ARIo: it-ti LUGAL-ú-tu-ia). utā taya manā kr̥tam, utā tayamai piça kr̥tam. Xerxes finaliza solicitando proteção divina à sua obra e à obra de seu pai.

Agradecimento

O autor agradece à FAPESP pelo financiamento da pesquisa intitulada “Eunucos da corte nos relevos monumentais neo-assírios e aquemênidas: entre Assurnasirpal II (883-859 a.C.) e Dario I (522-486 a.C.)”, processo n. 2023/01822-6; e pelo financiamento da pesquisa intitulada “O lugar dos eunucos da corte nos impérios neoassírio e aquemênida: uma análise comparativa”, processo n. 2022/07801-8.

  • 1
    HERZFELD, Ernst E. A New Inscription of Xerxes from Persepolis. Chicago: The University of Chicago Press, 1932, p. 1; KENT, Roland G. A New Inscription of Xerxes. Language, v. 9, n. 1, 1933, p. 35; SCHMITT, Rüdiger. The Old Persian Inscriptions of Naqsh-i Rustam and Persepolis. Corpus Inscriptionum Iranicarum. Part I: Inscriptions of Ancient Iran. V. I: The Old Persian Inscriptions Texts II. London: Corpus Inscriptionum Iranicarum, 2000, p. 81; SCHMITT, Rüdiger. Die Altpersischen Inschriften der Achaimeniden. Editio Minor mit Deutscher Übersetzung. Wiesbaden: Reichert, 2009, p. 20.
  • 2
    O sistema de nomenclatura das inscrições reais foi criado por Kent, que usava pelo menos um símbolo para o nome do monarca e outro símbolo para o local de achado da inscrição (KENT, 1950, p. 4-5). O sistema foi refinado atualmente para que possamos saber, entre outras coisas, a versão do texto, isto é, em que língua ele foi inscrito. Assim, XPf é a “Inscrição de Xerxes (X) em Persépolis (P)” (de ordem f). A abreviação OP quer dizer Old Persian, isto é, a língua indo-iraniana a que chamamos de persa antigo ou veteropersa. A abreviação AB significa Achaemenid Babylonian, um dialeto do acadiano babilônico usado nas inscrições reais (ver discussão abaixo). Por fim, temos AE, Achaemenid Elamite, referência ao dialeto elamita usado na época dos aquemênidas (BASELLO et al., 2012, p. vii-ix).
  • 3
    Para as peças individuais, ver XPf em Cuneiform Digital Library Initiative. Disponível em: https://cdli.ucla.edu/search/search_results.php?CompositeNumber=Q007214. Acesso em: 6 out. 2022. Para o texto acadiano e persa da inscrição, o leitor pode se reportar também ao ARIo: Achaemenid Royal Inscriptions online, projeto do Open Richly Annotated Cuneiform Corpus (ORACC). Disponível em: http://oracc.org/ario/Q007214/. Acesso em: 6 out. 2022.
  • 4
    Sigo aqui a sugestão de Carsten Binder de que não devemos entender Xerxes II como uma figura histórica tout court, dado que as fontes orientais não fazem menção a esse suposto monarca, descrito pela tradição grega. Ademais, as fontes usam Dario II como epônimo na época em que o segundo Xerxes supostamente teria reinado (BINDER, 2021, p. 458). Assim, até que mais evidências surjam, o nosso Xerxes é nomeado sem a alcunha ordinal.
  • 5
    HERZFELD, Ernst E. A New Inscription of Xerxes from Persepolis. Chicago: The University of Chicago Press, 1932, p. 1.
  • 6
    Outra interpretação desse parágrafo foi proposta por Herzfeld (1932, p. 6), segundo o qual Dario teria abdicado, ainda vivo, em favor de Xerxes. Essa leitura, contudo, não é condizente com o texto, o que foi corretamente demonstrado por Kent (1933, p. 43-46) já no ano seguinte. Ver seção Comentários.
  • 7
    KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 149-150.
  • 8
    SCHMITT, Rüdiger. The Old Persian Inscriptions of Naqsh-i Rustam and Persepolis. Corpus Inscriptionum Iranicarum. Part I: Inscriptions of Ancient Iran. V. I: The Old Persian Inscriptions Texts II. London: Corpus Inscriptionum Iranicarum, 2000, p. 81-85.
  • 9
    SCHMITT, Rüdiger. Die Altpersischen Inschriften der Achaimeniden. Editio Minor mit Deutscher Übersetzung. Wiesbaden: Reichert, 2009, p. 160-163.
  • 10
    LECOQ, Pierre. Les inscriptions de la Perse achéménide. Paris: Gallimard, 1997, p. 256-258.
  • 11
    STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 21-25.
  • 12
    KUHRT, Amélie [2007]. The Persian Empire: A Corpus of Sources from the Achaemenid Period. London; New York: Routledge, 2010, p. 244.
  • 13
    SCHMITT, Rüdiger. Die Altpersischen Inschriften der Achaimeniden. Editio Minor mit Deutscher Übersetzung. Wiesbaden: Reichert, 2009.
  • 14
    Baseado, no caso persa, em SCHMITT, Rüdiger. Die Altpersischen Inschriften der Achaimeniden: Editio minor mit deutscher Übersetzung (2009). Digitado, lematizado e atualizado por HEITMANN-GORDON, Herny (2016-2019), para o Munich Open-access Cuneiform Corpus Initiative (MOCCI), uma iniciativa de construção de corpus financiada pelo LMU Munich e a Alexander von Humboldt Foundation (através do estabelecimento do departamento para a História Antiga e do Próximo e Médio Oriente da Universidade Alexander von Humboldt) e sediado no Historisches Seminar - Abteilung Alte Geschichte da Ludwig-Maximilians-Universität München. Baseado, no caso acadiano, em STOLPER, Matthew; KOZUH, Michael G. Achaemenid Royal Inscriptions Project. ARI, 1998. Disponível em: http://oracc.org/ario/Q007214/. Acesso em: 7 de out. 2022.
  • 15
    Disponível em: http://oracc.org/ario/Q007214/. Acesso em: 6 out. 2022. Consideramos também a edição de Herzfeld (1938). Os textos do ARIo foram adaptados, lematizados e vertidos ao inglês por Henry Heitmann-Gordon, entre 2016 e 2019 (cf. http://oracc.museum.upenn.edu/projectlist.html) a partir de Schmitt (2000), no caso persa, e, no caso acadiano, a partir de STOLPER, Matthew; KOZUH, Michael G. Achaemenid Royal Inscriptions Project (ARI, 1998). Disponível em: https://web.archive.org/web/20041108020259/http://oi.uchicago.edu/OI/PROJ/ARI/ARIIntro.html. Acesso em: 7 out. 2022.
  • 16
    SCHMITT, Rüdiger. The Old Persian Inscriptions of Naqsh-i Rustam and Persepolis. Corpus Inscriptionum Iranicarum. Part I: Inscriptions of Ancient Iran. V. I: The Old Persian Inscriptions Texts II. London: Corpus Inscriptionum Iranicarum, 2000, p. 81.
  • 17
    O chamado “r silábico” era grafado em cuneiforme da mesma forma que o “ra” e, portanto, sua presença só pode ser determinada graças à linguística histórica. Alguns autores o transliteram como ạr (SKJÆRVØ, 2009 p. 53), ou, como Schmitt (2009), simplesmente r̥ (essa é a opção adotada aqui). Outros, ainda, recusam que este fosse um fonema autônomo em persa antigo (BASELLO et al., 2012, p. x).
  • 18
    A edição crítica de Schmitt de 2009 grafa “A.uramazdā”, a fim de indicar que Au não é um ditongo verdadeiro, mas uma sequência heterossilábica (p. 5). No texto transliterado, opto por não manter essa diferenciação, por não ser uma convenção corrente (BASELLO et al., 2012, p. x).
  • 19
    Os sinais de pontuação são artificiais e não existiam em persa antigo. Seguimos Schmitt (2009) em seu emprego no texto normalizado.
  • 20
    O prólogo cosmogônico é similar ao de outras inscrições, como XPh.
  • 21
    Usaremos as seguintes abreviações: ac. = acusativo; adj. = adjetivo; adj. verb. = adjetivo verbal; aor. = aoristo; atv. = ativo; dat. = dativo; f. = feminino; gen. = genitivo; ind. = indicativo; instr. = instrumental; ipf. = imperfeito; ipv. = imperativo; loc. = locativo; m. = masculino; n. = neutro; nom. = nominativo; NP = Nome Próprio; p. = pessoa; part. = particípio; part. pass. = particípio passado; perf. = perfeito; plur. = plural; prec. = precativo; pres. = presente; pret. = pretérito; pron. = pronome / pronominal; sing. = singular; subj. = subjuntivo; subs. = substantivo; v. = verbo;
  • 22
    SCHMITT, Rüdiger. Die Altpersischen Inschriften der Achaimeniden. Editio Minor mit Deutscher Übersetzung. Wiesbaden: Reichert, 2009, p. 164.
  • 23
    STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, p. 7-26, 1975, p. 22.
  • 24
    HERZFELD, Ernst E. Altpersische Inschriften: Erster Ergänzungsband zu den Archaeologischen Mitteilungen aus Iran. Berlin: Dietrich Reimer; Andrews & Steiner, 1938, p. 35.
  • 25
    KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 165.
  • 26
    Cf. Ibidem, p. 173.
  • 27
    Ibidem, p. 73.
  • 28
    Doravante, CAD corresponde a The Assyrian Dictionary of the Oriental Institute of the University of Chicago. 21 v. Chicago: The Oriental Institute; Glückstadt: J. J. Augustin, 1956-2010.
  • 29
    Doravante, CDA corresponde a BLACK, Jeremy. GEORGE, Andrew. POSTGATE, Nicholas. A Concise Dictionary of Akkadian. Wiesbaden: Harrassowitz, 2000.
  • 30
    O marcador do subj., ou “marcador de subordinação”, cf. Huehnergard ([1997] 2015, p. 183-184), é usado em função da oração subordinada relativa.
  • 31
    Cf. também STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 22 ; HERZFELD, Ernst E. Altpersische Inschriften: Erster Ergänzungsband zu den Archaeologischen Mitteilungen aus Iran. Berlin: Dietrich Reimer; Andrews & Steiner, 1938, p. 36.
  • 32
    LECOQ, Pierre. Les inscriptions de la Perse achéménide. Paris: Gallimard, 1997, p. 225.
  • 33
    KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 179.
  • 34
    Ibidem, 1950, p. 181.
  • 35
    Cf. STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 22.
  • 36
    Cf. Também LECOQ, Pierre. Les inscriptions de la Perse achéménide. Paris: Gallimard, 1997, p. 255.
  • 37
    Cf. STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 22; HERZFELD, Ernst E. Altpersische Inschriften: Erster Ergänzungsband zu den Archaeologischen Mitteilungen aus Iran. Berlin: Dietrich Reimer; Andrews & Steiner, 1938, p. 36.
  • 38
    KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 182.
  • 39
    Cf. STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 22.
  • 40
    Cf. HERZFELD, Ernst E. Altpersische Inschriften: Erster Ergänzungsband zu den Archaeologischen Mitteilungen aus Iran. Berlin: Dietrich Reimer; Andrews & Steiner, 1938, p. 36; STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 22; TANCK, 1997, p. 217-219.
  • 41
    Cf. KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 190.
  • 42
    Ibidem, p. 196.
  • 43
    Cf. STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 22.
  • 44
    Cf. KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 197.
  • 45
    Ibidem, p. 189-190.
  • 46
    STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 22.
  • 47
    HERZFELD, Ernst E. A New Inscription of Xerxes from Persepolis. Chicago: The University of Chicago Press, 1932, p. 6.
  • 48
    Ou seja, a invocação dos antepassados paternos não tem qualquer relação com a suposta mitigação da linhagem materna na sucessão. LECOQ, Pierre. Les inscriptions de la Perse achéménide. Paris: Gallimard, 1997, p. 104.
  • 49
    KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 67
  • 50
    Ibidem, p. 97-98.
  • 51
    SCHMITT, Rüdiger. Die Altpersischen Inschriften der Achaimeniden. Editio Minor mit Deutscher Übersetzung. Wiesbaden: Reichert, 2009, p. 161; Cf. também KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 80, n. 1.
  • 52
    SCHMITT, Rüdiger. The Old Persian Inscriptions of Naqsh-i Rustam and Persepolis. Corpus Inscriptionum Iranicarum. Part I: Inscriptions of Ancient Iran. V. I: The Old Persian Inscriptions Texts II. London: Corpus Inscriptionum Iranicarum, 2000, p. 84.
  • 53
    Utilizamos os sinais < > para trechos incorretamente omitidos pelos escribas antigos, e { } para trechos incorretamente acrescidos.
  • 54
    SCHMITT, Rüdiger. The Old Persian Inscriptions of Naqsh-i Rustam and Persepolis. Corpus Inscriptionum Iranicarum. Part I: Inscriptions of Ancient Iran. V. I: The Old Persian Inscriptions Texts II. London: Corpus Inscriptionum Iranicarum, 2000, p. 84.
  • 55
    KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 198 .
  • 56
    Cf. LECOQ, Pierre. Les inscriptions de la Perse achéménide. Paris: Gallimard, 1997, p. 251, p. 255.
  • 57
    KENT, Roland G. A New Inscription of Xerxes. Language, v. 9, n. 1, p. 35-46, 1933; KUHRT, Amélie [2007]. The Persian Empire: A Corpus of Sources from the Achaemenid Period. London; New York: Routledge, 2010, p. 244, n. 5.
  • 58
    KUHRT, Amélie [2007]. The Persian Empire: A Corpus of Sources from the Achaemenid Period. London; New York: Routledge, 2010, p. 244, n. 4.
  • 59
    Cf. SCHMITT, Rüdiger. The Old Persian Inscriptions of Naqsh-i Rustam and Persepolis. Corpus Inscriptionum Iranicarum. Part I: Inscriptions of Ancient Iran. V. I: The Old Persian Inscriptions Texts II. London: Corpus Inscriptionum Iranicarum, 2000, p. 84.
  • 60
    LEICHTY, Erle. The Royal Inscriptions of Esarhaddon, King of Assyria (680-669 BC), The Royal Inscriptions of the Neo-Assyrian Period, v. 4 (“RINAP 4”). Winona Lake: Eisenbrauns, 2011, p. 11.
  • 61
    Cf. KENT, Roland G. A New Inscription of Xerxes. Language, v. 9, n. 1, 1933, p. 38.
  • 62
    KENT, Roland G. Old Persian: Grammar, Texts, Lexicon. New Haven: American Oriental Society, 1950, p. 67.
  • 63
    Cf. Ibidem, p. 194.
  • 64
    Ibidem, p. 208.
  • 65
    Cf. Ibidem, p. 164-165.
  • 66
    Cf. Ibidem, p. 166-167.
  • 67
    Cf. Ibidem, p. 7 7, p. 194.
  • 68
    STEVE, M.-J. Inscriptions des Achéménides à Suse (fin). Studia Iranica Paris, n. 4, 1975, p. 24; HERZFELD, Ernst E. Altpersische Inschriften: Erster Ergänzungsband zu den Archaeologischen Mitteilungen aus Iran. Berlin: Dietrich Reimer; Andrews & Steiner, 1938, p. 36.
  • 69
    SCHMITT, Rüdiger. The Old Persian Inscriptions of Naqsh-i Rustam and Persepolis. Corpus Inscriptionum Iranicarum. Part I: Inscriptions of Ancient Iran. V. I: The Old Persian Inscriptions Texts II. London: Corpus Inscriptionum Iranicarum, 2000, p. 84.

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  • Editora responsável: Luiza Larangeira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    15 Out 2022
  • Aceito
    08 Maio 2023
  • Corrigido
    29 Maio 2024
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