Resumos
Resumo: No artigo, analisam-se os textos que Juana Manso produziu no Rio de Janeiro entre 1845 e 1853, considerando-se o modelo de relatos do exílio e da viagem intelectual, assim como o conceito de cosmopolitismo, ligado à ideia de cidadania transnacional. A trajetória intelectual e a produção de Manso são analisadas em um duplo eixo: seu horizonte cosmopolita, isto é, sua busca por adaptar os ideais do humanismo ilustrado aos países da América do Sul e sua preocupação com o acesso de mulheres, crianças e jovens - sobretudo daqueles despossuídos de direitos - à educação e à cidadania. Por meio dessas duas articulações, percebe-se que a produção brasileira de Manso - marcada pelo deslocamento próprio do exílio - revela a consciência profunda da autora em relação à alteridade, tanto em termos de língua e de nacionalidade, quanto em termos de gênero e idade.
Palavras-chave: exílio; cosmopolitismo; educação; gênero; viagem
Abstract: This article examines the texts that Juana Manso produced in Rio de Janeiro, between 1845 and 1853, through the model of the intellectual exile, as well as through the concept of cosmopolitanism, linked to an idea of transnational citizenship. Manso’s trajectory and production are examined through two main articulations: her cosmopolitan horizon, that is, her search to adapt the ideals of an enlightened humanism to South America, and her preoccupation with women’s, children’s, and youth’s access to education and citizenship. Through these two main articulations, Manso’s Brazilian production - marked by the displacement characteristic of exile - reveals the author’s profound awareness of difference, in terms of language, nationality, gender and age.
Keywords: exile; education; cosmopolitism; gender; travel writing
Resumen: El artículo analiza los textos que Juana Manso produjo en Rio de Janeiro, entre 1845 y 1853, a través del modelo del exilio y el viaje intelectual, así como del concepto de cosmopolitismo, ligado a una idea de ciudadanía trasnacional. La trayectoria intelectual y la producción de Manso son analizadas en un eje doble: su horizonte cosmopolita, es decir, su búsqueda de adaptar los ideales del humanismo ilustrado a los países de América del Sur, y su preocupación con el acceso de las mujeres, los niños y los jóvenes - sobre todo de aquellos carentes de derechos - a la educación y a la ciudadanía. A través de esas dos articulaciones, la producción brasileña de Manso - señalada por la dislocación propia del exilio, revela la conciencia profunda de la autora en relación con la alteridad en términos de lengua, nacionalidad, género y edad.
Palabras clave: exilio; cosmopolitismo; educación; género; viaje
Introdução: viagem, exílio e cosmopolitismo
Neste trabalho, analisam-se os textos que Juana Manso (1819-1875), professora, pedagoga, escritora e intelectual argentina, escreveu durante seu exilio no Rio de Janeiro: entre 1845 - quando chegou pela primeira vez com sua família - e 1853 - quando retornou, embora não definitivamente, a Buenos Aires. Sua estada no Rio de Janeiro foi interrompida apenas uma vez, em razão de uma viagem que fez aos Estados Unidos, ao Caribe, a Cuba e à República Dominicana junto com seu marido, viagem essa que será examinada brevemente. Considera-se que o modelo do exílio e da viagem do intelectual cosmopolita funciona como ponto de partida para analisar a natureza complexa da mediação entre diferentes imaginários culturais levada a cabo pela autora.
Como a bibliografia crítica já demostrou, os relatos de viagem constituem dispositivos comparativos: são espaços privilegiados para se observar, experimentar e testemunhar o que se faz no espaço do outro, bem como para se refletir sobre os contrastes e as similaridades com a própria realidade (Gondra, 2010; Gondra & Schueler, 2010). O conceito de cosmopolitismo, mobilizado pela historiografia e pela crítica cultural recentes para analisar diásporas e exílios intelectuais (Apter, 2013; Burke, 2017), também resulta altamente relevante, já que a trajetória e a produção de Juana Manso nesse período apontam para uma ideia de cidadania e de intelectual transnacional. O cosmopolitismo está ligado a um tipo de cidadania, cujo foco não é o pertencimento ao Estado-nação como único ponto de partida, mas, sim, como no caso da trajetória e da produção de intelectuais exilados, a desprovincialização do cânone nacional, sua relação com textos, tradições e autores transnacionais (Apter 2013; Burke, 2017; Bourdieu, 2002)1. No caso particular da América Latina, o cosmopolitismo vem sendo mobilizado como um modo de questionar, ao mesmo tempo, as estruturas de exclusão eurocêntricas e os padrões nacionalistas que tendem à automarginação (Siskind, 2014)2. O estudo do cosmopolitismo, nesse sentido, seria capaz de descentrar a concepção nacionalista e eurocêntrica, com base na qual muitas vezes foi pensada a produção cultural e a educação -fechada unicamente em torno de uma tradição nacional -, e permitiria a interlocução com o eixo transnacional e cosmopolita (Said, 1996).
Na perspectiva de Juana Manso conjugam-se um horizonte cosmopolita, de apropriação dos modelos culturais europeus e norte-americanos - os quais admirava como exemplos de civilização, mas também criticava - e a assimilação de questões e problemáticas próprias dos campos intelectuais do Brasil e da Argentina. Nessa relação transnacional, surgem múltiplos movimentos e efeitos comparativos produzidos nas complexas relações que ela estabeleceu entre sua cultura de nascimento, a do exílio e a europeia e norte-americana com a qual entrou em contato por meio de suas viagens e leituras.
Em razão da familiaridade que Juana Manso desenvolveu com o Brasil e de sua visão cosmopolita e transnacional da cultura, o estudo de sua trajetória como intelectual implica o desafio de um recorte dos marcos políticos e divisões jurídico-administrativas do Estado-nação e, ao mesmo tempo, aponta para a problematização dessas fronteiras3. Como sujeito exilado, Juana Manso participa tanto da necessidade romântica de nomear, classificar e definir o que caracteriza a cultura nacional quanto da sensação permanente do não pertencer, do olhar de fora, do deslocamento próprio do viajante.
Como argumenta a crítica Flora Süssekind, o gênero do relato de viagem tem exercido um papel central na fundação de uma imagem do Brasil como sinônimo de natureza exuberante e tem marcado a prosa de ficção brasileira com uma ‘sensação de não estar de todo’, semelhante à do visitante estrangeiro (Süssekind, 1990). Com sua posição de mediadora entre línguas e comunidades intelectuais diferentes - fala e escreve em um português contaminado de espanhol e em um espanhol também modificado pelo contato com o português -, Juana Manso participa desse desenraizamento próprio da prosa de ficção brasileira. Essa visão de contraponto entre duas culturas e pátrias é reforçada pelo fato de que, como muitos românticos brasileiros, ela era admiradora do regime imperial - buscou o apoio e o mecenato da Imperatriz - e, como a maior parte dos românticos argentinos, era republicana e contrária ao regime de Juan Manuel de Rosas - símbolo da barbárie que ameaçava o progresso e a civilização4.
Mais ainda, sua posição de distanciamento das convenções sociais, própria do exilado, foi intensificada pela condição de mulher que se propunha a fazer uma intervenção na esfera pública. Leitora do iluminismo europeu e norte-americano, ela utiliza o discurso universalista dos direitos do indivíduo para reivindicar seu pertencimento a uma comunidade cosmopolita e seu próprio direito, como mulher, à palavra e à cidadania5. Como conclui a historiadora Joan Scott em estudo referente ao caso da França pós-revolucionária, a posição das mulheres intelectuais esteve caraterizada por um paradoxo: se, por um lado, seu discurso estava baseado na noção universalista e abstrata do indivíduo - na crença nos direitos universais e naturais do homem e do cidadão - por outro, esses mesmos discursos evocavam a diferença (sexual, racial, etc.) como parâmetro de exclusão daqueles que, carecendo dos requisitos necessários para a cidadania, eram definidos como não indivíduos (Scott, 1997; Margadant, 2000). De modo ainda mais complexo, já que se trata de uma mulher pertencente a uma região periférica do mundo, o reclamo de Juana Manso à cidadania cosmopolita contém um caráter paradoxal: para atingir seu objetivo de se incluir em uma ordem cosmopolita mundial, ela deve se definir com base no discurso abstrato dos direitos do homem como sistema de inclusão universal e, ao mesmo tempo, deve partir das categorias de diferença sexual, racial e geopolítica que funcionam como parâmetros de exclusão dessa comunidade cosmopolita6. Tal ambivalência entre o discurso da igualdade abstrata e o da diferença é central para que se compreendam as duas articulações de seu pensamento, as quais são objeto deste artigo: sua relação, como intelectual, com a cultura da América Latina e do mundo cosmopolita e a educação como modo de acesso das mulheres, das crianças e das camadas mais baixas da população à cidadania.
1 Trajetória intelectual: entre o Brasil e a Argentina
Juana Manso nasceu em 1819, em Buenos Aires, filha de um engenheiro ilustrado e liberal, José Maria Manso, que se interessou desde cedo por sua educação. Nessas décadas, por causa da ascensão de Juan Manuel de Rosas (1793-1877) ao poder, da guerra civil e das turbulências político-militares da Argentina pós-independente, a família Manso foi obrigada a se exilar na cidade de Montevidéu, Uruguai, mudando-se para o Rio de Janeiro no ano de 1845.
De fato, o regime de Rosas foi o principal motivo do exílio de parte importante da geração de intelectuais românticos argentinos que estiveram no Brasil entre 1830 e 1870 durante o reinado do Imperador Dom Pedro II: Margarita Sánchez de Thompson, José Mármol, Domingo Faustino Sarmiento e a própria Juana Manso, entre muitos outros (Amante, 2010).
No Rio de Janeiro, Manso conheceu seu futuro marido, Francisco de Sá Noronha, um violinista português a quem acompanhou em suas viagens pelos Estados Unidos, pelo Caribe, por Cuba e pela República Dominicana. Durante essas viagens, Juana deu à luz duas filhas e teve seu primeiro encontro, cheio de ambiguidades, com os Estados Unidos, país que seria central para suas posturas intelectuais e suas redes de alianças durante as décadas seguintes.
Após o retorno ao Rio de Janeiro, Manso, além de ter aulas de português, continuou o trabalho pedagógico que tinha começado muito antes, em Montevidéu, onde abrira um instituto de ensino para meninas e dera aulas de espanhol, inglês, francês e outras disciplinas. No Rio de Janeiro, em 1852, criou O Jornal das Senhoras - considerado pela crítica como um dos primeiros jornais brasileiros escritos e dirigidos por mulheres e no qual participou e colaborou um grupo considerável de mulheres da corte imperial7. O Jornal incluía artigos sobre ‘Moda, Literatura, Belas Artes, Teatros e Críticas’, como afirma o subtítulo, e também figurinos e partituras. Ela foi redatora chefe do jornal ao longo dos primeiros seis meses, ou seja, até julho de 1852, período em que morou perto do Forte de Gragoatá, em Niterói. Além disso, contribuiu com artigos sobre a educação e a emancipação da mulher e com o romance histórico-didático Los misterios del Plata, publicado em português (embora o título permanecesse em espanhol) em forma de folhetim até julho de 1852.
Morto seu pai, Juana foi abandonada pelo marido, que fugiu para Portugal com outra mulher, deixando-a sozinha e necessitada de assegurar a manutenção das duas filhas. Influenciada pelo exemplo de Madame Durocher, célebre parteira que instituiu o ‘Curso de Parteiras’ na Faculdade de Medicina de Rio de Janeiro, naturalizou-se brasileira com a esperança de se matricular como parteira e se diplomar na Faculdade de Medicina, o que resultou impossível (Peard, 2008).
Após a derrota de Juan Manuel de Rosas, decidiu voltar a Buenos Aires em 1853, onde, em 1854, utilizou seus últimos recursos para publicar o jornal Álbum de Señoritas, que durou oito números, nele incluindo seu romance crítico da escravidão e ambientado no Brasil, La familia del Comendador. O referido jornal acabou por ser um fracasso comercial e, por isso, ela considerou a possibilidade de voltar ao Brasil. No entanto, em 1858, com a ajuda de Bartolomé Mitre e de Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888), que conhecera por intermédio do amigo José Mármol, conseguiu o posto de diretora da primeira escola mista de Buenos Aires.
A partir desse momento, e graças ao seu intenso diálogo e sua aliança intelectual com Sarmiento, Manso passou a ocupar um lugar central no processo de fundação das instituições escolares do Estado argentino da segunda metade do século XIX. Foi diretora e inspetora de escolas, tornou-se a primeira mulher a ocupar o Conselho Nacional de Educação, ministrou várias disciplinas, organizou e ofereceu leituras públicas, escreveu em vários jornais, compôs o primeiro manual escolar para o estudo da história argentina, traduziu textos e difundiu as doutrinas pedagógicas de Horace Mann, Giovanni Pestalozzi e Henry Barnard, além de editar, entre 1865 e 1877, o jornal pedagógico Anales de la Educación Común, no qual publicou textos pedagógicos, metodológicos e de atualidade educativa.
Nesse período, produziu um pensamento pedagógico transnacional e comparativo, pondo em contato o leitor rural das províncias com a pedagogia da Europa (da França, da Inglaterra e da Itália), a da América do Sul (do Chile, da Argentina e do Brasil) e a da América do Norte (dos estados de Washington, Massachusetts e Filadélfia). Nesse sentido, o pensamento pedagógico maduro de Manso foi profundamente interamericano e modernizador: seu modelo, como o de Sarmiento, foi a pedagogia dos Estados Unidos, no que foi motivada pelas leituras de Horace Mann, entre outros, e por sua correspondência com Mary Peabody Mann. Apoiou a profissionalização e a modernização dos métodos de ensino: opôs-se à aprendizagem mnemônica, à disciplina excessiva, rotineira e retórica na educação, deu importância à experiência e ao desenvolvimento do sujeito pedagógico e orientou o conteúdo do ensino com fins pragmáticos, como o estudo científico do meio físico e natural. Mais ainda, afirmou a necessidade de uma pedagogia popular, de uma escola comum ‘custeada por todos para todos’, e de uma pedagogia que toma conta dos ‘outros’: das crianças e das mulheres das camadas mais baixas da população, marginalizadas do sistema de ensino, assim como das massas populares, ‘desvalidas’.
O propósito neste artigo é analisar essa dupla articulação do pensamento de Juana Manso - o americanismo cosmopolita e modernizador e a preocupação com a desigualdade social - nos textos escritos durante seu exílio no Brasil entre 1845 e 1853. Nesse momento, ela entrara em contato com a língua portuguesa e investigara os dilemas da cultura brasileira em pleno processo de formação: a emancipação da mulher, a educação das crianças, a questão da cidadania, assim como a relação entre cosmopolitismo, comunidade sul-americana e identidade nacional.
1.1 O intelectual migrante: entre a viagem aos Estados Unidos e o exílio no Brasil
Juana Manso foi integrante da elite pós-independente argentina, a chamada ‘geração romântica’ de 1837, e participou, durante seu exílio no Rio de Janeiro, das polêmicas estéticas e políticas entre os intelectuais contrários ao governo de Juan Manuel de Rosas, todos eles expatriados no Brasil, como Esteban Echeverría, José Mármol e Domingo Faustino Sarmiento. Como eles, em face do contexto do exílio e da guerra civil, ela tentou pensar as condições de fundação de uma pátria ainda inexistente. Por um lado, valeu-se de um repertório ilustrado, que enfatizava os direitos individuais, a fé no progresso e a educação universal - em diálogo com as gerações de intelectuais de 1810, da Revolução de Maio e da Independência no Rio da Prata. Por outro, apropriou-se do ideário romântico: a busca de uma identidade nacional e sul-americana e o interesse pelo acesso das diferentes camadas sociais à cidadania. Nesse sentido, seu propósito foi duplo: consolidar o projeto civilizador cosmopolita na América do Sul e, ao mesmo tempo, abrir espaços que incorporassem os novos cidadãos ao imaginário cívico, levando em conta as desigualdades sociais que os determinavam, ou seja, desigualdades de gênero, de status social e de raça.
Como se vê no jornal brasileiro que criou e editou, assim como em seus textos em português e destinados ao público brasileiro, Juana Manso foi a única entre os exilados argentinos que conjugou as preocupações próprias das culturas intelectuais da Argentina e do Brasil. Publicou seu primeiro romance em português no Brasil, embora a temática fosse marcadamente rio-platense, e seu segundo romance em espanhol na Argentina, embora nele refletisse sobre questões predominantemente brasileiras.
Como já foi analisado por Peter Burke, o intelectual exilado, migrante, é capaz de produzir um tipo de conhecimento transplantado, deslocado, traduzido; pode integrar e sintetizar elementos dos vários países e culturas com as quais tem contato (Burke, 2017). A chegada do refugiado à cultura receptora desencadeia um processo de dupla desprovincionalização: o exilado transforma seu modo de pensar no contato com a cultura que o recebe e a cultura receptora amplia seus horizontes com base no olhar do estrangeiro (Burke, 2017). Além disso, a viagem, a imigração e o exílio estimulam processos de hibridação cultural, de forma que o intelectual se torna mediador entre diferentes culturas, línguas e nacionalidades, tendo a capacidade de olhar ambas sob nova luz (Burke, 2017; Said, 1996).
A produção e a trajetória de Juana Manso revela esse processo de hibridação cultural, de mediação entre culturas e identidades nacionais diferentes. Além disso, a condição de exilada determina a trajetória de Juana Manso como intelectual em um sentido metafórico: ela se posicionou nas margens, não se deixou domesticar pelas convenções e seu pensamento tendeu constantemente à instabilidade. Isso se deve não só ao fato biográfico de ser, desde muito jovem, uma exilada, mas também à sua luta permanente pelo status de cidadã que, como mulher e como latino-americana, não lhe era garantido. Em seu pensamento, essa busca remeteu sempre a um horizonte cultural cosmopolita e à investigação das possíveis soluções para o que ela percebeu como modos de exclusão decorrentes da condição periférica.
A autofiguração da viajante latino-americana diante do mundo cosmopolita aparece claramente no diário que escreveu durante sua viagem pelos Estados Unidos. Nele, Manso expressa o sentimento e a consciência de pertencer à periferia de um mundo crescentemente cosmopolita: “Quando chegamos aos Estados Unidos [...]” afirma, recém chegada em Nova York, “[...] éramos dois pobrezinhos aldeãos, dois selvagens incivis cheios de pundonor e vergonha” (Velazco y Arias, 1937, p. 353, tradução nossa)8. Se, por um lado, é crítica ao que considera como ‘carácter frio e interesseiro’ dos norte-americanos, que lhe pareceram ordinários, vulgares e frívolos, por outro, chama a atenção para o contraste entre a anarquia político-institucional do Rio da Prata e o progresso material dos Estados Unidos9. É justamente em contraposição à situação de violência e de caos do Rio de Prata e à oposição do governo de Rosas ao avanço em termos educativos, que ela afirma, em uma crônica de viagem aos Estados Unidos:
Como estes países, que ainda não contam um século de existência política, puderam morigerar-se, instruir-se, e adiantar-se a este ponto, eu não sei! [...] Acostumada à luta imoral e sanguinolenta, à luta fratricida do meu país, admiro-me de quanto vejo! Pasmo de um sentimento de emulação que faz crescer-me o desejo de ter um poder omnipotente, para levar estes melhoramentos todos para lá [...] onde empenhados em lutas mesquinhas, desperdiçam o tempo e se afastam cada vez mais da civilização! [sic] (O Jornal das Senhoras, 1852a, p. 138)10.
A admiração pelo desenvolvimento urbanístico, econômico e institucional dos Estados Unidos provoca nela um desejo de onipotência, vontade de importar os avanços econômicos e culturais do que percebe como civilização para a periferia. Nessas crônicas, publicadas na imprensa carioca após sua volta, ela descreve com admiração a condição privilegiada da mulher norte-americana, comparada à sul-americana, o caráter organizado, ordenado e autossustentado do sistema pedagógico, dos internatos e asilos para órfãos e dos cárceres que visitou na Pensilvânia e na Filadélfia, onde observou a limpeza e o sucesso na reinserção social dos meninos11. As ambivalentes percepções dessa viagem de juventude de Juana, assim como suas leituras europeias e norte-americanas, iriam se traduzir na aguda consciência, que a acompanhou a vida toda, da relação problemática entre periferia e mundo cosmopolita, assim como na vontade poderosa de transformar as realidades sul-americanas em matéria de educação, de progresso econômico e político, e de inclusão social. A poderosa influência que o modelo cultural norte-americano e a ilustração europeia exerceriam em seu pensamento, em diálogo com Sarmiento e Mary Peabody Mann, não pode ser desligada de sua luta constante para remediar o descompasso entre a cultura sul-americana, que via como ‘mesquinha’, sumida na ‘imoralidade’, que ‘desperdiça o tempo’ em uma ‘luta fratricida’, e os ideais de progresso e direitos universais que pretendia emular da Europa e dos Estados Unidos.
Após seu retorno ao Rio de Janeiro, Manso fundou O Jornal das Senhoras, jornal redigido e dirigido na íntegra por mulheres; nele, as mulheres da Corte eram convidadas a enviar contribuições e artigos12. Desse modo, pode-se afirmar que, ao longo da primeira metade do século XIX, ela formou parte dos primórdios da imprensa feminina no Brasil, dirigindo um dos primeiros jornais de propósitos femininos que contava com mulheres em sua redação, ou seja, que era dirigido a esse público e produzido por elas (Martins, 2012; De Luca, 2013).
Em seus escritos no jornal, aparece um sujeito narrativo exilado e híbrido, que se coloca entre línguas: Manso escrevia em português, mas com erros tipográficos e de impressão e grande variabilidade na ortografia e no uso das palavras13. Essa característica de sua escrita não pode ser considerada simples resultado de uma aprendizagem defeituosa do português, já que também aparece em seus escritos em espanhol posteriores ao regresso a Buenos Aires. Era consequência também da fragilidade do meio jornalístico feminino do século XIX, que era majoritariamente de vida curta e mal pago14.
Mesmo em sua condição de estrangeira, Manso conseguiu criar no Jornal uma comunidade de leitura e participação cívica das mulheres da Corte, unidas por um vínculo intelectual e afetivo. É o que mostram as muitas cartas das leitoras incluídas no Jornal, contendo palavras afetuosas e elogiosas a Manso, as dedicatórias das colunistas e, no número 25, um texto lúdico intitulado Tributo de afetuosa estima que é um poema acróstico escrito a partir do nome de Manso e dedicado a ela. O Jornal das Senhoras funcionou tanto como espaço de comunidade cívica feminina quanto como estratégia por meio da qual Manso se posicionou em dois âmbitos e contextos político-ideológicos, o Brasil e a Argentina. Por exemplo, o número de 14 de março de 1852 é dedicado à Imperatriz, por ocasião de seu aniversário. A dedicatória é assinada por ‘suas súbditas dedicadas, as redatoras do Jornal das Senhoras’ e inclui um hino, várias odes, um soneto e uma partitura composta em sua homenagem. No número seguinte, de 21 de março, a autora narra a visita que fez à Quinta da Boa Vista para entregar o número pessoalmente à Imperatriz. No relato, aparece como uma súdita respeitosa, preocupada porque teria quebrado o protocolo involuntariamente, quando, em razão de seu nervosismo, olhou o rosto da Imperatriz diretamente. Nesse número, além de render homenagem ao Poder imperial, Manso dirige uma carta ao então Ministro do Interior de Buenos Aires (e protagonista dos Misterios del Plata), Valentín Alsina, que chegaria a ser governador de Buenos Aires. Na carta, ela promete que lhe enviará a coleção completa do Jornal das Senhoras, lhe declara apoio político e ideológico e solicita ajuda para a publicação do romance em espanhol.
Fica evidente, portanto, que ela desenha uma rede de alianças e apostas políticas por meio do Jornal, cobrindo tanto a Corte brasileira quanto o pós-guerra civil na Argentina. Essas estratégias revelam a situação híbrida de Juana Manso, que participa da cultura intelectual da Corte, mas também está atenta ao que acontece no Rio da Prata.
2 O Jornal das Senhoras: imprensa e cosmopolitismo
Manso concebeu O Jornal das Senhoras como uma conjunção do privado e do público, da cultura impressa e do âmbito pedagógico, do nacional e do cosmopolita. O jornal modela comportamentos e valores orientados à formação de futuros cidadãos: das mulheres, das meninas e da população em geral. Já no primeiro número, no artigo de abertura, ela coloca o jornal em um contexto cosmopolita e tenta legitimá-lo como veículo do ideal ilustrado, comparando-o às publicações periódicas de mulheres jornalistas na Europa e nos Estados Unidos. Afirma:
Por ventura a América do Sul, ela só ficará estacionaria nas suas ideias, quando o mundo inteiro marcha ao progresso e tende ao aperfeiçoamento moral e material da sociedade? Ora! Não pode ser. A sociedade do Rio de Janeiro principalmente, Corte e Capital do Império, Metrópole do sul d’América, acolherá de certo com satisfação e simpatia O Jornal Das Senhoras redigido por uma senhora mesmo: por uma americana que, senão possui talentos, pelo menos tem a vontade e o projeto de propagar a ilustração, e cooperar com todas as suas forcas para o melhoramento e para a emancipação moral da mulher. Eis nos pois em campanha, o estandarte da ilustração ondula gracioso à brisa perfumada dos Trópicos: acolhei-vos a ele, todas as que possuis uma faísca de inteligência, vinde [sic] (O Jornal das Senhoras, 1852b, p. 1)15.
Manso é astuta em seu argumento: como publicação escrita por e para mulheres, o jornal deveria ter uma excelente acolhida na sociedade imperial, já que a cidade era vista como uma das maiores metrópoles cosmopolitas da América do Sul, ‘Corte e Capital do Império, Metrópole do sul d’América’. Ele seria símbolo do progresso, do ‘aperfeiçoamento moral e material da sociedade’. O que fica implícito é que o jornal, se não fosse bem acolhido, seria um símbolo do oposto, do tradicionalismo da sociedade e do afastamento dos ideais cosmopolitas e liberais da emancipação feminina. Define-se como uma ‘senhora americana’ cujo propósito era lutar pela ilustração e pela emancipação da mulher. A imagem do Jornal como ‘estandarte da ilustração’ que ‘ondula gracioso à brisa perfumada dos Trópicos’, atraindo o público leitor feminino, aparece como símbolo do desejo de pertencer ao mundo cosmopolita, progressista e ilustrado, mas também das dificuldades para se atingir esse ideal emancipatório, sobretudo, no caso das mulheres e demais sujeitos excluídos.
Sua proposta era a integração dos ideais ilustrados à cultura brasileira, do imaginário mundial à identidade nacional, do público ao privado, e a inclusão dos novos sujeitos na esfera pública. No entanto, o que parecia ser um processo não conflituoso ou problemático, revela-se cheio de dificuldades, incongruências e descompassos. Afirma Manso no mesmo artigo: “Ora pois, uma Senhora a testa da redação de um jornal! Que bicho de sete cabeças será? Contudo em França, em Inglaterra, na Itália, na Espanha, nos Estados Unidos, em Portugal mesmo, os exemplos abundam de Senhoras dedicadas à literatura colaborando em diferentes jornais” [sic] (O Jornal das Senhoras, 1852b, p. 1)16. Como se vê, o argumento cosmopolita funciona como um apelo de legitimação e contribui para criar uma linguagem dos direitos e da cidadania para a causa das mulheres, isto é, conjuga um reclamo de igualdade geopolítica e um argumento em favor dos direitos em termos de gênero.
Já no primeiro número, é veiculada uma parte do romance histórico-didático Los misterios del Plata -com o título em espanhol - que foi publicado em formato de folhetim até julho de 1852. A ação do livro, de conteúdo histórico, está ambientada no Rio da Prata no governo de Juan Manuel de Rosas. O foco da narrativa é a prisão de Valentín Alsina, líder unitário que pretendia deixar o exílio e retornar à pátria, e sua libertação final graças aos seus aliados e, sobretudo, graças à coragem de sua mulher. O texto foi reescrito várias vezes, mas a versão veiculada no Jornal caracteriza-se pela adaptação ao público da imprensa jornalística e do folhetim, pela narrativa ágil e sem descrições excessivas e por ser destinada também ao público leitor brasileiro, já que contém explicações didáticas sobre os personagens argentinos da época e esclarecimentos sobre o contexto histórico17. É evidente sua intenção pedagógica - o que a crítica Elvira Narvaja de Arnoux chamou de ‘uma adequação docente ao outro’ (2006) - bem como a intenção político-ideológica, de formação de futuros cidadãos, tanto dos brasileiros quanto dos argentinos, conforme os ideais ilustrados. Dado seu destinatário duplo, o público da Corte brasileira e os exilados do Rio da Prata, essa versão do romance privilegia reflexões político-morais gerais de uma perspectiva ilustrada e universal.
O título, Misterios del Plata, é uma referência ao romance de Eugène Sue, Les mystères de Paris de 184218 e leva uma epígrafe da História da França, de Michelet. No entanto, a autora declara a intenção de se afastar dos modelos europeus para criar uma literatura própria: “[...] se a nascente literatura da nossa América for sempre buscar seus tipos na velha Europa, nunca teremos literatura americana, nem literatura nacional” (O Jornal das senhoras, 1852b, p. 7). Nessa busca por uma literatura ‘da América’, porém , ela se depara com o grande ‘mistério’ da cultura sul-americana de seu tempo: o dilema da importação e da adaptação dos ideais ilustrados às realidades sociais locais. Assim, a epígrafe de Michelet fala de uma luta “[...] do homem contra a natureza, do espírito contra a matéria, da liberdade contra a fatalidade” (O Jornal das senhoras, 1852b, p. 6). A ilustração cosmopolita é associada ao mundo espiritual, enquanto a realidade local é pensada como ‘matéria’, ‘natureza’ e ‘fatalidade’.
No romance, Manso compara o ‘mistério’, a luta entre espírito e matéria mencionada na epígrafe, com o próprio estado do sujeito exilado, que oscila entre o mundo cosmopolita e a pátria: “Contudo, como a última flor depositada pelo peregrino na porta do lar doméstico que vai abandonar, nós escrevemos este romance, nas agonias do amor pátrio que se extinguia; e quando à força de sofrer, fomos arrastados ao cosmopolitismo indiferente” [sic] (O Jornal das senhoras, 1852b, p. 7). A autora se debate entre o sofrimento pela pátria perdida, o ‘amor pátrio’ ‘extinguido’ pelas frustrações do exilado, e a procura de um horizonte cosmopolita, cuja modernidade, se bem que atraente, não deixa de lhe parecer indiferente e alheia. Como se vê, ela se representa como sujeito duas vezes deslocado: excluído de uma pátria futura, que busca refundar, e exilado de um mundo cosmopolita ao qual ainda também não pertence. No texto, sustenta um ideal humanista e universal, um republicanismo virtuoso e desinteressado que privilegia o coletivo em detrimento do individual e que constrói uma perspectiva ilustrada por meio da qual busca comover o leitor. Não há denominadores de pertença nacional nesse discurso, senão político-morais gerais. Ademais, quase todos os personagens do romance, Valentín Alsina, seu filho, sua esposa e os gaúchos, são sujeitos melancólicos que se sentem exilados da pátria: “Não cuido da vida, respondeu o jovem com voz melancólica, em quanto a Pátria [...] não tenho, nunca tive domicílio” [sic] (O Jornal das senhoras, 1852c, p. 111). Caraterizados pelo exílio e pelo estranhamento, esses personagens, em sua nostalgia por uma pátria perdida, representam a busca da cidadania como questão central.
3 O Jornal das Senhoras como ferramenta pedagógica e cívica
O Jornal das Senhoras faz parte de uma cultura impressa que, conforme estudou o crítico William Acree (2011) nas publicações periódicas do Rio da Prata, transformou a prática da leitura e da escrita privadas em um modo de participação na esfera pública e de formação cívica. Além disso, faz parte de uma cultura pedagógica que, no decorrer do século XIX no Brasil, conforme estudos de José Gondra e Alessandra Schueler (2008), experimentou a transformação de modelos e formas privadas e domésticas de educação em formas escolares estatais emergentes. Como parte das estratégias de construção do Estado imperial, os sistemas seculares de ensino foram organizados com base em uma série de medidas normativas, homogeneizantes e regulatórias da instrução; os professores passaram a ocupar um lugar privilegiado na ação de civilizar e construir a nação, sendo encarregados de viabilizar um projeto educativo amplo.
Além disso, ao longo do século XIX brasileiro, o processo de escolarização impulsionou a inserção das mulheres no mundo letrado e na profissão docente, tanto na instrução feminina quanto na formação de professoras. Houve um marcado aumento no número de matrículas femininas nas escolas públicas e na demanda das mulheres pelo ingresso no ofício docente, no magistério público e particular (Gondra & Schueler, 2008). O processo foi marcado por disputas, ambiguidades e contradições entre concepções muitas vezes opostas a respeito da função social das mulheres e de sua educação. Assim, a instrução das mulheres e meninas foi considerada de perspectivas antagônicas: como formação moral e religiosa para desempenhar um papel doméstico, como formação nas ciências e saberes da higiene infantil ou como participação na vida profissional e pública (Gondra & Schueler, 2008). Um dos exemplos mais relevantes do protagonismo das mulheres na conquista de seus direitos no Brasil no século XIX foi o da intelectual e educadora Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885), que se envolveu profundamente na defesa da educação das meninas e do papel central que estas teriam na civilização e na construção da nação. Nísia Floresta foi um dos modelos que inspirou Juana Manso, que a menciona na seguinte nota veiculada no número 8 de O Jornal das Senhoras:
Sentimos vivo prazer em anunciar às nossas Assinantes a chegada da Sra. Nísia Augusta Floresta, brasileira, tão conhecida entre nós pela sua inteligência e ilustração; tão respeitada pelo seu longo magistério, ha 16 anos empregado com desvelos na educação de suas patrícias; e tão louvável e digna de nossa admiração por sua dedicada constância ao amor da sabedoria e ao engrandecimento de sua pátria. A Sra. D. Nísia estava ausente de nós há dois anos e meio, viajando neste intervalo a França e a Inglaterra, onde visitou os melhores colégios de instrução, os mais abalizados literatos, e senhoras ilustradas; e ultimamente esteve em Portugal, donde voltou a nossos braços, admirando os Herculanos, Garrets, Castilhos e outros varões respeitáveis na ciência. Está pois entre nós a Sra D. Nísia, demos-lhe um abraço de viva amizade e gratidão, em nome do nosso sexo [sic] (O Jornal das senhoras, 1852d, p. 63)19.
Como se vê na nota, ela enfatiza a figura de Nísia Floresta como mulher e intelectual ilustrada e como participante de uma missão civilizatória e patriótica na educação de meninas. Além disso, destaca suas viagens pela Europa, seu caráter de mulher cosmopolita e seu contato com modelos pedagógicos e culturais ilustrados e científicos europeus. Todas essas caraterísticas valeriam para descrever o modelo de mulher ilustrada, defensora da educação das meninas, viajante cosmopolita e conhecedora da cultura europeia, modelo esse que emulava a própria Juana Manso.
Juana Manso também contribuiu para O Jornal com artigos sobre educação e emancipação da mulher. Ela se posicionou a favor da intervenção cívica da mulher, em um esforço ambíguo por não contradizer as normas de gênero: assim, partiu da figura da ‘maternidade republicana’ para a da intervenção pública da mulher pensada em seu papel de mãe e esposa, educadora dos futuros cidadãos20. Desse modo, a filosofia pedagógica de Manso acompanhou a ideologia dos compêndios escolares femininos, manuais de civilidade e de economia doméstica que tiveram importância durante o século XIX no Brasil e no Rio da Prata. Nesse momento, a mulher - estudante, mãe, educadora, e administradora do lar - aparecia no eixo do processo de expansão do sistema educativo como motora da educação pública e mediadora entre a escola, o lar e a esfera pública da nação21. No entanto, ao contrário da maior parte dessas publicações, que celebram o âmbito doméstico em um tom sentimental e dulcificado, os artigos de Juana Manso são polêmicos e sarcásticos, tomando a forma de fortes intervenções públicas. Declara ela em um artigo com o título de Emancipação moral da mulher:
Nas classes pobres da sociedade é onde mais funesto resultado se colhe do embrutecimento da mulher. Todas as carreiras industriais estão lhe vedadas. E por isso, só na condição de serva, pode encontrar o pedaço de pão que há de mitigar sua fome. Repare-se que falo das nossas Américas: na Europa e nos Estados-Unidos, a mulher exerce quase todas as profissões que entre nós a preocupação lhe nega [...]. Sem duvida, que há deveres naturais que prendem a mulher ao lar doméstico, porém é precisamente desde o seio de sua família que ela pode ter uma influencia direta, sobre essa mesma família, sobre a nação, sobre a humanidade inteira. Como? Pois a mulher pode ter outra influencia que não seja sobre as panelas? Outra missão além das costuras, outro porvir que não seja fazer o rol da roupa suja? Deveras? [sic] (O Jornal das Senhoras, 1852e, p. 14)22.
Nesse texto, ela denuncia a condição da mulher pobre, duplamente marginalizada, por ser mulher e por ser pobre, excluída do âmbito público e sem acesso à educação. Também critica o atraso na educação da mulher sul-americana em comparação com a da europeia e norte-americana. Como vemos na citação, a demanda pela modernização do papel da mulher, baseada na comparação com a profissionalização da mulher nos países centrais, é ligeiramente contraditória com sua intenção de respeitar as convenções de gênero, isto é, o espaço doméstico paradigmático da mulher, como mãe e esposa, a partir do qual ela deveria fazer sua contribuição pública. O tom fortemente sarcástico de sua crítica à restrição do papel da mulher deixa implícita a acusação do ‘embrutecimento’ da mulher e a demanda pelo acesso das mulheres às múltiplas esferas da sociedade moderna. Embora a circulação do Jornal tenha se restringido às mulheres da Corte Imperial, em muitos de seus artigos, Manso insistiu em sua reivindicação da educação das mulheres de todas as camadas sociais da população e, sobretudo, das mulheres pobres, o que considerou requisito para o progresso social. Essa educação, segundo ela, devia ser prática e enciclopédica e incluir não só canto, costura e piano, disciplinas mais tradicionais, como também noções de matemática, geografia, literatura e medicina. Manso argumentou que a educação profissional da mulher deveria funcionar como termômetro do progresso social e da civilização, assim como das possibilidades das classes menos favorecidas.
O Jornal incluía também uma seção intitulada ‘Estudos sobre a educação’, na qual Manso afirma:
[Não] nos poupamos ao trabalho de demonstrar a necessidade absoluta de bases certas e judiciosas em que fundar o ensino moral da mocidade, assim como a falta total de métodos fáceis para o ensino dos meninos de ambos os sexos. Contudo advertimos desde já que com quanto as nossas ideias vão de encontro com o praticado até hoje, assim como os preconceitos que viciam a educação da mocidade, nem por isso deixaremos de as expor com toda a franqueza que devem ter opiniões de tal importância. Difícil é a tarefa, porém ajudados da nossa boa vontade, dos conselhos da experiência, e do fruto de algumas leituras, possuímos a doce esperança de dizer alguma coisa que mereça a pena de ouvir-se, e tal vez de tirar algum pensamento vantajoso ao bem geral. É inegável que a América do Sul, é um dos lugares do globo terráqueo mais atrasado ao respeito dos métodos de ensino. O ensino primário entre nos, merece o nome de alopatia moral, é o flagelo das crianças [...] seria mais conveniente adoptar aquele plano de ensino que melhor conviesse as necessidades dos padecentes meninos, e não imbuir lhes esses métodos rançosos e defeituosos que tanto os mortificam [sic] (O Jornal das Senhoras, 1852f, p. 28)23.
Assim, vemos seu compromisso com a busca de modalidades inovadoras e dinâmicas para a educação da juventude e da infância. Denunciando a falta de métodos de ensino, sua proposta era renová-los radicalmente. Com seu característico tom acusatório, observa o atraso das pedagogias na América do Sul, ‘um dos lugares mais atrasados do globo’, e denuncia o descompromisso da educação com a experiência das crianças. Sua ideia de adaptar o método aos meninos, considerando suas experiências, percepções e capacidades, revela sua sensibilidade pelo outro, o menino e a menina que entram no sistema de ensino. De fato, sua proposta de renovação pedagógica foi publicada nos números seguintes do Jornal: em uma série de lições de filosofia e psicologia para meninas, ela apresenta as noções de ‘livre alvedrio’ e de liberdade de consciência como centrais na iniciação das alunas ao mundo racional, à confiança em si mesmas e ao próprio arbítrio. Além disso, insiste na necessidade de modernizar a pedagogia e adaptá-la às crianças, de reformar os horários das escolas, incluir jogos e divertimentos e uniformizar a educação para todas as camadas sociais. Segundo ela, todas as escolas deviam ter os mesmos programas, os quais se adaptariam especificamente às meninas pobres e suas necessidades de uma educação prática.
Considerações finais: lembranças do Brasil
Depois de seu retorno a Buenos Aires, Manso publicou uma série de textos em que reflete, em forma nostálgica, sobre sua relação com o país. Entre eles, há um texto autobiográfico, com o título Recuerdos del Brasil, que revela a marca fundamental que a estadia no Brasil teria deixado em Juana Manso - tanto no nível intelectual quanto no biográfico. Conhecedora dos poetas românticos brasileiros, ela cria uma linguagem romântica e de tonalidade lírica, que a crítica já comparou com a de Gonçalves de Magalhães e com a da canção do exílio de Gonçalves Dias, para descrever o extraordinário de sua experiência brasileira: “Hay algo en la vida del Brasil que no he hallado en parte alguna […] no puedo explicar qué hay en Rio de Janeiro que me interesa y me gusta” (Velazco y Arias, 1937, p. 370). Nesse texto, fica evidente a relação afetiva e emocional do sujeito exilado com a pátria que o hospedou. O texto também inclui o poema Adiós, Rio de Janeiro:
Adiós altivas montañas
Cielo del Trópico, adiós!
Mi estrella brilla del Plata
En la querida región,
Aquí llegué peregrina
Llena de ensueños el alma
Y de esperanzas sin nombre
Rebosando el corazón.
[…]
Adiós playas, adiós montes
Flores, pájaros y mares,
Cenizas dejo en la tierra
Mi vida, esparza en el aire!
Dejo páginas sin nombre
Di mi juventud pasada,
Un altar que derribaron.
Una tumba abandonada!
Amores despedazados,
Decepciones y recuerdos
Quién sabe cuánto fantasma,
Todo acaba, así es el mundo,
Me ausento, vuelvo a la patria,
Pero inolvidable imagen
Llevo gravada en el alma!
(Velazco y Arias, 1937, p. 374-375).
O poema é completado com uma parte em prosa: “Esa imagen inolvidable es la tuya, mi bello Rio de Janeiro, princesa de los valles! […] No volveré a verte, pero he cantado tu belleza y dejádote algo de mi misma como el solo recuerdo de mi peregrinación sobre tu suelo” (Velazco y Arias, 1937, p. 275).
Nessa lembrança, o Brasil e, mais especificamente, o Rio de Janeiro apresentam-se como objeto de nostalgia e de prazer para o sujeito exilado: um espaço idílico, de natureza atemporal e pitoresca e de experiências pessoais intensas que precisou abandonar para retornar à pátria. Nesse texto, o sujeito poético é representado como um peregrino, um sujeito itinerante, na fronteira entre o espaço do exílio e a identidade pátria. A experiência do exílio brasileiro constituiu uma forma de iniciação que coincidiu com o período biográfico da juventude e ficou ligada ao início da vida intelectual. O exílio de Manso aparece como fundamental em sua formação intelectual, sendo associado à sua iniciação como escritora e pedagoga. Tanto a viagem quanto o exílio foram pensados, em termos de formação - herdeira da noção alemã de bildung -, como uma prática definida pela experiência da alteridade, cuja essência seria colocar o ‘eu’ em um movimento que o faz devir um ‘outro’ (Peixoto, 2015). Seu exílio no Brasil, como transformação e encontro com a alteridade, determinou que, de volta à pátria de nascimento, o sujeito ficasse marcado pelo estranhamento, que se tornasse uma espécie de estrangeiro inclusive em sua pátria.
O exílio resulta fundamental para entender o projeto intelectual e pedagógico de Juana Manso, que continuou ocupando posições polêmicas e controvertidas mesmo depois de ter conseguido um lugar central na vida pública e intelectual argentina24.
Pouco tempo depois de retornar a Buenos Aires, em 1854, ela publicou em espanhol e no jornal Álbum de Señoritas o romance crítico da escravidão, La familia del Comendador, em forma de folhetim. Embora a análise do romance não faça parte dos objetivos deste artigo, vale a pena esclarecer que a questão da escravidão, que ali é fundamental, já tinha aparecido em Recuerdo del Brasil, no qual narra um episódio acontecido em Niterói: uma escrava que ia ser separada de seu namorado por causa da epidemia de febre amarela, decidiu se jogar no mar. Manso encontrou seu cadáver na praia e decidiu sepultá-lo25. No ato de se jogar no mar, a escrava procurou a libertação de um sistema injusto; Manso, por sua vez, ao enterrá-la, tentou restituir-lhe a identidade, os direitos e a cidadania. O tema da escravidão, central em La familia del Comendador assim como nesse episódio, remete-nos à sua preocupação fundamental com a questão da igualdade e da diferença social, da inclusão e da exclusão da comunidade cidadã, dos sujeitos excluídos, exilados ou marginalizados, preocupação que, em seu pensamento, atravessou as fronteiras nacionais e linguísticas; é transnacional e transcultural.
A produção de Manso no período em que esteve no Brasil revela duas preocupações fundamentais. Em primeiro lugar, a mediação entre o ideal do cosmopolitismo e a realidade dos países da América Latina: o modo em que as culturas da América do Sul deveriam ser pensadas no horizonte transnacional, mas com sua própria autonomia. Em segundo lugar, o acesso das mulheres e os homens, as meninas e os moços, sobretudo das classes menos privilegiadas, à educação e à cidadania, o que considerou requisito do progresso social - e que só seria possível por meio de uma renovação das metodologias pedagógicas. Se pensarmos no exilado como sujeito deslocado, transplantado, traduzido, como aquele que aponta para a alteridade, em termos de língua e de pertencimento nacional, mas também de raça, de gênero e de idade, essas duas preocupações, intimamente ligadas à sua experiência como escritora e intelectual no Brasil, transformam-se em uma só. O exílio de Juana Manso no Brasil a teria sensibilizado para a compreensão da experiência e para a percepção da alteridade, preocupação que marcaria sua produção posterior e a acompanharia pelo resto da vida.
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-
1
Bourdieu (2002), desenvolvendo um programa de estudo das condições sociais da circulação internacional das ideias e da vida intelectual, mostrou as vantagens que a recepção em outros contextos intelectuais pode oferecer para um texto ou para um intelectual.
-
2
Segundo Siskind (2014), o intelectual latino-americano estaria marcado pelo caráter incompleto da sua relação com a ordem moderna global, pelo horizonte sempre inacabado a partir do qual constrói sua ideia do cosmopolita.
-
3
Para uma reflexão historiográfica sobre a necessidade de problematizar os marcos geopolíticos e jurídico-administrativos no caso do Brasil imperial, ver Gondra & Schueler (2011). Como demonstra Ronald Briggs (2010), Simón Rodriguez foi outro exemplo de educador do século XIX que desafiou as fronteiras do Estado-nação e teve uma circulação transnacional. Para outros estudos relacionados à história intelectual e às trajetórias de educadores que desafiam as hierarquias geopolíticas, ver o dossiê coordenado por Fiorucci (2013).
-
4
Para uma leitura comparativa do romantismo argentino e brasileiro com ênfase nas relações com o poder político e nas representações da natureza, ver Amante (2010).
-
5
Para leituras de Juana Manso da perspectiva do gênero, ver Batticuore (2005); Mizraje (1999); Barrancos (2007); Fletcher (1994); Zucotti (2005); Southwell (2005); Lehman (1994).
-
6
Para a discussão crítica dos efeitos de exclusão, igualdade e/ou diferença do cosmopolitismo, ver Apter (2013) e Siskind (2014).
-
7
Sobre o lugar de O Jornal das Senhoras na imprensa feminina brasileira, ver Vasconcellos e Savelli (2006); Muzart (2003) e Lobo (2009).
-
8
“Cuando nosotros llegamos a los Estados Unidos éramos dos pobrecitos aldeanos, dos salvajes inciviles llenos de pundonor y de vergüenza”.
-
9
Sobre as ambivalências de Manso em relação aos Estados Unidos, ver Peard (2008).
-
10
Em português no original.
-
11
O Jornal das Senhoras, número 14, incluía una crónica sobre um orfanato de meninos e meninas na Pensilvânia: Manso admirava o carácter autossustentado da instituição, a limpeza dos meninos e a importância de sua reinserção social. O número 18, além disso, continha a descrição da penitenciaria na Filadélfia, na qual admirava a ordem, a limpeza, etc.
-
12
O Jornal foi fundado em janeiro de 1852 e chegou até 1855, mas a participação de Manso como diretora e redatora foi de janeiro a julho de 1852.
-
13
Sobre o português incorreto de Juana Manso no Jornal das Senhoras, ver os comentários de Vasconcellos e Savelli (2006) e Lobo (2009).
-
14
Sobre o jornal de mulheres na época, ver Vasconcellos e Savelli (2006) e Frederick (1991).
-
15
Em português no original.
-
16
Em português no original.
-
17
Ver a leitura de Pierini (2002).
-
18
Para a circulação do romance de Eugène Sue no Brasil na época, ver Meyer (1996).
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19
Em português no original.
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20
Como já argumentou a crítica Francince Masiello (1992), o conceito da ‘maternidade republicana’, que representa a intervenção pública da mulher por meio de seu papel de mãe e esposa, relacionado a uma estrutura familiar e doméstica, foi central para entender o lugar das mulheres letradas no século XIX argentino.
-
21
Ver o capítulo ‘Lessons for a Nation (1880-1910)’ en Acree (2011). Sobre o tema da educação da mulher no período, ver também Loreto Engaña, Núñez Prieto e Salinas Álvarez (2003) e o capítulo ‘Meninas e mulheres’ (Gondra & Schueler, 2008).
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22
Em português no original.
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23
Em português no original.
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24
Ver, neste sentido, os artigos de Zucotti (2005).
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25
Escreve, como parte de suas lembranças de Niterói: “Cada paso en esta playa me trae un recuerdo […] Allí hice enterrar el cuerpo de una infeliz esclava: debía partir para la ciudad, la separaban de un amante que idolatraba y se arrojó al mar terminando en una hora el romance de su amor y la desgracia de su esclavitud; el mar arrojó el cadáver a mis puertas y yo la hice sepultar. Este episodio me entristeció sobremanera” (Velazco y Arias, 1937, p. 372).
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
14 Jan 2019 -
Data do Fascículo
2018
Histórico
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Recebido
08 Mar 2017 -
Aceito
10 Jul 2017